quinta-feira, 27 de agosto de 2020

Guiné 61/74 - P21297: (Ex)citações (369): A política de misceginação e o major de artilharia Dimas Lopes de Aguiar, autor do opúsculo "Guiné Portuguesa - Terra de Lenda, de martírio, de estranhas gentes, de bravos feitos e de futuro" (1946) (António Rosinha)

Congo ex-Belga [, hoje República Democrática do Congo] > c. 1920 > "Troféus de caça"...  

Foto de Victor Jacobs (digitalizada e editada por LG.). 

Fonte: Louis Franck - Le Congo Belge, Tome I. Bruxelles: La Renaissance du Livre. 1928. p. 152, [ O autor, Louis Franck (1868-1937) foi um político, belga, de origem flamenga, jurista, escritor, antigo ministro de estado e antigo ministro das colónias; interessou-se por questões como a colonização belga no Congo, o atvismo flamengo, etc.; fundou a École coloniale supérieure,em Anvers, em 1920, mais tarde, em 1923, Université coloniale de Belgique].



Guiné Portuguesa : terra de lenda, de martírio, de estranhas gentes, 
de bons feitos e de futuro : conferência feita em 25 de Maio de 1946 
na Escola do Exército / Dimas Lopes de Aguiar. - : Edições 
Infantaria, 1946. - 31 p.


1. Citando Beja Santos (*): 

"O Major Dimas [Lopes] Aguiar mostra-se muito preocupado com a pouca população, sugere uma operação para atrair os descendentes dos indígenas que fugiram durante as campanhas de ocupação, era importante trazer as famintas populações cabo-verdianas e mais brancos metropolitanos. 

"Era uma situação demográfica que precisava de terapêutica urgente, não podia haver tão poucos brancos. Pelo censo de 1940, existiam na colónia 1419 indivíduos brancos, sendo 899 do sexo masculino e somente 520 do sexo feminino. E sentenciou:  'Não se pode concluir que estejamos no caminho de evitar a condenável e aviltante procriação de mulatos, que já então se contavam por 2200 almas' ”.



António Rosinha, Pombal, 2007

2. Comentário de António Rosinha:


(i) beirão, tem mais de 120 referência no nosso blogue; (ii) é um dos nossos 'mais velhos' e continua, ativo, a participar, com maior ou menor regularidade, no nosso blogue, como autor e comentador; (iii) andou por Angola, nas décadas de 50/60/70, do século passado; (iv) fez o serviço militar em Angola, em 1959, sendo fur mil, em 1961/62; (v) diz que foi 'colon' até 1974 e continua a considerar-se um impenitente 'reacionário' (sic); (vi) 'retornado', andou por aí (, com passagem pelo Brasil, já sem ouro, nem pedras preciosas...), até ir conhecer a 'pátria de Cabral', a Guiné-Bissau, onde foi 'cooperante', tendo trabalhado largos anos (1987/93) como topógrafo da TECNIL, a empresa que abriu todas ou quase todas as estradas que conhecemos na Guiné, antes e depois da 'independência'; (vii) o seu patrão, o dono da TECNIL, era o velho africanista Ramiro Sobral; (viii) é colunista do nosso blogue com a série 'Caderno de notas de um mais velho''; (ix) pelo seu bom senso, sabedoria, sensibilidade, perspicácia, cultura e memória africanistas, é merecedor do apreço e elogio de muitos camaradas nossos, é profundamente estimado e respeitado na nossa Tabanca Grande, fazendo gala de ser 'politicamente incorreto' e de 'chamar os bois pelos cornos'; (x) ao Antº Rosinha poderá aplicar-se o provérbio africano, há tempos aqui sabiamente citado pelo Cherno Baldé, o "menino e moço de Fajonquito": "Aquilo que uma criança consegue ver de longe, empoleirado em cima de um poilão, o velho já o sabia, sentado em baixo da árvore a fumar o seu cachimbo". ]


Isto de ser contra a procriação de mulatos, penso que nem Norton de Matos ou outros africanistas tiveram tal pretensão.

Sempre andamos a copiar os outros , mas neste caso nunca seguimos os nossos vizinhos colonialistas.

É que ficava muito caro levar mulheres para acompanhar militares, funcionários, agricultores, mineiros, e comerciantes, etc.

Aprendi (ao vivo) que os belgas que fossem para o ex-Congo Belga, caso fossem casados e tivessem crianças para criar, e para evitarem de levar a família, o Governo proporcionava, caso pretendessem, o direito a uma "empregada doméstica" branca, (não li a norma, foi de ouvido).

Ou seja, tinham direito a "lavadeira branca", nos nossas "normas" coloniais desde Bartolomeu Dias.

Como comprovei isso? Quando foi da independência do Congo Belga (junho de 1960), os belgas fugiram porque começou uma guerra imediatamente que durou mais anos que a de Angola, e fizeram de Luanda um ponto de refúgio, enquanto não veio a ponte aérea.

Foram mobilizados hoteis, pensões, espaços escolares, e estranhou-se tantos casais sem filhos, e tantas mulheres dadas à paródia, e veio a explicação.

Ou seja, havia um certo apartheid natural no Congo Belga, mas aquilo já tinha uma exploração mineira que dava para ter "lavadeira importada"

Hoje, e já naquele tempo, os africanos não achavam muito mal, como se possa pensar, que os africanos estranhassem o apartheid.

Ao fim e ao cabo era a vivência natural mais semelhante à vida tribal.

Com os belgas "retornados" não vinham nem crianças nem adultos mulatos.

Será que este major estava certo? (**)

26 de agosto de 2020 às 12:06

___________

18 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

O Dimas Lopes de Aguiar tem mais artigos e opúsculos sobre o Portugal Ultramarino do seu tempo... Mas será também o autor de um Missal Romano, de 1475 páginas!...

AGUIAR, Dimas Lopes de
Missal romano / Dimas Lopes de Aguiar. - Lisboa : União Gráfica, [19--]. - 1475 p. : il. color ; 16 cm
Descritores: Igreja | Catolicismo
Cota: S/cota|Patriarchal Seminary of Rachol

http://memoria-africa.ua.pt/Catalog.aspx?q=AU%20aguiar,%20dimas%20lopes%20de

Tabanca Grande Luís Graça disse...

O Gilberto Freire não deve ter conhecido o senhor major Dimas Lopes de Aguiar... De qualquer modo,pelo que leio o major era capaz censurar algum artigo do autor do lusotropicalismo...

https://pt.wikipedia.org/wiki/Luso-tropicalismo

usotropicalismo | s. m.

lu·so·tro·pi·ca·lis·mo
(luso- + tropicalismo)
nome masculino
[Sociologia] Ideia, desenvolvida por Gilberto Freyre (1900-1987, antropólogo, sociólogo e escritor brasileiro), que defende que a colonização portuguesa foi diferente das restantes colonizações europeias nos trópicos e que essa diferença se manifestou na miscigenação e na interpenetração cultural.


"lusotropicalismo", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2020, https://dicionario.priberam.org/lusotropicalismo [consultado em 27-08-2020].



Tabanca Grande Luís Graça disse...

Segundo um recorte de jornal, que encontrei na Ephemera - Biblioteca e Arquivo de José Pacheco Pereira, o tenente-coronel Dimas de Aguiar morreu em 26 de março de 1953, aos 55 (?) anos.

Na nota necrológica diz-se que foi comandante da Legião Portuguesa, professor da Escola do Exército, desempenhou “importantíssimas missões em África#" (, presume-se que também na Guiné), e que fez parte, “durante algum tempo”, da comissão de censura à imprensa.

A avaliar pelas persoanalidades que acompnharam o seu enterro, que teve direito a honras militares (exército e legião) era uma figura grada do regime.

https://ephemerajpp.com/2017/10/13/ephemera-noticias-da-semana-de-9-a-15-de-outubro-de-2017/#jp-carousel-292059

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Correção: o tenente coromel Dimas Lopes de Aguiar nasceu em 1894 e morreu em 1953, com 69 anos. LG

António J. P. Costa disse...

Olá Camaradas

Este blog parece que está a ficar redondo. Deve ser influência da tese do Prof. Dr Gil... Digo eu. Se calhar estamos na silly season e há pouca matéria.
Editar comentários a um post já posto e comentado? Acho estranho.
Isto obriga-me a alterar o meu comentário sobre esta matéria e isso é exploração desenfreado do trabalho sénior.

"Esta situação que o Rosinha descreve, se calhar, era um sinal premonitório do que se iria seguir. Era um alerta para os residentes em Angola e para os governantes portugueses. Uns não viram, outros não quiseram ver. Ambos assobiaram para o lado".
"As coisas estavam a correr mal com a Bélgica sem condições para evitar que o rei perdesse uma propriedade privada. Era o sinal de que as colónias iam separa-se das "metrópoles", a bem, se tal fosse aceite por ambas as partes, ou a mal, em caso contrário".
"A questão das "lavadeiras" é mais uma curiosidade da vida nas colónias daquele tempo. Não creio que, cá em Portugal, pudesse esta situação ser aceite sem levantar questões de ordem "moral", agora nas colónias... era diferente: ninguém via e um problema resolvia-se".
Naquele tempo ékéra"!

O major Dimas era, em toda a linha, um homem do regime - pelos cargos que exerceu se vê - e que se identificava com ele. Por isso, aquilo que escreveu é totalmente credível e descreve com clareza a situação que se vivia na Guiné e o que, no seu entender "haveria a fazer".
A última revolução envolvendo populações rurais datava de 1934, o que dá a ideia da distância a que aquela "portuguesíssima terra" estava da metrópole, mas estas descrições de quem viu "in loco" o que se passava não eram tidas em conta. Tudo se passava nos "nossos territórios ultramarinos" - legalmente colónias - Terra de Pretos que, por ser lá longe, não interessava para nada nem a ninguém...

Um Ab.
António J. P. Costa

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Tens razão, Tó Zé, o mês de agosto é fraco em colabarações... Daí a repescagem de comentários...O que fazemos de vez em quando... Por isso existem sérias como (Ex)citações e (In)citações...

Levaneti-me às cinco da manhã. Deitara-me aborrecido por fciar sem Net... aqui na "capital dos dinossauros"...O serviço de apoio ao cliente (da NOS, passe a publicidade) disse-me que tinha que trocar o "hot sot"...Mas às cinco da manhã deu-me para abrir o aparelho e experimentar outros cartões... Operação que já tinha feito... Mas à segunda resultou... Não acredito em bruxas, mas o material (dizem=) tem sempre razão...

Feliz da vida, achei piada ao comentário do "nosso mais velho"... É também um tributo à sua "longevidade" no blogue... Nâo fiques com "ciúmes"... que na tropa não há lugar para sentimentos...E na Legião ainda era pior: dizem que o Salazar, que não gostava de fardas nem de paradas, criou a Legião para dar cabo do Exército...

Anónimo disse...

Teria Salazar criado a Legião para dar cabo do Exército?
Aquela heróica Legião do 25 de Abril 74?
Não lhe teria chegado para tal...Santos Costa?

Um abraço
J.Belo

António J. P. Costa disse...

Olá J. B.

Claro que isto não interessa para a matéria em apreço.
Mas as conversas parece são como as cerejas. Aí, na Suécia, diz-se de outra maneira, mas a ideia é a mesma e a tradução, à letra, é capaz de até ser engraçada.

A Legião Portuguesa (a do Salazar), pois que a de Napoleão é outra coisa... é uma tentativa de controlar a população, especialmente masculina, através de uma série de medidas que são cópia das dos "Camisas Negras" de Itália e da absorção dos "Camisas Azuis" do Rolão Preto.
Desclassificado o Rolão Preto, a cópia, como é habitual entre nós, não foi - felizmente - além de um cabulanço e de má qualidade.
Era uma coisa virada para a paz podre do interior e, quando se voltou para o exterior - Espanha - não teve desempenho brilhante. Foi perdendo força e utilidade e, mesmo quando levou a injecção de se transformar em DCT (Defesa Civil do Território e não Danados Com Tesão, como se dizia na altura) passou a ter qualquer utilidade.
Posso pormenorizar as tentativas de a utilizar como "força" naquele tempo e do estado em que estava no 25ABR. A Torre do Tombo pode confirmar.
Já no momento da sua constituição, a população não aceitou bem os "Piolhos Verdes" e eles próprios não tinham a mesma convicção dos italianos do Mussolini. Assim, era um "objecto em forma de assim" que não servia para nada e também não decorava.
Creio que terá cumprido o seu papel histórico, durante um curto espaço de tempo e depois... estava a extinguir-se, como as velas.
Já a "Bufa", como organismo de controlo da juventude liceal e comercial/industrial, como era obrigatória no início do ensino, teve maior duração. Mas como os "instrutores" eram alunos mais velhos, controlados por um "patriota" acabou por se auto-desactivar.
A milícia, virada para quem se atrasava no liceu, também não teve grande implantação.
Quem ia trabalhar e não estudava estava dispensado destas actividades... Curioso e estranho. Se calhar, como não evoluíam culturalmente, não necessitavam de ser controlados. Mas isto sou eu a pensar.

Um Abraço
António J. P. Costa

Valdemar Silva disse...

Eram caricatos, os exercícios/manobras feitos por cá pela LP, durante a guerra nos anos 40, com o treinamento na defesa do território, com abertura de valas de defesa e colocação de sacos de areia junto dos edifícios governamentais, não era para enfrentar a tropa nazi alemã, mas sim para enfrentar as tropas invasoras comunistas. Veja-se o caricato, lá vinham os comunistas atravessando até à Alemanha, depois França, Espanha e nós cá à espera deles dentro dumas valas ou atrás duns sacos de areia.
Até 25 de Abril de 1974, há quem escreva 25A ainda com o trauma do poupadinho, havia uns LPs
espalhados por várias profissões em diversas empresas, que se reuniam no Quartel na Penha França organizando-se em grupos de "bufos" (300 paus cada bufadela) e à paisana dispersavam à bastonada qualquer manifestação de protesto.
'sermones simile cesaris'

Saúde da boa
Valdemar Queiroz

Anónimo disse...

O lusotropicalismo e a miscigenação?

A teoria (!) do lusotropicalismo foi convenientemente muito bem recebida por alguns intelectuais dos anos sessenta.
Pretendia-se abrangente do cultural,social,e não menos,racial.
Não se tornou junto dos cidadãos no conceito generalizado que fora esperado pelo seu fundador.
Desde então muito se transformou,modificou e evoluiu nas sociedades lusotropicais.
Torna-se difícil de explicar (e interessar!) as novas gerações pelos parâmetros culturais de um lusotropicalismo ultrapassado e condicionado pelas novas realidades dos países lusotropicais,principalmente os africanos.
Novos centros de gravidade cultural,novas maneiras de estudar e interpretar a História.
Que conveniente seria o reencontro com o tal lusotropicalismo cultural adaptado à narrativa dos nossos dias.
Mas por onde andará ele?
Quem ainda o debate?
Quem terá a capacidade de o explicar às gerações lusotropicais de hoje?
Existirão elas?

Um abraço
J.Belo

Anónimo disse...

Tó Zé, cá está tema interessante sobre o qual não temose nada, as organizações paramilitares do Estado Novo. Hoje já aprendi coisas novas. Estou grato aos mestres. Luis

Anónimo disse...

A narrativa romantizada da miscigenação.

Para os que,como eu,foram educados dentro do “espírito” em que a miscigenação seria suficiente remissão do muito que de menos bom se passou em qualquer situação colonial,não serão de recomendar conversas com brasileiros de origem africana (ou simplesmente descendentes de escravos)que estudam em Universidades Escandinavas.
O “romantismo” luso quanto às condições que levaram à miscigenação em grande escala ,como no caso brasileiro,é por eles veementemente rebatido.
Apresentam uma narrativa histórica de relações sexuais ,impostas e violentas ,exercidas sobre as escravas.
Não encaram os resultados rácicos como algo surgido de infindáveis romances de amor tropical.
Se o interlocutor está de bom humor acaba por reconhecer que certamente alguns romances terão existido,mas acrescenta de imediato que o seu reduzido número não influenciaria as....”estatísticas”!

Tendo as nossas “verdades“ nos sido imbuídas nos nossos “verdes anos “ estas confrontações com outras “verdades“ tornam-se sempre difíceis.

E,mais uma vez,que conveniente seria o encontrarmo-nos no tal lusotropicalismo cultural.

Um abraço
J.Belo

Anónimo disse...

Escreve o Camarada A.Pereira da Costa:

“As nossas conversas são como as cerejas......”

O equivalente sueco será:”Man pratar om en strömming och slutar med ett stim”.
Ou seja: Começa-se a falar num arenque e termina-se a conversa num cardume.

Quanto aos activistas da nossa tão heróica Legião do antigamente,depois de passar tantas décadas a “ouvir” a neve cair,só me vem à memória uma ironia familiar.
Familiar meu pelo lado materno dava aulas de educação física, no Quartel de Cascais,a membros da Legião.
Seriam talvez exemplares ilustres da Brigada do Reumático,para não lhes dar a denominação histórica dos “caga e tosse “.
(Mas,em verdade, isso era uma outra gente nos meios militares de então)

De qualquer modo ,este soldado do Império que por acaso até tem a especialidade de artilheiro,depois de virar esta página da sua carreira militar tornou-se um terrível caudilho revolucionário,com mais poder do que capacidade para o exercer.
Acabou mal ?
Acabou mal.
Mesmo nas variadas vezes em que correu a refugiar-se no Palácio Presidencial de Belém quando as coisas “aqueciam”.
Literalmente com “as calças na mão “ ( e aqui cito um já falecido Sr.Coronel com um passado sério de oposição à ditadura) esquecendo convenientemente os seus Camaradas de percurso.

E lá voltamos a que.....as conversas são como as cerejas.

Um abraço do J.Belo

António J. P. Costa disse...

Olá JB
Isto é um aparte e não conta para o blog.
è frequente, quando se fala de traduções aparecerem uns ingenheiros a dizer que esta ou aquela tradução não é possível. Sou fã da tradução para um bom entendimento e não faltam exemplos de boas traduções, desde que não sejam à letra... Essas são as dos dicionários automáticos que traduzem evidência quando deviam dizer prova. O recurso a um desses dicionários para tradução de uma frase é de partir a moca a rir "pf break the mock laughing...

Um Ab.
António Costa

Antº Rosinha disse...

A narrativa romantizada da miscigenação.

J.B. a palavra "lusotropicalismo" saiu de um brasileiro, pois não há como eles para criar palavras apropriadas para cada caso.

Talvez mesmo como dizem os brasileiros do português da anedota, nós não tivessemos imaginação para chamar tal nome ao "fenómeno da mestiçagem no Brasil e em África".

Na terra de Vinícius de Morais, Caetano Veloso, Chico Buarque...existe uma elite bem racista que em momentos oportunos e subrepticiamente embrulha no mesmo saco martelando no "português e nos escravos", no "português e na mulata", "Deus criou o homem, o português criou o mulato", etc, etc., matando esse pretenciosismo do "lusotropicalismo"

Tudo num tom bem disfarçadamente pejorativo, que o povão imensamente mestiço, "engole" na perfeição, dentro de um analfabetismo muito característico e provocado no que diz respeito à história do Brasil.

Claro que o português emigrante dos anos 40 e 50 estava mais ceguinho ainda, que a imensidade mestiça brasileira, "engoliu" também.

Quem é essa elite racista, primordialmente?

Na minha análise pessoal, com a minha prática ganha de Novembro de 1974/5/6/7/8/9, essa elite é oriunda das várias colónias estrangeiras que povoaram o brasil desde a II Grande Guerra, e que têm que escrever a sua própria história brasileira e recorro ao Camões:
São os "admirados Alemães, Galos, Ítalos e Ingleses," e quantos mais, digo eu.

Tive a experiência de lidar em enormes obras em vários estados, onde lidei de perto desde centenas de engenheiros (todos brancos), milhares de peões (de todas as cores)e não sei explicar, que eu falando com o meu sotaque beirão talvez com um pouco de luandês, qualquer brasileiro me fazia para lá dos pirineus.

Ou seja, eu passava por um genuino europeu, e não um "pobre" português.

E tudo se abria, desde em vez dos portugueses, se fossem os americanos a descobrir o Brasil! Só viam que eu era português, quando lhe explicava que os indios não tinham caravelas.

Tinha que ser um Kubischek a fazer Brasilia, só viam que eu era português quando lhe explicava que Oliveiras só em Portugal.

Todos sabem (quem lê, está escrito), que foi com os filhos mestiços que os poucos lusos correram com os holandeses de Luanda e do amazonas, e os franceses do Rio de Janeiro, o que é muito criticado no brasil, como um grande azar para o brasil.

Todas estas coisas ouvi debatidas (TV, Rádio)com opiniões de meio mundo, menos de mestiços pretos ou portugueses.

Sei dos jornais que recentemente a Gulbenkian patrocinou uma História brasileira, em que chegaram à conclusão que os desencontros actuais do brasil se devem ao "português".

JB, claro que os mistos brasileiros, mesmo os cascarenetos e mesmo filhos directos de português, a estudar na suécia têm que rebater o lusotropicalismo, a misceginação, com o massacre a sério que se faz no brasil racista.

Eu vi o Caetano Veloso na TV, malhar no português como se fosse ítalo ou alemão.

Ninguem tem culpa da piolheira em que o Brasil está, apenas o português é culpado

Quando as coisas correm mal nos PALOPS também recorrem ao mesmo discurso.

Quando cheguei ao Brasil, 1974, um primo meu que não era propriamente analfabeto, antes pelo contrário, bastante erudito, avisou-me para ter cuidado com os filhos dele, 14/15 anos, que estavam ensinados pelos livros escolares a culpar os portugueses de tudo.

Todos (muitos)sabemos que era habitual que a primeira viajem ao estrangeiro quando um presidente brasileiro era eleito, tradicionalmente primeiro Portugal.
Até é conhecido o caso quando se deu o 5 de Outubro de 1910 estava cá o presidente brasileiro eleito na tal viajem.

Eu sou do tempo de ter acontecido com Kubichek e com Café Filho.

E penso que ficou por aí, agora se poderem nem falar na palavra "Portugal", até lhe dá votos.

O Jorge Jesus foi uma lança em África!

Cumprimentos






Valdemar Silva disse...

Rosinha, os brasucas são um povo com descendentes de todos os cantos da terra.
Eles, conforme a região e as conveniências, escondem a descendência de portugueses, já que de origem africana só pintando a cara.
Evidentemente que os de origem africana, não sei qual é a percentagem na população, não podem esconder e, antes pelo contrário, eram mesmo escondidos. Nos anos do começo do futebol era proibido haver negros nas equipas, não sei qual a primeira, e para jogar pintavam a cara com cal.
Repara-se nas novelas brasileiras, nas imagens dos políticos, nas imagens das pessoas nas praias e é muito raro ver brasileiros de origem africana, e são a seguir aos portugueses os primeiros imigrantes para o Brasil. A fuga dos escravos dos engenhos para as montanhas fez com que eles nunca mais se 'aproximassem' do resto da população, como aconteceu com os dos EUA, antes pelo contrário foram criando, ou obrigados a criar, as favelas com milhões de pessoas vivendo completamente 'à parte' do resto da população.
Até o Jucelino Kubischek de Oliveira, que foi um reputado Presidente do Brasil, era tratado por o alemão JK, tudo para evitar o Oliveira, do pai português, e o Kubischek, da mãe checa da região dos sudetas (alemãs) de origem cigana. ( uff! até pareço o Luís Lomba)

Ab. e saúde da boa
Valdemar Queiroz

Anónimo disse...

O que pensamos sobre nós próprios,a nossa maneira de olhar o mundo,a nossa maneira de estar no mundo,como resultado de muitos séculos de “descobertas “?

E não só as descobertas geográficas.
Olhando-se em redor para sociedades ricas em capital e tecnologia verifica-se serem elas bem pobres nas suas experiências colectivas de contatos com outras culturas.
Os nossos navegantes,comerciantes,soldados,emigrantes,não seriam exemplos de intelectuais possuidores de refinada cultura.
No entanto as suas experiências pessoais acumuladas (!) acabaram por criar uma maneira de ser (quase instintiva) quanto aos relacionamentos com outras gentes..
Humildes,pobres,alguns bem ignorantes,mas nunca “inferiores.

No Brasil,e não só,o “português” e o que ele representa são apresentados nas raias do caricato.
O aumento muito considerável de emigrantes vindos de outras culturas e tradições leva a que procurem “ puxar a brasa à sua sardinha “.
Mesmo em meios sociais inesperados,como o mundo de negócios empresariais,as referências ao “português” são muitas vezes usadas como verdadeira arma de arremesso.
Por vezes como forma de ironia,em outras com verdadeiro sentido condescendente.
Ao longo de muitos anos,as viagens,os locais,a variedade de gente contactada em posições econômicas importantes e.......lá surge quase sempre o termo “português “ com entoação denegrente,mesmo que as conversas se refiram a assuntos com ele nada ligados.
Obviamente todas as generalizações podem acarretar muito de errado por subjetividades várias.
Mas....

Um abraço
J.Belo

Anónimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.