sábado, 17 de abril de 2021

Guiné 61/74 - P22111: Da Suécia com saudade (90): o fim da picada... ou um certo fim desta picada!... Morreu a Tabanca da Lapónia, viva a Tabanca de Key West, Flórida, EUA (José Belo)



Una especialidade do Norte da Escandinávia: caviar de ovas de salmäo "löjrom", servido com cebola crua e natas ácidas... Vai bem com um vinho branco Bucelas Velho, diz o José Belo, o nosso "exigrado", como ele próprio se intitula: misto de exilado e de emigrado...

Fotos (e legenda): J. Belo (2021)


I. Mensagem de José Belo, o nosso luso-sueco, cidadão-do-mundo, membro da Tabanca Grande, que reparte a sua vida entre a Lapónia (sueca), Estocolmo e Key-West (Flórida, EUA). Foi nomeado por nós régulo (vitalício) da Tabanca da Lapónia (. Na outra vida, foi alf mil inf, CCAÇ 2391, "Os Maiorais", Ingoré, Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, 1968/70).

 
 Date: sexta, 16/04/2021 à(s) 21:13
Subject: Um certo...fim d'esta picada!
 

Meu Caro Luís

(1) Também se come sável por aqui (*), apesar de actualmente muito difícil de pescar por estar quase extinto.

O preco de um prato de sável grelhado nos restaurantes do norte da Suécia (quando há) varia entre o equivalente a 50 até 60 euros. Paga-se pela qualidade que realmente tem mas também pela dificuldade em o encontrar.

Uma maneira típica local é fritá-lo em gordura de bacon fumado, posteriormente misturado com cerefolho, endro e cantarelo (uma espécie de cogumelo amarelo).

De qualquer modo aqui segue uma especialidade muito típica do Norte Escandinavo: Caviar de ovas de salmäo "löjrom", servido com cebola crua e natas ácidas.

Acompanha-se com vodka e cerveja, mas... um José Maria da Fonseca BSE, ou um Bucelas Velho,  seria verdadeiramente "pôr oponto nos ii". (Se é que ainda  existem, estas marcas de vinhos,  depois de mais de 40 anos de,,,"exigrado" !)

(2) Aproveito este texto para informar os Camaradas que a já muito longa série "Da Suécia com Saudade" chegou ao fim da picada. (**) Mudo-me com "armas e bagagens" para a minha casa de Key West [, Flórida, EUA], apesar de manter casa também em Estocolmo para viagens nostálgicas às...raìzes.

Espero ter de algum modo contribuído para um maior conhecimento entre Lusitanos desta realidade exótica situada no extremo de extremo norte europeu que é a Lapónia.

Um abraço, J. Belo

 II. Comentário do editor LG:

Meu querido amigo e camarada:

Percebo que queiras estar mais próximo dos teus filhos e netos...E só posso desejar-te muita saúde e longa vida em Key West onde resto tens casa há muito...

Vamos mesmo pôr um ponto final na série "Da Suécia com saudade" ? Se sim, temos que pensar numa nova série...Porque tu vais continuar a escrever no nosso blogue... E quanto à Tabanca da Lapónia ? Para nós, continuarás a ser o 
régulo da Tabanca Lapónia, não de pedra e cal, mas de madeira e gelo. Por outras palavras, és insubstituível, inamovível, vitalício... Claro que vamos ter saudades das tuas saudades.

Obrigado por mais estas tuas sugestões gastronómicas... E um dia destes posso mandar-te uma listagem com todos os teus postes... incluindo os da série "Da Suécia com saudade" (que são noventa).

Mas deixa-me acrescentar: 

Morreu a Tabanca da Lapónia,  viva a Tabanca de Key West!

Fica bem e que lá sejas feliz, pararaseando um poema do noss Ruy Belo. Que a felicidade é onde a gente a põe, mas a maior parte de nós nunca a põe onde está... Venho de almoçar da Tabanca do Atira-te ao Mar e de deleitar-me com as nossas musiquinhas (com cavaquinho, bandolim, viola, voz...), celebrando a vida, a saúde, o desconfinamento, a amizade, a camaradagem...

Se um dia voltares à Pátria / Mátria / Fátria que te foi Madrasta, seja em viagem de  negócios ou simplesmente para rever as tuas raízes lusitanas, tens já uma convite para vir aqui comer uns marisquinhos do Mar do Cerro e beber uns vinhinhos brancos com aromes atlânticos da regão  da tua avó...

Um abraço fraterno, LG

PS - Lê e ouve aqui o poema "O Portugal Futuro", de Ruy Belo, dito por cantora Lula Pena



O Portugal Futuro

0 portugal futuro é um país
aonde o puro pássaro é possível
e sobre o leito negro do asfalto da estrada
as profundas crianças desenharão a giz
esse peixe da infância que vem na enxurrada
e me parece que se chama sável
Mas desenhem elas o que desenharem
é essa a forma do meu país
e chamem elas o que lhe chamarem
portugal será e lá serei feliz
Poderá ser pequeno como este
ter a oeste o mar e a espanha a leste
tudo nele será novo desde os ramos à raiz
À sombra dos plátanos as crianças dançarão
e na avenida que houver à beira-mar
pode o tempo mudar será verão
Gostaria de ouvir as horas do relógio da matriz
mas isso era o passado e podia ser duro
edificar sobre ele o portugal futuro

Ruy Belo (1933-1978)

13 comentários:

Hélder Valério disse...

Meu caro J.Belo

Tudo na vida tem um fim, sabemos. Mas custa pensar nisso e, principalmente, antever isso.
Pergunto-me o que pensarão ou dirão as tuas renas.
E os teus cães.
E os ursos que, sabemos, te visitavam de tempos a tempos.
E os passarocos, que apresentaste não faz muito tempo.
Também li que embora vás privilegiar Key West não vais descurar Estocolmo "para viagens nostálgicas...às raízes". Direi raízes "suecas", mas também faltam as "lusitanas", verdade?
E as renas? As renas, que tanta companhia te fizeram "em tempos de solidão"!

Mas também sabemos que "atrás de tempos, outros tempos hão-de vir" e, como tal, é aguardar serenamente pelo que virá (ou não!).

Olha, relativamente às iguarias com ovas de salmão não fiquei a salivar mas não custará experimentar. Só depois, honestamente, se poderá dizer "gostei", "não gostei".
Nestes dois últimos anos não "alinhei" num evento em Vila Franca que costuma ter o slogan de "Mês de Março, Mês do Sável", no qual vários restaurantes do concelho, com predominância para a sede, contribuem numa espécie de competição para ver quem tem melhor arte para essa confeção. Claro que pode haver "não-apreciadores" mas garanto que sável frito (tem que ser) em postas fininhas (para se poder quebrar as espinhas) acompanhado de açorda das ovas do mesmo é realmente um bom prato.

Sobre o "José Maria da Fonseca BSE" (Branco Seco Especial) garanto que ainda há no mercado. E não está mal, embora agora se produzam também mais vinhos brancos de boa qualidade.
O "Bucelas Velho" sofreu uma crise. O crescimento urbano ameaçou os vinhedos mas tenho notícias que há alguma recuperação. Ou havia, antes-pandemia.

Um abraço e boa disposição para as novas etapas.

Hélder Sousa

Anónimo disse...




Amigo José Belo:

Estejas onde estiveres nunca te esqueças do Blogue do Luís Graça e continua a mandar os teus lindos Bilhetes Postais . A beleza, o exotismo , as tradições, os costumes da tua Lapónia têm-nos dado mais conhecimentos e emoção estética. Em Key West ou em Estocolmo não te irão faltar histórias para nos contares com a tua humanidade e ironia
Sinto alguma pena de termos deixado de ter um representante português num território tão vasto , que faz sonhar os meninos e encanta os mais velhos como a Lapónia.
Tu, com as tuas renas , de barbas brancas, fisicamente robusto, com ar de avô bondoso, podias ser o Pai Natal de Portugal.
Falando dos vinhos que também ajudam a suportar a vida, em Portugal há actualmente muitos e muito bons, em todas as regiões vinícolas. Tu já estás desactualizado, não admira devido ao teu afastamento, por outro há vinhos de grande qualidade noutros países europeus e não só, que tu deverás conhecer
Gosto muito dos vinhos da região do Douro (de mesa), para mim são os melhores do mundo
Até sempre camarada!
Um grande abraço
Francisco Baptista

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Não vamos "despedir-nos" da Tabanca da Lapónia e da série "Da Suécia com saudade", sem selecionarmos alguns dos melhores postes e imagens. Também eu já começo a ter saudades da Tabanca da Lapónia... Que o régulo, esse, continua firme, de pé, na Tabanca Grande...

José Teixeira disse...

Caro comandante, mudar de poiso não implica mudar de camisola. Essa tem de continuar vestida para aconchegar o coração de português que vive dentro de ti. É uma ordem do teu "dotor" de Mampatá, dos bons tempos que ali passamos em franco convívio com a população. Tal como lá fizeste falta, também aqui no Blogue de todos nós, fazes falta. Desde sempre me habituaste a mudar de poiso e apareceres quando e onde não contávamos contigo. Ainda te lembras quando apareceste em Mampatá de helicóptero e foste recebido em festa pelos teus homens e pelas bajudas mais lindas da Guiné?
Até breve.
Fraternal abraço do
Zé Teixeira

Anónimo disse...



E há as receitas e as dicas gastronómicas, que o José Belo, o Luís Graça e o Tony Levezinho que partilham com todos, que eu sempre degustei e admirei e que nunca comentei porque talvez estivesse com água na boca. Muita informação o José Belo tem dado sobre a culinária sueca e não só.
Hoje vou-me permitir dar uma pequena dica sobre essa arte que a todos dá prazer.
As alheiras, que os judeus fugidos à Inquisição, inventaram no Nordeste transmontano e que no decorrer dos séculos se tornaram tão populares em Portugal inteiro, têm um acompanhamento que nem sempre é o mais próprio.
Penso que a melhor acompanhamento é o tradicional que os transmontanos utilizam. Batatas cozidas, com nabiças, melhor ainda com grelos se os houver, porque sendo a alheira bastante gordurosa, as batatas cozidas com a sua textura absorvente e os grelos com o seu sabor fresco e agridoce, vão tornar a alheira menos gordurosa, menos enjoativa e mais apetitosa.
Um grande abraço a todos

Francisco Baptista

Anónimo disse...

Caros Amigos e Camaradas.

Vou aproveitar este espaco de comentários para Vos responder individualmente,caso contrário o texto seria demasiado longo para o local.

Os vossos comentários têm em comum o tal "olhar para trás" täo típico das nossas idades já quase Bíblicas.
É natural.
O "olhar para a frente" torna-se mais assustador pois o "à frente" está quase ao alcance da mäo!
Tendo em conta a falta de vista que já todos vamos mais ou menos sofrendo, a somar-se à rigidez muscular do torax superior,näo se torna recomendável o "olhar para trás".
Acarreta sempre dores passíveis de serem de outro modo evitadas.

Um abraco do J.Belo

Anónimo disse...

Caro Amigo e Camarada Helder Valério

Começando pelas ovas do salmão.....para serem apreciadas no seu verdadeiro sabor devem ser consumidas frescas “do dia”.
Com sumo de limão e cebola finamente picada.
Precisamente como quanto ao caviar são do tamanho de pérolas e com uma consistência semelhante à das uvas ainda meio verdes.
É na verdade diferente das ovas consumidas em Portugal.

Quanto às “raízes” as coisas são menos saborosas, e mais complicadas.
Elas também se arrancam em processo doloroso,prolongado,e não recomendável na suas “destrutividades”.
Por outro lado não podemos esquecer que para respirar,criar,reproduzir e renovar, os campos necessitam de ser limpos de raízes velhas,certamente profundas mas....aperreadas.

Melhor do que eu saberia dizer escreve Ruy Belo no poema acima publicado por Luís Graça:

“.......gostaria de ouvir as horas do relógio da matriz
mas isso era o passado
e poderia ser duro edificar sobre ele o Portugal futuro “.

Um abraço do J.Belo

Anónimo disse...

Caro Amigo e Camarada Francisco Baptista

Em absoluto acordo quanto aos vinhos do Douro,alguns não de primeira mas de primeiríssima classe a nível mundial.
São vendidos ,tanto em toda a Escandinávia como nos Estados Unidos a um preço elevado mas que a qualidade mais do que justifica.

Quanto às alheiras tenho também que te dar razão.
Ao contrário das servidas em Lisboa e Cascais com batata frita,ovo estrelado e esparregado,as que sempre ia comer ao Peso da Régua ,quando estive colocado no Quartel de Lamego , eram servidas com batata cozida e grelos.
Inesquecíveis.(Assim como a linda reguense que servia à mesa do restaurante)

Só não estamos de acordo com o eu poder vir a ser o tal Pai Natal português.
O cargo ainda é (e será!) ocupado pelo Senhor Professor Doutor Salazar.
Não um cargo vitalício como os mais ingênuos julgavam mas antes “ad eternum ” como os deuses decidiram.
Não sei onde é que ele foi arranjar as vetustas barbas brancas mas o modelo é.....Karl Marx!

Um abraço do J.Belo

Anónimo disse...

Meu Camarada de Pelotão José Teixeira

Melhor “título-honorífico” não tenho para dar a ninguém.
Todos nós, os antigos combatentes,sabemos bem que nele estão incluídas as palavras “Irmão”,”Amigo” e “Camarada”.
Sentimentos verdadeiros que nos têm acompanhado ao longo das nossas já longas vidas.

Um punhado de rapazes literalmente atirados para o meio da mata para defenderem Tabanca nativa isolada junto à estrada de Aldeia Formosa a Gandembel.
Tabanca defendida com lágrimas suor e sangue como se da Aldeia natal, algures em Portugal, se trata-se.
Esta foi a realidade vivida por aquele punhado de jovens portugueses.
Hoje,há distância de meio século, e de continentes , compreendo que tudo o resto (historicamente inevitável) mais não foi que.........

Um grande e saudoso abraço do J.Belo

Ps/A morada “esquilo....” não é actual?
Tens outra actualizada?

Anónimo disse...

Caro Amigo e Camarada Luís Graça

Ao longo da série “Da Suécia com Saudade “ enviei de facto muitas fotos da natureza da Laponia sueca.
Infelizmente nelas não se pode reproduzir o silêncio,isolamento e grandiosidade das infindáveis florestas,montanhas,estepes,e milhares de lagos e rios.
Um gigantesco espaço selvagem único na Europa Ocidental.
O que lhe trará o futuro?

Um abraço do J.Belo

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Caro régulo da Tabanca de Key West

O email atual do nosso "doutôri" José Teixeira:

jteixei@msn.com

Mantenhas

Anónimo disse...

"Alto e paira o baile!"
"Auguenta" os cavalos!

Ou,como a ordem de comando dos militars brasileiros quanto ao....marcar passo....

"Faz qui anda má näo anda!"

A luta vai continuar também.... na Lapónia!

Um ,como sempre, respeitoso abraco do J.Belo

Hélder Valério disse...

Caros amigos e em particular o J.Belo

É por estas (e por outras) que o J.Belo será imprescindível nestas páginas.
Pelo fino humor.
Pela elegante capacidade de superiormente reagir às provocações que de quando em vez lhe fazem.
Pela diversidade dos elementos que nos trás, sejam apontamentos de folclore, da fauna, da flora, dos locais onde está.
E as recordações dos tempos da "aventura africana"? Também bastante úteis.
Na resposta que me deu indica a certo passo a propósito da "raízes" que "Por outro lado não podemos esquecer que para respirar, criar, reproduzir e renovar, os campos necessitam de ser limpos de raízes velhas, certamente profundas mas....aperreadas." Claro que concordo mas também não nos podemos esquecer que deverá existir um "processo histórico" e que desse modo, o que somos hoje é o resultado das opções que tomámos ontem e as de hoje determinarão, em larga medida, o amanhã.
Por isso é que acho que, por mais dura que seja a edificação do futuro sobre o passado, conforme referido no poema de Ruy Belo, isso acaba por muito "natural".

Hélder Sousa