terça-feira, 28 de junho de 2022

Guiné 61/74 - P23391: A galeria dos meus heróis (46): uma história pícara de três “a(r)didos” - II (e última) Parte (Luís Graça)



Guiné > Região de Bissau > Brá > Depósito de Adidos > Junho de 1969 > O Virgílio Teixeira, ex-alf mil SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69), na sua função de Oficial de Dia. "Normalmente fazia as minhas rondas na minha própria motorizada, quando não tinha jipe disponível, uma vez que a área a percorrer era grande. Tinha uma extensão à volta de 1000 metros, de frente para a estrada, e uma quantidade indeterminada de instalações militares. A minha motorizada era uma Honda Azul, de 50 cc, que depois, quando regressei, deixei por lá abandonada. Pode observar-se a existência de valas abertas fundas, para escoamento das chuvadas diluvianas, quando apareciam. Em finais dos anos 40, havia aqui um campo de aviação."

Foto (e legenda): © Virgílio Teixeira (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné, região de Bafatá. Contuboel,
junho de 1969: o autor



A galeria dos meus
heróis: uma história
pícara de três
“a(r)didos” - II 
(e última) Parte 

por Luís Graça (*)


7. Tirando eventualmente um ou outro serviço, que eu não sei se chegaram a fazer (como “sargento de dia” ou “polícia de unidade”) e o facto de dormirem mal e comerem ainda pior, no Depósito Geral de Adidos (DGA), na Calçada da Ajuda  (só o termo “depósito” era um “achado”!), os nossos três “a(r)didos”, o Parente, o "Matosinhos" e o "Algarvio"  não se podiam queixar: afinal tiveram um prolongamento inesperado das férias (se bem que curtas, de duas ou três semanas), em Lisboa, enquanto aguardavam o embarque no “cruzeiro para a África de todos os sonhos” (de acordo com o prospeto da “agência de viagens” da tropa…).

Podiam ter ficado em casa de família ou numa pensão, mas por razão ou outra (e sobretudo "financeira"), optaram pela incomodidade dos Adidos, para mais tratando de um quartel que, naquele tempo,  ficava um bocado "fora de mão", na Ajuda.
 
Como compensação pelo sacrifício, "deu para beber uns copos” bem como para uma ou outra escapadela aos cinemas da Baixa e aos bares do Cais do Sodré, que estavam então na moda (e continuaram a estar até hoje, sobretudo com a criação da rua pedonal, a Rua Cor de Rosa, há cerca de anos atrás). Ficara  até prometida uma “visita secreta” ao Bairro Alto, que o “Matosinhos” e o “Algarvio” mostraram alguma curiosidade em conhecer… Por uma razão ou outra, o Parente ainda não os tinha levado lá, mas a surpresa ficaria guardada para a véspera do dia do embarque.

No regresso ao DGA, apanhavam o elétrico, o autocarro ou, às vezes, o comboio até Belém,  e subiam depois a Calçada da Ajuda, a pé… Tinham que entrar até à meia-noite, naquele tempo o “Matosinhos” e o “Algarvio” ainda eram 1ºs cabos milicianos mas já alinhavam nas escalas de serviço dos sargentos. Com a guerra, havia falta de sargentos e oficiais, o que era colmatado com o recurso aos milicianos. Mão de obra “escrava”, diga-se de passagen, paga a 90 escudos por mês (o valor do pré de então…), equivalente hoje a 28 euros…

− Mas também se ganha mal e porcamente na vida civil – contemporizava o Parente. – Agora, quando voltarem da Guiné, vivos e inteiros, vocês já poderão comprar carro, montar casa e casar!

− Não me f…! – interrompeu o “Matosinhos”. – Não haverá dinheiro que pague o sacrifício da nossa juventude… A madrasta da Pátria paga-nos para matar e para morrer…

− Não sejas tão panfletário, já pareces o Manuel Alegre aos microfones da rádio Argel… A maior parte da malta vai ter as férias que nunca sonhou ter!... Férias, ainda por cima, pagas!... – ironizou o sargento.

− Férias ?!...

− Olha, eu não quero outra vida. Já vou na 3ª comissão… É verdade que também não sei...  fazer mais nada!

− Grande malandro, tinhas dado um belo padre – ouviu-se a voz do “Algarvio”, do fundo do cadeirão.

− Pois era, mas o sacana do falangista f… o nosso Parente! − comentou o “Matosinhos”.

− Ele é que foi ingénuo. Nunca ouviste dizer: “Em Roma sê romano” ?!... Tinha obrigação de conhecer as regras da casa, foi pobre e mal agradecido − arrematou o "Algarvio", seco e contundente.


8. A cena mais pícara destes três “a(r)didos” foi quando o Parente convidou os outros dois para “irem às meninas” (sic) na véspera do embarque no “Niassa”. O “Matosinhos” e o “Algarvio” entreolharam-se, com um certo olhar de espanto, e terão respondido ao desafio, com uma pitada de humor negro:

− E porque não ?!...  Só Deus sabe se voltaremos a casa, vivos e inteiros!
 
− Sobretudo inteiros, com os ditos cujos “en su situ”! – atalhou, malicioso, o sargento.

Quase instintivamente, o "Matosinhos"  levou as mãos ao baixo ventre para se certificar que ainda lá estavam, inteiros, os “tintins”…

O Parente não conseguiu deixar de soltar uma sonora gargalhada:

− Façam de conta que é uma despedida de solteiro!... Mas primeiro vamos beber uns copos. E eu pago a primeira rodada!

Como estava previsto o navio largar amarras às 11h00 da manhã, do dia 24 de maio de 1969, no Cais da Rocha Conde de Óbidos, o Parente não quis arriscar deixar a surpresa para o próprio dia do embarque, o que teria tido muito mais "pica"... 

No fim da tarde do dia anterior, sexta-feira meteram-se num táxi, e “ala, moço, que se faz tarde”, a caminho do Bairro Alto. (As malas já haviam seguido, entretanto numa viatura dos Adidos, e, mais importante, haviam conseguido  dispensa de pernoita, seguindo na manhã do  outro dia diretamente para o "Niassa", como eu, de resto, que vim, durante toda a noite, em comboio, do Campo Militar de Santa Margarida para o Cais da Rocha Conde de Óbidos.)

Tinham, pois,  a noite toda por conta deles,  suspirava, feliz, o safado do sargento. Mas antes haveria que celebrar o evento com uma mariscada, na cervejaria "Trindade". No dia seguinte era sábado e nessa altura ainda se trabalhava aos sábados, e o Bairro Alto deveria estar animado de gente laboriosa. (É bom lembrar que a chamada semana inglesa, as 45 horas de trabalho semanal, com um dia e meio de descanso em cada sete, é uma conquista dos trabalhadores do comércio portugueses, só conseguida justamemte nesse ano, em 1969.)

A “Sissi”, a “Rita Pavone” e a “Mudinha” foram as três mulheres com quem os nossos “a(r)didos” passaram essa noite  de 23 para 24 de maio de 1969. Na cama, como eles depois me contaram. Ou melhor, quem me 
contou essa cena, digna de figurar no melhor livro do nosso humor de caserna, foi o “Algarvio”, que era, dos três, o mais sensato, o mais discreto, o mais sóbrio, o melhor observador e quiçá o  melhor contador de histórias que eu conheci …

Os nomes de guerra das três mulheres podem não ser estes, mas para o caso também não  é  relevante. A “Sissi” era a patroa, tinha uma “casa de bonecas”,  perto da “Princesa da Atalaia” (uma tasca que eu virei a conhecer mais tarde, dez anos depois. em 1979)... Com a  extinção das casas de passe, em 1963, fora a maneira da "Sissi" de contornar a lei e manter o negócio: alugava quartos a raparigas ("que vinham da província").  Com ela trabalhavam a “Rita Pavone” e a “Mudinha” (assim conhecida por ser muda) e, ocasionalmente, mais algumas que ali faziam o seu "biscate".

Como era habitual terem clientes na sexta feira à noite, o Parente tratou de tudo, previamente e reservou três quartos... Imagine o leitor o que era o Bairro Alto de há mais de 50 anos atrás, ainda com prostituição de rua (tolerada, se bem que ilegal).

A “Sissi”, como velha conhecida do Parente, combinou com as outras duas raparigas e facilitou as apresentações. O prédio  compunha-se de rés-de-chão (ainda com os famosos “aventais de pau”, as "meias-portas" onde no passado as mulheres se mostravam, debruçadas para a rua), primeiro andar e águas furtadas. 

 Era uma construção ou reconstrução oitocentista, de pé direito alto. As divisões eram minúsculas, mal cabendo nos quartos uma cama, uma mesinha de cabeceira e um pechiché, com um espelho (onde as raparigas tinham a tralha para a maquilhagem, os cosméticos, os pós de arroz, os batons, os vernizes). O rés-de-chão, compunha-se de um pequeno vestíbulo, com um reprodução  do quadro a óleo do José Malhoa, " O Fado" (1910), na parede;  uma  pequeno  cozinha, a casa de banho (reduzida a um retrete, lavatório e pouco mais), um roupeiro e ainda um saleta de costura. (Oficialmente, a "Sissi" era costureira, e tinha os impostos em dia.)

Havia ainda umas águas furtadas, acrescentava o "Algarvio", meticuloso na reconstituição da cena e do cenário que fez para mim a bordo do "Niassa"... Ali a “Sissi” tinha a sua “suite” (sic)  e um pequeno salão onde recebia os “hóspedes” mais íntimos… (O Parente achava que ela beneficiava de alguma proteção da gente do poder.)

− O teu gajo hoje está por aí ?! – interrogou, cauteloso, o Parente.

− Já não preciso de “guarda-costas” e muito menos de “Júlios” – respondeu, seca mas orgulhosa, a “Sissi”. 

O sargento ficou a “matar saudades” com a sua antiga “chavala” de há uns atrás. O “Matosinhos” e o “Algarvio” tiraram à sorte quem ficava com as outras duas: é que uma era mesmo “muda”…

− Muda, mas felizmente, não é cega nem é surda – encolheu os ombros, o “Matosinhos”, resignado com a sua (má) sorte, ele que logo simpatizara com a “Rita Pavone”, que falava pelos cotovelos, e tinha umas lindas sardas, que lhe fazia lembrar a sua primeira namorada do tempo de escola.

Fiquei depois a saber, pelo relato do “Algarvio”, que a “Mudinha” fora adotada pela “Sissi” como “afilhada”… Tinha sido violado, ao que se dizia,  pelo padrasto, em Setúbal, onde vivia e estudava no liceu. O gajo era uma granjola da máfia da estiva. A rapariga acabou por cair na “má vida” e veio para Lisboa, "por portas e travessas". A ”Sissi” acolheu-a.

Mas, afinal, quem mais se divertiu, dos três “a(r)didos”, nesse sexta feira à noite  inesquecível, foi o “Matosinhos”. A “Mudinha” era uma verdadeira figura dos contos das Mil e Uma Noites, capaz de satisfazer as mais exigentes fantasias eróticas dos “clientes”. A sua “especialidade” era exemplificar, ao vivo, algumas das mais ousadas e acrobáticas  posições do Kama Sutra…

E tinha um inusitado sentido de humor negro. Quando convidou o “Matosinhos” a fazer o “69”, este recusou, com alguma brusquidão e irritação, típica do macho latino… Ela então “rogou-lhe a sua famigerada maldição” (sic), um delicioso aforismo que é uma obra-prima do linguajar do "bas-fond":

− Quem não faz sessenta e nove, não chega… aos cem!

 Mesmo assim o tempo foi curto para tantas “lições”... O "Matosinhos" fez questão de mandar vir "champagne de Sacavém" e 
o par trocou de galhardetes e de endereços postais. A rapariga, sabendo que ele, “tadinho", ia para o "ultramar”, fez-lhe até um desconto e não lhe levou nada pelas “aulas extras”. O “Matosinhos” prometeu-lhe que escreveria da Guiné, e que, nas férias, lhe traria um colar de missangas, conforme pedido expresso da rapariga… Ela comunicava através de notas, a lápis, num caderno escolar, a par da linguagem gestual.

Não sei se o “Matosinhos” chegou a vir de férias. E se, muito menos, cumpriu o prometido,    voltar à Rua da Atalaia com o colar de missangas  e acabar o resto das aulas... enquanto a sua namorada o esperava, ansiosa, a 300 km mais a norte... (Nem nunca mais poderei saber se ele chegou a casar com ela, a menos que me dê sinais de vida, o que me parece pouco provável.)


 9.  Ainda foram, para a despedida,  ao cacau da Ribeira, no Cais do Sodré,  antes de rumarem diretos ao Cais da Rocha Conde de Óbidos, a pé. Já estavam os três com um grãozinho na asa, ou pelo menos eufóricos, quando passaram pelas senhoras do Movimento Nacional Feminino, e receberam o maço de cigarros “Três Vintes” e a medalhinha de Nossa Senhora de Fátima a que tinham direito.

Mas, logo à entrada do “Niassa”, junto às escadas que levavam ao portaló, ia havendo uma “bronca de todo o tamanho" (sic), com o “Matosinhos” e uma das “meninas da Cilinha”. Ele depois explicou-se, já mais calmo, no bar do navio: o que mais o irritara, fora o sorriso piedoso, cínico, amarelo, de uma delas, por sinal a que parecia mais nova, mas já "trintona, balzaquiana, com ar de solteirona" (sic)...

− A fulana estava a pedi-las! − desculpou-se ele.

O “Matosinhos” vinha eufórico, mas ali, no cais, ao cair na realidade e ao ser confrontado com o seu imperioso dever como militar, que era embarcar,  rumar  à Guiné, pegar na G3, ir para o mato e  defender a Pátria…, teve de repente uma “tirada infeliz” (reconheceria mais tarde), quando a senhora do MNF lhe “desejou boa sorte e a bênção de Nossa Senhora de Fátima” (sic)…

Ele não sabe o que é que  lhe deu na veneta..., mas  "passou-se dos carretos” (sic) e respondeu-lhe ao ouvido, para que as outras, ali à volta,  não dessem conta e armassem um escarcéu:

− Em matéria de santas, gosto mais da minha mãe e da senhora de Matosinhos, a nossa padroeira… E a si, minha querida senhora, que não deve ser santa mas ainda tem um lindo palminho de cara, e um belo par de marmelos,  eu dava-lhe mas era uma valente trancada patriótica!… Mas venho do Bairro Alto, de papo cheio, e agora a Pátria chama-me, e outros valores mais altos se 'alevantam'…

Não sei se a senhora percebeu patavinha do palavreado, já meio empastelado,  do “Matosinhos”… Só deve ter reagido à referência ao mal afamado Bairro Alto… Corou, Ficou afogueada,  e mal teve tempo de balbuciar:

− Ai, senhor furriel!... Mas que pessoa tão inconveniente e mal educada!…

E terá feito um gesto de pedido de socorro ao piquete da Polícia Militar que estava à entrada do cais, controlando os civis, de costas para o navio, pelo que os PM não terão sequer assistido à cena…

O Parente, felino,  é que não teve com meias medidas… À cautela, dei logo um valente puxão ao colarinho do "Matosinhos", arrastando-o pelas escadas acima até ao portaló!... Entraram os três, de roldão,  no navio, e só pararam no bar...Pediram três uísques duplos,  e comentaram, aliviados e bem dispostos, as peripécias daquele "dia inesquecível"…

Crachá do Depósito de Adidos, Brá.
Cortesia de Augusto Silva Santos (2013)

10. No dia 30 de maio de 1969, logo pela manhã, cerca das 8h00, desembarcámos em Bissau. E fomos levados para o Depósito de Adidos, em Brá. E cada um foi para o seu lado, eu fiquei com a malta da minha companhia, num dos pré-fabricados.  Sei que ficámos numa camarata, em camas sem lençóis, com um cheiro insuportável, agravado pelo calor e humidade de Bissau.  Foi um horror, durante três dias, até acertar com a bebiba que matava a sede.

 No dia 2 de junho, eu segui em LGD pelo rio Geba acima até ao Xime, a caminho de Contuboel (via Bambadinca e Bafatá).  

Os três “a(r)didos” ainda lá ficaram, coitados, em Brá,  à espera de transporte, cada um para o seu destino. Ainda nos encontrámos no "Pelicano", se a memória não me atraiçoa. ... Mas mal tivemos tempo de nos despedirmo-nos. Nunca mais os vi, mas espero que tenham conseguido regressar a casa, sãos e salvos, "vivos e inteiros"… Eu, por mim,  regressei, vivo, em março de 1971,  mas com a morte na alma...


11. Tem piada, durante anos não me lembrei mais desta(s) história(s) picara(s) dos três “a(r)didos"... Como tantas outras que me fariam correr o risco de "voltar à Guiné", tentação essa a que fui resistindo durante os primeiros anos da "peluda",  fechando as memórias da guerra com um cadeado a sete chaves. 

Para mim a Guiné, "c'est fini", dizia eu... Até que, uma década depois, no 2º trimestre de 1979, dei de caras com a placa com o nome da rua, a Rua da Atalaia… Foi um choque. Aprendiz de etnógrafo, a acabar o curso de sociologia, andei dias e dias, semanas e semanas, ao fim da  tarde, a caminho daquela rua, com o meu grupo de trabalho,  para apanhar histórias de vida, e registar letras e músicas dos velhos e velhas frequentadores da “Princesa da Atalaia”, uma tasca, uma das poucas, onde ainda se cantava o “fado vadio”… 

Então estas recordações vieram à tona de água, em catadupa... Tive que as registar. Pensei, como etnógrafo, que um dia alguém se iria interessar pelas "memórias da guerra colonial" (ou do ultramar), um objeto de estudo  que se calhar deveria merecer a mesma atenção  que o fado, "canção popular urbana", lisboeta,  em risco de extinção no pós-25 de Abril... 

Peguei no meu caderno de notas  e escrevi um primeiro esboço desta história... que ficou entretanto em banho maria e depois esquecida até agora... Mas hoje pergunto-me: se calhar ainda me cruzei,  sem o saber, em 1979, com a “Sissi”, a “Rita Pavone” e a “Mudinha”,  as três "meninas" com quem os meus companheiros  do "cruzeiro do Niassa" passaram as primeiras horas do dia 24 de maio de 1969. Na cama,  no bem-bom, a acreditar na história, bem pícara e hilariante, que me foi contada por um deles, o "Algarvio"... (Claro que com dez anos a mais estariam precocemente envelhecidas, e quiçá irreconhecíveis.)

Se resgato, hoje, esta história, ao fim de mais de meio século no limbo da memória, é porque afinal ela pode ter algum interesse para se conhecer um pouco melhor... a "idiossincrasia" da geração dos últimos soldados do império,   os que fecharam um ciclo de 500 anos... Não eram santos nem heróis, muito menos gigantes, daqueles talhados no bronze e na pedra ou imortalizados nos versos épicos do Camões... Eram apenas  "arraia-miúda", gente vulgar,  de quem nunca reza a História...

O Parente, o "Matosinhos", o "Algarvio", os três "a(r)didos", tal como a "Cilinha" e as suas senhoras,  ou a "Sissi" e as suas meninas, também faziam parte, afinal, da pequena história da História (com H grande)... 

Luís Graça

Lourinhã, 24 de maio de 2022, 
53 anos depois do embarque no T/T Niassa com destino à Guiné.
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Nota do editor:

(*) Último poste da série > 27 de junho de 2022 > Guiné 61/74 - P23389: A galeria dos meus heróis (46): uma história pícara de três “a(r)didos” - Parte I (Luís Graça)

25 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...


Citando a Wikipédia:

https://pt.wikipedia.org/wiki/P%C3%ADcaro

Pícaro, na história da literatura, é uma personagem-tipo dos romances e novelas dos séculos XVII e XVIII, surgidos na Espanha, com características daquilo que hoje chama-se malandragem.(...)

O pícaro vivia de expedientes, transitando entre as várias classes sociais, das quais hauria seu sustento, enganando por ardis. Noutras, adquire também o papel de bufão.

Principais tipos:

Embora este tipo de personagem esteja presente em algumas obras da Antiguidade, como o Satiricon, de Petrônio, foi a partir da obra El Lazarillo de Tormes, publicado na Antuérpia e na Espanha em 1554, que surge, sendo considerado o primeiro personagem com estas características hipócritas.

De Sancho Pança, de Miguel de Cervantes, ao Tartufo, de Molière, passando pelo Cândido, de Voltaire, inúmeros personagens retratam a figura típica e caricatural do pícaro. (...)

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Costumo usar esta "piada" com os amigos que fazem 69...anos, mas têm relutância em admiti-lo... Uns dizem 68 + 1, outros 68 e meio... Ficam atrapalhados... É verdade, os portugueses (eles e elas) não gostam de fazer... 69.

A piada, afinal, não é minha, é "empresta(da)da", a primeira vez que a ouvi foi da boca do "Algarvio" a bordo do "Niassa", a camimho da Guiné, quando me contou esta história "pícara"... Mas o seu a seu dono, os créditos autorais são da "Mudinha", que eu nunca conheci, obviamente, em 1969, mas admito ter-me cruzado com ela, dez anos depois, na "Princesa da Atalaia":

- Que não faz sessenta nove..., nunca chegará aos cem!...

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Escrevi aqui em tempos em homenagem ao meu querido amigo, antropólogo e professor do ISCTE, Joaquim Pais de Brito:

(...) Na realidade, quantos professores passaram pelas nossas vidas ? Dezenas e dezenas... E de quantos nos lembramos hoje ? Na melhor das hipótees, uma meia dúzia... O Joaquim Pais de Brito está nessa minha curta lista de "professores para a vida"... Daqueles que nos marcaram verdadeiramente, de cuja voz e brilhozinho nos olhos nunca esqueceremos... Daqueles relativamente raros professores que sabem falar com paixão e rigor daquilo que sabem... As suas aulas eram uma festa!... Não fui antropólogo, fui para a sociologia do trabalho e, mais tarde, da saúde... Mas sempre dei importância ao lado "socioantropológico" das coisas.... Essa minha sensibilidade cultural deve muito ao Pais de Brito e ao entusiasmo com que ele nos levou a redescobrir e a repensar muitas das nossas formas, humanas e portuguesas, de ser e estar na vida, no território, na comunidade, no mundo...

Foi meu professor de antropologia, no ISCTE, durante a minha licenciatura em sociologia (que terminei no ano letivo de 1979/80). Foi com ele que ganhei o gosto não só por esta área científica como pelo trabalho da investigação empírica, feita no terreno.

Durante meses, eu e a minha equipa (que fazia parte de uma equipa mais vasta, um turma inteira que estudou o fado na suas múltiplas dimensões, sob a sua "batuta")... fizemos durante meses "observação participante" numa taberna do Bairro Alto, a Princesa da Atalaia, na rua da Atalaia, onde em finais da década de 1970 ainda se cantava e tocava o chamado "fado vadio"...A expressão hoje não é consensual, "fado vadio", mas na altura queria significar algo que se opunha à (ou pelo menos, não encaixava na) "cultura oficial" do fado, a do profissionalismo e da indústria do espectáculo...

De qualquer modo a "Princesa da Atalaia" não existe mais, que eu saiba, engolida na voragem do tempo e no processo de "gentrificação" e "turistificação" dos bairros populares de Lisboa....Passei, por lá há uns anos, a loja era então de moda ou de pronto a vestir... Há dias, ao ir à "Tasca do Chico" (que estava cheia, que nem ovo, de turistame...), voltei a tentar reconhecer a fachada do prédio da antiga tasca da rua da Atalaia... Para surpresa minha, era agora um "kebab"...

Com muita pena minha, não vou poder estar amanhã com o Joaquim, na centenária Livraria Ferin (que mudou recentemente de dono, ao fim de 177 anos de existência...). Amanhã estarei fora de Lisboa, mas prometo ler (e fazer a recensão de) o livro... De qualquer modo, aqui fica o poste prometido e o desejo de continuação de bons voos para o pássaro que o tem acompanhado ao longo da vida e que o inspira, motiva, protege e o mantem vivo, saudável, inquieto, irrequieto, ativo e produtivo... Apaixonado, em suma, pela vida, a cultura e a ciência. (...)

, 14 DE DEZEMBRO DE 2017
Guiné 61/74 - P18088: Agenda cultural (621): Joaquim Pais de Brito, na livraria Ferin, ao Chiado, amanhã, 6ª feira, dia 15, pelas 18h30, na apresentação do seu livro "Muitas coisas e um pássaro" (Lisboa, Sextante Editora, 2017, 256 pp.)

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2017/12/guine-6174-p18088-agenda-cultural-621.html


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Anónimo disse...

Comentário acabado de ser postado na página do Facebook da Tabanca Grande:



Antonio Francisco Limpo Salvada:

Tenho uma história parecida com esta, nas vésperas do embarque para a Guiné (a 12 maio 69)também no Niassa em que fomos fazer a "despedida" no Cais do Sodré (futuros furrieis da companhia)e somos confrontados com uma rusga da PM. Ramona encostada à porta e tudo "preso"! Por um "chico" cioso da sua função.

Um oficial à civil apareceu entretanto e ao saber do embarque no dia seguinte mandou-nos embora!!...com um bonito discurso de boa sorte.

Estávamos aquartelados em Murfacem,Trafaria.
..há 53 anos!!

https://www.facebook.com/people/Tabanca-Grande-Lu%C3%ADs-Gra%C3%A7a/100001808348667

Valdemar Silva disse...

"Até meados da década de 70 eram poucos ou nenhuns os bares no Bairro Alto para além das abundantes "casas de passe" com prostitutas e algumas casas de fado. Terá sido nas vésperas da década de 80 que pequenos bares começaram a surgir como cogumelos. Houve um boom, conta ao JN o empresário Hernâni Miguel, a quem já chamaram "rei da noite"..."

Quer dizer que em 1969 o Bairro Alto, mesmo ao sábado, não "deveria estar animando", ao ponto dos a(r)didos andarem fardados sem preocupações com rusgas da PM.
O mesmo não acontecia com os vários bares da zona do Cais do Sodré.

Uma história pícara muito bem esgalhada.
Quem sabe escrever consegue pôr as palavras de tal forma que até parece que estávamos no "ólio" de entrada da casa da "Sissi". E ficará para os anais das com piada, aquela da "Mudinha" explicar por linguagem gestual o 69* e 100. Ah, e já com uma desculpa moderna do deixar a liceu (?) e violada pelo padrasto para entrar naquela vida.

Saúde da boa
Valdemar Queiroz

*em linguagem gestual o 6 e 9 são feitos com o indicador e o polegar formando um círculo, com os outros três dedos direitos com a mão aberta esticada ao alto para o 6 e o inverso para baixo para o 9.
(a "Mudinha" talvez aprendesse Braille na grande escola da vida, com as "primeiras letras" do toma do Zé Povinho e vai pró c... do dedo esticado)

Anónimo disse...

Aqui vão alguns comentários de quem frequentava a Lisboa, no geral. Pois comecei a trabalhar aos 12 anos, e ia da Cova da Piedade para Lisboa sozinho. Do Bairro Alto, desde os 16/17 anos, que lá ia à noite, sozinho ou com amigos da Escola Emídio Navarro (Almada), quando não havia aulas. Na altura no Bairro Alto, onde as podia encontrar era nas ditas Leitarias, uma em especial, não que eu tenha sido frequentador assíduo, mas fui lá algumas vezes, era o "Arroz Doce". No Cais do Sodré, era o Bar Texas, que ficava mesmo de baixo da rua do Alecrim, e que era o mais famoso e onde se juntavam os marinheiros estrangeiros, que nos visitavam, e que por vezes havia reboliço entre outro fardados. Assisti uma vez marinheiros, Americanos ou Ingleses, em autentica guerra campal, que só acabou quando apareceu a PM dos respetivos marinheiros. Tino Neves. Abraços

Anónimo disse...

Quanto aos ADIDOS, cá nunca lá fui. Embarquei na Rocha Conde Óbidos, no dia 15-11-1969, vindo diretamente de Espinho (GACA3 ou GACA4, não me recordo). Na Guiné, quando das minhas idas a Bissau, só me apresentava lá à chegada e ia logo ter com uns amigos meus dos PARAS, e por lá comia e dormia, mas tinha que lá ir aos Adidos para a chamada da manhã. Tino Neves

Anónimo disse...

Eu e outro camarada alferes da nossa Companhia também fomos às meninas do Bairro Alto, mais precisamente ao Arroz Doce, isto nos princípios dos anos 70, em vésperas do embarque para a Guiné nos TAM em Figo Maduro; há dias passei por lá na Rua da Atalaia e o Arroz Doce ainda existe, agora com uma novidade, com uma placa à entrada da porta que diz: Especialidade da Casa: Cocktail "Pontapé na C...@."
Albertino Ferreira ex-alf. mil C. CAÇ 4540

Fernando Ribeiro disse...

Os militares que se deslocassem a título individual de e para Luanda e tivessem que passar alguns dias na cidade, fosse em serviço, em consultas no Hospital Militar ou em rendição individual, ficavam no Depósito de Adidos de Angola (DAA), que era um quartel situado próximo do aeroporto de Luanda. Não havia qualquer semelhança entre o Depósito de Adidos de Angola e o Campo Militar do Grafanil; o DAA era um quartel e o Grafanil era uma espelunca. Quando passei um mês em Luanda em consultas externas de Psiquiatria, foi no DAA que fiquei colocado. Até fiz lá um serviço de oficial de dia.

Um dia, um capitão pertencente aos quadros do Depósito de Adidos de Angola comunicou-me que eu teria que fazer um serviço de oficial de dia na unidade. Eu respondi-lhe:

— Se tiver que fazer o serviço, faço, mas olhe que eu estou aqui em Luanda a frequentar as consultas de Psiquiatria. Não sei se estou em condições mentais de desempenhar devidamente as funções.

Disse-me o capitão:

— Não ficou internado, pois não? Então está em condições de fazer o serviço.

E acrescentou, em tom apaziguador:

— Não se preocupe, porque não vai acontecer nada. Aqui nunca acontece nada. Isto não é uma unidade operacional, é um simples lugar de passagem. O que você tem que fazer é tomar nota de quem é que chega para cá ficar e quem é que se vai embora, a fim de mantermos um registo permanentemente atualizado de quem se encontra cá colocado e quem deixou de estar. Mais nada. Você até se vai aborrecer. Aqui nunca aconteceu nada e não vai ser agora que vai acontecer.

Nunca tinha acontecido nada, mas eu quase fiz que acontecesse, graças ao meu talento para me meter em sarilhos.

Estava eu sentado à secretária de oficial de dia e com a cabeça na lua quando, a meio da manhã, chegou uma escolta com um soldado, preso e algemado, para ser metido na prisão do quartel. Recebi o preso, assinei a papelada que tinha que assinar, os militares da escolta retiraram as algemas ao preso e foram-se embora. Fiquei com o preso à minha frente.

Dei uma vista de olhos pelos papéis e verifiquei que o preso tinha acabado de chegar da Metrópole, mas era cabo-verdeano. Perguntei-lhe:

— O que foi que aconteceu para você estar aqui nesta situação?

Ele respondeu-me que era de Cabo Verde, mas vivia na Metrópole e, por isso, foi incorporado no serviço militar na Metrópole. Depois de ter feito a recruta e a especialidade, foi colocado no RAP 2, em Vila Nova de Gaia, até que foi mobilizado para Angola em rendição individual.

Para se despedir da Metrópole, resolveu ir às "meninas" da Rua Escura, no Porto, apesar de estar sem dinheiro. Quando a profissional que o atendeu descobriu no fim do serviço que ele não lhe iria pagar, saiu para a rua e fez tamanho escarcéu, dizendo que não estava ali para trabalhar de graça, que apareceu o chulo dela, seguindo-se uma cena de pancadaria entre o chulo e o cabo-verdiano. Entretanto alguém chamou a Polícia Militar, que levou o cabo-verdiano sob detenção. E ali estava ele, diante de mim, depois de ter feito a viagem de avião de Lisboa para Luanda sempre vigiado e algemado.

(continua)

Fernando Ribeiro disse...

(continuação)

Assim que me contou a sua história, o cabo-verdiano pediu-me, com todo o descaramento:

— Meu alferes, eu preciso de contactar uma pessoa que está aqui em Luanda, para que saiba que eu estou cá. O meu alferes dá-me licença que eu saia? Eu prometo que volto. Prometo. É só falar com a pessoa e volto assim que puder. Prometo.

Eu disse-lhe que sim!

Logo que se foi embora um soldado que eu não conhecia de lado nenhum, para falar com uma pessoa que eu não sabia quem era e num lugar que ele não me revelou qual era, é que me dei conta da asneira que tinha acabado de cometer. Pensei: «Bonito serviço! Então eu deixo sair livre como um passarinho um preso, que momentos antes estava algemado e sob escolta?! E se ele não voltar, o que é que me vai acontecer? Isto de nomearem um maluco para oficial de dia só podia dar mau resultado».

Não deu mau resultado. Por volta das duas horas da tarde, o cabo-verdiano apareceu-me à porta do gabinete, dizendo:

— Meu alferes, já me pode prender.

Dei um suspiro de alívio que se deve ter ouvido na cidade inteira.


Fernando de Sousa Ribeiro, ex-alferes miliciano da C.Caç.3535, do B.Caç.3880, Angola 1972-74

Hélder Valério disse...

Caros amigos

Estas "histórias/recordações" que o Luís Graça nos presenteia têm muito "sumo" pelo qual se podem abordar e comentar.
Aqui, e agora, não me vou aventurar a comentar os dois episódios, conto fazê-lo depois.
Agora é só para me centra em dois tópicos que têm vindo a ser referidos: os Adidos e a Rua da Atalaia, ao Bairro Alto.
Então, relativamente à Rua da Atalaia, que é, hoje por hoje, uma rua cheia de estabelecimentos de restauração e bar muito concorridos, já teve várias evoluções ao longo do tempo, desde que passou a ser local de "peregrinação noturna". Devem lembrar, ou pelo menos ter ouvido falar, num bar muito "badalado" na década de 80, o "Frágil", que ficava nessa rua e que foi, à época um precursor do que hoje é quase "o pão nosso de cada dia", genericamente chamados de "bar gay". Passei por lá há pouco tempo (em serviço....) e é um outro tipo de estabelecimento, o "Cheers", com muito bom aspeto.
Relativamente aos Adidos, pois também fui "cliente"
Não tenho a certeza de já ter referido isto mas, enquanto não foi atribuído transporte marítimo para a Guiné, estive adido aos Adidos. Recordo que saiu a minha mobilização a 1 de Setembro de 1970, mais uns dias no Porto para fazer já não me lembro o quê, depois os tais 10 dias das "NNM qualquer coisa" e a partir daí "cliente dos Adidos. A marcação opara o embarque foi para o dia 26 de Outubro, o que quer dizer que devo ter estado "adido" cerca de mês, mais coisa, menos coisa.
Durante esse tempo só passava por lá para ver quando estava escalado para serviço e de todas as vezes que isso aconteceu, dei "a matar" o serviço. Só que uma vez que um camarada de Santo Tirso estava escalado não consegui a sua substituição e fui eu que o fiz.
Tentaram vender-me um "casaco de antílope", que recusei, e tive que escolher entre um "Sharp" e um "Casio" resultado de um contentor que tinham "ajudado a descarregar", para não ter problemas durante a ronda...
Como passatempo (não dava para deitar na cama sem correr o risco de ser atirado ao chão pelos "percevejos seus habitantes habituais"), presentearam-me com lições de carteirismo que consistiu, por exemplo, em treinar retirar um documento ou carteira do bolso de uma camisa e/ou de um casaco, pendurado num cabide suportado por uma corda passada entre dois armários.
Muito educativo.

Hélder Sousa

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Camaradas, as vossas também são verdadeiras histórias pícaras que merecem ser publicadas, em poste, na montra principal do nosso blogue. Se VEXAS não se importarem...

A nossa guerra também passou por aqui, as Ruas Escuras, os Bairros Altos, os Cais do Sodré, as Ilhas de Luanda... Histórias de a(r)didos e mal pagos...

Anónimo disse...

Sobre a "Rua Escura", no Porto: Quando estive em Espinho, um camarada do Porto quis me levar à dita Rua, porque lá havia uma especialista "Garganta Funda" muito famosa. Não deu tempo, porque tinha-mos que embarcar no dia seguinte. Tino Neves. Abraços

Tabanca Grande Luís Graça disse...

...Sem esquecer os Cupelões ou Pilões, os Bataclãs, os Depósitos de Adidos, os Presídios, etc., por onde passou alguma "boa malandragem" (e outra "má") e que também tinha as suas "minas & armadilhas"...).

Anónimo disse...

Tenho mais uma história, que não tendo a classificação de "XXX", tem uma particularidade que eu gostaria de contar. Quando estive em Espinho à espera de embarque para a Guiné, fui algumas vezes ao Porto, mas uma das vezes, quando ia no comboio, um dos camaradas do Porto, lembrou-se que havia uma Vila no caminho, que nesse dia havia um bailarico. Não me recordo do nome da Vila, talvez o camarada David Guimarães saiba a que Vila me refiro. O baile era num pavilhão do Bombeiros da Vila. Então resolvemos lá ir, chegados lá nem foi preciso pagar o que fosse, o que estranhei, mas depois do que aconteceu a seguir, deu para compreender. Assim que entrei, fui agarrado extremes por uma garota, que me arrastou para o centro da pista. Enquanto dançava, notei que havia poucos homens no Salão, portanto, quanto ao assunto do não pagamento, fiquei esclarecido, mas vim a constatar, que não fora só por isso, acabei por me aperceber, que era uma prática utilizada, que uma série, as mulheres a escolher os homens, e depois o contrario, os homens a escolherem as mulheres. Tino Neves. Abraços

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Era um estranho país, o nosso, nos anos 60... Os homens partiam uns a salto para a estranja, emigras, outros para a guerra, apinhados em barcos mistos de carga e passageiros..., para longe, muito para longe da Pátria. Em muitas aldeias do Norte, as mulheres vestian-se de negro. Há coisas que um gajo do sul não entende...

Fernando Ribeiro disse...

Partindo do princípio de que Vila Nova de Gaia não é a vila entre Espinho e o Porto referida pelo camarada Tino Neves, então poderá ser Valadares, que tem uma estação na Linha do Norte e onde existe uma corporação de bombeiros. Outra hipótese, talvez menos provável, é Coimbrões, que também tem bombeiros e um apeadeiro na Linha do Norte. Mas Coimbrões já é praticamente Gaia e, por isso, inclino-me mais para Valadares.

Anónimo disse...

Não era Coimbrões nem Valadares. Eu me referi a uma Vila mas talvez tenha sido apenas uma aldeia. Foi muito antes de GAIA, foi ainda muito perto de Espinho. Durante muito, aliás alguns anos, eu sabia o nome, mas nesta altura do campeonato, a memória já não é a mesma, tenho pena. Tino Neves. Abraços

Carlos Vinhal disse...

No BAG2 (Funchal) havia uma cela com alguns presos. Ao domingo abria-se a porta e os presos iam com as famílias, esposas, filhos, pais, etc, dar umas voltas pelas redondezas. Ao fim da tarde regressavam à situação de presos.
Uma situação complicada foi quando num dia em que o aspirante não foi à instrução que constava de uma progressão ao longo das levadas, um dos recrutas veio ter comigo e pediu para ir falar com o aspirante ao quartel. Anui.
Quando mais tarde voltei, estava tudo em alvoroço porque o tal recruta tinha abandonado o quartel e apanhado clandestinamente um navio para o continente. Fiquei mesmo atrapalhado, mas antes de manifestar a minha preocupação, perguntei naturalmente ao aspirante se o militar tinha estado com ele durante a manhã. Que tinha estado e que lhe tinha pedido para o deixar ir a casa porque morava ali perto. Só que não voltou à hora de almoço. Contactada Lisboa, no dia seguinte a PM estava à sua espera no cais. O recruta tendo-se apercebido da recepção que lhe estava destinada, atirou-se à água, sendo preciso algum trabalho para o capturar. A esta distância não me lembro quem era e se foi connosco.
Ainda outra história com prisioneiros. Um dos meus camaradas foi incumbido de levar um preso ao Cais do Funchal para ser encaminhado sob prisão para Lisboa. Chegados a bordo, o cabo miliciano entregou o preso e os respectivos papéis. De volta ao quartel, o oficial de dia perguntou-lhe se o Comandante do navio tinha assinado o recibo de entrega do preso - Era preciso? Há que voltar rapidamente ao cais antes que o navio zarpasse.
Carlos Vinhal

Fernando Ribeiro disse...

Pronto, camarada Tino Neves, acho que já sei a que localidade se refere: Aguda! A Aguda é uma antiga povoação piscatória (ainda deve haver alguns pescadores por lá, a dedicarem-se à pesca artesanal), que tem um apeadeiro na Linha do Norte, sendo logo a segunda paragem do comboio de Espinho para o Porto. Fica, portanto, bastante perto de Espinho. Onde há pescadores, costuma haver um corpo de bombeiros para acudir aos naufrágios, e a Aguda também tem o seu corpo de bombeiros, os Bombeiros Voluntários da Aguda (https://www.bvaguda.pt). Um abraço

Anónimo disse...

NÃO LI A HISTÓRIA.

SERÁ

GRANJA

O QUE PROCURAM?

É PRAIA, TEM COMBOIO

VT.

Constantino Neves disse...

Camarada, Fernando Ribeiro. Até pode ser, mas de facto já não consigo lembrar. Obrigado. Tino Neves. Abraços

Anónimo disse...

Voltei aos comentários e reparei, que alguém tinha comentado algo depois do meu. E de facto, isto de memória tem que se dizer. O anónimo acertou na muge, pois fez-se luz. Era GRANJA sim senhor. Agradecido ao anónimo "VT". Tino Neves

Anónimo disse...

E SOBRE AS CASAS DE MENINAS - VULGO NO PORTO AS CASAS DE PUTAS -
ALEM DA RUA ESCURA, A MAIS FAMOSA ERA A RUA DA BANHARIA. MAS HA MUITAS MAIS.
A GENTE À NOITE PASSAVA PELAS RUAS E LÁ VINHA A DESCARGA DE UM PENICO!!!
NOS ANOS 70 E TAL OU 80, LÁ TINHA A CASA DE FADOS ,MARIQUINHAS, JÁ ESTAVA MAIS CIVILIZADO.

O PORTO TAMBÉM ERA BEM FAMOSO COM ESTE TIPO DE NEGOCIO / ACTIVIDADE.

VT.

Anónimo disse...

CARO TINO NEVES.
CONHEÇO TUDO CÁ PARA O NORTE E NÃO SÓ.

VI LOGO QUE ERA GRANJA.

MAIS QUALQUER COISA É SÓ PERGUNTAR?

O ANÓNIMO É ESSE QUE ESTÁ NO POSTE DE OFICIAL DE DIA AOS ADIDOS EM BISSAU.

DEPOIS AMANHÃ VOU VER QUAL ERA O ASSUNTO, SÓ LI AS PRAIAS MAIS NADA.

VT - VIRGILIO TEIXEIRA

Ab.