terça-feira, 28 de junho de 2022

Guiné 61/74 - P23393: Blogoterapia (302): Uma história verídica com o seu quê de humano (José Colaço, ex-Soldado TRMS da CCAÇ 557)

1. Mensagem enviada pelo nosso camarada José Colaço, ex-Sold TRMS da CCAÇ 557 (Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65), com data de 26 de Junho de 2022, trazendo até nós...

Uma história verídica com o seu quê de humano

Eu no Cachil, Ilha do Como, na Guiné, a tratar de dois tecelões que tinham caído do ninho numa noite de tempestade, do embondeiro,  que quase tinha mais ninhos que folhas, todos aqueles pontos mais escuros são ninhos. Ainda bebés, nem sequer abriam os olhos, por esse motivo quando viram a luz do dia eu era o seu querido progenitor. O que era difícil compreender é que eles não estavam em cativeiro, gaiola fechada, iam ter com os outros pássaros e à hora para comer e dormir regressavam à gaiola que tinha sempre a porta aberta.

"Batizeios" por "Xico 1" e "Xico 2". O Xico 2 não chegou a sair do Cachil, adoeceu e morreu.
O Xico 1, que a seguir à morte do irmão passou a ser só Xico, veio comigo para Bissau e foi para Bafatá onde teve um fim triste, um gato vagabundo filou-o e foi um adeus ao Xico.

O Xico tinha um óbi, rasgar papéis, prendia-os com uma pata e era um ver se te avias, eu pessoalmente tinha que ter muito cuidado com as mensagens que recebia via rádio para o Xico não fazer a sua tradução.
Também tinha muitas participações de camaradas que vinham ter comigo a fazer "queixa":
- Colaço o teu "pardal" tecelão rasgou-me o aerograma.

O sacana do passarinho era maroto, quando nós estávamos a escrever punha-se à espreita e logo que nós nos distraíamos dava uma bicada no papel e lá ia ele todo feliz com um bocadinho de papel no bico, voando para longe.

Nota: - Publiquei esta história na minha página do facebook e o Virgínio Briote incentivou-me que a enviasse para o blogue, porque na guerra também se passa o oposto e com mais gosto. Se vos parecer que deve ocupar um espaço no blogue, publiquem.
José Colaço

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Nota do editor

Último poste da série de 24 DE FEVEREIRO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23025: Blogoterapia (301): E a montanha pariu um rato... (Juvenal Amado, ex-1.º Cabo Condutor Auto Rodas da CCS/BCAÇ 3872)

4 comentários:

Fernando Gouveia disse...

Ainda hoje tenho, dependurado na minha sala, um ninho de tecelão. Quando vim trouxe um periquito que durou 16 anos. Ficou doente e morreu-me nas mãos...
Abraço José Colaço

Hélder Valério disse...

Amigo Colaço

Tal como referes, uma "história com um toque de humanidade".
É verdade que nos intervalos da atividade operacional havia muita maneira de ocupar o tempo.
O relacionamento com animais era uma dessas formas.
Já se tomou conhecimento de cães que acompanhavam os militares em tabancas e quartéis, já se falou aqui de gatos, de periquitos, também me lembro de ter lido qualquer coisa sobre gazelas e, por isso, essa questão dos "teus tecelões" não me causa espanto.
Mostra, isso sim, o teu sentido humanitário, aqui transposto para umas aves indefesas.
E acresce ainda o pitoresco da "sacaninha" que afinal, só quereria aprender a ler.

Abraço
Hélder Sousa

José Botelho Colaço disse...

A vida "militar" dos tecelões amestrados do Cachil.

AS aves têm algo de comum com o ser humano. Eu lembro que antigamente no tempo da debulha dos cereais os trabalhadores adotavam um corvo bébé, o corvo crescia e acompanhava a máquina de eira em eira também sei que o acidente que os vitimava nos seus voos inocentes por vezes era a correia que acionava a máquina através do tractor ou a caldeira a vapor. Retomando a conversa dos tecelões do Cachil o meu Camarada Joaquim Robalo Dias 1º cabo rádio telegrafista mais conhecido entre nós por o Jaquim da Lousa Castelo Branco por ser natural da Lousa também no Cachil domesticou um tecelão veio para Bissau e após cerca de quatro meses + ou - em Bissau também nos acompanhou até Bafatá, em Bafatá o Jaquim da Lousa foi escalado para o destacamento de Camamude onde estava o 3º pelotão comandado por o açoreano da Ribeira Grande alferes Viriato Madeira e aí o tecelão vivia a sua liberdade só regressando á gaiola para comer e dormir e para alguns momentos de ócio entre os camaradas militares mas o amigo tecelão certo dia deram por falta dele e procuraram por todo o aquartelamento, a surpresa foi: Encontrado dentro do forno que tinha acabado de cozer o pão onde a avezinha ainda abria o bico como a despedir-se dos seus amigos da tropa ele bem tentou recuperá-lo até respiração boca ao bico lhe fêz mas tudo era tarde. Abraço.

Anónimo disse...


Uma bela história e muito bem contada pelo José Colaço!

V. Briote
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