sábado, 19 de outubro de 2024

Guiné 61/74 - P26058: Os nossos seres, saberes e lazeres (650): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (175): Regresso aos Açores, às ilhas do grupo oriental (4) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 22 de Julho de 2024:

Queridos amigos,
É dia de transferência de lugar, finda a visita a recantos maravilhosos da Ribeira Grande parto para Vila Franca do Campo, uma das autarquias que me ofereceu a oportunidade de cirandar pelo concelho. Parto radiante, com uma pontinha de melancolia, apreciei a valer elementos significativos que a Ribeira Grande oferece.O local para onde vou foi acometido por um sismo em 1522, desbaratou a população e, curiosamente, houve gente que foi viver para a Ribeira Grande. Sempre me despertou muito a atenção aquele ilhéu, mal sabia eu que ia ter a sorte de no dia da sua abertura ao povo de lá passar um bom par de horas. A seguir vou dar-vos conta da rota das olarias, programa organizado pelo Museu Municipal, está estabelecido um roteiro onde se podem visitar olarias de vários mestres e fornos, é assunto que reservo para próxima semana.

Um abraço do
Mário



Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (175):
Regresso aos Açores, às ilhas do grupo oriental – 4


Mário Beja Santos

Está na hora de mudar de poiso, ontem andei a cirandar por ruas, jardins e vistas do mar, um tanto melancólico, foi uma estadia soberba, há mais de meio século por aqui passei em merecida atenção que a terra merece, a despeito de uma conferência feita nos Paços dos Concelho, guardara as recordações do edifício, do teto do Salão Nobre, da opulência do largo e dos seus metrosideros. Sentado no Jardim do Paraíso, numa das margens da ribeira, recordo a Caldeira Velha, o arvoredo luxuriante, a surpresa que foi o Museu da Emigração Açoriana e o Arcano Místico não me sai da mente, Madre Margarida Isabel Narcisa, ou Madre Margarida do Apocalipse, engendrou uma construção fenomenal, conjuntos de figurinhas, tudo para entreter e ensinar catequese. O Museu Casa do Arcano é um espaço onde se propõe revelar o testemunho de vida e obra de Madre Margarida e daí a exposição de livros e outras obras da Madre que cortam a respiração.

Hei de voltar, certo e seguro, faltaram museus, faltou a ida à Lagoa do Fogo, percorrer a Serra de Água de Pau, andar pelos miradouros, comparar com Rabo de Peixe de hoje com aquele que eu conheci, ir à Fábrica de Chá do Porto Formoso, a viagem nunca acaba, só os viajantes é que acabam ou esquecem, será o meu caso, que aquela ilha tão amada é uma manta de rincões maravilhosos. Promessa feita, ala morena que se faz tarde, amesenda-se já em Vila Franca do Campo, primeiro itinerário daquele sorteio de que fui premiado, terra que foi a primeira capital da ilha, residência de capitães donatários, devastada pelo sismo de 1522, palco da batalha naval de Vila Franca do Campo, aqui caíram definitivamente as esperanças (mesmo com o apoio francês) de D. António Prior do Crato vir a ser rei de Portugal.

À hora aprazada, apresentei-me no Museu Municipal de Vila Franca do Campo, instituição multifuncional, abrange um museu com momentos da história local, dados etnológicos e etnográficos, estamos numa casa apalaçada dos viscondes de Botelho, muito bem recuperada, há lá no cimo um espaço circular envidraçado que permitia ver a aproximação dos barcos no período conhecido pelo Ciclo Laranja. Uma das dimensões importantes deste museu são as olarias, descobrirei adiante que esta parceria de Vila Franca do Campo com Vila do Porto prende-se com barro e produção de cerâmica, esta visita à louça das vilas será o prato forte de amanhã.

A diretora do museu leva-me ao espaço superior, inegavelmente o Salão Nobre do solar, rendi-me aos elementos decorativos, à harmonia das cores, a toda aquela narrativa tardo-romântica onde não faltam pavões, crianças a empunhar grinaldas, a sumptuosidade decorativa do chão ao teto. Peço licença para recolher estas imagens que tanto me seduzem, cumpre-se a praxe de ir comer o pastel da vila, arrumam-se os trastes e o resto do tempo é para vistoriar o emaranhado das ruas e ficar preso na contemplação do ilhéu Vila Franca do Campo. E amanhã também é dia,


A imponência florestal a caminho da Caldeira Velha, Ribeira Grande
Que sopro imaginativo recebeu esta freira para compor 92 quadros e centenas de figurinhas moldadas à mão e formadas por materiais como farinha de arroz, gelatina animal, goma arábica e vidro moído?
Em exposição no Museu Arcano Místico
Já esteve no Arcano Místico este Paraíso de Adão e Eva, trabalho meticuloso, os artesãos e artesãs açorianos trabalham o papel de lustre colorido, as escamas de peixe, etc. com altíssima perícia, guardo no meu escritório um senhor Santo Cristo magnificamente agrinaldado pela Graça Páscoa, nunca me canso da sua beleza.
A janela manuelina sita na Rua da Praça, Ribeira Grande
Imagens do interior do Teatro Ribeiragrandense
Sala com as cordas açorianas, Museu Municipal de Vila Franca do Campo
Pormenor do teto do Salão Nobre da Casa do Visconde de Botelho
Pormenores da decoração
Não há melhor iconografia para identificar Vila Franca do Campo, o seu ilhéu

(continua)
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Nota do editor

Último post da série de 12 de outubro de 2024 > Guiné 61/74 - P26040: Os nossos seres, saberes e lazeres (649): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (174): Regresso aos Açores, às ilhas do grupo oriental (3) (Mário Beja Santos)

2 comentários:

Valdemar Silva disse...

Agora é impossível, mas tenho pena de não de ter ido mergulhar no Ilhéu de Vila Franca do Campo.

Valdemar Queiroz

Eduardo Estrela disse...

As fotos do Teatro enchem-me a alma e o coração.
O aparente intimismo entre o espaço do público que é dos actores e o palco que é dos espectadores permitem concluir que estamos na presença dum lugar mágico para a prática do amor pela arte.
Obrigado Beja Santos.
Abraço fraterno
Eduardo Estrela