
CCAV 2483 / BCAV 2867 - CAVALEIROS DE NOVA SINTRA
GUINÉ, 1969/70
VIVÊNCIAS EM NOVA SINTRA
POR ANÍBAL JOSÉ DA SILVA
20 - O GERADOR
A luz elétrica que havia só à noite era produzida por um gerador. Um dos mecânicos, o Amadora, era o responsável pelo seu bom funcionamento e digamos que sempre se portou à altura em termos de competência. O mesmo não se pode dizer quanto à permanência no seu local de trabalho. É que quando havia flagelações ao quartel e era preciso parar o gerador, o Amadora, por vezes, não estava lá. E então ouvia-se o pessoal a gritar por ele, chamando-lhe filho desta e filho daquela e berrando “Ó Amadora apaga a merda da luz”.
A casa do gerador
Abrigo/dormitório do 2.º Pelotão
A macaca sarita nossa mascote
21 - O BEZERRO
No decorrer duma operação em que participaram os comandos, foram, por eles mortas algumas vacas, tendo restado um bezerro, que a nossa malta trouxe para Nova Sintra. Foi colocado a pastar junto ao arame farpado, para crescer e engordar. Já imaginávamos uma refeição com bife e batata frita, mas o azar bateu-nos à porta. O bezerro desaparecera e só foi descoberto uns dias depois, dentro de um poço seco, que havia junto da vedação. O bezerro tinha morrido e lá se foram os bifes.
Autêntica pega de caras
A pocilga
O galinheiro
22 - OS CÃES E A RAIVA
Quando estou no gabinete de comando a apresentar os mapas do depósito de géneros e da cantina, ao capitão Loureiro, para análise e eventual aprovação, entrou no gabinete o cabo cripto e entregou uma mensagem ao capitão. Este leu-a, deu-ma a ler e como se tratava de uma mensagem urgente, para tratamento imediato, disse-me: rapaz Silva vai buscar a tua G3 e anda ter comigo.
A mensagem dizia para abater todos os cães existentes no aquartelamento, devido a um surto de raiva. Retorqui dizendo: Mas meu capitão, vamos andar aos tiros dentro do quartel? Não será melhor avisar toda a gente? - Não pode ser - disse ele - porque senão eles vão escondê-los dentro dos abrigos e debaixo das camas. Tiro neste e tiro naquele lá se foram seis cães. Quem os atingiu foi o capitão com a sua Kalashnikov, tempos antes apreendida ao PAIGC.
Duas das vítimas
Abrigo/dormitório novo
Abrigo/dormitório desmantelado
23 - AS BOTAS TROCADAS
No decorrer de uma operação e numa paragem para descanso, o furriel Lima, das Transmissões, queixou-se fortemente de dores nos pés e que quase não podia caminhar. Alguém a seu lado, atento ao que ele dizia, reparou que o Lima tinha as botas calçadas ao contrário. Ele tirou-as, lavou os pés, provavelmente na água da bolanha, o enfermeiro tratou as bolhas, desinfetou e depois lá seguiram na direção do objetivo.
Regresso de uma operação
Regresso ao sair da bolanha
Dia de Páscoa 1969
24 - AS ABELHAS
Noutra operação no decorrer da mesma, houve a habitual paragem para descansar e comer a ração de combate. O pessoal aproveitou para tirar a camisa do camuflado e refrescar-se um pouco.
Alguém tocou nos ramos de uma árvore, tendo provocado a fuga dum enxame de abelhas, que foram atacar vários troncos humanos esbranquiçados e descamisados. Os mais graves foram o Alferes Maranhão e o Furriel enfermeiro Bettencourt, que foram evacuados para o Hospital Militar, em Bissau, onde permaneceram vários dias internados.
25 - AS ROLAS
Havia dois dias no ano, creio que no mês de Junho, em que as rolas faziam a migração, talvez do sul para norte. Nos ramos das árvores na periferia do quartel, poisavam às centenas e então era um ver se te avias a deitá-las abaixo, mesmo com a G3. Boas arrozadas se fizeram.
O capitão Bernardo e as rolas
Messe de oficiais/secretaria/comando
Desmantelar um paiol
(continua)
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Nota do editor
Último post da série de 15 de abril de 2025 > Guiné 61/74 - P26692: Vivências em Nova Sintra (Aníbal José da Silva, Fur Mil Vagomestre da CCAV 2483/BCAV 2867) (7): Coluna de Reabastecimento a S. João - Coluna a S. João em 08/12/69 e Colunas de reabastecimento a Lala
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