1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 16 de Novembro de 2010:
Queridos amigos,
Preciso que alguém mais venha comigo, amanhã à noite, tenho carga a mais, ou deito fora as camisas e não levo artigos de higiene, ou é incomportável a caterva de livros, roupa e outras solicitações.
Se tudo correr bem, até vai ser comovente.
Tenho as fotografias das lavadeiras do Jaime Machado, vou visitar os Soncó em Bissau, ponto alto será a entrega ao director do INEP das cartas geográficas da Guiné, uma terna lembrança do Humberto Reis. E por aí fora. Aliás, devia ser o Humberto a vir comigo, tenho a certeza que vou borrar a escrita quando começar a tirar fotografias. Haja saúde, o que não tenho em talento é suprido pela profunda estima.
A aventura está prestes a começar.
Um abraço do
Mário
A Fundação Gulbenkian e a Guiné-Bissau
Beja Santos
Data dos anos 60 a intervenção da Fundação Gulbenkian num conjunto impressionante de projectos envolvendo as antigas colónias portuguesas, hoje os PALOP. A Gulbenkian dotara-se do Serviço do Ultramar, actual Programa Gulbenkian de Ajuda ao Desenvolvimento. As fundações, tal como os institutos ligados à cooperação e desenvolvimento da responsabilidade de alguns Estados desenvolvidos, tiveram a preocupação, durante os anos 70, de promover programas de combate à pobreza e à satisfação das necessidades básicas das populações. Esta e outras abordagens redundaram em fracassos, havendo hoje novas concepções que passam pela intervenção de forma conjugada de governos, organizações internacionais e grupos verdadeiramente representativos da sociedade civil, no pleno respeito pela cultura dos povos destinatários da ajuda. É esta a estratégia actual da Fundação Gulbenkian e em jeito de balanço desta nova lógica de trabalho, a Gulbenkian convidou a jornalista Maria João Avillez a visitar e a comentar a evolução dos projectos em marcha. Nasceu assim o livro “África Dentro”, por Maria João Avillez (Texto Editores, 2010).
Sumariamente, trata-se de uma reportagem que retrata o caminho percorrido pela Gulbenkian nas áreas da Saúde e da Educação em Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e S. Tomé e Príncipe. É um impressivo depósito de informação que abrange a construção de hospitais e centros de saúde, o investimento em saúde materno-infantil e na investigação de doenças infecciosas, programas de formação e valorização de recursos humanos, apetrechamento de bibliotecas, modernização do sistema educativo, são algumas das dimensões da intervenção da Gulbenkian nestes cinco países africanos, testemunhados pela jornalista neste livro.
Vamos falar da Guiné-Bissau. Maria João Avillez traça os principais aspectos da vida económica e social do país e refere os índices sombrios que abrangem os rendimentos, a esperança de vida, a mortalidade infantil e o analfabetismo, para destacar como a Guiné-Bissau se encontra destruturada, as instituições fragilizadas, com caos administrativo e índices elevadíssimos de corrupção. A visita começa pelo INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa, é aqui que se coordenam todas as actividades de investigação científica da Guiné-Bissau. O INEP opera num sistema de parcerias de cooperação com universidades e instituições portuguesas mas também com as de outros países como Brasil, Alemanha, Suíça e EUA.
Em conversa com o seu director, o antropólogo Mamadou Jo, são passados em revista os problemas e as actividades da instituição. O INEP foi altamente vandalizado durante a luta militar em 1998-1999, desapareceu uma parte fundamental do seu espólio. A Gulbenkian tem contribuído para a recuperação quer dos equipamentos quer do acervo documental. O INEP está orientado para três vectores da investigação: história e antropologia; área socioeconómica; e estudos ambientais, novas tecnologias e informática. O projecto da Faculdade de Direito de Bissau remonta ao final dos anos 80, baseia-se num protocolo de cooperação entre Portugal e a Guiné-Bissau no seu acordo de cooperação jurídica. Depois de muitas vicissitudes e interrupções nas suas actividades, fizeram-se provas de admissão dos novos alunos para o ano de 2001-2001. Este projecto é encarado como uma das pedras de toque para a consolidação do Estado Direito na Guiné-Bissau. Maria João Avillez viu aulas repletas de alunos, uma biblioteca frequentada, um rol de iniciativas em marcha. No ano de 2008 o número de alunos era de 390 e o total de licenciados, desde que a faculdade iniciou a sua actividade é de 2008. O Doutor Fernando Loureiro Bastos é o assessor científico da casa e relatou à jornalista não só as actividades docentes como a escolha dos bolseiros que permitirá que a Guiné-Bissau, a prazo, se dote de uma classe científica.
Um ponto alto da reportagem passa pela descrição da Fundação Evangelização e Culturas, criada pela Conferência Episcopal Portuguesa. Esta Fundação dá suporte a projectos do ensino básico e tem como grupo alvo professores, directores de escolas, formadores, bibliotecários e comunidades em geral. É uma reportagem esplêndida de vida e confiança no futuro, assenta num profundo estímulo à dignidade do ensino. A jornalista, aliás, visitou em Bissau um projecto de eleição que é a Escola António José de Sousa.
Passando para a área da saúde, a jornalista acompanha o trabalho da organização não-governamental de desenvolvimento comunitário VIDA, as suas unidades de saúde com destaque para o projecto Jirijipe que tem os seguintes objectivos: melhoria de acesso a cuidados de saúde materno-infantil; desenvolvimento de intervenções que possam envolver imunização, malária, infecções sexualmente transmissíveis; desenvolvimento do sistema comunitário de saúde. Também a Missão Católica Franciscana de Cumura tem sido apoiada pela Gulbenkian. Para além de um serviço de saúde pública de referência, dá-se assistência aos leprosos e aos doentes infectados com SIDA. A jornalista entrevista responsáveis da área da saúde e recolhe as expectativas desses dirigentes que confiam nas instituições de cooperação não só na luta contra as doenças como nos programas básicos de educação para a saúde. Recorde-se que a Gulbenkian está a apoiar a edificação dos três centros de saúde de Bissau. Não se escondem as tremendas dificuldades e carências com que vive todo o sistema de saúde, muitas vezes inoperante e quase sempre deficitário.
Esta “África Dentro” permite-nos uma informação básica sobre a cooperação da Gulbenkian nos projectos da educação e da saúde.
A seu tempo, deveremos constituir no blogue o menu de todas as instituições que actuam, com ou sem parcerias, na cooperação e no desenvolvimento na Guiné-Bissau.
__________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 20 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7310: Notas de leitura (174): Fuzileiros – Factos e Feitos na Guerra de África, Crónica dos Feitos da Guiné, de Luís Sanches de Baêna (3) (Mário Beja Santos)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
segunda-feira, 22 de novembro de 2010
domingo, 21 de novembro de 2010
Guiné 63/74 - P7315: Memórias boas da minha guerra (José Ferreira da Silva) (8): Canquelifá e o desporto - Provas de Periquitos
1. Mensagem José Ferreira da Silva* (ex-Fur Mil Op Esp da CART 1689/BART 1913, Fá, Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), com data de 19 de Novembro de 2010:
Caro Vinhal
Ai vai mais uma das "Memórias boas da minha guerra".
Um grande abraço do Silva
Memórias boas da minha guerra (8)
PROVAS DE PERIQUITOS
Viviam-se dias calmos naquela “estância termal” de Canquelifá, no nordeste da Guiné, no final da comissão. O trabalho limitava-se a serviços de manutenção e a alguns pequenos patrulhamentos, a nível de Pelotão.
A população nativa cuidava pacatamente do seu gado, enquanto alguns deles vigiavam o “inimigo”, em cima de palanques feitos de troncos de árvores, colocados no meio do mancarral. De lá gritavam impropérios em idiomas locais, afugentando o “inimigo” – bandos de periquitos – ao mesmo tempo que lhes atiravam pedras, evitando que comessem os amendoins.
O Silva e a sua periquita
Dado o interesse da tropa por esses pássaros encantadores, para os apanharem e, por vezes, para os venderem, colocavam cola na rama da mancarra (amendoim), que os prendia pelas asas.
Ora, o pessoal da Cart 1689 andava entretido com um novo desporto: competições com periquitos e com um novo divertimento de domesticar periquitos.
As cenas abaixo descritas decorrem na parada, local espaçoso e apropriado para a actividade desportiva, aqui levada ao mais alto nível. A assistência era considerável.
Faziam-se apostas e ouviam-se os mais variados comentários.
- Força Spartacus! Anda, que vamos ganhar! – gritava o Mafamude.
- Força Ben Hur! Ataca, que até os comemos! - gritava o Matosinhos.
Um e outro em tronco nu e a transpirar ao sol, procuravam, através da imagem verbal, aproximar o seu desempenho ao dos respectivos ídolos bíblicos, promovidos pelo cinema, mas o físico de 1,50 e picos não estava compatível com tais ideias.
A inspiração nas quadrigas romanas, encontrou eco nas latas de conserva, que reluziam mais que os ditos carros das quadrigas, seguramente devido à limpeza prévia das formigas.
Tanto um como outro, os periquitos em competição (quais “aprendizes de equídeo”), de voos cortados e presos ao atrelado, lutavam entre si para alcançarem em primeiro lugar o ramo de mancarra colocado na meta traçada no chão, uns metros à frente.
Nesta final ganhou o periquito do Matosinhos porque, de repente, lhe mostrou uns amendoins já descascados. O Mafamude gritava pelo árbitro Nogueira (futuro árbitro da elite do nosso futebol) para reclamar:
- Não vale, não vale, este gajo fez trafulhice!
Ali mesmo, a cerca de 20 metros, decorria, em simultâneo, outra final de competição:
- Corre Djando, corre e come-lhe a mancarra – gritava o Sousa.
- Sprinta Jaburu, não sejas morcon - repetia o Tripeiro.
A mancarra era colocada no centro da meta e os periquitos, soltos em simultâneo, corriam para lá.
Ganhou claramente o Jaburu que atravessou a meta em primeiro lugar, seguindo em direcção ao Tripeiro que, mesmo em frente, lhe acenava com um porta-chaves brilhante, com o emblema do FCP.
Nova reclamação, junto do Nogueira, que foi “injustamente” aceite. O reclamante alegou “que o periquito fora escravizado para seguir cegamente esse emblema e não ligou nada à competição ”.
Ainda na mesma zona, já perto da messe, podia assistir-se aos mais variados treinos, tendo também em vista a superação do esforço e a optimização da técnica, aliás bem patente mais na vontade dos treinadores do que na dos competidores - periquitos. Numa primeira fase, o treino consistia em mandar o periquito saltar de um dedo indicador para o outro.
- Salta periquito! Salta!
O treinador Bazaruco aposta tudo no:
- Salta, filho da puta! Salta, se não dou-te cabo do canastro!
Mas o Varzim, tinha outros modos. Acariciava o seu pupilo e dizia-lhe baixinho:
- Salta Tarzan, que eu arranjo-te uma Jane! Salta!
O Dias, açoriano, também andava entusiasmado com essas sessões de treino matinal. Curiosamente, tal como o Fiscal, não tinha sorte com os seus amestrados, possivelmente devido ao hálito repelente que exalavam. O Fiscal, que ressacava continuamente nas manhãs do dia seguinte, nunca estava em forma e não conseguia os seus intentos. Mas isso era, também, porque quase todos os dias mudava de instruendo. Já tinha os dedos cheios de adesivos, devido às trincadelas que lhe davam. Normalmente, vingava-se de forma cruel. Por sua vez, o Dias, além da habitual ressaca, exibia um sorriso tenebroso, devido às deficiências dentárias, capazes de repelir qualquer periquito…
Ali próximo, estirado na rede à sombra das mangueiras, com as mãos atrás da nuca, o Alferes, que acabara de mastigar algum mata-bicho, ia soltando gargalhadas. E eu, noutra rede, não ria tanto como ele, apesar de estar a ler uma das obras proibidas do José Vilhena.
De repente, o Dias dá um grito enorme:
- Ah seu grande filho da puta! – ao mesmo tempo que sacudiu fortemente a mão direita com o periquito ainda mordendo tenazmente o dedo indicador. Quando o periquito se desprendeu, bateu no chão com tal força que, depois de um palrar meio cacarejado, ficou morto no chão.
O Dias seguiu, uma vez mais, para a Enfermaria e o Alferes levantou-se, agarrou no desgraçado por uma pata e chamou em voz alta na direcção da cozinha:
- Ó Faxina, Faxina! Prepara mais este!
Silva da Cart 1689
"O sorriso do Dias" (ao fundo, vę-se o Condesso compenetrado a escrever, alheio aos festejos apalhaçados dos gajos da 1689 - festejava-se mais um mês de degredo)
__________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 22 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7159: Outras memórias da minha guerra (José Ferreira da Silva) (5): Até beber urina
Vd. último poste da série de 8 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P6951: Memórias boas da minha guerra (José Ferreira da Silva) (7): O Miranda e a sua adoração pelo Fê Quê Pê
Caro Vinhal
Ai vai mais uma das "Memórias boas da minha guerra".
Um grande abraço do Silva
Memórias boas da minha guerra (8)
PROVAS DE PERIQUITOS
Viviam-se dias calmos naquela “estância termal” de Canquelifá, no nordeste da Guiné, no final da comissão. O trabalho limitava-se a serviços de manutenção e a alguns pequenos patrulhamentos, a nível de Pelotão.
A população nativa cuidava pacatamente do seu gado, enquanto alguns deles vigiavam o “inimigo”, em cima de palanques feitos de troncos de árvores, colocados no meio do mancarral. De lá gritavam impropérios em idiomas locais, afugentando o “inimigo” – bandos de periquitos – ao mesmo tempo que lhes atiravam pedras, evitando que comessem os amendoins.
O Silva e a sua periquita
Dado o interesse da tropa por esses pássaros encantadores, para os apanharem e, por vezes, para os venderem, colocavam cola na rama da mancarra (amendoim), que os prendia pelas asas.
Ora, o pessoal da Cart 1689 andava entretido com um novo desporto: competições com periquitos e com um novo divertimento de domesticar periquitos.
As cenas abaixo descritas decorrem na parada, local espaçoso e apropriado para a actividade desportiva, aqui levada ao mais alto nível. A assistência era considerável.
Faziam-se apostas e ouviam-se os mais variados comentários.
- Força Spartacus! Anda, que vamos ganhar! – gritava o Mafamude.
- Força Ben Hur! Ataca, que até os comemos! - gritava o Matosinhos.
Um e outro em tronco nu e a transpirar ao sol, procuravam, através da imagem verbal, aproximar o seu desempenho ao dos respectivos ídolos bíblicos, promovidos pelo cinema, mas o físico de 1,50 e picos não estava compatível com tais ideias.
A inspiração nas quadrigas romanas, encontrou eco nas latas de conserva, que reluziam mais que os ditos carros das quadrigas, seguramente devido à limpeza prévia das formigas.
Tanto um como outro, os periquitos em competição (quais “aprendizes de equídeo”), de voos cortados e presos ao atrelado, lutavam entre si para alcançarem em primeiro lugar o ramo de mancarra colocado na meta traçada no chão, uns metros à frente.
Nesta final ganhou o periquito do Matosinhos porque, de repente, lhe mostrou uns amendoins já descascados. O Mafamude gritava pelo árbitro Nogueira (futuro árbitro da elite do nosso futebol) para reclamar:
- Não vale, não vale, este gajo fez trafulhice!
Ali mesmo, a cerca de 20 metros, decorria, em simultâneo, outra final de competição:
- Corre Djando, corre e come-lhe a mancarra – gritava o Sousa.
- Sprinta Jaburu, não sejas morcon - repetia o Tripeiro.
A mancarra era colocada no centro da meta e os periquitos, soltos em simultâneo, corriam para lá.
Ganhou claramente o Jaburu que atravessou a meta em primeiro lugar, seguindo em direcção ao Tripeiro que, mesmo em frente, lhe acenava com um porta-chaves brilhante, com o emblema do FCP.
Nova reclamação, junto do Nogueira, que foi “injustamente” aceite. O reclamante alegou “que o periquito fora escravizado para seguir cegamente esse emblema e não ligou nada à competição ”.
Ainda na mesma zona, já perto da messe, podia assistir-se aos mais variados treinos, tendo também em vista a superação do esforço e a optimização da técnica, aliás bem patente mais na vontade dos treinadores do que na dos competidores - periquitos. Numa primeira fase, o treino consistia em mandar o periquito saltar de um dedo indicador para o outro.
- Salta periquito! Salta!
O treinador Bazaruco aposta tudo no:
- Salta, filho da puta! Salta, se não dou-te cabo do canastro!
Mas o Varzim, tinha outros modos. Acariciava o seu pupilo e dizia-lhe baixinho:
- Salta Tarzan, que eu arranjo-te uma Jane! Salta!
O Dias, açoriano, também andava entusiasmado com essas sessões de treino matinal. Curiosamente, tal como o Fiscal, não tinha sorte com os seus amestrados, possivelmente devido ao hálito repelente que exalavam. O Fiscal, que ressacava continuamente nas manhãs do dia seguinte, nunca estava em forma e não conseguia os seus intentos. Mas isso era, também, porque quase todos os dias mudava de instruendo. Já tinha os dedos cheios de adesivos, devido às trincadelas que lhe davam. Normalmente, vingava-se de forma cruel. Por sua vez, o Dias, além da habitual ressaca, exibia um sorriso tenebroso, devido às deficiências dentárias, capazes de repelir qualquer periquito…
Ali próximo, estirado na rede à sombra das mangueiras, com as mãos atrás da nuca, o Alferes, que acabara de mastigar algum mata-bicho, ia soltando gargalhadas. E eu, noutra rede, não ria tanto como ele, apesar de estar a ler uma das obras proibidas do José Vilhena.
De repente, o Dias dá um grito enorme:
- Ah seu grande filho da puta! – ao mesmo tempo que sacudiu fortemente a mão direita com o periquito ainda mordendo tenazmente o dedo indicador. Quando o periquito se desprendeu, bateu no chão com tal força que, depois de um palrar meio cacarejado, ficou morto no chão.
O Dias seguiu, uma vez mais, para a Enfermaria e o Alferes levantou-se, agarrou no desgraçado por uma pata e chamou em voz alta na direcção da cozinha:
- Ó Faxina, Faxina! Prepara mais este!
Silva da Cart 1689
"O sorriso do Dias" (ao fundo, vę-se o Condesso compenetrado a escrever, alheio aos festejos apalhaçados dos gajos da 1689 - festejava-se mais um mês de degredo)
__________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 22 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7159: Outras memórias da minha guerra (José Ferreira da Silva) (5): Até beber urina
Vd. último poste da série de 8 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P6951: Memórias boas da minha guerra (José Ferreira da Silva) (7): O Miranda e a sua adoração pelo Fê Quê Pê
Guiné 63/74 - P7314: Viagem à volta das minhas memórias (Luís Faria) (36): Teixeira Pinto, uma nesga do Paraíso
1. Mensagem de Luís Faria (ex-Fur Mil Inf MA da CCAÇ 2791, Bula e Teixeira Pinto, 1970/72), com data de 20 de Novembro de 2010:
Amigo Vinhal
Para a “Viagem à volta das minhas memórias” segue mais um apontamento que recordo, talvez pela coincidência das situações não usuais ocorridas, que publicarás se assim o entenderes.
Um abraço para ti e outro para todos
Luís Faria
Viagem à volta das minhas memórias (36)
Teixeira - Pinto – uma nesga do Paraíso
Após o dia fatídico, a 2791 continuou nos seus registos operacionais por mais uns tempos naquelas matas.
A 1 de Outubro de 1971 apresenta-se na FORÇA, em substituição do Cap. Mil. Art. Mamede de Sousa, que foi para o COMCHEFE, o Cap. Q.P. Inf. de sua graça Teixeira Branco que nos irá comandar por dois períodos de intervenção intercalados.
De estatura mediana, ao arredondado e cabeça com pouco pêlo, corria a informação que tinha os tomates no sítio e tirara um curso nas Forças Especiais Americanas, pelo que algum do Pessoal começou a pensar que a partir dali íamos estar ainda mais fod…
Não foi essa a minha opinião e logo aquando da apresentação à Companhia, pelo seu posicionamento fisionómico, seu modo de olhar e atitude observadora, pareceu-me ser um condutor de homens, sem manias de bom ou de complexos de comando, que zelaria pelos seus subordinados e os defenderia se a isso houvesse necessidade, direito e justeza, sem medo de eventuais consequências. Acabaria por dar provas disso mesmo, a muito curto prazo.
Os dias foram-se passando e uma bela noite, chamou-me ao seu quarto e debruçados sobre o mapa informou-me que iríamos sair de madrugada para determinada zona, sem objectivo específico, em que ele participaria, mas no entanto o comando estaria a meu cuidado. Lembro-me que não estranhei a situação, mas já não recordo por que razão não ia Alferes, o que também já havia acontecido antes. Era sabedor que os GRCOMB estavam cansados, em especial que o meu estava a precisar de uma paragem operacional e olhando-me deu-me a entender, não o dizendo, que não seria necessário andar aos tiros a não ser que a isso fossemos obrigados. Traduzi para mim que uma “baldazita” não seria má de todo, mas para isso não podíamos ser detectados na entrada da mata… o resto talvez fosse viável. Íamos ver.
Na madrugada é feita na parada a apresentação do Pessoal a um Cap. Branco que, como único armamento traz a Walter no coldre à cintura. Fico surpreendido e ao mesmo tempo afiro da sua confiança em nós. A Rapaziada bem armada, como costume salta para as viaturas e arrancamos.
Entrados na mata, a progressão e o seu sentido é de molde a procurar não provocar maus encontros, sendo os vários descansos feitos, alongados e silenciosos. Creio que nessa saída não houve PCA
As horas foram-se escoando, ouvindo-se um ou outro curto matraquear ao longe. Num desses descansos pela tarde, estávamos numa mata atapetada de verde, com arvoredo de médio porte e copas frondosas. O dia solarengo parece convidar a uma sorna que, na certa desejada, é inviável. Para além dos cantares da passarada que parece não se dar conta da nossa presença, recordo a presença elegante de uma gazela na proximidade que, de narinas no ar e aparentemente não detectando ou não se intimidando com a nossa presença, continua na sua actividade.
Feito o controlo de segurança, escolho o meu lugar e posiciono-me de encosto a uma árvore. O tempo vai passando e aquele lugar, recordo, parece-me um pequeno Paraíso, até que, ao atentar na minha direita, fico surpreendido e em tensão, quando detecto à distancia de uma G3, um grosso cepo aflorando da erva, que mais não é do que uma bela e avantajada surucucu (?), enrolada e dormindo a sono solto, descansada. Olha se se tinham sentado nele!? Agora já só faltava a Eva - Adão já éramos muitos - para aquilo ser o Paraíso verdadeiro!
Catana não havia, dar-lhe um tiro estava fora de questão e usar a faca, nem pensar… não fosse ser o diabo tecê-las! Assim, aqueles longos minutos foram-se arrastando e passados a observar atentamente, mesmo atentamente a bicha, com a G3 empunhada pelo cano como se de um cacete se tratasse, pronto a desferir o golpe que deveria ser, se não fatal ao menos atordoador, caso a vizinha abrisse um olho e despertasse.
Feito o descanso, levanta-se arraial e a Rapaziada vai passando em silêncio por mim e pela cobra, que continua o seu sono reparador, ao calor da tarde. Pena aquela pele ter que por lá ficar, pois daria um bom par de sapatos e uma bela carteira (!?) penso. Aviso e incorporo a fila entre os últimos, seguindo para diante.
A operação continua, acabando felizmente sem quaisquer incidentes. Chegados a casa e dada a ordem de destroçar, para minha surpresa reparo que o diabo dos sapatos e da carteira nos tinha acompanhado.
A partir daí, o meu 2.º GRCOMB irá entrar em alguns dias de descanso, bem merecidos.
Luís Faria
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 24 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7172: Viagem à volta das minhas memórias (Luís Faria) (35): Teixeira Pinto - Enfiamento da morte
Amigo Vinhal
Para a “Viagem à volta das minhas memórias” segue mais um apontamento que recordo, talvez pela coincidência das situações não usuais ocorridas, que publicarás se assim o entenderes.
Um abraço para ti e outro para todos
Luís Faria
Viagem à volta das minhas memórias (36)
Teixeira - Pinto – uma nesga do Paraíso
Após o dia fatídico, a 2791 continuou nos seus registos operacionais por mais uns tempos naquelas matas.
A 1 de Outubro de 1971 apresenta-se na FORÇA, em substituição do Cap. Mil. Art. Mamede de Sousa, que foi para o COMCHEFE, o Cap. Q.P. Inf. de sua graça Teixeira Branco que nos irá comandar por dois períodos de intervenção intercalados.
De estatura mediana, ao arredondado e cabeça com pouco pêlo, corria a informação que tinha os tomates no sítio e tirara um curso nas Forças Especiais Americanas, pelo que algum do Pessoal começou a pensar que a partir dali íamos estar ainda mais fod…
Não foi essa a minha opinião e logo aquando da apresentação à Companhia, pelo seu posicionamento fisionómico, seu modo de olhar e atitude observadora, pareceu-me ser um condutor de homens, sem manias de bom ou de complexos de comando, que zelaria pelos seus subordinados e os defenderia se a isso houvesse necessidade, direito e justeza, sem medo de eventuais consequências. Acabaria por dar provas disso mesmo, a muito curto prazo.
Os dias foram-se passando e uma bela noite, chamou-me ao seu quarto e debruçados sobre o mapa informou-me que iríamos sair de madrugada para determinada zona, sem objectivo específico, em que ele participaria, mas no entanto o comando estaria a meu cuidado. Lembro-me que não estranhei a situação, mas já não recordo por que razão não ia Alferes, o que também já havia acontecido antes. Era sabedor que os GRCOMB estavam cansados, em especial que o meu estava a precisar de uma paragem operacional e olhando-me deu-me a entender, não o dizendo, que não seria necessário andar aos tiros a não ser que a isso fossemos obrigados. Traduzi para mim que uma “baldazita” não seria má de todo, mas para isso não podíamos ser detectados na entrada da mata… o resto talvez fosse viável. Íamos ver.
Na madrugada é feita na parada a apresentação do Pessoal a um Cap. Branco que, como único armamento traz a Walter no coldre à cintura. Fico surpreendido e ao mesmo tempo afiro da sua confiança em nós. A Rapaziada bem armada, como costume salta para as viaturas e arrancamos.
Entrados na mata, a progressão e o seu sentido é de molde a procurar não provocar maus encontros, sendo os vários descansos feitos, alongados e silenciosos. Creio que nessa saída não houve PCA
As horas foram-se escoando, ouvindo-se um ou outro curto matraquear ao longe. Num desses descansos pela tarde, estávamos numa mata atapetada de verde, com arvoredo de médio porte e copas frondosas. O dia solarengo parece convidar a uma sorna que, na certa desejada, é inviável. Para além dos cantares da passarada que parece não se dar conta da nossa presença, recordo a presença elegante de uma gazela na proximidade que, de narinas no ar e aparentemente não detectando ou não se intimidando com a nossa presença, continua na sua actividade.
Feito o controlo de segurança, escolho o meu lugar e posiciono-me de encosto a uma árvore. O tempo vai passando e aquele lugar, recordo, parece-me um pequeno Paraíso, até que, ao atentar na minha direita, fico surpreendido e em tensão, quando detecto à distancia de uma G3, um grosso cepo aflorando da erva, que mais não é do que uma bela e avantajada surucucu (?), enrolada e dormindo a sono solto, descansada. Olha se se tinham sentado nele!? Agora já só faltava a Eva - Adão já éramos muitos - para aquilo ser o Paraíso verdadeiro!
Catana não havia, dar-lhe um tiro estava fora de questão e usar a faca, nem pensar… não fosse ser o diabo tecê-las! Assim, aqueles longos minutos foram-se arrastando e passados a observar atentamente, mesmo atentamente a bicha, com a G3 empunhada pelo cano como se de um cacete se tratasse, pronto a desferir o golpe que deveria ser, se não fatal ao menos atordoador, caso a vizinha abrisse um olho e despertasse.
Feito o descanso, levanta-se arraial e a Rapaziada vai passando em silêncio por mim e pela cobra, que continua o seu sono reparador, ao calor da tarde. Pena aquela pele ter que por lá ficar, pois daria um bom par de sapatos e uma bela carteira (!?) penso. Aviso e incorporo a fila entre os últimos, seguindo para diante.
A operação continua, acabando felizmente sem quaisquer incidentes. Chegados a casa e dada a ordem de destroçar, para minha surpresa reparo que o diabo dos sapatos e da carteira nos tinha acompanhado.
A partir daí, o meu 2.º GRCOMB irá entrar em alguns dias de descanso, bem merecidos.
Luís Faria
2.º GCOMB/CCAÇ 2791
__________Nota de CV:
Vd. último poste da série de 24 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7172: Viagem à volta das minhas memórias (Luís Faria) (35): Teixeira Pinto - Enfiamento da morte
Guiné 63/74 - P7313: As Nossas Tropas - Quem foi quem (6): Hélio Esteves Felgas, Maj Gen (1920-2008)
Major General Hélio Esteves Felgas (1920-2008) > Foto gentilmente cedida pela filha, Dra. Helena Felgas, advogada, amiga do nosso camarada Jorge Cabral, e que conheci pessoalmente no dia do funeral do pai. Reproduz-se igualmente a assinatura do então brigadeiro Hélio Felgas, em documento, de 1995, de que o Paulo Raposo me facultou fotocópia.
1. Hélio Felgas (Major General reformado):
(ii) Na última, começou por “chefiar o Estado-Maior do Sector de Mansoa”, depois passou ao “Comando do Batalhão de Artilharia de Tite, no sul” (BART 1914) e, por fim, ficou à frente do “Sector Leste, que abrangia cerca de metade do território e incluía batalhões das três armas combatentes, os quais, naquele tipo de guerra, actuavam concertadamente” (Agrupamento nº 2957).
(iii) Um dos batalhões que integrava o Agrupamento nº 2957 (sediado em Bafatá) era o BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70).
(iv) Com o posto de coronel, comandou a célebre Op Lança Afiada, uma das maiores que se fez no TO da Guiné (8 a 19 de Março de 1969);
(v) Foi um dos militares portugueses da sua geração mais brilhantes e mais condecorados;
(vi) Autor de dezenas de livros e artigos sobre a "luta contra o terrorismo", a guerra ultramarina...
(vii) Comparou a Guiné ao Vietname;
(viii) Considerava que a solução para a Guiné não era militar mas política;
(viii) Considerava que a solução para a Guiné não era militar mas política;
(ix) Foi um crítico de Spínola, que lhe terá roubado, entretanto, a ideia dos famosos reordenamentos (aldeias estratégicas);
(x) Um oficial intelectualmente brilhante mas controverso, dizem alguns dos seus pares, mais novos;
(x) Condecorado com a Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito (1970), passou compulsivamente à Reserva, a seguir ao 25 de Abril, data em que estava em comissão de serviço em Angola.
(x) Condecorado com a Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito (1970), passou compulsivamente à Reserva, a seguir ao 25 de Abril, data em que estava em comissão de serviço em Angola.
Esta nota biográfica é respigada de Os últimos guerreiros do império (Amadora: Erasmo, 1995), livro donde constam entrevistas com o Comandante Rebordão de Brito, o Coronel Caçorino Dias, e o Alferes Marcelino da Mata, entre outros. Nele, o então Brig Hélio Felgas faz um depoimento sobre a guerra da Guiné.
Já aqui publicámos a última parte do depoimento ("algumas considerações acerca da Guiné Portuguesa"), onde ele é intencionalmente polémico, comparando a Guiné com o Vietname... Nessa parte do livro (pp. 135 e ss.) , ele revelava - 27 anos depois ! - algumas ideias do relatório que terá enviado, no final do ano de 1968, ao General Spínola, "onde defendia que a concessão da independência à Guiné Portuguesa não iria agravar, antes pelo contrário, a situação em qualquer das outras Províncias Ultramarinas" (p. 135).
Outra peça de antologia é o seu relatório da Op Lança Afiada, onde não se coibe de fazer críticas à falta de apoio aéreo e de outros meios (não-participação das forças pára-quedistas e dos fuzileiros).
2. Alguns comentários de camaradas nossos, face à notícia do seu desaparecimento (em 24/6/2008):
Paz à sua alma a guerra, não resolve nada, veja-se os casos de todos os Países ou negociaram livremente ou aconteceu-lhe o mesmo que a Portugal, ter que negociar sem condições para o fazer.
Colaço
24/6/2008
Luís Graça, chocado com a notícia [da sua morte], reafirmo a admiração que sempre tive por esse Homem, um verdadeiro militar à moda antiga e, mais do que isso, uma pessoa com um sentido de justiça e um humanismo que só em muito poucos consegui encontrar na minha vida militar. Um abraço.
Rui Felício
Ex-Alf Mil 2405
(Mansoa, Galomaro,Dulombi, 1968/70)
25/6/2008
Recebi, há momentos, a triste notícia. É, com Profundo Pesar que lhe apresento as minhas sentidas Condolências. Torno-as extensíveis á Senhora sua Avó e Família. Fui oficial subalterno de seu Avô, quando do Seu Comando no Sector Leste – Bafatá. Mereceu-me, sempre, o mais profundo respeito como Homem e Militar. Manterei, na minha memória, viva a sua recordação. Cumprimenta, Torcato Mendonça. Apartado 43, 6230-909 Fundão.torcatomendonca@gmail.com [Mensagem enviada ao neto do Maj Gen Hélio Felgas, Miguel Fezas Resende]
25/6/2008
25/6/2008
Foi meu comandante,fiz parte da Operação Lança Afiada que contou com 12 Companhias, entre elas a minha, e o resultado ao fim de 11 dias foi um absoluto fracasso, mas não sabia que [ele] defendia que a Força Aérea arrasasse populações inteiras desde que controladas pelo IN. Só que tenho a certaza de que a FA nunca aceitaria essa missão. Paz à sua alma.
Hilário Peixeiro
Cap de Infantaria na altura
19/11/2010
3. Reprodução da 4ª (e última) parte do depoimento do então brigadeiro Hélio Felgas (*). Selecção minha [ além da revisão e fixação de texto] e do Humberto Reis. Fonte: Os últimos guerreiros do império (Amadora: Erasmo, 1995. 135-139) (com a devida vénia...)
Trata-se do Capº III de um relatório que o então coronel, comandante do agrupamento de Bafatá , enviou ao General Spínola, "então meu Comandante-Chefe, onde defendia que a concessão da independência à Guiné Portuguesa não iria agravar, antes pelo contrário, a situação em qualquer das outras Províncias Ultramarinas".
Nesse documento Hélio Felgas defendia igualmente o seu ponto de vista segundo o qual "só no campo político podia ser encontrada uma solução honrosa e vantajosa, já que as nossas possibilidades militares se encontravam muitos reduzidas", face a um inimigo que se fortalecera em demasia.
No capítulo III do relatório, o autor debruça-se sobre "as nossas possibilidades militares". Algumas das suas frases, merecem destaque:
(i) "Não é com os actuais meios, mesmo reforçados, que podemos vencer o Inimigo de hoje".
(ii) "Ou se faz a guerra ou se acaba com ela. Assim é que não chegaremos a qualquer solução favorável".
(iii) "Há que abandonar radicalmente largos pedaços de território e concentrar os meios em áreas reduzidas que deverão ficar totalmente passadas a ferro".
(iv) "Há que empregar largamente os desfolhantes e outros agentes químicos que destruam as culturas".
(v) "Ou se destrói tudo ou de nada serve a operação".
(vi) "Deve ou não deve a Aviação atacar e destruir estas tabancas e a sua população ? Valerá a pena um tal massacre ou não valerá? Isto é que é preciso saber (...)".
(vii) "Calculando, por baixo, os efectivos In na Guiné, diremos que ele [o IN] tem 10 000 homens em armas (só combatentes). Nós temos 20 000, mas uma boa parte é consumida nas guarnições dos aquartelamentos. Precisaríamos ter 60 000, pelo menos. E, mesmo assim, a proporção seria de 1 para 6, o que, neste tipo de guerra, é ainda pouco".
(viii) "(...) o problema não é essencialmente militar. É acima de tudo, político".
(...) As nossas possibilidades militares
Neste final de 1968 a situação militar na Guiné chegou a um ponto tal que só muito dificilmente e com muito optimismo se poderá antever uma melhoria significativa.
Nos gabinetes e em frente da carta talvez não seja difícil encontrar-se uma solução vitoriosa. Os cercos, as batidas, os golpes de mão, o reordenamento das populações e sua autodefesa, tudo isso é aí fácil de fazer. No mato, porém, é muito difícil, e quem escreve isto tem 3 anos de mato.
Mesmo que venham mais helicópteros, mais páras, mais Artilharia e mais Aviação e ainda que os efectivos das forças terrestres sejam aumentados e estas sejam adequadamente dotadas com as granadas, munições e armas colectivas que agora lhes faltam, mesmo que isso suceda em breve prazo, nem assim o nosso êxito militar será garantido. O inimigo está demasiado bem armado, bem apoiado pela população, bem organizado e bem enraizado num terreno que lhe é favorável, para poder ser batido e expulso, pelo menos com a facilidade que se julga.
Realize-se uma operação em larga escala e veja-se o resultado: uns mortos e uns feridos (nossos e deles), umas armas apreendidas, uns acampamentos destruídos e que mais ? Mais nada. Se ao Inimigo não convier o contacto, basta esconder-se no mato e esperar que as nossas tropas se retirem. Ele lá ficará e reaparecerá quando quiser, talvez até emboscando as NT quando elas, julgando-se vitoriosas, regressarem aos aquartelamentos.
Aliás, o que se entende por uma operação em larga escala ? 4 on 5 companhias de forças terrestres, uma ou duas de páras e comandos e a Aviação. Que faremos com estes efectivos? Uma operação, mais nada. Alguns dias depois tudo estará na mesma.
Há dias, aproveitando um PCV de uma Operação, andei «à cata» de acampamentos inimigos. Descobriram-se 5 ou 6. Assim que eram descobertos chamava-se a Aviação que os bombardeava. Mas o que era a Aviação ? Era uma parelha de Fiats que lançava as suas bombas, aliás com grande precisão, no objectivo indicado pelo PCV. Ou então eram os T-6 (só um), igualmente com excelente pontaria.
E eu pensei: com estes pilotos, se em vez de dois Fiats tivessem aparecido 15 ou 20, outros tantos T-6 e uma meia dúzia de helis armados, então sim, ter-se-ia feito uma acção lucrativa, em especial se fosse coordenada com o lançamento de uma companhia em helis.
Não é com os actuais meios, mesmo reforçados, que podemos vencer o Inimigo de hoje. Em minha opinião, toda a actividade militar na Guiné tem de ser mudada. Há que abandonar radicalmente largos pedaços de território e concentrar os meios em áreas reduzidas que deverão ficar totalmente «passadas a ferro». A actual dispersão não pode dar qualquer resultado.
Ou se faz a guerra ou se acaba com ela. Assim é que não chegaremos a qualquer solução favorável.
Há que empregar largamente os desfolhantes e outros agentes químicos que destruam as culturas. De que serve atacar um acampamento IN se a um quilómetro de distância ficaram tabancas e lavras que voltarão a ser utilizadas pelo IN, apoiando-o e permitindo-lhe que lá se mantenha? Ou se destrói tudo ou de nada serve a operação.
O que é preciso definir bem é este problema da população civil sob controlo do IN. Dezenas de milhares de nativos vivem nas regiões sob domínio do IN, em tabancas perfeitamente visíveis do ar. Deve ou não deve a Aviação atacar e destruir estas tabancas e a sua população ? Valerá a pena um tal massacre ou não valerá? Isto é que é preciso saber, pois enquanto estas populações existirem, o IN aguentar-se-á, estruturar-se-á e estará em condições de nos incomodar.
Não é com os actuais meios, mesmo reforçados, que podemos vencer o Inimigo de hoje. Em minha opinião, toda a actividade militar na Guiné tem de ser mudada. Há que abandonar radicalmente largos pedaços de território e concentrar os meios em áreas reduzidas que deverão ficar totalmente «passadas a ferro». A actual dispersão não pode dar qualquer resultado.
Ou se faz a guerra ou se acaba com ela. Assim é que não chegaremos a qualquer solução favorável.
Há que empregar largamente os desfolhantes e outros agentes químicos que destruam as culturas. De que serve atacar um acampamento IN se a um quilómetro de distância ficaram tabancas e lavras que voltarão a ser utilizadas pelo IN, apoiando-o e permitindo-lhe que lá se mantenha? Ou se destrói tudo ou de nada serve a operação.
O que é preciso definir bem é este problema da população civil sob controlo do IN. Dezenas de milhares de nativos vivem nas regiões sob domínio do IN, em tabancas perfeitamente visíveis do ar. Deve ou não deve a Aviação atacar e destruir estas tabancas e a sua população ? Valerá a pena um tal massacre ou não valerá? Isto é que é preciso saber, pois enquanto estas populações existirem, o IN aguentar-se-á, estruturar-se-á e estará em condições de nos incomodar.
Por outro lado, convém, talvez, olharmos para o que se passa no Vietname - que tem bastantes semelhanças com a Guiné. Mais de meio milhão de norte-americanos extraordinariamente bem armados e auxiliados por 850 000 soldados sul-vietnamitas, não conseguem liquidar um adversário que conta apenas 140 000 homens, dos quais só 80 000 são tropas regulares do Vietname do Norte. A proporção é de 1 para 10, em forças terrestres. Além disso, o Vietcong e o seu aliado norte-vietnamês não utilizam nem Aviação nem Marinha e só apresentaram uma amostra de blindados.
Apesar desta desproporção, o Vietcong não foi vencido e esta prestes a vencer. Na Guiné, o IN não é tão bom combatente como o Vietcong e o apoio externo que tem recebido, agora importante, não se compara com o que a Rússia e a China concedem ao Vietcong. Essas são as duas principais diferenças que notamos. Aliás, em parte compensada pela deficiência dos nossos efectivos, do nosso armamento, da nossa instrução militar, do nosso apoio aéreo e naval.
Para podermos dominar a guerrilha na Guiné precisaríamos triplicar, pelo menos, os efectivos agora existentes nos três ramos das forças armadas. E mesmo assim ficaríamos longe da proporção vietnamita (que não foi suficiente, note-se, para se obter a vitória militar). Calculando, por baixo, os efectivos In na Guiné, diremos que ele tem 10 000 homens em armas (só combatentes). Nós temos 20 000, mas uma boa parte é consumida nas guarnições dos aquartelamentos. Precisaríamos ter 60 000, pelo menos. E, mesmo assim, a proporção seria de 1 para 6, o que, neste tipo de guerra, é ainda pouco.
Eu bem sei que quem não conhece o mato da Guiné, nem as dificuldades deste tipo de guerra, sente-se inclinado a considerar exageradas as minhas palavras. Infelizmente, tenho a certeza do que afirmo. Deixou-se o IN inchar demais para se poder agora desalojá-lo com os meios que temos.
Esta afirmação pode parecer chocante, em especial para as pessoas que não conhecem o assunto com a profundidade que eu conheço. E com certeza que não me acarretará simpatias ou louvores, em especial por parte das pessoas que só gostam de ouvir aquilo que lhes agrade. É evidente que eu ficaria muito mais bem visto se traçasse o quadro da situação militar na Guiné, muito mais optimista, ainda que menos verdadeiro. Talvez até fosse louvado se afirmasse que a guerra na Guiné, tendo chegado ao ponto a que chegou, se pode vencer no campo militar e sem grande dificuldade.
Mas isso não o faço eu, até porque a euforia duraria pouco e seria, em breve, desmentido pelos factos. Eu desejo salientar que só pode mostrar-se optimista a quem conhecer a guerra da Guiné apenas do seu gabinete ou da sala de operações. Eu desejo afirmar que não estou imbuído de qualquer sentimento derrotista. Continuo a demonstrá-lo no mato, mantendo uma actividade ofensiva a que não poupo os meus subordinados nem me poupo a mim. Mas o que acho é que chegou a altura de se dizer a verdade. E a verdade é que, na Guiné, estamos apenas aguentando a situação. Estamos à espera que o IN adquira suficiente estrutura e capacidade militar para correr connosco. Limitamo-nos a espicaçá-lo e ao de leve. Mostramo-nos incapazes de o desalojar definitivamente seja de que área for.
E tudo isto porque não temos meios nem efectivos militares adequados e suficientes. Mas ainda que os tivéssemos e que conseguíssemos empurrar o IN em todas as frentes, até às fronteiras, que faríamos depois? Como conseguiríamos evitar novas infiltrações enquanto o Senegal e a República da Guiné derem a ajuda que dão ao PAIGC ?. A guerra no Vietname ensina-nos que o bombardeamento do Senegal ou do República da Guiné não resolveria o problema, pelo contrário, complicá-lo-ia. E isto porque o problema não é essencialmente militar. É acima de tudo, político, a guerra na Guiné só pode acabar se Portugal conseguir convencer o Senegal e a República da Guiné a deixarem de auxiliar o PAIGC ou qualquer outro movimento cujo objectivo seja independência da Guiné-Bissau.
Não nos parece, porém, que em face da mentalidade internacional agora vigente, alguém bem informado considere possível Senegal ou a República da Guiné apoiarem a nossa política ultramarina. Porque só apoiando essa política os governos de Dakar e Conacri poderiam suspender o auxílio ao PAIGC (...). (**)
__________
Notas de L.G.:
Apesar desta desproporção, o Vietcong não foi vencido e esta prestes a vencer. Na Guiné, o IN não é tão bom combatente como o Vietcong e o apoio externo que tem recebido, agora importante, não se compara com o que a Rússia e a China concedem ao Vietcong. Essas são as duas principais diferenças que notamos. Aliás, em parte compensada pela deficiência dos nossos efectivos, do nosso armamento, da nossa instrução militar, do nosso apoio aéreo e naval.
Para podermos dominar a guerrilha na Guiné precisaríamos triplicar, pelo menos, os efectivos agora existentes nos três ramos das forças armadas. E mesmo assim ficaríamos longe da proporção vietnamita (que não foi suficiente, note-se, para se obter a vitória militar). Calculando, por baixo, os efectivos In na Guiné, diremos que ele tem 10 000 homens em armas (só combatentes). Nós temos 20 000, mas uma boa parte é consumida nas guarnições dos aquartelamentos. Precisaríamos ter 60 000, pelo menos. E, mesmo assim, a proporção seria de 1 para 6, o que, neste tipo de guerra, é ainda pouco.
Eu bem sei que quem não conhece o mato da Guiné, nem as dificuldades deste tipo de guerra, sente-se inclinado a considerar exageradas as minhas palavras. Infelizmente, tenho a certeza do que afirmo. Deixou-se o IN inchar demais para se poder agora desalojá-lo com os meios que temos.
Esta afirmação pode parecer chocante, em especial para as pessoas que não conhecem o assunto com a profundidade que eu conheço. E com certeza que não me acarretará simpatias ou louvores, em especial por parte das pessoas que só gostam de ouvir aquilo que lhes agrade. É evidente que eu ficaria muito mais bem visto se traçasse o quadro da situação militar na Guiné, muito mais optimista, ainda que menos verdadeiro. Talvez até fosse louvado se afirmasse que a guerra na Guiné, tendo chegado ao ponto a que chegou, se pode vencer no campo militar e sem grande dificuldade.
Mas isso não o faço eu, até porque a euforia duraria pouco e seria, em breve, desmentido pelos factos. Eu desejo salientar que só pode mostrar-se optimista a quem conhecer a guerra da Guiné apenas do seu gabinete ou da sala de operações. Eu desejo afirmar que não estou imbuído de qualquer sentimento derrotista. Continuo a demonstrá-lo no mato, mantendo uma actividade ofensiva a que não poupo os meus subordinados nem me poupo a mim. Mas o que acho é que chegou a altura de se dizer a verdade. E a verdade é que, na Guiné, estamos apenas aguentando a situação. Estamos à espera que o IN adquira suficiente estrutura e capacidade militar para correr connosco. Limitamo-nos a espicaçá-lo e ao de leve. Mostramo-nos incapazes de o desalojar definitivamente seja de que área for.
E tudo isto porque não temos meios nem efectivos militares adequados e suficientes. Mas ainda que os tivéssemos e que conseguíssemos empurrar o IN em todas as frentes, até às fronteiras, que faríamos depois? Como conseguiríamos evitar novas infiltrações enquanto o Senegal e a República da Guiné derem a ajuda que dão ao PAIGC ?. A guerra no Vietname ensina-nos que o bombardeamento do Senegal ou do República da Guiné não resolveria o problema, pelo contrário, complicá-lo-ia. E isto porque o problema não é essencialmente militar. É acima de tudo, político, a guerra na Guiné só pode acabar se Portugal conseguir convencer o Senegal e a República da Guiné a deixarem de auxiliar o PAIGC ou qualquer outro movimento cujo objectivo seja independência da Guiné-Bissau.
Não nos parece, porém, que em face da mentalidade internacional agora vigente, alguém bem informado considere possível Senegal ou a República da Guiné apoiarem a nossa política ultramarina. Porque só apoiando essa política os governos de Dakar e Conacri poderiam suspender o auxílio ao PAIGC (...). (**)
__________
Notas de L.G.:
(*) Vd. poste de 9 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCLIII: Antologia (32): depoimento de Hélio Felgas (4): "Ou se faz a guerra ou se acaba com ela
(**) Último poste da série > 9 de Maio de 2009
sábado, 20 de novembro de 2010
Guiné 63/74 - P7312: Parabéns a você (176): Soldado Cristina, padeiro, municiador de morteiro e bravo do pelotão da Ponte de Caium
Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Piche > CCAÇ 3546 (1972/74) > Fotos do álbum do Jacinto Cristina... Desta vez, optámos deliberadamente por seleccionar de fotos que mostrassem o dia-a-dia do nosso camarada na sede da companhia e eventualmente em outros sítios, excluindo a Ponte de Caium (que já foi objecto de anteriores postes *)... Os dois álbuns, a que tivemos acesso, não tem legendas... Mas as fotos falam por si...Uma delas creio ter sido tirada em Bafatá (nas piscinas municipais)... As restantes devem ser de Piche...
Fotos: © Jacinto Cristina (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.
Já tem sessenta e um,
O camarada Cristina,
Que na Ponte de Caium
Foi soldado, cumpriu a sina.
Foi soldado, cumpriu a sina,
Carregando uma espingarda,
C’a Goretti e a menina
Rezando ao anjo da guarda.
Rezando ao anjo da guarda,
P’ra que volte depressa e bem,
Honrada a Pátria e a farda,
Sem dever nada a ninguém.
Sem dever nada a ninguém,
Tomou conta do morteiro,
Bom camarada também,
E sobretudo padeiro.
E sobretudo padeiro,
Foi pau pra toda a obra,
De pescador a pedreiro,
Com muito tempo de sobra.
Com muito tempo de sobra,
Vinte e sete meses de
Guiné,
Põe-te a pau com turra e cobra,
E aguenta a ponte de pé.
E aguenta a ponte de pé,
Foi ordem do comandante,
Vejam o bravo que ele é,
Brincalhão e confiante.
Brincalhão e confinante.
Ou não fora alentejano,
Venha daí o espumante,
Que eu volto cá pr’ó ano.
Que eu volto cá pr’ó ano,
Com mais notícias de Piche,
E com saudades do catano
Dessa malta toda fixe.
Dessa malta toda fixe,
Do Sobral ao Torrão,
Mais o Carlos de Peniche,
E o resto do pelotão.
E o resto do pelotão,
Que lhe diz emocionado:
Pelo exemplo e pelo pão,
Jacinto, muito obrigado!
Os bravos do pelotão da Ponte de Caium
O Cristina (Jacinto, de seu nome de baptismo) fez anos, 61, no dia 14. Mas só hoje, sábado, que é o seu único dia de descanso semanal, celebra a data com a família ... Pediu ao seu genro, o Dr. Rui Silva, para lhe ler estes versinhos, em nome de de todos os bravos da Ponte de Caium!... (LG)
_____________
Nota de L.G.
(*) Postes anteriores:
(*) Postes anteriores:
18 de Novembro de 2010 Guiné 63/74 - P7303: Álbum fotográfico de Jacinto Cristina, o padeiro da Ponte Caium, 3º Gr Comb da CCAÇ 3546, 1972/74 (4): Parabéns ao municiador (e às vezes apontador) do Morteiro 10.7, que fez 61 anos no passado dia 14...
26 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7039: Álbum fotográfico de Jacinto Cristina, o padeiro da Ponte Caium, 3º Gr Comb da CCAÇ 3546, 1972/74 (3): De facto, Eduardo, nem só de pão vive o homem...
25 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7036: Álbum fotográfico de Jacinto Cristina, o padeiro da Ponte Caium, 3º Gr Comb da CCAÇ 3546, 1972/74 (2): Os tempos livres de um caiumense...
24 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7033: Álbum fotográfico de Jacinto Cristina, o padeiro da Ponte Caium, 3º Gr Comb da CCAÇ 3546, 1972/74 (1): O melhor pão da zona leste...
Guiné 63/74 - P7311: Blogpoesia (88): Resorts Guinéus (Manuel Maia)
1. Mensagem de Manuel Maia* (ex-Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610, Bissum Naga, Cafal Balanta e Cafine, 1972/74), com data de 17 de Novembro de 2010:
Caro Vinhal,
Aqui vão mais umas sextilhas para editares se assim entenderes.
abraço à tabanca.
manuelmaia
"RESORTS" GUINÉUS...
Mansoa, Dugal, Pitche ou Bafatá,
Cufar, Cafine, Encheia ou Mampatá,
Bigene, S. Domingos, Catió.
Susana, Sedengal, Xime, Farim,
Bolama, Bula, Buba, Béli e Caió.
Biambe, Injante, Dungal, Porto Gole,
Infande, Mato Cão, Quebo, Xitole,
Cacine, Caboxanque e Bouloubá.
Cacheu, Bubaque, N`hacra, Ganturé,
Sonaco, Tite, N`hala e Enxalé,
Boé, Binar, Cuntima, Missirá.
Bachile, Nova Sintra e Chugué,
Infandre, Fá Mandinga, Cumeré,
Quirafo, Olossato e Binhal.
Bufena, Camamudo e Sabá,
Madina, Catequisse e Mansabá,
Gadamael, Guilédje e Cafal.
Pelunde, Quinhamel, Tite, Varela,
Cobumba, Jemberém, Ponta Varela,
Gansambo, Canjadude e Pirada.
Canquelifá, Mansanto, Jonfarim,
Canjambari, Ponta d`Inglês, Fatim,
Canquelifá, Jugudul, Empada.
Guidage, Fajonquito e Bissum,
Paúnca, Bambadinca e Rossum,
Bironque, Samba Culo, Bajocunda.
Cacine, Cantabane e Canturé,
Teixeira Pinto, Nhal e Fulacunda.
Em todos os "resorts" aqui descritos,
e mais alguns, por certo, não inscritos,
vivência de nababos foi dos "tropas"...
Por trás das aramadas posições
os bandos "lusitanos garanhões"
gozavam com belíssimas cachopas...
D`instalações de luxo desfrutavam,
"medrosos militares" que se ocupavam
do fausto e do bem bom,cada momento...
Difícil vida teve herói esforçado,
AB, lá por Bissau acantonado,
rapando da marmita arroz/cimento...
Nos mais de cem locais que defini
`ind`outros que, por certo, omiti,
milhares por lá passamos, "vida boa"...
Igual sorte não teve, o bem amado
AB, herói lendário, tão cantado,
nas matas de Bissau, "suma Lisboa"...
Da mesma forma que não esquecemos os nomes dos locais por onde passámos e algumas das ocorências bem ou mal vividas, convirá não esquecermos a ofensa que um general nos fez enquanto militares que no terreno, sob as mais difíceis condições, conseguimos evitar o assalto à capital, onde muitos dos senhores da guerra faziam os afamados golpes de mão no Solar dos Dez...
__________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 16 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7292: Blogpoesia (86): Grito de protesto (Manuel Maia)
Vd. último poste da série de 17 de Novembro de 2010 > Guiné 63774 - P7296: Blogpoesia (87): As consoantes e vogais do nosso livro de estilo (Luís Graça)
Caro Vinhal,
Aqui vão mais umas sextilhas para editares se assim entenderes.
abraço à tabanca.
manuelmaia
"RESORTS" GUINÉUS...
Mansoa, Dugal, Pitche ou Bafatá,
Cufar, Cafine, Encheia ou Mampatá,
Bigene, S. Domingos, Catió.
Susana, Sedengal, Xime, Farim,
Bolama, Bula, Buba, Béli e Caió.
Biambe, Injante, Dungal, Porto Gole,
Infande, Mato Cão, Quebo, Xitole,
Cacine, Caboxanque e Bouloubá.
Cacheu, Bubaque, N`hacra, Ganturé,
Sonaco, Tite, N`hala e Enxalé,
Boé, Binar, Cuntima, Missirá.
Bachile, Nova Sintra e Chugué,
Infandre, Fá Mandinga, Cumeré,
Quirafo, Olossato e Binhal.
Bufena, Camamudo e Sabá,
Madina, Catequisse e Mansabá,
Gadamael, Guilédje e Cafal.
Pelunde, Quinhamel, Tite, Varela,
Cobumba, Jemberém, Ponta Varela,
Gansambo, Canjadude e Pirada.
Canquelifá, Mansanto, Jonfarim,
Canjambari, Ponta d`Inglês, Fatim,
Canquelifá, Jugudul, Empada.
Guidage, Fajonquito e Bissum,
Paúnca, Bambadinca e Rossum,
Bironque, Samba Culo, Bajocunda.
Cacine, Cantabane e Canturé,
Teixeira Pinto, Nhal e Fulacunda.
Em todos os "resorts" aqui descritos,
e mais alguns, por certo, não inscritos,
vivência de nababos foi dos "tropas"...
Por trás das aramadas posições
os bandos "lusitanos garanhões"
gozavam com belíssimas cachopas...
D`instalações de luxo desfrutavam,
"medrosos militares" que se ocupavam
do fausto e do bem bom,cada momento...
Difícil vida teve herói esforçado,
AB, lá por Bissau acantonado,
rapando da marmita arroz/cimento...
Nos mais de cem locais que defini
`ind`outros que, por certo, omiti,
milhares por lá passamos, "vida boa"...
Igual sorte não teve, o bem amado
AB, herói lendário, tão cantado,
nas matas de Bissau, "suma Lisboa"...
Da mesma forma que não esquecemos os nomes dos locais por onde passámos e algumas das ocorências bem ou mal vividas, convirá não esquecermos a ofensa que um general nos fez enquanto militares que no terreno, sob as mais difíceis condições, conseguimos evitar o assalto à capital, onde muitos dos senhores da guerra faziam os afamados golpes de mão no Solar dos Dez...
__________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 16 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7292: Blogpoesia (86): Grito de protesto (Manuel Maia)
Vd. último poste da série de 17 de Novembro de 2010 > Guiné 63774 - P7296: Blogpoesia (87): As consoantes e vogais do nosso livro de estilo (Luís Graça)
Guiné 63/74 - P7310: Notas de leitura (174): Fuzileiros – Factos e Feitos na Guerra de África, Crónica dos Feitos da Guiné, de Luís Sanches de Baêna (3) (Mário Beja Santos)
1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 15 de Novembro de 2010:
Queridos amigos,
A minha bagagem é própria de um djila, encontra-se ali de tudo, bacalhau, chouriços, perfume, até sementes.
O meu orgulho será desembarcar em Bissalanca com as cartas que o nosso querido Humberto Reis me ofereceu e vão direitinhas para o INEP.
Pelas mensagens que levo, tudo leva a crer que a minha agenda social em Bissau é imparável, de manhã à noite.
Contem que estarei convosco, em todos os momentos, quando visitar o cemitério de Bissau, e depois o de Bambadinca, recordarei as nossas perdas e os nossos silêncios.
Estarei aqui convosco até à hora de partida.
Um abraço do
Mário
Os fuzileiros na Guiné (3): Os últimos anos
Beja Santos
1970 começou para os Fuzileiros com a operação “Contra-Ponto”, em Sambuiá. Segundo o autor, “O conceito de manobra” assentava no modo de actuação habitual do comandante Calvão pois baseava-se no emprego táctico de três grupos, dois para efeitos de fiscalização e envolvimento e o terceiro actuando como reserva junto a uma base de fogos com morteiro 81. Em Março, Alpoim Calvão voltaria a dar que falar, com mais uma acção típica de operações especiais. “O navio-motor Bandim era vital para o reabastecimento do inimigo. Fora este navio capturado pelo PAIGC em Maio de 1963 quando, saindo de Bissau carregado de géneros para o Sul da Guiné, sem qualquer escolta, foi emboscado e capturado no rio Cacine. A primeira tentativa (operação “Nebulosa 2”) falhou por causa do nevoeiro. Mas logo a seguir, na operação “Gata Brava”, o Bandim foi destruído. Pouco tempo depois, um novo ronco na zona de Cumbamori, a captura de 10 toneladas de armas. Em Abril, a Marinha activou o primeiro Destacamento de Fuzileiros Africanos na Guiné, o DFE 21. A sua preparação efectuou-se (como as dos destacamentos de Fuzileiros seguintes) em Bolama.
Luís Sanches de Baêna destaca a operação “Mar Verde” cujo relato coincide, no essencial, com o de outros autores, pelo que se dispensa a sua transcrição. O ano de 1971 volta a assistir a operações no Cacheu e em Samboiá, com o envolvimento de Fuzileiros e forças do Exército. “A actividade das forças navais na Guiné continuava orientada no sentido da fiscalização dos rios Cacheu, Mansoa, Geba e Buba, onde mantinham dispositivos permanentes apoiando as unidades de Fuzileiros na missão da contrapenetração naqueles rios e em acções de intervenção”. E o autor volta a relatar mais um lamentável incidente, desta vez ocorrido entre os Fuzileiros e a tropa africana da CCaç 16 do Bachile, sediada em Teixeira Pinto.
Como corolário de uma série de desentendimentos entre a tropa e a própria população, na noite de 16 de Maio um baile acabou em cenas de violência. No dia seguinte rebentou uma granada junto de um grupo de militares, provocando 8 feridos.
O Comandante-Chefe castigou os Fuzileiros, impondo-lhes uma batida à região da Ponta Luís Dias-Ponta João da Silva (operação “Tordo Vermelho”). Nos restantes meses, houve a registar operações na região da Caboiana/Churo e península do Gampará. Nesta região, os Fuzileiros tinham atribuído as missões exclusivamente terrestres. A vida aqui não era fácil, o inimigo flagelava com frequência, usando mesmo foguetões 122mm e canhões sem recuo. No Sul, recrudesceu a actividade inimiga e em Julho foi lançada uma grande operação para reocupar posições na região do Cubisseco. Foi assim que se criou o aquartelamento denominado Tabanca Nova da Armada. Como recorda o autor, só durante o mês de Novembro de 1972, este estacionamento foi flagelado por 11 vezes, algumas vezes junto ao arame. O Comando da Defesa Marítima entendeu que não havia razões para continuar no Cubisseco, desactivou-se o aquartelamento.
Em 1973, ocorre uma inflexão estratégica com a chegada dos misseis Strella. Nas operações “Rumo Perene” e “Maior”, visou-se a ocupação de tabancas a montante do rio Cumbijã, com o objectivo de reforçar o dispositivo montado para o controlo do Cantanhez. Entrara-se numa nova fase de reocupação do Sul, tudo dificultado pela falta de apoio aéreo. O autor recorda que “As relações permanentemente tensas entre o Comandante-Chefe e o Comando da Defesa Marítima acentuam-se cada vez mais, sendo por vezes a Marinha tratada com a sobranceria e arrogância que advém de um excesso de protagonismo e autoritarismo que chegava a roçar as raias da prepotência”. Os Fuzileiros irão intervir no cerco de Guidage. Denotando um elevado espírito crítico, vejamos como o autor de refere aos acontecimentos de Guileje: “A guarnição de Guilieje, inexperiente, sujeita a violentas flagelações, não teve força anímica para aguentar. E aproveitando a oportunidade que o inimigo, inteligentemente comandado, lhes deixou, permitindo-lhes um local de fuga em direcção a Gadamael, tomados pelo pânico fugiram desordenadamente no dia 22, abandonando o aquartelamento com tudo o que lá havia e refugiando em Gadamael Porto”. O autor vai registando crescentes dificuldades para o trabalho dos Fuzileiros, nomeadamente em Chugué. Em Setembro, o dispositivo dos Fuzileiros conta com cinco destacamentos em Ganturé, Cacheu, Cafine, Chugué e Cacine. A actividade na zona Sul redobrou de intensidade, o PAIGC incidiu em ataques a Chugué, Gadamael, Cacine e Cameconde.
No início de 1974, era um dado adquirido de que o emprego dos Fuzileiros era feito ao arrepio dos princípios para que foram criados. Se por um lado, se continuavam a realizar patrulhamentos ofensivos, em botes, emboscadas e nomadizações, por outro lado, os Fuzileiros já se confundiam com os Comandos e os Pára-Quedistas nas suas missões.
A seguir ao 25 de Abril, e ainda na previsão da continuação da guerra, propôs-se a criação de uma terceira unidade de Fuzileiros africanos. Mas aos poucos deu-se a retracção das forças da Marinha no teatro de operações. Primeiro no Chugué depois Ganturé. Em Julho, como a situação em Bissau se afigurava perigosamente instável, o DFE 4, que se encontrava em Cacheu recebeu ordens para embarcar apenas com a bagagem individual indispensável e ficou a intervir em Bissau. Segundo o autor, houve comportamentos enérgicos de reacção a alguns enxovalhos que as Forças Armadas estavam a ser sujeitas. Em Agosto, teve lugar a desactivação das unidades de Fuzileiros Africanos estacionadas em Bolama. Diz o autor: “A desmobilização daqueles militares criava uma situação delicada e melindrosa já que era uma tropa muito leal e dedicada, que se empenhara esforçadamente na guerra nos últimos anos e não conseguia entender o que se estava a passar. No entanto, o espírito de disciplina daqueles homens e a confiança de que depositavam nos seus oficiais tudo superaram. Sendo-lhes oferecida a hipótese de regressar a casa com as famílias e haveres e receber a totalidade dos vencimentos até ao mês de Dezembro, inclusive, ou, em alternativa, de poderem ser integrados na Marinha do PAIGC, a totalidade dos homens optou pela desmobilização.
Um aspecto fundamental que cumpre destacar deste livro é o documento n.º 1 do anexo, que é o relato do massacre do Pidjiquiti.
O livro do Capitão-de-Fragata Luís Sanches de Baêna é um repositório de grande importância que os historiadores doravante não poderão ignorar.
__________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 18 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7304: Notas de leitura (173): Fuzileiros – Factos e Feitos na Guerra de África, Crónica dos Feitos da Guiné, de Luís Sanches de Baêna (2) (Mário Beja Santos)
Queridos amigos,
A minha bagagem é própria de um djila, encontra-se ali de tudo, bacalhau, chouriços, perfume, até sementes.
O meu orgulho será desembarcar em Bissalanca com as cartas que o nosso querido Humberto Reis me ofereceu e vão direitinhas para o INEP.
Pelas mensagens que levo, tudo leva a crer que a minha agenda social em Bissau é imparável, de manhã à noite.
Contem que estarei convosco, em todos os momentos, quando visitar o cemitério de Bissau, e depois o de Bambadinca, recordarei as nossas perdas e os nossos silêncios.
Estarei aqui convosco até à hora de partida.
Um abraço do
Mário
Os fuzileiros na Guiné (3): Os últimos anos
Beja Santos
1970 começou para os Fuzileiros com a operação “Contra-Ponto”, em Sambuiá. Segundo o autor, “O conceito de manobra” assentava no modo de actuação habitual do comandante Calvão pois baseava-se no emprego táctico de três grupos, dois para efeitos de fiscalização e envolvimento e o terceiro actuando como reserva junto a uma base de fogos com morteiro 81. Em Março, Alpoim Calvão voltaria a dar que falar, com mais uma acção típica de operações especiais. “O navio-motor Bandim era vital para o reabastecimento do inimigo. Fora este navio capturado pelo PAIGC em Maio de 1963 quando, saindo de Bissau carregado de géneros para o Sul da Guiné, sem qualquer escolta, foi emboscado e capturado no rio Cacine. A primeira tentativa (operação “Nebulosa 2”) falhou por causa do nevoeiro. Mas logo a seguir, na operação “Gata Brava”, o Bandim foi destruído. Pouco tempo depois, um novo ronco na zona de Cumbamori, a captura de 10 toneladas de armas. Em Abril, a Marinha activou o primeiro Destacamento de Fuzileiros Africanos na Guiné, o DFE 21. A sua preparação efectuou-se (como as dos destacamentos de Fuzileiros seguintes) em Bolama.
Luís Sanches de Baêna destaca a operação “Mar Verde” cujo relato coincide, no essencial, com o de outros autores, pelo que se dispensa a sua transcrição. O ano de 1971 volta a assistir a operações no Cacheu e em Samboiá, com o envolvimento de Fuzileiros e forças do Exército. “A actividade das forças navais na Guiné continuava orientada no sentido da fiscalização dos rios Cacheu, Mansoa, Geba e Buba, onde mantinham dispositivos permanentes apoiando as unidades de Fuzileiros na missão da contrapenetração naqueles rios e em acções de intervenção”. E o autor volta a relatar mais um lamentável incidente, desta vez ocorrido entre os Fuzileiros e a tropa africana da CCaç 16 do Bachile, sediada em Teixeira Pinto.
Como corolário de uma série de desentendimentos entre a tropa e a própria população, na noite de 16 de Maio um baile acabou em cenas de violência. No dia seguinte rebentou uma granada junto de um grupo de militares, provocando 8 feridos.
O Comandante-Chefe castigou os Fuzileiros, impondo-lhes uma batida à região da Ponta Luís Dias-Ponta João da Silva (operação “Tordo Vermelho”). Nos restantes meses, houve a registar operações na região da Caboiana/Churo e península do Gampará. Nesta região, os Fuzileiros tinham atribuído as missões exclusivamente terrestres. A vida aqui não era fácil, o inimigo flagelava com frequência, usando mesmo foguetões 122mm e canhões sem recuo. No Sul, recrudesceu a actividade inimiga e em Julho foi lançada uma grande operação para reocupar posições na região do Cubisseco. Foi assim que se criou o aquartelamento denominado Tabanca Nova da Armada. Como recorda o autor, só durante o mês de Novembro de 1972, este estacionamento foi flagelado por 11 vezes, algumas vezes junto ao arame. O Comando da Defesa Marítima entendeu que não havia razões para continuar no Cubisseco, desactivou-se o aquartelamento.
Em 1973, ocorre uma inflexão estratégica com a chegada dos misseis Strella. Nas operações “Rumo Perene” e “Maior”, visou-se a ocupação de tabancas a montante do rio Cumbijã, com o objectivo de reforçar o dispositivo montado para o controlo do Cantanhez. Entrara-se numa nova fase de reocupação do Sul, tudo dificultado pela falta de apoio aéreo. O autor recorda que “As relações permanentemente tensas entre o Comandante-Chefe e o Comando da Defesa Marítima acentuam-se cada vez mais, sendo por vezes a Marinha tratada com a sobranceria e arrogância que advém de um excesso de protagonismo e autoritarismo que chegava a roçar as raias da prepotência”. Os Fuzileiros irão intervir no cerco de Guidage. Denotando um elevado espírito crítico, vejamos como o autor de refere aos acontecimentos de Guileje: “A guarnição de Guilieje, inexperiente, sujeita a violentas flagelações, não teve força anímica para aguentar. E aproveitando a oportunidade que o inimigo, inteligentemente comandado, lhes deixou, permitindo-lhes um local de fuga em direcção a Gadamael, tomados pelo pânico fugiram desordenadamente no dia 22, abandonando o aquartelamento com tudo o que lá havia e refugiando em Gadamael Porto”. O autor vai registando crescentes dificuldades para o trabalho dos Fuzileiros, nomeadamente em Chugué. Em Setembro, o dispositivo dos Fuzileiros conta com cinco destacamentos em Ganturé, Cacheu, Cafine, Chugué e Cacine. A actividade na zona Sul redobrou de intensidade, o PAIGC incidiu em ataques a Chugué, Gadamael, Cacine e Cameconde.
No início de 1974, era um dado adquirido de que o emprego dos Fuzileiros era feito ao arrepio dos princípios para que foram criados. Se por um lado, se continuavam a realizar patrulhamentos ofensivos, em botes, emboscadas e nomadizações, por outro lado, os Fuzileiros já se confundiam com os Comandos e os Pára-Quedistas nas suas missões.
A seguir ao 25 de Abril, e ainda na previsão da continuação da guerra, propôs-se a criação de uma terceira unidade de Fuzileiros africanos. Mas aos poucos deu-se a retracção das forças da Marinha no teatro de operações. Primeiro no Chugué depois Ganturé. Em Julho, como a situação em Bissau se afigurava perigosamente instável, o DFE 4, que se encontrava em Cacheu recebeu ordens para embarcar apenas com a bagagem individual indispensável e ficou a intervir em Bissau. Segundo o autor, houve comportamentos enérgicos de reacção a alguns enxovalhos que as Forças Armadas estavam a ser sujeitas. Em Agosto, teve lugar a desactivação das unidades de Fuzileiros Africanos estacionadas em Bolama. Diz o autor: “A desmobilização daqueles militares criava uma situação delicada e melindrosa já que era uma tropa muito leal e dedicada, que se empenhara esforçadamente na guerra nos últimos anos e não conseguia entender o que se estava a passar. No entanto, o espírito de disciplina daqueles homens e a confiança de que depositavam nos seus oficiais tudo superaram. Sendo-lhes oferecida a hipótese de regressar a casa com as famílias e haveres e receber a totalidade dos vencimentos até ao mês de Dezembro, inclusive, ou, em alternativa, de poderem ser integrados na Marinha do PAIGC, a totalidade dos homens optou pela desmobilização.
Um aspecto fundamental que cumpre destacar deste livro é o documento n.º 1 do anexo, que é o relato do massacre do Pidjiquiti.
O livro do Capitão-de-Fragata Luís Sanches de Baêna é um repositório de grande importância que os historiadores doravante não poderão ignorar.
__________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 18 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7304: Notas de leitura (173): Fuzileiros – Factos e Feitos na Guerra de África, Crónica dos Feitos da Guiné, de Luís Sanches de Baêna (2) (Mário Beja Santos)
Guiné 63/74 - P7309: Humor de caserna (20): É proibido c...em frente ao canhão (C. Martins, Gadamael, 1974)
1. Deliciosa, esta, a do nosso leitor (e camarada) C. Martins, que esteve em Gadamael (julgo que em 1974, com o José Gonçalves) e a quem convido formalmente para se juntar aos bravos do pelotão, aqui na Tabanca Grande (*):
Estando eu a fazer uma necessidade fisiológica (que ninguém fazia por mim) em frente ao espaldão do canhão s/r, [, em Gadamael,] ouvi uma voz de "gago":
- Ooooo meeee, alll nãnnn saaabbe leeer.
Respondi-lhe com maus modos porque estava com cólicas devido à diarreia, e ao olhar de soslaio vi um cartaz de papelão que dizia:
- É PROIBIDO CAGAR EM FRENTE AO CANHÃO.
Para que conste não fui multado, mas não repeti a cena porque aqueles desgraçados não tinham a obrigação de cheirar os odores das minhas tripas durante dias inteiros.
O gadamaelista
C. Martins (**)
_____________
Notas de L.G.:
(*) Vd. poste de 19 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7306: Estórias avulsas (101): O dia em que o canhão sem recuo me mandou para o hospital militar de Bissau (José Gonçalves)
Estando eu a fazer uma necessidade fisiológica (que ninguém fazia por mim) em frente ao espaldão do canhão s/r, [, em Gadamael,] ouvi uma voz de "gago":
- Ooooo meeee, alll nãnnn saaabbe leeer.
Respondi-lhe com maus modos porque estava com cólicas devido à diarreia, e ao olhar de soslaio vi um cartaz de papelão que dizia:
- É PROIBIDO CAGAR EM FRENTE AO CANHÃO.
Para que conste não fui multado, mas não repeti a cena porque aqueles desgraçados não tinham a obrigação de cheirar os odores das minhas tripas durante dias inteiros.
O gadamaelista
C. Martins (**)
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Notas de L.G.:
(*) Vd. poste de 19 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7306: Estórias avulsas (101): O dia em que o canhão sem recuo me mandou para o hospital militar de Bissau (José Gonçalves)
(**) Último poste da série > 24 de Maio de 2010
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