terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Guiné 63/74 - P9454: Ser solidário (120): Tabanca de Matosinhos e Camaradas da Guiné (José Teixeira)

TABANCA DE MATOSINHOS E CAMARADAS DA GUINÉ.
A TERTÚLIA DOS ANTIGOS COMBATENTES AMIGOS DA GUINÉ-BISSAU*

Em Maio de 2005, três combatentes da Guerra Colonial na Guiné, reuniram-se no restaurante Casa Teresa em Matosinhos para avaliar e festejar a sua recente viagem à Guiné-Bissau.

Ali mesmo, tomaram a decisão de manterem um encontro semanal, para no meio de umas sardinhas assadas continuarem a viver esta amizade nascida algumas semanas na sequência de uma viagem através da África subsaariana que os levou à Guiné.
Estavam longe de pensar que esta iniciativa iria tomar as dimensões que tomou e se prolonga no tempo em crescimento constante.
Pouco tempo depois, apareceu um combatente amigo, logo outro e outro. A tabanca foi tomando forma e conteúdo. Cada novo visitante trazia um amigo na semana seguinte. Sentíamo-nos bem ali. Éramos apenas ex-combatentes que procuravam um meio de comunicarem entre si, desabafar aquilo que nos ia na alma, o sofrimento que a guerra provocou em cada um de nós e nos marcou para toda a vida. Que andava cá dentro como que embrulhado e armazenado no “gavetão” mais profundo da mente. Precisava de sair, de ser compreendido. Fenómeno que eu desconhecia até então, mas que hoje face à vitalidade da tabanca verifico que era e ainda é uma realidade.

Ao fim de alguns anos, tivemos de mudar de casa, por falta de espaço na Casa Teresa, para nos acolher. Optou-se pelo Restaurante Milho Rei, pela forma como somos acolhidos, pela qualidade na alimentação e pelo espaço que à 4ª Feira é privativo para a Tabanca de Matosinhos.

Actualmente, cerca de trinta e cinco combatentes, em média, marca encontro semanalmente no Restaurante. Mas não são sempre os mesmos. A crise chegou a todos os bolsos. Porém, todas as semanas há uma ou outra cara nova que chega e conta a sua história e volta, quantas vezes trazendo mais um amigo.
 Cada um que chega tem sempre algo para contar da “sua” guerra, a acrescentar à história que ficara da semana anterior. Quantos de nós se identificam com o lugar ou com as cenas contadas e recontadas com sentida emoção.

Do contar das “nossas” histórias de guerra ao firmar de uma amizade ia um pequeno passo. Amizades que se têm solidificado ao longo do tempo. O companheirismo e a fraternidade são, hoje, na tabanca de Matosinhos um fenómeno que alguém ligado à sociologia já classificou como um “caso a estudar”.
Vinham e continuam a vir do grande Porto, do Norte, do Centro e do Sul. Da Madeira, dos Açores, da França ou da Suiça.

Por vezes acontece uma enchente, como na semana passada em que mais de trinta combatentes da C. Caç 2404, mobilizados pelo tertuliano madeirense João Diogo Cardoso apareceram e encheram como nunca aquela casa, a nossa casa. Setenta e cinco combatentes conviveram ruidosa e alegremente. Reviveram momentos felizes e menos felizes da sua guerra, contaram as suas histórias, comeram e beberam. Depois partiram para suas casas. Uma tarde memorável.

Um excelente trabalho do Diogo ao mobilizar os seus camaradas de guerra para se juntarem na Tabanca de Matosinhos tendo ele e alguns camaradas vindo desde a Madeira de propósito para conviver com esta SUA família.
As imagens que se seguem falam por si. 


Até o Régulo de Mampatá e Medas se mostrou satisfeito. Ele, que tem andado afastado destas lides da Tabanca.


ESTES ENCONTROS SEMANAIS QUE DESDE 2005 SE REALIZAM TÊM DADO OS SEUS FRUTOS

Para além das amizades surgidas, as quais são um bálsamo inebriante para muitos de nós que se aproximam da velhice, num tempo em que a velhice deixou de ser um posto e pode ser, já, um possível pesadelo. Para além da partilha das aventuras e desventuras do tempo da guerra e da consequente “quebra do luto” que muitos ainda não tinham feito, surgiu naturalmente uma forma nova de olhar para a Guiné-Bissau, como um país independente. Um Povo que não nos deixa ficar indiferentes, pela forma que nos acolheu dentro do teatro de guerra. Quantos de nós deixaram acender em si a chama da saudade. Quantos de nós já lá voltamos.
 
Daqui nasceu a Associação Tabanca Pequena – Grupo de Amigos da Guiné-Bissau - ONGD, com objectivos bem concretos de apoio ao desenvolvimento dos povos da Guiné-Bissau.

Convido os leitores a visitarem o Site: http://www.tabancapequena.com/:

Um sonho que anima todos os participantes na Tertúlia da Tabanca de Matosinhos.
Raro é o visitante que não fica ligado à Associação como Associado.
Todos os convivas deixam voluntariamente e solidariamente uma pequena ajuda que está englobada no preço que se cobra pela refeição.

Creio que desta forma solidária para com o povo da Guiné-Bissau estamos a transmitir-lhe o afecto que nos une a eles. Estamos a dizer-lhe que afinal valeu de algum modo a pena termos sido empurrados para uma guerra que na grande maioria, senão totalmente, não queríamos fazer, pelas marcas positivas que nos deixaram e que estão a vir ao de cima na nossa mente.

O que afirmo atrás baseia-se no conhecimento de causa apreendido nestes seis anos de vida da Tabanca de Matosinhos.

Bem hajam todos quantos têm passado por cá. A porta continua aberta e estará sempre aberta até que o último combatente a feche, o que esperamos seja daqui a muitos anos.
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Notas de CV:

(*) Reprodução do P610 da página da Tabanca de Matosinhos publicado em 4 de Fevereiro de 2012 de autoria do nosso camarada José Teixeira

Vd. último poste da série de 7 de Janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9325: Ser solidário (119): Anabela Pires: A caminho de Iemberém como voluntária da ONG AD - Acção para o Desenvolvimento (JERO)

Guiné 63/74 - P9453: Blogpoesia (176): Em homenagem ao Arlindo Roda (CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71): Os jogadores de xadrez (Ricardo Reis / Fernando Pessoa)




Guiné > Zona Leste > Estrada Bambadinca - Mansambo - Xitole - Saltinho > CCAÇ 12 (1969/71) > s/d > Coluna logística... Homenagem ao nosso camarada e amigo Arlindo Teixeira Roda, ex-Fur Mil Inf, autor destas fotos, professor do ensino secundário (reformado, presumo), leiriense a viver em Setúbal, mestre do king, da lerpa, das  damas e do xadrez, e de quem há muito não temos tido notícias... (Sei que tem duas filhas: será que é avô?). 


Lembrei-me dele, hoje, dele, do Arlindo Roda e do Ricardo Reis, e dos seus jogadores de xadrez, um poema da antologia da poesia mundial... Não é, do Fernando Pessoa, um dos meus herónimos preferidos, mas este poema é um dos que figuram na minha antologia pessoal... Nunca joguei damas (o meu velho, esse,  era um ás nas damas!), nem xadrez, nem king, nem lerpa... Não sou decididamente um jogador, nem sequer das máquinas do casino. (Se cheguei à roleta russa, foi no TO da Guiné!)...


Mas lembrei-me do Arlindo Roda e do Ricardo Reis, e do xadrez, num dia estranho,  como o hoje, de chumbo, de negrume, pela manhã,  em que a gente pergunta o que é a vida e o que vale a puta da vida... Assisti, muitas noites, à distância (mínima) que ia da minha mesa à mesa dos jogadores, a infindáveis partidas de king e de lerpa, pela noite dentro, enquanto fazíamos horas (eu, o Roda, o Levezinho, o Humberto, o Marques, o Zé Vieira de Sousa, o Branquinho, o Luciano, e tantos outros camaradas da CCAÇ 12) para mais uma emboscada, um patrulhamento ofensivo, uma coluna logística, um operação, um reforço a uma tabanca em autodefesa...Havia dias (e noites) de angústia mal disfarçada, como a de hoje, pela manhã,  que se superava à tarde, por um qualquer gesto bonito de camaragem, de solidariedade, de amizade...ou pela leitura de um simples poema como, por exemplo, este do Ricardo Reis...


Desculpem-me se abuso deste espaço, que já não é meu, é coletivo, mas hoje apeteceu-me ser um dos dois compulsivos jogadores de xadrez persas em plena cidade em chamas...

"Quando o rei de marfim está em perigo,/ Que importa a carne e o osso / Das irmãs e das mães e das crianças? / Quando a torre não cobre / A retirada da rainha branca,/ O saque pouco importa. /E quando a mão confiada leva o xeque /Ao rei do adversário,/ Pouco pesa na alma que lá longe / Estejam morrendo filhos ".
Amigos e camaradas, desculpem lá qualquer coisinha!... E ao Arlindo, se me estiver a ler (o que é de todo improvável), mando um abraço do tamanho do Rio Corubal... Felizmente, amanhã é outro dia, e o sol volta a nascer... (LG).


Fotos: © Arlindo Teixeira Roda (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.



Os Jogadores de Xadrez
por Ricardo Reis / Fernando Pessoa

Ouvi contar que outrora, quando a Pérsia
Tinha não sei qual guerra,
Quando a invasão ardia da Cidade
E as mulheres gritavam,
Dois jogadores de xadrez jogavam
O seu jogo contínuo.

À sombra de ampla árvore fitavam
O tabuleiro antigo,
E, ao lado de cada um, esperando os seus
Momentos mais folgados,
Quando havia movido a pedra, e agora
Esperava o adversário,
Um púcaro com vinho refrescava
Sobriamente a sua sede.

Ardiam casas, saqueadas eram
As arcas e as paredes,
Violadas, as mulheres eram postas
Contra os muros caídos,
Traspassadas de lanças, as crianças
Eram sangue nas ruas...
Mas onde estavam, perto da cidade,
E longe do seu ruído,
Os jogadores de xadrez jogavam
O jogo de xadrez.

Inda que nas mensagens do ermo vento
Lhes viessem os gritos,
E, ao refletir, soubessem desde a alma
Que por certo as mulheres
E as tenras filhas violadas eram
Nessa distância próxima,
Inda que, no momento que o pensavam,
Uma sombra ligeira
Lhes passasse na fronte alheada e vaga,
Breve seus olhos calmos
Volviam sua atenta confiança
Ao tabuleiro velho.

Quando o rei de marfim está em perigo,
Que importa a carne e o osso
Das irmãs e das mães e das crianças?
Quando a torre não cobre
A retirada da rainha branca,
O saque pouco importa.
E quando a mão confiada leva o xeque
Ao rei do adversário,
Pouco pesa na alma que lá longe
Estejam morrendo filhos.

Mesmo que, de repente, sobre o muro
Surja a sanhuda face
Dum guerreiro invasor, e breve deva
Em sangue ali cair
O jogador solene de xadrez,
O momento antes desse
(É ainda dado ao cálculo dum lance
Pra a efeito horas depois)
É ainda entregue ao jogo predileto
Dos grandes indiferentes.

Caiam cidades, sofram povos, cesse
A liberdade e a vida.
Os haveres tranquilos e avitos
Ardem e que se arranquem,
Mas quando a guerra os jogos interrompa,
Esteja o rei sem xeque,
E o de marfim peão mais avançado
Pronto a comprar a torre.

Meus irmãos em amarmos Epicuro
E o entendermos mais
De acordo com nós-próprios que com ele,
Aprendamos na história
Dos calmos jogadores de xadrez
Como passar a vida.

Tudo o que é sério pouco nos importe,
O grave pouco pese,
O natural impulso dos instintos
Que ceda ao inútil gozo
(Sob a sombra tranquila do arvoredo)
De jogar um bom jogo.

O que levamos desta vida inútil
Tanto vale se é
A glória, a fama, o amor, a ciência, a vida,
Como se fosse apenas
A memória de um jogo bem jogado
E uma partida ganha
A um jogador melhor.

A glória pesa como um fardo rico,
A fama como a febre,
O amor cansa, porque é a sério e busca,
A ciência nunca encontra,
E a vida passa e dói porque o conhece...
O jogo do xadrez
Prende a alma toda, mas, perdido, pouco
Pesa, pois não é nada.

Ah! sob as sombras que sem querer nos amam,
Com um púcaro de vinho
Ao lado, e atentos só à inútil faina
Do jogo do xadrez
Mesmo que o jogo seja apenas sonho
E não haja parceiro,
Imitemos os persas desta história,
E, enquanto lá fora,
Ou perto ou longe, a guerra e a pátria e a vida
Chamam por nós, deixemos
Que em vão nos chamem, cada um de nós

Sob as sombras amigas
Sonhando, ele os parceiros, e o xadrez
A sua indiferença.

[1916]



In: REIS, Ricardo -  Odes. Obras completas de Fernando Pessoa.  Lisboa:  Ática, 1994.  (Coleção Poesia).


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Nota do editor:


Último poste da série > 28 de janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9413: Blogpoesia (175): Elegia para uma triste tabanca fula (Luís Graça

Guiné 63/74 - P9452: Parabéns a você (378): No dia 6 de Fevereiro também estiveram de parabéns os nossos tertulianos Ana Duarte e Hugo Moura Ferreira (Editores)

1. Por deficiência da minha base de dados, escapou-me, o que não devia ter acontecido, os aniversários no dia de ontem 6 de Fevereiro, dos nossos tertulianos Ana Duarte e Hugo Moura Ferreira.

Para que os possamos saudar por mais um ano de vida, aqui fica um poste com 24 horas de atraso.

Não me atrevo a pedir-lhes desculpa porque não mereço a sua benevolência.
Para que conste.

Carlos Vinhal

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Nota de CV:

Vd. último poste da série de Guiné 63/74 - P9447: Parabéns a você (377): Fernando Franco, ex-1.º Cabo Caixeiro do PINT 9288 (Guiné, 1973/74) e José Teixeira, ex-1.º Cabo Aux Enf da CCAÇ 2381 (Guiné, 1968/70)

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Guiné 63/74 - P9451: Nós da memória (Torcato Mendonça) (9): Os Putos de Candamã - Fotos falantes IV

Candamã - Putos fazendo ginástica






1. Texto do nosso camarada Torcato Mendonça (ex-Alf Mil da CART 2339 Mansambo, 1968/69) para integrar os seus "Nós da memória", ilustrado com fotos falantes da sua IV série.





NÓS DA MEMÓRIA - 9
(…desatemos, aos poucos, alguns…)

5 - OS PUTOS

Parecem bandos de pardais os Putos… os Putos…

Não, estes não eram esses putos. Estes viviam nas Tabancas de Candamã e Afiá, como em muitas outras por essa Guiné fora.
Alegres, brincalhões, bem dispostos, sorrisos francos e abertos os destes putos.
Felizes? Penso que sim, dentro das limitações impostas.

Tinham pouco, tão pouco e, mesmo assim, nada pediam talvez pela sua timidez e educação. Os olhos esses tudo diziam, olhares iguais a de outros miúdos, aos dos putos do fado ou dos putos de nossas vilas e aldeias que nesse tempo, a maioria, pouco mais tinham que esses putos de Candamã ou das Tabancas.

Aos poucos fomos conquistando a sua confiança. Dava-se algo, tratava-se de uma ferida infectada, pedia-se para executarem uma simples tarefa. A sua curiosidade, a alegria espontânea levava-os a de pronto ajudar.
Para eles éramos pessoas diferentes, não só na cor, mas no vestir, nos hábitos, na comida. As armas eram o poder da força que parecíamos ter.

Andavam à nossa volta timidamente e sem incomodar, aproximando-se mais na hora das refeições mas sem nada pedir. Fomos nós a oferecer do pouco que tínhamos. Talvez pareça estranho mas não abundava a nossa comida e, de quando em vez, havia “rotura de stock”.

Acabamos, não recordo de quem foi a ideia, por fazer uma Escola para os putos. Não privilegiámos o ensino do 1, 2, 3… ou do a, e, i, o, u. Procurámos, dentro das nossas possibilidades, transmitir conhecimentos diversos como regras de higiene, tratar dos pequenos problemas de saúde e outros, onde também se inseriam o ensino das letras e números e, talvez mais importante, fazendo deles os elos de ligação entre nós e a comunidade onde nos inseríamos. Seria fundamental esta interligação entre as duas culturas. Já tínhamos algum tempo de Guiné e sabíamos quanto isso era importante. A Escola foi o local onde eles iam aprendendo e apreendendo muito bem tudo o que lhes ensinado e, ao mesmo tempo, o local de integração mutuo.

Eram outros saberes e procurávamos nunca violentar os deles antes apreende-los e assim melhor entender como ali se devia viver. Desse modo creio, mesmo hoje, que todos beneficiaram.

Pouco podíamos fazer pela melhoria da saúde ou higiene deles. Os nossos recursos e conhecimentos eram muito limitados. Pedíamos à sede da Companhia e geralmente apareciam. A sarna era debelada com Thiosan, a pele era melhorada com sabonetes Lifeboy (seriam estes os nomes?) e as pomadas e líquidos L.M. para tudo davam.

Depois das “aulas”, pouco tempo sentados para não aborrecer, tínhamos a ginástica, o jogo com a bola de trapos e outros jogos simples.

Tudo a passar-se no largo das moranças do Régulo e com a bandeira de Portugal no mastro. Era diariamente hasteada e arreada pelos homens das Tabancas. Muitas vezes assistíamos. Afazeres diversos, que se prendiam com a nossa vida militar, não permitiam a assiduidade que devíamos ter. Era uma vida em que as horas, e muito mais, eram limitativas dessa e de outras disponibilidades. Eram sempre os homens da tabanca a tratar daquela sua bandeira. O Régulo, quando estava, assistia sempre. Um homem extraordinário o António Bonco Baldé.

Voltando aos putos, depois das aulas e dos jogos vinha o banho, os saltos para a água, a lavagem com o sabão e sabonete.

Ressalvo um ponto: nas Tabancas era praticada a higiene. As famílias tinham instalações próprias. Não falamos dela pois sairíamos do tema: - os putos.

Os risos deles, a alegria eram contagiantes para nós, talvez, porque não, sentíssemos, nesses curtos momentos, estar num mundo diferente.

Depois cada um ia à sua vida. À hora do almoço, muitos deles apareciam e da parte da tarde iam para a bolanha tentar apanhar uns pequenos peixes que nós comíamos depois de fritos e polvilhados com piri-piri.
Esta troca, - este “partir” – estes peixes minúsculos por comida e outros géneros, eram o gesto da troca, da não dádiva, da dignidade da permuta. Dou e recebo.

Eram felizes os putos? Eram!

Além disso faziam de nós mais humanos, mais despreocupados e a guerra naqueles momentos devia parar. Os putos parecíamos nós. Por pouco tempo é certo. Não eram permitidos descuidos ou desatenções, imperdoáveis quaisquer desatenções.

Desdramatizemos e pensemos antes que todos, nós e os putos eram, naqueles momentos, bandos de pardais à solta… como os do fado…

A guerra, essa besta, estava logo ali. Mesmo hoje, ao escrever isto, sinto-a ao alcance da mão.

Esqueçamo-la e desaparece.

O que será feito dos putos?
Cinquentões hoje ou a caminho disso.

Sinto saudades daquela gente. Das Gentes das Tabancas, dos que comigo andavam no mato, dos que connosco combatiam ou, como dizia alguém, talvez tenha também saudades da juventude que passou…
De tudo e tanto há para recordar.

Dou-vos as fotos. Elas dizem mais do que as palavras de um velho e ex-soldado.
Recordem. Vidas… lá ou cá…
Adeus!

Candamã - Escola dos Putos

Candamã - Futuros craques ou yankies

Limpeza colectiva em Candamã

Texto e fotos ©: Torcato Mendonça (Fotos Falantes IV) 2012. Direitos reservados
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 3 de Fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9440: Nós da memória (Torcato Mendonça) (8): Segundo dia em Bissau - Fotos falantes IV

Guiné 63/74 - P9450: Documentos (18): Situação Militar no TO da Guiné no ano de 1974: Relatório da 2ª REP/QG/CTIG: Transcrição, adaptação e digitalização de Luís Gonçalves Vaz (Parte VI): pp. 22/24












1. Continuação da publicação do relatório da 2ª Rep/CTIG, sobre a situação político-militar em 1974, documento esse que foi digitalizado pelo Luís Gonçalves Vaz, membro da nossa Tabanca Grande [, foto à direita], a partir de um exemplar pertencente ao arquivo pessoal de seu pai, cor cav CEM Henrique Gonçalves Vaz, último Chefe do Estado-Maior do CTIG (1973/74), entretanto falecido em 2001.



A publicação integral deste documento foi-nos sugerida pelo nosso colaborador, camarada e amigo José Manuel Dinis, de modo a poder dar a todos os leitores, e em especial aos camaradas que estavam no TO da Guiné nessa época, a oportunidade de confrontarem o seu conhecimento empírico da situação com a descrição e a análise que é feita pela 2ª Rep do Comando-Chefe/FAG.

O relatório é assinado pelo chefe da 2ª Rep do Comando-Chefe/FAG, o maj inf Tito José Barroso Capela.

Completa-se hoje a primeira parte do relatório (que tem 74 páginas), relativa ao ponto A (Período até 25Abr74), com a publicação das pp. 22 a 24 (Situação político-administrativa)(*).


Escusado será lembrar mais uma vez que, apesar de ser um documento datado e eventualmente controverso, a intenção de o publicar  é apenas a de servir os leitores do nosso blogue, que foram combatentes na Guiné, enriquecendo e diversificando as fontes de informação e conhecimento sobre a guerra em que foram atores e não meros figurantes. Atores de corpo e alma, é bom não esquecê-lo. E, como tal, com autoridade moral e histórica para falar desta realidade, a muitos títulos dolorosa mas também heróica.


Em caso algum, a divulgação deste ou outros documentos, qualquer que seja a sua origem (NT, PAIGC ou outras fontes) pode levar a um aumento da crispação e da conflitualidade politico-ideológicas entre ex-camaradas de armas. Utilizar este ou outros documentos como arma de arremesso uns contra os outros, é um mau princípio...


Se isso acontecesse, era subverter por completo a ideia original que presidiu à criação deste blogue e que continua a inspirar e a motivar todos os seus editores, colaboradores e leitores (ou pelo menos a grande maioria deles).  


War is over, a guerra acabou, camaradas!... Resta-nos saber partilhar, com verdade, serenidade, generosidade, tolerância e sabedoria, o que vimos, ouvimos e vivemos no passado, mas também o que lemos, pensamos e escrevemos hoje.  (LG)


Índice do relatório

A. Período até 25Abr74


1. Situação em 25Abr74
a. Generalidades (pp.1/2)
b. Situação política externa:
( 1 ) PAIGC e organizações internacionais (pp. 2/5)
( 2 ) Países limítrofes (pp. 5/8)
( 3 ) O reconhecimento internacional do “Estado da G/B em 25Abr74 (pp.8/9).
c. Situação interna:
1. Situação militar.
( a ) Actividade do PAIGC (pp. 10/12)
( b ) Síntese da atividade do PAIGC e suas consequências (pp.13/15)
( c ) Análise da actividade de guerrilha (pp. 16/18)
( d ) Dispositivo geral do PAIGC e objetivos (pp. 18/19)
( e ) Potencial de combate do PAIG (pp.19/20)
( f ) Possibilidades do PAIGC e evolução provável da situação (p. 21)
2. Situação político-administrativa (pp. 22/24).


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Nota do editor:


(*) Vd. postes anteriores da série:


4 de fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9443: Situação Militar no TO da Guiné no ano de 1974: Relatório da 2ª REP/QG/CTIG: Transcrição, adaptação e digitalização de Luís Gonçalves Vaz (Parte V): pp. 10/21


31 de Janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9424: Situação Militar no TO da Guiné no ano de 1974: Relatório da 2ª REP/QG/CTIG: Transcrição, adaptação e digitalização de Luís Gonçalves Vaz (Parte IV): pp. 1/9


25 de Janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9398: Situação Militar no TO da Guiné no ano de 1974: Relatório da 2ª REP/QG/CTIG: Transcrição, adaptação e digitalização de Luís Gonçalves Vaz (Parte III)


19 de janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9372: Situação Militar no TO da Guiné no ano de 1974: Relatório da 2ª REP/QG/CTIG: Transcrição, adaptação e digitalização de Luís Gonçalves Vaz (Parte II)


18 de janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9368: Situação Militar no TO da Guiné no ano de 1974: Relatório da 2ª REP/QG/CTIG: Transcrição, adaptação e digitalização de Luís Gonçalves Vaz (Parte I)

Guiné 63/74 - P9449: Notas de leitura (330): O Boletim Geral do Ultramar (1) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 17 de Janeiro de 2012:

Queridos amigos,
O Boletim Geral do Ultramar veiculava posições governamentais e a sua leitura permite conhecer o que se filtrava e o valor das omissões. Este texto centra-se no período embrionário da guerra, desde as primeiras manifestações e à subversão. Os políticos passam pela Guiné meteoricamente, é até de admitir que não se apercebessem daquela fúria avassaladora que tomou conta dos acontecimentos no Sul, logo no início do ano. As preocupações maiores centravam-se em Angola e já se previa Moçambique, como deixam antever as visitas ministeriais de 1963. A Guiné é ainda uma nebulosa, ninguém tem consciência do seu peso nas lutas pela independência.

Um abraço do
Mário


A guerra da Guiné no Boletim Geral do Ultramar (1)

Beja Santos

O Boletim Geral do Ultramar era o porta-voz da ideologia do regime, era uma publicação com inúmera informação, tinha mesmo dados estatísticos, artigos de história com propensão para a divulgação, secção de artes e letras, mas no fundamental funcionava como uma correia de transmissão do pensamento de Salazar e das ações do Ministério do Ultramar.

A sua leitura não provoca grandes surpresas, para quem procura registar as suas tomadas de posição e detetar informação marginal que escapasse ao pensamento oficioso.

Escolhe-se, nesta primeira abordagem, o período crucial de 1961 a 1963: a Guiné já entrou em agitação, os países limítrofes já anunciaram guerra sem quartel ao colonialismo, em Conacri o apoio é inicialmente indiferenciado, enquanto no Senegal o regime de Senghor protege preferencialmente os movimentos pro-guineenses. Os quadros da guerrilha do PAIGC estão a caminho da Academia Militar de Nanquim, na China. O movimento de manjacos liderado por um dirigente que falava exclusivamente francês, ataca, em Julho, S. Domingos e a seguir Suzana e Varela. Os contingentes militares são reforçados, a PIDE instala-se e dinamiza o sistema de informações. 1962 é o ano da ideologização e subversão internas, em Março Rafael Barbosa será detido, entre outros dirigentes. No final do ano, a destruição metódica começa a tomar conta do Sul e em Janeiro, para completa surpresa dos quadros militares portugueses, a guerrilha ataca Tite, instala-se no Morés e nas matas do Corubal. O cônsul português em Dakar negoceia com Senghor uma autonomização progressiva liderada por guineenses do movimento de Benjamim Pinto Bull, Salazar chega a recebê-lo e depois descarta esta hipótese: o Ultramar tornara-se inegociável. O governador da Guiné não se entende com o comandante militar, este considera a Guiné perdida. A guerrilha progride com êxito, as etnias tomam partido. Aos poucos, os terrenos de manobra definem-se, uma maioria ainda impressiva está do lado dos portugueses, os mais velhos não esqueceram as guerras da pacificação.

Adriano Moreira visita a Angola durante 20 dias, em Maio de 1961, no regresso passa meteoricamente pela Guiné. O Boletim refere esta viagem. O ministro é cumprimentado pelos sobas (!) no aeroporto e no Palácio do Governo. Viaja até Mansoa e é aclamado em Nhacra. Seguiu-se uma visita a Bafatá, onde discursou: “Não quis perder a oportunidade de, nesta terra portuguesa da Guiné, afirmar a solidariedade de todos os portugueses contra as ameaças e agressões que vêm do exterior (…) Continuaremos a dar a todos os que por estas latitudes procuram um rumo, exemplos como o da erradicação da lepra, da luta contra a doença do sono, contra a malária, em suma, da luta contra a miséria e o medo”. E regressa prontamente a Lisboa.

No número de Agosto-Setembro, o Boletim refere os acontecimentos de Julho passado. Começa por dizer que houve em 21 de Julho um ataque ao aquartelamento (!) de S. Domingos. Os terroristas foram repelidos com firmeza. “Eram 50 indivíduos provenientes do Senegal armados com espingardas”. Segue-se o ataque a Varela, os agressores foram computados em 200, cortaram o fio telefónico e causaram estragos em algumas moradias de veraneantes. A informação sobre Suzana é muito magra. Segue-se o texto das notas trocadas acerca da alegada violação do Senegal por aviões portugueses, o Senegal queixara-se da violação do seu espaço aéreo em 18 de julho.

O governador Peixoto Correia falou aos guineenses: “Atente-se na manifestação dos habitantes dos bairros populares de Bissau para exprimirem a sua lealdade à nação e a sua repulsa pelas incursões, na exposição de alto sentido patriótico dos munícipes de Bolama, nas declarações dos régulos, de notáveis e da população em geral e, de modo particular, no oferecimento de um chefe gentílico para, com os manjacos do seu e outros regulados, participar nos efetivos militares em operações”.

O Boletim refere igualmente o corte de relações do Senegal em 25 de Julho, dando como pretexto atividades ilícitas conduzidas por Portugal no Senegal, sobrevoo do território senegalês e recusa do governo português em abandonar a província da Guiné. É também publicado o teor da resposta do governo português, contestando toda a argumentação de Dakar. Adriano Moreira volta à Guiné, em 1 de Novembro, no culminar de um périplo que começou em Moçambique. Visitou no mesmo dia Bissau e Bolama, à noite jovens estudantes ofereceram-lhe uma serenata à porta do Palácio, o Boletim publica fotografia.

Em 1962, temos uma nova visita de Adriano Moreira, em Agosto, vai seguir para Cabo Verde. Diz laconicamente aos meios de informação: “É uma oportunidade para tratar com o senhor governador da Guiné de alguns problemas correntes”. Em companhia de Peixoto Correia, Adriano Moreira visitou as localidades que estiveram mais expostas aos ataques de 1961. No termo da sua rápida visita, Adriano Moreira condecorou Peixoto Correia com a medalha de ouro dos serviços distintos. Há total omissão sobre o larvar da guerrilha e o crescente reforço militar.

Estamos já em 1963, em 12 de Agosto, Silva Cunha, subsecretário de Estado da Administração Ultramarina faz uma visita de estudo à Guiné. É recebido pelo governador, comandante Vasco Rodrigues: visita Mansoa, Bolama, Catió, Fula Cunda e Pelundo. Escreve-se no Boletim “Em Catió, no centro da zona de atuação dos terroristas no Sul da Província, verificou que a população continua a fazer normalmente a sua vida, embora perturbada por vez pela interferência subversiva”.

No remate da sua viagem, teve uma grande manifestação pública organizada pelo jornal O Arauto. Discursaram Alfa Umaru, chefe fula, o comerciante Carlos Gomes, José Demba, funcionário público, entre outros. Silva Cunha terminou o seu improviso dizendo: “Havemos de vencer!”.

Este Boletim, como se vê, não dá oportunidade a descobertas de vulto, permite ler através das omissões, o que não se diz à opinião pública, nomeadamente a militarização e o nível de ofensiva de guerrilha.

Não se deve confundir o Boletim Geral do Ultramar com a revista Ultramar, esta tem outras características, como oportunamente passaremos em revista.

(Continua)
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 3 de Fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9439: Notas de leitura (329): Francisco Caboz, A Construção e a desconstrução de um Padre, por Horácio Neto Fernandes (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P9448: (Ex)citações (173): Ralis com zebros no Rio Cacine...petas sobre o obus 14 enfiadas a jornalista da BBC em Gadamael (C. Martins, cmdt do Pel Art, Gadamael, 1973/74)

Capa da revista Combatente, da Liga dos Combatentes, edição de setembro de 2011, alusiva às comemorações do 50º aniversário da criação da Escola de Fuzileiros, em 1961, por iniciativa do alm Reboredo e Silva. 

Entre os eventos que celebram a efeméride, conta-se a publicação do livro "Ordem do Dia" (144 pp .), sobre a história da escola dos Fuzileiros e os seus primórdios. 

Prefácio do comandante Alpoím Calvão, antigo aluno da Escola, e combatente na Guiné. Infelizmente, a obra está fora do circuito do mercado livreio.


1. Comentário, ao poste P9437 (*), do nosso leitor e camarada C. Martins (que esteve em Gadamael, a norte de Cacine, como comandante do respetivo Pel Art, entre 1973 e 1974):

Os fuzos de Cacine não faziam water-skiing [esqui aquático,] no rio mas sim ralis com os zebros.

Quem o fazia de sintex (com o soldado operador deste completamente apavorado) e também tiro de caçadeira a todas as aves que lhe apareciam, era o cap comando Patrocínio, oficial de operações em Gadamael.

Era completamente "amalucado". Insistia comigo que operar os obuses era praticamente igual como os morteiros.

Um dia recebemos um jornalista inglês da BBC que quis uma explicação sobre o obus 14, enfiei-lhe uma série de petas:  o tubo era de fabrico alemão, as sapatas russas,o reparo americano, os amortecedores franceses, as rodas e o óleo espanhois... O cap Patrocínio assistia a tudo,  meio incrédulo.

Por fim quis gravar um tiro de obus... Bem, mandei colocar o gravador de bobines à frente do obus (perante o espanto geral dos meus soldados)... e após o tiro o dito cujo desintegrou-se. Risota geral. O newspaperman  queria que eu lhe pagasse o gravador. Expliquei-lhe que,  como nunca tinha feito uma gravação de um tiro de obus,  não sabia que o resultado era aquele.

Mais tarde soube que se queixou de mim nas altas esferas de Bissau..

Ah, comia-se bem no patrulha que frequentemente aportava em Cacine! (**)
 
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Notas do editor:
 
(*) Vd. poste de 2 de fevereiro 2012 > Guiné 63/74 - P9437: Excertos do Diário de António Graça de Abreu (CAOP1, Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74) (7): Andava-se de sintex, com motor de 50 cavalos, no Cumbijã, nas barbas do PAIGC... e fazia-se esqui aquático no Cacine...

(**) Último poste da série > 2 de fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9433: (Ex)citações (172): Ainda o dossiê Guidaje - Maio de 1973 (Manuel Marinho / Amílcar Carreira)

Guiné 63/74 - P9447: Parabéns a você (377): Fernando Franco, ex-1.º Cabo Caixeiro do PINT 9288 (Guiné, 1973/74) e José Teixeira, ex-1.º Cabo Aux Enf da CCAÇ 2381 (Guiné, 1968/70)

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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 4 de Fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9441: Parabéns a você (376): José Belo, ex-Alf Mil da CCAÇ 2381 (Guiné, 1968/70) e Mário Silva Bravo, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 6 (Guiné, 1971/72)

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Guiné 63/74 - P9446: Ainda a emboscada de Ponta Coli, Xime, no dia 14/11/1968, em que morreu o Fur Mil SAM Fernando Dias e que fez 10 feridos graves entre o pessoal da CART 1746 (Bissorã e Xime, 1968/69)


Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > O troço da estrada Xime-Bambadinca, entre Taliuara e Ponta Coli, onde uma coluna auto da CART 1746 foi emboscada, em 14 de novembro de 1968. Carta do Xime (1955) (Escala 1/25 mil).


1. Ainda a propósito da emboscada onde morreu o Fur Mil SAM Fernando Dias (*) [, foto à direita, em Bissorã, 1968], veja-se o que ficou escrito, sobre esta ocorrência, na história do BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70), Cap II, pp. 5-6 (Atividade em outubro e novembro de 1968):

"(...) Em 14 de Novembro de 1968, pelas 7h30, 2 Grupos  IN com cerca de 20 elementos emboscou NT com LGFog e armas automáticas, durante 30 minutos, no itinerário Xime - Bambadinca, entre Taliuara e Ponta Coli. As forças  da CART 1746 sofreram 1 morto (Furriel Miliciano), 10 feridos graves e 6 ligeiros. O IN retirou, com baixas prováveis, à reacção das NT" (...).

Cinco dias depois, a 19, às 21h55, "Grupo IN não estimado atacou o aquartelamento do Xime com Mort 82, LGFog, Pel Mort 60 e armas ligeiras, durante 25 minutos, sem consequências. As NT reagiram pelo fogo obrigando o IN a retirar" (...).

Infelizmente não temos o nome dos camaradas da CART 1746 que foram gravemente feridos nesta emboscada. Embora adida, esta subunidade não pertencia ao BCAÇ 2852.
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Nota do editor:

(*) Vd. poste de 4 de fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9442: In Memoriam (108): Fur Mil SAM Fernando Maria Teixeira Dias, da CART 1746, morto na emboscada de 14 de Novembro de 1968, perto da Ponta Coli, Xime (Manuel Moreira / Rui Dias Moreira)

Guiné 63/74 - P9445: Fotos à procura de... uma legenda (16): Tabanca de Gadamael, 1973 ? (José Sales, CCAÇ 4743, Gadamael e Tite, 1972/74)




Guiné > Região de Tombali > Gadamael - Porto > s/d [1973? ] > Tabanca, reordenada pelas NT.

Foto: Autores desconhecido. Álbum fotográfico Guiledje Virtual. Gentileza de: © Pepito/ AD - Acção para o Desenvolvimento (Bissau) (2007).

1. O nosso leitor e camarada José Sales deixou-nos o seguinte comentário, no poste P2801 (*):



Não querendo ser contrariador, esta minha observação é apenas construtiva. Esta foto [, acima,] nem me parece de Gadamael, mas se o é , será posterior a 1973: eu estive em Gadamael desde a primeira semana de Fevereiro de 73 até 24 de Junho do mesmo ano e não existia tabancas de chapa de zinco, era tudo colmo.

Como digo, poderá ser depois desta data. Aqui deixo as minhas desculpas. (**)

José Sales,
 CCAÇ 4743/72 (***)

2. Comentário do editor:
Agradece-se a atenção e o interesse do nosso leitor e camarada José Sales. Pede-se aos camaradas que passaram por Gadamael para contribuirem,com os seus esclarecimentos, para a correta legendagem da foto, fornecida em 2007 pelo nosso amigo Pepito, e que desde sempre referenciamos como sendo de Gadamael. Sobre o reordenamento de Gadamael (talvez o primeiro do CTIG), vd. aqui poste do nosso camarada, o cor art António J. Pereira da Costa, com data de 2 de julho de 2008:

(...) " Em Maio/Junho de 1968, o Gen Spínola [, então ainda brigadeiro, ] determinou o abandono dos quartéis de Sangonhá  e Cacoca. Houve que transportar, para Gadamael e Cacine, a população que ali residia e que, em Cacine, ficou instalada na antiga Missão do Sono que agora já não existia, visto que a doença estava erradicada.

"Foram feitas mais de 30 colunas em pouco mais de 15 dias. À chegada foi necessário construir as casas com o auxílio do pessoal da CART 1692. Pela sequência das fotos é possível ver que se podem construir casas a partir do telhado. A qualidade das fotos não 

será a melhor, mas este poderá ter sido o primeiro Reordenamento da Guiné" (...).





Mais duas fotos de Gadamael (ou Gadamael Porto), provenientes do acervo fotográfico da AD - Acção para o Desenvolvimento, de 2007: Guiledje Visual > Guerra na periferia de Guiledje (Gandembel, Gadamael, Sangonhá, Cacine). Na foto em que aparece o obus 14 (e não 8.8, como por lapso aparece noutros anteriores com esta foto), são visíveis ao fundo moranças com telhado de zinco...  Na outra foto, em que se mostra a tabanca (ou parte da tabanca) de Gadamael com moranças de telhado de colmo, também se veem duas ou três, ao canto superior direito, com telhado de zinco.

3. Comentários (posteriores) dos leitores a este poste:

(i) Vasco Pires (ex-comandante do 23º Pel Art, Gadamael, 1970/72, a quem saudamos e convidamos a integrar a nossa Tabanca Grande)


Prezados, com as devidas ressalvas de mais de quarenta anos de distância, não posso afirmar se essas fotos são de Gadamael Porto. O que posso afirmar, é que quando cheguei em Gadamael, penso que em finais de 1970, para assumir o comando do 23°Pelart, os espaldões já estavam prontos, bem como as casas do reordenamento (com teto de zinco), que foram ocupadas pelo pesoal da artilharia, inclusive a primeira casa,  junto à cerca do quartel,foi ocupada por mim e pelos valorosos e esforçados Furriéis. Cordiais saudações.

Domingo, Fevereiro 05, 2012 7:45:00 PM

(ii) C. Martins (ex- comandante do Pel Art, Gadamael, 1973/74):

Por diversas vezes apareceram estas fotos , nomeadamente a 1.ª,  como sendo de Gadamael.


É-me completamente estranha a 1ª. A 2.ª pode ser,  mas terá sido quando houve a retracção de Cacoca e Sangonhá. A 3.ª também pode ser, mas no meu tempo,onde se observa o suposto reordenamento era a pista. O obus que se vê NÃO É O 8,8 MAS SIM O 14.


O camarada Vasco Pires diz que no seu tempo os espaldões já estavam construídos, logo a 3.ª foto só pode ser anterior a 1970.


Se as fotos são de Gadamael terão sido feitas em 1970 ou anteriormente. No meu tempo nada disto existia.

Um artilheiro de Gadamael,  C.Martins.

Segunda-feira, Fevereiro 06, 2012 1:05:00 AM




Notas do editor:

(*) Vd. poste de 30 de abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2801: Fotos e relatos de Gadamael, Maio / Julho de 1973, precisam-se (Nuno Rubim) 
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(**) Vd. último poste da série > 10 de setembro de 2011 > Guine 63/74 - P8761: Fotos a procura de... uma legenda (15): Bambadinca e o seu famoso bagabaga catedral... Álbum do Benjamim Durães

(***) Esteve em Gadamael (e depois foi para Tite) a CCAÇ 4743/72 (BII 17; partida para o TO da Guiné a 27/12/1972; regresso a 31/8/1974). Teve 3 capitães.

Guiné 63/74 – P9444: Convívios (392): 16º Encontro/Convívio da CCAV 8351 - “Os Tigres de Cumbijã”

1.   Um dos nossos leitores, Domingos Alves, enviou-nos em 3 de Fevereiro de 2012 uma mensagem com o seguinte convite:


Caro Luis Graça:

O meu nome é Domingos Alves e sou amigo pessoal de um "Tigre" de seu nome Augusto Covas, a quem coube, desta vez, a organização do XVI convívio dos "Tigres de Cumbijã".

Como o Covas anda sempre muito ocupado prontifiquei-me, de imediato, a ajudá-lo nesta tarefa.

Assim, através do vosso blogue, reparei que estes convívios não têm aqui sido publicitados, o que é uma pena. Para que isso não aconteça este ano, peço-lhe encarecidamente que o divulgue.

Como vem sendo costume, o convite para esta festa é sempre extensivo a todos aqueles que, tendo feito a sua comissão na Guiné, se queiram juntar a esta excepcional malta.

Um muito obrigado antecipado.
Cumprimentos
Domingos Alves e Augusto Covas
Telem.: 969066091


16º Encontro / Convívio da CCAV 8351 “Os Tigres de Cumbijã”


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Nota de MR: 

Vd. último poste desta série em: 


sábado, 4 de fevereiro de 2012

Guiné 63/74 - P9443: Documentos (17): Situação Militar no TO da Guiné no ano de 1974: Relatório da 2ª REP/QG/CTIG: Transcrição, adaptação e digitalização de Luís Gonçalves Vaz (Parte V): pp. 10/21

1. Continuação da publicação do relatório da 2ª Rep/CTIG, sobre a situação político-militar em 1974, documento esse que foi  generosa e gentilmente digitalizado e enviado pelo Luís Gonçalves Vaz [, foto à esquerda], a partir de um exemplar pertencente ao arquivo pessoal de seu pai, cor cav CEM Henrique Gonçalves Vaz, último Chefe do Estado-Maior do CTIG (1973/74), entretanto falecido em 2001.

A publicação na íntegra deste documento, embora seja uma tarefa pesada, é considerada de interesse para os leitores do nosso blogue, e foi de resto solicitada pelo nosso colaborador, camarada e amigo José Manuel Dinis. Cabe aos leitores fazer a sua análise detalhada e a sua apreciação crítica e, em última análise, ajuizar da sua importância e interesse. Para o nosso tabanqueiro Luís Gonçalves Vaz vai, mais uma vez, o nosso reconhecimento público por este serviço, que ele dedica não apenas à memória do seu pai, mas a todos os amigos e camaradas da Guiné que integram a nossa Tabanca Grande.

Nas páginas 10 a 21 do relatório (que tem um total de 74 páginas), continua a abordar-se a situação política à data do 25 de Abril de 1974, mas agora centrada na situação interna (ponto c, 1. Situação militar; 2. Situação político-administrativa) (As páginas 22 a 24 serão disponibilizadas em próximo poste; as páginas 1 a 9 constam do poste anterior) (*).


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Nota de CV:

(*) 31 de Janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9424: Situação Militar no TO da Guiné no ano de 1974: Relatório da 2ª REP/QG/CTIG: Transcrição, adaptação e digitalização de Luís Gonçalves Vaz (Parte IV): pp. 1/9