1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 14 de Novembro de 2012:
Queridos amigos,
Aqui se põe termo à recensão sobre o livro dedicado ao comandante Alpoim Calvão.
A obra tem o mérito de compilar com linearidade e sequência histórica o percurso daquele que é o militar mais condecorado da Marinha portuguesa. Como é óbvio, reteve-se aquilo que tem a ver com a sua associação à Guiné, que foi muitíssimo e perdura, na justa medida em que o comandante Calvão, como o livro abona, mantém-se entusiasmado com as suas iniciativas empresariais que ele rotula “Por uma Guiné Melhor”.
O livro aparece bem documentado e, independentemente do lado encomiástico que o atravessa do princípio ao fim, torna-se leitura obrigatória para situar o herói nas suas duas comissões guineenses.
Um abraço do
Mário
“Alpoim Calvão, honra e dever” (2)
Beja Santos
A segunda comissão de Alpoim Calvão na Guiné abarca 1969 e 1970. No início, acumula as responsabilidades na Repartição de Operações Especiais do Comando-Chefe com as de comandante de uma Força Naval no Cacheu. Em Abril de 1969, o comandante-chefe manda reocupar as instalações de Ganturé, na margem direita do rio Cacheu, deixando a operação a cargo do Comando das Forças Navais. No norte da Guiné, as forças de Marinha em operações no Cacheu constituíram uma Força Tarefa, englobando vários tipos de lanchas, dois destacamentos de fuzileiros especiais, entre outros. Calvão é enviado para o rio Cacheu, exerce as funções de comandante desta Força Tarefa.
“Alpoim Calvão, honra e dever”, por Rui Hortelão, Luís Sanches de Baêna e Abel Melo e Sousa (Caminhos Romanos, 2012) conta-se como Calvão fazia pequenas incursões em território onde o inimigo se movimentava com certo à-vontade, acompanhado apenas por três ou quatro fuzileiros: “Numa dessas vezes, saiu durante a noite em patrulha com dois botes. Subiu o curso do rio Cacheu, penetrou por um dos seus numerosos afluentes e de lá, à força de remos e levados pela corrente, chegaram até junto de uma tabanca da população, emboscando-se nas proximidades. Ao nascer do sol, os 8 homens puderam assistir ao acordar de toda aquela gente a viram-nos encaminhar-se para o rio, para se lavarem e tomarem banho, sem suspeitarem sequer que estavam a ser observados. Após algum tempo a vigiá-los, o comandante manda o pequeno grupo a regressar à base. Tinha conseguido o seu objetivo, esta era uma das coisas com que o comandante Calvão mais se comprazia: pegar em jovens e inexperientes oficiais e mostrar-lhes a face da guerra, como ela era na realidade”.
Calvão não se dispensava de desembarcar para acompanhar as operações, isto quando não era muito habitual um oficial superior desembarcar com os seus homens, instalar no terreno uma base de fogo de morteiros e dar cobertura às forças que progrediam na mata com fogo de grande precisão. Os autores referem igualmente movimentações de Calvão por todo o teatro operacional e como estabelece relações com uma figura intrigante, o comerciante Mário Rodrigues Soares, de Pirada. A PIDE suspeita dele, no entanto ele é apresentado a Calvão, dele obtém informações da maior importância sobre o exército senegalês e a localização de bases do PAIGC nas proximidades. O livro regista importantes intervenções de Calvão em operações em Cobiana-Churo e a seguir vemo-lo a desenhar a operação “Nebulosa 1” em que um pequeno grupo de fuzileiros se instala na República da Guiné e destrói uma motora do PAIGC, a “Patrice Lumumba”, uma operação digna de um grande filme de aventuras com os fuzileiros ao assalto com luta corpo a corpo, seguindo-se a denúncia da operação pela República da Guiné-Conacri de um ato classificado como de pirataria. É por essa época que Calvão começa a congeminar a operação de ataque a Conacri, inicialmente com o objetivo de destruir das vedetas do PAIGC e a libertação de 26 prisioneiros portugueses que estavam na prisão de La Montaigne. O ministro do Ultramar dá instruções a Spínola para apoiar a Frente de Libertação da Guiné-Conacri que projetava um golpe de Estado e contava com o apoio de Portugal. Começavam a juntar-se as peças da operação “Mar Verde”, no maior segredo começa a compra de minas na África do Sul e a recolha da rebeldes e opositores de Sékou Touré que irão ser concentrados na ilha de Soga, nos Bijagós. Na fase anterior destes preparativos, Calvão não pára, chega a ir à ilha do Como numa altura em que Spínola andava furioso com o comportamento do DFE 7 que provocara graves desacatos em Bissau. Com tanto ou mais significado que a operação “Nebulosa 1” foi a “Nebulosa 2”, que não se pôde concretizar devido a denso nevoeiro, foi na operação "Gata Brava”, lançada no rio Inxanxe, fronteira da Guiné-Conacri que se abalroou o "Bandim" que foi afundado. Nesta sequência é novamente condecorado. Em 10 de Junho de 1970, no Terreiro do Paço, Calvão é condecorado com o colar da Torre e Espada.
A operação “Mar Verde” está suficientemente relatada e documentada que não se justifica retomar a narrativa aqui exposta. Sabe-se o que aconteceu e as consequências que teve, as muito boas e as muito más. Calvão guardou elementos que iria mais tarde, a partir de Lisboa, procurar desenvolver para infiltrar opositores de Sékou Touré para dar informações. Em finais de Dezembro, considerou-se que Calvão devia partir da Guiné e não ser alvo de atenções nacionais e internacionais. Começa por ser enviado para a Capitania do Porto de Lisboa, recebe depois guia de marcha para o Comando Naval do Continente onde vai chefiar a Divisão de Operações do Estado-Maior, regressar depois a comandante da Polícia Marítima do Porto de Lisboa. É neste período que Calvão forja a ideia de constituir uma rede de informações estratégicas, projeta o “Plano Carpa” (origem de uma rede de informações que tinha como objetivo a República da Guiné e o PAIGC e designada pelo nome de código “Dragão Marinho”) e expõe o projeto ao chefe de Estado-Maior general das Forças Armadas. Logo surgem duas operações, a “Medusa Verde” e a “Furão Curioso”, sempre envolvendo infiltrações em Dakar e os serviços do seu antigo informador na Guiné, Mário Rodrigo Soares. Em Agosto de 1972 o plano “Dragão Marinho” é apresentado ao ministro da Defesa Nacional. Previa instalar uma rede de informações em localidades dos países vizinhos da República da Guiné e previa-se estender a rede a alguns países europeus. Uma das ideias centrais era instalar uma quinta coluna no interior da República da Guiné. Decorrem através de um contacto em Londres iniciativas para contactar Amílcar Cabral, no sentido de preparar o terreno para futuras operações.
São várias as iniciativas de Calvão neste serviço de informações, uma delas foi o desaparecimento no navio panamiano “Esperanza II” que transportava armamento e munições com destino à Frelimo. Calvão mandara colocar uma armadilha a bordo, o desaparecimento está até hoje envolto em mistério. Assim se chega ao 25 de Abril. Calvão irá envolver-se em processos conspirativos, conhecerá o exílio e regressará a Portugal em finais de Março de 1978, apresentando-se na Armada. Seguidamente, o livro “Alpoim Calvão, honra e dever” aborda o drama dos guineenses que combateram à sombra da bandeira portuguesa e que continuam ostracizados e o conjunto de iniciativas em negócios em território da Guiné-Bissau, empregando antigos combatentes, ali passa longas temporadas procurando resolver o problema de transportes de matéria-prima, ampliando um fábrica de caju, nomeadamente em Bolama.
A parte de documentos apensados tem inegável interesse. Para além da panóplia de louvores e das condecorações, temos ali reproduzido um opúsculo de 1966 sobre a doutrina do PAIGC, extratos de uma exposição de Mário Rodrigo Soares enquanto agente duplo, testemunhos sobre a operação “Mar Verde”, a conceção do Plano Carpa, o Plano Dragão Marinho, entre outros.
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Nota de CV:
Vd. poste de 4 de Janeiro de 2013 > Guiné 63/74 - P10895: Notas de leitura (446): "Alpoim Calvão, Honra e Dever", por Rui Hortelão, Luís Sanches de Baêna e Abel Melo e Sousa (1) (Mário Beja Santos)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
segunda-feira, 7 de janeiro de 2013
domingo, 6 de janeiro de 2013
Guiné 63/74 - P10905: O Nosso Livro de Visitas (155): Resposta ao pedido do António Bastos no poste P10630, de 7/11/2012 (José Ribeiro, CART 566, Bissorã e Olossato, 1964/65)
Guiné > Região do Oio > Olossato > Maio de 1965 > CART 566 (Bissorã e Olossato, 1964/65) > Material apreendido ao IN numa grande operação ao Morés, realizada em Maio de 1965, segundo informação do José Ribeiro.
Foto: © António Bastos (2013). Todos os direitos reservados. (Editada e legendada por L.G.)
1. Mensagem de José Augusto Miranda Ribeiro, com data de cinco do corrente
Assunto - Resposta ao camarada António Silva Bastos do Pel Caç 953
Camarada António Silva Bastos do Pel Caç 953
Li as tuas intervenções sobre uma grande operação a Morés (*). Vi as fotografias em anexo e não reconheci ninguém.
Pertenci à CART 566, que foi a 1ª companhia que se instalou no Olossato, improvisou um aquartelamento e construiu os abrigos em 1964.
Lembro-me que em Maio de 1965, no início do mês, participámos numa operação a Morés, a qual envolvia 7 companhias, tendo sido, ao logo da noite, detetadas todas as companhias, exceto a CART 566. Um caso de sorte. Na escuridão da noite capturámos um guarda (sentinela) e depois um ronda do lado do inimigo. Foram eles que nos indicaram (voluntariamente ??) a única entrada não armadilhada para aquela grande casa de mato. Foi um bom trabalho.
Mesmo com morteiradas a caírem sobre nós lá fomos entrando. Encontrámos muito material de guerra, e um subterrâneo que era um hospital com diverso material relacionado com a saúde. Foi necessário o helicóptero deslocar-se meia dúzias de vezes para levar o referido material. Nós também carregámos muito material.
Por isso, meu caro camarada Bastos, foi a CART 566 que estava no Olossato nessa data, mas, que eu me lembre, não nos encontrámos com qualquer outra companhia.
Agora, eu com quase 74 anos, só estou bem sentado à mesa, e a minha barriga vai crescendo, crescendo... É preciso ter boa disposição, saúde e paz, porque a Guerra Colonial já acabou.
Um abraço do teu camarada que desde já te considera um amigo.
Um abraço.
JRibeiro (José Augusto Miranda Ribeiro)
2. Comentário de L.G.:
Camarada J. Ribeiro: Costumamos dizer, sem ironia, que o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande!... Porque é mesmo verdade: repara como o pedido do António Bastos, há quase dois meses atrás, acabou de ter uma feliz resposta por parte de um camarada da CART 566, de seu nome completo José Augusto Miranda Ribeiro, de 73 anos, e que eu convido deste já a integrar, de pleno direito, o nosso blogue... Para tal, basta-nos mandares as duas fotos da praxe, uma antiga e outra atual.
Camaradas com a tua veterania ainda são poucos, a escrever no nosso blogue. A idade não é desculpa, muito menos a barriguinha. Junta-te a nós, até porque não temos até agora nenhum ilustre representante da CART 566. Fala-nos da tua unidade e da vossa atividade operacional na região do Oio. Manda-nos fotos (digitalizadas) do tei álbum. Partilha connosco as tuas memórias. Um bom ano igualmente para ti. (**)
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Notas do editor:
(*) Vd. poste de 7 de novembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10630: Fotos à procura de uma legenda (20): Fotos de uma operação ao Morés em 1964 em que intervieram a CART 730 e a Companhia sediada no Olossato (António Bastos)
Guiné 63/74 - P10904: História da CCAÇ 2679 (58): Fisicamente recuperado (José Manuel Matos Dinis)
1. Mensagem do nosso camarada José Manuel Matos Dinis (ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71), com data de 4 de Janeiro de 2013:
Bom dia Carlos,
Acabo de regressar de umas mini-férias no Alentejo profundo, de um local a 2Km da aldeia mais próxima, servido por uma picada sem minas, sem água da rede, sem rede para o telemóvel, mas com diferentes tipos de passarada que me proporcionam alvores de diferentes chilreios, e regresso farto de amanhar ervas, de compor o nível da entrada para que o carro não tropeçasse no batente do portão, de apanhar umas tângeras de muito bom paladar, de me sentar com vacas e ovelhas nos terrenos verdes e ondulados, enfim, venho bucólico.
Contra isso, para me adaptar depressa à guerra da cidade, hoje envio novo fragmento sobre a História da 2679, desta vez dedicado ao nosso ilustre camarada Hélder V. de Sousa, não porque contenha muitos pontapés nos cuzes, a acção violenta que ele tanto aprecia, mas porque retrata cenas caricatas, condicionadas por tensões de ordem amorosa e ruptura do dever de camaradagem. Nada que não tivesse tido a solução adequada e afectasse as relações no Foxtrot, pois ainda este Natal recebi uma mensagem de um dos intervenientes (infelizmente, o outro, há anos que nos deixou) e falei com ele ao telefone.
Para ti, e para o Tabancal, com renovados votos de bom Ano Novo, envio um grande abraço
JD
HISTÓRIA DA CCAÇ 2679 (58)
Fisicamente recuperado
No regresso de Bissau onde dei baixa ao hospital e passei vinte e seis dias em tratamento, fui logo informado com alguma insolência, que o pelotão abandonara Tabassai, a aldeia onde fora colocado em auto-gestão durante aquele período. Ouvi e fui averiguar junto de alguns Foxtrot, sobre a veracidade e razões para o que teria acontecido. Fiquei a saber que o pessoal recebia as refeições naquela tabanca, por deslocação de uma viatura, diariamente, com os alimentos confeccionados.
Durante os primeiros dias, pouco depois das doze horas a comida chegava à tabanca. Ao anoitecer, com o reforço chegava o jantar. Mas começaram os atrasos com a chegada do almoço, e o pessoal protestava com recados, ora transmitidos aos condutores, ora transmitidos aos comandantes das escoltas e do pessoal dos reforços. Aquelas reclamações, porém, não mereceram especial atenção, e os almoços continuavam a ser disponibilizados já pelo entrar da tarde, pouco antes da chegada do jantar, chegando ao ponto de quase jantarem sem acabar a digestão dos "almoços".
Como diz o povo, a cantarinha vai tantas vezes ao poço, que um dia parte. E foi o caso: a canteirinha, ou seja, a paciência do pessoal esgotou-se com a manifesta situação de desprezo a que estavam votados. Um belo dia tomaram a decisão, e todos os elementos rumaram a Bajocunda pelo meio-dia para tomarem a refeição a horas normais no refeitório. Foi um banzé. Toda a gente quis assistir à querela que se estabeleceu entre o Trapinhos, provavelmente apoiado por outros quadros, e o Foxtrot que não vacilou na defesa das suas razões. Ainda perguntei se tinha havido alguma punição, mas não, não tinha havido, apenas ameaças disto e daquilo. O pessoal ainda reafirmou a sua disposição para repetir a atitude, se a façanha de servir o almoço a horas tardias voltasse a repetir-se. Mais tarde o Morais foi deslocado para Tabassai onde permaneceu a exercer o comando.
Não achei razões para qualquer reprimenda, e como a coisa tinha tido um final feliz, nem percebi a insinuação que me fizeram sobre a indisciplina que alguém atribuiu reincidentemente ao pelotão, que, aliás, devia ser contraposta à indisciplina e à falta de solidariedade de quem tinha a responsabilidade sobre a preservação de um ambiente harmonioso na companhia. Logo referi que apoiava a atitude do Foxtrot, e deixava o recado de que quem quer ser respeitado, também tem obrigação de respeitar. Ficou assim. Recentemente o Morais disse-me que não teve qualquer problema enquanto esteve com o meu pelotão. Naturalmente, o Morais foi sempre uma simpatia, ponderado e competente.
Algum tempo mais tarde estavam os diferentes pelotões a alternar uma semana em Tabassai, mas com autonomia para cozinhar numa panela improvisada de meio tambor de gasolina. Para ali foi deslocado um cozinheiro, e os artigos de despensa necessários. Os dias corriam numa pacata modorra, e à noite chegava uma secção de reforço. A minha actuação era no sentido de alterar na distribuição de tarefas, com vista a contrariar as rotinas. Um belo dia destaquei dois elementos para a orla da mata, na estrada para Pirada, onde deviam observar os movimentos de pessoas e o que transportavam. Quando o almoço foi servido pelo cozinheiro, cada um atacava o respectivo "tacho". Eu apresentei-me mais tarde e perguntei se aqueles dois vigilantes já tinham comido. O cozinheiro levou as mãos à cabeça pois tinha-se esquecido deles e já não havia nada preparado. Mas à sombra de uma árvore estavam dois pratos cheios. Aliás, todos tinham comido substancialmente. Eram os pratos de dois outros elementos.
Mandei chamar os vigilantes, e disse ao cozinheiro para dividir aquela comida e a que me estava atribuída pelos cinco, eu, os vigilantes, e os que estavam identificados para quem aqueles pratos se destinavam. Logo após a minha ordem apareceram os dois destinatários da comida guardada, alertados por alguém, que vinham reclamar os seus direitos. Pois foi de direitos que lhes respondi: que por um azar o almoço fora mal distribuído, mas que todos tinham direito a comer, e assim devíamos dividir a quantidade remanescente pelos cinco. A reacção de um deles não podia ser pior, que não, ninguém mexia no prato dele e que não tinha culpa do que acontecera. Voltei a referir que tinha que partilhar, que era preciso satisfazer a todos, tanto mais que àquela hora já não havia solução. Aquele Foxtrot não mostrava compreensão nem bom senso. Dei-lhe ordem para não comer sem se proceder à divisão. Mas aqueles dois pratos cheios destinavam-se a partilhar refeições com as namoradas, e ele obstinava-se, enquanto o outro, visivelmente aborrecido, aguardava pelos acontecimentos. Quando o mais incompreensivo esboçou intenção de agarrar no prato, aproximei-me e disse-lhe para se afastar e aguardar a redistribuição, e disse-o já farto da conversa sem vacilar.
Respondeu-me com ar de desafio:
- Meu furriel não me bata!
Respondi no mesmo tom para lhe fazer saber que haveria pancadaria se ele não obedecesse:
- Pois então não mexas!
A alimentação foi dividida pelos cinco e o caso resolvido no momento. Mas não ficou resolvido na mente dele. Aqui há uns anitos veio ao continente, e visitou-me em minha casa, onde jantou comigo e com a minha filha. Lembrou-se, ou já trazia na ideia, de referir o episódio, deixando uma observação de que eu não o tinha respeitado, ao que lhe respondi com a devolução da apreciação. Depois, sozinho, reconstituindo as coisas, cheguei à conclusão de aqueles dois bons elementos tinham sido influenciados pela atracção do belo sexo, pelo carinho que trocavam com as bajudas da aldeia, não sei em que condições, nem com que convencimentos.
Ainda nesse período aconteceu outro episódio, quando durante a tarde chegou uma secção de outra companhia para reforço do mini-pelotão Foxtrot. De repente aconteceram umas rajadas, três ou quatro, da metralhadora que cobria as entradas da estrada, nos sentidos de Pirada e de Bajocunda. Irritei-me com aquilo e fui averiguar o que acontecera. Quando cheguei ao espaldar em abrigo cavado para a metralhadora, estava um elemento da secção de reforço a quem interroguei sobre os motivos das rajadas. Respondeu que estava a experimentar a arma. Disse-lhe que ali ninguém experimentava nada sem a minha autorização, e que ele devia ter tido em consideração que podia haver gente civil ou militar na orla do mato. Que imaginasse se ali estivesse um camarada dobrado sobre os joelhos. Calou-se. Mas quando voltei costas e iniciava o regresso ao interior da aldeia, ouvi-o dizer entre dentes que quando os turras atacassem havia de lhe dar autorização para reagir.
À insolência e cobardia, reagi lançando-me para ele que não aguentou o impacto. Estava a ver no que dava, quando veio muito aflito o furriel daquela tropa. Disse-lhe só que não admitia abusos, que repetisse essa mensagem ao atirador, e que em futuras circunstâncias lhe daria dois murros. Esta cena que pode mostrar alguma brutalidade da minha parte, quero ressalvar, que foi provocada por uma insolência daquele militar, impreparado e imprevidente, que não fora capaz de medir as consequências do seu acto, e cobardemente desconversava com desprezo sobre a minha chamada de atenção. Só que eu ouvi, e não fingi o contrário.
Não vou agora falar daquela disciplina das paladas e de suas excelências, mas da disciplina que era fundamental para quem usava armas e estava em ambiente de guerra. Sempre me fez muita confusão o gosto de disparar em rajada, pois não só não treinava nada em especial, como não significava uma acalmia ao stress que a guerra provocava. Se alguém pretendia experimentar uma metralhadora, antes, devia desmontá-la, limpá-la, e pedir autorização para a experiência, prevenindo riscos desnecessários.
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 11 DE DEZEMBRO DE 2012 > Guiné 63/74 - P10786: História da CCAÇ 2679 (57): Encontro com a má fortuna (José Manuel M. Dinis)
Bom dia Carlos,
Acabo de regressar de umas mini-férias no Alentejo profundo, de um local a 2Km da aldeia mais próxima, servido por uma picada sem minas, sem água da rede, sem rede para o telemóvel, mas com diferentes tipos de passarada que me proporcionam alvores de diferentes chilreios, e regresso farto de amanhar ervas, de compor o nível da entrada para que o carro não tropeçasse no batente do portão, de apanhar umas tângeras de muito bom paladar, de me sentar com vacas e ovelhas nos terrenos verdes e ondulados, enfim, venho bucólico.
Contra isso, para me adaptar depressa à guerra da cidade, hoje envio novo fragmento sobre a História da 2679, desta vez dedicado ao nosso ilustre camarada Hélder V. de Sousa, não porque contenha muitos pontapés nos cuzes, a acção violenta que ele tanto aprecia, mas porque retrata cenas caricatas, condicionadas por tensões de ordem amorosa e ruptura do dever de camaradagem. Nada que não tivesse tido a solução adequada e afectasse as relações no Foxtrot, pois ainda este Natal recebi uma mensagem de um dos intervenientes (infelizmente, o outro, há anos que nos deixou) e falei com ele ao telefone.
Para ti, e para o Tabancal, com renovados votos de bom Ano Novo, envio um grande abraço
JD
Vista aérea de Bajocunda
Foto ©: Amílcar Ventura
HISTÓRIA DA CCAÇ 2679 (58)
Fisicamente recuperado
No regresso de Bissau onde dei baixa ao hospital e passei vinte e seis dias em tratamento, fui logo informado com alguma insolência, que o pelotão abandonara Tabassai, a aldeia onde fora colocado em auto-gestão durante aquele período. Ouvi e fui averiguar junto de alguns Foxtrot, sobre a veracidade e razões para o que teria acontecido. Fiquei a saber que o pessoal recebia as refeições naquela tabanca, por deslocação de uma viatura, diariamente, com os alimentos confeccionados.
Durante os primeiros dias, pouco depois das doze horas a comida chegava à tabanca. Ao anoitecer, com o reforço chegava o jantar. Mas começaram os atrasos com a chegada do almoço, e o pessoal protestava com recados, ora transmitidos aos condutores, ora transmitidos aos comandantes das escoltas e do pessoal dos reforços. Aquelas reclamações, porém, não mereceram especial atenção, e os almoços continuavam a ser disponibilizados já pelo entrar da tarde, pouco antes da chegada do jantar, chegando ao ponto de quase jantarem sem acabar a digestão dos "almoços".
Como diz o povo, a cantarinha vai tantas vezes ao poço, que um dia parte. E foi o caso: a canteirinha, ou seja, a paciência do pessoal esgotou-se com a manifesta situação de desprezo a que estavam votados. Um belo dia tomaram a decisão, e todos os elementos rumaram a Bajocunda pelo meio-dia para tomarem a refeição a horas normais no refeitório. Foi um banzé. Toda a gente quis assistir à querela que se estabeleceu entre o Trapinhos, provavelmente apoiado por outros quadros, e o Foxtrot que não vacilou na defesa das suas razões. Ainda perguntei se tinha havido alguma punição, mas não, não tinha havido, apenas ameaças disto e daquilo. O pessoal ainda reafirmou a sua disposição para repetir a atitude, se a façanha de servir o almoço a horas tardias voltasse a repetir-se. Mais tarde o Morais foi deslocado para Tabassai onde permaneceu a exercer o comando.
Não achei razões para qualquer reprimenda, e como a coisa tinha tido um final feliz, nem percebi a insinuação que me fizeram sobre a indisciplina que alguém atribuiu reincidentemente ao pelotão, que, aliás, devia ser contraposta à indisciplina e à falta de solidariedade de quem tinha a responsabilidade sobre a preservação de um ambiente harmonioso na companhia. Logo referi que apoiava a atitude do Foxtrot, e deixava o recado de que quem quer ser respeitado, também tem obrigação de respeitar. Ficou assim. Recentemente o Morais disse-me que não teve qualquer problema enquanto esteve com o meu pelotão. Naturalmente, o Morais foi sempre uma simpatia, ponderado e competente.
Algum tempo mais tarde estavam os diferentes pelotões a alternar uma semana em Tabassai, mas com autonomia para cozinhar numa panela improvisada de meio tambor de gasolina. Para ali foi deslocado um cozinheiro, e os artigos de despensa necessários. Os dias corriam numa pacata modorra, e à noite chegava uma secção de reforço. A minha actuação era no sentido de alterar na distribuição de tarefas, com vista a contrariar as rotinas. Um belo dia destaquei dois elementos para a orla da mata, na estrada para Pirada, onde deviam observar os movimentos de pessoas e o que transportavam. Quando o almoço foi servido pelo cozinheiro, cada um atacava o respectivo "tacho". Eu apresentei-me mais tarde e perguntei se aqueles dois vigilantes já tinham comido. O cozinheiro levou as mãos à cabeça pois tinha-se esquecido deles e já não havia nada preparado. Mas à sombra de uma árvore estavam dois pratos cheios. Aliás, todos tinham comido substancialmente. Eram os pratos de dois outros elementos.
Mandei chamar os vigilantes, e disse ao cozinheiro para dividir aquela comida e a que me estava atribuída pelos cinco, eu, os vigilantes, e os que estavam identificados para quem aqueles pratos se destinavam. Logo após a minha ordem apareceram os dois destinatários da comida guardada, alertados por alguém, que vinham reclamar os seus direitos. Pois foi de direitos que lhes respondi: que por um azar o almoço fora mal distribuído, mas que todos tinham direito a comer, e assim devíamos dividir a quantidade remanescente pelos cinco. A reacção de um deles não podia ser pior, que não, ninguém mexia no prato dele e que não tinha culpa do que acontecera. Voltei a referir que tinha que partilhar, que era preciso satisfazer a todos, tanto mais que àquela hora já não havia solução. Aquele Foxtrot não mostrava compreensão nem bom senso. Dei-lhe ordem para não comer sem se proceder à divisão. Mas aqueles dois pratos cheios destinavam-se a partilhar refeições com as namoradas, e ele obstinava-se, enquanto o outro, visivelmente aborrecido, aguardava pelos acontecimentos. Quando o mais incompreensivo esboçou intenção de agarrar no prato, aproximei-me e disse-lhe para se afastar e aguardar a redistribuição, e disse-o já farto da conversa sem vacilar.
Respondeu-me com ar de desafio:
- Meu furriel não me bata!
Respondi no mesmo tom para lhe fazer saber que haveria pancadaria se ele não obedecesse:
- Pois então não mexas!
A alimentação foi dividida pelos cinco e o caso resolvido no momento. Mas não ficou resolvido na mente dele. Aqui há uns anitos veio ao continente, e visitou-me em minha casa, onde jantou comigo e com a minha filha. Lembrou-se, ou já trazia na ideia, de referir o episódio, deixando uma observação de que eu não o tinha respeitado, ao que lhe respondi com a devolução da apreciação. Depois, sozinho, reconstituindo as coisas, cheguei à conclusão de aqueles dois bons elementos tinham sido influenciados pela atracção do belo sexo, pelo carinho que trocavam com as bajudas da aldeia, não sei em que condições, nem com que convencimentos.
Ainda nesse período aconteceu outro episódio, quando durante a tarde chegou uma secção de outra companhia para reforço do mini-pelotão Foxtrot. De repente aconteceram umas rajadas, três ou quatro, da metralhadora que cobria as entradas da estrada, nos sentidos de Pirada e de Bajocunda. Irritei-me com aquilo e fui averiguar o que acontecera. Quando cheguei ao espaldar em abrigo cavado para a metralhadora, estava um elemento da secção de reforço a quem interroguei sobre os motivos das rajadas. Respondeu que estava a experimentar a arma. Disse-lhe que ali ninguém experimentava nada sem a minha autorização, e que ele devia ter tido em consideração que podia haver gente civil ou militar na orla do mato. Que imaginasse se ali estivesse um camarada dobrado sobre os joelhos. Calou-se. Mas quando voltei costas e iniciava o regresso ao interior da aldeia, ouvi-o dizer entre dentes que quando os turras atacassem havia de lhe dar autorização para reagir.
À insolência e cobardia, reagi lançando-me para ele que não aguentou o impacto. Estava a ver no que dava, quando veio muito aflito o furriel daquela tropa. Disse-lhe só que não admitia abusos, que repetisse essa mensagem ao atirador, e que em futuras circunstâncias lhe daria dois murros. Esta cena que pode mostrar alguma brutalidade da minha parte, quero ressalvar, que foi provocada por uma insolência daquele militar, impreparado e imprevidente, que não fora capaz de medir as consequências do seu acto, e cobardemente desconversava com desprezo sobre a minha chamada de atenção. Só que eu ouvi, e não fingi o contrário.
Não vou agora falar daquela disciplina das paladas e de suas excelências, mas da disciplina que era fundamental para quem usava armas e estava em ambiente de guerra. Sempre me fez muita confusão o gosto de disparar em rajada, pois não só não treinava nada em especial, como não significava uma acalmia ao stress que a guerra provocava. Se alguém pretendia experimentar uma metralhadora, antes, devia desmontá-la, limpá-la, e pedir autorização para a experiência, prevenindo riscos desnecessários.
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 11 DE DEZEMBRO DE 2012 > Guiné 63/74 - P10786: História da CCAÇ 2679 (57): Encontro com a má fortuna (José Manuel M. Dinis)
Guiné 63/74 - P10903: Os melhores 40 meses da minha vida (Veríssimo Ferreira) (21): 22.º episódio: Memórias avulsas (3): The Python Sebae
1. O nosso camarada Veríssimo Ferreira (ex-Fur Mil, CCAÇ 1422 / BCAÇ 1858, Farim, Mansabá, K3, 1965/67) em mensagem do dia 2 de Janeiro de 2013 relata-nos um encontro imediato com uma pithon sebae, num dos dias de um dos melhores 40 meses da sua vida. E não é que nós continuamos a acreditar?!
OS MELHORES 40 MESES DA MINHA VIDA (22)
GUINÉ 65/67 - MEMÓRIAS AVULSAS (3)
THE PYTHON SEBAE
Como todos sabemos, aquando da chegada das colunas que nos traziam os mantimentos e até o material de guerra, cabia às Companhias de destino, fazer a segurança das suas áreas e nos percursos de passagem das viaturas. Para tal emboscava-se e patrulhava-se a fim de que o terreno não estivesse minado e preparava-se tudo nos locais mais perversos e onde já antes tinham havido problemas, para que desta vez não se materializassem.
Naquele dia coube ao meu pelotão a preparação duma emboscada, nos "carreiros", sítio chato com'ó caraças e de passagem dos maganões, ali mais ou menos a três quilómetros do K3, na estrada que ligava a Bironque.
Incumbido fui para preparar a coisa, o que fiz naturalmente, considerando os conhecimentos antes adquiridos e treinados ao vivo e presencialmente com os "velhinhos" de Mansabá e de Bissorã.
Minucioso saiu na escrita, só que no terreno, nada seria igual pois que a rapaziada borrifava-se, não descurando contudo, as seguranças próprias e do grupo mas lá, onde era importante, as ordens emanadas pelos superiores sempre foram cumpridas com coragem e lealdade absolutas.
E foi assim, que a excursão nocturna lá partiu, organizadamente desorganizada, uns fumando para que o IN se por aí estivesse, pensasse que eram gambozinos ou pirilampos a faiscar, outros praguejando com a maldita sorte da escolha logo neste dia com tanta chuva, outros ainda maldizendo a empecilhosa lama escorregadia e as botas rotas por baixo e tudo em alta voz como convinha.
Só que esta destemida juventude já veterana e ao primeiro sinal de alerta, tornava-se num exército disciplinado, aguerrido e cumpridor e se antes pareciam putos reguilas, agora eram uns valentes combatentes, antes incapazes de fazer mal, mas depois era o "cá se fazem cá se pagam".
Chegados, indiquei-lhes os "bedroom's" a ocupar o que não seria necessário que já conheciam bem o esquema, mas pronto... gostavam de ouvir a minha palavra amiga... e aquele toque positivo da palmada no ombro.
Para mim escolhera o primeiro lugar donde esperaria que surgissem os problemas, se tudo acontecesse como anteriormente.
A noite ainda se não fizera dia, a chuva continuava mais qu'a muita, a trovoada ribombava assustadoramente, mas o solo molhado e fofo, recebeu-nos carinhosamente. Silêncio absoluto agora, olhos mais que bem abertos, dedos engatilhados e assim se passaram quase duas horas.
Já lusco-fusco, começo a ouvir e ali bem perto de mim, o ruído sereno, como o de alguém que viesse a rastejar ao meu encontro. Em alerta máximo fiquei e dei conta da situação aos camaradas do lado.
Dois ou três minutos de hiper-tensão depois, aparece-me ali a três metros, uma cabecinha a espreitar e quase disparei.
Ela olhou-me, eu olhei-a e creio que foi amor à primeira vista, pelo menos da minha parte nunca mais esqueci aquela que me enfeitiçou pra sempre.
Nisto e num saracotear e manso rastejo, ela mirou-me longamente, despediu-se tristonha e com uma lágrima ao canto do olho, que bem na vi saída daqueles formosos olhos azuis, mostrou-se-me tal como viera ao Mundo e lá foi suavemente atravessando para o outro lado.
Garanto-vos que eram pr'ái 5 ou 6 metros de belíssima cobra. E assim a "sebae" se foi.
Relembrei-a-a noutro dia em que e sem querer pisei, indo no jeep, uma qu'até me fez saltar para o chão com o dito em movimento, julgando eu estar a ser submetido a qualquer vil tiroteio ou ter atropelado alguma minazita mal intencionada, pois que o rebentamento fora idêntico.
Entretanto lá longe, começava-se a ouvir o roncar das viaturas o que significava que desta vez conseguíramos o objectivo. Então o Cmdt do pelotão que levava o rádio, mas nem usá-lo sabia, tentou o contacto:
- "Alô, alô... aqui eu... diga se me escuta... ôvo"
Trocou os verbos, pronunciou mal os tempos, mas foi útil para uma saudável risota de descontracção e a ordem veio para abandonarmos o local e recolher a penates. Como na ida, regressámos "todos ao molho e fé em Deus" e em alegre cavaqueira com a patrulha pedonal, que andara a fiscalizar no vai-vem costumado e constante.
Missão cumprida portanto, tomámos o petit-dejeuner que para quem não sabe quer dizer "o café da manhã" (PS: de vez em quando sinto esta necessidade de vos mostrar que também sou culto e daí aquelas duas palavritas em inglês).
Foi-nos dado o resto do dia para descansarmos, o que calhou mesmo bem para pôr a escrita em dia:
- Saudades PAI, Saudades MÃE. Beijinhos e abraços para todos os restantes familiares e bom ano 1966.
(continua)
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 30 DE DEZEMBRO DE 2012 > Guiné 63/74 - P10878: Os melhores 40 meses da minha vida (Veríssimo Ferreira) (20): 21.º episódio: Memórias avulsas (2): Uma banhoca em Bissorã
OS MELHORES 40 MESES DA MINHA VIDA (22)
GUINÉ 65/67 - MEMÓRIAS AVULSAS (3)
THE PYTHON SEBAE
Como todos sabemos, aquando da chegada das colunas que nos traziam os mantimentos e até o material de guerra, cabia às Companhias de destino, fazer a segurança das suas áreas e nos percursos de passagem das viaturas. Para tal emboscava-se e patrulhava-se a fim de que o terreno não estivesse minado e preparava-se tudo nos locais mais perversos e onde já antes tinham havido problemas, para que desta vez não se materializassem.
Naquele dia coube ao meu pelotão a preparação duma emboscada, nos "carreiros", sítio chato com'ó caraças e de passagem dos maganões, ali mais ou menos a três quilómetros do K3, na estrada que ligava a Bironque.
Estrada Mansabá-Farim. O K3 fica um pouco acima do cruzamento de Nema. Vd. carta de Farim
Incumbido fui para preparar a coisa, o que fiz naturalmente, considerando os conhecimentos antes adquiridos e treinados ao vivo e presencialmente com os "velhinhos" de Mansabá e de Bissorã.
Minucioso saiu na escrita, só que no terreno, nada seria igual pois que a rapaziada borrifava-se, não descurando contudo, as seguranças próprias e do grupo mas lá, onde era importante, as ordens emanadas pelos superiores sempre foram cumpridas com coragem e lealdade absolutas.
E foi assim, que a excursão nocturna lá partiu, organizadamente desorganizada, uns fumando para que o IN se por aí estivesse, pensasse que eram gambozinos ou pirilampos a faiscar, outros praguejando com a maldita sorte da escolha logo neste dia com tanta chuva, outros ainda maldizendo a empecilhosa lama escorregadia e as botas rotas por baixo e tudo em alta voz como convinha.
Só que esta destemida juventude já veterana e ao primeiro sinal de alerta, tornava-se num exército disciplinado, aguerrido e cumpridor e se antes pareciam putos reguilas, agora eram uns valentes combatentes, antes incapazes de fazer mal, mas depois era o "cá se fazem cá se pagam".
Chegados, indiquei-lhes os "bedroom's" a ocupar o que não seria necessário que já conheciam bem o esquema, mas pronto... gostavam de ouvir a minha palavra amiga... e aquele toque positivo da palmada no ombro.
Para mim escolhera o primeiro lugar donde esperaria que surgissem os problemas, se tudo acontecesse como anteriormente.
A noite ainda se não fizera dia, a chuva continuava mais qu'a muita, a trovoada ribombava assustadoramente, mas o solo molhado e fofo, recebeu-nos carinhosamente. Silêncio absoluto agora, olhos mais que bem abertos, dedos engatilhados e assim se passaram quase duas horas.
Já lusco-fusco, começo a ouvir e ali bem perto de mim, o ruído sereno, como o de alguém que viesse a rastejar ao meu encontro. Em alerta máximo fiquei e dei conta da situação aos camaradas do lado.
Dois ou três minutos de hiper-tensão depois, aparece-me ali a três metros, uma cabecinha a espreitar e quase disparei.
Ela olhou-me, eu olhei-a e creio que foi amor à primeira vista, pelo menos da minha parte nunca mais esqueci aquela que me enfeitiçou pra sempre.
Nisto e num saracotear e manso rastejo, ela mirou-me longamente, despediu-se tristonha e com uma lágrima ao canto do olho, que bem na vi saída daqueles formosos olhos azuis, mostrou-se-me tal como viera ao Mundo e lá foi suavemente atravessando para o outro lado.
The Python Sebae
Com a devida vénia a www.wildlife-pictures-online.com
Com a devida vénia a www.wildlife-pictures-online.com
Garanto-vos que eram pr'ái 5 ou 6 metros de belíssima cobra. E assim a "sebae" se foi.
Relembrei-a-a noutro dia em que e sem querer pisei, indo no jeep, uma qu'até me fez saltar para o chão com o dito em movimento, julgando eu estar a ser submetido a qualquer vil tiroteio ou ter atropelado alguma minazita mal intencionada, pois que o rebentamento fora idêntico.
Entretanto lá longe, começava-se a ouvir o roncar das viaturas o que significava que desta vez conseguíramos o objectivo. Então o Cmdt do pelotão que levava o rádio, mas nem usá-lo sabia, tentou o contacto:
- "Alô, alô... aqui eu... diga se me escuta... ôvo"
Trocou os verbos, pronunciou mal os tempos, mas foi útil para uma saudável risota de descontracção e a ordem veio para abandonarmos o local e recolher a penates. Como na ida, regressámos "todos ao molho e fé em Deus" e em alegre cavaqueira com a patrulha pedonal, que andara a fiscalizar no vai-vem costumado e constante.
Missão cumprida portanto, tomámos o petit-dejeuner que para quem não sabe quer dizer "o café da manhã" (PS: de vez em quando sinto esta necessidade de vos mostrar que também sou culto e daí aquelas duas palavritas em inglês).
Foi-nos dado o resto do dia para descansarmos, o que calhou mesmo bem para pôr a escrita em dia:
- Saudades PAI, Saudades MÃE. Beijinhos e abraços para todos os restantes familiares e bom ano 1966.
(continua)
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 30 DE DEZEMBRO DE 2012 > Guiné 63/74 - P10878: Os melhores 40 meses da minha vida (Veríssimo Ferreira) (20): 21.º episódio: Memórias avulsas (2): Uma banhoca em Bissorã
Guiné 63/74 - P10902: Parabéns a você (520): Paulo Santiago, ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 53 (Guiné, 1970/72)
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 5 de Janeiro de 2013 > Guiné 63/74 - P10899: Parabéns a você (519): João Meneses, ex-2.º Ten FZE RN DFE1 (Guiné, 1972); Ricardo Figueiredo, ex-Fur Mil da 2.ª C.ª/BART 6523 (Guiné, 1973/74) e Valentim Oliveira, ex-Sold Cond Auto da CCAV 489/BCAV 490 (Guiné, 1963/65)
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 5 de Janeiro de 2013 > Guiné 63/74 - P10899: Parabéns a você (519): João Meneses, ex-2.º Ten FZE RN DFE1 (Guiné, 1972); Ricardo Figueiredo, ex-Fur Mil da 2.ª C.ª/BART 6523 (Guiné, 1973/74) e Valentim Oliveira, ex-Sold Cond Auto da CCAV 489/BCAV 490 (Guiné, 1963/65)
sábado, 5 de janeiro de 2013
Guiné 63/74 - P10901: Blogpoesia (314): "Caserna", poema inédito de Armor Pires Mota
1. Mensagem do nosso camarada Armor Pires Mota (ex-Alf Mil da CCAV 488/BCAV 490, Guiné, 1963/65), com data de 3 de Janeiro de 2013, trazendo um poema inédito para publicação no nosso Blogue e notícias da reedição, em breve, do seu romance censurado pela PIDE, o "Tarrafo*".
Meu caro Carlos Vinhal:
Espero que tenha um bom ano e que os abutres não nos devorem as orelhas como fizeram a malogrado Perdiz da Estranha Noiva de guerra.
Estou a enviar-lhe um poema, inédito, que encontrei há pouco, que ofereço ao Luís Graça & Companhia para ser publicado, se for oportuno e merecer.
Aproveito ainda a generosidade e a vossa bondade para a inserção das minhas coisas.
Não sei se já lhe disse mas estou a pensar em reeditar o livro proibido de circular (apreendido) pela PIDE, o Tarrafo, o caso único de toda a guerra colonial.
Digitalizado, de modo a sair com todos os sublinhados e notas a postar pela censura. Será um documento inédito. Talvez, os proventos possam servir para qualquer iniciativa a favor da Guiné, através do Carlos Silva ou do Luís Graça e Cª.
Irei hoje de tarde ver se é possível. Depois direi algo mais.
Um abraço para todos,
Armor
CASERNA
O candeeiro mortiço, que flui e reflui
como as ondas de um sujo rio,
ilumina-me os restos do que fui
e sinto medos raspando e sinto frio.
E escuto, de quando em vez,
o estranho ranger dos meus ossos
e, quase sem fé (mãe, o que a guerra me fez!)
desfio contas e rezo padre-nossos.
Como que há no meu ouvido, baixinho,
grito de irmão que me chama:
que me vale deitar em lençóis de linho,
se o meu corpo é de revolta e de lama?
É meia-noite e torço e me retorço
e digo à noite e ao céu palavras sem nexo
como que para fugir às unhas do remorso,
ao olhar de Deus ou de qualquer papão.
Soldados jogam as cartas, falam de sexo,
barbas grandes de quem mata (em vão).
Grito. Trazem-me copos de água que rejeito,
porque minha alma é poço sem fundo,
e nem aceito, por loucura ou despeito,
serenas e sábias palavras de ninguém.
Hoje tenho medo de mim e do mundo,
como na noite branca em que nasci de minha mãe.
____________
Nota de CV:
(*) Vd. Recensão do romance "Tarrafo" por Mário Beja Santos nos postes de:
22 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5687: Notas de leitura (56): Armor Pires Mota (1): Tarrafo e Baga-baga, duas surpresas de um combatente repórter (Beja Santos)
e
23 DE JANEIRO DE 2010 > Guiné 63/74 - P5692: Notas de leitura (57): Armor Pires Mota (2): Tarrafo, o primeiríssimo relato literário da Guerra da Guiné (Beja Santos)
Vd. último poste da série de 31 DE DEZEMBRO DE 2012 > Guiné 63/74 - P10884: Blogpoesia (313): Mensagem / massagem de fim de ano (Luís Graça)
Meu caro Carlos Vinhal:
Espero que tenha um bom ano e que os abutres não nos devorem as orelhas como fizeram a malogrado Perdiz da Estranha Noiva de guerra.
Estou a enviar-lhe um poema, inédito, que encontrei há pouco, que ofereço ao Luís Graça & Companhia para ser publicado, se for oportuno e merecer.
Aproveito ainda a generosidade e a vossa bondade para a inserção das minhas coisas.
Não sei se já lhe disse mas estou a pensar em reeditar o livro proibido de circular (apreendido) pela PIDE, o Tarrafo, o caso único de toda a guerra colonial.
Digitalizado, de modo a sair com todos os sublinhados e notas a postar pela censura. Será um documento inédito. Talvez, os proventos possam servir para qualquer iniciativa a favor da Guiné, através do Carlos Silva ou do Luís Graça e Cª.
Irei hoje de tarde ver se é possível. Depois direi algo mais.
Um abraço para todos,
Armor
CASERNA
O candeeiro mortiço, que flui e reflui
como as ondas de um sujo rio,
ilumina-me os restos do que fui
e sinto medos raspando e sinto frio.
E escuto, de quando em vez,
o estranho ranger dos meus ossos
e, quase sem fé (mãe, o que a guerra me fez!)
desfio contas e rezo padre-nossos.
Como que há no meu ouvido, baixinho,
grito de irmão que me chama:
que me vale deitar em lençóis de linho,
se o meu corpo é de revolta e de lama?
É meia-noite e torço e me retorço
e digo à noite e ao céu palavras sem nexo
como que para fugir às unhas do remorso,
ao olhar de Deus ou de qualquer papão.
Soldados jogam as cartas, falam de sexo,
barbas grandes de quem mata (em vão).
Grito. Trazem-me copos de água que rejeito,
porque minha alma é poço sem fundo,
e nem aceito, por loucura ou despeito,
serenas e sábias palavras de ninguém.
Hoje tenho medo de mim e do mundo,
como na noite branca em que nasci de minha mãe.
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Nota de CV:
(*) Vd. Recensão do romance "Tarrafo" por Mário Beja Santos nos postes de:
22 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5687: Notas de leitura (56): Armor Pires Mota (1): Tarrafo e Baga-baga, duas surpresas de um combatente repórter (Beja Santos)
e
23 DE JANEIRO DE 2010 > Guiné 63/74 - P5692: Notas de leitura (57): Armor Pires Mota (2): Tarrafo, o primeiríssimo relato literário da Guerra da Guiné (Beja Santos)
Vd. último poste da série de 31 DE DEZEMBRO DE 2012 > Guiné 63/74 - P10884: Blogpoesia (313): Mensagem / massagem de fim de ano (Luís Graça)
Guiné 63/74 - P10900: Do Ninho D'Águia até África (41): Outra vez, a menina Teresa (Tony Borié)
1. Quadragésimo primeiro episódio da série "Do Ninho de D'Águia até África", de autoria do nosso camarada Tony Borié (ex-1.º Cabo Operador Cripto do Cmd Agru 16, Mansoa, 1964/66), iniciada no Poste P10177.
O Cifra andava envergonhado com o que diziam no aquartelamento a respeito da sua dignidade, andava, como as pessoas dizem, “em baixo”, dava a impressão que tinha perdido o primeiro combate, não no conflito em que estava envolvido, porque todos os antigos combatentes e não só, já sabem que o Cifra era um razoável militar, mas um fraco, mesmo fraco guerreiro, estava era cansado de procurar uma solução para satisfazer a encomenda da menina Teresa, em Portugal, a tal costureira, que já tinha passado dos cinquentas, que escrevia as cartas ao Cifra, que a sua mãe Joana notava, e que pediu uma certa encomenda ao Cifra, para lhe levar da Guiné, que os amigos antigos combatentes, e não só, já sabem do que se trata, pois o Cifra já explicou em relatos anteriores, mas para os que não se lembram, era um “Falo”, ou seja um “Phallus”, ou mais propriamente um “Pénis” em madeira de ébano preta, que ela dizia que era para lhe dar melhor sorte na vida, e não se esquecem que a menina Teresa, também mandava na referida carta uma nota do Banco Portugal de vinte escudos para despesas, e como havia um marceneiro, que vivia entre a vila de Mansoa e a tabanca, que existia perto do aquartelamento com casas cobertas de colmo, perto da estrada, que naquele tempo não era mais que um carreiro, que seguia para Mansabá, o Cifra entendeu, numa última tentativa, que esse tal marceneiro talvez lhe resolvesse o problema da encomenda, pois já tinha esgotado todas as suas tentativas para encontrar o referido objecto, com o tamanho e características que a menina Teresa explicava.
O Cifra, podia ter começado este texto a falar de qualquer coisa, ou até, dar-lhe um qualquer título só para desviar a atenção, mas não, tem que desabafar nesta linguagem, que não é muito própria, é mais uma linguagem do tipo Curvas, alto e refilão, mas é uma cópia do que se passou, e com toda a certeza que vão compreender, pois na verdade a intenção do Cifra, era falar dessa vergonha, "tirar este peso, que é a menina Teresa, de cima de si", que este sim, devia de ser o verdadeiro título para este texto, e contar as peripécias porque passou para encontrar o tal objecto, que era um “pénis” em madeira de ébano preta. O Cifra vai só contar algumas das peripécias porque passou, na sua procura, armado em “FBI”, pois quando vinha à capital da província, no carro dos doentes, dava sempre uma fugida ao mercado, e tentava fazer-se compreender a alguns “Gilas”, que vendiam peças de arte em madeira de ébano preta, e como não o compreendiam ele fazia alguns gestos, que como devem compreender podiam ser considerados obscenos, pois colocava a mão nos seus órgãos genitais, a tentar fazer-se compreender, e uma vez um “Gila”, até o olhou com olhos maliciosos. Por fim fez um desenho, com todas as características que a menina Teresa pedia, e andava com esse desenho no bolso, que por azar foi parar às mãos da lavadeira, no bolso dos calções, resultado, ela guardou-o, e veio entregar ao Cifra na frente do Pastilhas, também com um ar malicioso, que logo começou com provocações, nem sempre muito abonatórias para a dignidade do Cifra. Alguns, com menos tempo de estadia no aquartelamento, que não conheciam muito bem o Cifra, mas ouviam falar da história, até diziam:
- O Cifra, anda sempre na “tabanca”, no convívio com as “bajudas”, alguma coisa está a acontecer, pois agora procura um “Pénis”, de madeira de ébano preta.
Claro, depois o Cifra explicava tudo com a carta da menina Teresa, às vezes até mostrava os vinte escudos, o que na mente de alguns, que não sabiam ler muito bem, e “não tinham esperto no cabeça”, com uma atitude assim um pouco duvidosa, até diziam:
- O Cifra quer um caral.., daqueles dos pretos, e até dá vinte escudos, daqueles dos bons, do Banco de Portugal!
Uma vez o achinesado do Life Boy até lhe disse, com um sorriso um pouco malicioso, que o Cifra nunca soube se era por bem ou por mal:
- Então, já encontraste o teu caral.., preto?
Claro, isto não era muito abonatório para a dignidade do Cifra, que não era violento, pois era um razoável militar, mas um fraco, mesmo fraco guerreiro, e era uma pessoa que não respondia a uma provocação com outra provocação. Na verdade, ficava com vontade de lhe mandar um murro no seu focinho achinesado, mas com a ajuda do Curvas, alto e refilão, do Setúbal, do Mister Hóstia, do Marafado, do Trinta e Seis, do furriel miliciano que andava sempre a fumar um cigarro feito à mão, do Arroz com Pão, e do Sargento da messe, entre outros, acabava sempre, embora com algum argumento, por clarificar essas mentes, menos crentes na dignidade do Cifra, mas custou, pois até chegou ao ponto de, para mostrar a sua masculinidade, andar a passear pela vila, e vir ao cinema, ver aqueles filmes de cowboys e índios, na sede do clube de futebol, de braço dado, e às vezes fazendo carícias, com algumas “bajudas”, que mostravam o seu corpo quase nu, jovem e selvagem, com uma cara de uma tonalidade preta brilhante, bonita, com tons de chocolate, onde uns olhos, que não precisavam de qualquer pintura, pois eram bonitos e selvagens, mostravam tudo, até mistério, na cabeça traziam um lenço, que encobria uns cabelos penteados e com alguns desenhos, que não precisavam de perfume, pois já tinham o perfume natural, que era o odor da sua origem de africanas, que combinava perfeitamente com a sua beleza, trajando única e simplesmente um simples pano, com imagens de África, que as enrolava na cinta, mostrando um pouco do umbigo, e encobrindo uma pele brilhante e aveludada, que lhe vinha do ventre, onde se notava umas ancas, firmes e bonitas, e com a sua “mama firme”, que lhe dava um aspecto exótico e atraente.
Caminhavam, descalças, elegantes, quase em bicos de pés, com receio de calcar e molestar o “chão balanta”, onde nasceram, com algumas argolas servindo de enfeite, no pescoço, nos braços e nas pernas, andavam com o Cifra, mas com a devida autorização do seu pai, o “homem grande”, que confiava no Cifra, a quem chamava ”irmão”, mas que na verdade, essas “bajudas”, andavam trajadas assim, mas “não falavam mentira”, a sua boca ao pronunciar as palavras, eram um reflexo do que lhes ia no coração e na alma, eram humanas, sensíveis e carinhosas, e quando as vinha trazer de volta à tabanca, lhe agarravam nas mãos e lhe diziam, Cifra, “ca bai”, enquanto o seu pai, o “homem grande”, ia buscar um trago de aguardente de palma, dentro de um pequeno copo, feito da tal madeira de ébano preta, que a menina Teresa, queria o seu objecto, dizendo também, Cifra “ca bai”, dorme aqui, “no tabanca”!
Depois disto os comentários eram ao contrário, e tinha que suportar os assobios provocantes, e os piropos durante a sessão de cinema, pois ninguém tinha o mínimo interesse pelo filme, o importante eram as “bajudas” do Cifra, que na verdade não eram do Cifra, eram dessa Guiné um pouco selvagem e misteriosa, que naquela altura andava em guerra.
Em resumo, a menina Teresa, ao mandar os célebres vinte escudos, mostrou que “tinha esperto no cabeça”, pois comprometeu o Cifra, que não podia ignorar a encomenda, e como era ela que escrevia as cartas que a mãe Joana notava, sempre lá vinha num canto da carta, bem visível, a frase, “não te esqueças da minha encomenda”, “traz um, assim um pouco grandote”, “traz uma coisa que se veja”, “custe o que custar, compra e paga, se o dinheiro não chegar, depois eu faço as contas só contigo”, enfim, lembrava sempre.
Bem, mas continuando, o Cifra foi ver o tal marceneiro, na esperança de lhe resolver o problema que tinha entre mãos, que finalmente, depois de algumas perguntas sobre a dignidade e o sexo do Cifra, e também com um ar malicioso, acabou por aceitar a encomenda. O Cifra nunca soube onde é que ele foi procurar o modelo, pois executou um “Falo”, ou seja um “Phallus”, ou mais propriamente um “Pénis”, com uma perfeição digna de figurar num álbum de qualquer casa de arte, de Paris, Londres ou Nova Iorque, onde lá mais para a frente, quando o Cifra regressar a Portugal, contará a história da sua entrega à menina Teresa, que aí sim, foi mesmo “menina Teresa”, mas perdoem, o Cifra ainda anda envergonhado, mas já está melhor, pois está quase a "tirar este peso, que é a menina Teresa, de cima de mim", que este sim, devia ser o verdadeiro título para este texto, mas por agora, vai ficar-se por aqui.
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Nota de CV:
Vd. os últimos dez postes da série de:
1 de Dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10743: Do Ninho D'Águia até África (31): O Movimento Nacional Feminino em Mansoa (Tony Borié)
4 de Dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10759: Do Ninho D'Águia até África (32): Falsa notícia (Tony Borié)
8 de Dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10773: Do Ninho D'Águia até África (33): O Grupo do Cifra (Tony Borié)
11 de Dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10785: Do Ninho D'Águia até África (34): Aquela garotada (Tony Borié)
15 de Dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10805: Do Ninho D'Águia até África (35): Boas Festas, camaradas amigos (Tony Borié)
18 de Dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10816: Do Ninho D'Águia até África (36): O Life Boy (Tony Borié)
22 de Dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10844: Do Ninho D'Águia até África (37): Os Vinte Escudos da menina Teresa (Tony Borié)
26 de Dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10866: Do Ninho D'Águia até África (38): ...a guerra e o amor (Tony Borié)
29 de Dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10876: Do Ninho D'Águia até África (39): Passa por mim em Mansoa (Tony Borié)
1 DE JANEIRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P10887: Do Ninho D'Águia até África (40): O arame farpado (Tony Borié)
Do Ninho D'Águia até África (41)
O Cifra andava envergonhado com o que diziam no aquartelamento a respeito da sua dignidade, andava, como as pessoas dizem, “em baixo”, dava a impressão que tinha perdido o primeiro combate, não no conflito em que estava envolvido, porque todos os antigos combatentes e não só, já sabem que o Cifra era um razoável militar, mas um fraco, mesmo fraco guerreiro, estava era cansado de procurar uma solução para satisfazer a encomenda da menina Teresa, em Portugal, a tal costureira, que já tinha passado dos cinquentas, que escrevia as cartas ao Cifra, que a sua mãe Joana notava, e que pediu uma certa encomenda ao Cifra, para lhe levar da Guiné, que os amigos antigos combatentes, e não só, já sabem do que se trata, pois o Cifra já explicou em relatos anteriores, mas para os que não se lembram, era um “Falo”, ou seja um “Phallus”, ou mais propriamente um “Pénis” em madeira de ébano preta, que ela dizia que era para lhe dar melhor sorte na vida, e não se esquecem que a menina Teresa, também mandava na referida carta uma nota do Banco Portugal de vinte escudos para despesas, e como havia um marceneiro, que vivia entre a vila de Mansoa e a tabanca, que existia perto do aquartelamento com casas cobertas de colmo, perto da estrada, que naquele tempo não era mais que um carreiro, que seguia para Mansabá, o Cifra entendeu, numa última tentativa, que esse tal marceneiro talvez lhe resolvesse o problema da encomenda, pois já tinha esgotado todas as suas tentativas para encontrar o referido objecto, com o tamanho e características que a menina Teresa explicava.
O Cifra, podia ter começado este texto a falar de qualquer coisa, ou até, dar-lhe um qualquer título só para desviar a atenção, mas não, tem que desabafar nesta linguagem, que não é muito própria, é mais uma linguagem do tipo Curvas, alto e refilão, mas é uma cópia do que se passou, e com toda a certeza que vão compreender, pois na verdade a intenção do Cifra, era falar dessa vergonha, "tirar este peso, que é a menina Teresa, de cima de si", que este sim, devia de ser o verdadeiro título para este texto, e contar as peripécias porque passou para encontrar o tal objecto, que era um “pénis” em madeira de ébano preta. O Cifra vai só contar algumas das peripécias porque passou, na sua procura, armado em “FBI”, pois quando vinha à capital da província, no carro dos doentes, dava sempre uma fugida ao mercado, e tentava fazer-se compreender a alguns “Gilas”, que vendiam peças de arte em madeira de ébano preta, e como não o compreendiam ele fazia alguns gestos, que como devem compreender podiam ser considerados obscenos, pois colocava a mão nos seus órgãos genitais, a tentar fazer-se compreender, e uma vez um “Gila”, até o olhou com olhos maliciosos. Por fim fez um desenho, com todas as características que a menina Teresa pedia, e andava com esse desenho no bolso, que por azar foi parar às mãos da lavadeira, no bolso dos calções, resultado, ela guardou-o, e veio entregar ao Cifra na frente do Pastilhas, também com um ar malicioso, que logo começou com provocações, nem sempre muito abonatórias para a dignidade do Cifra. Alguns, com menos tempo de estadia no aquartelamento, que não conheciam muito bem o Cifra, mas ouviam falar da história, até diziam:
- O Cifra, anda sempre na “tabanca”, no convívio com as “bajudas”, alguma coisa está a acontecer, pois agora procura um “Pénis”, de madeira de ébano preta.
Claro, depois o Cifra explicava tudo com a carta da menina Teresa, às vezes até mostrava os vinte escudos, o que na mente de alguns, que não sabiam ler muito bem, e “não tinham esperto no cabeça”, com uma atitude assim um pouco duvidosa, até diziam:
- O Cifra quer um caral.., daqueles dos pretos, e até dá vinte escudos, daqueles dos bons, do Banco de Portugal!
Uma vez o achinesado do Life Boy até lhe disse, com um sorriso um pouco malicioso, que o Cifra nunca soube se era por bem ou por mal:
- Então, já encontraste o teu caral.., preto?
Claro, isto não era muito abonatório para a dignidade do Cifra, que não era violento, pois era um razoável militar, mas um fraco, mesmo fraco guerreiro, e era uma pessoa que não respondia a uma provocação com outra provocação. Na verdade, ficava com vontade de lhe mandar um murro no seu focinho achinesado, mas com a ajuda do Curvas, alto e refilão, do Setúbal, do Mister Hóstia, do Marafado, do Trinta e Seis, do furriel miliciano que andava sempre a fumar um cigarro feito à mão, do Arroz com Pão, e do Sargento da messe, entre outros, acabava sempre, embora com algum argumento, por clarificar essas mentes, menos crentes na dignidade do Cifra, mas custou, pois até chegou ao ponto de, para mostrar a sua masculinidade, andar a passear pela vila, e vir ao cinema, ver aqueles filmes de cowboys e índios, na sede do clube de futebol, de braço dado, e às vezes fazendo carícias, com algumas “bajudas”, que mostravam o seu corpo quase nu, jovem e selvagem, com uma cara de uma tonalidade preta brilhante, bonita, com tons de chocolate, onde uns olhos, que não precisavam de qualquer pintura, pois eram bonitos e selvagens, mostravam tudo, até mistério, na cabeça traziam um lenço, que encobria uns cabelos penteados e com alguns desenhos, que não precisavam de perfume, pois já tinham o perfume natural, que era o odor da sua origem de africanas, que combinava perfeitamente com a sua beleza, trajando única e simplesmente um simples pano, com imagens de África, que as enrolava na cinta, mostrando um pouco do umbigo, e encobrindo uma pele brilhante e aveludada, que lhe vinha do ventre, onde se notava umas ancas, firmes e bonitas, e com a sua “mama firme”, que lhe dava um aspecto exótico e atraente.
Caminhavam, descalças, elegantes, quase em bicos de pés, com receio de calcar e molestar o “chão balanta”, onde nasceram, com algumas argolas servindo de enfeite, no pescoço, nos braços e nas pernas, andavam com o Cifra, mas com a devida autorização do seu pai, o “homem grande”, que confiava no Cifra, a quem chamava ”irmão”, mas que na verdade, essas “bajudas”, andavam trajadas assim, mas “não falavam mentira”, a sua boca ao pronunciar as palavras, eram um reflexo do que lhes ia no coração e na alma, eram humanas, sensíveis e carinhosas, e quando as vinha trazer de volta à tabanca, lhe agarravam nas mãos e lhe diziam, Cifra, “ca bai”, enquanto o seu pai, o “homem grande”, ia buscar um trago de aguardente de palma, dentro de um pequeno copo, feito da tal madeira de ébano preta, que a menina Teresa, queria o seu objecto, dizendo também, Cifra “ca bai”, dorme aqui, “no tabanca”!
Depois disto os comentários eram ao contrário, e tinha que suportar os assobios provocantes, e os piropos durante a sessão de cinema, pois ninguém tinha o mínimo interesse pelo filme, o importante eram as “bajudas” do Cifra, que na verdade não eram do Cifra, eram dessa Guiné um pouco selvagem e misteriosa, que naquela altura andava em guerra.
Em resumo, a menina Teresa, ao mandar os célebres vinte escudos, mostrou que “tinha esperto no cabeça”, pois comprometeu o Cifra, que não podia ignorar a encomenda, e como era ela que escrevia as cartas que a mãe Joana notava, sempre lá vinha num canto da carta, bem visível, a frase, “não te esqueças da minha encomenda”, “traz um, assim um pouco grandote”, “traz uma coisa que se veja”, “custe o que custar, compra e paga, se o dinheiro não chegar, depois eu faço as contas só contigo”, enfim, lembrava sempre.
Bem, mas continuando, o Cifra foi ver o tal marceneiro, na esperança de lhe resolver o problema que tinha entre mãos, que finalmente, depois de algumas perguntas sobre a dignidade e o sexo do Cifra, e também com um ar malicioso, acabou por aceitar a encomenda. O Cifra nunca soube onde é que ele foi procurar o modelo, pois executou um “Falo”, ou seja um “Phallus”, ou mais propriamente um “Pénis”, com uma perfeição digna de figurar num álbum de qualquer casa de arte, de Paris, Londres ou Nova Iorque, onde lá mais para a frente, quando o Cifra regressar a Portugal, contará a história da sua entrega à menina Teresa, que aí sim, foi mesmo “menina Teresa”, mas perdoem, o Cifra ainda anda envergonhado, mas já está melhor, pois está quase a "tirar este peso, que é a menina Teresa, de cima de mim", que este sim, devia ser o verdadeiro título para este texto, mas por agora, vai ficar-se por aqui.
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Nota de CV:
Vd. os últimos dez postes da série de:
1 de Dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10743: Do Ninho D'Águia até África (31): O Movimento Nacional Feminino em Mansoa (Tony Borié)
4 de Dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10759: Do Ninho D'Águia até África (32): Falsa notícia (Tony Borié)
8 de Dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10773: Do Ninho D'Águia até África (33): O Grupo do Cifra (Tony Borié)
11 de Dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10785: Do Ninho D'Águia até África (34): Aquela garotada (Tony Borié)
15 de Dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10805: Do Ninho D'Águia até África (35): Boas Festas, camaradas amigos (Tony Borié)
18 de Dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10816: Do Ninho D'Águia até África (36): O Life Boy (Tony Borié)
22 de Dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10844: Do Ninho D'Águia até África (37): Os Vinte Escudos da menina Teresa (Tony Borié)
26 de Dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10866: Do Ninho D'Águia até África (38): ...a guerra e o amor (Tony Borié)
29 de Dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10876: Do Ninho D'Águia até África (39): Passa por mim em Mansoa (Tony Borié)
1 DE JANEIRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P10887: Do Ninho D'Águia até África (40): O arame farpado (Tony Borié)
Guiné 63/74 - P10899: Parabéns a você (519): João Meneses, ex-2.º Ten FZE RN DFE1 (Guiné, 1972); Ricardo Figueiredo, ex-Fur Mil da 2.ª C.ª/BART 6523 (Guiné, 1973/74) e Valentim Oliveira, ex-Sold Cond Auto da CCAV 489/BCAV 490 (Guiné, 1963/65)
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 2 DE JANEIRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P10888: Parabéns a você (518): Carlos Marques Santos, ex-Fur Mil da CART 2339 (Guiné, 1968/69)
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 2 DE JANEIRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P10888: Parabéns a você (518): Carlos Marques Santos, ex-Fur Mil da CART 2339 (Guiné, 1968/69)
sexta-feira, 4 de janeiro de 2013
Guiné 63/74 - P10898: Em busca de ... (212): Notícias do Comandante da CCAÇ 728, um Tenente à data do desembarque (Liberal Correia)
1. Mensagem do nosso camarada Liberal Correia (ex-Fur Mil da CART 676, Pirada, Bajocunda e Paunca, 1964/66), com data de 28 de Outubro de 2012:
Boa tarde
Ao ler o post acerca da 728, vieram as recordações.Eu e o alferes Correia da Cart 676, quando da chegada a Bissau da Ccaç 728, fomos a bordo para informar o cmdt que eles, 728, iriam nos substituir no Batalhão 600 e seriam colocados no sul e não na área de Bafatá para onde parece que estavam destinados.
Nós os da 676 é que iríamos, e fomos, para Pirada, Bajocunda e Paunca...
Estou a ver a cara do cmdt da Ccaç 728, era um tenente que julgo ter estado na Índia, ficou furioso (?) melhor, desagrado com a notícia.
Não me recordo do nome desse Tenente, mas recordo que, segundo o jornal da caserna teria pedido a demissão do Exército.
Alguém da 728 se lembra deste episódio?
Qual o nome do tenente ao tempo cmdt da Ccaç 728?
Será que fez parte do 25 de Abril?
Cumprimentos do
Liberal Correia
Fur Mil
Cart 676
liberalcorreia@hotmail.com
2. Comentário de CV:
Caro camarada Liberal Correia.
O nosso editor Luís Graça reencaminhou ontem para a minha caixa de correio esta tua mensagem de Outubro do ano passado. Tarde sim, mas vai ter resposta e dela (mensagem) ser dado conhecimento público.
Vamos relembrar que pertenceste à CART 676, és amigo do nosso camarada Mário Fitas, Fur Mil da CCAÇ 763, vives no Canadá e tens já duas entradas neste Blogue respeitantes aos postes P3819 e P7894.
Quando falas da CCAÇ 728, julgo estares a referir-te aos postes do nosso camarada J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil desta CCAÇ.
Entretanto, consultando o 7.º Volume - Fichas das Unidades - Tomo II - Guiné, da Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974), encontramos 3 Comandantes da CCAÇ 728, todos com o posto de Capitão, a saber: António Proença Varão, Ramiro José Marcelino Mourato e Amândio Oliveira da Silva.
Vamos ver se o camarada Mendes Gomes pode responder às tuas interrogações.
Já que estamos com a mão na "massa", em nome do Luís, convido-te a aderires à nossa tertúlia. De que precisamos? Da tua vontade de te juntares a nós, de uma foto do teu tempo da farda amarela, já que a actual está em cima como podes ver, de te dispores a contar uma ou outra memória ainda viva, assim como do envio de fotos relativas à Guiné do teu tempo e dos camaradas que contigo viveram o quase início da guerra.
Esperamos as tuas próximas notícias na expectativa de te passarmos a ter como, não mais um tertuliano, mas como mais um camarada e amigo, mais um elemento desta enorme família.
Recebe um abraço dos editores e desta tertúlia que te espera.
O teu camarada
Carlos Vinhal
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 31 DE DEZEMBRO DE 2012 > Guiné 63/74 - P10885: Em busca de ... (211): O ex-Alf Mil Médico João Calheiros Lobo, procura camaradas do HM 241 do ano de 1970
Guiné 63/74 - P10897: Agenda cultural (246): Exposição, em Odivelas, na biblioteca municipal D. Dinis, de 4 a 20 de janeiro de 2013, " Regimento de Engenharia nº 1 - 200 anos a servir Portugal" (José Martins)
Exposição “Regimento de Engenharia nº 1 - 200 Anos a servir Portugal”, patente, de 4 a 20 de janeiro de 2013, em Odivelas, Biblioteca Municipal D. Dinis.
Data: 4 a 20 de janeiro
Hora: 10h30 às 18h30 - Ter. a Sex. | 10h30 às 17h30 - Sáb.
Local: Biblioteca Municipal D. Dinis
Informações:
Tel.: 219 320 770 - Divisão de Cultura, Turismo, Património Cultural e Bibliotecas
Biblioteca Municipal D. Dinis
bmdd@cm-odivelas.pt
cultura@cm-odivelas.pt
Inauguração dia 4 de janeiro – 16h00
A exposição Regimento de Engenharia nº 1 - 200 anos a servir Portugal procura sintetizar o percurso histórico do Regimento de Engenharia nº 1 (RE 1) , desde a sua origem em 24 de Outubro de 1812 até aos dias de hoje, integrando-o no contexto da história de Portugal.
Os marcos históricos mais relevantes são os seguintes:
(i) Origem do Regimento de Engenharia nº 1
(ii) Guerra Peninsulares
(iii) I Guerra Mundial e a importância do Batalhão de Sapadores de Caminhos-de-ferro
(iv) Mobilização na 2ª Guerra Mundial – Trabalhos no Açores
(v) Guerra do Ultramar
(vi) Revolta Militar de 25 de Abril de 1974
Esta exposição, comemorativa do bicentenário do RE 1, é composta por painéis, livros e fardas que abordam os principais marcos da história do Regimento desde a criação do Batalhão de Artífices Engenheiros em 24 de outubro 1812.
Elementos informativos pelo nosso camarada e colaborador permanente José Martins [, foto á esquerda, Odivelas, 2006]
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Nota do editor:
Último poste da série > 3 de janeiro de 2013 > Guiné 63/74 - P10892: Agenda cultural (245): TSF, Grande Reportagem, hoje, às 19h00: "Sem panela, não se coze arroz" (reportagem de João Janes, com sonorização de João Félix Pereira)
Guiné 63/74 - P10896: Álbum fotográfico do ex- fur mil José Carlos Lopes, amanuense do conselho administrativo da CCS/BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70) (5): Algumas fotos algo insólitas (Parte I)
Foto nº 38 > Ponte do Rio Udunduma, na estrada Xime-Bambadinca > Possivelmente no(s) dia(s) seguinte(s) ao ataque ao quartel de Bambadinca, em 28 de maio de 1969. Nessa noite, esta ponte, vital para as comunicações com todo o leste da província, foi objeto do "trabalho" dos sapadores do PAIGC... Os estragos, embora visíveis, não abalaram a sua estrutura. Era uma bela ponte, em cimento armado, construída no início dos anos 50. Esta foto é "histórica". O José Carlos Lopes posou aqui para... a "posteridade".
O nossos grã-tabanqueiro Carlos Marques Santos (ex-Fur Mil, CART 2339, Fá e Mansambo, 1968/69) já aqui disse que foi o primeiro a avançar, para a Ponte do Rio Udunduma, logo no dia 29 de Maio de 1969, com o 3º Gr Comb da sua companhia, vindo em marcha forçada de Mansambo...
Eu próprio passei por esta ponte, juntamente com os meus camaradas da CCAÇ 2590/CCAÇ 12, desembarcados de LDG no Xime, no dia 2 de junho de 1969, a caminho do Centro de Instrução Militar de Contuboel, com paragem em Bambadinca. Recordo-te de ter visitado um dos quartos dos furriéis, atingido por uma granada de morteiro. O Lopes dormia nesse quarto. E guarda, como "precioso recuerdo" o lençol da sua cama, que ficou nessa noite crivado de estilhaços... Felizmente tinha-se levantado da cama ao primeiro disparo de morteiro... O segundo morteiro acertou em cheio no edíficio onde furrieis e sargentos dormiam...
Recorde-se que na história do BCAÇ 2852, o ataque a Bambadinca é dado em três linhas, em estilo telegráfico: "Em 28 [de Maio de 1969], às 00H25, um Gr In de mais de 100 elementos flagelou com 3 Can s/r, Mort 82, LGF, ML, MP e PM, durante cerca de 40 minutos, o aquartelamento de Bambadinca, causando 2 feridos ligeiros".
Foto nº 164 > Quartel de Bambadinca (?) > Um jagudi, postado num poste de cibe que sustentava o arame farpado. Nome científico deste abutre africano: Necrosyrtes Monachus
Foto nº 51 > Quartel de Bambadinca > março de 1969 > Placa dos helis > Abastecimento de um dos vários helis que estiveram envolvidos na famosa Op Lança Afiada (8-19 de março de 1969)... O Lopes é o primeiro do lado direito. Nessa época estimava-se em 15 contos (!) o custo por hora de um heli no TO da Guiné... Um "arma cara", diz-se no relatório da Op Lança Afiada.
Foto nº 296 > Porto fluvial de Bambadinca > Uma "descarregamento" de tugas...
Foto nº 196 > Pôr do sol sobre o Rio Geba Estreita, em Bambadinca, Foto tirada do porto fluvial.
Foto nº 252 > Bambadinca: conjunto messe e quartos de oficiais e sargentos ... A simpática visita de um grou coroado (Balearica pavonina), se não me engano... [A ave parece-me estar ferida; os grous abundavam na grande bolanha de Bambadinca; a foto foi seguramente tirada na 2ª metade do ano de 1969, a avaliar pela fiada de bidões cheios de areia que protegiam o acesso aos quartos e à messe de oficiais, colocados depois do ataque a Bambadinca, em 28 de maio de 1969]
Guiné > Zona Leste > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (19568/70) > Mais algumas fotos, algo insólitas, do álbum o José Carlos Lopes, ex-fur mil amanuense, com a especialidade de contabilidade e pagadoria.
Mais uma vez agradeço ao meu camarada Lopes (, estivemos juntos em Bambadinca, de julho de 1969 a maio de 1970, ) o ter autorizado a publicação destas fotos do seu álbum, enquanto aguardo o envio de uma foto sua, atual, para o poder apresentar à Tabanca Grande como novo membro (desejaria que fosse o primeiro de 2013).
As fotos não trazem legendas. Espero um dia destes poder estar com o Lopes, que vive em Linda a Velha, para falar do seu álbum e tirar dúvidas, o que só temos podido fazer ao telefone. (LG)
PS - Sei que o Lopes não guarda as melhores recordações de Bambadinca... Daí a sua relutância em revisitar o passado, rever inclusive as suas fotos... Mas sobre o nosso blogue e a comunidade virtual (a Tabanca Grande) que lhe está associada, eu lembrar-lhe-ia aqui as palavras do nosso poeta Manuel Maia (de quem, de resto, não temos tido notícias; para ele um afetuoso Alfa Bravo e votos de melhores dias em 2013):
Bem dentro deste espaço de liberdade,
que ajuda a mitigar nossa saudade,
Luís Graça & Camaradas da Guiné...
Há laços, inquebráveis, solidários,
nascidos de vivências e fadários,
comuns a todos nós, creiam que é...
(...) Num blogue que congrega ao seu redor,
num misto de saudade e até de amor
pela terra ocre-amarela, um batalhão...
Amigo traz amigo e amigo fica
enquanto um outro amigo fica à bica
e bate à porta n'outra ocasião...
Guiné > Zona Leste > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (19568/70) > Mais algumas fotos, algo insólitas, do álbum o José Carlos Lopes, ex-fur mil amanuense, com a especialidade de contabilidade e pagadoria.
Mais uma vez agradeço ao meu camarada Lopes (, estivemos juntos em Bambadinca, de julho de 1969 a maio de 1970, ) o ter autorizado a publicação destas fotos do seu álbum, enquanto aguardo o envio de uma foto sua, atual, para o poder apresentar à Tabanca Grande como novo membro (desejaria que fosse o primeiro de 2013).
As fotos não trazem legendas. Espero um dia destes poder estar com o Lopes, que vive em Linda a Velha, para falar do seu álbum e tirar dúvidas, o que só temos podido fazer ao telefone. (LG)
PS - Sei que o Lopes não guarda as melhores recordações de Bambadinca... Daí a sua relutância em revisitar o passado, rever inclusive as suas fotos... Mas sobre o nosso blogue e a comunidade virtual (a Tabanca Grande) que lhe está associada, eu lembrar-lhe-ia aqui as palavras do nosso poeta Manuel Maia (de quem, de resto, não temos tido notícias; para ele um afetuoso Alfa Bravo e votos de melhores dias em 2013):
Bem dentro deste espaço de liberdade,
que ajuda a mitigar nossa saudade,
Luís Graça & Camaradas da Guiné...
Há laços, inquebráveis, solidários,
nascidos de vivências e fadários,
comuns a todos nós, creiam que é...
(...) Num blogue que congrega ao seu redor,
num misto de saudade e até de amor
pela terra ocre-amarela, um batalhão...
Amigo traz amigo e amigo fica
enquanto um outro amigo fica à bica
e bate à porta n'outra ocasião...
Fotos: © José Carlos Lopes (2013). Todos os direitos reservados. (Editadas e legendadas por L.G.)
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Nota do editor:
Guiné 63/74 - P10895: Notas de leitura (446): "Alpoim Calvão, Honra e Dever", por Rui Hortelão, Luís Sanches de Baêna e Abel Melo e Sousa (1) (Mário Beja Santos)
1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 13 de Novembro de 2012:
Queridos amigos,
O comandante Alpoim Calvão volta a ser notícia, acaba de sair uma obra que procura documentar o fuzileiro destemido, o estratega e o ex-combatente que regressa à Guiné movido pela sigla “por uma Guiné melhor”.
Este extenso documentário sobre a sua vida não lhe poupa elogios e vale a pena ler com cuidado os documentos que apensa.
Como é óbvio, o teor das recensões contempla as suas comissões na Guiné, onde se cobriu de glória, e o seu regresso a um território que lhe é profundamente caro para montar negócios e criar riqueza.
Um abraço do
Mário
“Alpoim Calvão, honra e dever” (1)
Beja Santos
“Alpoim Calvão, honra e dever”, por Rui Hortelão, Luís Sanches de Baêna e Abel Melo e Sousa (Caminhos Romanos, 2012) é um detalhado itinerário curricular do militar mais condecorado da Marinha Portuguesa. Podemos acompanhar o seu percurso de Chaves para Moçambique, conhecer-lhe as primeiras amizades e o seu gosto musical, vemo-lo a tirar o seu curso, a especializar-se em submersíveis, depois dos fuzileiros, depois de ter pedido ao almirante Roboredo e Silva, na altura chefe do Estado-Maior da Armada que queria ir combater, “mas quero ir combater para a Guiné, que me parece ser o teatro operacional para o qual os fuzileiros estão mais bem equipados e vocacionados”. Mais tarde, em 1967, Calvão assumirá as funções de diretor de instrução da Escola de Fuzileiros, fazendo uma revisão dos manuais escolares de acordo com a doutrina ditada pela experiência. Em meados de Setembro de 1963, são criados os DFE nº 6, 7 e 8. Calvão tinha já terminado o curso de Fuzileiros Especiais e é nomeado comandante do DFE 8, destinado à Guiné, onde chegará no princípio de Novembro. 11 dias sobre a chegada, o DFE 8 logo recebe o seu batismo de fogo durante a operação Júpiter, na região de Jabadá. No entanto, é apenas durante a operação Trevo, que tem lugar de 25 a 29 de Novembro em Darsalame, península do Cubisseco, o destacamento entra em combate.
O acontecimento primordial é a participação destes fuzileiros na operação Tridente. É aqui, em função da violência dos acontecimentos, que Calvão passa para as memórias que nunca chegou a publicar, páginas de ouro de literatura de guerra, estamos em 20 de janeiro de 1964:
“Às 09:00, saí do estacionamento acompanhado pelo comandante Costa Santos, que ia como observador, e levando sob o meu comando cerca de 30 homens para fazer um reconhecimento armado a Curcô. Quando nos aproximámos da tabanca grande de Cauane, avistámos um grupo de 9 ou 10 homens armados que recuaram para a orla da mata. Fiz avançar a secção C, em linha, em direção a esta e, a cerca de 50 metros, rebentou um violento tiroteio que obrigou a secção a fixar-se ao terreno. Ordenei à secção B que tentasse um envolvimento pela nossa direita, tendo o IN descaído um pouco para a esquerda, fixando também a secção B, que entretanto conseguira atingir a mata.
Eu procurava manter-me em pé, junto a esta secção, tentando proteger-me atrás de uma palmeira de maneira a poder ver a situação tática. Vi o inimigo deslocar pequenos grupos para a minha esquerda, em avanços pequenos e rápidos apesar do fogo continuar intensíssimo de parte a parte. Calculei os seus efetivos em cerca de 100 homens, o que lhe dava grande superioridade numérica e naturais possibilidades de manobra. Fiz então avançar no estacionamento a secção D, comandada pelo meu imediato, o bravo 2º tenente José Manuel Malhão Pereira, ao mesmo tempo que penetrei na mata com a secção C.
Pelas 11:10, o imediato tinha conseguido flanquear o IN, que durante algum tempo ficou estático, mas logo a seguir pressionou a minha secção redobrando o fogo, o que me obrigou a recuar alguns metros. Este movimento, se bem que tecnicamente bem executado, custou-me a morte do 1º grumete Manuel dos Santos Barraca.
Imediatamente, da linha inimiga se destacaram alguns vultos que tentaram ultrapassar os poucos metros que nos separavam a fim de se apoderaram do corpo e respetiva arma, o que seria um bom troféu de propaganda. Quase simultaneamente lançaram-se para a frente o sargento Manuel da Costa André e o marinheiro Domingos António Botelho em direção ao camarada caído, indiferentes ao chuveiro de balas que granizava abundantemente, apenas preocupados em socorrer o irmão de armas. E, qual sólido roble, com uma G3 debaixo de cada braço, o grumete Abrantes Pinto, de pé e completamente a descoberto, cobria o avanço do André e do Botelho com o fogo das suas armas! Tudo se passava a escassos metros de mim que, apesar das minhas funções de comandante me obrigarem a abarcar toda a zona de ação, não pude deixar de observar com um misto de espanto e orgulho o gesto daqueles homens. Quando alcançaram o Barraca e iniciaram a sua evacuação, o Botelho foi atingido mortalmente e caiu redondo no chão. Então, a minha gente, espontaneamente, sem necessidade da mínima ordem, carregou energeticamente e estabeleceu o perímetro de forma a incluir o local onde se encontravam os dois camaradas mortos e o sargento André que não recuava um centímetro. Não fiz mais do que os acompanhar, extremamente grato pela sua coragem”.
A vida operacional do DFE 8 torna-se imparável, após este comportamento valoroso na Tridente. Os feitos repetem-se. Logo a operação Hitler, no início de Maio, dois botes são colocados à entrada do rio Kadigné com a missão de intercetarem eventuais barcos inimigos e foi enviado um grupo a emboscar nos rios Camexibó e Nhafuane. A operação é suspensa devido às condições meteorológicas. Em 23 de Maio é montada uma grande emboscada a uma lancha do inimigo que consegue sair da zona de morte. Segue-se um golpe de mão sobre a tabanca de Cafal, perto do rio Cumbijã. Em Setembro tem lugar a operação Tornado efetuada no Cantanhez. Na operação Hidra ataca-se com sucesso o barco Mirandela, ano e meio antes apreendido pelo PAIGC. Enfim, o DFE 8 torna-se useiro e vezeiro em atuações no sul da Guiné. Vai fazendo propostas aos seus superiores: que se crie um tipo de cantil de plástico; que se substituam com urgência os botes de borracha muito pesados e mal acabados; que substituam as bússolas por outras com agulhas líquidas. Em Maio de 1965, tem lugar na região de Concolin a operação Marquês, um verdadeiro sucesso. Condecorações e louvores chovem para o DFE 8, que termina a sua missão em finais de Outubro de 1965. Calvão é condecorado com a medalha de Valor Militar Ouro, vai ser colocado na Escola de Fuzileiros, passa a colaborar regularmente no Jornal de Notícias e em finais de 1966 é nomeado para frequentar o curso geral naval de guerra. Em Março de 1967, Calvão torna-se diretor de instrução da Escola de Fuzileiros e comandante das Instalações Navais de Vale de Zebro. Um desaguisado com um colega leva a que os seus superiores o punam com uma repreensão agravada e recebe guia de marcha para o Comando de Defesa Marítima da Guiné, é adjunto do comandante. Encontra-se com Spínola no aeroporto e trocam cumprimentos galhardos. Pede para entrar em funções, é nomeado comandante do COP4, em Buba, nomeação curta, cabe-lhe a responsabilidade da força naval do rio grande Buba. E assim vai começar um novo período de atos destemidos que irão culminar na sua conceção e execução da operação Mar Verde.
(Continua)
____________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 31 DE DEZEMBRO DE 2012 > Guiné 63/74 - P10882: Notas de leitura (445): "Diário da Guerra Colonial - Guiné 1966-1968", por Luís de Matos (2) (Mário Beja Santos)
Queridos amigos,
O comandante Alpoim Calvão volta a ser notícia, acaba de sair uma obra que procura documentar o fuzileiro destemido, o estratega e o ex-combatente que regressa à Guiné movido pela sigla “por uma Guiné melhor”.
Este extenso documentário sobre a sua vida não lhe poupa elogios e vale a pena ler com cuidado os documentos que apensa.
Como é óbvio, o teor das recensões contempla as suas comissões na Guiné, onde se cobriu de glória, e o seu regresso a um território que lhe é profundamente caro para montar negócios e criar riqueza.
Um abraço do
Mário
“Alpoim Calvão, honra e dever” (1)
Beja Santos
“Alpoim Calvão, honra e dever”, por Rui Hortelão, Luís Sanches de Baêna e Abel Melo e Sousa (Caminhos Romanos, 2012) é um detalhado itinerário curricular do militar mais condecorado da Marinha Portuguesa. Podemos acompanhar o seu percurso de Chaves para Moçambique, conhecer-lhe as primeiras amizades e o seu gosto musical, vemo-lo a tirar o seu curso, a especializar-se em submersíveis, depois dos fuzileiros, depois de ter pedido ao almirante Roboredo e Silva, na altura chefe do Estado-Maior da Armada que queria ir combater, “mas quero ir combater para a Guiné, que me parece ser o teatro operacional para o qual os fuzileiros estão mais bem equipados e vocacionados”. Mais tarde, em 1967, Calvão assumirá as funções de diretor de instrução da Escola de Fuzileiros, fazendo uma revisão dos manuais escolares de acordo com a doutrina ditada pela experiência. Em meados de Setembro de 1963, são criados os DFE nº 6, 7 e 8. Calvão tinha já terminado o curso de Fuzileiros Especiais e é nomeado comandante do DFE 8, destinado à Guiné, onde chegará no princípio de Novembro. 11 dias sobre a chegada, o DFE 8 logo recebe o seu batismo de fogo durante a operação Júpiter, na região de Jabadá. No entanto, é apenas durante a operação Trevo, que tem lugar de 25 a 29 de Novembro em Darsalame, península do Cubisseco, o destacamento entra em combate.
O acontecimento primordial é a participação destes fuzileiros na operação Tridente. É aqui, em função da violência dos acontecimentos, que Calvão passa para as memórias que nunca chegou a publicar, páginas de ouro de literatura de guerra, estamos em 20 de janeiro de 1964:
“Às 09:00, saí do estacionamento acompanhado pelo comandante Costa Santos, que ia como observador, e levando sob o meu comando cerca de 30 homens para fazer um reconhecimento armado a Curcô. Quando nos aproximámos da tabanca grande de Cauane, avistámos um grupo de 9 ou 10 homens armados que recuaram para a orla da mata. Fiz avançar a secção C, em linha, em direção a esta e, a cerca de 50 metros, rebentou um violento tiroteio que obrigou a secção a fixar-se ao terreno. Ordenei à secção B que tentasse um envolvimento pela nossa direita, tendo o IN descaído um pouco para a esquerda, fixando também a secção B, que entretanto conseguira atingir a mata.
Eu procurava manter-me em pé, junto a esta secção, tentando proteger-me atrás de uma palmeira de maneira a poder ver a situação tática. Vi o inimigo deslocar pequenos grupos para a minha esquerda, em avanços pequenos e rápidos apesar do fogo continuar intensíssimo de parte a parte. Calculei os seus efetivos em cerca de 100 homens, o que lhe dava grande superioridade numérica e naturais possibilidades de manobra. Fiz então avançar no estacionamento a secção D, comandada pelo meu imediato, o bravo 2º tenente José Manuel Malhão Pereira, ao mesmo tempo que penetrei na mata com a secção C.
Pelas 11:10, o imediato tinha conseguido flanquear o IN, que durante algum tempo ficou estático, mas logo a seguir pressionou a minha secção redobrando o fogo, o que me obrigou a recuar alguns metros. Este movimento, se bem que tecnicamente bem executado, custou-me a morte do 1º grumete Manuel dos Santos Barraca.
Imediatamente, da linha inimiga se destacaram alguns vultos que tentaram ultrapassar os poucos metros que nos separavam a fim de se apoderaram do corpo e respetiva arma, o que seria um bom troféu de propaganda. Quase simultaneamente lançaram-se para a frente o sargento Manuel da Costa André e o marinheiro Domingos António Botelho em direção ao camarada caído, indiferentes ao chuveiro de balas que granizava abundantemente, apenas preocupados em socorrer o irmão de armas. E, qual sólido roble, com uma G3 debaixo de cada braço, o grumete Abrantes Pinto, de pé e completamente a descoberto, cobria o avanço do André e do Botelho com o fogo das suas armas! Tudo se passava a escassos metros de mim que, apesar das minhas funções de comandante me obrigarem a abarcar toda a zona de ação, não pude deixar de observar com um misto de espanto e orgulho o gesto daqueles homens. Quando alcançaram o Barraca e iniciaram a sua evacuação, o Botelho foi atingido mortalmente e caiu redondo no chão. Então, a minha gente, espontaneamente, sem necessidade da mínima ordem, carregou energeticamente e estabeleceu o perímetro de forma a incluir o local onde se encontravam os dois camaradas mortos e o sargento André que não recuava um centímetro. Não fiz mais do que os acompanhar, extremamente grato pela sua coragem”.
A vida operacional do DFE 8 torna-se imparável, após este comportamento valoroso na Tridente. Os feitos repetem-se. Logo a operação Hitler, no início de Maio, dois botes são colocados à entrada do rio Kadigné com a missão de intercetarem eventuais barcos inimigos e foi enviado um grupo a emboscar nos rios Camexibó e Nhafuane. A operação é suspensa devido às condições meteorológicas. Em 23 de Maio é montada uma grande emboscada a uma lancha do inimigo que consegue sair da zona de morte. Segue-se um golpe de mão sobre a tabanca de Cafal, perto do rio Cumbijã. Em Setembro tem lugar a operação Tornado efetuada no Cantanhez. Na operação Hidra ataca-se com sucesso o barco Mirandela, ano e meio antes apreendido pelo PAIGC. Enfim, o DFE 8 torna-se useiro e vezeiro em atuações no sul da Guiné. Vai fazendo propostas aos seus superiores: que se crie um tipo de cantil de plástico; que se substituam com urgência os botes de borracha muito pesados e mal acabados; que substituam as bússolas por outras com agulhas líquidas. Em Maio de 1965, tem lugar na região de Concolin a operação Marquês, um verdadeiro sucesso. Condecorações e louvores chovem para o DFE 8, que termina a sua missão em finais de Outubro de 1965. Calvão é condecorado com a medalha de Valor Militar Ouro, vai ser colocado na Escola de Fuzileiros, passa a colaborar regularmente no Jornal de Notícias e em finais de 1966 é nomeado para frequentar o curso geral naval de guerra. Em Março de 1967, Calvão torna-se diretor de instrução da Escola de Fuzileiros e comandante das Instalações Navais de Vale de Zebro. Um desaguisado com um colega leva a que os seus superiores o punam com uma repreensão agravada e recebe guia de marcha para o Comando de Defesa Marítima da Guiné, é adjunto do comandante. Encontra-se com Spínola no aeroporto e trocam cumprimentos galhardos. Pede para entrar em funções, é nomeado comandante do COP4, em Buba, nomeação curta, cabe-lhe a responsabilidade da força naval do rio grande Buba. E assim vai começar um novo período de atos destemidos que irão culminar na sua conceção e execução da operação Mar Verde.
(Continua)
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 31 DE DEZEMBRO DE 2012 > Guiné 63/74 - P10882: Notas de leitura (445): "Diário da Guerra Colonial - Guiné 1966-1968", por Luís de Matos (2) (Mário Beja Santos)
quinta-feira, 3 de janeiro de 2013
Guiné 63/74 - P10894: Convívios (488): A tertúlia da Tabanca de Matosinhos, sempre activa (José Teixeira)
1. Mensagem do nosso camarada José Teixeira (ex-1.º Cabo Enf.º da CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatá e Empada, 1968/70), com data de 2 de Janeiro de 2013:
Caríssimos editores e amigos
Com votos de continuação de um Bom Ano para vocês e para o nosso blogue, junto um texto e fotografias sobre a Tertúlia da Tabanca de Matosinhos.
Abraço fraterno do
Zé Teixeira
A TERTÚLIA DA TABANCA DE MATOSINHOS, SEMPRE ACTIVA
Semanalmente à Quarta-Feira, desde Maio de 2005, um grupo de combatentes da Guiné, vai dar duas de conversa na Tertúlia da Tabanca de Matosinhos e aproveita para dar o gosto ao dente no Restaurante Milho Rei em Matosinhos.
Por volta do meio-dia, começam a surgir os convivas. Ali à porta do restaurante juntam-se por, vezes aos magotes.
Quase todas as semanas há “caras novas” com novidades. Ou porque estiveram em tal sítio, onde por lá passou também um ou outro conviva habitual, o que gera logo ali conversa que vai durar e alastrar a outros convivas até ao fim do repasto; ou porque se encontra um velho camarada que nunca mais se voltou a ver, desde a passagem à “peluda” e de repente surge ali como por encanto para um aperta costelas bem sentido; Ou porque foram no mesmo barco e passaram pelas mesmas tabancas. Uns andaram pelo Norte, outros pelo Sul ou pelo Leste. Possivelmente não se cruzaram no terreno mas conhecem os locais, as mesmas pessoas nativas, com quem conviveram. Combatentes da Metrópole ou naturais da Guiné, ligações afetivas que com o tempo se perderam.
Todos conhecem bem os locais de alto risco, que aqui ou ali trilharam, o que aliás, eram comuns em todo o território. Tudo o que foi vivido pelos combatentes na Guiné é tema de conversa num retorno ao passado, que teima em “navegar” nas nossas mentes.
Este iniciar de “hostilidades” à porta do restaurante prolonga-se no interior. A conversa é como “as cerejas”. Alarga-se e prolonga-se. O tempo parece que voa no meio dos copos que se esvaziam - à nossa saúde!
As histórias repetem-se e revivem-se como se fossem passadas hoje. Contam-se cenas que os estranhos ao processo chamariam de mirabolantes, mas que foram realidades concretas e vivenciadas por todos nós. Por tal razão são ouvidas e partilhadas pelos presentes com profundo respeito. Talvez reflitam um certo romantismo em resultado do tempo que passou e de algum modo libertou da carga dramática em que se viveram, mas não deixam de ser o retrato fiel de acontecimentos verdadeiros, que, só quem por lá passou compreende verdadeiramente.
Nota-se nos que ali vão pela primeira vez, a emotividade própria de quem ainda, talvez por falta de alguém com quem desabafar, não se libertou da carga emotiva que os acontecimentos lhe provocaram.
Mudam-se os tempos, alteram-se as condições sociais e económicas, surgem preocupações novas, com que nunca se sonhou, mas a Tertúlia da Tabanca de Matosinhos continua.
Há quem faça deste local ponto de encontro dos seus amigos da Guiné, para festejar a sua amizade selada nas bolanhas.
Há quem faça deste local ponto de encontro para no seu aniversário, festejar a vida, com os seus amigos.
Há quem faça ponto de honra. Todas as Quartas-Feiras ali se encontrar com os seus amigos.
Transformamos a sala do restaurante numa caserna, com a sua linguagem caraterística, os “dichotes” e as “partidas” que a ninguém ofendem e só servem para animar a malta e nos fazer sentir mais jovens.
Desta vez, apareceu por cá o já nosso conhecido Grupo de Bedanda, para celebrar a fraternidade que se alimenta na quadra natalícia, com a sua alegria peculiar, a sua forma de viver a amizade muito própria. Apareceram em tempos, para ver como era e logo ficaram. Alargaram o grupo, ou será que o grupo se criou e solidificou de forma natural?!
De vez em quando aparecem em magote e animam a malta. Para não correrem risco de saúde trazem médicos aos pares.
A Tabanca de Matosinhos continua a ser uma porta aberta para os combatentes.
José Teixeira
Desta vez o grupo de Bedanda por precaução trouxe uma dupla de médicos – Os Drs. Mário Bravo e Amaral Bernardo
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 18 DE DEZEMBRO DE 2012 > Guiné 63/74 - P10818: Convívios (487): Uma viagem por terras da Lusitânia (José Câmara)
Caríssimos editores e amigos
Com votos de continuação de um Bom Ano para vocês e para o nosso blogue, junto um texto e fotografias sobre a Tertúlia da Tabanca de Matosinhos.
Abraço fraterno do
Zé Teixeira
A TERTÚLIA DA TABANCA DE MATOSINHOS, SEMPRE ACTIVA
Semanalmente à Quarta-Feira, desde Maio de 2005, um grupo de combatentes da Guiné, vai dar duas de conversa na Tertúlia da Tabanca de Matosinhos e aproveita para dar o gosto ao dente no Restaurante Milho Rei em Matosinhos.
Por volta do meio-dia, começam a surgir os convivas. Ali à porta do restaurante juntam-se por, vezes aos magotes.
Quase todas as semanas há “caras novas” com novidades. Ou porque estiveram em tal sítio, onde por lá passou também um ou outro conviva habitual, o que gera logo ali conversa que vai durar e alastrar a outros convivas até ao fim do repasto; ou porque se encontra um velho camarada que nunca mais se voltou a ver, desde a passagem à “peluda” e de repente surge ali como por encanto para um aperta costelas bem sentido; Ou porque foram no mesmo barco e passaram pelas mesmas tabancas. Uns andaram pelo Norte, outros pelo Sul ou pelo Leste. Possivelmente não se cruzaram no terreno mas conhecem os locais, as mesmas pessoas nativas, com quem conviveram. Combatentes da Metrópole ou naturais da Guiné, ligações afetivas que com o tempo se perderam.
Todos conhecem bem os locais de alto risco, que aqui ou ali trilharam, o que aliás, eram comuns em todo o território. Tudo o que foi vivido pelos combatentes na Guiné é tema de conversa num retorno ao passado, que teima em “navegar” nas nossas mentes.
Este iniciar de “hostilidades” à porta do restaurante prolonga-se no interior. A conversa é como “as cerejas”. Alarga-se e prolonga-se. O tempo parece que voa no meio dos copos que se esvaziam - à nossa saúde!
As histórias repetem-se e revivem-se como se fossem passadas hoje. Contam-se cenas que os estranhos ao processo chamariam de mirabolantes, mas que foram realidades concretas e vivenciadas por todos nós. Por tal razão são ouvidas e partilhadas pelos presentes com profundo respeito. Talvez reflitam um certo romantismo em resultado do tempo que passou e de algum modo libertou da carga dramática em que se viveram, mas não deixam de ser o retrato fiel de acontecimentos verdadeiros, que, só quem por lá passou compreende verdadeiramente.
Nota-se nos que ali vão pela primeira vez, a emotividade própria de quem ainda, talvez por falta de alguém com quem desabafar, não se libertou da carga emotiva que os acontecimentos lhe provocaram.
Mudam-se os tempos, alteram-se as condições sociais e económicas, surgem preocupações novas, com que nunca se sonhou, mas a Tertúlia da Tabanca de Matosinhos continua.
Há quem faça deste local ponto de encontro dos seus amigos da Guiné, para festejar a sua amizade selada nas bolanhas.
Há quem faça deste local ponto de encontro para no seu aniversário, festejar a vida, com os seus amigos.
Há quem faça ponto de honra. Todas as Quartas-Feiras ali se encontrar com os seus amigos.
Transformamos a sala do restaurante numa caserna, com a sua linguagem caraterística, os “dichotes” e as “partidas” que a ninguém ofendem e só servem para animar a malta e nos fazer sentir mais jovens.
Desta vez, apareceu por cá o já nosso conhecido Grupo de Bedanda, para celebrar a fraternidade que se alimenta na quadra natalícia, com a sua alegria peculiar, a sua forma de viver a amizade muito própria. Apareceram em tempos, para ver como era e logo ficaram. Alargaram o grupo, ou será que o grupo se criou e solidificou de forma natural?!
De vez em quando aparecem em magote e animam a malta. Para não correrem risco de saúde trazem médicos aos pares.
A Tabanca de Matosinhos continua a ser uma porta aberta para os combatentes.
José Teixeira
Aspeto geral da sala, vendo-se o Grupo de Bedanda que veio festejar o Natal na Tabanca.
Desta vez o grupo de Bedanda por precaução trouxe uma dupla de médicos – Os Drs. Mário Bravo e Amaral Bernardo
Vem os velhos e os novos...
... e os mais novos
O Batista (morto vivo ) e o João Rebola parece que estão felizes!
Mais um grupo que nunca falha
Gente de Bedanda
O Carvalho e Zé Manel amigos de peito desde Mampatá, mais o Xico Allen
Os Presidentes da Tabanca Pequena ONGD – Álvaro Basto da MAG e Moutinho Santos do C.A.
____________Nota de CV:
Vd. último poste da série de 18 DE DEZEMBRO DE 2012 > Guiné 63/74 - P10818: Convívios (487): Uma viagem por terras da Lusitânia (José Câmara)
Guiné 63/74 - P10893: À volta do poilão da Tabanca Grande: Boas Festas 2012/13 (12): Mensagens de Natal da Tertúlia (5) (Maria Teresa Almeida)
1. Recebemos da nossa amiga tertuliana Teresa Almeida, da Liga dos Combatentes, esta mensagem com data de hoje, 3 de Janeiro de 2013:
Bom Dia meu Estimado Combatente Sr. Carlos Vinhal
Agradecia se possível, a divulgação no Blog Luís Graça e Camaradas da Guiné desta minha mensagem para todos os Combatentes do Ultramar.
Com um abraço, de imensa gratidão
Teresa Almeida
Liga dos Combatentes
____________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 25 DE DEZEMBRO DE 2012 > Guiné 63/74 - P10863: À volta do poilão da Tabanca Grande: Boas Festas 2012/13 (11): Mensagens de Natal da Tertúlia (4)
Bom Dia meu Estimado Combatente Sr. Carlos Vinhal
Agradecia se possível, a divulgação no Blog Luís Graça e Camaradas da Guiné desta minha mensagem para todos os Combatentes do Ultramar.
Com um abraço, de imensa gratidão
Teresa Almeida
Liga dos Combatentes
____________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 25 DE DEZEMBRO DE 2012 > Guiné 63/74 - P10863: À volta do poilão da Tabanca Grande: Boas Festas 2012/13 (11): Mensagens de Natal da Tertúlia (4)
Guiné 63/74 - P10892: Agenda cultural (245): TSF, Grande Reportagem, hoje, às 19h00: "Sem panela, não se coze arroz" (reportagem de João Janes, com sonorização de João Félix Pereira)
TSF > Grande Reportagem > Depois do noticiário das 19h00 > "Sem panela, não se coze arroz"
Sinopse:
Pobre e politicamente instável, a Guiné-Bissau é um país tomado pela guerra de poder e de costas voltadas para a comunidade internacional. Uma realidade para conhecer na Grande Reportagem da TSF desta quinta- feira.
«Sem panela, não se coze arroz» dá a escutar os testemunhos de um povo que se habituou a viver com menos de um dólar por dia. A pouca comida disponível mata a fome dos mais novos, porque os adultos assim o querem. Enquanto isso, os políticos preparam o país, um dos mais pobres do mundo, para as eleições de abril.
Ouvir aqui um excerto da reportagem, da autoria de João Janes, com sonorização de João Félix Pereira.
____________
Nota do editor:
Ultimo poste da série > 26 de dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10865: Agenda cultural (244): O nosso grã-tabanqueiro António Graça de Abreu vai dirigir um curso livre sobre a China de ontem e de hoje (1713-2013), no Museu do Oriente, em Lisboa, aos sábados de manhã, de janeiro a março de 2013
Ouvir aqui um excerto da reportagem, da autoria de João Janes, com sonorização de João Félix Pereira.
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Nota do editor:
Ultimo poste da série > 26 de dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10865: Agenda cultural (244): O nosso grã-tabanqueiro António Graça de Abreu vai dirigir um curso livre sobre a China de ontem e de hoje (1713-2013), no Museu do Oriente, em Lisboa, aos sábados de manhã, de janeiro a março de 2013
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