1. Quadragésimo nono episódio da série "Do Ninho de D'Águia até África", de autoria do nosso camarada Tony Borié (ex-1.º Cabo Operador Cripto do Cmd Agru 16, Mansoa, 1964/66), iniciada no Poste P10177, chegado até nós em mensagem do dia 2 de Fevereiro de 2013:
DO NINHO D'ÁGUIA ATÉ ÁFRICA (50)
A foto com que o Cifra inicia este texto, veio-lhe parar às mãos, na região do Oio, na então província da Guiné, nos
anos de 1964/66.
Não sabe se são mesmo guerrilheiras, ou se é
somente uma foto para impressionar, mas ambas mostram uma cara
com alguma angústia, também não sabe se foi o Cifra que a tirou,
nas suas andanças de fim de mês, na entrega de material
classificado de cifra, pela região onde estavam as forças
militares que pertenciam ao seu agrupamento, que estava
estacionado em Mansoa. O Cifra acredita que foi ele que a tirou,
mas não sabe em que situação ou em que lugar, ou se estava mais
algum militar com ele nesse momento com máquina fotográfica,
sabe que foi na região do Oio, e talvez em Mansoa, Mansabá,
Bissorã, Olossato, Cutia, Nhacra, Encheia, ou qualquer outro
lugar, na região do Oio ou próximo. As armas que elas seguram
são parecidas com as que as milícias usavam, e que acompanhavam
os militares, servindo de guias tradutores. Se os antigos
combatentes, que nessa altura lá se encontravam e souberem a sua
proveniência, por favor contem a história, o Cifra e os demais
agradecem, oxalá que ainda estejam vivas, e esta fotografia, é
uma homenagem de respeito e apreciação, pelo seu sofrimento e
pela sua coragem, não só delas, como todas as mulheres africanas
que de uma maneira ou de outra estiveram envolvidas no conflito,
e é assim que deve ser vista.
Agora vamos ao texto:
O Cifra, entende que nos relatos em
que lembramos as nossas memórias, os homens, antigos
combatentes, sempre falam de si, contam isto e aquilo, às vezes
até criam um certo protagonismo. E então as mulheres, não
estiveram por trás dos homens, não sofreram, não sentiram a
ausência, não ficaram viúvas, não ficaram sem noivos, namorados,
filhos, irmãos, netos, não choraram a ausência do marido, não
ficaram sozinhas, às vezes com filhos bebés? E não foram só as
mulheres dos militares europeus, foram também as mulheres
africanas, das famílias dos guerrilheiros, isto é uma verdade,
que alguns de nós, mas infelizmente poucos, ainda lembramos.
Somos sobreviventes de uma guerra horrorosa, que não
desejo, em nenhuma circunstância, se volte a repetir, mas vou
mencionar algumas passagens de relatos de textos anteriores,
onde o Cifra fala da mulher, portanto cá vai:
“Na aldeia havia somente uma mulher, magra, já de uma certa idade, nua da
cinta para cima, com algumas argolas em volta do pescoço, servindo de enfeite,
talvez. Estava sentada, ao lado de um balaio de arroz com casca, com as mãos ao
lado da cara, falando aflita, numa linguagem incompreensível, e de vez em
quando, tirava as mãos da cara, fazia gestos para a frente, ao mesmo tempo que
balançava o corpo para a frente e para trás. Na sua frente, estavam duas crianças,
também magras e nuas. Estas três pessoas, eram no momento, os habitantes da
aldeia.
Os soldados africanos, chamados pelo alferes, para traduzirem as palavras da
mulher, diziam:
- Ela se lastima, por os militares lhe terem morto os seus dois filhos, e diz para
se irem embora, que aqui não há mais ninguém. Também diz que tem quatro
filhas, que desapareceram um certo dia pela madrugada, e que as visitam de vez
em quando, pois neste momento eram guerrilheiras, transportadoras de material
de guerra”.
E agora, outro relato tirado de outro texto:
“Em Portugal, o Cifra, visitou a família deste militar, por diversas vezes. Era
de uma aldeia da serra da Estrela, tinha uma irmã e um irmão, ambos casados. A
mãe andava sempre vestida de preto e dizia:
- Ainda não fui, mas não tarda muito tempo. Sou viúva duas vezes, do meu
Joaquim, que Deus lhe guarde a alma em descanso, e do meu António, que era a
cara do pai, quando nasceu, e que foi dar o corpo às balas, e que morreu na guerra,
lá na África. E mostrava sempre o farrapo do camuflado ensanguentado, que o
Cifra lhe mandou, e a fotografia do António, que beijava e encostava ao coração”.
Estes relatos exprimem dor, angústia e sofrimento, da
mulher, tanto africana com europeia, e o Cifra acredita, que não
existe nenhum ser humano, por mais estudos e experiência que
tenha, que esteja qualificado para analisar o que ia na mente
destes seres humanos, que perderam os seus entes queridos.
Só para terminar, o Cifra fez o arranjo desta foto que é
uma simples homenagem À MULHER, que de algum modo, esteve
envolvida no conflito, tanto africana como europeia, que colocou
frente-a-frente, os militares de Portugal contra os
guerrilheiros que lutavam pela independência do seu território.
O Cifra fez um arranjo com uma cara jovem, não expressando
muita alegria, porque nós também éramos jovens, quando lá nos
encontrávamos, e a nossa família, tanto a que ficou na Europa,
como a que vivia em África, sabendo que os seus estavam
envolvidos num conflito armado, como era de prever, também não
expressavam muita alegria.
____________
Nota do editor:
Vd. último poste da série de 2 de Fevereiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11044: Do Ninho D'Águia até África (49): Eram guerreiros (Tony Borié)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
terça-feira, 5 de fevereiro de 2013
Guiné 63/74 - P11059: Facebook...ando (23): Joaquim Rodrigues, ex-1º cabo, CCAÇ 2588 (Mansoa, Jugudul, Bindoro, 1969/71), reformado da Marinha Mercante
Bom dia, camarada Luís. Eu sou ex-1º cabo Joaquim Rodrigues, da Companhia de Caçadores 2588, que esteve em Mansoa, Jugudul, Bindoro, etc.
Estou impressionado com tanta documentação, permitindo conhecer tantos camaradas que estiveram comigo na Guiné, à distancia dum clique.
É sempre bom rever o passado e ver fotos por onde passamos .
Gostava que me dissessem se o capitão da companhia, Fernando Amaral.Sarmento, ainda é vivo. Era um bravo capitão.
Eu, depois quando regressei a Lisboa, fui trabalhar como empregado de mesa para os .navios, onde estive até 2012 (#). Tenho uma reforma de miséria- há meses que não consigo comprar os medicamentos todos para o coração a minha mulher que não trabalha e tenho uma filha com 18 anos na escola, é uma vida complicada.
Tanta gente que morreu para nada. Eu moro em Corroios, na margem sul.
Um abraço a todos J.R.
Página no Facebook:
www.facebook/joaquim.rodrigues.50552338
(#) Foi garçon na Classic International Cruises, de janeiro de 1989 até 2012. [A empresa] Classic Internaternational Cruises foi fundada em 1985 pelo saudoso armador grego sr. Potamianos, falecido no ano passad. Um grande amigo e patrão. O primeiro da frota foi o Funchal que estava no mar da Palha [, estuáriod o tejo,] a aprodecer com o fim da marinha mercante. Este navio nasceu em 1961 na Dinamarca: tem 50 anos de história, milhares de passageiros .felizes e milhares de milhas nos hélices que neste momento não os têm. E o futuro ninguém sabe. Joaquim Rodrigues, waiter no Funchal desde 1967. [J.R.]
(#) Foi garçon na Classic International Cruises, de janeiro de 1989 até 2012. [A empresa] Classic Internaternational Cruises foi fundada em 1985 pelo saudoso armador grego sr. Potamianos, falecido no ano passad. Um grande amigo e patrão. O primeiro da frota foi o Funchal que estava no mar da Palha [, estuáriod o tejo,] a aprodecer com o fim da marinha mercante. Este navio nasceu em 1961 na Dinamarca: tem 50 anos de história, milhares de passageiros .felizes e milhares de milhas nos hélices que neste momento não os têm. E o futuro ninguém sabe. Joaquim Rodrigues, waiter no Funchal desde 1967. [J.R.]
2. Comentário de L.G.:
(i) Camarada J.R., sê bem vindo!... É verdade, tens aqui a malta da Guiné do teu/nosso tempo, ao alcance de um clique. Mas não penses que isto nasceu de geração espontânea. É trabalho de muitos anos (nove!) e de uma vasta equipa... Também tu podes fazer parte desta "tripulação": a jóia de entrada são 2 fotos tipo passe + 1 história.... Já somos mais do que o teu batalhão, o BCAÇ 2885.
Infelizmente, sobre a tua CCAÇ 2588, ainda temos poucas referências, contrariamente a CCAÇ 2589, que foi comandado pelo nosso grã-tabanqueiro Jorge Picado, então com 32 anos, eng agrónomo, pai de quatro filhos Devemos ser mais ou menos da mesma altura. Eu vim no T/T Niassa, em 24 de maio de 1969. A minha companhia era a CCAÇ 2590 (mais tarde, CCAÇ 12). Desejo-te boa reforma, apesar das contrariedades e vicissitudes da hora presente. Vejo que as saudades do teu tempo de marinha mercante são mais do que muitas. É triste ver um orgulhoso navio da nossa grande frota da mercante mercante estar a apodrecer e ir um dia destes para a sucata. Espero que Portugal e os portugueses ainda voltem a descobrir o caminho marítimo... para o Futuro!
(ii) CCAÇ 2588: Mobilizada pelo RI 15, partiu para o TO da Guiné em 7/5/1969 e regressou a 25/2/1971. Esteve em Mansoa e Jugudul. Comandantes>: Cap inf Fernando Amarl Campos Sarmento, cap inf Luís da Piedade Faria, cap mil art Armando Vieiras dos Santos Caeiro. Pertencia ao BCAÇ 2885 (Mansoa) (Comandante: ten cor inf João Pedro do Carmo Chaves de Carvalho).
Outras unidades orgânicas deste batalhão: CCAÇ 2587 (Mansoa, Jugudul, Mansoa, Porto Gole) (cap mil art Lourenço Gomes de Campos); e CCAÇ 2589 (Mansoa, Cutia) (Comandantes: cap inf Francisco António Merndonça Martins Vicente; cap mil art Jorge Manuel Simões Picado)
Infelizmente, sobre a tua CCAÇ 2588, ainda temos poucas referências, contrariamente a CCAÇ 2589, que foi comandado pelo nosso grã-tabanqueiro Jorge Picado, então com 32 anos, eng agrónomo, pai de quatro filhos Devemos ser mais ou menos da mesma altura. Eu vim no T/T Niassa, em 24 de maio de 1969. A minha companhia era a CCAÇ 2590 (mais tarde, CCAÇ 12). Desejo-te boa reforma, apesar das contrariedades e vicissitudes da hora presente. Vejo que as saudades do teu tempo de marinha mercante são mais do que muitas. É triste ver um orgulhoso navio da nossa grande frota da mercante mercante estar a apodrecer e ir um dia destes para a sucata. Espero que Portugal e os portugueses ainda voltem a descobrir o caminho marítimo... para o Futuro!
(ii) CCAÇ 2588: Mobilizada pelo RI 15, partiu para o TO da Guiné em 7/5/1969 e regressou a 25/2/1971. Esteve em Mansoa e Jugudul. Comandantes>: Cap inf Fernando Amarl Campos Sarmento, cap inf Luís da Piedade Faria, cap mil art Armando Vieiras dos Santos Caeiro. Pertencia ao BCAÇ 2885 (Mansoa) (Comandante: ten cor inf João Pedro do Carmo Chaves de Carvalho).
Outras unidades orgânicas deste batalhão: CCAÇ 2587 (Mansoa, Jugudul, Mansoa, Porto Gole) (cap mil art Lourenço Gomes de Campos); e CCAÇ 2589 (Mansoa, Cutia) (Comandantes: cap inf Francisco António Merndonça Martins Vicente; cap mil art Jorge Manuel Simões Picado)
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Nota do editor:
Último poste da série > 31 de janeiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11034: Facebook...ando (22): José Guerreiro, natural de Portimão, em busca dos seus camaradas da CCAÇ 4541 (Caboxanque, Jemberém, Cadique, Cufar, 1972/74)
Guiné 63/74 - P11058: O Spínola que eu conheci (28): Figura incontornável da nossa História, que respeito mas não idolatro (Hélder Sousa, ex-fur mil trms TSF, 1970/72)
por Hélder Sousa [, foto à esquerda, no seu quarto em Bissau, quando era fur mil trms TST, nov 1970 / nov 1972]]
Esta série tem dado a oportunidade para que uma quantidade e diversidade notável de camaradas se tenham pronunciado sobre o tema.
E as intervenções têm sido desde o simples ‘conhecimento’ pelo contacto visual, pelo contacto pessoal directo, até às diversas considerações que a figura de António Spínola suscita. (*)
Eu também tenho um “Spínola que conheci”. Mas não tenho a menor dúvida em afirmar que António Spínola (aquilo que foi antes de Brigadeiro, o Brigadeiro, o General, o Marechal, o ‘caco Baldé’, etc.), é uma figura incontornável da História de Portugal e não pode, nem deve ser ignorado.
Estive perto do Comandante-Chefe do CTIG, António de Spínola, que me lembre, por duas vezes.
(i) Em Piche, fevereiro de 1971
A primeira foi em Piche e disso já dei conta num artigo que enviei para o Blogue a propósito do Carnaval. Nesse artigo relatei que, em consequência da Acção 'Mabecos’ ocorrida em Fevereiro de 1971, por ocasião do Carnaval desse ano, entre 20 e 22 de Fevereiro, o General Spínola ‘aterrou’ em Piche. E foi lá porque o que deveria ter sido o operacional responsável no terreno pela referida operação, Major cav Mendes Paulo (operação essa que correu bastante mal em termos organizacionais e também por atitudes, digamos assim, menos correctas por parte de ‘oficiais superiores’, daqueles que supervisionavam por via aérea a ‘progressão’ no terreno), quando regressou a Piche no final da referida operação, em atitude ostensiva de desagrado por tudo o que tinha acontecido, arrancou os seus galões de Major, deitou-os para o caixote de lixo que estava perto da porta do seu quarto, fechou-se nele e recusou-se a sair de lá a não ser que fosse o próprio Comandante-Chefe a ir ter com ele. Tudo isto foi visto e falado por muita gente.
E foi o que aconteceu, o General Spínola deslocou-se a Piche, não me recordo agora se foi logo no dia seguinte, mas creio que sim, dirigiu-se directamente ao alojamento do Major, conversaram, e depois o Major acabou o seu isolamento. Havia quem dissesse que o General tinha o Major de Cavalaria Mendes Paulo em alta estima e consideração e que se devia a essa estima mútua o facto das “Chaimites” terem ido para a Guiné.
Como se percebe da situação, ‘conhecer o Spínola’, nestas circunstâncias, foi só de longe, mas deu para ver e confirmar tudo aquilo que já aqui se tem dito sobre a sua pose, a sua figura, o seu carisma, a sua capacidade de suscitar a admiração e o reconhecimento por parte dos soldados.
O Capitão [Raul] Folques, até então 2º Comandante do Batalhão de Comandos, a receber das mãos de Spinola os galões de Major do Almeida Bruno. Uma cerimónia original. Foto do livro Guerra, Paz e Fuzilamento dos Guerreiros: Guiné 1970/80, de Manuel Bernardo. Com a devida vénia aos Coronéis Bernardo e Raul Folques e ao General Almeida Bruno. [Virgínio Briote].
Guiné > Bissau > Santa Luzia > Quartel do Agrupamento de Transmissões > 1972 > Foto do álbum do Sousa de Castro.
Foto: © Sousa de Castro (2005). Todos os direitos reservados
(ii) Na inauguração do Quartel do Agrupamento de Transmissões, em Santa Luzia [, finais de 1971 ou princípios de 1972]
A outra vez em que estive com Spínola foi aquando da inauguração do Quartel do Agrupamento de Transmissões, em Santa Luzia, [Bissau,] não me lembro agora da data.
Mas lembro-me bem das peripécias relacionadas com isso. Eu integrava a ‘guarda de honra’ e fiquei posicionado quase na ponta direita das tropas que estavam mais próximo e em frente ao palanque onde o General ia discursar. Podia assim vê-lo quase de perfil do seu lado esquerdo, a uns escassos 4 metros.
Em certa altura do discurso - parece que o estou a ouvir - Spínola diz, com a encenação habitual, ou seja, de braços abertos, dobrados pelos cotovelos, como quem está a acenar, agradecendo, com a sua voz meio rouca, meio gutural, marcando bem as pausas:
- “porque aqueles …”
- “que dizem …”
- “que o Exército …”
- “é uma máquina acéfala…”
Nisto, um ruído vindo da máquina do operador fotocine indicou que houve um problema. Fita partida? Encravamento? Já não me recordo, mas isso passou-se exactamente à minha frente pois vi claramente os olhos do nosso General faiscarem, quase fulminando o operador que estava perto de mim, em clara reprovação pelo sucedido, e manteve a pausa do discurso enquanto resolveram o problema. Breves instantes é certo, mas naquelas circunstâncias pareciam uma eternidade.
Resolvido o problema, o General retomou o ‘fio da meada’, e agora com o pingalim na mão esquerda recomeçou:
- “porque aqueles …”
- “que dizem …”
- “que o Exército …”
- “é uma máquina acéfala…”
- “em breve irão ver que assim não é!”
Reparem que esta última frase era a que faltava antes, mas ele achou por bem fazer todo o discurso.
Como disse, não tenho bem presente a data do acontecimento, inauguração do Quartel do Agrupamento de Transmissões, o qual deve ter sido no trimestre final de 1971, inícios de 1972, mas quem quiser ler nas entrelinhas pode ver já aqui, principalmente por essa frase final, a promessa/ameaça de maior protagonismo pessoal ‘em breve’…
Estes foram os dois momentos em que estive mais perto do Comandante Chefe, General António de Spínola. Entram portanto, naturalmente, na categoria do “Spínola que conheci”.
Mas há outros aspectos que podem ser chamados à consideração.
Que António de Spínola é uma figura incontornável da nossa História, disso não tenho nenhuma dúvida e até já o referi lá mais acima. Que o seu percurso de vida é controverso, também acho que esta afirmação, em si mesma, não tem contestação. Tem, quanto a mim, entre outras coisas, um grande mérito, trata-se de uma pessoa que procurou ‘ter opinião’, procurou agir no seu tempo, ou melhor, nos seus tempos e, já se sabe, só não erra quem não faz.
Agora, se me perguntarem se sou fã, como agora é moda, do Spínola, ou se sou seu detrator, o que direi?
Tenho que saber de que Spínola se trata.
Do ‘jovem Spínola’ fascinado pelas fardas, pela organização, pelas práticas do Exército Alemão dos anos 30-40? Do Spínola da Guerra Civil de Espanha? Do Spínola em Angola? Do Spínola na Guiné? Daquele que implementou a política de “Uma Guiné Melhor” procurando ganhar a população para o ‘lado’ de Portugal tentando fazer em poucos anos o que não fora feito em séculos? Daquele que implementou a “acção psicológica”, umas vezes exaltada, outras vezes rejeitada? Quantas vezes não se ouviu o “Zé Soldado” dizer “o que faz ‘isto’ é a filha da puta da psícola, agora já nem se pode dar uma chapada num cabrão dum preto”? Do Spínola que escreveu “Portugal e o Futuro” em que foi capaz de apontar caminhos que, na prática, eram contra a prática governamental que afinal tinha seguido toda a vida? O Spínola que se envolveu em conspirações?
A vida de um homem é um balanço complexo, não se pode ‘agarrar’ apenas num determinado tempo e espaço, é todo o conjunto. Tem todo o mérito de não se acomodar, de empreender uma constante evolução, de raciocinar e, pelo menos aparentemente, mudar quando entendeu dever mudar.
É um elemento de referência de uma época. Mas a minha consciência diz-me que o devo respeitar mas não o posso idolatrar.
Um abraço para toda a Tabanca!
Hélder Sousa
Fur. Mil. Transmissões TSF
_______________
Notas do editor:
(*) Vd. poste de 23 de fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3926: Efemérides (17): Piche, 22 de Fevereiro de 1971 ou... Carnaval, nunca mais! (Helder Sousa)
(...) Referência à Acção Mabecos, feita pelo Fernando de Sousa Henriques, ex-Alf Mil Op Esp, no seu livro No Ocaso da Guerra do Ultramar, obra em que retrata a história da sua Unidade, a CCAÇ 3545 / BCAÇ 3883, Canquelifá, 1972/74. Esta acção, em que tomou parte o BCAV 2922, em 22 de Fevereiro de 1971, é descrita como tendo sido de escolta e de segurança a forças de artilharia no trajecto Amedalai - Sagoiá - Rio Sagoiá - Rio Camongrou - Piche 4E545 - Rio Nhamprubana - Piche... As NT formavam 4 Agrupamentos, sendo o primeiro comandado pelo Major Mendes Paulo (...)
(...) As forças das NT foram comandadas pelo Major Mendes Paulo (à data oficial de operações do BCAV 2922, homem muito conceituado no seio da Arma de Cavalaria, da confiança do General Comandante-Chefe, falecido em 6 de Setembro de 2006 e autor dum livro intitulado “Elefante Dundum”), que o IN “composto por brancos e pretos sujeitou as NT a forte emboscada da qual resultou 3 mortos, 1 desaparecido (“apanhado à mão”), 2 feridos graves, 3 feridos ligeiros e a destruição de um Unimog e uma White”, sendo que é indicado terem sido infligidos ao IN 6 mortos e vários feridos. (...)
Vd. também poste de 25 de julho de 2012 > Guiné 63/74 - P10195: Histórias em tempos de guerra (Hélder Sousa) (12): O senhor Major Calixto
(...) As forças das NT foram comandadas pelo Major Mendes Paulo (à data oficial de operações do BCAV 2922, homem muito conceituado no seio da Arma de Cavalaria, da confiança do General Comandante-Chefe, falecido em 6 de Setembro de 2006 e autor dum livro intitulado “Elefante Dundum”), que o IN “composto por brancos e pretos sujeitou as NT a forte emboscada da qual resultou 3 mortos, 1 desaparecido (“apanhado à mão”), 2 feridos graves, 3 feridos ligeiros e a destruição de um Unimog e uma White”, sendo que é indicado terem sido infligidos ao IN 6 mortos e vários feridos. (...)
Vd. também poste de 25 de julho de 2012 > Guiné 63/74 - P10195: Histórias em tempos de guerra (Hélder Sousa) (12): O senhor Major Calixto
(...) Olá, Camaradas!... Conheci o major Mendes Paulo que passou à reserva a seu pedido, depois desta comissão. Creio mesmo que ainda meteu o requerimento durante a comissão. Era um homem sério e íntegro, embora tivesse "o seu feitio". Escreveu um livro e CD que se chama "O Elefante Dundum" em que relata assuntos tão interessantes como a aquisição/experiência das Chaimites, ou o uso de dois carros de combate M5A1 que estavam para ir para a sucata e que ele recuperou e usou em Angola, com certo êxito.
Enfim um livro interessante. Pena que tenha sido edição de autor, mas na BibEx existe e pode ser consultado. Um Ab.
António J. P. Costa
Quinta-feira, Julho 26, 2012 3:20:00 PM
(**) Vd. poste de 13 de setembro de 20006 > Guiné 63/74 - P1067: Morreu o major Mendes Paulo (BCAV 2922, Piche, 1970/72) (José Martins)
(...) Major de Cavalaria JOÃO LUIS LAIA NOGUEIRA MENDES PAULO, que foi Oficial de Informações e Operações no Batalhão de Cavalaria nº 2922, oriundo do Regimento de Cavalaria nº 3 de Estremoz.
Chegou à Guiné em 23 de Julho de 1970 e assumiu o sector L 4 - Piche em 12 de Agosto de 1970. Regressou à Metrópole em 20 de Junho de 1972.
É autor do livro 'Elefante Dundun', que conta as suas aventuras em Macau, Angola e Guiné. O livro é acompanhado de um DVD, que contou com a colaboração de seus filhos. (...)
(***) Último poste da série > 2 de fevereiro de 2013 > Guimé 63/74 - P11043: O Spínola que eu conheci (27): Depoimentos de António Rosinha / António J. Pereira da Costa / José Martins / Augusto Silva Santos / José Manuel Dinis
(**) Vd. poste de 13 de setembro de 20006 > Guiné 63/74 - P1067: Morreu o major Mendes Paulo (BCAV 2922, Piche, 1970/72) (José Martins)
(...) Major de Cavalaria JOÃO LUIS LAIA NOGUEIRA MENDES PAULO, que foi Oficial de Informações e Operações no Batalhão de Cavalaria nº 2922, oriundo do Regimento de Cavalaria nº 3 de Estremoz.
Chegou à Guiné em 23 de Julho de 1970 e assumiu o sector L 4 - Piche em 12 de Agosto de 1970. Regressou à Metrópole em 20 de Junho de 1972.
É autor do livro 'Elefante Dundun', que conta as suas aventuras em Macau, Angola e Guiné. O livro é acompanhado de um DVD, que contou com a colaboração de seus filhos. (...)
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Cor Manuel A. Bernardo,
Cor Raul Folques,
Hélder Sousa,
Mendes Paulo (maj cav),
O Spínola que eu conheci,
Piche,
Santa Luzia (Quartel),
Sousa de Castro
Guiné 63/74 - P11057: O Nosso Livro de Visitas (160): Licínio Cabral, ex-fur mil op esp, minas e armadilhas, CCaç 2792, Catió e Cabedú, 1970/72)
1. Mensagem do nosso leitor (e camarada) Lícinio Monteiro Cabral:
Data: 4 de Fevereiro de 2013
Assunto: CCaç 2792 - Catió e Cabedu - 190/72
Caro Dr. Luis Graça:
Soube do Blogue através de um amigo de Coimbra.
Último poste da série > 22 de janeiro de 2013 > Guiné 63/74 - P10985: O nosso livro de visitas (159): João Correia, ex-Alf Mil da CCS/BCAÇ 4615/73 (Teixeira Pinto, 1973/74)
Data: 4 de Fevereiro de 2013
Assunto: CCaç 2792 - Catió e Cabedu - 190/72
Caro Dr. Luis Graça:
Soube do Blogue através de um amigo de Coimbra.
Estive em Catió e Cabedu – Fur Mil Cabral, integrado na CCaç 2792, com a especialidade de "Operações Especiais" e "Minas e Armadilhas".
Acho que a Guiné, na minha memória, já a tinha arrumado num cantinho, não fosse saber da morte no ano passado do meu Comandante de Companhia, o Cap Augusto Manuel Monteiro Valente, homem que eu admirava.
Vou enviar algumas coisas da Tabanca. Vou ao baú das (más?) memórias.
Agradeço o acolhimento no Blogue.
Cumprimentos
Licínio Cabral
Vou enviar algumas coisas da Tabanca. Vou ao baú das (más?) memórias.
Agradeço o acolhimento no Blogue.
Cumprimentos
Licínio Cabral
[Foto acima, quartel de Catió, CCS / BART 1913 (1967/69), foto de Victor Condeço, 1943-2010]
2. Resposta de L.G.:
Camarada Licínio Cabral:
Dispensemos o tratamento cerimonial. Estivemos os dois na Guiné, em 1969/71, eu, e tu em 1970/72... Isso basta para criar uma corrente subterrânea de cumplicidade, camaradagem, empatia, entre nós dois, entre tu e demais camaradas que integram a nossa Tabanca Grande ( nome também dado ao nosso blogue, e à comunidade virtual que se reúne à sua volta)...
Más memórias, camarada ? Quem as não tem, ou não teve ? Estamos aqui justamente para "exorcizá-las" e fazer as nossas velhas contas com o passado, os nossos verdes anos, passados na guerra e na Guin é... E as boas ? Também as houve, certamente... Umas e outras podem e devem ser partilhadas... Fazemos "blogoterapia", partilhamos memórias, sentimentos, emoções, afetos, crenças, ilusões, preconceitos, estereótipos, utopias, valores, interesses...
Partilhar, porquê e com quem ? Por muitas razões, até por "dever de memória", por obrigação (moral) para com os nossos filhos e netos... E, talvez mais importante ainda, por uma questão de dignidade, por nós, por todos nós, combatentes de um lado e doutro, que fizemos aquela guerra estúpida e inútil (como todas as guerras)... e no final fomos todos "perdedores"...
Manda duas fotos tuas, digitalizadas, que eu terei muito gosto em apresentar-te aos mais de 600 grã-tabanqueiros que se sentam à volta do poilão, mágico, fraterno, protetor, da Tabanca Grande. Se quiseres e puderes, manda também mais fotos do teu álbum, sobre Catió, Cabedú e outros lugares (quentes) que estão na nossa memória... De preferência, com legendas... Os créditos fotográficos serão sempre teus.
Um Alfa Bravo, Luís Graça
PS - Se aceitares entrar para esta "grande família" (a jóia são apenas 2 fotos + 1 história), passas a ser o primeiro representante da CCAÇ 2792... É verdade, não temos ninguém... Fala-nos também do capitão Valente, cuja memória queremos também recordar e honrar.
_______________
Nota do editor:
segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013
Guiné 63/74 - P11056: Convívios (490): Primeiro almoço da Tabanca Ajuda Amiga (Carlos Fortunato)
1. Mensagem do nosso camarada Carlos Fortunato (ex-Fur Mil da CCAÇ 13), dirigente da ONGD Ajuda Amiga, com data de 1 de Fevereiro de 2013:
Amigos e Camaradas
Em primeiro lugar os nossos agradecimentos pelo excelente trabalho de divulgação feito blog, o qual deu resultados positivos com novos contactos já neste primeiro almoço, e que pensamos que irá trazer no futuro mais gente a este nosso convívio.
Junto envio em anexo fotos do almoço, e apresentamos a seguir um texto com a noticia do mesmo pedindo o favor de divulgarem este evento.
Renovando os nossos agradecimentos envio um alfa bravo.
Carlos Fortunato
Primeiro almoço da Tabanca Ajuda Amiga
Conforme planeado realizou-se no passado dia 31 de Janeiro de 2013, o primeiro almoço da Tabanca Ajuda Amiga, foi um coelho à caçadora ou um bacalhau à minhota conforme os gostos, que incluiu também vinho, água, sobremesa e café, tudo por 8 euros.
O evento contou com 13 presenças e foi um momento de agradável convívio, em que se recordaram outros tempos, mas que foi também de solidariedade, em que se trocaram ideias sobre possíveis acções de solidariedade, e alguns dos presentes fizeram também algumas pequena doações para a ONGD Ajuda Amiga, mas que no final totalizaram 57,02 euros. Os donativos que vão sendo angariados em 2013, irão ser usados nos projectos da Ajuda Amiga planeados para 2014 (envio do contentor de ajuda humanitária e de apoio ao desenvolvimento e abertura de poços junto a escolas).
Esta "tabanca" criada à semelhança de outras "tabancas" de amigos da Guiné, que foram criadas inspiradas nas amizades e convívios gerados a partir do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, tem o apoio da ONGD Ajuda Amiga, e o seu objectivo é realizar almoços que serão de convívio entre associados, antigos combatentes e amigos da Guiné, trata-se de um convívio que estará também imbuídos de um espírito de solidariedade, que tem sido uma característica destas "tabancas".
Os almoços estão planeados para serem realizados na ultima 5ª feira de cada mês na cantina da Associação de Comandos, sedeadas no Regimento de Artilharia de Costa, 3ª Bateria, na Laje, em Oeiras. O caminho de entrada para a Bataria da Laje é por Paço de Arcos, pela Avenida Engenheiro Bonneville Francos, a parte final do caminho é de terra batida (fica junto à Av. Marginal, perto da Escola Naval).
O próximo almoço será no dia 28 de Fevereiro (5ª feira com início entre as 12h45 e as 13h00.), e a Cantina da Associação de Comandos pede-nos que sejam feitas reservadas com 2 dias de antecedência, isto é 3ª feira, o mais tardar 4ª feira de manhã, indicando o prato pretendido, para tal devem ligar para a Cantina da Bataria da Lage para 917 248 557 Sra. Marilia ou para 934 125 679 Sra. Sónia. O custo da refeição social é de 9 euros a partir de Fevereiro A ONGD Ajuda Amiga agradece as ideias sugeridas e as doações feitas, bem como todos os que apoiaram a iniciativa da criação da Tabanca Ajuda Amiga.
A Tabanca Ajuda Amiga, agradece à Associação de Comandos o acesso às suas instalações para a realização destes eventos, ao Blog Luís Graça & Camaradas da Guiné pela divulgação efectuada, bem como a todos os que de algum modo contribuíram para esta iniciativa.
Aproveitamos para divulgar o endereço do site da Ajuda Amiga, e os endereços dos facebook onde são também publicadas noticias relacionadas com a Ajuda Amiga e a Tabanca Ajuda Amiga:
http://ajudaamiga.com.sapo.pt/
http://www.facebook.com/AjudaAmiga
http://www.facebook.com/TabancaAjudaAmiga
http://www.carlosilva-guine.com/
Um alfa bravo para todos
Carlos Fortunato
Na foto, a partir da esquerda: António Ortet, Carlos Silva, Carlos Rodrigues, António Bernardes, António Freire, Jorge Rebelo, Hélder Pereira, Joaquim Lourenço e José Carioca
A partir da esquerda: Carlos Pinto, Carlos Fortunato, António Ortet, Carlos Silva, Carlos Rodrigues, António Freire, Manuel Joaquim, Hélder Pereira, Joaquim Lourenço e José Carioca
A partir da esquerda: Carlos Silva, António Ortet, Jorge Rebelo, António Freire, Joaquim Lourenço, Hélder Pereira, Carlos Pinto, Carlos Fortunato, Armando Pires, Manuel Joaquim
Notas de CV:
Vd. poste de 28 DE JANEIRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11019: Ser solidário (141): Primeiro almoço solidário na nova Tabanca Ajuda Amiga, dia 31 de Janeiro de 2013 na cantina da Associação de Comandos, em Oeiras
Vd. último poste da série de 17 DE JANEIRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P10953: Convívios (489): Moledo, Lourinhã, 20 do corrente, festa de São Sebastião (Grupo de Veteranos de Guerra da Freguesia do Moledo)
Amigos e Camaradas
Em primeiro lugar os nossos agradecimentos pelo excelente trabalho de divulgação feito blog, o qual deu resultados positivos com novos contactos já neste primeiro almoço, e que pensamos que irá trazer no futuro mais gente a este nosso convívio.
Junto envio em anexo fotos do almoço, e apresentamos a seguir um texto com a noticia do mesmo pedindo o favor de divulgarem este evento.
Renovando os nossos agradecimentos envio um alfa bravo.
Carlos Fortunato
Primeiro almoço da Tabanca Ajuda Amiga
Conforme planeado realizou-se no passado dia 31 de Janeiro de 2013, o primeiro almoço da Tabanca Ajuda Amiga, foi um coelho à caçadora ou um bacalhau à minhota conforme os gostos, que incluiu também vinho, água, sobremesa e café, tudo por 8 euros.
O evento contou com 13 presenças e foi um momento de agradável convívio, em que se recordaram outros tempos, mas que foi também de solidariedade, em que se trocaram ideias sobre possíveis acções de solidariedade, e alguns dos presentes fizeram também algumas pequena doações para a ONGD Ajuda Amiga, mas que no final totalizaram 57,02 euros. Os donativos que vão sendo angariados em 2013, irão ser usados nos projectos da Ajuda Amiga planeados para 2014 (envio do contentor de ajuda humanitária e de apoio ao desenvolvimento e abertura de poços junto a escolas).
Esta "tabanca" criada à semelhança de outras "tabancas" de amigos da Guiné, que foram criadas inspiradas nas amizades e convívios gerados a partir do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, tem o apoio da ONGD Ajuda Amiga, e o seu objectivo é realizar almoços que serão de convívio entre associados, antigos combatentes e amigos da Guiné, trata-se de um convívio que estará também imbuídos de um espírito de solidariedade, que tem sido uma característica destas "tabancas".
Os almoços estão planeados para serem realizados na ultima 5ª feira de cada mês na cantina da Associação de Comandos, sedeadas no Regimento de Artilharia de Costa, 3ª Bateria, na Laje, em Oeiras. O caminho de entrada para a Bataria da Laje é por Paço de Arcos, pela Avenida Engenheiro Bonneville Francos, a parte final do caminho é de terra batida (fica junto à Av. Marginal, perto da Escola Naval).
O próximo almoço será no dia 28 de Fevereiro (5ª feira com início entre as 12h45 e as 13h00.), e a Cantina da Associação de Comandos pede-nos que sejam feitas reservadas com 2 dias de antecedência, isto é 3ª feira, o mais tardar 4ª feira de manhã, indicando o prato pretendido, para tal devem ligar para a Cantina da Bataria da Lage para 917 248 557 Sra. Marilia ou para 934 125 679 Sra. Sónia. O custo da refeição social é de 9 euros a partir de Fevereiro A ONGD Ajuda Amiga agradece as ideias sugeridas e as doações feitas, bem como todos os que apoiaram a iniciativa da criação da Tabanca Ajuda Amiga.
A Tabanca Ajuda Amiga, agradece à Associação de Comandos o acesso às suas instalações para a realização destes eventos, ao Blog Luís Graça & Camaradas da Guiné pela divulgação efectuada, bem como a todos os que de algum modo contribuíram para esta iniciativa.
Aproveitamos para divulgar o endereço do site da Ajuda Amiga, e os endereços dos facebook onde são também publicadas noticias relacionadas com a Ajuda Amiga e a Tabanca Ajuda Amiga:
http://ajudaamiga.com.sapo.pt/
http://www.facebook.com/AjudaAmiga
http://www.facebook.com/TabancaAjudaAmiga
http://www.carlosilva-guine.com/
Um alfa bravo para todos
Carlos Fortunato
Na foto, a partir da esquerda: António Ortet, Carlos Silva, Carlos Rodrigues, António Bernardes, António Freire, Jorge Rebelo, Hélder Pereira, Joaquim Lourenço e José Carioca
Jorge Rebelo e Manuel Joaquim
António Ortet, Carlos Silva e Carlos Rodrigues
Marilia, Joaquim Lourenço, José Carioca
A partir da esquerda: Carlos Pinto, Carlos Fortunato, António Ortet, Carlos Silva, Carlos Rodrigues, António Freire, Manuel Joaquim, Hélder Pereira, Joaquim Lourenço e José Carioca
Armando Pires e Carlos Pinto
Manuel Joaquim, Hélder Pereira, Joaquim Lourenço
A partir da esquerda: Carlos Silva, António Ortet, Jorge Rebelo, António Freire, Joaquim Lourenço, Hélder Pereira, Carlos Pinto, Carlos Fortunato, Armando Pires, Manuel Joaquim
Manuel Joaquim, António Ortet, António Freire
____________Notas de CV:
Vd. poste de 28 DE JANEIRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11019: Ser solidário (141): Primeiro almoço solidário na nova Tabanca Ajuda Amiga, dia 31 de Janeiro de 2013 na cantina da Associação de Comandos, em Oeiras
Vd. último poste da série de 17 DE JANEIRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P10953: Convívios (489): Moledo, Lourinhã, 20 do corrente, festa de São Sebastião (Grupo de Veteranos de Guerra da Freguesia do Moledo)
Guiné 63/74 - P11055: Álbum fotográfico do Jorge Canhão (ex-fur mil inf, 3ª CCAÇ / BCAÇ 4612/72, Mansoa e Gadamael, 1972/74) (2): Gadamael, junho/julho de 1973 (Parte II)
Guiné > Região de Tombali > Buba; Junho de 1973 > 3ª CCAÇ/BCAÇ 4612 (1972/74) > O Jorge Canhão, "na LDG [, Lancha de Desembarque Grande,] a caminho do inferno [, Gadamael]", em reforço temporário ao COP 5, de 18 de junho a 13 de julho de 1973.
Guiné > Região de Tombali > Gadamael > Junho de 1973 > 3ª CCAÇ/BCAÇ 4612 (1972/74) > O 2º pelotão, o do Jorge Canhão (ex.fur mil at inf).
(i) 2ª fila, de pé: da esquerda para a direita, Cabeçadas (falecido), Florêncio (Florêncio Alexandre Correia, residente em Faro), o Canhão (Jorge Canhão, Oeiras), Viegas (Francisco Manuel Magro Viegas, sem informação sobre o local de residência atual), Saraiva (João José Saraiva Costa, Covilhã), J. Fernandes (João Fernandes Salvador, Alagoinha, Altura), Raimundo (José Manuel Dias Raimundo, São Mamede de Infesta, Matosinhos), São José (Diamantino Mig Santos São José, Faro);
(ii) na primeira fila, Araújo (falecido) e Ribeiro (José Joaquim Silva Ribeiro, Charneca da Caparica, Almada).
Guiné > Região de Tombali > Gadamael > Junho de 1973 > 3ª CCAÇ/BCAÇ 4612 (1972/74) > O edifício das transmissões.
Guiné > Região de Tombali > Gadamael > Junho/julho de 1973 > 3ª CCAÇ/BCAÇ 4612 (1972/74) > O pontão [cais]
Guiné > Região de Tombali > Gadamael > Junho/julho de 1973 > 3ª CCAÇ/BCAÇ 4612 (1972/74) > Aspeto geral do quartel
Guiné > Região de Tombali > Gadamael > Junho de 1973 > 3ª CCAÇ/BCAÇ 4612 (1972/74) > Mais duas casas destruídas na sequência do ataque do PAIGC em princípios de junho.
1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do nosso amigo e camarada Jorge Canhão, que vive em Oeiras (ex-Fur Mil At Inf da 3ª CCAÇ/BCAÇ 4612/72, Mansoa e Gadamael, 1972/74). Estas fotos chegaram-nos às mãos através de outro grã-tabanqueiro, o Agostinho Gaspar, ex-1.º Cabo Mec Auto Rodas, 3.ª CCAÇ/BCAÇ 4612/72, Mansoa, 1972/74), residente em Leiria. Os nossos especiais agradecimentos aos dois.
Recorde-se que a 3ª CCAÇ/BCAÇ 4612 (1972/74) esteve em reforço do COP 5, em Gadamael, de 18 de junho a 13 de julho de 1973. Em 31 de maio, agravava-se a situação em Gadamael-Porto, com o PAIGC a concentrar a sua artilharia sobre o aquartelamento e a tabanca (reordenada), depois da retirada da guarnição de Guileje (, em 22).
2. Sobre a ida (temporária) da 3ª CCAÇ/BCAÇ 4612/72, para Gadamael, leia-se o que o nosso AGA escreveu no seu Diário da Guiné, e já reproduzido no poste P9859:
(...) Mansoa, 19 de Junho de 1973
Chegou anteontem a Mansoa uma companhia nova de pessoal destinado a Angola. Só dentro do avião souberam que vinham para a Guiné. Aconteceu o mesmo a três outras companhias de 180 homens cada, com outros destinos, que também foram desviadas para a Guiné. Estes vêm substituir uma companhia do Batalhão 4612, aqui estacionado em Mansoa, e que, com oito meses de comissão, parte amanhã para reforçar Gadamael, ao lado de Guileje já evacuado há um mês pelas nossas tropas. Ontem os rapazes desta companhia estavam desesperados face ao futuro incerto que os espera, mais incerto do que o meu. Eu vou para pior, não propriamente para um matadouro. Esta companhia, ai, que Deus os proteja!...
(...) Mansoa, 19 de Junho de 1973
Chegou anteontem a Mansoa uma companhia nova de pessoal destinado a Angola. Só dentro do avião souberam que vinham para a Guiné. Aconteceu o mesmo a três outras companhias de 180 homens cada, com outros destinos, que também foram desviadas para a Guiné. Estes vêm substituir uma companhia do Batalhão 4612, aqui estacionado em Mansoa, e que, com oito meses de comissão, parte amanhã para reforçar Gadamael, ao lado de Guileje já evacuado há um mês pelas nossas tropas. Ontem os rapazes desta companhia estavam desesperados face ao futuro incerto que os espera, mais incerto do que o meu. Eu vou para pior, não propriamente para um matadouro. Esta companhia, ai, que Deus os proteja!...
A grande maioria dos mortos em combate na primeira quinzena de Junho, vinte e quatro no total, registou-se no sul, na região de Gadamael-Cameconde onde os guerrilheiros tentam conseguir o mesmo que em Guileje, obrigar os portugueses a abandonar mais um aquartelamento. Contam-se histórias tenebrosas sobre Gadamael. (...)
Hoje, às oito da noite estávamos os oficiais a jantar quando, diante da messe, surgiu quase toda a companhia velha em marcha fúnebre, com arcos e velas acesas sobre umas tábuas que pareciam caixões. Formaram e queriam oferecer uma garrafa de whisky ao capitão, o comandante da companhia, um homem do QP, competente, respeitado e determinado. Saiu da messe, perfilou-se, fez continência aos seus homens e mandou-os dispersar. Obedeceram logo. Depois houve grandes bebedeiras. Estive no bar de oficiais até cerca da meia-noite. Alguns alferes da companhia que segue para Gadamael, cheios de álcool, partiram garrafas e cadeiras. Não se tratou de insubordinação, apenas o extravasar de recalcamentos e medos. (...)
Fotos: © Jorge Canhão (2011). Todos os direitos reservados
____________
Nota do editor:
Último poste da série > 3 de fevereiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11046: Álbum fotográfico do Jorge Canhão (ex-fur mil inf, 3ª CCAÇ / BCAÇ 4612/72, Mansoa e Gadamael, 1972/74) (1): Gadamael, junho/julho de 1973 (Parte I)
Guiné 63/74 - P11054: Notas de leitura (455): "Raças do Império", por Mendes Corrêa (Mário Beja Santos)
1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 8 de Novembro de 2012:
Queridos amigos,
Raças do Império foi um acontecimento editorial do seu tempo, mereceu honras de edição de luxo e uma outra mais popular, um pouco como a História de Portugal, a chamada edição de Barcelos, dirigida pelo Prof. Damião Peres.
Estamos numa época de rescaldo de diferentes eventos sobre o mundo colonial português, houvera a exposição do Porto, em 1934, a do Parque Eduardo VII, em 1937, e o acontecimento excecional que foi a Exposição do Mundo Português, fazia todo o sentido divulgar, como material de estudo, com abundante mostra fotográfica, todos os povos que pertenciam ao Império e que bebiam a tão apregoada “missão civilizadora”.
Um abraço do
Mário
Raças do Império: A Guiné Portuguesa, pelo Prof. Mendes Corrêa
Beja Santos
Em 1943, um médico que se lançara entusiasticamente na antropologia e etnografia, Mendes Corrêa, deu à estampa na Portucalense Editora um livro singular na investigação da época: “Raças do Império”. Note-se que Mendes Corrêa será convidado pelo governador Sarmento Rodrigues a visitar a colónia e daí resultará, em 1947, a sua obra “Jornada Científica na Guiné Portuguesa”, de que já aqui se deu notícia(1).
As suas teorias sobre a raça estão hoje obviamente em desuso, não aguentaram os novos estudos decorrentes da evolução trepidante que conheceu a Paleontologia, entre outros conhecimentos científicos. Define a raça como assente numa trilogia História, Psicologia e Biologia, em que nenhum dos elementos é dispensável. E diz mesmo: “Estudar a raça como um fator da História e da vida social é, afinal, estudar o papel da hereditariedade psicossomática, das causas germinais remotas, dos fatores biológicos profundos e permanentes, das energias elementares de estirpes naturais geradora dos povos, na fisionomia e atividade étnica, política e histórica destes últimos”.
Mendes Corrêa inicia a sua investigação sobre as gentes da Guiné procurando dar um quadro histórico da região antes da chegada dos portugueses. Recorda que no século III consta já junto do Níger superior, no Sudão Ocidental, o estado de Ganá, a leste do qual irá surgir o primeiro reino Songai. No século X, a invasão dos Sossos abate-se sobre o reino de Ganá que começará a desagregar-se, irão então surgir em cena populações negras oriundas de outros territórios. Formara-se entretanto o Estado de Mali, dos Mandingas, que no século XIV estendem o seu domínio até à Guiné Portuguesa. No seu apogeu, aquele reino terá incorporado Tungubutu, Songai e outras regiões, mas o Império de Songai conseguiu libertar-se. O Mandimansa seria o imperador de uma parcela do vasto reino Mandinga. Se nos recordarmos do que escreveu na sua tese de doutoramento Carlos Lopes em Kaabunké (Espaço, território e poder na Guiné-Bissau, Gãmbia e Casamance), de que igualmente aqui já se fez menção(2), os dados históricos têm larga margem de flutuação. Espero em breve referir-vos uma compilação de textos publicada pelo Comissariado Nacional da Mocidade Portuguesa intitulado “Mandingas – Um pouco de História” e também se verificam discrepâncias cronológicas apreciáveis.
Mas voltemos a Mendes Corrêa, estamos no Império do Mali e é a vez dos árabes se voltarem para os tesouros do Sudão. Tungubutu é conquistado em 1591 pelo Sultão de Marrocos. Songai passa a colónia marroquina. É neste entretanto que emergem os Fulas.
Na Guiné, os Mandingas são os principais adversários que os Fulas encontram no Futa-Djalon. Os Mandingas da Guiné são batidos e subjugados pelos Fulas em 1836, o mesmo sucede com os Beafadas. Para Mendes Correia é este o contexto em que se chega à carta etnológica atual.
A população da Guiné não terá mudado muito desde as descrições dos nossos autores dos séculos XV e XVI. Terão perdido importância demográfica os Nalus, os Beafadas e os Cassangas e progredido os Balantas e os Fulas. Adverte Mendes Corrêa: “Apesar das diversas investigações realizadas, não pode considerar esclarecido o problema das origens e afinidades raciais de todos os grupos étnicos da nossa Guiné”.
Os Fulas proviriam de uma mistura de Etíopes e de Negríticos (negros sudaneses e nilóticos). Os outros agregados seriam Negríticos (negros que não falam línguas Bantus), destacando-se os Mandingas (ou Mandé) num grupo à parte: todas as outras populações da nossa Guiné seriam Negríticos litorais ou guineenses, com grande uniformidade do tipo físico. Os Felupes seriam a tribo principal dos Diola de entre o Casamansa e o Gâmbia. Mendes Corrêa refere como quase autóctones os Balantas, os Banhus, os Papéis, os Bijagós, os Beafadas e os Nalus.
O Fula é suscetível de enquadramento na raça etiópica. André Álvares de Almada, no século XVI, descreve-os deste modo: são robustos, bem-dispostos, de cor amulatada, os cabelos corredios. Na nossa Guiné, mencionam-se os Fulas forros, os Futa-Fulas e os Fulas pretos. Os primeiros e os últimos terão resultados das migrações Fulas, os forros consideram os Fulas pretos são antigos escravos. Os Fulas forros são descritos como de estatura elevada, corpo delgado, cor acobreada, cabelos lanosos, nariz e lábios finos. Segundo Carvalho Viegas, um governador que se abalançou a estudar a região, o Mandinga morfologicamente é uma espécie de raça negra, sem mescla de sangue. Duarte Pacheco refere que os Beafadas estavam sujeitos aos Mandingas. Os Sossos teriam sido expulsos do Futa-Djalon e empurrados para a costa pelos Fulas. André Álvares de Almada refere que os Bijagós são “mui pretos, gentis-homens, não furam as orelhas, as mulheres sim”.
Mendes Corrêa recolhe a opinião dos colonialistas do seu tempo: Os Fulas são tipos como ambiciosos, o grupo mais civilizado e de maior superioridade intelectual; os Mandingas como inteligentes, perspicazes, observadores, empreendedores e aristas; os Felupes como independentes, corajosos e hospitaleiros; os Papéis como traiçoeiros, belicosos, pouco trabalhadores; os Brames como inteligentes, pacíficos e trabalhadores; os Manjacos como inteligentes, dominados pelo pudor, trabalhadores, os mais acessíveis a influência portuguesa, ainda que litigantes e pouco probos; os Balantas como inteligentes, tenazes, argutos, laboriosos, mas ladrões e litigantes; os Bijagós como artistas, belicosos e tímidos.
Depois, Mendes Corrêa abalança-se à descrição sobre os idiomas, mobiliário, tipos de habitação, vestuário, tatuagens, manifestações religiosas, totemismo, sistemas de justiça, panaria, olaria, escultura, trabalhos em coiro, arte musical e literatura, não há elementos inovadores, digamos que se trata de um conspecto antropológico e etnográfico com base em bibliografia recolhida.
“Raças do Império” foi uma revelação para o tempo, nunca se tinha ido tão longe numa síntese sobre todos os povos que constituíam Portugal e o seu Império. Tratou-se de uma recolha meticulosa, de acordo com a documentação existente e as preocupações raciais que fizeram furor no primeiro quartel do século, ao nível dos estudos coloniais. Mendes Corrêa procurou ser abrangente e leu alguma da melhor bibliografia internacional do seu tempo, reconheça-se.
Daí resultou um texto fluído, bem organizado para não iniciados, estamos numa época em que os autores procuravam atrair o leitor capturando-o para o exotismo e quase com ternura pelo “bom selvagem”. É assim que ele escreve: “Há, entre Mandingas, Fulas, Manjacos, Papéis, Bijagós, entre outros, canções, batuques, danças, pantominas, de variado carácter, como para incitamento ao trabalho agrícola, orgia, culto religioso, homenagens fúnebres. Entre Mandingas, as mulheres casadas, geralmente, não dançam; os Papéis cantam a valentia dos seus chefes mortos, organizando danças fúnebres em sua honra. Os Bijagós têm o culto da vaca…”.
Foi um enorme esforço, este estudo de índole imperial, e não é por acaso que refere com alguma insistência a exposição colonial de 1934 e a Exposição do Mundo Português de 1940, foram polos de atração para o desenvolvimento da curiosidade em conhecer os povos que estavam sujeitos à nossa missão civilizadora.
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Notas do editor:
(1) Vd. poste de 12 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9183: Notas de leitura (311): Uma Jornada Científica na Guiné Portuguesa, de António Mendes Corrêa (Mário Beja Santos)
(2) Vd. poste de 12 de Outubro de 2012 > Guiné 63/74 - P10519: Notas de leitura (416): Kaabunké Espaço, território e poder na Guiné-Bissau, Gâmbia e Casamance", por Carlos Lopes (Mário Beja Santos)
Vd. último poste da série de 1 de Fevereiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11037: Notas de leitura (454): "A Pátria ou a Vida" por Gertrudes da Silva (2) (Mário Beja Santos)
Queridos amigos,
Raças do Império foi um acontecimento editorial do seu tempo, mereceu honras de edição de luxo e uma outra mais popular, um pouco como a História de Portugal, a chamada edição de Barcelos, dirigida pelo Prof. Damião Peres.
Estamos numa época de rescaldo de diferentes eventos sobre o mundo colonial português, houvera a exposição do Porto, em 1934, a do Parque Eduardo VII, em 1937, e o acontecimento excecional que foi a Exposição do Mundo Português, fazia todo o sentido divulgar, como material de estudo, com abundante mostra fotográfica, todos os povos que pertenciam ao Império e que bebiam a tão apregoada “missão civilizadora”.
Um abraço do
Mário
Raças do Império: A Guiné Portuguesa, pelo Prof. Mendes Corrêa
Beja Santos
Em 1943, um médico que se lançara entusiasticamente na antropologia e etnografia, Mendes Corrêa, deu à estampa na Portucalense Editora um livro singular na investigação da época: “Raças do Império”. Note-se que Mendes Corrêa será convidado pelo governador Sarmento Rodrigues a visitar a colónia e daí resultará, em 1947, a sua obra “Jornada Científica na Guiné Portuguesa”, de que já aqui se deu notícia(1).
As suas teorias sobre a raça estão hoje obviamente em desuso, não aguentaram os novos estudos decorrentes da evolução trepidante que conheceu a Paleontologia, entre outros conhecimentos científicos. Define a raça como assente numa trilogia História, Psicologia e Biologia, em que nenhum dos elementos é dispensável. E diz mesmo: “Estudar a raça como um fator da História e da vida social é, afinal, estudar o papel da hereditariedade psicossomática, das causas germinais remotas, dos fatores biológicos profundos e permanentes, das energias elementares de estirpes naturais geradora dos povos, na fisionomia e atividade étnica, política e histórica destes últimos”.
Mendes Corrêa inicia a sua investigação sobre as gentes da Guiné procurando dar um quadro histórico da região antes da chegada dos portugueses. Recorda que no século III consta já junto do Níger superior, no Sudão Ocidental, o estado de Ganá, a leste do qual irá surgir o primeiro reino Songai. No século X, a invasão dos Sossos abate-se sobre o reino de Ganá que começará a desagregar-se, irão então surgir em cena populações negras oriundas de outros territórios. Formara-se entretanto o Estado de Mali, dos Mandingas, que no século XIV estendem o seu domínio até à Guiné Portuguesa. No seu apogeu, aquele reino terá incorporado Tungubutu, Songai e outras regiões, mas o Império de Songai conseguiu libertar-se. O Mandimansa seria o imperador de uma parcela do vasto reino Mandinga. Se nos recordarmos do que escreveu na sua tese de doutoramento Carlos Lopes em Kaabunké (Espaço, território e poder na Guiné-Bissau, Gãmbia e Casamance), de que igualmente aqui já se fez menção(2), os dados históricos têm larga margem de flutuação. Espero em breve referir-vos uma compilação de textos publicada pelo Comissariado Nacional da Mocidade Portuguesa intitulado “Mandingas – Um pouco de História” e também se verificam discrepâncias cronológicas apreciáveis.
Mas voltemos a Mendes Corrêa, estamos no Império do Mali e é a vez dos árabes se voltarem para os tesouros do Sudão. Tungubutu é conquistado em 1591 pelo Sultão de Marrocos. Songai passa a colónia marroquina. É neste entretanto que emergem os Fulas.
Na Guiné, os Mandingas são os principais adversários que os Fulas encontram no Futa-Djalon. Os Mandingas da Guiné são batidos e subjugados pelos Fulas em 1836, o mesmo sucede com os Beafadas. Para Mendes Correia é este o contexto em que se chega à carta etnológica atual.
A população da Guiné não terá mudado muito desde as descrições dos nossos autores dos séculos XV e XVI. Terão perdido importância demográfica os Nalus, os Beafadas e os Cassangas e progredido os Balantas e os Fulas. Adverte Mendes Corrêa: “Apesar das diversas investigações realizadas, não pode considerar esclarecido o problema das origens e afinidades raciais de todos os grupos étnicos da nossa Guiné”.
Os Fulas proviriam de uma mistura de Etíopes e de Negríticos (negros sudaneses e nilóticos). Os outros agregados seriam Negríticos (negros que não falam línguas Bantus), destacando-se os Mandingas (ou Mandé) num grupo à parte: todas as outras populações da nossa Guiné seriam Negríticos litorais ou guineenses, com grande uniformidade do tipo físico. Os Felupes seriam a tribo principal dos Diola de entre o Casamansa e o Gâmbia. Mendes Corrêa refere como quase autóctones os Balantas, os Banhus, os Papéis, os Bijagós, os Beafadas e os Nalus.
O Fula é suscetível de enquadramento na raça etiópica. André Álvares de Almada, no século XVI, descreve-os deste modo: são robustos, bem-dispostos, de cor amulatada, os cabelos corredios. Na nossa Guiné, mencionam-se os Fulas forros, os Futa-Fulas e os Fulas pretos. Os primeiros e os últimos terão resultados das migrações Fulas, os forros consideram os Fulas pretos são antigos escravos. Os Fulas forros são descritos como de estatura elevada, corpo delgado, cor acobreada, cabelos lanosos, nariz e lábios finos. Segundo Carvalho Viegas, um governador que se abalançou a estudar a região, o Mandinga morfologicamente é uma espécie de raça negra, sem mescla de sangue. Duarte Pacheco refere que os Beafadas estavam sujeitos aos Mandingas. Os Sossos teriam sido expulsos do Futa-Djalon e empurrados para a costa pelos Fulas. André Álvares de Almada refere que os Bijagós são “mui pretos, gentis-homens, não furam as orelhas, as mulheres sim”.
Mendes Corrêa recolhe a opinião dos colonialistas do seu tempo: Os Fulas são tipos como ambiciosos, o grupo mais civilizado e de maior superioridade intelectual; os Mandingas como inteligentes, perspicazes, observadores, empreendedores e aristas; os Felupes como independentes, corajosos e hospitaleiros; os Papéis como traiçoeiros, belicosos, pouco trabalhadores; os Brames como inteligentes, pacíficos e trabalhadores; os Manjacos como inteligentes, dominados pelo pudor, trabalhadores, os mais acessíveis a influência portuguesa, ainda que litigantes e pouco probos; os Balantas como inteligentes, tenazes, argutos, laboriosos, mas ladrões e litigantes; os Bijagós como artistas, belicosos e tímidos.
Depois, Mendes Corrêa abalança-se à descrição sobre os idiomas, mobiliário, tipos de habitação, vestuário, tatuagens, manifestações religiosas, totemismo, sistemas de justiça, panaria, olaria, escultura, trabalhos em coiro, arte musical e literatura, não há elementos inovadores, digamos que se trata de um conspecto antropológico e etnográfico com base em bibliografia recolhida.
“Raças do Império” foi uma revelação para o tempo, nunca se tinha ido tão longe numa síntese sobre todos os povos que constituíam Portugal e o seu Império. Tratou-se de uma recolha meticulosa, de acordo com a documentação existente e as preocupações raciais que fizeram furor no primeiro quartel do século, ao nível dos estudos coloniais. Mendes Corrêa procurou ser abrangente e leu alguma da melhor bibliografia internacional do seu tempo, reconheça-se.
Daí resultou um texto fluído, bem organizado para não iniciados, estamos numa época em que os autores procuravam atrair o leitor capturando-o para o exotismo e quase com ternura pelo “bom selvagem”. É assim que ele escreve: “Há, entre Mandingas, Fulas, Manjacos, Papéis, Bijagós, entre outros, canções, batuques, danças, pantominas, de variado carácter, como para incitamento ao trabalho agrícola, orgia, culto religioso, homenagens fúnebres. Entre Mandingas, as mulheres casadas, geralmente, não dançam; os Papéis cantam a valentia dos seus chefes mortos, organizando danças fúnebres em sua honra. Os Bijagós têm o culto da vaca…”.
Foi um enorme esforço, este estudo de índole imperial, e não é por acaso que refere com alguma insistência a exposição colonial de 1934 e a Exposição do Mundo Português de 1940, foram polos de atração para o desenvolvimento da curiosidade em conhecer os povos que estavam sujeitos à nossa missão civilizadora.
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Notas do editor:
(1) Vd. poste de 12 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9183: Notas de leitura (311): Uma Jornada Científica na Guiné Portuguesa, de António Mendes Corrêa (Mário Beja Santos)
(2) Vd. poste de 12 de Outubro de 2012 > Guiné 63/74 - P10519: Notas de leitura (416): Kaabunké Espaço, território e poder na Guiné-Bissau, Gâmbia e Casamance", por Carlos Lopes (Mário Beja Santos)
Vd. último poste da série de 1 de Fevereiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11037: Notas de leitura (454): "A Pátria ou a Vida" por Gertrudes da Silva (2) (Mário Beja Santos)
Guiné 63/74 - P11053: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca...é Grande (62) ): Aníbal Silva, através da filha, procura e encontra o seu antigo comandante do 1º Pel da 1ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (Buba, 1973/74), António Manuel Gaudêncio Nunes, ex-alf mil op esp, natural de Lisboa
Guiné > Região de Quínara > Aldeia Formosa > Comando, CCS e 1ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (1973/74)... As outras suas unidades orgânicas estiveram em Buba (a 1ª CCAÇ) e em Nhala (2ª CCAÇ). O 1º encontro / convívio do BCAÇ 4513 (as quatro companhias) foi em 8 de dezembro de 2009.
Foto: © Fernando Costa (2009). Todos os direitos reservados.
1. Resposta do António Manuel Gaudêncio Nunes ao pedido de Nilza Silva (*)
Boa noite, sou António Manuel Gaudêncio Nunes, ex Alf mil Ranger, comandante do 1º pel, 1ª CCaç/BCaç 4513. Com emoção tomei conhecimento da busca da Srª prof. Nilza Silva com o intuito de surpreender seu pai e meu camarada Anibal Silva, a quem envio um forte abraço.
Para qualquer contacto: amgnunes@sapo.pt
Cumprimentos
Nunes
Nunes
2. Mensagem do nosso colaborador permanente, José Martins, que já tinha identificado a unidade, a 1ª CCAÇ / BCAÇ 4513/72 (, mobilizado em Tomar, chegou ao To da Guiné em março de 1973 e regressou em setembro de 1974). A 1ª CCAÇ esteve em Buba.
[ Temos aqui no nosso blogue, pelo menos dois camaradas deste BCAÇ 4513/72: (i) o Fernando Silva da Costa, ex-Fur Mil Trms, da CCS/BCAÇ 4513, Aldeia Formosa, 1973/74), que mor em Lisboa; e (ii) o José Carlos Ramos dos Santos Gabriel (ex-1.º Cabo Op Cripto da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513, Nhala, 1973/74), que é natural de Almada.]
Caro António Nunes
São estas noticias que engrandecem este blogue. Uma noticia colocada neste espaço e aparece sempre um camarada novo. Agora, creio, que vamos ter dois.
A "porta está aberta". Não é preciso bater e/ou empurrar. Duas fotos e uma pequena história.
Resultado: lugar garantido junto ao poilão da Tabanca Grande.(**)
Matem as saudades de longas décadas e satisfaçam a alegria da "nossa filha" Niza, porque "os filhos dos nossos camaradas, nossos filhos são", ao dizer ao pai:
- Encontrei o teu camarada e amigo Nunes!
Todos nunca seremos demais. A guerra nos uniu para toda a vida.
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Notas do editor:
(*) 1 de fevereiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11038: Em busca de... (213): Camaradas de Buba, 1972/74 (Aníbal Silva, através da sua filha Nilza Gonçalves)
(...) Sou professora, Nilza Gonçalves, filha de um ex-combatente. Aníbal Gonçalves da Silva (Aníbal Silva) esteve em Buba, na Guiné, entre 1972-1974, era o número [mecanográfico] 1014733, pertencia aos rangers, à 1.ª companhia, 1.º pelotão. O seu furriel era o senhor Peixoto e o seu alferes era o senhor Gaudêncio Nunes, natural de Lisboa...
O meu pai não se lembra do número da companhia dele, só tem na sua memória o que já descrevi. No entanto, o meu pai gostava de encontrar os seus colegas combatentes... Já procurei em sites, mas é difícil.
Será que o senhor Luís pode-me ajudar a fazer esta "surpresa" ao meu pai ? (...)
Guiné 63/74 - P11052: Parabéns a você (531): José Belo, ex-Alf Mil da CCAÇ 2381 (Guiné, 1968/70) e Mário Silva Bravo, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 6 (Guiné, 1971/72)
____________
Nota do editor:
Vd. último poste da série de 2 DE FEVEREIRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11041: Parabéns a você (530): Germano Santos, ex-1.º Cabo Op Cripto da CCAÇ 3305/BCAÇ 3832 (Guiné, 1970/73)
Nota do editor:
Vd. último poste da série de 2 DE FEVEREIRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11041: Parabéns a você (530): Germano Santos, ex-1.º Cabo Op Cripto da CCAÇ 3305/BCAÇ 3832 (Guiné, 1970/73)
domingo, 3 de fevereiro de 2013
Guiné 63/74 - P11051: Tabanca Grande (384): Manuel Isidro Campelo de Sousa, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista dos STM (Bafatá e Nova Lamego, 1970/72)
1. Mensagem do nosso camarada e novo tertuliano Manuel Isidro Campelo de Sousa*, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista (STM), Bafatá e Nova Lamego, 1970/72, com data de 30 de Janeiro de 2013:
Com os melhores cumprimentos,
Em anexo segue a minha identificação com as duas fotos pedidas; para que possa fazer parte desta grandiosa obra editada por vós, e que jamais possa cair no esquecimento das gerações futuras !!!
Para todo o elenco editor do blog um abraço;
Campelo de Sousa
A minha apresentação:
Nome: Manuel Isidro Campelo de Sousa
Posto: 1º Cabo Radiotelegrafista
Arma: Transmissões.
Quartel Regimento de Transmissões - Arca D'Água – Porto.
Início de comissão na Guiné (desembarque em Bissau): 24-09-1970
Localidades onde prestei serviço: (STM) Posto de Rádio em Bafatá e Posto de Rádio em Nova Lamego (Gabu).
Fim da Comissão e regresso à metrópole: 14-10-1972
2. A minha ida para a Guiné
Foi na manhã do dia 18 de SETEMBRO do ANO de 1970 que eu embarquei em Lisboa no cais de Alcântara a caminho da GUERRA na Guiné, a bordo do navio ANA MAFALDA.
Na hora do embarque, os oficiais foram distribuídos pelos beliches dos "camarotes", o SOLDADO, como de costume nestas e noutras situações, foi mandado para o porão, amontoados como sardinhas em lata, onde não se conseguia respirar e estavam montados uns beliches de ferro com umas enxergas em cima, e onde casa de banho não havia.
Foi uma bela viagem, como devem calcular, com os baldes dos dejectos do porão a serem despejados borda fora de manhã e ao fim da tarde.
Eu, pessoalmente também enjoei e de que maneira. Recordo-me que, mais ou menos dois ou três dias depois de termos partido de Lisboa já em alto mar, durante a madrugada uns jogavam a vermelhinha, outros escreviam cartas à família, outros enjoados vomitavam, e, um ou outro estaria a dormir, quando as sirenes do barco começaram a roncar, porque havia incêndio no compartimento das máquinas que faziam mover o barco.
Toca a levantar a toda a pressa, não houve tempo para calçar nem vestir, agarrar os coletes salva vidas para a eventualidade de termos de nos atirar ao mar, e fomos evacuados a toda a pressa para a proa do navio, pois havia fumo por todos os lados. Era noite escura, só se conseguia ver estrelas no céu e ouvia-se a água a bater no casco do barco!
Foi um daqueles sustos que mesmo aos 22 anos de idade deixam marcas para o resto da vida.
Ainda hoje não gosto de andar de barco! Estivemos quase a noite inteira parados em alto mar até ser reparada a máquina que tinha ficado danificada com o incêndio, depois lá continuamos a viagem até à Guiné, chegando e atracando em Bissau na manhã do dia 24 de Setembro de 1970.
3. Comentário de CV:
Caro camarada Campelo de Sousa, és mais um ex-militar das Transmissões a juntar-se ao já numeroso grupo de camaradas desta Arma que fazem parte da nossa tertúlia.
Já fui espreitar o teu Blogue, muito bem apresentado, dedicado essencialmente à tua terra e à região do Douro, mais propriamente da margem esquerda deste rio, já pertencente ao Distrito de Viseu. Acho que estou certo.
Encontrei também no teu blogue duas alusões à tua vida militar, de onde retirei a tua ida para a Guiné no navio Ana Mafalda, que também me levou a mim e a tantos e tantos camaradas desta tertúlia.
Das muitas obrigações que assumimos quando ingressamos nesta tertúlia, contribuir com algumas histórias e fotos do nosso tempo de ex-combatentes são das principais. Podemos também colaborar comentando, chamando a atenção para algo menos verdadeiro, não porque alguém tenha mentido deliberadamente mas porque foi traído pela memória, ajudando portanto a elaborar esta memória futura, mesmo com as imperfeições próprias das histórias contadas na primeira pessoa. Isto tudo para te dizer que ficamos à espera das tuas memórias escritas e em fotografias. Andaste por Bafatá e Nova Lamego, terás muito para contar, dizemos nós.
Acabo deixando em nome dos editores e da tertúlia, um abraço de boas-vindas.
Ficamos por aqui ao teu dispor para qualquer dúvida que tenhas.
O teu camarada e novo amigo
Carlos Vinhal
____________
Nota de CV:
(*) Vd. poste de 28 DE MAIO DE 2011 > Guiné 63/74 - P8342: O Nosso Livro de Visitas (112): Campelo de Sousa, ex-radiotelegrafista de rendição individual (Bafatá, 1970; Nova Lamego, 1971/72), relembrando a sua passagem por Bambadinca
Vd. último poste da série de 24 DE JANEIRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P10995: Tabanca Grande (383): José António Gomes de Sousa, ex-Soldado Condutor Auto da CCAV 3404/BCAV 3854 (Cabuca, 1971/73)
Com os melhores cumprimentos,
Em anexo segue a minha identificação com as duas fotos pedidas; para que possa fazer parte desta grandiosa obra editada por vós, e que jamais possa cair no esquecimento das gerações futuras !!!
Para todo o elenco editor do blog um abraço;
Campelo de Sousa
A minha apresentação:
Nome: Manuel Isidro Campelo de Sousa
Posto: 1º Cabo Radiotelegrafista
Arma: Transmissões.
Quartel Regimento de Transmissões - Arca D'Água – Porto.
Início de comissão na Guiné (desembarque em Bissau): 24-09-1970
Localidades onde prestei serviço: (STM) Posto de Rádio em Bafatá e Posto de Rádio em Nova Lamego (Gabu).
Fim da Comissão e regresso à metrópole: 14-10-1972
O meu Blog:
2. A minha ida para a Guiné
Foi na manhã do dia 18 de SETEMBRO do ANO de 1970 que eu embarquei em Lisboa no cais de Alcântara a caminho da GUERRA na Guiné, a bordo do navio ANA MAFALDA.
Na hora do embarque, os oficiais foram distribuídos pelos beliches dos "camarotes", o SOLDADO, como de costume nestas e noutras situações, foi mandado para o porão, amontoados como sardinhas em lata, onde não se conseguia respirar e estavam montados uns beliches de ferro com umas enxergas em cima, e onde casa de banho não havia.
Foi uma bela viagem, como devem calcular, com os baldes dos dejectos do porão a serem despejados borda fora de manhã e ao fim da tarde.
Eu, pessoalmente também enjoei e de que maneira. Recordo-me que, mais ou menos dois ou três dias depois de termos partido de Lisboa já em alto mar, durante a madrugada uns jogavam a vermelhinha, outros escreviam cartas à família, outros enjoados vomitavam, e, um ou outro estaria a dormir, quando as sirenes do barco começaram a roncar, porque havia incêndio no compartimento das máquinas que faziam mover o barco.
Toca a levantar a toda a pressa, não houve tempo para calçar nem vestir, agarrar os coletes salva vidas para a eventualidade de termos de nos atirar ao mar, e fomos evacuados a toda a pressa para a proa do navio, pois havia fumo por todos os lados. Era noite escura, só se conseguia ver estrelas no céu e ouvia-se a água a bater no casco do barco!
Foi um daqueles sustos que mesmo aos 22 anos de idade deixam marcas para o resto da vida.
Ainda hoje não gosto de andar de barco! Estivemos quase a noite inteira parados em alto mar até ser reparada a máquina que tinha ficado danificada com o incêndio, depois lá continuamos a viagem até à Guiné, chegando e atracando em Bissau na manhã do dia 24 de Setembro de 1970.
3. Comentário de CV:
Caro camarada Campelo de Sousa, és mais um ex-militar das Transmissões a juntar-se ao já numeroso grupo de camaradas desta Arma que fazem parte da nossa tertúlia.
Já fui espreitar o teu Blogue, muito bem apresentado, dedicado essencialmente à tua terra e à região do Douro, mais propriamente da margem esquerda deste rio, já pertencente ao Distrito de Viseu. Acho que estou certo.
Encontrei também no teu blogue duas alusões à tua vida militar, de onde retirei a tua ida para a Guiné no navio Ana Mafalda, que também me levou a mim e a tantos e tantos camaradas desta tertúlia.
Das muitas obrigações que assumimos quando ingressamos nesta tertúlia, contribuir com algumas histórias e fotos do nosso tempo de ex-combatentes são das principais. Podemos também colaborar comentando, chamando a atenção para algo menos verdadeiro, não porque alguém tenha mentido deliberadamente mas porque foi traído pela memória, ajudando portanto a elaborar esta memória futura, mesmo com as imperfeições próprias das histórias contadas na primeira pessoa. Isto tudo para te dizer que ficamos à espera das tuas memórias escritas e em fotografias. Andaste por Bafatá e Nova Lamego, terás muito para contar, dizemos nós.
Acabo deixando em nome dos editores e da tertúlia, um abraço de boas-vindas.
Ficamos por aqui ao teu dispor para qualquer dúvida que tenhas.
O teu camarada e novo amigo
Carlos Vinhal
____________
Nota de CV:
(*) Vd. poste de 28 DE MAIO DE 2011 > Guiné 63/74 - P8342: O Nosso Livro de Visitas (112): Campelo de Sousa, ex-radiotelegrafista de rendição individual (Bafatá, 1970; Nova Lamego, 1971/72), relembrando a sua passagem por Bambadinca
Vd. último poste da série de 24 DE JANEIRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P10995: Tabanca Grande (383): José António Gomes de Sousa, ex-Soldado Condutor Auto da CCAV 3404/BCAV 3854 (Cabuca, 1971/73)
Guiné 63/74 - P11050: In Memoriam (136): A CCAÇ 2312 do BCAÇ 2834 (1968/69) está de luto. Faleceu o Alf Mil OpEsp/RANGER Carlos Hermes Ferreira Teixeira (António Brandão)
Camaradas,
Apenas para te informar que o Alferes Miliciano de Infantaria, Operações Especiais, Carlos Hermes Ferreira Teixeira, acaba de falecer.
O RANGER Hermes, frequentou o 3º curso de Operações Especiais em Lamego, em 1967. De 1968/69, esteve na Guiné, ao serviço da CCaç 2312 pertencente ao BCaç 2834.
Porque é um dos vossos, Guiné, porque não dize-lo, nossos também, agradecia a publicação no blogue do Luís Graça.
O nosso camarada encontra-se em Paranhos sendo o funeral amanhã, 2013-02-04 para cemitério da mesma freguesia, pelas 10h30.
Recebam um abraço,
António Brandão
_____________
Nota de M.R.:
Vd. o último poste desta série em:
13 DE DEZEMBRO DE 2012 > Guiné 63/74 - P10795: In Memoriam (135): Dona Berta de Bissau (1930-2012) (Hélder Sousa / Patrício Ribeiro / Antº Rosinha)
Guiné 63/74 - P11049: (Ex)citações (208): Monóculo de Spínola oferecido ao Museu Etnográfico de Silgueiros - Viseu (Amaral Bernardo)
1. Mensagem do nosso camarada Amaral Bernardo (ex-Alf Mil Médico, CCS/BCAÇ 2930, Catió, 1970/72), com data de 30 de Janeiro de 2013:
Luís e Carlos,
À boa maneira portuguesa,"espero que se encontrem bem".
Ao ler o poste 11024, lembrei-me de um momento de espanto, incrédulo, e que por momentos me fez pôr em causa a legitimidade de continuar a conduzir nessa tarde, quando visitava o Museu Etnográfico de Silgueiros (naturalmente após o almoço da "ordem" no "Martelo" que aconselho, mesmo aos de estômago mais delicados, se fizerem uns estágios prévios no "Cortiço" na vizinha Viseu).
Do Museu Etnográfico de Silgueiros direi apenas que é uma pérola rara, praticamente desconhecida, e cuja alma, para além do conteúdo, é a determinação de um homem, seu director, o Comandante António Lopes Pires.
Acrescento, só como exemplo e para "aguçar" a curiosidade, que tem uma colecção com 72.000 (setenta e dois mil) botões - mil e tal à vista e os restantes em caixas! Mas eu conto:
Quando admirava com atenção a coleção de óculos (eu colecciono, melhor, junto óculos antigos), as minhas retinas foram atraídas para um conjunto singelo-monóculo em estojo apropriado e com um cartão de visita com uma dedicatória manuscrita, naturalmente.
Aproximei-me o quanto o vidro me permitiu... Sim, aquele conjunto foi oferecido pelo Gen Spínola, cujo nome e dedicatória eu vi com "estes que a terra (ou o fogo) há-de comer".
Apontando o dedo, perguntei a António Lopes Pires, que teve a gentileza de me guiar na visita:
- Como é que aquilo veio parar aqui?
E ele disse-me!
Prometi ao António Lopes Pires que divulgaria o Museu sempre que eu pudesse (cheguei a enviar imagens para a RTP2 que nunca me respondeu).
Assim, quem quiser saber o que me foi dito... terá que ir a Silgueiros.Vai gostar, garanto. Ah, e levem os "complementos afectivos" (sem ofensa) - tem uma colecção de trajes antigos...!
Mas não resisto a deixar um pormenor, quiçá o mais importante e desconhecido, e provavelmente o que melhor documenta o traço de "actor," de "persona" do Gen Spínola, também conhecido na Guiné de então por "tres ulho"- três olhos: É que o "caco" não tem graduação, é de vidro neutro!!!
Polémico, sim... mas líder carismático, foi!
Abraço para ambos.
Amaral Bernardo
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Nota do editor:
Vd. último poste da série de 14 DE JANEIRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P10940: (Ex)citações (207): Festejando a entrada do nosso seiscentésimo grã-tabanqueiro, Abílio Magro, natural de Fronteira, um dos seus 6 filhos que a família Magro ofereceu à ditosa Pátria amada para servir em África (Angola, Moçambique e Guiné) ...
Guiné 63/74 - P11048: Furriel enfermeiro, ribatejano e fadista (Armando Pires) (5): O dia em que a minha mala voou
1. Em mensagem datada de 30 de Janeiro de 2013, o nosso camarada Armando Pires (ex-Fur Mil Enf.º da CCS/BCAÇ 2861,Bula e Bissorã, 1969/70) enviou-nos mais uma das suas histórias:
Furriel enfermeiro, ribatejano e fadista (Armando Pires) (5)
O dia em que a minha mala voou
A coluna estava pronta para se pôr em marcha. À frente o rebenta minas, logo atrás uma das Panhard’s do EREC 2454, depois um Unimog com munições para o Óbus 14 e as restantes viaturas.
Eram seis camionetas civis que, vindas de Bissau, tinham sido cambadas, uma a uma, através do Rio Mansoa para João Landim e daí escoltadas até Bula, onde foi organizado o comboio militar que iria levar os reabastecimentos ao aquartelamento de Binar.
Além das Panhard’s, a da frente, outra colocada a meio e uma terceira a fechar a coluna, acrescia à segurança o 2º grupo de combate da CCAÇ 2466.
Cheguei-me à frente para tomar lugar no Unimog das munições. Fui para me sentar ao lado do condutor mas estava lá o Alfredo Miranda, soldado radiotelegrafista da minha CCS. Arrepiei caminho, mas ele, saltando da viatura, gritou-me:
- Ó Furriel, venha para aqui que eu vou lá atrás.
Seguiu-se, entre mim e ele, um jogo de cortesia, muito estranho para aquela hora da manhã e para aquelas circunstâncias, com o Miranda a querer dar-me o lugar e eu a dizer-lhe que não senhor, vai tu aí que lá atrás sento-me eu, a coluna presa, salvo seja, por tanta cerimónia, quando ele encontrou uma solução:
- Ó furriel Pires, então deixe ir aqui este nosso furriel que vem agora do hospital.
Sentei-me atrás, no chão do Unimog que ia sem taipais, com a chapa de matrícula a servir-me de apoio para os pés. Ao meu lado o Miranda e o Carlos Senra, também soldado radiotelegrafista da CCS. Dois homens do Norte, do Porto, com um sotaque daqueles nascidos e criados às portas do Bolhão.
Eram assim uma espécie de Roque e a Amiga. Sempre juntos.
Estiveram ambos em Binar, durante cerca de mês e meio, ao serviço da CCAÇ 2404, em substituição de dois radiotelegrafistas que tinham ido a consultas médicas em Bissau. Por lá fizeram e deixaram amizades, a tal ponto que sempre que havia uma coluna lá iam eles contribuir para o aumento das receitas do bar.
Iniciámos a nossa marcha e o Miranda explicou-me quem era o furriel a quem cedemos o lugar, lá à frente. Era um operacional da 2404 que fora ferido com estilhaços de um roquete, tinha sido evacuado para o Hospital Militar de Bissau e agora, que tivera alta, estava de regresso à sua unidade.
Contou-me ainda o Miranda que tinha saído com eles numa operação de segurança aos trabalhos de campinagem na estrada Binar, que deram voltas e mais voltas mas campinadores nem vê-los. Talvez porque… a única coisa que viram, ouviram e sentiram, foi a chuva de balas e de granadas que sobre eles choveram, vindas do lado do Choquemone. O tal furriel, que estava ali “mesmo à beira” do Miranda, foi atingido por vários estilhaços mas, felizmente, sem gravidade de maior.
Até se lamentou o Miranda que o rapaz era um dos “convocados” para a futebolada que, à tarde, iam ter lá em Binar. Cabe aqui dizer que o Miranda era bom de bola. Um centro campista com peito para o que fosse preciso, com pés capazes de meter a bola onde fosse necessário. Ou não tivesse sido ele da escola do grande “salgueiral”, o Sport Comércio e Salgueiros de belas memórias.
O Carlos Senra, que ia ali ao lado, é que não era metido na conversa. Bola para ele, só se fosse daquelas de Berlim.
Íamos nestas divagações, passámos a mata dos cajueiros, acenei ao Teixeira, o meu soldado maqueiro que saíra, ainda noite, com três secções da 2466 que ali emboscaram, em segurança aos sapadores que foram picar a estrada, aproximávamo-nos daquela mata, à esquerda da estrada, onde já “cheirava” a Choquemone, quando pelo ar viajou até nós o som cavo da saída de uma morteirada.
Impulsionado pela travagem brusca do Unimog e pela acção que exerci com os pés na chapa de matrícula, voei sei lá que distância nem com que peso bati no chão.
De um lado e do outro, o fogo era intenso.
Chamaram por mim e eu procurei a minha mala de enfermeiro.
- A mala, porra? Onde é que está a mala?
- Qual mala, furriel? – era o Miranda a perguntar.
-A minha mala, merda. Tenho ali um ferido e não sei da mala.
- Furriel, está aqui – foi o Senra a descobri-la.
Mas a mala estava vazia. No descontrole do voo fui acompanhado pela mala. Pelo ar perdeu-se tudo o que lá ia dentro.
Então, o Miranda, o Senra e eu, naquela posição em que é mister dizer-se que foi como a Alemanha perdeu a guerra, começámos a procurar e a juntar frascos de soro e garrotes, “saiam daí, merda”, ligaduras e maços de algodão, e o fogo não parava nem de um lado nem do outro, ampolas de anticoagulantes e de narcóticos analgésicos, “saiam daí”, gritava a voz, mas o Miranda e o Senra não paravam de me ajudar a apanhar tesouras, pinças e o mais que eu precisava, porque tinha ali um ferido à minha espera.
Consta do relatório de operações que aquela emboscada durou trinta minutos. E todavia, do nosso lado apenas um ferido sem grande gravidade e um outro militar com um tornozelo de todo o tamanho.
Enquanto se “limpava” o terreno, o capitão Monge, do EREC 2454, que comandava a coluna, sugeriu que dada a pouca gravidade do ferido, e a relativa pouca distância a que estávamos de Bula, em vez de se perder mais tempo com a chamada de um heli para a evacuação, que eu levasse o ferido e o coxo a Bula, num Unimog, com uma Panhard a proteger. Lá fui, e avisado pelo rádio o Machado, meu cabo enfermeiro, veio ao caminho, na ambulância, recolher os dois homens.
Eu voltei à coluna que já estava, de novo, a meter-se em marcha.
Mal chegados ao canal da bazuca, tornámos a encher.
Ainda hoje não sei quem lhe deu o nome nem porque foi que lho deram. O assim chamado canal da bazuca, era um trilho aí com uns duzentos metros, ladeado de árvores, o que lhe dava um aspecto de túnel, que ido da estrada desembocava dentro da mata do Choquemone. Era, por assim dizer, o ponto de encontro com o IN.
Aqui voltámos a ter feridos. Dois, já com uma certa gravidade. Mas do lado do PAIGC as perdas foram grandes e uma delas de enorme significado.
Foi abatido o capitão Nhaga, chefe do 1º bigrupo do Choquemone, e feitos prisioneiros os dois homens que tentavam resgatar o corpo.
Desta vez não houve que sopesar circunstâncias.
Eu com os feridos num carro, o corpo do Nhaga e os dois prisioneiros noutro, regressámos a toda a velocidade para Bula. À tarde, quando a coluna regressou de Binar, o Miranda passou pela enfermaria a cumprimentar-me:
- Então furriel, está tudo bem? Olhe que você teve uma sorte do caraças. Acabámos por embrulhar a terceira vez.
Não era preciso ele dizer-mo. Eu tinha sabido via rádio. Tinha sabido, sobretudo, que dessa vez não tivéramos baixas. Mas lá que foi uma manhã complicada, ai isso foi.
Infelizmente, há já alguns anos que o Carlos Senra nos deixou. Mas o Miranda, o Alfredo Miranda, está aí na sua cidade do Porto, muito debilitado na sua saúde, mas a malta da Gloriosa Tabanca de Matosinhos já foi umas três vezes a casa buscá-lo, para que com eles partilhasse as memórias e a camaradagem que teimamos em não querer perder.
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Nota do editor:
Vd. último poste da série de 6 DE DEZEMBRO DE 2012 > Guiné 63/74 - P10768: Furriel enfermeiro, ribatejano e fadista (Armando Pires) (4): Eu tinha dois doutores
Furriel enfermeiro, ribatejano e fadista (Armando Pires) (5)
O dia em que a minha mala voou
A coluna estava pronta para se pôr em marcha. À frente o rebenta minas, logo atrás uma das Panhard’s do EREC 2454, depois um Unimog com munições para o Óbus 14 e as restantes viaturas.
Eram seis camionetas civis que, vindas de Bissau, tinham sido cambadas, uma a uma, através do Rio Mansoa para João Landim e daí escoltadas até Bula, onde foi organizado o comboio militar que iria levar os reabastecimentos ao aquartelamento de Binar.
Além das Panhard’s, a da frente, outra colocada a meio e uma terceira a fechar a coluna, acrescia à segurança o 2º grupo de combate da CCAÇ 2466.
Cheguei-me à frente para tomar lugar no Unimog das munições. Fui para me sentar ao lado do condutor mas estava lá o Alfredo Miranda, soldado radiotelegrafista da minha CCS. Arrepiei caminho, mas ele, saltando da viatura, gritou-me:
- Ó Furriel, venha para aqui que eu vou lá atrás.
Seguiu-se, entre mim e ele, um jogo de cortesia, muito estranho para aquela hora da manhã e para aquelas circunstâncias, com o Miranda a querer dar-me o lugar e eu a dizer-lhe que não senhor, vai tu aí que lá atrás sento-me eu, a coluna presa, salvo seja, por tanta cerimónia, quando ele encontrou uma solução:
- Ó furriel Pires, então deixe ir aqui este nosso furriel que vem agora do hospital.
Sentei-me atrás, no chão do Unimog que ia sem taipais, com a chapa de matrícula a servir-me de apoio para os pés. Ao meu lado o Miranda e o Carlos Senra, também soldado radiotelegrafista da CCS. Dois homens do Norte, do Porto, com um sotaque daqueles nascidos e criados às portas do Bolhão.
Eram assim uma espécie de Roque e a Amiga. Sempre juntos.
Estiveram ambos em Binar, durante cerca de mês e meio, ao serviço da CCAÇ 2404, em substituição de dois radiotelegrafistas que tinham ido a consultas médicas em Bissau. Por lá fizeram e deixaram amizades, a tal ponto que sempre que havia uma coluna lá iam eles contribuir para o aumento das receitas do bar.
Iniciámos a nossa marcha e o Miranda explicou-me quem era o furriel a quem cedemos o lugar, lá à frente. Era um operacional da 2404 que fora ferido com estilhaços de um roquete, tinha sido evacuado para o Hospital Militar de Bissau e agora, que tivera alta, estava de regresso à sua unidade.
Contou-me ainda o Miranda que tinha saído com eles numa operação de segurança aos trabalhos de campinagem na estrada Binar, que deram voltas e mais voltas mas campinadores nem vê-los. Talvez porque… a única coisa que viram, ouviram e sentiram, foi a chuva de balas e de granadas que sobre eles choveram, vindas do lado do Choquemone. O tal furriel, que estava ali “mesmo à beira” do Miranda, foi atingido por vários estilhaços mas, felizmente, sem gravidade de maior.
Até se lamentou o Miranda que o rapaz era um dos “convocados” para a futebolada que, à tarde, iam ter lá em Binar. Cabe aqui dizer que o Miranda era bom de bola. Um centro campista com peito para o que fosse preciso, com pés capazes de meter a bola onde fosse necessário. Ou não tivesse sido ele da escola do grande “salgueiral”, o Sport Comércio e Salgueiros de belas memórias.
O Carlos Senra, que ia ali ao lado, é que não era metido na conversa. Bola para ele, só se fosse daquelas de Berlim.
Íamos nestas divagações, passámos a mata dos cajueiros, acenei ao Teixeira, o meu soldado maqueiro que saíra, ainda noite, com três secções da 2466 que ali emboscaram, em segurança aos sapadores que foram picar a estrada, aproximávamo-nos daquela mata, à esquerda da estrada, onde já “cheirava” a Choquemone, quando pelo ar viajou até nós o som cavo da saída de uma morteirada.
Impulsionado pela travagem brusca do Unimog e pela acção que exerci com os pés na chapa de matrícula, voei sei lá que distância nem com que peso bati no chão.
De um lado e do outro, o fogo era intenso.
Chamaram por mim e eu procurei a minha mala de enfermeiro.
- A mala, porra? Onde é que está a mala?
- Qual mala, furriel? – era o Miranda a perguntar.
-A minha mala, merda. Tenho ali um ferido e não sei da mala.
- Furriel, está aqui – foi o Senra a descobri-la.
Mas a mala estava vazia. No descontrole do voo fui acompanhado pela mala. Pelo ar perdeu-se tudo o que lá ia dentro.
Então, o Miranda, o Senra e eu, naquela posição em que é mister dizer-se que foi como a Alemanha perdeu a guerra, começámos a procurar e a juntar frascos de soro e garrotes, “saiam daí, merda”, ligaduras e maços de algodão, e o fogo não parava nem de um lado nem do outro, ampolas de anticoagulantes e de narcóticos analgésicos, “saiam daí”, gritava a voz, mas o Miranda e o Senra não paravam de me ajudar a apanhar tesouras, pinças e o mais que eu precisava, porque tinha ali um ferido à minha espera.
Consta do relatório de operações que aquela emboscada durou trinta minutos. E todavia, do nosso lado apenas um ferido sem grande gravidade e um outro militar com um tornozelo de todo o tamanho.
Enquanto se “limpava” o terreno, o capitão Monge, do EREC 2454, que comandava a coluna, sugeriu que dada a pouca gravidade do ferido, e a relativa pouca distância a que estávamos de Bula, em vez de se perder mais tempo com a chamada de um heli para a evacuação, que eu levasse o ferido e o coxo a Bula, num Unimog, com uma Panhard a proteger. Lá fui, e avisado pelo rádio o Machado, meu cabo enfermeiro, veio ao caminho, na ambulância, recolher os dois homens.
Eu voltei à coluna que já estava, de novo, a meter-se em marcha.
Mal chegados ao canal da bazuca, tornámos a encher.
Ainda hoje não sei quem lhe deu o nome nem porque foi que lho deram. O assim chamado canal da bazuca, era um trilho aí com uns duzentos metros, ladeado de árvores, o que lhe dava um aspecto de túnel, que ido da estrada desembocava dentro da mata do Choquemone. Era, por assim dizer, o ponto de encontro com o IN.
Aqui voltámos a ter feridos. Dois, já com uma certa gravidade. Mas do lado do PAIGC as perdas foram grandes e uma delas de enorme significado.
Foi abatido o capitão Nhaga, chefe do 1º bigrupo do Choquemone, e feitos prisioneiros os dois homens que tentavam resgatar o corpo.
Desta vez não houve que sopesar circunstâncias.
Eu com os feridos num carro, o corpo do Nhaga e os dois prisioneiros noutro, regressámos a toda a velocidade para Bula. À tarde, quando a coluna regressou de Binar, o Miranda passou pela enfermaria a cumprimentar-me:
- Então furriel, está tudo bem? Olhe que você teve uma sorte do caraças. Acabámos por embrulhar a terceira vez.
Não era preciso ele dizer-mo. Eu tinha sabido via rádio. Tinha sabido, sobretudo, que dessa vez não tivéramos baixas. Mas lá que foi uma manhã complicada, ai isso foi.
Infelizmente, há já alguns anos que o Carlos Senra nos deixou. Mas o Miranda, o Alfredo Miranda, está aí na sua cidade do Porto, muito debilitado na sua saúde, mas a malta da Gloriosa Tabanca de Matosinhos já foi umas três vezes a casa buscá-lo, para que com eles partilhasse as memórias e a camaradagem que teimamos em não querer perder.
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Nota do editor:
Vd. último poste da série de 6 DE DEZEMBRO DE 2012 > Guiné 63/74 - P10768: Furriel enfermeiro, ribatejano e fadista (Armando Pires) (4): Eu tinha dois doutores
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