quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Guiné 63/74 - P14273: (Ex)citações (260): Posso afirmar com conhecimento de causa que muitos deles se sentem “guineenses de Portugal” e eu sinto-me "português da Guiné" (José Teixeira)



Guiné-Bissau > Região de Tombali > Medjo > 2 de maio de 2013 > O nosso camarada Zé Teixeira, "régulo" da Tabanca Pequena de Matosinhos,  com o régulo de Medjo, na sua última viagem à Guiné-Bissau.


Foto: © José Teixeira (2014). Todos os direitos reservados



Guiné-Bissau > Região de Quínara > Buba > Tabanca Lisboa > 2005 > O José Teixeira com o chefe da tabanca e a sua lindíssima filha. "Um feliz reencontro. Regresso às origens em 2005. Encontro com um Português da Guiné, antigo paraquedista, que tem uma linda história para ser contada, pelo que sofreu e como consegui iludir o PAIGC para sobreviver à chacina de antigos combatentes portugueses".

Foto (e legenda): © José Teixeira (2005). Todos os direitos reservados


1. Comentário do José Teixeira José [ ex-1.º cabo aux enf, CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatáe Empada, 1968/70; membro fundador e animador da Tabanca de Matosinhos]:

Em matéria de afetos, não tenho dúvidas que estamos à frente, a muitas léguas de todos os povos que acidentalmente passaram pela Guiné. Digo acidentalmente, porque na realidade só houve um povo, o português, que deixou raízes. Foram quinhentos anos de vida em comum. Houve violências de parte a parte e os últimos doze anos de convivência foram terríveis por um lado e exemplares por outro, quando tratávamos as populações que estavam do nosso lado com respeito e as defendíamos de um inimigo comum.

Confesso que quando lá voltei em 2005 pela primeira vez, ia preocupado com a possível reacção dos guineenses, afinal eu tinha sido um "tuga", mas fui desarmado logo na fronteira, com o sorriso do guarda, que me perguntou onde estive no tempo da guerra e ao saber que estive em Buba, retorquiu: "Então conheceste o meu irmão que foi soldado milícia em Buba". Confesso que me senti, de imediato, em casa, e é assim que me sinto, quando aterro em Bissalanca.

Outras vezes se sucederam. A ligação ao povo português é de irmão para irmão. Antigos guerrilheiros abraçam com mesmo calor, que antigos soldados do exército português, qualquer de nós. É evidente que as conversas são naturalmente diferentes, mas já vi mais que uma vez, antigos "turras" a analisarem, com visitantes portugueses, no terreno, sem "paixões" acontecimentos que forma vivenciados em campos opostos. E também já senti na pele e de lágrimas nos olhos o prazer de abraçar inimigos do terreno que se cruzaram comigo, analisaram comigo os acontecimentos vivenciados, pediram “discurpa” e pediram para a partir dessa data sermos “ermons”,  é gente que acabada a guerra, voltou às suas terras, fez a paz com os familiares que estavam da outra banda e continuaram a construir o futuro.






Guiné-Bissau  >  Região de Bafatá > Xitole > 1 de maio de  2013 > "O Francisco Silva  mais um antigo guerrilheiro do PAIGC, procurando localizar pontos de guerra comuns". [ Companheirop de viagem do Zé Teixeira, em 2013 (**), o Franscisco, hoje cirurgião,  esteve no Xitole, como laf mil, ao tempo da CART 3942 / BART 3873 (1971/73), antes de ir comandar o Pel Caç Nat 51, Jumbembem, em meados de 1973]

Foto (e legenda): © José Teixeira (2013). Todos os direitos reservados


As marcas que ficaram da guerra colonial estão a desaparecer ao ritmo do desaparecimento prematuro dos combatentes guineeses. Nós, portugueses,  temos uma vida mais longa. Os guineenses mais novos, naturalmente, como os nossos filhos estão insensíveis à guerra, mas o testemunho que ficou é, a meu ver, pelas experiências que já tive nas várias visitas que fiz à Guiné, extremamente positivo em relação aos portugueses. O sonho deles é vir para Lisboa.

A luta, de facto, não era contra o povo português, mas contra o regime e Amilcar Cabral conseguiu passar bem esta ideia, tendo como colaboradores diretos os nossos soldados, a começar pelo Governador Spínola que colocou o povo guineense em primeiro lugar, apesar da luta que se travava.
Recordo por exemplo as palavras do tabanqueiro Zé Belo, meu comandante, ao chegar a Mampatá. Foi mais ou menos isto. "rapazes,  se tratarmos bem esta gente, seremos bem tratados e respeitados e eu quero levar-vos todos para casa daqui por dois anos. Se receber alguma queixa da população, o desgraçado comerá com toda a justiça do RDM que eu lhe puder dar".

E ao fim de 6 meses quando fomos deslocados para Buba, a população veio despedir-se de nós junto à saída para a picada.

Foram marcas como estas que vingaram. Éramos duros e agressivos no mato. Reagíamos com violência aos ataques do inimigo, mas tratávamos bem a população que estava connosco.
Hoje, posso afirmar com conhecimento de causa que muitos deles se sentem “guineeses de Portugal” e eu sinto-me "português da Guiné". (***)

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Notas do editor:

(*) Vd. postes de 8 de fevereiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14234: Sondagem: opinião "em matéria de afetos, e em relação aos guineenses, levamos hoje a dianteira a russos, chineses, cubanos, suecos e outros que apoiaram o PAIGC no tempo da guerra colonial"...




Guiné 63/74 - P14272: Inquérito online: 88% está de acordo com a proposição segundo a qual "em matéria de afetos, e em relação aos guineenses, levamos hoje a dianteira a russos, chineses, cubanos, suecos e outros que apoiaram o PAIGC no tempo da guerra colonial"







Lisboa > 5 de janeiro de 2015 > Um dos mais célebres murais de "street art" de Lisboa > "O  androide dos artistas VHILS e  PIXEL PANCHO

"Depois de esculpir rostos pelas ruas de Lisboa, o artista Alexandre Farto (mais conhecido por “Vhils”) juntou-se ao artista italiano Pixel Pancho e passou quatro dias a trabalhar numa obra junto ao rio no Jardim do Tabaco. O mural mistura o estilo dos dois, com figuras robóticas que são a imagem de marca de Pixel Pancho, e um típico rosto esculpido por Vhils. Foi assim criada uma imagem de um androide destruindo um barco com a mão, e quem for vê-la de perto poderá também deparar-se com barcos verdadeiros, pois a obra encontra-se junto de um dos terminais de cruzeiros da cidade." (Fonte: LisbonaLux.com)

Fotos: © Luís Graça (2015). Todos os direitos reservados.

A. Resultados finais da nossa última sondagem (*)


1. Concordo totalmente  > 87 (80,6%)

2. Concordo em parte  > 8 (7, 4%)

3. Não concordo nem discordo / Não sei  > 7 (6,5%)

4. Discordo em parte  > 2 (1,8%)

5. Discordo totalmente  > 4 (3,7%)

Votos apurados: 108

Sondagem fechada em 15/2/2015, 15h

B. Alguns comentários (a desenvolver em postes posteriores) (*):


(i) Carlos Vinhal:

(..:) Pressupõe-se que temos de responder como portugueses e não na qualidade de ex-combatentes.
Surge-me uma pergunta, por que se põe esta questão em relação à Guiné e não a Angola ou a Moçambique onde residiam mais portugueses (da metrópole) e o número de combatentes foi muito maior?  Que diz a Guiné em relação aos normais portugueses? Lembram-se de quando éramos mobilizados para a Guiné, aqui tão perto, as pessoas ficavam mais aterrorizadas do que se fôssemos para o distante território de Timor, lá do outro lado mundo?

Estou-me a lembrar de que nos primórdios dos anos 80, Matosinhos se geminou com Mansoa. Pergunto, quem da minha cidade saberá onde fica Mansoa? E o que fez Matosinhos por Mansoa?
Quebrando o sagrado segredo de voto, digo que respondi que não sabia, porque como português não sei da qualidade dos afectos dos meus compatriotas para com os guineenses. Se fosse sobre o meu afecto, enquanto ex-combatente, a isto sim saberia responder. (...)

(ii) Cherno Baldé (Guiné-Bissau):

(...) A semelhanca de alguns intervenientes, acho que esta sondagem só pode ter interesse na medida em que seja considerada simplesmente pedagógica e, ainda assim, ficam muitas questoes sem resposta, dependendo da posição o em que nos situamos e da perspectiva que temos do assunto, desde o mais pessimista aos mais positivos ou sentimentais.

(...) Eu não votei, na mesma linha que o Carlos porque, também, não sei qual a afeição que o povo português nutre em relação ao povo guineense, para além da evidente necessidade de encontrar um refúgio temporário que se transformaraá em definitivo mesmo se a Europa não levar a cabo a presente integração forçaada com capa de laicidade e de republicanismo que nunca existiram. (...)

(...) Quanto aos paises citados, podemos falar, sim, de afectos em relação aos Cubanos, mas duvido que o mesmo se possa dizer dos Russos e Suecos que são povos simpaticos, mas não conhecem o nosso povo, a nossa realidade e só ouviram falar de longe. Com os portugueses é diferente, foi uma relação difícil mas que deixou marcas que ninguém pode ignorar. (...)

(iii) António Rosinha: 

(...) Na Guiné ou em outra ex-colónia, quando algum cidadão desses países tem algum bom relacionamento com portugueses, corre o risco de os vizinhos ou colegas o alcunharem de "lacaio" ou mesmo no caso do crioulo "catchurro" do tuga.

Com o tempo esse risco pode diminuir, mas devido ao discurso político urdido por conveniências políticas, ainda vai demorar uns tempinhos ao estigma colonial desvanecer. (...)

(iv) José Belo (Suécia):

(...) Afectos entre povos em busca de graduações valorativas?

Nos exemplos apresentados,(portugueses, russos, chineses, cubanos,suecos, alentejanos, etc) aspectos menos platónicos não deveräo ser escamoteados. "Com carinho e com afecto" do luso-tropicalismo,ou "com economia e com afecto" à sueca? (...)

(v) António José Pereira da Costa:

(...) Olá,  Luís. Estou como disse o Beja Santos: continuas a provocar o "nativo". É bom. Para ver se isto aquece e o debate se instala, mas acho que as "declarações de voto" que acabo de aqui ver resumem muito bem a situação.
É certo que só os velhos e ainda por cima que passaram pela Guiné é que votam. Há um indício técnico para que quero chamar a tua atenção. Neste momento há convívios de ex-combatentes em que as mulheres vão para uma mesa e os maridos para outra.  Isto significa que elas, que nunca lá foram (...), começam a ter dificuldade em se rever no fenómeno e que os "ex-" estão cada vez mais sozinhos na sua nostalgia. (...)

(vi) C. Martins:

(...) Nem é preciso sondagens...digo eu. Quem já lá foi após a independência e desde que os tratemos com respeito manifestam-nos a sua profunda amizade e até os próprios guerrilheiros do PAIGC  pedem desculpa: "era a guerra" dizem ... mas agora podemos ser amigos. Falo obviamente da população, porque os "políticos"... sobre esses estamos conversados. (...)


(vii) Vasco Piers (Brasil):

(...) Dizes bem, Luís, mais exploradores que conquitadores.  Ousaria dizer, que somos o povo de um pequeno País de costas voltadas à Europa que precisou de buscar a sua subsistência (a partir do século XV) no mar e pelo mar.  Desde Ceuta,andamos por aí,em busca "do pão " que rareava em casa.  As feitorias, o ouro da Mina, os escravos, a "pimenta " da Índia, o ouro do Brasil, a volta a África, sempre em busca da subsistência como povo, e consequentemente da nossa existência como Nação.

Após a morte do nosso "último Imperador",e com o fim do sonho Imperial, voltamos á Europa,e parece que não deu muito certo.  Nessa nossa saga através dos mares,até longínquos povos,tivemos um relacionamento "sui generis" com esses povos, bem diferente dos nossos nossos vizinhos do Norte.  Miscigenamo-nos,como já tínhamos feito com Bérberes e Semitas,na África, na Ásia, na América, logo a nossa relação afetiva com outras gentes,foi necessariamente diferente da de outros colonizadores.

Melhor? Pior? Será que compete a nós dizê-lo? (...) (*)

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Guiné 63/74 - P14271: In Memoriam (219): Faz hoje um ano que o Pepito nos deixou, demasiado cedo, sem tempo para se despedir dos muitos amigos que tinha (e continua a ter) pelo mundo... Vamos recordá-lo numa documentário que a RTP2 passou em 2011 ("Eu Sou África - Carlos Schwarz da Silva, Episódio 10")... E vamos fazer força para que o seu nome passe a ser recordado numa rua de Bissau



Lisboa > Campus da Escola Nacional de Saúde Pública da NOVA > 6 de setembro de 2007 > Engº Agrº Carlos Schwarz da Silva (Bissau, 1949-Lisboa, 2014).

Pepito, para sempre! (*)...

Foto (e legenda): © Luís Graça (2007). Todos os direitos reservados.


Portugal > Alcobaça > São Martinho do Porto > Estrada do Facho > Casa do Cruzeiro  > c. 1957 > O pai, Artur Augusto Silva (1912-1983), com os filhos,  da esquerda para a direita, João, Iko e Carlos (1949-2014).  Cortesia de João Schwarz da Silva, que nos diz que a data deve ser "provavelmente 1957"... Teria então o Pepito (, nascido em Bissau, em 1949) os seus oito anos...

Foto (e legenda): © João Schwarz da Silva  (2015). Todos os direitos reservados.




São Martinho do Porto > Estrada do Facho > 7 de Agosto de 2008 > Casa do Cruzeiro, a casa de verão de Carla Schwarz da Silva, mãe do nosso saudoso amigo Carlos Schwarz (Pepito) (1949-2014)...
 Uma vista fabulosa da baía de São Martinho do Porto, a partir da janela do quarto que era, na altura, do Pepito e da Isabel Levy Ribeiro.

Foto (e legenda): © Luís Graça (2008). Todos os direitos reservados.


São Martinho do Porto > Estrada do Facho > Casa do Cruzeiro > 7 de Agosto de 2008 > Casa de verão de Carla Schwarz da Silva, mãe do nosso saudoso amigo Carlos Schwarz da Silva (Pepito) (Bissau, 1 de4 dezembro de 1949 - lisboa, 18 de fevereiro de 2014). Na foto, mãe e filho.

O Pepito vinha todos os anos,com a família, passar férias nesta casa de praia, em agosto. Adorava estar horas, em amena cavaqueira coma família e os amigos, á sombra dos pinheiros da casa. A casa era já secular, tendo  pertencido a um conhecido ator do teatro de revista, de Lisboa. O avô do Pepito, Samuel Schwarz, comprou-a e ofereceu à fillha, em meados dos anos 30, se não erro.  Artur Augusto Silva foi advogado em Alcobaça e em Porto de Mós no pós-guerra. O casal viveu em Alcobaça entre 1945 e 1949, antes de partirem para a Guiné (ele, em finais de 1948 e o resto da família em 1949). Foram amigos pessoais e visitas de casa do pintor Luciano Santos (Setúbal, 1911-Lisboa, 2006).

Foto (e legenda): © Luís Graça (2008). Todos os direitos reservados.



Lisboa > 1950  > Em primeiro plano, o Carlos, ainda bebé, mais os irmãos Henrique (Iko) e João.

Foto: © António Lopes (2009) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.Todos os direitos reservados.


1. Morreu faz um ano, hoje... De repente, demasiado cedo,  sem se poder despedir da  vida e dos muitos amigos que tinha pelo mundo...  Tinham vindo a Lisboa para celebrar os 99 anos da mãe (a 14 de fevereiro de 2014) e fazer exames médicos... Morreu 4 dias depois...

Sentimos todos a sua falta... Vamos recordá-lo numa documentário que a RTP2 passou em 2011...

Carlos Schwarz da Silva | 09 Abr, 2011 | Episódio 10

http://www.rtp.pt/play/p663/e43062/eu-sou-africa



Ficha Técnica:

Género: Documentário
Produção: Vitrimedia;
Realização: Maria João Guardão


Sinopse:

Carlos Schwarz da Silva, guineense nascido em [Bissau], em 1949, só exerceu o nome enquanto se fazia engenheiro agrónomo em Lisboa, ao mesmo tempo que se diplomava na luta estudantil contra a ditadura. 

Na Guiné Bissau, todos o conhecem como Pepito, lutador incansável contra as más práticas de Estado, mas sobretudo contra a fome, pela cidadania e pelo desenvolvimento. Fundador do pioneiro DEPA (Departamento de Experimentação e Pesquisa Agrícola) e da ONG Ação para o Desenvolvimento (AD), deputado, neto de polacos que sobreviveram ao Gueto de Varsóvia, filho de um jurista nacionalista preso pela PIDE, pai de 3 filhos, avô de 2 netos, Pepito é, nas palavras dos anciãos balantas, um “homem grande”. 

"Eu Sou África” é uma série documental de 10 episódios, dois por cada um dos PALOP: Angola, Moçambique, Cabo-Verde, Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe. Cada um dos filmes desta série retrata a vida e a obra de uma africana ou africano implicado na história e no desenvolvimento social, político e cultural do país onde nasceu. “Eu Sou África” revela dez heróis desconhecidos do grande público e desfaz os lugares comuns depreciativos da realidade dos PALOP. Na diversidade das suas experiências e reflexões, o que estes dez africanos dão a ver é a emergência de uma nova África de língua portuguesa – um lugar em que a esperança tem toda a razão de ser.

(Fonte: RTP, com a devida vénia)

2. Comentário de L.G. (**):

O Pepito (1949-2014) foi, em 2011,  uma das vinte personalidades escolhidas pela realizadora do programa "Eu Sou África", Maria João Guardão, para ilustrar a ideia de que a África, a África dorida e sofrida de ontem e de hoje, é um continente de esperança e de futuro.

O programa, em dez episódios, passou na RTP2, e na RTP África. Em  9/4/2011, a realizadora do programa, Maria João Guardão, mandou-nos uma sinopse do vídeo do episódio nº 10, com uma simpática  mensagem  dirigia ao nosso blogue no dia em que o filme passou na RTP2:

 (.,..) Sou realizadora de uma série documental - Eu Sou África - , cujo último episódio se mostra hoje [, sábado,] na RTP2, 19h. Sucede que este último episódio se fez com e à volta de Carlos Schwarz da Silva, Pepito, e dos seus. E sucede ainda que a primeira vez que li a historia da vida dele foi no auto-retrato publicado na sua Tabanca [, vd. A sombra do pau torto, por Carlos Schwarz] (...)

Um ano depois da sua morte sabemos que há gente que o amava e admirava que está a fazer esforços para perpetuar o seu nome numa rua de Bissau. Foi a boa notícia que há dias nos deu a Catarina Schwarz:

(...) A minha avó em tempos e em tom de desabafo, disse que gostaria de ver o nome do meu pai numa rua de Bissau. Nós começamos a tratar desse assunto junto à Câmara Municipal de Bissau e ao que parece a Associação de Moradores de Quelelé [, bairro onde a AD tem a sua sede e fica a casa de família] teve a mesma ideia e intenção. Vamos muito provavelmente unir esforços para que isso aconteça. (...)

Vamos também juntar os nossos pauzinhos e dar força a esta iniciativa. A Guiné e a África precisam de exemplos de vida como a deste  homem com quem tivemos o  privilégio de conviver e que contava, na nossa Tabanca Grande, com bastantes amigos, gente que o estimava e admirava(**)

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Notas do editor

(*) Vd. poste de 18 de fevereiro de  2014 > Guiné 63/74 - P12738: In Memoriam (178): Carlos Schwarz da Silva (1949-2014)... Pepito ca mori! (Luís Graça)

(**) Último poste da série > 15 de fevereiro de  2015 > Guiné 63/74 - P14262: In memoriam (218): morreu um "homem grande", o nosso camarada Amadú Bailo Jaló (Bafatá, 1940 - Lisboa, 2015), que fez parte do Batalhão de Comandos Africanos e da CCAÇ 21, um combatente valoroso e um homem de valores (Virgínio Briote)

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Guiné 63/74 - P14269: Agenda cultural (376): Sessão de apresentação do Projecto "MGF, NÃO", dia 19 de Fevereiro de 2015, a partir das 14h20, no Edifício Municipal, Campo Grande n.º 25, Lisboa (Beja Santos)

C O N V I T E

SESSÃO DE APRESENTAÇÃO PROJECTO "MGF, NÃO", DIA 19 DE FEVEREIRO DE 2015, A PARTIR DAS 14H20, NO EDIFÍCIO MUNICIPAL, CAMPO GRANDE, 25 - SALA 1, LISBOA


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Notas do editor

MGF - Mutilação Genital Feminina, vd. os sítios da APAV e da Aministia Internacional Portugal

Último poste da série de 16 de Fevereiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14265: Agenda cultural (379): Apresentação do livro "Dois Destinos, Dois Amigos", de José Alvarez, dia 19 de Fevereiro de 2015, pelas 18h30, na Livraria Ler Devagar, em Lisboa

Guiné 63/74 - P14268: Historiografia da presença portuguesa em África (54): Revista de Turismo, jan-fev 1956, número especial dedicado à então província portuguesa da Guiné: monumentos - Parte II (Mário Vasconcelos): o moderno aeroporto de Bissau e o cais do Pidjiguiti




Guiné > Bissau > 1956 > O modermo aeroporto de Bissau e o cais do Pidjiguiti...

Imagens de zincogravuras, reproduzidas, com a devida vénia, de Turismo - Revista de Arte, Paisagem e Costumes Portugueses, jan/fev 1956, ano XVIII, 2ª série, nº 2. (*).

Digitalizações: Mário Vasconcelos (2015). [Edição: LG]


Guiné > Bissau > s/d > Aeroporto Craveiro Lopes. Bilhete Postal, Colecção "Guiné Portuguesa, 121". (Edição Foto Serra, C.P. 239 Bissau. Impresso em Portugal, Imprimarte, SARL).


Colecção: Agostinho Gaspar / Digitalizações e edição: Luís Graça & Camaradas da Guiné (2010).


1. As duas imagens de cima, a preto e branco, são uma gentileza do nosso camarada Mário Vasconcelos [,ex-alf mil trms, CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, COT 9 e CCS/BCAÇ 4612/72,Mansoa, e Cumeré, 1973/74; foto atual à direita] que descobriu um exemplar, já raro, desta edição da revista Turismo, no espólio do seu falecido pai.

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Notas do editor:

Guiné 63/74 - P14267: Feliz Ano Novo Chinês 新年快樂 Happy New Year - Cabra 羊 Goat (Virgílio Valente / Wai Tchi Lone, ex-alf mil, CCAÇ 4142, Gampará, 1972/74)

1. Mensagem do nosso camarada Virgílio Valente [Wai Tchi Lone, em chinês], que vive e trabalha em Macau,, há mais de 2 décadas;  ex- alf mil, CCAÇ 4142, Gampará, 1972/74; foto atual à esquerda; agradecemos e retribuímos os votos de  Feliz Ano Novo Chinês, e fazemos, da nossa partem votos para que seja no ano da Cabra que o nosso camarada Wai Tchi Lone nos mande as prometidas fotos de Gampará ou do tempo da tropa para a gente formalizar a sua entrada na Tabanca Grande]:


Data: 16 de fevereiro de 2015 às 16:31

Assunto: Feliz Ano Novo Chinês 新年快樂 Happy New Year - Cabra 羊 Goat


Feliz Ano Novo Chinês
Happy New Year
新年快樂
Boa Saúde
Good Health
身體健康
Kung Hei Fat Choi
恭喜發財



«如果你想要去的快,一個人去! 如果你想要走多遠,走起來!»

«Se quer ir depressa, vá sózinho!   Se quer ir longe, vá junto!» (Provérbio Africano)

«If you want to go fast, go alone!  If you want to go far, go together!» (African Proverb)

Guiné 63/74 - P14266: Convívios (650): Encontro do pessoal do Batalhão de Cavalaria 3846 (Companhia Independente), dia 15 de Março de 2015, na Batalha (Delfim Rodrigues)


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Nota do editor

Último poste da série de 24 de janeiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14180: Convívios (649): Rescaldo do último Encontro da Magnífica Tabanca da Linha levado a efeito no passado dia 22 de Janeiro de 2015 (José Manuel Matos Dinis)

Guiné 63/74 - P14265: Agenda cultural (375): Apresentação do livro "Dois Destinos, Dois Amigos", de José Alvarez, dia 19 de Fevereiro de 2015, pelas 18h30, na Livraria Ler Devagar, em Lisboa

Convite para a apresentação do livro "Dois Amigos, Dois Destinos" de José Alvarez, Editora Âncora, a ter lugar no próximo dia 19 de Fevereiro pelas 18h30 na Livraria Ler Devagar, em Lisboa.

A obra será apresentada pelo Eng.º Fernando Tabanez Ribeiro e pelo Dr. Mário Beja Santos.


Sinopse:
A trama inicia-se em Cabo Verde, num cenário de intrigas da aristocracia colonial e da relação de poder com os locais. Com a Guerra Colonial em pano de fundo, a acção desloca-se mais tarde para a Guiné e, finalmente, para Lisboa, onde o jovem guineense universitário Eduardo conhece Joana, por quem se enamora, e o companheiro de estudos Tomás, que, tal como ele, é jogador de rugby.
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Nota do editor

Último poste da série de 12 de fevereiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14244: Agenda cultural (378): A banda musical "Melech Mechaya" [leia-se: o rei da festa...] vai animar a longa louca noite de "Sexta-feira 13", em Montalegre, a rija capital do Barroso e do misticismo... Vivam os folgazões e prazenteiros barrosões! Vivam os nossos camaradas transmontanos!

Guiné 63/74 - P14264: Notas de leitura (682): "Guerra Colonial - Fotobiografia", por Renato Monteiro e Luís Farinha, Publicações D. Quixote (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 13 de Maio de 2014:

Queridos amigos,
Muitos dirão que a substância desta fotobiografia está completamente ultrapassada. Atenda-se, porém, ao facto de que nos anos 1990 ainda não tinha aparecido um documentário sequenciado sobre a guerra, repertoriando acontecimentos, protagonistas, ações de guerra dos dois lados, apreciações do quotidiano, as orquestrações da propaganda e, enfim, a descolonização.
João de Melo escreveu então com propriedade: “Com exceção de alguns contributos isolados, pouco se tem escrito e falado, entre nós, sobre a guerra colonial. Pode mesmo dizer-se que os traumas por ela causados permanecem apenas ao nível de um registo secreto, mais ou menos individual”.
Este panorama mudou drasticamente, como diariamente podemos testemunhar, aqui, no nosso blogue, porventura a mais vasta fotobiografia jamais organizada por largas centenas de figurantes que, sem qualquer rebuço, falam de si e do que experimentaram. Mas, apesar de tudo, esta Fotobiografia foi um empreendimento editorial cuja importância não se pode iludir como peça histórica.

Um abraço do
Mário


Guerra colonial em fotobiografia

Beja Santos

Quase coincidindo com o lançamento de “Os Anos da Guerra”, coordenado por João de Melo, nas Publicações Dom Quixote, e de que já fizemos ampla referência, Renato Monteiro e Luís Farinha lançaram mão a um projeto ao tempo inovador, uma fotobiografia da guerra colonial, desde 1961 até à descolonização. A primeira edição surgiu em 1990 e a segunda em 1998. Edições que foram um êxito, e percebe-se porquê. Ao tempo, ainda não havia nenhuma história da guerra de África, no todo ou na parte. E o estado de alma dos combatentes ainda era de uma grande hesitação: escrever para quê e para quem? Mostrar as recordações com que fito? Daí perceber-se a observação de João de Melo na introdução desta fotobiografia, tenha-se em atenção que foi escrita há cerca de 25 anos:
“Com a exceção de alguns contributos isolados, pouco se tem escrito e falado, entre nós, sobre a guerra colonial. Pode mesmo dizer-se que os traumas por ela causados permanecem apenas ao nível de um registo secreto, mais ou menos individual. Denunciados por quantos se não conformaram com os lugares, os silêncios, as responsabilidades não assumidas e os preconceitos de um sistema de rasura e de apagamento progressivo das suas consequências, os autores dessas denúncias e análises são ainda hoje objeto de toda a sorte de incompreensões. E, se é verdade que essa guerra modelou o imaginário de muitos escritores e de alguns cineastas portugueses, é pouco provável que ela subsista, no nosso comportamento coletivo, para além de um aparente exercício de ficção”. E a finalizar, o escritor cola-se ao empreendimento que constitui o saber alinhar imagens como ponto de partida para o conhecimento histórico:  
“Somos, muitos e muitos de nós, personagens desta Fotobiografia, colhidos por estes lugares, pelos gestos suspensos dos pequenos e grandes atos, sobretudo pela soma das tragédias que em parte explicam o acaso, a sorte e a certeza de estarmos vivos, rendidos à grande e única paixão que é a vida”.

O documental prevalece sobre o estético, há que entender o início da guerra nas três frentes, os embarques de 1961, os protagonistas de Angola, como Mário de Andrade, Joaquim Pinto d'Andrade ou Agostinho Neto, mostrar as plantações de algodão na Baixa do Cassange, as destruições, o contra-ataque, a propaganda. E neste contexto mostra-se uma imagem rara, uma manifestação patriótica junto do palácio do governador da Guiné, em 15 de fevereiro de 1959, de repúdio pela atitude da Comissão de Curadoria das Nações Unidas, e de seguida o Pindjiquiti, Amílcar Cabral e Nino Vieira. E depois o dealbar da insurreição a cargo da FRELIMO.


O prato substância deste escol de imagens denomina-se ação armada, a guerrilha e a contraguerrilha, picadas, colunas, embarques para operações, patrulhamentos, emboscadas, banda desenhada de caráter épico, desativação de minas, viaturas destruídas, aldeamentos bombardeados, devastações de toda a ordem; e golpes de mão, manuais escolares encontrados nas bases dos rebeldes, páginas de diários, metralhadoras antiaéreas, viaturas destruídas; e Angola em toda a sua complexidade de uma guerrilha com diferentes grupos rivais. E noutro segmento, os autores desdobram-se para mostrar as múltiplas manifestações do ganhar confiança junto das populações: construção de escolas, transporte das populações, reordenamentos, confraternizações, brochuras, panfletos, iniciativas do Movimento Nacional Feminino, olhares dos militares para as carências sobretudo dos jovens. Alguém escreve na Guiné em 1970:  
“À hora da refeição chega o rapazio. Uma vintena. Trazem latas e, depois de se banquetearem com o que sobeja, correm para o rio, onde se refrescam. Todos os dias almoçamos com a imagem da fome diante de nós”.


E temos o incomensurável quotidiano, o confronto com o desconhecido, a mata temerosa, a precaridade dos elementos, a imagem do cansaço, a chegada de feridos ao hospital, a missa campal, os jogos de futebol, voleibol ou cartas, enfim, as lavadeiras, até brinquedos de criança como uma camioneta Berliet feita com paus.

E a fotobiografia culmina com a descolonização, lanchas ajoujadas com os pertences dos militares na hora da abalada até Lisboa.

Esta fotobiografia, para que não subsistam dúvidas, colheu o triunfo graças ao seu ineditismo. Na viragem do século, tudo mudou, a começar pelo panorama editorial, reformados, sexagenários, septuagenários, aperceberam-se que nada tinham a perder em desencadear o coração e a emoção, sucederam-se os blogues, os desabafos nas redes sociais, multiplicaram-se os colóquios, a história contemporânea, mesmo com sérios embaraços, desatou a ouvir os protagonistas. Mas esta fotobiografia é um pilar incontornável do chamamento à atenção entre as gerações, aquelas imagens, para o bem da História, ali estavam cristalizadas e prontas a serem interpeladas. Como foram e continuaram a ser.
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Nota do editor

Último poste da série de 13 de fevereiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14246: Notas de leitura (681): "Os Princípios do Pan-africanismo", por Charles Olapido Akinde e “Os Condenados da Terra”, por Frantz Fanon (2) (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P14263: Parabéns a você (861): António Eduardo Carvalho, ex-Cap Mil Inf da CCAÇ 3 e CCAÇ 19 (Guiné, 1974)

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Nota do editor

Último poste da série de 14 de fevereiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14248: Parabéns a você (860): Senhora Dona Clara Schwarz, Amiga Centenária, Grã-Tabanqueira

domingo, 15 de fevereiro de 2015

Guiné 63/74 - P14262: In memoriam (218): morreu um "homem grande", o nosso camarada Amadú Bailo Jaló (Bafatá, 1940 - Lisboa, 2015), que fez parte do Batalhão de Comandos Africanos e da CCAÇ 21, um combatente valoroso e um homem de valores (Virgínio Briote)

Amadu Bailo Jalo
 (Bafatá, 1940 - Lisboa, 2015)
1. Mensagem do nosso editor jubilado Virgínio Briote:

Data: 15 de fevereiro de 2015 às 13:27
Assunto: Amadú Bailo Jaló

Caros Camaradas,

Faleceu hoje no Hospital Militar, no Lumiar, o Amadú. Ainda não se conhecem datas e locais do funeral. (*)

Abraço
V Briote



2. Comentário de L.G.:

Estou fora de Lisboa. Mais uma brutal notícia que,  embora não nos colhendo de surpresa, nos entristece profundamente: sabíamos que o Amadu estava 
internado há algumas semanas e que a saúde já era precária há anos...

 Íamos sabendo notícias dele através do Virgínio que foi, para ele, mais do que um camrada e um amigo.... Tinha planeado ir visitá-lo ao Hospital e ainda há dias falei dele a um dos meus alunos que trabalha como enfermeiro no hospital militar, no Lumiar. Infelizmente já não irei a tempo de poder estar ao seu velório e prestar-lhe a minha última homenagem. Terei que o fazer à distãncia,


Quinta do Paul, Ortigosa, Monte Real, Leiria > IV Encontro Nacional da Tabanca Grande > 20 de Junho de 2009 > Em primeiro plano, o Virgínio Briote e o Amadu Djaló, um e outro muito acarinhados por todos. Dois homens sábios e dois combatentes valorosos, que muito orgulham a nossa Tabanca Grande.

Foto (e legenda): © Luis Graça (2010). Todos os direitos reservados


Vou pedir aoi Virgínio que nos faça uma pequena resenha biográfica (**): ele ajudou o Amadu a escrever e a publicar as suas memórias (Amadu Bailo Djaló - "Guineense, Comando, Português", Lisboa, Associação de Comandos, 2010, 229 pp, + fotos, edição esgotada). 

Foi pena  que, com a degradação da saúde do Amadu,  nestes últimos anos, não tenha podido sair, como planeado, o 2º volume, com as aventuras e desvanturas do autor, a seguir à independência do seu pais. Vivia há largos em Portugal, na Amadora, com uma filha e netos. E de tempos a tempos ia até Londres juntar-se ao filho. 

Acabou a sua longa carreira militar (iniciada em 1962) como alf comando graduado, na CCAÇ 21, comandada pelo tenente cmd grad Jamanca, um dos primeiros camaradas guineenses a ser fuzilado pelo PAIGC.

Os sentidos pêsamos à família,  por parte dos editores, colaboradores e demais membros da Tabanca Grande. Morre uma homem bom, um grande e bravo combatente, um digno muçulmano  e um português que se orgulhava das suas origens como fula e guineense. 

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Notas do editor:

(*) Último poste da série >  14 de fevereiro de  2015 > Guiné 63/74 - P14257: In Memoriam (217): Britt-Marie, esposa do nosso camarada José Belo, faleceu no passado dia 12 de Fevereiro

(**) Vd,. poste de 21 de abril de  2009 >  Guiné 63/74 - P4229: Os nossos camaradas guineenses (7): Amadu Djaló, as memórias do Comando Africano continuam (Virgínio Briote)

(...) As memórias, como já referi, cobrem todos os anos da guerra. De ainda antes, até. O nascimento em Bafatá, a frequência da escola corânica e depois a da missão católica, de uns padres italianos, a permanência de dois meses no mato para a cerimónia da circuncisão, aos 13 anos a viagem com o irmão mais velho a Boké, os negócios da venda de tecidos e bugigangas na República da Guiné-Conackry, as saudades dos pais e da vida de Bafatá e o regresso à cidade natal.

A incorporação na tropa deu uma grande volta à vida dele. O contacto com os militares europeus, a passagem por Bolama, Cacine, Bedanda, Farim, o 1º ataque do PAIGC a Farim, as 3 emboscadas, no mesmo dia, na estrada Cuntima-Farim, o 1º morto do PAIGC que ele viu ser arrastado pelo soldado Solda, do BCav 490, em 1964, o regresso à CCS do QG, a entrada para os comandos do Saraiva. Uma grande volta na vida dele.

Com o Saraiva viu coisas que nunca imaginou. Viu tudo. Inaugurou a pista de Madina do Boé. Desembarcou de uma das cinco DO 27, que levaram o grupo para Madina. Ao som de tambores, percorreram o trajecto da pista, acabada nesse mesmo dia, até ao aquartelamento. Episódios de Madina que não esquece: a ida com o Saraiva e com o régulo a Hore Moure, na Rep. da Guiné-Conackry, os três vestidos à fula, com duas granadas ofensivas cada um com o grupo emboscado a cerca de 500 metros. A entrada nas casas, que serviam de pouso à ainda incipiente guerrilha apenas durante o dia. A história da mina que matou quase metade do grupo em Gobige. Os funerais em Bissau, a reunião em Brá para discutirem os procedimentos que tinham tomado em Madina e logo a seguir a ida para o Oio, com mais 11 camaradas. Nesta acção, indescritível para os nossos olhos de agora, viu mesmo tudo o que de pior a guerra, qualquer guerra, tem. Crianças, velhos, paralíticos, gado, ficaram-lhe na memória como os principais actores dessa saída.

E depois, Burontoni e o Malan, um miúdo de 7 ou 8 anos que vivia com os pais, junto a um acampamento da guerrilha. Ninguém queria ficar com o Malan. O Saraiva não queria mascotes, o capitão L., da Companhia local respondeu negativo. Amadu trouxe a criança para Brá. Depois, com 4 metros de tecido que um camarada tinha apanhado num acampamento, foi a um alfaiate fazer 4 calções e 3 camisas. Uns sapatos e uns chinelos completaram o guarda-roupa do Malan, que teve de mudar o apelido para Djaló.

Malan Djaló passou a viver na grande família Djaló. Nunca ninguém soube a história do rapaz até 1973. Malan cresceu, andou na escola, aprendeu bem o português. Quando chegou a independência voltou a ver os pais, mas à noite regressou à família Djaló. Passou a dar aulas de português em quartéis do PAIGC, até conhecer uma jovem por quem se apaixonou. Casou e nasceu-lhe uma menina. A sorte da vida não estava com o Malan. Uma doença rápida, em dias, matou-o numa cama do hospital de Bafatá. Um ano depois, a menina morreu também, vitima da mesma doença, presume o Amadu.

Histórias, umas atrás das outras, que a guerra foi muito longa e foi feita de muitos episódios. Tem sido este o meu trabalho, caros Camaradas. Programei a entrega do texto para o final deste mês. (...)


Vd. ainda poste de 13 de abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6149: Amadú Bailo Djaló, meu camarada: 
tem o seu dia de festa no dia 15, no Museu Militar, às 18h (Virgínio Briote)


(...) O Amadu Djaló foi meu Camarada nos Comandos em Brá, entre 1965 e 1966, embora não tenha feito parte do meu grupo. Em 1964 pertenceu ao grupo do então Alferes Maurício Saraiva e em 1965 transitou para o do Alferes Luís Rainha. Acabada a Companhia de Comandos do CTIG, depois de uma breve estadia em Bafatá,. foi para Fá Mandinga, para colaborar na formação dos Comandos Africanos e depois participou em numerosas operações até ao fim do conflito.

O livro começa por falar da vida na cidade natal, Bafatá, do convívio com os Pais, Irmãos, Avô e os amigos mais chegados. A ir e a regressar, acompanhando um primo, feito djila [1], ao Senegal. A hesitar na incorporação, a tentar adiar, enquanto abria uma banca para negociar, no Mercado de Bafatá.

Não pôde evitar, fugir não fazia parte da sua maneira de ser, nem lhe cabia na cabeça deixar os Pais e a família para trás. Ainda faltavam uns meses para começar a guerra a sério, mas já havia cheiro a pólvora no ar.

Depois da recruta em Bolama, entre 1962 e 1964 deambulou como condutor por Cacine, Bedanda, Catió, Cufar e Farim. Removeu abatizes, viu os efeitos das primeiras minas e caiu nas primeiras emboscadas. Mas naquele tempo ainda era possível ir de Farim a Susana, em coluna, em viagens intermináveis.

Cansado de ser “rebenta minas”, pediu a transferência para a 4ª Rep, do QG, em Bissau. Foi-lhe concedida. No parque das viaturas da C.C.S. do Q.G. teve a sorte e o contentamento de encontrar o seu amigo, o Tomás Camará, que estava no grupo de Comandos do então Alferes Saraiva.
- Comandos? Que é isso de Comandos de Saraiva?

Não precisou de muitas respostas para, tempos depois, estar em Madina do Boé com o grupo. Para participar, e de que maneira, num acontecimento que o marcou para sempre: a mina no pontão do Gobige, na estrada de Contabane para Madina, que matou todos os Camaradas, menos um, que vinham na segunda e última viatura.

Um grupo de vinte homens, repartido em duas viaturas, de um momento para o outro, estava reduzido a metade. Não podiam ir todos buscar socorro a Madina, a cerca de trinta quilómetros de distância. Alguém tinha que ficar ali, a amparar os feridos, a guardar os mortos. Uma tarde que pareceu um ano, junto à estrada para Madina, a assistir ao morre este, agora aquele, até à noite, quando chegou o socorro. E, logo dois ou três dias depois, foram para o Oio e a história quase se repetiu. Porque a guerra é assim, é feita de repetições, os que morreram já não morrem outra vez, morrem outros, os feridos é que podem ter mais sorte, podem voltar a ser feridos outra vez.

Já quase no final da comissão do grupo foram ao Como. Outra odisseia. O grupo de Saraiva, como lhe chamavam, despedia-se numa operação, a que o alferes pôs o nome de Ciao. Tudo correu bem a princípio. Depois, já na retirada, o alferes não quis sair de lá sem trazer a MP [2], que alguns afirmavam ter sido usada contra eles. Alguns ofereceram-se para voltarem ao acampamento em chamas. Dos dez que reentraram nas barracas, um morreu, um ficou ileso e os restantes foram atingidos pelo fogo inimigo.

O grupo de Saraiva acabou e o Amadú achou que já era tempo de ter um pouco de paz. Afinal era um condutor encartado e era mais antigo que muitos. E como condutor ganhava mais 150 escudos que nos Comandos de Brá e, na altura, 150 escudos davam para comprar muito arroz.
Até que apareceu lá na 4ª Rep, um alferes, o Luís Rainha, do grupo Centuriões, que tinha substituído o grupo de Saraiva, com uma autorização da 1ª Rep para o levar, outra vez, para os Comandos de Brá.

Pouco tempo depois, entrou numa nomadização, prevista para durar 48 horas, na zona de Faquina Mandinga, Sitató, na fronteira com o Senegal. Uma nomadização que acabou por se tornar num golpe de mão, guiados pelas vozes e gargalhadas dos guerrilheiros, que se achavam seguros até verem os Comandos entrarem pelo acampamento.

E, outra vez em Maio, tal como no ano anterior com o grupo de Saraiva, nova teimosia, desta vez do Rainha. Ao mesmo acampamento, no Como, para vingar as baixas que o 'grupo de Saraiva' tinha tido. Entre outro material trouxeram a pistola, de coronha nacarada, do Pansau Na Isna e o chapéu chinês dele, também.

Depois a Companhia de Comandos do CTIG acabou. E sempre que a unidade acabava, ou alguma coisa não lhe agradava, o Amadú pedia transferência para a 4ª Rep, a sua eterna casa-mãe.

Tempos depois, estava em Bafatá, quando chegou uma ordem do General Spínola para todos os Comandos Guineenses se concentrarem em Bissau, para fazerem provas e novo curso para a constituição de uma Companhia de Comandos Africanos.

Depois, foram operações atrás de operações da 1ª Companhia de Comandos Africanos, comandada pelo Capitão João Bacar Djaló [, na foto a esquerda, ao meio], enquanto, em Fá Mandinga, se formavam outras Companhias que iriam constituir o Batalhão de Comandos, sob a orientação do então Capitão Almeida Bruno.

Nos anos que durou a guerra participou em acções em todo o território onde a presença do PAIGC se fazia sentir. Percorreu matas e carreiros de Bambadinca, Canquelifá, Cobiana, Conakry, Cumbamori, Cuntima, Fá Mandinga, Farim, Gandembel, Gadamael, Gabu, Guidage, Guileje, Madina do Boé, Mansabá, Morés, Piche, passou e voltou a passar pelos rios e margens do Cacheu, do Geba, do Corubal, chafurdou e chorou nos tarrafos, em operações umas atrás das outras.

Em 25 de Abril de 1974 andava atrás da guerrilha, na zona de Piche, quando ouviu no rádio de um milícia que tinha havido um golpe militar em Lisboa.

A guerra acabou e começou outra, a luta pela sobrevivência na Guiné-Bissau. A entrega das armas, a vida civil sem amigos, as prisões dos camaradas, os fuzilamentos, a prisão dele e a escapadela numa hora que só costuma acontecer uma vez na vida de um homem, graças a um acto digno e cavalheiresco de um comandante do PAIGC.

A Bissau de Luís Cabral, em 1975, tornou-se uma cidade triste, com recolheres obrigatórios, denúncias, falta de arroz, falta de tudo, menos de 'milho para burro', que um país amigo lhes enviara num navio. O golpe do Nino foi para ele e para muitos o renascer de uma esperança. A seguir veio a desilusão e a viagem para Portugal. (...)

Vd. também os postes:


 16 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6168: Lançamento do livro do Amadu Bailo Djaló: Lisboa, Museu Militar, 15 de Abril (1): "Os cobardes, esses, vivem mais, mas nunca hão-de ter música para dançar" (provérbio tradicional guineense)

17 de abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6169: Lançamento do livro do Amadu Bailo Djaló: Lisboa, Museu Militar, 15 de Abril (2): Um grande contador de histórias, um homem bom, um notável condutor de homens...

Guiné 63/74 - P14261: Fotos à procura de... uma legenda (52): a boeira, de Candoz, também conhecida por alvéola ou lavandisca, noutros sítios (Luís Graça)




Marco de Canaveses > Paredes de Viadores > Candoz > Quinta de Candoz > 14 de fevereiro de 2015  >

Boeira é o nome desta ave, aqui na região. Estamos no limite da Região de Entre Douro e Minho, com o rio Douro (barragem do Carrapatelo) ao fundo e as serras da Aboboreira e Montemuro ao fundo...  As boeiras são assim chamadas por estarem aasociadas aos bois de trabalho... Quando se lavrava, com o arado puxado por uma junta de bois, a boeira aparecia imediatamente para apanhar, da terra revolvida, os insetos com que se alimenta... As boieiras tal como outras aves residem por aqui, fazem aqui os seus ninhos...  A fauna aqui é diversificada, e inclui javalis... Ainda não tempos a nossa pobre cadalela caiu numa armadilha de apo montada para o javali... Não inclui a boeira numa poema que há tempos escrevo sobre as aves da Tabanca de Candoz... Não sou onitólogo, mas reparo hoje essa injustiça, o meu pecado de omissão (*)...

Foto: © Luís Graça (2015). Todos os direitos reservados



You Tube > Nhabijões >  Vídeo  (1' 35'') de Luís Graça (2015)

O trator e as boeiras... Antigamente as boieiras seguiam os bois que puxavam o arado... Daí o seu nome... Hoje associam o trator ao seu alimento preferido: os insetos que vivem debaizo da terra... Basta revolver a terra e estrumá-la, para que a boieira venha logo tomar o seu lugar à mesa da mãe natureza... 


Alvéola >  Com a devida vénia, da Wikipédia em português

(...) Motacilla lugens


Classificação científica

Reino: Animalia
Filo: Chordata
Classe: Aves
Ordem: Passeriformes
Família: Passeridae
Motacillidae
Subfamília: Motacillinae
Género: Motacilla
Espécies (...)

As alvéolas são aves passeriformes, classificadas no género Motacilla da sub-família Motacillinae. O grupo inclui onze espécies com distribuição no Velho Mundo.

Este pássaro também conhecido como Labandeira, Lavadeira, Lavandisca, Lavandeira, Alveliço, Avoeira, Boieira e Pastorinha. (**)

As alvéolas são aves de pequeno porte, com um comprimento que ronda os 19,5 centímetros. de constituição delgada. O bico é alongado e fino, próprio para uma alimentação à base de insectos. A cauda longa é agitada de um lado para o outro quando a alvéola está em repouso. As patas são relativamente longas e terminam em dedos com garras compridas. A plumagem é geralmente branca, negra e/ou cinzenta, mas algumas espécies podem ser mais coloridas, apresentando tons de amarelo. As cores do macho e da fêmea são muito parecidas entre si, sendo que no entanto a cor cinzenta do dorso da fêmea geralmente penetra pelo preto da coroa.

A época de acasalamento desta espécie ocorre no fim do Inverno. A fêmea constrói um ninho em qualquer concavidade, seja um buraco de um muro, as raízes de uma árvore, a cavidade de um tronco de árvore, um local abrigado de um telhado. A postura ronda geralmente cinco a seis ovos que são incubados pela fêmea por cerca de duas semanas. Os juvenis saem do ninho duas ou três semanas depois, geralmente já durante a Primavera.

As Labandeiras do Norte da Europa migram no Inverno para zonas do continente africano e para o sul do continente Europeu. A alvéola-branca-britânica é uma subespécie. O macho surge com o dorso preto. Parecidos com a alvéola-branca são a alvéola-cinzenta (Motacilla cinerea) de peito amarelo, cauda negra e dorso cinzento e a alvéola-amarela que tem as regiões inferiores de cor amarela e o dorso esverdeado.

Este pássaro encontra-se espalhado por quase todo o mundo com particular destaque para a Europa, Ásia e África. Surge em Portugal na Beira Baixa, Beira Litoral, Estremadura, Ribatejo, Alentejo e Algarve, no arquipélago da Madeira e em todas as ilhas dos Açores.

Pode ser avistada em campos abertos, prados, margens fluviais e lacustres e no caso das ilhas surge frequentemente à beira-mar, com mais frequência no Verão enquanto no Inverno tem tendência a se deslocar mais para as Serras. (...)


________________



(...) Não sei se as aves do paraíso
são felizes.
Mas em Candoz poderiam sê-lo.
Não há aves do paraíso em Candoz
porque Candoz fica no hemisfério norte,
longe dos trópicos e longe do paraíso
(se é que ele existe).
Dizem que as aves do paraíso
são as criaturas mais lindas do mundo.
Em Candoz, há outras aves, outros pássaros,
daqueles que rasgam os céus
e nidificam na terra:
não há perdizes,
ou, se existem, são poucas e loucas;
mas há verdes pombos bravos dos pinhais,
e rolas, de outras paragens,
alegres pintassilgos,
ruidosos pardais do telhado,
andorinhas, cada vez mais,
no vaivem das suas viagens,
mas também toutinegras, popas, verdilhões.
Há coros de rouxinóis,
outras aves canoras e canastrões,
melros de bico amarelo
que fazem seus ninhos nas ramagens
das videiras do vinho verde.
Não há guarda-rios, de azuis e rubras plumagens,
à cota trezentos,
com o rio Douro ao fundo do vale,
a serra de Montemuro em frente.
Eça de Queiroz,
meu vizinho, da Quinta de Tormes,
deveria ter gostado de conhecer Candoz
onde os pássaros são livres,
e, se são livres, logo serão felizes.
Pelo menos têm grandes espaços para voar,
os pássaros de Candoz.
Claro que há os predadores,
o gaio, o corvo, o búteo, o mocho, o milhafre…
A liberdade é a primeira condição da felicidade.
Triste é o melro na gaiola,
mesmo que esta seja forrada a ouro. (...)

(**) Último poste da série > 10 de fevereiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14238: Fotos à procura de ... uma legenda (51): Manuel Joaquim dos Prazeres, empresário de cinema e caçador, Cabo Verde (1929/1943) e depois Guiné (1943/73)... Fotos da Praia, ilha de Santiago, Cabo Verde, com amigos (Lucinda Aranha)

Guiné 63/74 - P14260: Tabanca Grande (455): José Júlio Dores Nascimento, ex-Fur Mil Art da CART 2520 (Xime, Enxalé, Mansambo, Quinhamel, 1969/71)

1. Mensagem do nosso camarada e novo tertuliano José Júlio Dores Nascimento(*), ex-Fur Mil Art da CART 2520, Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71, com data de 10 de Fevereiro de 2015:

Caro Luís Graça,
Apresenta-se o Ex-Furriel Miliciano José Júlio Dores do Nascimento, pertencente à CArt 2520, que esteve em comissão de serviço na Guiné, entre Junho de 1969 e Março de 1971.

A CArt 2520, prestou serviço em duas fases distintas, sendo a primeira fase numa zona bastante operacional, com muita actividade fora do arame farpado. Essa zona chamava-se Xime e ficava localizada na margem esquerda do rio Geba, na parte que fazia confluência com o rio Corubal.

Para efeitos operacionais a nossa Companhia estava subordinada ao Batalhão de Bambadinca. Durante vários meses tivemos à nossa responsabilidade o destacamento do Enxalé, que ficava frente ao Xime, na margem direita do Geba.

Faziam parte da nossa zona as tabancas de Amedalai, Taibatá e Dembataco, populações que estavam em autodefesa e que eram frequentemente atacadas.
Na zona operacional do Xime, permanecemos até final do mês de Maio de 1970.

Na segunda fase da nossa permanência na Guiné, a CArt 2520 esteve sediada em Quinhamel.
Esta zona era uma espécie de cordão de segurança à cidade de Bissau e por isso os quatro pelotões da Companhia estavam repartidos pelos destacamentos de Safim, João Landim, Bijemita, Ilondé, São Vicente da Mata e Ondame (Biombo).


Pertenci ao 3.º Pelotão que fez uma breve passagem por Mansambo (Junho/69) e pelo Enxalé, entre Janeiro e Fevereiro de 1970.

Nos meses de Junho a Agosto de 1970, quando da mudança de zona operacional, o nosso pelotão esteve em Safim, nessa altura fui com a minha secção para João Landim, que ficava mesmo juntinho à margem do rio Mansoa. Esta secção tinha por missão fazer a segurança a uma jangada motorizada da Marinha e outra da Engenharia, jangadas estas que faziam a passagem entre margens, tanto de viaturas militares como civis e também da nossa tropa e população.
E por último estive no Biombo, desde Setembro/70 a Março /71.

Durante a permanência no Xime, o meu pelotão participou em várias operações no mato. A nossa actividade foi muito intensa, nomeadamente fazendo segurança às embarcações que navegavam no rio Geba, na zona da Ponta Varela e protecção às colunas que se faziam na estrada Xime-Bambadinca, na parte considerada mais perigosa, que era a Ponta Coli.
No Enxalé fazíamos a protecção à população e alguns patrulhamentos nas proximidades do aquartelamento. Aqui deu para dedicar à leitura e "devorar" alguns livros e até revistas.

 Localização de Xime e Enxalé. Vd Carta do Xime 1/50.000

Considero-me um combatente, tenho muito orgulho de ter pertencido ao Exército Português. Penso ter honrado e dignificado a farda que enverguei, que o digam os meus soldados. As dificuldades foram muitas, tanto físicas como psicológicas, mas ultrapassei-as com alguma facilidade, porque estava preparado para isso, não só pela preparação militar e psicológica, que tive em Tavira, Vendas Novas, Leiria, Torres Novas e Santa Margarida, como pelo facto de até ir para o serviço militar, a minha vida não ter sido nada fácil, desde a minha infância até à minha juventude.

Sou oriundo duma família muito modesta, éramos nove irmãos e até ir para a tropa nunca tinha conhecido facilidades. Pelo que observei, pelo que passei e vivi no terreno e pelos conhecimentos que tenho daquilo que passou na Guiné, quero aqui deixar a minha grande e singela homenagem aos que nas matas, nas picadas e nos quartéis dessas terras escaldantes de África deram o seu melhor, principalmente àqueles que sacrificaram a sua vida, pela grande Pátria Portuguesa.

Tenho algumas pequenas histórias para contar e que aos poucos as irei escrevendo.
Nestes termos, peço a minha entrada nesta "tabanca grande", que cada vez irá sendo maior.

Com um grande abraço do,
José Nascimento
CART 2520


2. Comentário do editor:

Caro camarada José Nascimento,
Sê bem-vindo, és o 677.º Grã-Tabanqueiro do nosso Blogue. Recebe desde já um abraço da parte dos editores e da tertúlia.

Entra, instala-te e, depois de conheceres os cantos da casa começa a trabalhar.
A tua tarefa será contribuir com as tuas memórias escritas e fotográficas. Assim deixarás aqui a tua parte sobre a história da guerra da Guiné.
Sem paixões, e tanto quanto  a memória nos permita, queremos deixar para futuro material de pesquisa que outros possam consultar, processar e dar a conhecer aos vindouros.

Caro amigo Nascimento, ficamos ao teu dispor para qualquer esclarecimento.

O teu camarada e anovo amigo
Carlos Vinhal
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Nota do editor

(*) Vd. poste de 8 de maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9863: (De)caras (10): Relembrando o Fur Mil Joaquim de Araújo Cunha, natural de Barcelos, que pertencia à CART 2715 (Xime, 1970/72), e que foi morto de morte matada em 26/11/1970 (José Nascimento, CART 2520, Xime, 1969/70)

Último poste da série de 26 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P14083: Tabanca Grande (454): António Santos Dias, ex-Fur Mil da CTransp 9040/72 (Guiné, 1974)

Guiné 63/74 - P14259: Libertando-me (Tony Borié) (4): ...e o Lisboa rasgou o cartão

Quarto episódio da série "Libertando-me" do nosso camarada Tony Borié, ex-1.º Cabo Operador Cripto do CMD AGR 16, Mansoa, 1964/66.



Já lá vão uns anos, vivíamos no norte, na altura exercíamos funções de vice-presidente do maior clube de língua portuguesa situado na costa leste dos USA, todos os dias era uma aventura, jogava o Benfica, Sporting ou Porto, se ganhavam, havia alegria, quando marcavam um golo, gritavam, bebiam e atiravam os filhos ao ar, ficavam latas e garrafas de cerveja no chão ou em qualquer lado, se perdiam, os amigos discutiam e às vezes até chegavam a “vias de facto”, indo para casa dizendo “mal de tudo”.

Aos fins-de-semana, na época de verão, havia “arraiais à portuguesa”, sardinha assada, frango de churrasco, febras, vinho verde, branco e tinto, dançavam e o nosso rancho folclórico exibia-se, era uma autêntica festa portuguesa, como se estivéssemos em qualquer aldeia do Minho, Beira, Ribatejo ou Algarve, a polícia local colaborava, já nos conhecíamos, também bebiam e, para o final, já falavam algumas palavras obscenas do vocabulário de Camões.

Num dia, mais propriamente a uma sexta-feira, recebo um telefonema do Consulado de Portugal em Newark, onde um funcionário superior, meu amigo, me diz que ia ao nosso clube na noite do dia seguinte, com uma personagem que tinha vindo de Portugal, creio que era ministro em funções do governo da altura, pessoa muito ilustre, trazendo consigo um pequeno grupo de pessoas que deviam ser seus ajudantes em campo.

Na altura não havia festas e não tínhamos “nada” com que os pudéssemos receber, mas como havia um casamento no nosso salão principal, falámos com a pessoa encarregue pelo serviço, prestando-se imediatamente em colaborar, preparando uma mesa com o que de melhor havia na altura, incluindo alguns mariscos e vinhos especiais, recebendo a personalidade e os seus ajudantes de campo, que se desfaziam em sorrisos, distribuindo cartões de apresentação, com o escudo da bandeira de Portugal em relevo, (portanto naquele momento, para nós, era o país Portugal), dizendo sempre que queriam ajudar os portugueses na diáspora, que foi para isso que nos visitavam, mais isto e mais aquilo, faziam um pouco o papel de “coscuvilheiros”, perguntando o que precisávamos, quais as nossas dificuldades, se tudo estava a correr bem com a comunidade, mostravam que queriam saber da “nossa vida”.

O senhor José Garcia, combatente da guerra colonial em Moçambique, com tatuagem no antebraço direito, muito mal desenhada, dizendo “amor de mãe”, a quem nós carinhosamente, cá fora, chamávamos “Zé Barbeiro” e, dentro do clube, chamávamos “Ò Lisboa”, por ser oriundo da capital, tinha a mania que sabia cantar o fado, pois frequentemente entoava, e muito bem, uma frase de um qualquer fado famoso, mas só sabia aquela frase, era quem nos cortava o resto do cabelo, fazia parte do nosso clube, estava lá, queria reclamar, pois em tempos, depois de alguma burocracia, tinha comprado um terreno aos herdeiros do que fora dono, ao lado de uns casebres onde os seus pais viviam, nos arrabaldes da cidade de Lisboa, onde queria fazer obras para melhorar a vida dos pais e, onde queria acabar os seus dias quando a idade chegasse. Mostrava fotografias a todos, dizendo que iria fazer “daquilo” um “chalé”.

Pois a cidade, não só não lhe concedeu essas facilidades, como lhe comunicou que “aquilo” era para ser tudo destruído, pois era uma zona que iria ter uma urbanização onde iria haver um grande “shopping mall”. Tivemos que o “segurar”, pois queria atirar-se à personagem, barafustava, dizia mal da reputação da mãe daquela personagem, rasgou o cartão de apresentação da ilustre personagem, sempre teimando que lhe queria “cortar o cabelo”.

Nós, como havia muita dificuldade em livros escolares em português para a nossa escola, logo lhe pedimos livros, muitos ou poucos livros, novos ou usados, dizendo essa personagem, com uma simplicidade notável, que se a nossa dificuldade era essa, estava já resolvida, pois ia providenciar em mandar imediatamente uma grande encomenda de material escolar.

Pois companheiros, esperámos, esperámos, nunca nada recebemos, todos os dias tirávamos cópias, nas costas de papel cedido pela cidade e por amigos do nosso clube, dos poucos livros que tínhamos, estando a máquina de copiar sempre a avariar, pois se não fosse assim, muitas crianças, filhos de portugueses e não só, nunca saberiam que o D. Afonso Henriques não gostava da mãe e, que o navegador Vasco da Gama, que se destacou por ter sido o comandante dos primeiros navios ou caravelas, a navegar da Europa para a Índia, que era a mais longa viagem oceânica até então realizada, era uma personagem que ia ao serviço de uma grande empresa, que tinha investido nele, procurando no seu regresso, recuperar todo o investimento, com o respectivo lucro.


Tony Borie, Fevereiro de 2015
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Nota do editor

Último poste da série de 8 de fevereiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14233: Libertando-me (Tony Borié) (3): O senhor Spencer, em Mansoa, industrial de madeiras, representante do Gazcidla e de uma agência de viagens