1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 12 de Junho de 2014:
Queridos amigos,
É uma guerra contada às avessas, o narrador de sempre escolhe um interlocutor ingénuo, tenrinho, pronto a ouvir falar de fadas e lobos maus.
Tanto quanto sei, é o primeiro livro em que as façanhas bélicas são relegadas para anexo, incluindo o descritivo operacional. É uma imagem intencionalmente diferente da guerra, privilegia-se o tom caricatural, a ternura, no palco estão jovens irreverentes num teatro de guerra chamado Cabinda onde uma floresta portentosa, o Maiombe, pontifica, une e separa. Memórias redigidas com uma serenidade que assombra.
E faz pensar.
Um abraço do
Mário
O meu avô andou na guerra
Beja Santos
É um título claramente feliz, sugestivo, remete para a comunicação de velhos combatentes aos netos. É uma literatura que pode começar sempre por “Era uma vez…”. Trata-se de uma abordagem singular da vida de um batalhão que foi parar ao Enclave de Cabinda, o destaque vai para a rebeldia e camaradagem desses moçoilos que porventura, até lá chegar, nunca tinham ouvido falar no Maiombe.
É habitual, na literatura da guerra, ver os relatos atravessados por eventos épicos, por mantos espessos de solidão, os frémitos da saudade, o choro pelas perdas, sentir-se o fragor dos tiroteios. Em “O Meu Avô Andou na Guerra”, por Armando Queirós e Diogo Gomes, Âncora Editora, 2014, a história do BCAV n.º 682 guia-se por outro cânon, apresenta-se deliberadamente heterodoxo, aqui cintila o picaresco, a caricatura, as alcunhas dos tropas e as suas razões de ser. Fala-se pouco das pessoas importantes mas não é esquecido o tratador de porcos que um dia fugiu para o Congo, e também não se esquece a referência bonacheirona a Pascoal, o moleque que trocava latas de rações pelos afetos de uma negrinha.
Uma escrita amena, com derivativos espirituosos, nada de rancores, não se pretende um estudo minucioso, qual documentário, sobre as vicissitudes porque passaram aqueles combatentes, não há para ali o tropel de patrulhas, minas e emboscadas. Que as houve, irão aparecer como um inventário histórico do BCAV n.º 682, um anexo que não exige leitura obrigatória. Destarte, lá vão 600 mancebos para entre dois Congos. Antes, foram às sortes, esses moços nascidos em 1941 e 1942, um dia apareceu o carteiro com a guia de marcha e requisição para a CP os transportar para o quartel de destino. As peripécias da adaptação misturam o caricatural e o burlesco, é assim que se faz uma recruta por via da descoberta da socialização da caserna e da parada, a vida de quartel sincroniza-se por toques da corneta. Para que não subsistam dúvidas na cabeça dos netos, fica escrito: “Já sabíamos marchar, marcar passo, pôr em sentido, apresentar armas e até dar uns tiros com umas espingardas que já tinham andado noutras lutas. Era agora preciso cultivar cada uma dar artes apropriadas aos conflitos que nos esperavam. E como numa guerra nem todos andam aos tiros, uma vez que tem de haver quem faça a comida, quem cure as feridas, quem conduza os carros, quem faça reparações e até quem toque com a corneta. Éramos, então divididos, por diversos quartéis para tirar a Especialidade: de cozinheiro, de enfermeiro, de condutor, de corneteiro e por aí fora”.
Os netos e leitores adventícios têm direito a uma farta explicação sobre a definição de especialidades: “A maior parte ia para atirador, já que numa guerra a função principal é atirar. Uma espécie de caçadores que se pretendia fossem caçar uns indivíduos que, numas terras bem distantes, andavam lá a apregoar que aquela terra era deles, enquanto por cá se cantava em coro: É nossa. Um ou outro soldado, a quem não se encontrasse jeito para nada, era rotulado de básico, que era o mesmo que não servir para nada, mas quando se chegasse à guerra, logo se via, algum préstimo haveria de ter, nem que fosse na faxina”.
É lá vão num quartel flutuante, o Vera Cruz, ali se tomou contacto com pequenas coisas trazidas de Las Palmas, isqueiros Ronson, relógios Cauny, máquinas fotográficas Canon, tabaco AC, até se cambiava a moeda de Angola. Desembarca ao largo de Cabinda, com direito a salto para um batelão.
A peroração para netos prossegue, conta-se a história daquela terra encravada entre dois congos: “Cabinda passou para o domínio português em 1885, através do Tratado de Simulambuco, assinado por Brito Capelo e pelos príncipes, chefes e oficiais do reino de N’Goyo que declararam reconhecer a soberania de Portugal”. E começa a descoberta da floresta tropical. Os que foram para Massabi, mesmo junto da fronteira com a República do Congo, tiveram, primeiro que tudo, descobrir qual a zona que lhes competia defender, já que nas cartas estava assinalado um marco que definia a linha de fronteira, mas como a vegetação ali não pede licença para crescer o tal marco estava totalmente abafado. À força da catanada lá se foram abrindo umas clareiras e eis que um dia, toda a gente ficou a saber até onde podia ir sem passar para o outro lado. O marco era um gigantesco tronco de madeiro atravessado no caminho, a palavra fronteira estava inscrita em letras garrafais.
Os autores falam do Dinge com a propriedade de quem ali assentou arraiais. Bem-humorados, os autores desfiam as suas histórias: o capelão, o tenente Esteves, adorava caçar pássaros com uma espingarda de pressão de ar; o soldado Orelhas ajudava na cozinha e cuidava do bem-estar dos porcos, da sua engorda, um dia teve uma repentina e foi parar à República do Congo, nunca se apurou a causa da fuga… seguem-se as alcunhas, a história de um casamento que estive previsto para um alferes, as férias passadas em Angola, visitou-se Luanda, Sá da Bandeira e Moçâmedes, e novamente a subir para Luanda passando por Benguela, Lobito, Novo Redondo e Porto Amboim. E havia as escapadelas até Cabinda, os negócios de bordel, tudo contado entre o pícaro e o hílare, para não ofender a sensibilidade dos petizes. E há histórias sobre animais, pois claro, cadelas e macacos, embora por lá aparecessem crocodilos bebés.
A guerra também se fazia pelas ondas hertzianas, dá-se conta da propaganda da Rádio Brazzaville no dia 18 de agosto de 1965. E há histórias de lavadeiras, como moçoilos vindos da Madeira e dos Açores engrenaram na máquina do batalhão e se mostravam felizes.
E chegou a hora da volta ao puto, a mesma azáfama em entregar o material na unidade mobilizadora e partir para a família, tinham-se passado entre três a quatro anos desde que tinham saído de casa para assentar praça algures num quartel. E agora? Agora andamos por aí, somos reformados e temos netos para tratar. E de vez em quando encontramo-nos, como termina a história para encantar netos:
“O relacionamento que mantemos tem o seu quê de peculiar, a e a forma de convivermos não tem paralelo com encontros que realizamos no âmbito de outras relações como as profissionais. Essa particularidade poderá resultar do facto de ser esta a única vivência durante um tão longo período e todos estarmos em condições idênticas durante todas as horas do dia. A partir de agora é só mais um esforço para continuar a andar por aí, a ler histórias de fadas, princesas e lobos maus aos netos, e quando eles perceberem que não existem fadas nem princesas – lobos maus nunca se sabe – contar-lhes que o avô andou na guerra”.
Esta a magia da simplicidade, uma guerra pintalgada de humor cáustico e do deslumbramento de aprender a ser homem tirando partido da adversidade.
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Nota do editor
Último poste da série de 10 de Abril de 2015 > Guiné 63/74 - P14454: Notas de leitura (701): “Desaparecido em combate", por Duarte Dias Fortunato, o primeiro prisioneiro de guerra depois da Operação Mar Verde (Mário Beja Santos)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
segunda-feira, 13 de abril de 2015
Guiné 63/74 - P14465: X Encontro Nacional da Tabanca Grande, Palace Hotel de Monte Real, 18 de Abril de 2015 (9): Em 2015, como era esperado mais ano menos ano, atingimos o limite físico da sala que habitualmente ocupamos, as duzentas pessoas.
Monte Real, 14 de Junho de 2014 > Foto da Grande Família do Blogue Luís Graça e Camaradas da Guiné
Foto: © Manuel Resende (2014). Todos os direitos reservados.
X Encontro Nacional da Tertúlia
18 de Abril de 2015
Mensagem da Organização
18 de Abril de 2015
Mensagem da Organização
Em 2015, como era esperado mais ano menos ano, atingimos o limite físico da sala que habitualmente ocupamos, as duzentas pessoas.
Terminadas que foram as inscrições, cabe relembrar o programa do nosso Convívio.
Vai ser celebrada uma Missa de sufrágio na Igreja Matriz de Monte Real, pelas 11h30, pelos camaradas caídos em campanha e pelos camaradas e amigos que depois da guerra foram falecendo.
Finda a Missa será feita a foto de família frente ao Hotel.
Às 13 horas teremos o buffet de entradas, que, se houver bom tempo, será servido na varanda exterior.
Seguir-se-á o almoço durante o qual o convívio será mais próximo e mais restrito.
O pagamento será feito já na mesa em momento a anunciar. O custo será de 30€ para adultos e 15€ para crianças até aos 12 anos.
Durante a tarde o convívio continuará dentro e fora do Hotel, com a certeza de que pelas 18 horas será servido um lanche ajantarado para fim de festa.
O pagamento das pernoitas será feito na recepção do hotel no momento da saída.
Pedimos a especial atenção a quem por motivos de força maior não puder comparecer, que me envie até às 24 horas de quarta-feira, dia 15, uma mensagem (carlos.vinhal@gmail.com) ou liguem para o meu telemóvel, dando conta da sua desistência.
Lembramos que os faltosos terão o dever moral de ressarcir os organizadores que terão de pagar do seu bolso os almoços de quem não comparecer.
Como informação complementar aqui ficam as coordenadas de GPS do Palace Hotel de Monte Real: LAT +39° 51' 5.15' - LON -8° 52' 1.87'.
Os organizadores
Luís Graça
Mexia Alves
Miguel Pessoa
Carlos Vinhal
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Nota do editor
Último poste da série de11 de abril de 2015 > Guiné 63/74 - P14457: X Encontro Nacional da Tabanca Grande, Palace Hotel de Monte Real, 18 de Abril de 2015 (8): Com 195 inscrições, a meio da tarde de hoje, estamos a atingir o limite dos 200 lugares, e a bater um recorde em dez anos de história dos nossos encontros nacionais
Guiné 63/74 - P14464: Agenda cultural (388): Apresentação do livro "Nós Enfermeiras Paraquedistas", dia 16 de Abril de 2015, pelas 15 horas, na Messe de Oficiais, Praça da Batalha, Porto
Com a devida vénia à Tabanca do Centro e ao nosso camarada Miguel
Pessoa, reproduzimos o poste com o anúncio da apresentação do livro "Nós
Enfermeiras Paraquedistas", a levar a efeito no próximo dia 16 de Abril de 2015, pelas 15 horas, na Messe de Oficiais, na Praça da Batalha-Porto.
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Nota do editor
Último poste da série de 12 de abril de 2015 > Guiné 63/74 - P14459: Agenda cultural (391) "Génesis", de Sebastião Salgado, talvez o maior fotojornalista da atualidade: a não perder, de 10 de abril a 2 de agosto de 2015, Lisboa, Galeria do Torreão Nascente da Cordoaria Nacional
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Nota do editor
Último poste da série de 12 de abril de 2015 > Guiné 63/74 - P14459: Agenda cultural (391) "Génesis", de Sebastião Salgado, talvez o maior fotojornalista da atualidade: a não perder, de 10 de abril a 2 de agosto de 2015, Lisboa, Galeria do Torreão Nascente da Cordoaria Nacional
Guiné 63/74 - P14463: Manuscrito(s) (Luís Graça) (53): A liberdade, a altiva garça real e a ociosa cegonha, agora desempregada, que já não traz os bebés de França...
Alcácer do Sal > Rio Sado > 12 de abril de 2015 > Andei a perseguir esta garça real (ou garça cinzenta) (Ardea cinerea cinerea, nome científico em latinório), com a minha pequena máquina fotográfica... [Vd, as duas primeiras fotos acima].
Ela estava longe, do outro lado da margem do rio, e naturalmente estava irrequieta, nervosa, pouco segura, à procura de almoço... O estômago vazio não rima bem com liberdade... E ela afastava-se cada vez mais do meu ponto de observação. Eu tinha uma vantagem em relação a ela: acabara de almoçar, e o almocinho até foi bom e relativamente barato p'rós tempos que correm (no restaurante "Retiro Sadino", passe a publicidade, uma boa sugestão do meu amigo arquiteto José António Paradela, que tem obra por estes lados, e que é mais peixeiro do que carneiro, tal como eu, ou não fossemos ambos nascidos na costa atlântica, ele em Ílhavo, eu na Lourinhã)...
Todavia, a persistência não é o meu forte. Se eu fosse garça real, talvez não fosse tão longe como ela (que pode viver 25 anos, o que é uma eternidade para uma ave que, tal como a galinha, é descendente de dinossauros)... Acabei por conseguir, sem tripé, uma meia dúzia de boas fotos, de entre algumas dezenas que fui tirando, em más condições de exposição, com muita contraluz, distância e rapidez de movimentos do objeto...
E, de repente, viajei sem querer até à Guiné e ao tarrafe do meu Rio Geba.. Vá-se lá saber porquê, se o Rio Sado não é o Rio Geba, e não há aqui nada, nem sequer flamingos vermelhos, a falar-me da guerra, mesmo subliminarmente...Por que raio me veio à ideia o Geba e a guerra e os flamingos vermelhos ? Para além da garça real, a pescar, vejo apenas (e fotografo), no campanário da igreja, algumas famílias de pachorrentas cegonhas, agora desempregadas por que já não trazem os bebés de França, e que talvez por isso são "ocupas", não pagando a renda de casa ao padre... (O que não as impede de viver. comer e reproduzir-se como qualquer ser vivo, com direito a ter um lugar ao sol na mesa do banquete da vida....).
Enfim, são sinais também dos tempos, a par da desolação do rio Sado, navegável daqui até Setúbal, mas sem barcos à vista que o animem (e nos animem)... Onde está o nosso milenar e bravo povo de pescadores e marinheiros ?...
Mas deu-me prazer chegar a casa, do outro lado de outro rio (o Tejo), e selecionar esta e outras fotos, de um belo domingo passado em Alcácer do Sado (onde se come bem e é uma terra linda de morrer, como muitas outras do nosso belo e querido Portugal, mesmo em declínio) e em Grândola, "vila morena" (muito menos bonita e mas onde também se come bem)...
Em contrapartida, vim a descobrir, em Grândola (, onde acabei por não ver a exposição de desenho, escultura e fotografia de José Cutileiro, porque a biblioteca municipal está fechada ao domingo...), que foi num já longínquo ano de 1964 que o Zeca Afonso passou por aqui, pela Sociedade Musical Fraternidade Operária Grandolense (antigo Cineteatro Grandolense e antes disso hospital e igreja da misericórdia local...) e levou daqui a motivação e a inspiração para compor a sua famosa "Grândola, Vila Morena"...
Fica aqui o registo para os nossos leitores, não tão assíduos destas paragens como a cegonha e a garça real... (LG)
Grândola, 12 de abril de 2015 > Sociedade Musical Fraternidade Operária Grandolense (antigo Cineteatro Grandolense) > Cartaz de Zeca Afonso e lápide com a história do edifício que fica paralelo ao edifíicio dos antigos paços do concelho (séc. XVIII)
Fotos: © Luís Graça (2015). Todos os direitos reservados
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Nota do editor:
Último poste da série > 5 de abril de 2015 > Guiné 63/74 - P14434: Manuscrito(s) (Luís Graça) (52): A sagração da primavera
domingo, 12 de abril de 2015
Guiné 63/74 - P14462: Estórias do Juvenal Amado (53): O 25 de Abril faz 41 anos e eu continuo um incorrígel sonhador
"O João Caramba [1950-2013], eu e o Ivo, em Santa Maria da Feira, pouco tempo depois do nosso regresso"
Foto (e legenda): © Juvenal Amado (2015). Todos os direitos reservados.
1. Mensagem de Juvenal Amado (ex-1.º cabo condutor auto, CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74)
Data: 8 de abril de 2015 às 23:06
Assunto: O 25 de Abril faz 41 anos
Caros camaradas
A liberdade será porventura um dos maiores anseios colectivos da Humanidade. Tão difícil de alcançar, julgo ainda mais difícil de manter.
Somos uma geração que lutou por ela, que a abraçou, e que deseja deixá-la às gerações vindouras como um bem supremo, pelo o qual tantos morreram desde o berço da nossa nacionalidade.
Na nossa História tantas vezes perdida e outras tantas vezes recuperada, valeu a pena.
Um abraço
Juvenal Amado
Estórias do Juvenal Amado (53) > Sou um sonhador
Sonho com água a passar límpida debaixo das pontes,
Que no Natal haverá brinquedos para todas a crianças,
Amêndoas na Pascoa,
Que há um fim para a violência,
Que o Homem tem prioridade sobre os interesses,
Que chove sempre na altura certa,
Que o Sol aparece sempre na Primavera,
Que os campos se cobrem de verde,
Que as flores darão sempre lugar aos frutos,
A Natureza vença a destruição,
Que os homens se respeitem,
O branco e o preto sejam símbolos da mesma pureza,
Que no Verão os fogos poupem a floresta,
O Outono seja manso,
O Inverno rigoroso mas que ninguém dê por isso,
Que haja arco-íris em todas as escolas,
Que o desemprego seja uma recordação,
Que a tua mão nunca se canse da minha,
Que os sonhos alimentem os sentidos,
Que o silêncio seja a bebedeira da alma...
O 25 de Abril faz 41 anos
Sonho com água a passar límpida debaixo das pontes,
Que no Natal haverá brinquedos para todas a crianças,
Amêndoas na Pascoa,
Que há um fim para a violência,
Que o Homem tem prioridade sobre os interesses,
Que chove sempre na altura certa,
Que o Sol aparece sempre na Primavera,
Que os campos se cobrem de verde,
Que as flores darão sempre lugar aos frutos,
A Natureza vença a destruição,
Que os homens se respeitem,
O branco e o preto sejam símbolos da mesma pureza,
Que no Verão os fogos poupem a floresta,
O Outono seja manso,
O Inverno rigoroso mas que ninguém dê por isso,
Que haja arco-íris em todas as escolas,
Que o desemprego seja uma recordação,
Que a tua mão nunca se canse da minha,
Que os sonhos alimentem os sentidos,
Que o silêncio seja a bebedeira da alma...
O 25 de Abril faz 41 anos
E eu continuo um incorrigível sonhador.
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Nota do editor:
Último poste da série > 26 de agosto de 2014 > Guiné 63/74 - P13534: Estórias do Juvenal Amado (52): Portugal, fábrica de soldados
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Nota do editor:
Último poste da série > 26 de agosto de 2014 > Guiné 63/74 - P13534: Estórias do Juvenal Amado (52): Portugal, fábrica de soldados
Guiné 63/74 - P14461: Meu pai, meu velho, meu camarada (45): Meu pai Horácio Gouveia (1913-1977) e o meu avô Benigno Gouveia (1880-1951) (Fernando Gouveia)
1. Mensagem do nosso camarada Fernando Gouveia (ex-Alf Mil Rec Inf, Bafatá, 1968/70) com data de 2 de Abril de 2015:
Carlos
A pedido e para alimentação do blogue, mando o texto em anexo para a série MEU PAI, MEU VELHO, MEU CAMARADA. Lamento só possuir uma fotografia do meu pai e de fraca qualidade, bem como uma do meu avô, de quem conto uma história, e que seguem também em anexo.
Da tropa do meu pai pouco sei. Não sabendo onde assentou praça sei que andou por Vila Real e pelo “30” de Bragança.
Quando deixou a tropa, no princípio da 2.ª guerra, conservou, por algum tempo, a farda numa mala para o que “desse e viesse” mas felizmente não chegou a ser necessária.
Um abraço
Fernando Gouveia
Irei falar do meu pai como tropa miliciano que foi. Vou, no entanto, começar por abordar um facto, ligado à Segunda Guerra Mundial, passado com o meu avô paterno.
Nordeste Transmontano. Naquele tempo a única riqueza que por lá existia era a terra.Vendiam-se azeite e amêndoa. Tudo o resto era para consumo próprio, sobrevivência. Todo o agricultor tinha sempre uma ideia em mente, adquirir mais terras, ladeiras.
O meu avô Benigno, com sacrifícios, adquiriu, entre outros, um belíssimo prédio com cerca de doze hectares, a quinta, como lhe passaram a chamar. Apesar de se situar no Nordeste, a propriedade tinha (e tem) quatro poços onde a água corria, mesmo no verão, pelo prédio abaixo e que permitia que ali se desenvolvessem centenas de oliveiras e amendoeiras, vinha, árvores de fruta e óptimos chãos para horta, onde tudo medrava. Era a “menina dos olhos” do meu avô. Era raro o dia em que não ia lá, montado no seu cavalo, o Carriço.
Entretanto estourou a Segunda Guerra Mundial. Apesar de não termos entrado na guerra, muitos hábitos se alteraram, muitas novas situações surgiram como, por exemplo, o meu pai ter que ir diariamente ao botequim próximo tomar um café, ou não tomar, só para trazer para casa um pouco de açúcar para adoçar o leite ao seu filho, que por acaso nasceu (nasci) em 1942. Era o racionamento.
Pior que tudo, a dada altura, e porque a situação o impunha, pois poderíamos ter que entrar na guerra, requisitaram o cavalo do meu avô. Autêntica catástrofe emocional. Enquanto o cavalo andou lá pela tropa o meu avô não mais foi à quinta, seu prédio predilecto, fazendo lembrar e, salvo as devidas distâncias, os casos dos cães que, estando os donos no leito de morte, não mais se alimentam nem saem do tapete, acabando por acompanhar os donos na viajem para o além.
Como teria gostado de ver o meu avô, no momento em que um soldado lhe foi entregar o Carriço, após os nazis capitularem.
Sempre soube que, no quintal da casa dos meus avós, existiu um caramanchão de glicínias e ainda vi vestígios do seu enorme tronco. Um caramanchão, no Nordeste Transmontano, com o calor que faz no verão, é um local apetecível e indispensável, pelo menos para quem o pode ter. Soube, muito recentemente, que foi cortado pelo meu avô, na época da depressão que teve por causa da ausência do cavalo.
Sinto uma certa felicidade ao pensar que tive o privilégio de dar passeios num cavalo, em que se podia pendurar o chapéu no osso saliente da anca. Não era o Rocinante, era simplesmente o Carriço do meu avô.
Abraços
Fernando Gouveia
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Nota do editor
Último poste da série de 17 de março de 2015 > Guiné 63/74 - P14380: Meu pai, meu velho, meu camarada (44): Meu Velho, meu Amigo e meu Camarada (José Saúde)
Carlos
A pedido e para alimentação do blogue, mando o texto em anexo para a série MEU PAI, MEU VELHO, MEU CAMARADA. Lamento só possuir uma fotografia do meu pai e de fraca qualidade, bem como uma do meu avô, de quem conto uma história, e que seguem também em anexo.
Da tropa do meu pai pouco sei. Não sabendo onde assentou praça sei que andou por Vila Real e pelo “30” de Bragança.
Quando deixou a tropa, no princípio da 2.ª guerra, conservou, por algum tempo, a farda numa mala para o que “desse e viesse” mas felizmente não chegou a ser necessária.
Um abraço
Fernando Gouveia
Meu pai, meu velho, meu camarada
Horácio Gouveia (1913-1977)
Irei falar do meu pai como tropa miliciano que foi. Vou, no entanto, começar por abordar um facto, ligado à Segunda Guerra Mundial, passado com o meu avô paterno.
Nordeste Transmontano. Naquele tempo a única riqueza que por lá existia era a terra.Vendiam-se azeite e amêndoa. Tudo o resto era para consumo próprio, sobrevivência. Todo o agricultor tinha sempre uma ideia em mente, adquirir mais terras, ladeiras.
Benigno Gouveia (1880-1951)
O meu avô Benigno, com sacrifícios, adquiriu, entre outros, um belíssimo prédio com cerca de doze hectares, a quinta, como lhe passaram a chamar. Apesar de se situar no Nordeste, a propriedade tinha (e tem) quatro poços onde a água corria, mesmo no verão, pelo prédio abaixo e que permitia que ali se desenvolvessem centenas de oliveiras e amendoeiras, vinha, árvores de fruta e óptimos chãos para horta, onde tudo medrava. Era a “menina dos olhos” do meu avô. Era raro o dia em que não ia lá, montado no seu cavalo, o Carriço.
Entretanto estourou a Segunda Guerra Mundial. Apesar de não termos entrado na guerra, muitos hábitos se alteraram, muitas novas situações surgiram como, por exemplo, o meu pai ter que ir diariamente ao botequim próximo tomar um café, ou não tomar, só para trazer para casa um pouco de açúcar para adoçar o leite ao seu filho, que por acaso nasceu (nasci) em 1942. Era o racionamento.
Pior que tudo, a dada altura, e porque a situação o impunha, pois poderíamos ter que entrar na guerra, requisitaram o cavalo do meu avô. Autêntica catástrofe emocional. Enquanto o cavalo andou lá pela tropa o meu avô não mais foi à quinta, seu prédio predilecto, fazendo lembrar e, salvo as devidas distâncias, os casos dos cães que, estando os donos no leito de morte, não mais se alimentam nem saem do tapete, acabando por acompanhar os donos na viajem para o além.
Como teria gostado de ver o meu avô, no momento em que um soldado lhe foi entregar o Carriço, após os nazis capitularem.
Sempre soube que, no quintal da casa dos meus avós, existiu um caramanchão de glicínias e ainda vi vestígios do seu enorme tronco. Um caramanchão, no Nordeste Transmontano, com o calor que faz no verão, é um local apetecível e indispensável, pelo menos para quem o pode ter. Soube, muito recentemente, que foi cortado pelo meu avô, na época da depressão que teve por causa da ausência do cavalo.
Sinto uma certa felicidade ao pensar que tive o privilégio de dar passeios num cavalo, em que se podia pendurar o chapéu no osso saliente da anca. Não era o Rocinante, era simplesmente o Carriço do meu avô.
Abraços
Fernando Gouveia
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Nota do editor
Último poste da série de 17 de março de 2015 > Guiné 63/74 - P14380: Meu pai, meu velho, meu camarada (44): Meu Velho, meu Amigo e meu Camarada (José Saúde)
Guiné 63/74 - P14460: Libertando-me (Tony Borié) (12): Quatro da madrugada. Estou acordado
Décimo segundo episódio da série "Libertando-me" do nosso camarada Tony Borié, ex-1.º Cabo Operador Cripto do CMD AGR 16, Mansoa, 1964/66.
Não durmo, estou levantado não sei há já quanto tempo, aqui, nesta parte do mundo, são “quatro da madrugada”, pelo menos é o que dizem os relógios que marcam o tempo, devia estar a dormir, a descansar o corpo já um pouco cansado, entre outras coisas da idade, mas não durmo, já fui lá fora, está quente, há luzes no céu, parecem as noites de Mansoa, lá na Guiné, só que aqui, não é cenário de guerra, não existe humidade nem aqueles malditos mosquitos. Ouço um pequeno barulho, anda um esquilo no telhado, vejo a sua silhueta, a mexer com a cauda, procura o fruto daquela árvore, ele até tem razão, já aqui vivia, antes de eu vir para aqui, roubar-lhes o espaço, além deste pequeno pormenor, não se houve viva alma. Voltei para dentro, fiz um chá, bom, bastante forte, que um familiar me costuma trazer da Inglaterra, apalpei a caneca, quente, bebo uns goles, fico calmo, sento-me, penso, mil coisas me vêm ao pensamento, começo a contar o tempo, portanto já não sou eu, sou um relógio, que neste momento marca “quatro da madrugada”.
É normal nesta idade, creio que já dormi o suficiente, pois foram tantas “quatro da madrugada” que por mim passaram, algumas quentes, outras geladas, outras assim-assim, foram na Europa, na guerra em África ou aqui neste continente, mas as “quatro da madrugada” no verão do Alasca, eram um pouco diferentes, pois era quase sempre dia, e às “quatro da madrugada”, já tinha feito muita coisa, entre outras, tinha ido à pesca.
As “quatro da madrugada”, quando se é jovem, são tal como fossem “quatro da tarde”, estamos sempre prontos, não existem problemas de movimentação, de alimentação, cuidados médicos, pode fazer frio, chuva, calor ou vento, o movimento ambiental não nos importa, pois sabemos que às “quatro da madrugada” vai nascer o dia, com luz, vamos ver o mundo, as pessoas, conviver, caminhar, ocupar o tempo, às vezes até fazendo uma coisa para alguns rara, que é trabalhar. Isto é só pensamentos, pois não tenho a certeza se os mais novos vão perder tempo a ler estes escritos, ou se vão envelhecer, se tal acontecer ainda bem para eles.
Continuando, apalpando a caneca deste chá bem quente, dou uns passos, sento-me na frente do computador, pensando que nunca trocaria a minha vida maravilhosa de pessoa idosa, a minha amada família ou os meus amigos, por mais cabelo, ainda que seja branco, ou por uma barriga mais lisa. À medida que fui envelhecendo, tornei-me mais amável, menos crítico, se estou sentado e preciso desta caneca, a minha preferida, que até está quebrada na asa, mas me tem dado de beber por décadas, vou eu mesmo buscá-la, não incomodo a esposa e companheira, que nesse momento anda de pé, atarefada, da mesa para o fogão, fogão esse que ainda vai cozinhando pelo menos uma vez ao dia.
Às vezes penso que me tornei o meu próprio amigo, não gosto de incomodar ninguém, e claro, não me censuro por comer todas aquelas comidas que dizem que nos fazem muito mal, mas que são adoráveis, ou por entre outras coisas, não fazer a cama, não ajudar nas tarefas da casa, andar por aí a brincar com o meu helicóptero brinquedo, que quando está vento mais forte, vai parar à propriedade do vizinho, que vieram lá do norte, de Nova Iorque e, quando a amável senhora me traz o brinquedo de volta, diz-me, com um ar entre a censura e o feliz, “então os netinhos estão por cá, tenha cuidado com eles, não os deixe brincar com estes brinquedos, pois são muito perigosos, podem partir as janelas ou mesmo ferir as pessoas, pois eu vi na televisão...”, e lá vem a história toda, contada com pormenores, pois o que ela quer é conversa, passar o tempo, tal como nós, não sabendo que eu fui o causador de todo esse “desastre”, pois os meus netos estão lá no norte.
Eu tenho o direito de ser desarrumado, de ser livre, pois já vi muitos amigos queridos e familiares deixarem este mundo cedo demais, antes de compreenderem a grande liberdade que vem com o envelhecimento. Quem me vai censurar por fazer aquela viajem estúpida ao estado do Alaska, com muita aventura, dormindo na caravana, ou atravessar a ponte Golden Gate, na cidade de San Francisco, a pé, com todo aquele vento e nevoeiro por momentos e logo a seguir céu azul e sol radiante, por andar por aí na minha bicicleta, armado em campeão de ciclo-cross, atravessando praias e riachos com alligators ou cobras, caindo aqui, levantando-me ali, por comprar algo supérfluo que não precisava, ou mesmo se resolvo ficar a ler, ou a procurar novos horizontes no computador até tarde, se às “quatro da madrugada” já não durmo, e depois, talvez vá dormir até meio-dia.
Se, como alguém já disse, me apetecer dançar ao som daqueles sucessos maravilhosos dos anos 60 e 70, e se, ao mesmo tempo, quiser chorar por um amor perdido, lá na minha aldeia da montanha, danço e choro, às vezes com baba e ranho. Se me apetecer ir à pesca, andar na praia com uns calções não muito apropriados, sobre um corpo decadente, mergulhar nas ondas com abandono, apesar dos olhares penalizados dos outros, que me há-de importar, eles também vão envelhecer.
Eu sou um abençoado por ter vivido o suficiente para já não ter muitos cabelos na cabeça, não ter o riso da juventude, pois muitos nunca riram, muitos dos meus amigos, e lembro os meus companheiros de guerra, lá na Guiné, que morreram jovens, muito antes de perder o cabelo. Eu, com os anos a passarem por mim, tenho o direito de estar errado, gosto de ser idoso, a idade libertou-me e gosto da pessoa em que me tornei, embora sabendo que não vou viver para sempre, o meu futuro pode ser daqui a um minuto, talvez segundos.
Mas voltando às “quatro da madrugada”, fazem-se milhares de coisas diferentes, em milhares de lugares diferentes, mas o mais normal é dormir, mas também há pessoas que a esta hora viajam, outras trabalham, outras fazem amor, outras tomam a primeira refeição do dia, outras vão única e simplesmente à pesca, como é o caso do outro meu vizinho, que mesmo agora por aqui passou, fazendo sinal com a luz do carro, talvez convidando-me, enfim, milhares de coisas diferentes que as pessoas fazem, mas para mim, o importante é que são “quatro da madrugada”, estou acordado e não durmo.
Saio do computador, caminho até à televisão, lá vem o sinal, em letras grandes, com música de fundo, uma música irritante, anunciando algum desastre, é o “Five o’clock news”, pois já são cinco da manhã, vem logo um chorrilho de novidades, que já não são novidades nenhumas, pois infelizmente são as notícias normais, deste mundo normal, “que cada vez, está mais cada vez”, e o noticiário é só desgraças, sendo raro dizerem que nasceu uma criança, mostrarem um jardim com flores ou aquela pessoa, com bons recursos financeiros, deu um beijo e acariciou, dando comida e roupa, àquela criança com o tal “ranho no nariz”.
Não me importo nada de ter vivido no tempo em que as pessoas atendiam o telefone, pois agora, quando queremos falar ao telefone, tirando qualquer dúvida, de uma despesa que fizemos e, não está de acordo com o nosso parecer, depois de ouvir por muito tempo aquelas lengalengas da mensagem, “para saber isto, carregue um, carregue dois, carregue três”, há sempre uma mensagem que diz “estamos abertos, em dias úteis, no horário da zona leste, das oito às quatro”, lá está, às “quatro”, só que desta vez não é às “quatro da madrugada”.
Neste momento já passa das “quatro da madrugada”, por aqui, uma região com um clima sub-tropical, existem muitas festas de final de dia, a que chamam, “It’s 5 o’clock somewhere”, que quer dizer mais ou menos, “são 5 horas, em qualquer lugar”, tanto faz ser às cinco da manhã ou às cinco da tarde, onde as pessoas se divertem, dançam, bebem, comem, namoram, encontram-se, conhecem-se, confraternizam, procuram tudo para se esquecerem da vida dura do dia a dia, o que no meu entender está muito bem, mas continuo a pensar que isto não tem mesmo nada a ver com as “quatro da madrugada”, mas já são cinco da manhã e continuo acordado quando devia de estar a dormir.
Só mais uma “achega” a este pensamento, há um povo na Europa, mais propriamente em Portugal, na região do Alentejo, povo culto e sabedor, que os mal intencionados contam histórias, às vezes não muito abonatórias, que têm uma canção que eu menciono muitas vezes, que é quase um hino à sua região, que começa assim, “`às quatro da madrugada…, o passarinho cantou…”, querendo isto dizer que o passarinho acordou aquela gente às quatro da madrugada, portanto talvez também me tivesse acordado a mim, talvez tivesse acordado as minhas raízes da Europa distante, que não me saem do pensamento e de que muito me orgulho.
Tony Borie, Abril de 2015
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Nota do editor
Último poste da série de 5 de abril de 2015 > Guiné 63/74 - P14435: Libertando-me (Tony Borié) (11): Tabanca de Luanda, Mansoa, o nosso terreiro
Não durmo, estou levantado não sei há já quanto tempo, aqui, nesta parte do mundo, são “quatro da madrugada”, pelo menos é o que dizem os relógios que marcam o tempo, devia estar a dormir, a descansar o corpo já um pouco cansado, entre outras coisas da idade, mas não durmo, já fui lá fora, está quente, há luzes no céu, parecem as noites de Mansoa, lá na Guiné, só que aqui, não é cenário de guerra, não existe humidade nem aqueles malditos mosquitos. Ouço um pequeno barulho, anda um esquilo no telhado, vejo a sua silhueta, a mexer com a cauda, procura o fruto daquela árvore, ele até tem razão, já aqui vivia, antes de eu vir para aqui, roubar-lhes o espaço, além deste pequeno pormenor, não se houve viva alma. Voltei para dentro, fiz um chá, bom, bastante forte, que um familiar me costuma trazer da Inglaterra, apalpei a caneca, quente, bebo uns goles, fico calmo, sento-me, penso, mil coisas me vêm ao pensamento, começo a contar o tempo, portanto já não sou eu, sou um relógio, que neste momento marca “quatro da madrugada”.
É normal nesta idade, creio que já dormi o suficiente, pois foram tantas “quatro da madrugada” que por mim passaram, algumas quentes, outras geladas, outras assim-assim, foram na Europa, na guerra em África ou aqui neste continente, mas as “quatro da madrugada” no verão do Alasca, eram um pouco diferentes, pois era quase sempre dia, e às “quatro da madrugada”, já tinha feito muita coisa, entre outras, tinha ido à pesca.
As “quatro da madrugada”, quando se é jovem, são tal como fossem “quatro da tarde”, estamos sempre prontos, não existem problemas de movimentação, de alimentação, cuidados médicos, pode fazer frio, chuva, calor ou vento, o movimento ambiental não nos importa, pois sabemos que às “quatro da madrugada” vai nascer o dia, com luz, vamos ver o mundo, as pessoas, conviver, caminhar, ocupar o tempo, às vezes até fazendo uma coisa para alguns rara, que é trabalhar. Isto é só pensamentos, pois não tenho a certeza se os mais novos vão perder tempo a ler estes escritos, ou se vão envelhecer, se tal acontecer ainda bem para eles.
Continuando, apalpando a caneca deste chá bem quente, dou uns passos, sento-me na frente do computador, pensando que nunca trocaria a minha vida maravilhosa de pessoa idosa, a minha amada família ou os meus amigos, por mais cabelo, ainda que seja branco, ou por uma barriga mais lisa. À medida que fui envelhecendo, tornei-me mais amável, menos crítico, se estou sentado e preciso desta caneca, a minha preferida, que até está quebrada na asa, mas me tem dado de beber por décadas, vou eu mesmo buscá-la, não incomodo a esposa e companheira, que nesse momento anda de pé, atarefada, da mesa para o fogão, fogão esse que ainda vai cozinhando pelo menos uma vez ao dia.
Às vezes penso que me tornei o meu próprio amigo, não gosto de incomodar ninguém, e claro, não me censuro por comer todas aquelas comidas que dizem que nos fazem muito mal, mas que são adoráveis, ou por entre outras coisas, não fazer a cama, não ajudar nas tarefas da casa, andar por aí a brincar com o meu helicóptero brinquedo, que quando está vento mais forte, vai parar à propriedade do vizinho, que vieram lá do norte, de Nova Iorque e, quando a amável senhora me traz o brinquedo de volta, diz-me, com um ar entre a censura e o feliz, “então os netinhos estão por cá, tenha cuidado com eles, não os deixe brincar com estes brinquedos, pois são muito perigosos, podem partir as janelas ou mesmo ferir as pessoas, pois eu vi na televisão...”, e lá vem a história toda, contada com pormenores, pois o que ela quer é conversa, passar o tempo, tal como nós, não sabendo que eu fui o causador de todo esse “desastre”, pois os meus netos estão lá no norte.
Eu tenho o direito de ser desarrumado, de ser livre, pois já vi muitos amigos queridos e familiares deixarem este mundo cedo demais, antes de compreenderem a grande liberdade que vem com o envelhecimento. Quem me vai censurar por fazer aquela viajem estúpida ao estado do Alaska, com muita aventura, dormindo na caravana, ou atravessar a ponte Golden Gate, na cidade de San Francisco, a pé, com todo aquele vento e nevoeiro por momentos e logo a seguir céu azul e sol radiante, por andar por aí na minha bicicleta, armado em campeão de ciclo-cross, atravessando praias e riachos com alligators ou cobras, caindo aqui, levantando-me ali, por comprar algo supérfluo que não precisava, ou mesmo se resolvo ficar a ler, ou a procurar novos horizontes no computador até tarde, se às “quatro da madrugada” já não durmo, e depois, talvez vá dormir até meio-dia.
Se, como alguém já disse, me apetecer dançar ao som daqueles sucessos maravilhosos dos anos 60 e 70, e se, ao mesmo tempo, quiser chorar por um amor perdido, lá na minha aldeia da montanha, danço e choro, às vezes com baba e ranho. Se me apetecer ir à pesca, andar na praia com uns calções não muito apropriados, sobre um corpo decadente, mergulhar nas ondas com abandono, apesar dos olhares penalizados dos outros, que me há-de importar, eles também vão envelhecer.
Eu sou um abençoado por ter vivido o suficiente para já não ter muitos cabelos na cabeça, não ter o riso da juventude, pois muitos nunca riram, muitos dos meus amigos, e lembro os meus companheiros de guerra, lá na Guiné, que morreram jovens, muito antes de perder o cabelo. Eu, com os anos a passarem por mim, tenho o direito de estar errado, gosto de ser idoso, a idade libertou-me e gosto da pessoa em que me tornei, embora sabendo que não vou viver para sempre, o meu futuro pode ser daqui a um minuto, talvez segundos.
Mas voltando às “quatro da madrugada”, fazem-se milhares de coisas diferentes, em milhares de lugares diferentes, mas o mais normal é dormir, mas também há pessoas que a esta hora viajam, outras trabalham, outras fazem amor, outras tomam a primeira refeição do dia, outras vão única e simplesmente à pesca, como é o caso do outro meu vizinho, que mesmo agora por aqui passou, fazendo sinal com a luz do carro, talvez convidando-me, enfim, milhares de coisas diferentes que as pessoas fazem, mas para mim, o importante é que são “quatro da madrugada”, estou acordado e não durmo.
Saio do computador, caminho até à televisão, lá vem o sinal, em letras grandes, com música de fundo, uma música irritante, anunciando algum desastre, é o “Five o’clock news”, pois já são cinco da manhã, vem logo um chorrilho de novidades, que já não são novidades nenhumas, pois infelizmente são as notícias normais, deste mundo normal, “que cada vez, está mais cada vez”, e o noticiário é só desgraças, sendo raro dizerem que nasceu uma criança, mostrarem um jardim com flores ou aquela pessoa, com bons recursos financeiros, deu um beijo e acariciou, dando comida e roupa, àquela criança com o tal “ranho no nariz”.
Não me importo nada de ter vivido no tempo em que as pessoas atendiam o telefone, pois agora, quando queremos falar ao telefone, tirando qualquer dúvida, de uma despesa que fizemos e, não está de acordo com o nosso parecer, depois de ouvir por muito tempo aquelas lengalengas da mensagem, “para saber isto, carregue um, carregue dois, carregue três”, há sempre uma mensagem que diz “estamos abertos, em dias úteis, no horário da zona leste, das oito às quatro”, lá está, às “quatro”, só que desta vez não é às “quatro da madrugada”.
Neste momento já passa das “quatro da madrugada”, por aqui, uma região com um clima sub-tropical, existem muitas festas de final de dia, a que chamam, “It’s 5 o’clock somewhere”, que quer dizer mais ou menos, “são 5 horas, em qualquer lugar”, tanto faz ser às cinco da manhã ou às cinco da tarde, onde as pessoas se divertem, dançam, bebem, comem, namoram, encontram-se, conhecem-se, confraternizam, procuram tudo para se esquecerem da vida dura do dia a dia, o que no meu entender está muito bem, mas continuo a pensar que isto não tem mesmo nada a ver com as “quatro da madrugada”, mas já são cinco da manhã e continuo acordado quando devia de estar a dormir.
Só mais uma “achega” a este pensamento, há um povo na Europa, mais propriamente em Portugal, na região do Alentejo, povo culto e sabedor, que os mal intencionados contam histórias, às vezes não muito abonatórias, que têm uma canção que eu menciono muitas vezes, que é quase um hino à sua região, que começa assim, “`às quatro da madrugada…, o passarinho cantou…”, querendo isto dizer que o passarinho acordou aquela gente às quatro da madrugada, portanto talvez também me tivesse acordado a mim, talvez tivesse acordado as minhas raízes da Europa distante, que não me saem do pensamento e de que muito me orgulho.
Tony Borie, Abril de 2015
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Nota do editor
Último poste da série de 5 de abril de 2015 > Guiné 63/74 - P14435: Libertando-me (Tony Borié) (11): Tabanca de Luanda, Mansoa, o nosso terreiro
Guiné 63/74 - P14459: Agenda cultural (387) "Génesis", de Sebastião Salgado, talvez o maior fotojornalista da atualidade: a não perder, de 10 de abril a 2 de agosto de 2015, Lisboa, Galeria do Torreão Nascente da Cordoaria Nacional
Cortesia: Agenda Cultural Lisboa (página do Facebook).
Para saber mais, ver aqui (www.expogenesis.pt)
SEBASTIÃO SALGADO > GÉNESIS
ARTES › EXPOSIÇÕES › FOTOGRAFIA
Galeria do Torreão Nascente da Cordoaria Nacional
Avenida da India,
Lisboa
De 10 abr a 2 ago/15
Sexta e sábado das 10h às 21h00 | segunda a quinta e domingo, das 10h às 19h
Preço: 5€ (com descontos)
Fonte: Agenda Cultural Lisboa (com a devida vénia...)
Sinopse:
"O fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado regressa a Lisboa para a apresentação de Génesis, uma exposição composta por mais de duas centenas de fotografias dedicada aos últimos redutos naturais e humanos de um planeta ameaçado.
"Em jeito de homenagem à Terra e de alerta para a urgente necessidade de a preservar, Sebastião Salgado mostra agora, no seu estilo característico de imagens a preto e branco de grande formato e de enorme impacto, o resultado de oito anos de trabalho e de mais de 30 viagens por diversas partes do globo.
"A exposição é constituída por cinco secções, Sul do Planeta, Santuários, África, Terras a Norte e Amazónia e Pantanal e apresenta ao público ambientes que conseguiram, até à data, escapar às transformações impostas pela sociedade moderna, mantendo-se quase intactos.
"Sebastião Salgado é um dos mais reconhecidos e premiados fotógrafos brasileiros da atualidade, tendo visto o seu trabalho publicado em algumas das mais prestigiadas publicações mundiais."
Biografia:
"Sebastião Salgado nasceu em Minas Gerais, em 1944. Durante a ditadura militar no Brasil emigrou para Paris com Lélia Wanik Salgado, onde acabou por descobrir a sua verdadeira vocação, a fotografia. Nas suas viagens para África, enquanto trabalhava para a Organização Internacional de Café, começou a fotografar, sem intenções profissionais, com a máquina que Lélia havia adquirido para o seu curso de arquitectura, descobrindo assim a sua paixão pelo fotojornalismo.
"Salgado desde cedo trabalhou para importantes agências de fotografia (Sygma, Gamma, Contact e Magnum) e viu o seu trabalho publicado em algumas das mais prestigiadas publicações mundiais. O seu primeiro livro, “Outras Américas”, foi editado em 1986. No mesmo ano, lançou “Sahel: Homem em Pânico”, sobre a seca no Norte de África. “Trabalhadores”, talvez a sua obra mais conhecida, é publicada em 1993. Em 1997 é a vez de “Terra”, sobre a luta dos sem-terra no Brasil. Em 2000, Salgado lança “Êxodos”, focando-se no fenómeno global das migrações. “África”, o seu continente de eleição, é o tema de uma publicação em 2007. De 2004 a 2012, Salgado viajou por 32 regiões remotas, e por vezes inóspitas, para criar o seu último trabalho, “Génesis”.
"Hoje, Sebastião Salgado é embaixador da Boa Vontade da UNICEF e membro honorário da Academia de Artes e Ciências dos EUA. As suas obras fazem parte de colecções dos mais conhecidos museus, um pouco por todo o mundo. Em 1994 criou com Lélia Wanick Salgado a Amazonas Images, que se ocupa exclusivamente das suas fotografias."
Fonte: Cortesia de www.expogenesis.pt
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Nota do editor:
Último poste da série > 7 de abril de 2015 > Guiné 63/74 - P14442: Agenda cultural (390): Dora Alexandre, jornalista, apresenta “O Outro Lado da Guerra Colonial” (José Saúde)
Guiné 63/74 - P14458: Parabéns a você (889): Francisco Santiago, ex-1.º Cabo TRMS do BART 3873 (Guiné, 1972/74)
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Nota do editor
Último poste da série de 11 de Abril de 2015 > Guiné 63/74 - P14456: Parabéns a você (888): Jorge Félix, ex-Alf Mil Pilav Alouette III da BA 12 (Guiné, 1968/70); Jorge Picado, ex-Cap Mil CMDT da CCAÇ 2589 e da CART 2732 e CAOP 2 (Guiné, 1970/72) e Manuel Marinho, ex-1.º Cabo At Inf do BCAÇ 4512 (Guiné, 1972/74)
Nota do editor
Último poste da série de 11 de Abril de 2015 > Guiné 63/74 - P14456: Parabéns a você (888): Jorge Félix, ex-Alf Mil Pilav Alouette III da BA 12 (Guiné, 1968/70); Jorge Picado, ex-Cap Mil CMDT da CCAÇ 2589 e da CART 2732 e CAOP 2 (Guiné, 1970/72) e Manuel Marinho, ex-1.º Cabo At Inf do BCAÇ 4512 (Guiné, 1972/74)
sábado, 11 de abril de 2015
Guiné 63/74 - P14457: X Encontro Nacional da Tabanca Grande, Palace Hotel de Monte Real, 18 de Abril de 2015 (8): Com 195 inscrições, a meio da tarde de hoje, estamos a atingir o limite dos 200 lugares, e a bater um recorde em dez anos de história dos nossos encontros nacionais
1. Lista alfabética dos 195 inscritos no X Encontro Nacional da Tabanca Grande, Monte Real, Leiria, 18 de abril de 2015
Abel Santos - Leça da Palmeira / Matosinhos
Agostinho Gaspar - Leiria
Albano Costa e Maria Eduarda - Guifões / Matosinhos
Alberto Godinho Soares - Maia
Almiro Gonçalves e Amélia - Vieira de Leiria / Marinha Grande
António Augusto Proença e Beatriz - Covilhã
António Brito da Silva e Isabel - Madalena / V. N. de Gaia
António Dias - Porto
António Estácio - Mem Martins / Sintra
António Faneco e Tina - Massamá / Sintra
António Fernandes Neves - Setúbal
António Fernando Marques e Gina - Cascais
António João Sampaio e Clara - Leça da Palmeira / Matosinhos
António José P. Costa e Isabel - Mem Martins / Sintra
António Manuel Garcez Costa - Lisboa
António Manuel S. Rodrigues e Rosa Maria - Oliveira do Bairro
António Maria Silva e Maria de Lurdes - Lisboa
António Martins de Matos - Lisboa
António Osório, Ana e Maria da Conceição - V. N. de Gaia
António Paiva - Lisboa
António Pimentel - Figueira da Foz
António Santos Pina - Lisboa
António Santos e família (6) - Caneças / Odivelas
António Sousa Bonito - Carapinheira / Montemor-o-Velho
António Souto Mouro - Paço de Arcos / Oeiras
Arlindo Farinha - Almoster / Alvaiázere
Armando Pires - Algés / Oeiras
Arménio Santos - Lisboa
Artur Soares - Figueira da Foz
Baltazar Rosado Lourenço - Nazaré
2. Informação da comissão organizadora:
Aceitam-se inscrições até domingo, dia 12, às 24h, ou até ao limite da capacidade do salão do Palace Hotel de Monte Real (que são 200 lugares).
Último poste da série > 10 de abril de 2015 > Guiné 63/74 - P14453: X Encontro Nacional da Tabanca Grande, Palace Hotel de Monte Real, 18 de Abril de 2015 (7): Estamos a atingir o limite da capacidade da Sala de Jantar do Hotel que é de 200 pessoas. Não se deixem para domingo para se inscreverem
Vd. os primeiros postes de:
Abel Santos - Leça da Palmeira / Matosinhos
Agostinho Gaspar - Leiria
Albano Costa e Maria Eduarda - Guifões / Matosinhos
Alberto Godinho Soares - Maia
Almiro Gonçalves e Amélia - Vieira de Leiria / Marinha Grande
António Augusto Proença e Beatriz - Covilhã
António Brito da Silva e Isabel - Madalena / V. N. de Gaia
António Dias - Porto
António Estácio - Mem Martins / Sintra
António Faneco e Tina - Massamá / Sintra
António Fernandes Neves - Setúbal
António Fernando Marques e Gina - Cascais
António João Sampaio e Clara - Leça da Palmeira / Matosinhos
António José P. Costa e Isabel - Mem Martins / Sintra
António Manuel Garcez Costa - Lisboa
António Manuel S. Rodrigues e Rosa Maria - Oliveira do Bairro
António Maria Silva e Maria de Lurdes - Lisboa
António Martins de Matos - Lisboa
António Osório, Ana e Maria da Conceição - V. N. de Gaia
António Paiva - Lisboa
António Pimentel - Figueira da Foz
António Santos Pina - Lisboa
António Santos e família (6) - Caneças / Odivelas
António Sousa Bonito - Carapinheira / Montemor-o-Velho
António Souto Mouro - Paço de Arcos / Oeiras
Arlindo Farinha - Almoster / Alvaiázere
Armando Pires - Algés / Oeiras
Arménio Santos - Lisboa
Artur Soares - Figueira da Foz
Baltazar Rosado Lourenço - Nazaré
Belarmino Sardinha e Maria Antonieta - Odivelas
Benjamim Durães, Fábio, Rafael, Marta, Tiago, Pedro e Sérgio - Palmela
Benjamim Durães, Fábio, Rafael, Marta, Tiago, Pedro e Sérgio - Palmela
C. Martins - Penamacor
Carlos Alberto Cruz, Irene e Paulo Jorge - Paço de Arcos / Oeiras
Carlos Alberto Pinto e Maria Rosa - Reboleira / Amadora
Carlos Vinhal, Dina e 2 amigas- Leça da Palmeira / Matosinhos
Coutinho e Lima - Lisboa
Carlos Alberto Cruz, Irene e Paulo Jorge - Paço de Arcos / Oeiras
Carlos Alberto Pinto e Maria Rosa - Reboleira / Amadora
Carlos Vinhal, Dina e 2 amigas- Leça da Palmeira / Matosinhos
Coutinho e Lima - Lisboa
David Guimarães e Lígia - Espinho
Delfim Rodrigues - Coimbra
Delfim Rodrigues - Coimbra
Eduardo Ferreira Campos - Maia
Eduardo Magalhães Ribeiro e Carlos Eduardo - Porto
Ernestino Caniço - Tomar
Eduardo Magalhães Ribeiro e Carlos Eduardo - Porto
Ernestino Caniço - Tomar
Fernando Gouveia - Porto
Fernando de Jesus Sousa - Lisboa
Fernando de Jesus Sousa - Lisboa
Hernâni Joel Silva e Branca - Lisboa
Hélder V. Sousa - Setúbal
Hélder V. Sousa - Setúbal
Idálio Reis - Cantanhede
J. L. Vacas de Carvalho - Lisboa
João Alves Martins e Graça - Lisboa
João Maximiano - Santo Antão / Batalha
João Sacoto e Aida - Lisboa
Joaquim Carlos Peixoto e Margarida - Penafiel
Joaquim Gomes Soares e Maria Laura - Porto
Joaquim Luís Fernandes - Maceira / Leiria
Joaquim Luís Mendes Gomes - Mafra
Joaquim Mexia Alves, Catarina e André - Monte Real / Leiria
Joaquim Pinto de Carvalho - Cadaval
Jorge Araújo e Maria João - Almada
Jorge Cabral - Lisboa
Jorge Canhão e Maria de Lurdes - Oeiras
Jorge Picado - Ílhavo
Jorge Pinto e Ana Maria - Agualva / Sintra
Jorge Rosales - Monte Estoril / Cascais
José Alberto Pinto - Barcelos
José Almeida e Antónia - Viana do Castelo
José António Chaves - Paço de Arcos / Oeiras
José Augusto Miranda Ribeiro - Condeixa
José Barros Rocha - Penafiel
José Botelho Colaço - Lisboa
José Casimiro Carvalho - Maia
José Diniz Faro - Paço de Arcos / Oeiras
José Eduardo R. Oliveira - Alcobaça
José Fernando Almeida e Suzel - Óbidos
José Leite e Ana Maria - Sintra
José Manuel Cancela e Carminda - Penafiel
José Manuel Lopes e Luísa - Régua
José Manuel Matos Dinis - Cascais
José Marques e Florinda - Paredes
José Miguel Louro e Maria do Carmo - Lisboa
José Nunes Francisco e família (5) - Batalha
José Pereira Augusto Almeida - Lamego
José Ramos Romão e Emília - Alcobaça
José Vieira Machado - Lisboa
José Zeferino e Duarte - Loures
Juvenal Amado - Fátima / Ourém
João Alves Martins e Graça - Lisboa
João Maximiano - Santo Antão / Batalha
João Sacoto e Aida - Lisboa
Joaquim Carlos Peixoto e Margarida - Penafiel
Joaquim Gomes Soares e Maria Laura - Porto
Joaquim Luís Fernandes - Maceira / Leiria
Joaquim Luís Mendes Gomes - Mafra
Joaquim Mexia Alves, Catarina e André - Monte Real / Leiria
Joaquim Pinto de Carvalho - Cadaval
Jorge Araújo e Maria João - Almada
Jorge Cabral - Lisboa
Jorge Canhão e Maria de Lurdes - Oeiras
Jorge Picado - Ílhavo
Jorge Pinto e Ana Maria - Agualva / Sintra
Jorge Rosales - Monte Estoril / Cascais
José Alberto Pinto - Barcelos
José Almeida e Antónia - Viana do Castelo
José António Chaves - Paço de Arcos / Oeiras
José Augusto Miranda Ribeiro - Condeixa
José Barros Rocha - Penafiel
José Botelho Colaço - Lisboa
José Casimiro Carvalho - Maia
José Diniz Faro - Paço de Arcos / Oeiras
José Eduardo R. Oliveira - Alcobaça
José Fernando Almeida e Suzel - Óbidos
José Leite e Ana Maria - Sintra
José Manuel Cancela e Carminda - Penafiel
José Manuel Lopes e Luísa - Régua
José Manuel Matos Dinis - Cascais
José Marques e Florinda - Paredes
José Miguel Louro e Maria do Carmo - Lisboa
José Nunes Francisco e família (5) - Batalha
José Pereira Augusto Almeida - Lamego
José Ramos Romão e Emília - Alcobaça
José Vieira Machado - Lisboa
José Zeferino e Duarte - Loures
Juvenal Amado - Fátima / Ourém
Liberal Correia e Maria José - Ponta Delgada (RA Açores)
Lucinda Aranha e José António - Santa Cruz / Torres Vedras
Luís Duarte - Seixal
Luís Graça e Alice- Alfragide / Amadora
Luís Lopes Jorge - Monte Real
Luís Moreira - Mem Martins / Sintra
Luís Paulino e Maria da Cruz - Algés / Oeiras
Lucinda Aranha e José António - Santa Cruz / Torres Vedras
Luís Duarte - Seixal
Luís Graça e Alice- Alfragide / Amadora
Luís Lopes Jorge - Monte Real
Luís Moreira - Mem Martins / Sintra
Luís Paulino e Maria da Cruz - Algés / Oeiras
Manuel Domingos Santos - Leiria
Manuel Domingues - Lisboa
Manuel Fernando Sucio - Vila Real
Manuel Joaquim, Alexandra e José Manuel - Agualva / Sintra
Manuel José Ribeiro Rocha e Olinda - Linda-a-Velha/Oeiras
Manuel Lima Santos e Maria de Fátima - Viseu
Manuel Ramos - Lisboa
Manuel Reis - Aveiro
Manuel Resende e Isaura - S. Domingos de Rana / Cascais
Mário Fitas e Helena - Estoril
Mário Vasconcelos - Guimarães
Miguel e Giselda Pessoa - Lisboa
Mário Gaspar - Lisboa
Manuel Domingues - Lisboa
Manuel Fernando Sucio - Vila Real
Manuel Joaquim, Alexandra e José Manuel - Agualva / Sintra
Manuel José Ribeiro Rocha e Olinda - Linda-a-Velha/Oeiras
Manuel Lima Santos e Maria de Fátima - Viseu
Manuel Ramos - Lisboa
Manuel Reis - Aveiro
Manuel Resende e Isaura - S. Domingos de Rana / Cascais
Mário Fitas e Helena - Estoril
Mário Vasconcelos - Guimarães
Miguel e Giselda Pessoa - Lisboa
Mário Gaspar - Lisboa
Paulo Santiago - Aguada de Cima / Águeda
Raul Albino e Rolina - Vila Nogueira de Azeitão / Setúbal
Ribeiro Agostinho e Elisabete - Leça da Palmeira / Matosinhos
Ricardo Figueiredo e Cândida - Porto
Ricardo Sousa e Georgina - Lisboa
Rogé Guerreiro - Cascais
Rui Gouveia e Eulália - Leiria
Rui M. D. Guerra Ribeiro - Lisboa
Rui Pedro Silva - Lisboa
Rui Silva e Regina Teresa - Sta. Maria da Feira
Ribeiro Agostinho e Elisabete - Leça da Palmeira / Matosinhos
Ricardo Figueiredo e Cândida - Porto
Ricardo Sousa e Georgina - Lisboa
Rogé Guerreiro - Cascais
Rui Gouveia e Eulália - Leiria
Rui M. D. Guerra Ribeiro - Lisboa
Rui Pedro Silva - Lisboa
Rui Silva e Regina Teresa - Sta. Maria da Feira
Valentim Oliveira, Maria Joaquina, Cyndia e Carina - Viseu
Victor Tavares - Recardães / Águeda
Virgínio Briote e Irene - Lisboa
Vítor Caseiro e Maria Celeste - Leiria
Victor Tavares - Recardães / Águeda
Virgínio Briote e Irene - Lisboa
Vítor Caseiro e Maria Celeste - Leiria
Aceitam-se inscrições até domingo, dia 12, às 24h, ou até ao limite da capacidade do salão do Palace Hotel de Monte Real (que são 200 lugares).
P'la Comissão Organizadora,
Carlos Vinhal
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Notas do editor:
Último poste da série > 10 de abril de 2015 > Guiné 63/74 - P14453: X Encontro Nacional da Tabanca Grande, Palace Hotel de Monte Real, 18 de Abril de 2015 (7): Estamos a atingir o limite da capacidade da Sala de Jantar do Hotel que é de 200 pessoas. Não se deixem para domingo para se inscreverem
Guiné 63/74 - P14456: Parabéns a você (888): Jorge Félix, ex-Alf Mil Pilav Alouette III da BA 12 (Guiné, 1968/70); Jorge Picado, ex-Cap Mil CMDT da CCAÇ 2589 e da CART 2732 e CAOP 2 (Guiné, 1970/72) e Manuel Marinho, ex-1.º Cabo At Inf do BCAÇ 4512 (Guiné, 1972/74)
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Nota do editor
Último poste da série de 9 de Abril de 2015 > Guiné 63/74 - P14449: Parabéns a você (887): Jorge Canhão, ex-Fur Mil Inf do BCAÇ 4612/72 (Guiné, 1972/74); Mário Vitorino Gaspar, ex-Fur Mil Art MA da CART 1659 (Guiné, 1967/68) e Miguel Pessoa, Coronel Pilav Ref, ex-Ten Pilav da BA 12 (Guiné, 1972/74)
sexta-feira, 10 de abril de 2015
Guiné 63/74 - P14455: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (97): José Maria de Sousa [ Ferreira, minhoto de Braga, com escola de condução no Porto], ex-sold mec aut (BART 1904 e PINT, Bambadinca, 1968/70) descobre os seus companheiros do conjunto musical, da CCS/BCAÇ 2852, a quem o Movimento Nacional Feminino ofereceu, em 1969, os instrumentos
Guiné > Zona Leste > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) > Circa Maio de 1969 > Atuação do conjunto musical de Bambadinca, formado por cinco elementos: da direita para a esquerda, o 1º cabo Tony ("cantor romântico"), o 1º cabo Peixoto (bateria), o José Maria de Sousa [, Ferreira], soldado do pelotão de intendência (viola solo), o 1º cabo Serafim (viola ritmo), e ainda "um outro 1º cabo que "deveria ser chapeiro e que, na vida civil, praticava halterofilismo"... Com exceção do Sousa, todos pertenciam ao BCAÇ 2852 e eram 1ºs cabos...
Pela consulta da história da unidade (BCAÇ 2852, Bambadinca, 1968/70), presume-se que:
(i) o Peixoto seja o 1º cabo escriturário José Faria Taveiro Peixoto, nº 11176267, do comando do batalhão, secção de pessoal e reabastecimento;
(ii) o Serafim deve ser o 1º cabo mecânico auto António Luis S. Serafim, nº 06148667, do pelotão de manutenção comandado pelo alf mil Ismael Quitério Augusto, nosso grã-tabanqueiro;
(iii) o Tony, pelo nome e nº mecanográfico terminado em 61, pode ser o 1º cabo nº 14219661 António N. Sousa ("Era refratário, e tinha cinco a seis anos a mais do que nós", diz o Sousa; julga que era condutor, e natural de Lisboa, onde já cantava, com nomes fadistas conhecidos como a Maria da Fé).
Guiné > Zona Leste > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) > Possivelmente Maio de 1969 > Da direita para a esquerda, Peixoto (bateria), Sousa (viola solo), Serafim (viola ritmo) e outro camarada não identificado (1º cabo, provavelmente bate chapas).
Guiné > Zona Leste > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) > Possivelmente Maio de 1969 > Parada do quartel de Bambadinca: visita da presidente do Movimento Nacional Feminino, Cecília Supico Pinto (1921-2011), mais conhecida por "Cilinha" (1)...
Guiné > Zona Leste > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) > Possivelmente Maio de 1969 > Parada do quartel de Bambadinca: visita da presidente do Movimento Nacional Feminino, Cecília Supico Pinto (1921-2011), mais conhecida por "Cilinha" (1)... Todos as guerras têm a sua "Pasionaria"... A "Cilinha" terá sido a nossa... Esta foto, notável, do José Carlos Lopes, é uma prova disso... É uma foto de antologia, editada por nós, a preto e branco...
Guiné > Zona Leste > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) > Possivelmente Maio de 1969 > Parada do quartel de Bambadinca: visita da presidente do Movimento Nacional Feminino, Cecília Supico Pinto (1921-2011), mais conhecida por "Cilinha" (2)...Guiné > Zona Leste > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) > Possivelmente Maio de 1969 > Parada do quartel de Bambadinca: visita da presidente do Movimento Nacional Feminino, Cecília Supico Pinto (1921-2011), mais conhecida por "Cilinha" (1)... Todos as guerras têm a sua "Pasionaria"... A "Cilinha" terá sido a nossa... Esta foto, notável, do José Carlos Lopes, é uma prova disso... É uma foto de antologia, editada por nós, a preto e branco...
Fotos do álbum do José Carlos Lopes, ex-fur mil amanuense, com a especialidade de contabilidade e pagadoria, especialidade essa que ele nunca exerceu (na prática, foi o homem dos reabastecimentos do batalhão).(*)
Fotos: © José Carlos Lopes (2013). Todos os direitos reservados. (Editadas e legendadas por L.G.)
Terminada, em setembro de 1969, a comissão do BART 1904 (1966/68), o José Sousa [JMSF] vai para Bissau, mas logo a seguir é colocado no Pelotão de Intendência (PINT) de Bambadinca. Tem, ao todo, 54 meses de vida militar. "Apanhou um porrada na metrópole por conduzir sem carta". Foi mobilizado para a Guiné. Já tocava viola na vida civil.
Em Bambadinca o José Sousa era muito solicitado para festas de anos e animações. Depois formou um conjunto com a malta da CCS/BCAÇ 2852. O Movimento Nacional Feminino (MNF) ofereceu-lhes os instrumentos. Tocaram, com grande sucesso, em vários sítios, incluindo Bafatá (na festa de Natal de 1969 e na passagem de ano). As fotos acima referem-se ao dia em que a Cilinha foi visitar Bambadinca... e houve espectáculo musical no edício em U das messes e quartos de oficiais e sargentos.
O Sousa, que é sócio de um escola de condução no Porto, é natural de Braga, tem uma filha, médica, no IPO do Porto. Hoje o seu nome completo é José Maria de Sousa Ferreira (JMSF). Na tropa, era só conhecido por Sousa.
Falou comigo ao telefone. Já esteve na Guiné, em férias, há 3 anos, e claro visitou Bambadinca. Quer ir ao convívio do pessoal de Bambadinca, 1968/71, que este ano se realiza na Trofa (**). Foi o Silvino Carvalhal, de Vila Nova de Famalicão, que lhe deu o meu nº de telefone de casa. Mas foi através da Net que ele descobriu estas fotos acima reproduzidas, e que o emocionaram, Gostava agora de saber por onde param os seus companheiros do conjunto musical. Só não se lembra do nome do 5º elemento, "1º cabo, talvez chapeiro, da CCS"... (Consultando a história da unidade, verifica-se que o único 1º cabo bate-chapas era o Otacílio Luz Henriques; havia mais dois 1ºs cabos mec auto, o João de Matos Alexandre e e o outro era o Serafim)...
O conjunto musical de Bambadinca era formado por 5 elementos, todos eles 1ºs cabos, com exceção do do Sousa, havendo 1 cantor (o Tony), 3 guitarras elétricas e 1 baterista. O Sousa gostaria muito de reencontrar estes companheiros: o Tony seria de Lisboa, o Peixoto, de Póvoa de Lanhoso. O Serafim, bateria, também tocava viola.
Convidei o Sousa a integrar o nosso blogue, o que ele aceitou de bom grado. Ficou de me mandaralgumas fotografias que ainda lhe restam do tempo da tropa. Tenho o seu telefone e endereço de email. (***)
PS - Não confundir este conjunto com um outro que andava pela Guiné, o Conjunto Musical das Forças Armadas. (O nosso camarada Vitor Raposeiro, ex-fur mil radiotelegrafista, STM, de rendição indiviual, que passou por Aldeia Formosa, Bambadinca, Bula e Bissau, 1970/72, também viria a integrar esse Conjunto Musical das Forças Armadas, tendo saído de Bambadinca ao tempo do BART 2917; esse conjunto atuava por toda a Guiné).
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Notas do editor:
Notas do editor:
(*) Vd. poste de 3 de janeiro de 2013 > Guiné 63/74 - P10993: Álbum fotográfico do ex- fur mil José Carlos Lopes, amanuense do conselho administrativo da CCS/BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70) (8): Há festa no quartel: visita da Cilinha e do conjunto musical das Forças Armadas, em abril ou maio de 1969
(**) Vd poste de 2 de abril de 2015 > Guiné 63/74 - P14430: Conivívios (661): Pessoal de Bambadinca 68/71: Trofa, 30 de maio de 2015 (Silvino Carvalhal / Fernando Sousa)
(***) Último poste da série > 17 de janeiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14157: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (96): Não sei se era o senhor Comandante Pombo que estava aos comandos, sei que fiquei muito sensibilizado com esta boleia (António Dâmaso)
Guiné 63/74 - P14454: Notas de leitura (701): “Desaparecido em combate", por Duarte Dias Fortunato, o primeiro prisioneiro de guerra depois da Operação Mar Verde (Mário Beja Santos)
1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 9 de Junho de 2014:
Queridos amigos,
Despertou-me o interesse o Major João Luiz Mendes Paulo escrevera em “Elefante Dundum” acerca do comportamento heróico do 1.º Cabo Duarte Dias Fortunato que tentou proteger o seu comandante de pelotão, Alferes Rodrigues, que ficara cego, resistira sozinho até se esgotarem as munições.
O Major Mendes Paulo foi altamente crítico desta ação, o inimigo aproveitou-se da permanência em Piche durante dois dias de importantes meios de artilharia, preparou-lhe uma emboscada brutal e bem-sucedida. Fortunato conta a sua desfortuna, foi o primeiro prisioneiro depois da Operação Mar Verde, penou mais de três anos e meio até ser resgatado. Um desaparecido em combate que suportou com bravura, antes e depois.
Um abraço do
Mário
Duarte Dias Fortunato: O primeiro prisioneiro de guerra depois da Operação Mar Verde
Beja Santos
Em “Elefante Dundum”, pelo Major João Luíz Mendes Paulo, edição de autor, Maio de 2006, conta-se a ação “Mabecos”, realizada por forças de artilharia de Canquelifá, Sare Bacar e Piche, no total de doze bocas-de-fogo da mais pesada artilharia existente na Guiné, com a missão de bater fortes concentrações do inimigo, a partir de posições o mais a sul possível, junto ao rio Corubal. O Major Mendes Paulo tece profundas críticas aos preparativos da ação, tomou a decisão de pôr termo à sua briosa carreira militar. Na bibliografia de “Elefante Dundum” refere o artigo “Desaparecido em Combate”, publicado na revista da GNR de abril de 2000. Foi-me facultado o artigo que me parece digno de registo, é uma importante peça histórica. Na altura em que o artigo foi publicado, Duarte Dias Fortunato era Soldado de Infantaria da GNR e prestava serviço no Posto Territorial de Quiaios, na Figueira de Foz.
Escreve Fortunato:
“Quando, no dia 22 de fevereiro de 1971, pelas 13,30 horas, nos preparávamos para sair do quartel de Piche e iniciar a operação Mabecos, ocorreu um acidente com uma granada, na caserna do 1.º GC/CCAV 2749. Como consequência, registou-se um elevado número de baixas. Depois de iniciada a marcha e de termos percorrido alguns quilómetros pelo mato, caímos numa emboscada. O tiroteio era infernal, os projeteis a passarem por todos os lados, as explosões de morteiros e roquetes davam-se mesmo ao pé de nós.
A meu lado caíram vários militares, feridos ou mortos, parecendo-me um deles ser o alferes, comandante do meu grupo. Fiz quanto pude para evitar que mais fossem atingidos ou capturados, sempre na esperança que alguém nos viesse socorrer.
Acabando-se-me as munições, vi que não podia resistir mais e corri em direção a uma viatura blindada, parada debaixo de uma árvore, a cerca de 80 metros do local onde me encontrava. Quando já estava perto da mesma, o inimigo abriu fogo sobre mim e fui obrigado a deitar-me ao chão. Logo de seguida caíram-me em cima, sem que da viatura próxima fizessem fogo para me salvar daquela situação.
Realmente, talvez o não pudessem fazer, pois estavam como eu a ser alvejados, tendo nessa altura rebentado um roquete mesmo na árvore onde se encontrava parada a viatura que eu pretendia alcançar.
Naquele momento, angustiado por ter estado tão perto, agarrado e arrastado pelo mato, percebi que perdera a liberdade e era agora um prisioneiro”.
Começa o seu calvário, leva cronhadas e pontapés até que o comandante do grupo do PAIGC proibiu mais agressões. Aos encontrões e amarrado, atravessou o rio Corubal. Depois de várias horas de caminhada, chegaram a uma base onde foi mandado despir completamente. O Duarte Fortunato pensou que tinha chegado a sua hora. Meia hora depois deram-lhe novamente a farda e mandaram-no vestir. Subiu para um camião e foram para Conacri e metido numa prisão.
Observa:
“A prisão estava parcialmente destruída, situação que resultou da ação da nossa tropa aquando a invasão a Conacri.
Ao entrar na prisão, fui entregue a um indivíduo deficiente de um braço que me levou para uma cela bastante escura, só com uma cama de tábuas, sem colchão e com uma manta velha.
Passados três dias após a minha chegada à prisão, fui confrontado com o primeiro interrogatório. Para o efeito, apareceram três indivíduos de cor branca, cabo-verdianos, muito bem vestidos, que me fizeram diversas perguntas, à maioria das quais eu não respondia: quantos soldados havia em Piche, nomes dos comandantes, em que abrigo estava o canhão sem recuo…
Como não falava, era agredido de todas as maneiras. Os interrogatórios prosseguiram durante seis meses, depois deixaram de me interrogar.
Ao fim de dois anos, começaram a chegar mais prisioneiros: uns capturados no posto de sentinela, outros que saíam do quartel para irem à caça e eram caçados. No final éramos oito.
Um certo dia, mandaram-nos sair da prisão, fomos metidos num camião do PAIGC, ao fim de três dias chegámos a Madina de Boé. Percebemos que estávamos a mudar para um prisão improvisada mas com muita segurança e ali permanecemos alguns meses. Aqui sofremos muito com a nossa aviação, que atacava frequentemente o local. Houve depois uma fuga e os prisioneiros foram deslocados para o lado da fronteira da Guiné Conacri. Quando chegámos a um local, junto de um grande rio, cujo nome nunca soube, ali acampámos. Construíram uma prisão de madeira onde ficámos instalados alguns meses.
Certo dia pela manhã, apareceram alguns guardas com os rádios junto aos ouvidos e gritavam com júbilo “Tuga, tuga, Marcelo caiu. Independência, independência”. Através da rádio demos conta que em Portugal tinha havido um golpe de Estado.
No dia 11 de setembro, entregaram-nos vestuário dizendo-nos que no dia seguinte seguíamos em direção a Bafatá, a fim de sermos entregues por troca com outros prisioneiros. Ao fim de três dias chegámos a Bafatá. Embarcámos de seguida num avião militar, onde recebemos os primeiros cuidados médicos.
Em Lisboa, foi colocada uma carrinha à nossa disposição, um médico e um enfermeiro foi dada a possibilidade de visitar familiares, se os tivéssemos. Eu tinha uma irmã. Chegados ao local, o médico tocou à campainha, perguntou pela minha irmã e disse-lhe que viesse abrir a porta que estava ali o seu irmão Duarte. A minha irmã respondeu-lhe da janela que o irmão Duarte tinha desaparecido da Guiné e que não podia ser verdade.
Quando eu sai da carrinha e lhe disse que viesse cá abaixo abrir a porta, que realmente era eu, a minha irmã já não disse mais nada, tinha desmaiado. Encontrei a minha irmã vestida de luto, assim como mais tarde encontrei a restante família. Fui informado que tinham mandado rezar missas por minha alma. Encontrei também duas filhas maravilhosas. Uma que tinha deixado quando fui para a Guiné e outra que nasceu depois de eu ter sido preso.
Muito mais havia para contar, pois cada dia lá passado foi de fome, sofrimento, morte, vida por um fio e por cá muitas coisas mudaram nos três longos anos e duzentos e dois dias que estive preso. Talvez um dia, quando estiver reformado, recorde mais pormenores e complete devidamente a minha história”.
Para mais informações sobre estes acontecimentos do Piche, o Google fornece algumas pistas. Recomendo a título exemplificativo:
http://sicnoticias.sapo.pt/programas/sobreviventes/2011-10-20-nas-maos-do-p.a.i.g.c;jsessionid=6B099AA515E491D6EE55E3A353485ECC
http://cart3494guine.blogspot.pt/2011/10/p127-guerra-colonial-guine-prisioneiros.html
http://aguerracontinua.blogspot.pt/2011/02/guine-operacao-mabecos-22-de-fevereiro.html
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Nota do editor
Último poste da série de 6 de abril de 2015 > Guiné 63/74 - P14438: Notas de leitura (700): “Operação Gata Brava": A BD original de António Vassalo Miranda (Mário Beja Santos)
Queridos amigos,
Despertou-me o interesse o Major João Luiz Mendes Paulo escrevera em “Elefante Dundum” acerca do comportamento heróico do 1.º Cabo Duarte Dias Fortunato que tentou proteger o seu comandante de pelotão, Alferes Rodrigues, que ficara cego, resistira sozinho até se esgotarem as munições.
O Major Mendes Paulo foi altamente crítico desta ação, o inimigo aproveitou-se da permanência em Piche durante dois dias de importantes meios de artilharia, preparou-lhe uma emboscada brutal e bem-sucedida. Fortunato conta a sua desfortuna, foi o primeiro prisioneiro depois da Operação Mar Verde, penou mais de três anos e meio até ser resgatado. Um desaparecido em combate que suportou com bravura, antes e depois.
Um abraço do
Mário
Duarte Dias Fortunato: O primeiro prisioneiro de guerra depois da Operação Mar Verde
Beja Santos
Em “Elefante Dundum”, pelo Major João Luíz Mendes Paulo, edição de autor, Maio de 2006, conta-se a ação “Mabecos”, realizada por forças de artilharia de Canquelifá, Sare Bacar e Piche, no total de doze bocas-de-fogo da mais pesada artilharia existente na Guiné, com a missão de bater fortes concentrações do inimigo, a partir de posições o mais a sul possível, junto ao rio Corubal. O Major Mendes Paulo tece profundas críticas aos preparativos da ação, tomou a decisão de pôr termo à sua briosa carreira militar. Na bibliografia de “Elefante Dundum” refere o artigo “Desaparecido em Combate”, publicado na revista da GNR de abril de 2000. Foi-me facultado o artigo que me parece digno de registo, é uma importante peça histórica. Na altura em que o artigo foi publicado, Duarte Dias Fortunato era Soldado de Infantaria da GNR e prestava serviço no Posto Territorial de Quiaios, na Figueira de Foz.
Escreve Fortunato:
“Quando, no dia 22 de fevereiro de 1971, pelas 13,30 horas, nos preparávamos para sair do quartel de Piche e iniciar a operação Mabecos, ocorreu um acidente com uma granada, na caserna do 1.º GC/CCAV 2749. Como consequência, registou-se um elevado número de baixas. Depois de iniciada a marcha e de termos percorrido alguns quilómetros pelo mato, caímos numa emboscada. O tiroteio era infernal, os projeteis a passarem por todos os lados, as explosões de morteiros e roquetes davam-se mesmo ao pé de nós.
A meu lado caíram vários militares, feridos ou mortos, parecendo-me um deles ser o alferes, comandante do meu grupo. Fiz quanto pude para evitar que mais fossem atingidos ou capturados, sempre na esperança que alguém nos viesse socorrer.
Acabando-se-me as munições, vi que não podia resistir mais e corri em direção a uma viatura blindada, parada debaixo de uma árvore, a cerca de 80 metros do local onde me encontrava. Quando já estava perto da mesma, o inimigo abriu fogo sobre mim e fui obrigado a deitar-me ao chão. Logo de seguida caíram-me em cima, sem que da viatura próxima fizessem fogo para me salvar daquela situação.
Realmente, talvez o não pudessem fazer, pois estavam como eu a ser alvejados, tendo nessa altura rebentado um roquete mesmo na árvore onde se encontrava parada a viatura que eu pretendia alcançar.
Naquele momento, angustiado por ter estado tão perto, agarrado e arrastado pelo mato, percebi que perdera a liberdade e era agora um prisioneiro”.
Começa o seu calvário, leva cronhadas e pontapés até que o comandante do grupo do PAIGC proibiu mais agressões. Aos encontrões e amarrado, atravessou o rio Corubal. Depois de várias horas de caminhada, chegaram a uma base onde foi mandado despir completamente. O Duarte Fortunato pensou que tinha chegado a sua hora. Meia hora depois deram-lhe novamente a farda e mandaram-no vestir. Subiu para um camião e foram para Conacri e metido numa prisão.
Observa:
“A prisão estava parcialmente destruída, situação que resultou da ação da nossa tropa aquando a invasão a Conacri.
Ao entrar na prisão, fui entregue a um indivíduo deficiente de um braço que me levou para uma cela bastante escura, só com uma cama de tábuas, sem colchão e com uma manta velha.
Passados três dias após a minha chegada à prisão, fui confrontado com o primeiro interrogatório. Para o efeito, apareceram três indivíduos de cor branca, cabo-verdianos, muito bem vestidos, que me fizeram diversas perguntas, à maioria das quais eu não respondia: quantos soldados havia em Piche, nomes dos comandantes, em que abrigo estava o canhão sem recuo…
Como não falava, era agredido de todas as maneiras. Os interrogatórios prosseguiram durante seis meses, depois deixaram de me interrogar.
Ao fim de dois anos, começaram a chegar mais prisioneiros: uns capturados no posto de sentinela, outros que saíam do quartel para irem à caça e eram caçados. No final éramos oito.
Um certo dia, mandaram-nos sair da prisão, fomos metidos num camião do PAIGC, ao fim de três dias chegámos a Madina de Boé. Percebemos que estávamos a mudar para um prisão improvisada mas com muita segurança e ali permanecemos alguns meses. Aqui sofremos muito com a nossa aviação, que atacava frequentemente o local. Houve depois uma fuga e os prisioneiros foram deslocados para o lado da fronteira da Guiné Conacri. Quando chegámos a um local, junto de um grande rio, cujo nome nunca soube, ali acampámos. Construíram uma prisão de madeira onde ficámos instalados alguns meses.
Certo dia pela manhã, apareceram alguns guardas com os rádios junto aos ouvidos e gritavam com júbilo “Tuga, tuga, Marcelo caiu. Independência, independência”. Através da rádio demos conta que em Portugal tinha havido um golpe de Estado.
No dia 11 de setembro, entregaram-nos vestuário dizendo-nos que no dia seguinte seguíamos em direção a Bafatá, a fim de sermos entregues por troca com outros prisioneiros. Ao fim de três dias chegámos a Bafatá. Embarcámos de seguida num avião militar, onde recebemos os primeiros cuidados médicos.
Em Lisboa, foi colocada uma carrinha à nossa disposição, um médico e um enfermeiro foi dada a possibilidade de visitar familiares, se os tivéssemos. Eu tinha uma irmã. Chegados ao local, o médico tocou à campainha, perguntou pela minha irmã e disse-lhe que viesse abrir a porta que estava ali o seu irmão Duarte. A minha irmã respondeu-lhe da janela que o irmão Duarte tinha desaparecido da Guiné e que não podia ser verdade.
Quando eu sai da carrinha e lhe disse que viesse cá abaixo abrir a porta, que realmente era eu, a minha irmã já não disse mais nada, tinha desmaiado. Encontrei a minha irmã vestida de luto, assim como mais tarde encontrei a restante família. Fui informado que tinham mandado rezar missas por minha alma. Encontrei também duas filhas maravilhosas. Uma que tinha deixado quando fui para a Guiné e outra que nasceu depois de eu ter sido preso.
Muito mais havia para contar, pois cada dia lá passado foi de fome, sofrimento, morte, vida por um fio e por cá muitas coisas mudaram nos três longos anos e duzentos e dois dias que estive preso. Talvez um dia, quando estiver reformado, recorde mais pormenores e complete devidamente a minha história”.
Para mais informações sobre estes acontecimentos do Piche, o Google fornece algumas pistas. Recomendo a título exemplificativo:
http://sicnoticias.sapo.pt/programas/sobreviventes/2011-10-20-nas-maos-do-p.a.i.g.c;jsessionid=6B099AA515E491D6EE55E3A353485ECC
http://cart3494guine.blogspot.pt/2011/10/p127-guerra-colonial-guine-prisioneiros.html
http://aguerracontinua.blogspot.pt/2011/02/guine-operacao-mabecos-22-de-fevereiro.html
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Nota do editor
Último poste da série de 6 de abril de 2015 > Guiné 63/74 - P14438: Notas de leitura (700): “Operação Gata Brava": A BD original de António Vassalo Miranda (Mário Beja Santos)
Guiné 63/74 - P14453: X Encontro Nacional da Tabanca Grande, Palace Hotel de Monte Real, 18 de Abril de 2015 (7): Estamos a atingir o limite da capacidade da Sala de Jantar do Hotel que é de 200 pessoas. Não se deixem para domingo para se inscreverem
Monte Real, 14 de Junho de 2014 > Foto da Grande Família do Blogue Luís Graça e Camaradas da Guiné
Foto: © Manuel Resende (2014). Todos os direitos reservados.
X Encontro Nacional da Tertúlia
18 de Abril de 2015
Mensagem da Organização
18 de Abril de 2015
Mensagem da Organização
Atendendo a que o limite da sala de jantar do Palace Hotel de Monte Real, para um serviço eficiente como queremos, é de 200 pessoas, alertamos para o facto de as inscrições neste momento terem atingido o número de 188.
Assim, os possíveis interessados não devem esperar pelas 24 horas do dia 12 para se inscreverem.
A propósito, as pessoas, que mais uma vez sustentaram a organização deste evento anual, congratulam-se com o número de adesões a este X Encontro Nacional. Batemos o anterior recorde de inscrições datado de 2012. Está demonstrada a vitalidade deste Blogue, enquanto tertúlia de combatentes da Guiné, que mantém este espírito de unidade, amizade e companheirismo.
Constata-se que são cada vez mais as esposas (companheiras de uma vida, as nossas bajudas), filhos e até netos que se juntam a nós ao longo destas 10 edições.
Os organizadores
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Nota do editor
Último poste da série de 8 de abril de 2015 > Guiné 63/74 - P14448: X Encontro Nacional da Tabanca Grande, Palace Hotel de Monte Real, 18 de Abril de 2015 (6): Há já 174 inscrições... E o prazo termina domingo, dia 12, às 24h
Guiné 63/74 - P14452: Blogpoesia (412): 3 poemas recentes: (i) Mergulhei na Polónia; (ii) O barco na praia; e (iii) Rua dos impossíveis... (J. L. Mendes Gomes)
Mergulhei na Polónia…
Estou encantado.
Saí de Berlim.
Estou encantado.
Saí de Berlim.
Pela calada da manhã.
Noventa quilómetros apenas.
...
Noventa quilómetros apenas.
...
Atravessei a fronteira.
E mergulhei na Polónia.
Só um cheirinho.
Para ver como é.
Vim a uma feirinha,
No meio dum bosque.
Numa pequena cidade rural.
Slubice!...
Um mundo diferente.
Mais natural.
A primeira sensação foi a de
De ter recuado no tempo.
Reencontrei muito do que havia em Portugal,
Antes do 25 de Abril.
O rosto das pessoas
É recatado e contido.
Seu porte é sóbrio.
Sem os ademanes da futilidade
Que impregnou e descaracterizou de raiz
As gentes que se julgam mais avançadas.
E, alienadas, carregam à cerviz
O jugo da moda.
E mergulhei na Polónia.
Só um cheirinho.
Para ver como é.
Vim a uma feirinha,
No meio dum bosque.
Numa pequena cidade rural.
Slubice!...
Um mundo diferente.
Mais natural.
A primeira sensação foi a de
De ter recuado no tempo.
Reencontrei muito do que havia em Portugal,
Antes do 25 de Abril.
O rosto das pessoas
É recatado e contido.
Seu porte é sóbrio.
Sem os ademanes da futilidade
Que impregnou e descaracterizou de raiz
As gentes que se julgam mais avançadas.
E, alienadas, carregam à cerviz
O jugo da moda.
No restaurante,
Todo em madeira,
Rústica,
Paredes e tecto.
Muito discreto.
Uma enorme lareira,
De frente, ao centro,
Enchia de calor
E bem-estar
Todo o ambiente.
Pelas mesas, em harmonia
Sincera,
Muitas famílias.
Pais e filhos,
Pequenos e grandes.
Num abraço total.
Sorrisos.
Olhos brilhando,
Azuis,
Como o céu.
Comida abundante.
Para todos sem dor,
Na carteira.
Se olhando ao centro,
Sem precisar exibir
Para chamar atenções.
Havia alegria e respeito
Entre filhos e pais.
Depois, fui para a feira.
Uma aldeia apinhada,
Com ruinhas cobertas,
Escaparates em festa,
Abundantes de tudo,
Espalhados à mão.
Vestir e calçar,
De pele e de lã,
Último grito.
Por cinco tostões.
Queijos, licores,
Bebidas alegres,
De os todos os matizes.
Uísques, vodkas e vinho
Em garrafas.
Bugigangas e artefactos
Originais.
Muita gente comprando.
Parecia Istambul!…
Hei-de voltar muita vez.
Só queria que vissem...
Polónia, Slubice… no hotel
"Horda" - 3 estrelas…mas parecendo de 5…
21 de Dezembro de 2014, 3h7m
Joaquim Luís Mendes Gomes
O barco na praia...
aquele barco,
amarrado ao cais,
sem mastros nem velas,
é um arado do mar.
sua raviça luzente,
bem funda
e cortante,
são remos, possantes,
rasgam as ondas,
ele vai para diante,
à procura do pão
que cresce abundante,
no seio do mar.
pintado de azul.
tem Jesus,
levantado de pé
mesmo à proa,
de vestes compridas,
olhando ao longe,
num barco poveiro,
carregadinho de peixe,
regressando da faina.
e uma multidão de varinas,
cheias de esperança,
de açafates vazios,
o esperam na praia.
de verão e de inverno,
afoito e ladino,
sem medo do mar,
da fúria das ondas,
ele cumpre o destino
de ir e voltar.
ouvindo Grieg
Berlim, 1 de Fevereiro de 2015, 8h9m
Joaquim Luís Mendes Gomes
Rua dos impossíveis...
vim viver em Berlim,
ao cabo da minha vida,
na rua dos impossíveis.
não vim por mim,
foi o destino
do meu país
Todo em madeira,
Rústica,
Paredes e tecto.
Muito discreto.
Uma enorme lareira,
De frente, ao centro,
Enchia de calor
E bem-estar
Todo o ambiente.
Pelas mesas, em harmonia
Sincera,
Muitas famílias.
Pais e filhos,
Pequenos e grandes.
Num abraço total.
Sorrisos.
Olhos brilhando,
Azuis,
Como o céu.
Comida abundante.
Para todos sem dor,
Na carteira.
Se olhando ao centro,
Sem precisar exibir
Para chamar atenções.
Havia alegria e respeito
Entre filhos e pais.
Depois, fui para a feira.
Uma aldeia apinhada,
Com ruinhas cobertas,
Escaparates em festa,
Abundantes de tudo,
Espalhados à mão.
Vestir e calçar,
De pele e de lã,
Último grito.
Por cinco tostões.
Queijos, licores,
Bebidas alegres,
De os todos os matizes.
Uísques, vodkas e vinho
Em garrafas.
Bugigangas e artefactos
Originais.
Muita gente comprando.
Parecia Istambul!…
Hei-de voltar muita vez.
Só queria que vissem...
Polónia, Slubice… no hotel
"Horda" - 3 estrelas…mas parecendo de 5…
21 de Dezembro de 2014, 3h7m
Joaquim Luís Mendes Gomes
O barco na praia...
aquele barco,
amarrado ao cais,
sem mastros nem velas,
é um arado do mar.
sua raviça luzente,
bem funda
e cortante,
são remos, possantes,
rasgam as ondas,
ele vai para diante,
à procura do pão
que cresce abundante,
no seio do mar.
pintado de azul.
tem Jesus,
levantado de pé
mesmo à proa,
de vestes compridas,
olhando ao longe,
num barco poveiro,
carregadinho de peixe,
regressando da faina.
e uma multidão de varinas,
cheias de esperança,
de açafates vazios,
o esperam na praia.
de verão e de inverno,
afoito e ladino,
sem medo do mar,
da fúria das ondas,
ele cumpre o destino
de ir e voltar.
ouvindo Grieg
Berlim, 1 de Fevereiro de 2015, 8h9m
Joaquim Luís Mendes Gomes
Rua dos impossíveis...
vim viver em Berlim,
ao cabo da minha vida,
na rua dos impossíveis.
não vim por mim,
foi o destino
do meu país
que o quis assim.
preferia ser feliz,
naquele pedacinho de terra à beira-mar.
atravessado de serras, lezirias e rios belos.
povoado de muitos pinhais
e bons vinhedos.
onde o sol nasce sempre a nascente
e se vai deitar no mar poente.
onde se ergueram no cume de montes,
tantos castelos possantes
e fortalezas.
uns em pedra,
preferia ser feliz,
naquele pedacinho de terra à beira-mar.
atravessado de serras, lezirias e rios belos.
povoado de muitos pinhais
e bons vinhedos.
onde o sol nasce sempre a nascente
e se vai deitar no mar poente.
onde se ergueram no cume de montes,
tantos castelos possantes
e fortalezas.
uns em pedra,
resistentes,
outros de sonhos
que um vendaval desfez.
tantas igrejas e catedrais.
ermidas brancas,
com procissões de culto.
foi um império,
multicontinente.
de lá partiram caravelas,
rumo ao ignoto,
com muito arrojo,
descobrindo o mundo,
ligando os povos.
gerou um épico,
dos luminares,
Luís de Camões.
e dois prémios Nobel.
até um papa em Roma.
foi grandioso,
cultivou a honra,
até à hora presente
do infortúnio.
uma horda louca,
de gente incauta,
tomou o poder
pela democracia falsa,
e se fez tirana,
espoliando o povo.
outros de sonhos
que um vendaval desfez.
tantas igrejas e catedrais.
ermidas brancas,
com procissões de culto.
foi um império,
multicontinente.
de lá partiram caravelas,
rumo ao ignoto,
com muito arrojo,
descobrindo o mundo,
ligando os povos.
gerou um épico,
dos luminares,
Luís de Camões.
e dois prémios Nobel.
até um papa em Roma.
foi grandioso,
cultivou a honra,
até à hora presente
do infortúnio.
uma horda louca,
de gente incauta,
tomou o poder
pela democracia falsa,
e se fez tirana,
espoliando o povo.
só sobreviverá
quem conseguir fugir...
Berlin, 3 de Fevereiro de 2015, 23h23m
Joaquim Luís Mendes Gomes
quem conseguir fugir...
Berlin, 3 de Fevereiro de 2015, 23h23m
Joaquim Luís Mendes Gomes
[ex-Alf Mil, CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66]
Nora do editor:
Último poste da série > 2 de abril de 2015 > Guiné 63/74 - P14429: Blogpoesia (411): A Estrada do Tempo (José Teixeira, ex-1.º Cabo Aux Enf da CCAÇ 2381)
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Nora do editor:
Último poste da série > 2 de abril de 2015 > Guiné 63/74 - P14429: Blogpoesia (411): A Estrada do Tempo (José Teixeira, ex-1.º Cabo Aux Enf da CCAÇ 2381)
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