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segunda-feira, 12 de agosto de 2019

Guiné 61/74 - P20053: Dignidade e Ignomínia (Episódios do Meu Serviço Militar) (Fernando de Sousa Ribeiro, CCAÇ 3535, Angola, 1972/74) - Parte II: O meu curso de oficiais milicianos (pp. 17-26)


Encosta sudeste da serra de Montejunto, que subi desde o sopé até ao cume nas circunstâncias descritas no texto.


Fotos (e legendas) : © Fernando de Sousa Ribeiro (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Fernando de Sousa Ribeiro:

(i) ex-alf mil at inf, CCAÇ 3535 / BCAÇ 3880 ( Zemba e Ponte do Zádi, Angola, 1972/74);

(ii) é membro da Tabanca Grande desde 11 de novembro de 2018, com o nº 780;

 (iii) licenciado em Engenharia Electrotécnica pela Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto;

(iv) está reformado;

(v) vive no Porto;

(vi) também gosta de Lisboa onde viveu e trabalhou;

(vii) tem página no Facebook.

(viii) a CCAÇ 3535 foi mobilizada pelo RI 16, partiu para Angola em 13/6/1972 e regressou em 28/8/1974. Esteve em Zemba, P. R. Zádi. Comandantes: cap mil inf José Manuel de Morais Lamas Mendonça e Silva, e cap mil inf José António Pouille Nobre Antunes. Pertencia ao BCAÇ 3880, sediado em Zemba e Maquela e comandado pelo ten cor inf Armando Duarte de Azevedo. As outras duas subunidades eram a CCAÇ 3536 (Cambamba, Fazenda Costa) e a CCAÇ 3537 (Mucondo, Béu).




Dignidade e Ignomínia (Episódios do Meu Serviço Militar)(*)

por Fernando de Sousa Ribeiro

(Continuação, pp. 17-26)


A semana de campo teve lugar na região envolvente da serra de Montejunto e incluía uma subida ao alto da serra no último dia. A cada dia da semana de campo, o alferes nomeava um soldado-cadete diferente para "comandar" o pelotão, isto é, para treinar o comando de um pelotão sob a supervisão dele. 

No primeiro dia, o alferes disse: «Hoje, quem vai "comandar" o pelotão vai ser o sr. Fulano» (não era eu). No segundo dia: «Hoje, quem vai "comandar" o pelotão vai ser o sr. Sicrano» (também
não era eu). No terceiro dia: «Hoje, quem vai "comandar" o pelotão vai ser o sr. Beltrano» (continuava a não ser eu). E assim sucessivamente, até que chegou o sétimo e último dia e o alferes disse: «Hoje, quem vai "comandar" o pelotão vai ser o sr. Ribeiro». Tinha chegado a minha vez. Esperei o pior.

Anunciava-se um dia extraordinariamente quente, como se veio a confrmar. «Até o S. Pedro está contra mim», pensei. Mas a manhã passou-se sem novidades de maior. Eu, pelo menos, não me lembro de ter acontecido algo de especial. À tarde, pelo contrário, o caso mudou completamente de fgura.

Depois de termos almoçado (ração de combate, é claro), dirigimo-nos para a encosta sudeste da serra de Montejunto, a fim de subi-la a corta-mato até ao cimo. Tínhamos que vencer um desnível de 600 metros na vertical, às duas horas da tarde, quando o calor era mais forte e o sol, bem alto no céu, era mais escaldante. Encharcados de suor, a ponto de termos as fardas molhadas e coladas ao corpo difcultando os movimentos, e bebendo sofregamente a água que levávamos nos cantis até ela se
esgotar, subimos penosamente a serra, passo a passo, quase fazendo alpinismo. 

A meio da subida, ouviu-se uma voz:
— Meu alferes, não aguento mais! Não sou capaz de subir mais. Estou completamente esgotado!

Era um soldado-cadete açoriano que pesava mais de 90 quilos que tinha falado, quase a desfalecer. Depois de ter incitado o soldado-cadete a continuar a subida, sem resultado, o Lourenço virou-se para mim e ordenou-me:
— Sr. Ribeiro, ajude o seu camarada! O sr. Ribeiro é que é o "comandante" do pelotão e um comandante não pode deixar nenhum homem para trás. Vamos! Do que é que está à espera?! Não podemos ficar aqui parados!

Tirei a arma e a mochila ao açoriano e, quando me preparava para entregá-las a outros soldados-cadetes para as levarem, o alferes interveio:
— Não, não! O sr. Ribeiro é que vai levar a arma e a mochila e vai ajudar o seu camarada a subir!

Fiz então um dos maiores esforços de toda a minha vida. Só em Angola, durante as operações em Zemba, é que fiz esforços equivalentes. Com duas armas ao ombro e duas mochilas às costas, reboquei literalmente o gordo açoriano pela encosta acima, debaixo do sol implacável daquele dia escaldante de verão. Eu, que não tinha sequer cinquenta quilos de peso, transportei pelo Montejunto acima um peso que era duplo do meu próprio. Eu via tudo vermelho e sentia tudo a andar à roda. O ar escaldante que eu inspirava às golfadas pela boca aberta parecia não ser suficiente para me encher os pulmões. O meu coração batia a um ritmo alucinante. A boca, completamente seca por já ter bebido a água toda que havia no cantil, sabia-me a papel de música. Pensei: «Se eu não morrer agora, nunca mais morro; sou eterno». 

E continuava a subir, mecanicamente, pondo um pé à frente do outro, sem ver nada, a não ser vermelho, e sem sentir nada, a não ser o peso do camarada açoriano e das mochilas e das armas que eu trazia. No preciso momento em que esgotei todas as minhas forças e me senti desfalecer, com os joelhos a dobrar-se, alguém me disse:
— Já chegamos ao cimo. Não precisas de puxar mais.

Foi então que reparei que já não sentia o peso do açoriano, que me tinha largado a mão. Parei. Voltei a ver. Recuperei a consciência de onde estava e do que fazia, isto é, recuperei totalmente os sentidos. Eu tinha acabado de atingir o limite mais extremo das minhas forças. Mas tinha conseguido! Estava no alto da serra, onde uma brisa fresca me reanimava. Se o Lourenço esperava vergar-me e obrigar-me a pedir-lhe perdão, enganou-se. Não cedi, não dobrei, não fraquejei. Mantive o meu orgulho
intacto.

Entreguei a arma e a mochila ao açoriano, que já podia deslocar-se pelos seus próprios meios, pois agora iríamos seguir por um caminho horizontal, e o Lourenço conduziu o pelotão para o interior de um pinhal, que havia um pouco mais para diante e para baixo. Mal chegámos ao pinhal, atirámo-nos logo todos para o chão, ompletamente esbaforidos. Gritou-me o alferes:
— O sr. Ribeiro não pode descansar! O sr. Ribeiro tem muito que fazer! O sr. Ribeiro vai encher os cantis dos seus camaradas numa fonte que há lá adiante, ao pé dos radares da Força Aérea. E vai a pé! Vai e vem as vezes que forem necessárias até que todos os seus camaradas tenham os cantis cheios.

A fonte fcava a cerca de 500 metros do local em que nos encontrávamos. Estava eu a recolher os primeiros cantis dos meus camaradas, para os levar à fonte, quando chegou a minha salvação, sob a forma de um major ao volante de um jipe.

Era o comandante do batalhão de instrução que chegava. Depois de ter trocado algumas palavras em voz baixa com o alferes, o major perguntou a este o que é que eu estava a fazer. O alferes disse-lhe que eu estava a recolher os cantis do pelotão para ir enchê-los à fonte.
— E vai a pé?! — perguntou o major.
— Claro — respondeu o alferes. — Vai as vezes que forem necessárias.
— Não vai nada a pé — retorquiu o major. — Vai comigo no jipe.

Virando-se para mim, disse o major:
— Nosso cadete, recolha os cantis todos e ponha-os aqui no jipe. Vamos à fonte num instante encher isso tudo.

Depois de eu ter colocado os cantis no jipe, o major mandou-me subir para a viatura e fui com ele encher os cantis na fonte. Finalmente pude descansar um bocadinho, sentado no jipe! E que bem me soube a água da fonte, tão fresca e tão saborosa!

Quando acabamos de encher os cantis, o major disse-me:
— Esta madrugada, o pessoal todo vai fazer um "golpe-de-mão", para concluir a semana de campo, e você é que vai comandá-lo.
— Eu?!!! — exclamei, espantado.
— Sim, você — confrmou o major. — O nosso alferes Lourenço propôs-me o seu nome e eu aceitei. Para mim, é completamente indiferente. Tanto me faz que seja você ou outro qualquer.

E acrescentou:
— Mas primeiro vamos levar os cantis. Depois tratamos do "golpe-de-mão".

Entregues os cantis aos seus donos, o major e eu fomos no jipe até ao local previsto para o "golpe-de-mão". À chegada, estavam à nossa espera os comandantes das duas companhias de instrução do 2.º ciclo do COM (a 2.ª e a 4.ª companhias), mais um ou dois oficiais que me eram desconhecidos e de cujos postos já não me lembro.

Diante de nós estava uma aldeia abandonada, situada num recôncavo da serra que era muito grosseiramente circular. Disse-me o major:
— Esta madrugada vamos fazer um "golpe-de-mão" a esta aldeia. Dentro dela vão estar alguns soldados da EPI [Escola Prática de Infantaria], que irão fazer de inimigo. Você vai ter à sua disposição oito pelotões, quatro de cada companhia, que irão desencadear o "golpe-de-mão". Você vai ter que reservar um pelotão para fazer o "assalto" ao objetivo, mais um pelotão que deverá fazer a "proteção" à retaguarda. Os outros seis pelotões farão o que você melhor entender. Você é que vai determinar que papel é que eles irão desempenhar. Fica ao seu critério.

Apontando para a aldeia e zona envolvente, o major acrescentou:
— O cenário em que tudo se vai desenrolar é este. Agora você vai decidir que dispositivo é que quer montar para a "operação".

Armado em Napoleão seguido pelos seus ajudantes de campo, avancei para o alto de um monte, dos vários que envolviam a aldeia, a fm de observar melhor o terreno. Como eu disse, a aldeia fcava num recôncavo vagamente circular, o qual estava rodeado por algumas cristas de montes pouco elevados. Os montes eram pouco elevados mas, mesmo assim, dominavam o recôncavo e cercavam-no. Entre dois desses montes havia uma espécie de vale, por onde passava a estrada que conduzia à aldeia.

Disse eu ao major:
— Eu proponho que se faça um cerco à aldeia.
— Porquê? — perguntou o major.
— Porque o terreno é favorável a um cerco e assim apanhamos o inimigo todo dentro do objetivo, sem lhe dar hipótese de escapar — respondi.
— Muito bem. — disse o major — Faz-se então um cerco.

E perguntou:
— Concretamente, onde é que vão ser colocadas as nossas forças e a partir de onde é que vai ser desencadeado o "assalto"?

Eu pensei em voz alta:
— O "assalto" deverá ser tão rápido quanto possível, para apanhar o inimigo de surpresa.

E decidi:
— Acho que vou lançá-lo a partir daquele vale, por onde passa a estrada. Ali, praticamente não há obstáculos à progressão das nossas tropas, que assim poderão entrar no objetivo e "apoderar-se" dele rapidamente, sem dar tempo ao "inimigo" para reagir.
— Muito bem, sim senhor! É isso mesmo. — comentou o major com evidente satisfação. — Então é ali que o grupo de "assalto" vai fcar. E quem é que vai desencadear o "assalto"?

Respondi:
— Proponho que seja o pelotão do CCC.

O pelotão do CCC  (Curso de Comandantes de Companhia) era o pelotão dos futuros capitães milicianos, onde estava o Antunes [, futuro cap mil inf José António Pouille Nobre Antunes, o último comandante da CCAÇ 3535].
— Há alguma razão especial para ser esse pelotão a fazer o "assalto" e não outro? — perguntou-me o major.

 Respondi:
— Há, sim, senhor. Como eles vão ser comandantes de companhia, e nessa qualidade vão ter responsabilidades acrescidas no futuro, precisam de ter uma preparação mais cuidada e, portanto, deverão desempenhar o papel mais importante nesta "operação".
— Muito bem, sim, senhor! É isso mesmo! — exclamou o major. — E quem é que vai
fazer a "proteção" à retaguarda?
— A "proteção" à retaguarda poderá ser feita pelo pelotão menos operacional, pois em princípio não deverá intervir no "golpe-de-mão". Proponho que seja o quarto pelotão da 4.ª Companhia.

O quarto pelotão da 4.ª Companhia era composto por soldados-cadetes que estavam destinados a ter diversas especialidades não operacionais ou pouco operacionais.
— Sim, senhor. Muito bem. E onde é que os vai colocar?

Aqui eu hesitei. Pensei em espalhar o pelotão pelas cristas dos montes, mas virado para fora. Reparei no entanto que não fazia muito sentido fazê-lo pois, se eventuais "reforços" "inimigos" vindos do exterior "atacassem" algum dos montes pela retaguarda, estariam em desvantagem logo à partida, pois estariam a "atacar" de baixo para cima. Certamente não fariam tal. O que fariam com certeza, seria "atacar" pelo ponto mais vulnerável, que era o vale por onde passava a estrada de acesso à aldeia e onde eu tinha colocado o pelotão de "assalto".

Disse isto mesmo ao major, acrescentando que colocaria o pelotão de "proteção" virado para fora e protegendo as costas do pelotão de "assalto". Assim este poderia concentrar-se na sua tarefa sem se preocupar com o que lhe viesse por trás.
— Exatamente! — exclamou o major com entusiasmo. — É isso mesmo! Muito bem! Sim, senhor!

A seguir, o major mandou-me indicar-lhe o que eu faria com os restantes pelotões. Respondi que faria com eles um cerco ao "objetivo", colocando «um pelotão neste monte, outro naquele, outro naquele monte acolá», etc.
— Há alguma razão específica para você colocar os pelotões nessas posições e não noutras? — perguntou-me o major.

Respondi:
— Eu tenho que ter o cuidado de evitar que fquem dois pelotões frente a frente, em posições diametralmente opostas relativamente ao "objetivo", para que não se alvejem mutuamente. Tenho que os distribuir de forma desencontrada. Cada pelotão não pode ter outro do lado de lá. Por isso os coloco nestas posições.

O major, ainda mais entusiasmado, repetiu:
— Muito bem! É isso mesmo! É preciso minimizar as baixas causadas pelo fogo "amigo"! Muito bem! Agora diga-me que pelotões é que vai colocar nessas posições.

Respondi-lhe que podia colocar «o pelotão de minas e armadilhas aqui, o das transmissões ali, o primeiro pelotão da 2.ª Companhia acolá, o segundo pelotão mais para o outro lado», etc.
— Está bem. Fica então assim — concordou o major. — Está definido o dispositivo para o "golpe de mão". Agora vou mandar chamar os cadetes que vão "comandar" cada um dos pelotões, para você lhes dar as instruções correspondentes aos lugares e tarefas que irão desempenhar. Eles precisam de saber onde é que vão estar e o que é que vão fazer.

Ao fim de algum tempo, os "comandantes" dos vários pelotões juntaram-se-nos e eu indiquei a cada um deles a posição que iria ocupar e o papel que teria que desempenhar no "golpe de mão". Quando acabei de dar as instruções, o major disse-nos:
— Agora vamos tratar das transmissões.

Mandou que nos entregassem rádios AVP-1, a cada um dos "comandantes" de pelotão e a mim próprio, e no fim disse-me:
— Agora você vai escolher os canais de rádio que vai utilizar. Vai escolher um canal principal e um de reserva. Pode escolher como quiser. Cada canal é tão bom como qualquer outro; isso é completamente indiferente. A seguir, vai escolher os nomes de código que vai corresponder a cada pelotão, para quando os chamar pelo rádio. Isso fica também ao seu critério. Quaisquer nomes são bons.

Eu lá indiquei uns canais escolhidos à sorte e também os nomes, do género Águia 1, Águia 2, Águia 3, etc.
— Pronto — concluiu o major. — Já está tudo decidido. Mas antes de se irem embora, quero dizer-lhes que o "golpe de mão" vai ter lugar às cinco horas da madrugada em ponto. À meia-noite, quero que comecem a ocupar já os seus lugares. Aqui o nosso cadete [eu próprio] vai estar aqui à espera, para orientar os pelotões no que for preciso. De hora a hora, o nosso cadete [outra vez eu] vai entrar em contacto com cada um dos pelotões pelo rádio, para saber se está tudo bem e pronto a entrar em
ação. Às cinco horas em ponto, ele dará a ordem de fogo e o "golpe de mão" será executado.

Procedeu-se tudo como o major determinou. Estava uma noite fantástica. Depois de um dia escaldante, a noite estava morna, mesmo apetecível para se estar ao ar livre. Uma maravilha. Nem quero imaginar como seria estar parado durante umas horas no meio daquela serra, numa noite fria de inverno e com chuva ainda por cima…

Às cinco horas em ponto, assim que dei a ordem de fogo pelo rádio, desencadeou-se um estrondo tão grande, com perto de duas centenas de G3 a disparar todas ao mesmo tempo no meio do silêncio da noite, que apanhei um valentíssimo susto. Mesmo estando à espera dos disparos, não imaginava que o barulho pudesse ser tão grande. Devemos ter acordado toda a gente num raio de 100 km ou mais… Parecia que a serra vinha abaixo.

Terminado todo aquele estardalhaço, o major veio ter comigo dar-me os parabéns, porque, disse ele, «a operação foi um êxito completo. Apanhamos o inimigo todo dentro do objetivo e capturamos x espingardas, y metralhadoras e z morteiros». E disse isto com tanta convicção, que quem o ouvisse julgaria que tinha sido a sério! Os oficiais de carreira muito gostam de manobras militares! Eles pelam-se por estas coboiadas.

E assim acabou o 2.º ciclo do Curso de Ofciais Milicianos atiradores de Infantaria da minha incorporação. Regressamos a Mafra para dormirmos e a seguir fomos para nossas casas, não sem antes nos terem dito que no dia tal deveríamos estar de volta, para sabermos as nossas notas finais, qual o teatro de guerra para onde iríamos ser mobilizados, qual a unidade em que seríamos colocados e para nos serem impostas as novas divisas de aspirantes.

Quando regressei a Mafra no dia marcado e olhei para a pauta onde as notas estavam afixadas, nem queria acreditar na nota que me tinha sido atribuída: treze valores vírgula zero zero. Era a nota máxima! A nota 13 era o limite que separava os simples oficiais atiradores, como eu, dos oficiais de Operações Especiais.

Os oficiais de Operações Especiais não podiam ter menos de 13 valores; os oficiais atiradores, em princípio, não podiam ter mais de 13, a menos que fossem verdadeiramente extraordinários, caso em que rebentariam a escala. Na minha incorporação houve mais dois ou três atiradores que tiraram 13 valores como eu e houve um que rebentou a escala, tendo recebido à volta de 15. Chamava-se Poças, era uma jóia de moço e como "prémio" foi mobilizado para a Guiné em rendição individual.

E foi assim que um (futuro) alferes comandou o seu próprio (futuro) comandante de companhia, mais uma data de outros (futuros) capitães!

[Foto à esquerda: 

Capitão miliciano José António Pouille Nobre Antunes, que comandei no fim da semana de campo do 2.º ciclo do COM, quando ambos éramos soldados-cadetes. Posteriormente, já com o posto de capitão miliciano, foi ele que me comandou, assim como toda a CCaç 3535, a partir da segunda quinzena de abril de 1973]


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Nota do editor:

domingo, 11 de agosto de 2019

Guiné 61/74 - P20052: Manuscrito(s) (Luís Graça) (159): Autobiografia: com Bruegel, o Velho, domingo à tarde (Parte I - De 1 a 10 de 100 pictogramas)

Autobiografia: com Bruegel, o Velho, domingo à tarde [em 100 pictogramas]

Texto (inédito): © Luís Graça (2005). Todos os direitos reservados. 


1. Domingo à tarde… Sempre detestaste os domingos à tarde: ou chovia ou fazia vento e um cão uivava na vinha vindimada do Senhor. Nada acontecia, no domingo à tarde, e até o tempo parava no relógio, sonolento, da torre da igreja da tua aldeia.

Podias escutar a boa nova do padre vigário, no largo do convento, ora sombrio ora soalheiro, mas a vida ia, sem alarde, no sentido inexorável dos ponteiros do relógio: dextrorsum, aprenderás mais tarde, na escola, ou, por outras palavras, do berço à cova, donde ninguém escapava, os novos sucedendo-se aos velhos na fila da morte. E quem acabava, sua cova tapava.

2. Não te podias queixar do destino, e muito menos dizer que mais valia a morte que tal sorte… Felizardo, não sabias ainda o que era a morte. Mas também, coitado,  não sabias o que era a sorte. O teu pai sempre te falou da "sorte grande", a lotaria em que ele jogava e que nunca lhe calhou…

Pelo menos, havia a bola, as pequenas alegrias da bola, de trapos ou de borracha (, dizia-se "bola de cauchu" e nesse tempo era um luxo). A bola, as paixões da bola, os cromos do Sporting e do Benfica, os relatos da bola para quem tinha rádio a pilhas, que a luz elétrica da barragem de Castelo de Bode 
[1], essa, ainda não chegava à tua casa, na rua dos Valados, só chegava a algumas casas, cafés e ruas da tua aldeia…

3. E havia a escola… Não, ainda não se dizia escolinha, como hoje. Era a escola do ensino primário, a escola do Conde Ferreira, mas a gente sabia lá quem era esse tal senhor Conde 
[2]!… E por detrás dos muros da escola, a central elétrica da SEOL [3]… 

Sim, a tua escola tinha muros, a tua aldeia já não era muralhada, como no passado, mas continuava a ser uma terra sitiada, emparedada. A tua infância era sitiada, emparedada. Em frente, a poente, a grande muralha da China do Atlântico. Mais perto, as Berlengas e o cabo Carvoeiro. E, a nascente, a serra do Montejunto. 

Tinhas pouco mundo, a partir da janela do teu quarto. Estavas a 2 km do mar, mas era muito longe. Ainda não havia o hábito citadino de os aldeões irem para a praia, no verão, nos seus burros, a não ser na festa do São João, em 24 de junho, feriado municipal. Até ao São Miguel, até às vindimas, os trabalhos no campo não deixavam folgar os corpos. E, só mais tarde, já na adolescência, nas férias grandes, é que ias de bicicleta até ao mar. Nunca fostes um destemido aventureiro, em pequeno, nunca andaste de barco, nunca fostes às Berlengas, "ali tão perto"...

Lembras-te do bibe azul às riscas, mais a sacola de serapilheira, pesada, onde levavas o caderno de duas linhas, de caligrafia, a caneta de aparo, a tabuada, o lápis de lousa e a ardósia, a "pedra", o canivete que servia de faca e apara-lápis, o pão seco com marmelada, ou com toucinho fresco, ou salgado, que era o presunto dos pobres.

Não, não havia frasco de tinta azul, o tinteiro, em porcelana, e a tinta azul eram monopólio do Estado, faziam parte da carteira onde te sentavas. Era a escola que dava a tinta, azul. 


Recordas-te da cara, mas não do nome, do teu parceiro de lado, na sala fria, de piso térreo… Tinha a mania de apanhar moscas, espetá-las no bico do aparo e afogá-las no tinteiro… Depois, levava-as à boca, aparentemente deliciado… (Que será feito dele, pobre diabo, perdido na voragem do tempo ? Lembras-te que o avô tinha uma taberna e casa de pasto, na rua Grande, que cheirava a vomitado, a lixívia e a serradura.)

Em casa, os "deveres" eram feitos a lápis, da marca Viarco. Só podiam ser da marca Viarco. A Viarca tinha o monopólio dos lápis. Lápis a cores ? Não te lembras de os teres, eram um luxo, o dinheiro era pouco. Ou melhor: o dinheiro não existia ou, se existia, não passava pelas tuas mãos. Habituaste-te cedo a não pedir chupa-chupas à tua mãe, quando ias à rua e às compras com ela. À primeira (e última) estalada aprendeste logo a virtude cristã da temperança… 
Não foi preciso a tua mãezinha voltar a bater-te.

 

O manual escolar  mais famoso
do Estado Novo. Da autoria de
Barros Ferreira. Ilustrações do
talentoso artista "Emmérico",
Emérico Hartwich Nunes. 4ª edição,
Porto Editora, 1958. Reimpressão, 
Editora Educação Nacional, 
janeiro de 2008.
Ah!, e o livro de leitura da 3ª classe, com os meninos, na capa, tão lindos, envergando a farda da Mocidade Portuguesa, e que lá iam para a escola, cantando e rindo. Não, não levavas a fisga para matar pardais, já não gostavas de armas, quando eras pequenino, nem muito menos de matar pardais e de roubar os ninhos dos passarinhos, como o "Brutamontes" e os gajos do seu bando.

4.Havia o jogo dos cinco cantinhos, e o da cabra-cega, mais o berlinde, o arco e o balão, o abafa, as caricas, o pião, a alegria (quando não o receio) da hora do recreio. Que o melhor da vida era a brincadeira, mas foi na escola e no recreio e na catequese que aprendeste a lição: quem comandava a vida, e impunha a lei, a regra, o respeito, o pudor, a ordem e o progresso, o asseio e a decência, tinha um sino, uma sineta ou uma campainha, a professora na escola ou o padre e o sacristão na igreja, que marcava as horas e os dias e as semanas e os anos… 

E um ponteiro, a professora também tinha um ponteiro que servia para bater na cabeça dos meninos, quando erravam as respostas às suas perguntas ou se distraíam com as moscas ou com o vizinho do lado ou as provocações do "Brutamontes", do lado de fora da janela da escola.

5. E o sino tinha vários códigos, os da morte e os da vida… Foi lá que te ensinaram, sem demoras, a murro e pontapé, os mais velhos, ou a puxões de orelha ou com a menina dos cinco olhinhos e o ponteiro, a senhora professora, que o lugar ao sol conquistava-se, com sangue, suor e lágrimas, como o pico mais alto do mundo, o Everest: não, não era para todos, meu menino, o lugar ao sol, era para quem Deus queria, com a ajuda da senhora professora, do padre e da catequista, e não era decididamente para os fracos, os faltosos, os retardatários, os cábulas, os distraídos, os hereges, os pecadores, os comedores de moscas. 

Montijo, Escola Conde Ferreira. Autor ACS Costa (2007).
Cortesia de Wikipedia.
Não, nunca tinhas ouvido falar do pico do Everest, só da serra de Montejunto, e da serra da Estrela, que era a mais alta de Portugal. Foi lá que nasceu o Viriato, o pai dos lusitanos, não sabias ?... E essa do “sangue, suor e lágrimas” é uma expressão que só ouvirás mais tarde, na tropa e na guerra.

6. Sim, com sorte, haveria o bife ao domingo, o polvo na maré-baixa, o coelho de caça do ti Manel da Quinta, o bacalhau com grão-de-bico à sexta-feira, batatas, cebola e salsa, no tempo da Quaresma, se tu lá chegasses, ao domingo, à maré-baixa, à Quaresma, ao tiro certeiro da espingarda de caça do caçador...

7. Com sorte, e a bênção de Deus, e graças à tua santa mãe que sabia fazer das tripas coração, e multiplicar por cinco o pão nosso de cada dia, e confiar em Deus Nosso Senhor que ao menino e ao borracho costumava pôr a mão por baixo. (Quando, lá no céu, não se distraía: é que às vezes Ele, santo velho, padre eterno, também gostava da brincadeira, como qualquer um, e deixava cair, por entre as nuvens esfarrapadas e esburacadas, ora um menino ora um borracho.)

Hoje, há seguros para tudo, dos acidentes de lazer aos terramotos, mas naquele tempo, não. Deus era o teu seguro. Vitalício, do berço à cova. E não tinhas medo dele, tinha um ar de avozinho. Só mais tarde, começou a meter-te medo… Ou melhor, começaram a ameaçar-te, “in nomine Dei”, em nome de Deus.

8. Havia as rixas, as travessuras, as pedradas, às vezes as cabeças rachadas, brincava-se aos índios e aos cobóis, havia a figura do "Brutamontes", que era o terror do pátio do recreio e do largo do convento, e das ruas e ruelas da tua aldeia.

O "Brutamontes" e os outros matulões da sua igualha tornavam a vida dos pequenos num tormento, obrigando-os a fugir por portas e travessas até chegar a casa, esbaforidos, depois da escola.

Não, ainda não se falava em "bullying", muito menos se aprendia inglês, nem a escola do tal Conde de Ferreira 1866, que ficava em frente à casa de Deus, fora feita para os meninos de coro, vestidos de sobrepeliz branca e asas de anjinho, voando sob nuvens de algodão.

9. Mas estás a ver agora, ao alto, ao centro, na parede, encardida, da tua velha escola, tendo do lado esquerdo o quadro negro, a imagem do Cristo crucificado, o tal, que era filho de Deus Pai, e que morrera para te salvar, e que tu devias imitar, piedosa, devota, denodada e encarniçadamente, todos os dias e horas da semana, na escola, no recreio, no urinol, na catequese, na rua, em casa, na igreja, em terra e no mar, para seres um menino bem comportado, e um português digno do seu glorioso passado.

10. Aprenderás, um pouco mais tarde, já na puberdade, a perturbante (, quiçá mesmo terrível) lição: "éramos todos filhos de Deus, mas uns mais do que outros", e tu não passavas de um enteado!... Tal como os coxos, os marrecos, os cegos, os surdos e os mudos ou os pobres de pedir… Afinal, se Deus o marcou, algum defeito lhe achou

Que coisa horrível, essa, que te meteram na cabeça, a de seres um enteado de Deus, como se não fôssemos todos filhos do mesmo Pai!... Alguém já ta soprava ao ouvido, quando ias ao urinol, no largo do convento, em caracol, que tresandava a urina e a creolina… E esse alguém só podia ser o Diabo, ou o "Brutamontes", que costumava soprar coisas más aos ouvidos dos meninos.

Talvez por isso o tempo parava, no domingo à tarde, e tu ficavas tristonho e bisonho, a olhar para os ponteiros, imóveis, do relógio, sonolento, da torre da igreja da tua aldeia, e a ouvir, ao longe, o cão que uivava na vinha vindimada do Senhor.

Aldeia, aldeões ? Ou vila, vilória, vilões? Tanto faz, todos os habitantes da tua terra se conheciam uns aos outros. Havia meia dúzia de ruas, não mais, na tua aldeia, e chegavam: a rua da Misericórdia, a rua Grande, a rua do Castelo… Acrescenta-lhe a rua do Clube, a do Poço Novo, a da Farmácia, e a do Quebra-costas… E dois ou três largos: o da Câmara, o do Convento, o das Aravessas...


(Continua)
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[1] No rio Zêzere, afluente do Rio Tejo. Inaugurada em 1951.

[2] Joaquim Ferreira dos Santos (Porto, 1782-Porto, 1866), 1º conde de Ferreira. 
 Da sua imensa fortuna, deixou ao Estado Português 144 000$000 réis para construir 120 Escolas de Instrução Primária, para ambos os sexos. A construção seguiu uma tipologia única. Uma das escolas foi a da Lourinhã, infelizmente já derrubada em tempos pelo impiedoso camartelo camarário.

[3] SEOL – Sociedade Eléctrica do Oeste, Lda. Desde o início dos anos 60 fornecia a energia de alta tensão aos municípios do Oeste Estremenho.

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Nota do editor:

Último poste da série > 29 de julho de 2019 > Guiné 61/74 - P20017: Manuscrito(s) (Luís Graça) (158): Afinal a guerra também era ototóxica...

Guiné 61/74 - P20051: Blogpoesia (632): "A pouco e pouco..., "Cobardia" e "Brotam do chão e da erva...", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) estes belíssimos poemas, da sua autoria, enviados, entre outros, ao nosso blogue durante a semana, que continuamos a publicar com prazer:


A pouco e pouco...

A pouco e pouco me desfaço em pó.
Não sou rocha inerte que a chuva lava.
Sinto fome e frio.
Um animal sagrado.
Minha mente é leve e me faz sonhar.
Tudo em mim é breve.
Tem a cor do som.

Sei de cor a vida.
Não aceito morrer.
Porque nasci sem mim.
Minha alma arde.
Seu fogo é esperança e fé.
Não me contenta o mundo.
Só encontro a paz em Deus...

Ouvindo - Lindsey Stirling- #aSaviorIsBorn
Mafra, 7 Momentos, 8h45m
Jlmg

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Cobardia

Alamedas, rotundas e praças públicas.
Cada dia e a toda a hora
Um fosso largo de covardes.
Grassam greves. Pura selvajaria.
Manipulação de mafiosos.
Todos se calam. Ninguém reage.
Nem por cima nem cá debaixo.

Agora os motoristas. Depois os enfermeiros e os médicos.
Conforme os interesses da conveniência. Suja e egoísta.
Até os polícias e os magistrados.
Uma loucura!...
Que raio de democracia é esta?
Um vazadouro de lixo.

O Povo é um pandeiro.
Leva de todos os lados e fica inerte.
Quem põe ordem nesta bagunça?...

Ouvindo Ludwig Van Beethoven 5ª Sinfonia em Dó Menor
Bar 7 Momentos em Mafra, 10 de Agosto de 2019
9h45m
Jlmg

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Brotam do chão e da erva...

Brotam do chão e da erva, aromas de seiva e perfumes de vida.
Desabrocham intensos. Enchem a terra de húmus.
Florescem os caules. Os ramos abraçam os olhos.
O vento os faz dançar aos sons etéreos da criação.
Caem as folhas cansadas. Impregnam torrões, preparando-lhes a mesa da vida.
Álacres botões de flores e de frutos despontam em jacto.
As almas sedentas fazem do chão seu mar de descanso...

Ouvindo o piano de Schubert - Impromptu No. 3, Op. 90 (Kissin)
Mafra, 11 de Agosto de 2019
8h13m
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 4 de agosto de 2019 > Guiné 61/74 - P20034: Blogpoesia (631): "Visão matinal", "Horas felizes..." e "O corrimão da escada", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

Guiné 61/74 - P20049: In Memoriam (345): Pedro Martinho de Lima Alves Martins, que comandou a CART 6554/73, "Os Intemeratos" (Angola, 1973/75). Era irmão do nosso camarada João Martins. O funeral é amanhã, em São Martinho do Porto, Alcobaça.





São Martinho do Porto, pôr do sol. Foto do João Martins, da sua página do Facebook.


1. Mensagem de João José de Lima Alves Martins, membro da nossa Tabanca Grande (ex-alf mil art, BAC1, Bissum, Piche, Bedanda e Guileje, 1967/69).

Assunto - Falecimento do meu irmão, e nosso camarada
Data - 10 de agosto de 2019, 22h02 e 22h54


Luís Graça

Pedro Alves Martins. Cortesia do 
Cumpre-me o doloroso dever de informar o falecimento do meu irmão, Pedro Martinho de Lima Alves Martins, que comandou, como oficial miliciano, a Companhia de Artilharia 6554/73, " Os Intemeratos", tendo estado sediado em Mossuco, Angola [, 1973/75].

O corpo será transladado amanhã, à tarde, para S. Martinho do Porto, estando previsto a missa de corpo presente e o funeral na segunda-feira, pelas 10h30.

A família agradece toda a solidariedade prestada. Obrigado por tudo.

Grande abraço.

João Matins

PS - Recebi uma nova informação, mais concreta. Amanhã, domingo, haverá velório a partir das 17h00 na capela da Fundação Manuel Clérigo, São Martinho do Porto. Na segunda-feira, haverá missa de corpo presente na Igreja de São Martinho do Porto.

A Companhia dele tem blogue, Blogue Memórias de Angola, e o contacto é Albino Bessa, telemóvel 964 025 304.

2. Comentário do editor LG:

João, nunca estamos preparados para receber a notícia da morte de amigos e camaradas, e para mais daqueles que nos são mais próximos pelo parentesco e os afetos. Mas, infelizmente, a morte está inscrita no ADN da vida. O teu namo, teu e nosso camarada, volta, pela derradeira vez, à terra que tanto amou, como tu amas, São Martinho do Porto, cheia de recordações da vossa alegre infância, dos vossos pais e antepassados.

É reconfortante ler a mensagem que os seus antigos camaradas de armas deixaram na página da CART 6554/73:

"Seu carisma e alegria serão sempre lembrados. (...) Hoje dizemos adeus a uma pessoa maravilhosa que sempre foi um exemplo de respeito e amizade, que encheu nossas vidas de alegria e segurança sem forçar a sua presença. Sua marca jamais será apagada, passe o tempo que passar, e a memória do Homem que foi fará parte da nossa vida. Esta é uma mensagem de despedida, mas é também um momento para recordarmos uma pessoa muito especial que já não está entre nós. Vá com Deus e descanse em paz."

Aqui fica também o nosso preito de homenagem, da Tabanca Grande, do blogue dos amigos e camradas da Guiné, a mais um camarada que deixa a "Terra da Alegria" (para citar o poeta  Ruy Belo, nascido em Rio Maior e que tanto amava o nosso comum oeste estremenho, passando férias nomeadamente na praia da Consolação, Peniche).

João, transmite por favor ao resto da família a nossa solidariedade na dor.
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sábado, 10 de agosto de 2019

Guiné 61/74 - P20048: Os nossos seres, saberes e lazeres (347): Na Bélgica, para rever e para descobrir o nunca visto (9) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 7 de Março de 2019:

Queridos amigos,
Esta visita a Bruxelas tinha um elevado pendor sentimental. Um amigo de décadas resolvera fechar a casa e recolher-se a um lar, pedira-lhe para o visitar nesta morada onde habitara cerca de meio século. E foi. E guardará para todo o sempre a escadaria em cimento, uma porta que se abre para um vestíbulo e para uma cozinha, aqui ajudou a preparar refeições e combinaram-se almoços e jantares para receber outros amigos, sempre com vista para o jardim, umas vezes no sono do inverno outras vezes com árvores em flor ou carregados de camélias. E escadas íngremes para o primeiro e segundo andares. Fica a recordação daquele lugar onde se conheceu a plenitude. Completou-se a homenagem retornando aos mesmos lugares aonde aquele amigo o acompanhou, décadas a fio. Digamos que foi uma viagem circular. E cresce a vontade de regressar, a despeito destas alterações em lugares eleitos.
A viagem nunca acaba, só os viajantes é que acabam, José Saramago dixit.

Um abraço do
Mário


Na Bélgica, para rever e para descobrir o nunca visto (9)

Beja Santos

Na hora da despedida de Gand, o viandante sente-se retido pelos cuidados florais e por um monumento dedicado aos irmãos Van Eyck, os mundialmente conhecidos artistas a quem devemos o tríptico da Adoração do Cordeiro Místico, agora sobe-se para um tram em direção à estação ferroviária de S. Pedro, assim se regressa a Bruxelas.



Volta-se a amesendar em casa de amigos, no bairro de Anderlecht, no dia seguinte aqui se retornará para rever a casa de Erasmo e a beguina que bordeja a Igreja de S. Pedro e Guidon. O que se retém para comprazimento do viandante é que na hora em que duas crianças esperam pelo João Pestana, um querido amigo, de nome André Cornerrote, lê e treslê, é o aspeto mais adorável que nós os velhotes temos, onde está feiticeira pomos duendes, onde estão florestas sombrias pomos espelhos de água onde se refletem as estrelas, as crianças emudecidas pelo fulgor das estrelas, pelas danças de Órion, pelos anéis de Saturno, pelos bâmbis que jamais crescerão para que não se tenha que contar que os caçadores matarão suas mães. Dê o mundo as voltas que der que os contos de fadas são eternos, é uma lei da inocência confiar em mouras de encantar e príncipes de coração fiel.



O novo dia começa com uma visita ao Museu Magritte. Há cerca de quarenta anos, quando o viandante aqui arribou, não havia Museu Magritte, havia a coleção Magritte inserida nos Museus Reais das Belas-Artes, edifício opulento com fachada vistosa e escultura monumental a preceito. Entra-se num átrio gigantesco de onde se avista um primeiro andar com arcaria clássica e teto pleno de luminosidade. É o mais rico museu da Bélgica, deve ser visitado em pequenas porções, a pintura antiga é um deleite, estão lá os grandes mestres, e depois chega-se ao corrupio dos génios flamengos como Hans Memling, Bruegel O Velho ou Bosch, antes o visitante teve oportunidade de ver telas soberbas de Rogier van der Weyden ou Quentin Metsys. Para não cansar quem nos lê, estão ali expostos os inevitáveis Rubens e Rembrandt, indo por aí fora chega-se à modernidade, depois de muito impressionismo e expressionismo, uma tela monumental de Francis Bacon dedicada ao Papa Inocêncio X, tal o ângulo de exposição, tem o dom de cortar o fôlego a quem por ali passa. Nesse tempo antigo o Museu Magritte era uma impressionante doação da mulher deste genial surrealista que se visitava em duas salas. Terão seguramente os conservadores reconhecido que Magritte merecia autonomia fora do Museu de Arte Moderna e existe hoje um museu dedicado ao maior entre os maiores dos surrealistas da Valónia.

Museu Magritte, na Praça Real, Bruxelas, encerra a maior coleção mundial deste génio do surrealismo pictórico.

Le sorcier, René Magritte.

Le chef d’oeuvre ou les mystères de l’horizon, René Magritte.

L’empire des lumières, René Magritte.

O que leva as multidões a afluírem diariamente a este edifício de estilo neoclássico onde por três andares se espalham 150 obras doadas ou adquiridas, esquissos, partituras, obra gráfica, filmes, toneladas de fotografias, imagens de variados tipos e depois os guaches e os óleos onde os visitantes sentem o esplendor desta figura de proa do surrealismo mundial, com os seus falsos desconcertos harmónicos, os contrastes que batem certo, a irrealidade feita possibilidade, caso do quadro O Império das Luzes, aquele céu parece incompatível com a noite escura, estrelada por um candeeiro, que se reflete num espelho de água, e afinal está tudo certo, o insólito ganha espessura e o contraste faz-se entendimento, o espectador encontra outra lógica. Isto para advertir quem nos lê que visitar Bruxelas sem bater à porta deste lugar sacrossanto do surrealismo é pura negação da viagem. Tenho dito.




E chegámos ao termo da viagem, de novo o viandante aqui arriba, era obrigatório retornar, a primeira estadia em Bruxelas, há mais de 40 anos, propiciou este encontro. Nesse tempo, havia um comissariado do turismo belga em Portugal, na Rua do Alecrim, ali trabalhava uma belíssima escritora hoje muito esquecida, Fernanda Botelho, que quando o visitante ali veio pedir documentação lhe sugeriu a visita à Casa de Erasmo. O que tem esta mansão de especial? É uma das casas mais antigas de Bruxelas. De maio a outubro de 1521, o cónego de Anderlecht aqui acolheu Erasmo. O museu evoca a vida do humanista holandês e o universo intelectual da Reforma através de obras antigas (gravuras ou pinturas de Holbein, Bosch ou Dürer), impossível não ficar impressionado com aquela coleção de móveis góticos e renascentistas. E da Casa de Erasmo partimos para o jardim, uma outra beleza, é um jardim de prazeres e saberes, tem plantas medicinais, tem uma zona chamada o jardim dentro do jardim, conhecido como o Jardim Filosófico e que se inspira na obra de Erasmo O banquete religioso. Aqui se recria o que Erasmo observou sobre a amizade: “Onde haja amigos, ali está a riqueza”.
Assim acaba a viagem, por ora. A riqueza do viandante tem este pilar sólido da amizade, veio visitar um amigo em transe e colheu estes frutos, estas lembranças, algumas delas tão difusas, dentro da cidade que hoje também é um pouco de si. E espera voltar, pois então. Para uns, Bruxelas é a capital da Europa, para o viandante constituiu-se como um local de afetos e de convivência aberta, ande por ali sozinho ou acompanhado. E sempre que lá regressar, passará por uma livraria onde, numa estante, encontra autores portugueses, são testemunhos mudos de compatriotas que ali viveram e deixaram para outros o doce encanto da língua pátria.
Até à próxima!
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Nota do editor

Último poste da série de 3 de agosto de 2019 > Guiné 61/74 - P20032: Os nossos seres, saberes e lazeres (346): Na Bélgica, para rever e para descobrir o nunca visto (8) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P20047: Parabéns a você (1662): Alberto Nascimento, ex-Soldado Condutor da CCAÇ 84 (Guiné, 1961/63); Américo Russa, ex-Fur Mil Alimentação do BART 3873 (Guiné, 1972/74) e Tomás Carneiro, ex-1.º Cabo Condutor da CCAÇ 4745 (Guiné, 1973/74)



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Nota do editor

Último poste da série de 9 de Agosto de 2019 > Guiné 61/74 - P20044: Parabéns a você (1661): Anselmo Reis Garvoa, ex-Fur Mil Op Esp da CCAÇ 2315 (Guiné, 1968)

sexta-feira, 9 de agosto de 2019

Guiné 61/74 - P20046: Notas de leitura (1207): Missão cumprida… e a que vamos cumprindo, história do BCAV 490 em verso, por Santos Andrade (18) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 15 de Abril de 2019:

Queridos amigos,
Nesta fase do trabalho, mantenho a maior das expectativas quanto a contributos. A Operação Tridente foi alvo de propaganda do PAIGC: falou em 500 mortos das nossas tropas, em retirada caótica, numa derrota sem precedentes. A atoarda ganhou raízes, pessoas com a responsabilidade do historiador Carlos Lopes reproduzia em 1982 tal propaganda. Felícia Cabrita reproduziu atoardas semelhantes depois de ter visitado a Ilha do Como a convite de Nino Vieira, uma vergonha, o gosto pelo puro sensacionalismo, o desrespeito absoluto pelo contraditório. Há hoje muito material sobre a Operação Tridente, aqui se reproduzem dados sumários da história da Unidade e equacionam-se elementos da biografia de Alpoim Calvão que foi o comandante do DFE8 na referida operação, reconhecidamente com uma postura de valentia, dotando os seus homens de uma grande capacidade ofensiva e solidariedade com os outros militares.

Um abraço do
Mário


Missão cumprida… e a que vamos cumprindo (18)

Beja Santos

“Com o destino navegou
o Batalhão de Cavalaria
para a grande operação.
Algum pessoal morria.

Sua Excelência o Brigadeiro
no cais de Bissau se encontrava
e a saída ele ordenava
mais o comandante Cavaleiro.
Foi a 14 de Janeiro
que o cais se deixou.
O “Bor” e o “Geba” abalou,
ficando em terra uma Companhia
que na noite do mesmo dia
com o destino navegou.

Dia e noite navegando
ao largo do Como se chegou.
O 8.º Destacamento desembarcou,
debaixo de fogo avançando.
A 488 rastejando
com muita coragem seguia.
O bando que aí se acolhia
recuava com temor,
pois nunca perdeu o valor
o Batalhão de Cavalaria.

No mesmo dia se desceram
mais duas das Companhias
que, no espaço de alguns dias,
muita sede eles sofreram.
Rações de combate comeram,
com bolachas em lugar de pão.
Foi para cumprir a missão
que tudo isto passámos
e no Como nos instalámos
para a grande operação.

Na praia de Caiar
o resto do pessoal desceu
onde desci também eu
para o material descarregar.
Com os meus colegas a ajudar
muito frete se fazia.
Fez-se um buraco onde se dormia
tranquilo e descansado,
mas no grande mato cerrado
algum pessoal morria.”

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O que o bardo aqui nos dá conta é da Operação Tridente, do seu início. Sobre a mesma, considerada um dos principais acontecimentos de toda a guerra colonial, dispõe-se de inúmera documentação. Logo a história da Unidade, um relato detalhado. Vejamos alguns elementos essenciais. Tudo começa a 14 de janeiro, a Tridente durou 71 dias, as forças executantes iniciaram o regresso em 24 de março. Foi a primeira no seu género, integraram a operação forças terrestres, navais e aéreas. As forças terrestres eram constituídas por três destacamentos de fuzileiros especiais, uma companhia de caçadores mais um pelotão, um pelotão de paraquedistas, um grupo de comandos, um pelotão de obuses e outros efetivos do BCAV 490. Não houve resistência ao desembarque. O IN revelou-se bem instruído e muito agressivo e com poder de fogo extraordinário. O seu moral foi sendo abatido ao longo do tempo, no final da operação atuava em pequenos grupos dispersos, sem qualquer agressividade e fugindo ao contacto. Do lado das nossas tropas são repertoriados oito mortos e vinte e nove feridos e mortos confirmados do lado IN setenta e seis. É transcrita a carta em que Nino apela a reforços ao fim de 48 dias.

A biografia de Alpoim Calvão intitulada “Alpoim Calvão, Honra e Dever”, por Abel Melo e Sousa, Luís Sanches de Baêna e Rui Hortelão, Caminhos Romanos, 2012, dá amplo destaque ao comportamento deste oficial da Armada à frente do Destacamento de Fuzileiros Especiais n.º 8. Vamos reter alguns dados, outros acompanharão a evolução da Operação Tridente.
Porém, antes de mais, um dado singular da liderança de Calvão:
“Os processos utilizados pelo comandante do DFE8 para assegurar a eficiência da sua unidade nem sempre seguiam à risca o disposto nos manuais militares, mas eram seguramente os mais eficazes. Por vezes, quando as infracções cometidas por um dos seus fuzileiros caíam sob a alçada do Regulamento de Disciplina Militar, o que não era invulgar, o Tenente Calvão dava-lhe a escolher entre receber o castigo previsto por este regulamento ou calçar as luvas de boxe e com ele resolver o assunto a murro. Geralmente era esta segunda opção a escolhida pelos infractores, apesar do grande porte e da poderosa força do seu comandante”.

Estamos no Como, vejamos o registo de dia 23 em que Calvão sai com uma secção do seu destacamento, outra da CCAV 488 e um grupo de comandos a fim de proteger a progressão deste último que tencionava passar para o Uncomené (um local da ilha do Como).  
“O inimigo que aguardava emboscado na orla da mata, junto a uma picada, abre fogo com uma metralhadora pesada e armas ligeiras. Apesar de ter garantido a surpresa inicial, acaba por ser batido pelas forças portuguesas apoiadas pela aviação, sofrendo vários feridos e abandonando dois mortos no terreno. Ainda assim o grupo de comandos não conseguiu passar devido ao lodo existente junto ao tarrafo. Nesse mesmo dia, horas depois, um avião T6 despenhou-se a oeste de Cauane, pelo que antes de regressar ao estacionamento a força passou pelo local onde jazia o corpo do piloto, que foi recuperado meio carbonizado para de seguida ser recolhido por um helicóptero Alouette II.
Logo no início do mês de Fevereiro, o DFE8 recebe ordem para penetrar na mata a oeste de Cauane. Objectivo: a fixação e envolvimento da tabanca grande de Cauane. Inicia a penetração na mata sem ser detectado, colocando-se atrás da posição inimigo que a mata cerrada tornava invisível, apesar de estar a menos de 30 metros. Qualquer movimento naquela densa vegetação poderia denunciar a presença dos fuzileiros, pelo que o Tenente Calvão decide emboscar com um dispositivo estático comandado pelo imediato e constituído por duas secções com esquadras de MG42 em linha à frente. Em cada flanco, uma secção e o resto dos homens de apoio à retaguarda, ficando o comando colocado numa posição central um pouco descaído sobre o flanco direito. Um pequeno grupo inimigo, sem se aperceber da manobra, passa a alguns metros desse flanco, que de imediato abre fogo abatendo um inimigo armado e ferindo outros. A reacção foi pronta e resultou num fuzileiro ferido. Com o inimigo a dar mostras de grande vitalidade, as forças terrestres continuavam a pressionar toda a região das três ilhas.

No dia 7 de Fevereiro, uma companhia de cavalaria ataca a tabanca de S. Nicolau, fixando naquela povoação os guerrilheiros que reagiram com o poder de fogo de uma metralhadora pesada. Enquanto decorre o combate, o DFE8 progride silenciosamente em direcção ao objectivo, iniciando o envolvimento sem ser detectado. Abre fogo ao entrar em contacto com o inimigo, abate um guerrilheiro e provoca diversos feridos, pondo os restantes em fuga. Por duas vezes tentou o adversário reagir com a mesma estratégia, sendo de ambas repelido.

Dez dias passaram. Pelas 04h30 do dia 17 de Fevereiro, o DFE8 com um grupo de comandos e um grupo de combate da Companhia 488 inicia a progressão em direcção à ponta nordeste da mata de Curcô, de acordo com a táctica habitualmente seguida pelos fuzileiros. É sempre feita por fora de picadas e trilhos, o que apresentava duas grandes vantagens: evitar possíveis minas e armadilhas e surgir junto do inimigo por onde ele menos esperava.
Cerca das 10h00, um pequeno grupo inimigo tenta atacar a retaguarda da coluna, mas é sacudido e posto em debandada com duas granadas de mão. Depois, destruíram-se alguns depósitos de arroz. Uma hora mais tarde, a coluna chega à mata a norte de S. Nicolau onde avista homens armados, aos quais monta imediatamente uma emboscada com óptimos resultados: o DFE8 abate três inimigos e os comandos um. Os guerrilheiros entram, então, numa fuga desordenada, estimulada pela metralha cuspida por uma aeronave T6.
A progressão acabaria por ser retardada por um ataque de abelhas que inferiorizou os paraquedistas e as três secções da vanguarda da DFE8.

No dia 24 de Fevereiro, a Companhia do Capitão Cidrais, ao desembarcar no Uncomené, vê-se fixada na bolanha debaixo de violente fogo, ao abrigo do pequeno quadrado de um ourique, a cerca de 150 metros da orla de uma mata onde o inimigo se encontrava bem instalado e devidamente protegido. Os soldados mal podiam responder ao fogo pela exiguidade da posição ocupada e desprotegida. É então que o comandante das forças terrestres toma a decisão de fazer sair o DFE8 em seu socorro. Quando alcançou a posição dos sitiados, o Major Romeiras, Comandante do Agrupamento A, pediu aos fuzileiros para procurarem na mata os dois mortos que a CCAV 487 deixara no terreno durante uma investida à posição inimiga. Desta incumbência se encarregou o Segundo-Tenente Malhão Pereira, Imediato do DFE8, com duas secções, e após uma breve batida, veio a encontrar os dois corpos despidos e sem armas, estando um deles armadilhado com granadas. Enquanto isto, o Tenente Calvão e o Capitão Cidrais, em reconhecimento expedito, exploravam para sul da sua posição, a fim de conseguirem uma visão táctica completa da situação e poderem retirar a tropa da CCAV 487, esgotada pelo intenso e penoso combate. Acabou a força toda por ter de recolher às lanchas de desembarque para a conduzir à Fragata Nuno Tristão, onde os fuzileiros foram recebidos uma vez mais, entre marinheiros, com a amabilidade e amizade habituais”.

(continua)

Convívio em 2010 do BCAV 490
fotografia retirada do blogue Ilha do Como (Guiné)
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Notas do editor

Poste anterior de 2 de agosto de 2019 > Guiné 61/74 - P20028: Notas de leitura (1204): Missão cumprida… e a que vamos cumprindo, história do BCAV 490 em verso, por Santos Andrade (17) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 5 de agosto de 2019 > Guiné 61/74 - P20036: Notas de leitura (1206): “Guiné-Bissau, das Contradições Políticas aos Desafios do Futuro”, por Luís Barbosa Vicente, Chiado Editora, 2016 (1) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P20045: Lembrete (32): Lançamento do livro "Ferrel através dos tempos", do nosso camarada Joaquim Jorge, ex-alf mil, CCAÇ 616 (Empada, 1964/66)... Hoje, em Ferrel em Festa, sábado, dia 9 de agosto, às 17h00




Leiria > Monte Real > IX Encontro Nacional da Tabanca Grande > Palace Hotel Monte Real > 14 de junho de 2014 > O Joaquim da Silva Jorge e a esposa Esmeralda (Ferrel / Peniche)... É o membro nº 698 da nossa Tabanca Grande.

Foto (e legenda) : © Luís Graça (2014). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Pormenor da capa do livro do Joaquim da Silva Jorge


1. Lembramos aqui o convite do nosso camarada Joaquim [da Silva] Jorge, régulo da Tabanca de Ferrel / Peniche, ex-alf mil, CCAÇ 616, Empada, 1964/66, BCAÇ 619, Catió, 1964/66), bancário reformado, ex-autarca e ativista comunitário, para aqueles de nós que  puderem,  estarmos hoje, na sua terra natal, para o lançamento do seu livro "Ferrel através dos Tempos".

O evento realiza-se em Ferrel, concelho de Peniche,  hoje dia 9 de agosto, 6ª feira, às 17h00, no salão de festas do Jardim Infantil de Ferrel.  (**)

Recorde-se, por outro lado, que Ferrel está em festa, desde o dia 5 até ao dia 10.  E no último dia, sábado, dia 10, às 15h30, irá realizar-se a famosa corrida de burros, seguarmente a mais dibvertida (se não mesmo a mais famosa!)  do planeta...  A não perder!... Absolutamente!... Vai já na 52ª edição!


Guiné 61/74 - P20044: Parabéns a você (1661): Anselmo Reis Garvoa, ex-Fur Mil Op Esp da CCAÇ 2315 (Guiné, 1968)

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Nota do editor

Último poste da série de 8 de Agosto de 2019 > Guiné 61/74 - P20042: Parabéns a você (1660): Henrique Martins de Castro, ex-Soldado Condutor da CART 3521 (Guiné, 1971/74) e José Santos, ex-1.º Cabo Auxiliar de Enfermeiro da CCAÇ 3326 (Guiné, 1971/73)