Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
sexta-feira, 30 de abril de 2021
Guiné 61/74 - P22157: Consultório militar do José Martins (64): Análise ao Artigo 19 (Honras Fúnebres) do Estatuto do Antigo Combatente - Anexos
Porque nunca é demais informar, o nosso camarada José Martins (ex-Fur Mil TRMS, CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), em mensagem de 28 de Abril de 2021, mandou-nos um trabalho com a sua análise ao Artigo 19 (Honras Fúnebres) do Estatuto do Antigo Combatente.
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Nota do editor
Último poste da série de 30 DE ABRIL DE 2021 > Guiné 61/74 - P22156: Consultório militar do José Martins (63): Análise ao Artigo 19 (Honras Fúnebres) do Estatuto do Antigo Combatente
Guiné 61/74 - P22156: Consultório militar do José Martins (63): Análise ao Artigo 19 (Honras Fúnebres) do Estatuto do Antigo Combatente
Porque nunca é demais informar, o nosso camarada José Martins (ex-Fur Mil TRMS, CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), em mensagem de 28 de Abril de 2021, mandou-nos um trabalho com a sua análise ao Artigo 19 (Honras Fúnebres) do Estatuto do Antigo Combatente.
OBS: - Seguem-se os Anexos referidos no texto
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Nota do editor
Último poste da série de 29 DE ABRIL DE 2021 > Guiné 61/74 - P22153: Consultório militar do José Martins (62): X Recenseamento Geral da População Portuguesa de 1960
Guiné 61/74 - P22155: Esboços para um romance - II (Mário Beja Santos): Rua do Eclipse (50): A funda que arremessa para o fundo da memória
Queridos amigos,
Aqui se exprime o desapontamento quanto aos trabalhos que impunha a intervenção na sede do Batalhão, em Bambadinca, foi adaptação difícil para quem vivera aqueles 17 meses nos confins do mato.
Annette pesquisa na Flandres túmulos de um amigo de Paulo, para ela foi um aliciante e um pretexto para revisitar Ypres e voltar a ver uma tia quase nonagenária. Interrogou-se em Poperinge quando visitou um museu referente às centenas de execuções dos chamados desertores ou cobardes ou opositores de consciência, escutou um vídeo em que o neuropsiquiatra justificava que a generalidade das situações se prendiam a stress pós-traumático de guerra, e questionou-se sobre estas leis humanas em que um ser humano doente tem que estar implacavelmente enquadrado dentro das regras que justificam o denodo, a total disponibilidade para sair da trincheira e avançar para as metralhadoras e praticar o heroísmo. Mas Annette está feliz, sabe que está a organizar um passeio para gozar da companhia do seu amado, e um dos tombados em combate até justifica um outro passeio, ao Memorial de Arras, em Pas de Calais, cemitérios não faltam, houve tantos milhões de mortos. Como escreve Annette, ela não precisa de se conduzir como uma Penélope, o seu Ulisses é praticamente omnipresente, telefona e escreve, e a renda que lhe coube nas mãos é este relato de uma guerra que há poucos anos atrás ela totalmente desconhecia, num ponto de África que hoje se chama Guiné-Bissau. Relato que tem factos e dados impressionantes, ainda faltam muitos meses para registar o que foi a guerra de Paulo Guilherme e prevê-se ainda faltam uns bons anos para que os dois amantes vivam juntos, onde quer que seja.
Um abraço do
Mário
Rua do Eclipse (50): A funda que arremessa para o fundo da memória
Mário Beja Santos
Paulo adoré, Tive a sorte de sair de Bruxelas e proporcionou-se ir fazer uma exploração na Flandres, nos imensos cemitérios onde tombaram centenas de milhares de militares, na região de Ypres, foi o pedido que tu me fizeste para esclarecer o teu amigo. Na terça-feira saí cedo para trabalhar em plena Antuérpia numa conferência europeia sobre regras de portos de pesca e normalização de procedimentos aduaneiros. Nós já tivemos em Antuérpia, lembro-me do imenso prazer de nos passearmos pela área portuária, espero dar-te satisfação com estas imagens que te mando, recordação dos nossos dias tão felizes. O meu diretor dera-me uma agenda para dois dias, a reunião dos portos de pesca terminou à hora do almoço e a equipa de intérpretes seguiu para Bruges, nova conferência europeia, tema completamente diferente, uma reunião dos médicos de família, tinha a ver com a reorganização dos serviços de saúde e com o diálogo com os outros profissionais. Ainda não te falei da minha tia Charlotte, a irmã mais nova da minha irmã adotiva, vive nos arredores de Ypres, quinta-feira nós não tínhamos trabalho, julguei ser a feliz circunstância para lhe telefonar e pedir que me deixasse ficar na sua companhia, inventei que no dia seguinte havia trabalho em Ypres. Tomei em atenção os nomes que me distribuíste, John Sinclair Minto, um sapador falecido em 19 de junho de 1917, está no novo cemitério militar de Poperinge. Confesso que foi um momento de grande aflição, entrei numa área museológica onde se mostrava o local das execuções de desertores, daqueles que se recusavam a combater, visitei as salas de julgamento sumário, tive em conta um vídeo em que se mostrava, através das relações de um médico, que houvera um número elevado de execuções dos chamados desertores ou cobardes que no fundo sofriam perturbação de stress pós-traumático. Confesso-te, meu adorado amor, que não foi uma experiência muito agradável. O velho cemitério militar corresponde aos mortos na primeira batalha de Ypres, junho de 1915. Visitar cemitérios não tem sido hábito meu, percorri a Normandia e toda a região entre Lille e a Flandres, pejada de cemitérios. Encontrei também referência do túmulo de um outro parente desta família Minto, John Archibald, morto em combate em 21 de março de 1918, pertencia ao Royal Scots Fusiliers. Nos arquivos de Ypres, que visitei à tarde, e devo-te dizer que é esmagador passar por aquele arco onde gravaram uma infinidade de nomes, descobri que August Lance Minto está sepultado em Arras, tenho agora os elementos todos da sua sepultura, é tudo uma questão de nas férias grandes irmos a Pas de Calais.
Não trouxe comigo o dossiê que estou a organizar sobre os teus primeiros tempos em Bambadinca, mas deu imediatamente para perceber o grau de deceção que sentiste nos trabalhos que vos distribuíram, e que tu abominaste, cito expressões tuas: na obrigação de andar às voltas perto do campo de aviação, um género de patrulhamento noturno, com a hipótese de emboscar, tu protestaste veementemente alegando que dois bons atiradores escondidos na mata abateriam a coluna em movimento sem dificuldade; depois há aquele corrupio de levar mantimentos a uma secção que está em Sinchã Mamajã, vir depois a Afiá e trazer doentes à consulta em Bambadinca, deixando ali sacos de arroz, seguir de Bambadinca para Bafatá para levar correio e expediente para o coronel do agrupamento; a seguir ao almoço patrulhar nos Nabijões, regressar no lusco-fusco, jantar e emboscar de novo. E muito me impressionou uma carta tua que se tu achares bem deverá fazer parte do livro:
Estou na mesma messe de oficiais de onde partir em 4 de agosto do ano passado na companhia de Saiegh, de Mamadu Camará, Abdulai Djaló e Sadjo Baldé, rumo ao Cuor. O ambiente é o mesmo dessa época, os oficiais são outros. As noites são suaves, joga-se bridge, xadrez e damas, nalguns quartos joga-se lerpa, perde-se e ganha-se dinheiro. Os meus soldados africanos vivem na tabanca que se estende desde os baixios da rampa até ao porto, mesmo a beijar o Geba. Fui fiador de todos eles, por razões de despesas de instalação, ninguém pode imaginar o que é o dia dos pagamentos com a lista de descontos, incluindo os empréstimos e as dívidas entre eles. Para a segurança de todos, as caixas de munições, as bazucas e os morteiros estão depositadas no paiol do quartel. A tropa europeia fica em casernas, bem perto de mim, por detrás da capela e da escola. Este ritmo trepidante tem o condão de me destruir o sono repousante, venho de madrugada, demoro imenso a conciliar o sono, não paro de pensar nas voltas que damos à volta de uma pista de aviação iluminada, como fáceis alvos humanos a abater. Já tinha tido vida de quartel, é evidente, mas depois do Cuor tive que me habituar ao barulho das portas a abrir e a fechar, às casquinadas, às permanentes chegadas e partidas de oficiais de todas estas unidades do Leste. Este mês tenho que poupar dinheiro, vim de Missirá com a roupa toda destruída pela Binta. Dentro de dois dias mudo de agenda, passo as noites num local fétido chamado a ponte do rio Undunduma. Amanhã tenho um imprevisto, vamos a Amedalai, um destacamento de milícias a caminho do Xime, uma grua de 16 toneladas guinou para dentro da bolanha, toda a equipa de desempanadores vai para lá e tem de montar segurança. Às vezes cumpre-me ser oficial do dia, faço o mesmo que fazia nos Arrifes, na ilha de São Miguel: assistir às refeições e às formaturas, tomar nota das ocorrências, fazer rondas e outras rotinas. Recebi uma longa carta do meu querido amigo Carlos Sampaio, que está de férias na Anadia, muitíssimo triste, dá-me notícia que encontrou no ateliê, olhou para todos os seus quadros, e esquartejou-os. não sabe bem porquê, sente-se à deriva, o que construiu com a sua visão da arte acha que não merece ficar para o futuro.
O comandante do batalhão tentou praxar-me, inventou que eu seria um género de mestre de cerimónias da professora da escola. A senhora é gentil, foi professora no Cuor antes da guerra, é um prazer ouvi-la falar desses tempos de paz. Disse-me que havia livros sobre as guerras travadas no princípio do século, vai falar com alguns amigos que os possuem e depois empresta-mos. A professora vive com a mãe, gosta de me convidar para beber chá, numa das visitas achou por bem desabafar, não sabia o que lhe responder: “Vivo numa terra de brutos. Aqui ninguém lê Stendhal, Flaubert, Balzac, Camilo ou Eça de Queirós. Os brancos são, de um modo geral, uns analfabetos que só pensam em compras e vendas. Não pode imaginar a solidão em que vivo”. Meu adorado Paulo, na tua ausência podes imaginar o consolo que para mim representa mergulhar neste passado, ver fotografias, até mandei ampliar aquela em que tu participaste na cerimónia do Ramadão em dezembro de 1968, dizes ter comprado 14 metros de sarja e que a camisa tinha um lindo bordado em linha púrpura, aqui te vejo empunhar uma espada e a sorrir. E eu interrogo-me o que é a vitalidade dos teus 23 anos, a superação das canseiras entregando-te a causas ligadas ao bem-estar de quem vivia naquele ambiente sempre à espera da guerra e da destruição.
E assim me despeço, Penélope iludia aqueles que queriam passar com ela desfazendo de manhã o que rendilhara à noite, era essa a sua contumaz fidelidade a Ulisses, eu não preciso de desfazer renda, tenho o privilégio de receber os teus telefonemas, o anúncio que virás em breve e que só anseias, em definitivo, viver na minha companhia. O que mais pode esperar a tua Annette que este amor verdadeiro que transformou as nossas vidas? Bisous, muitos mil e multiplicados, bien à toi, Annette
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Nota do editor
Último poste da série de 23 DE ABRIL DE 2021 > Guiné 61/74 - P22127: Esboços para um romance - II (Mário Beja Santos): Rua do Eclipse (49): A funda que arremessa para o fundo da memória
Guiné 61/74 - P22154: Depois de Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74: No Espelho do Mundo (António Graça de Abreu) - Parte II: Buenos Aires, Argentina, janeiro de 2020
Fotos (e legendas): © António Graça de Abreu (2021). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
1. Continuação da nova série (*) de António Graca de Abreu [, ex-alf mil, CAOP1, Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74: escritor e docente universitário, epecialista em língua, literatura e história da China; natural do Porto, vive em Cascais; é autor de mais de 20 títulos, entre eles, "Diário da Guiné: Lama, Sangue e Água Pura" (Lisboa: Guerra & Paz Editores, 2007, 220 pp); viajante compulsivo com duas voltas em mundo, em cruzeiros, é casado com a médica chinesa Hai Yuan, natural de Xangai, e tem dois filhos dessa união, João e Pedro; membro da nossa Tabanca Grande desde 2007, tem mais de 270 referências no blogue]
Buenos Aires, Argentina, Janeiro 2020
Comecei o dia no bairro de La Recoleta, com dois ilustres falecidos, Jorge Luís Borges e Eva Perón.
Com Borges, de corpo inteiro no café de La Biela (Foto nº 1), conversámos sobre o seu bisavô transmontano, de Torre de Moncorvo, e questionei uma frase sua: “La democracia es una superstición bien difundida, es uno abuso de las estatísticas y además no creo que tenga ningún valor.” No rosto envelhecido de Borges, talhado a golpes de cinzel, aflorou-lhe um levíssimo sorriso. “Quer perguntar mais alguma coisa?” Eu queria, mas não perguntei mais nada.
Fui depois ao encontro de Eva Perón, no jazigo de mármore negro onde descansa, o corpo embalsamado resguardado a cinco metros sob a terra. Passei a palma da minha mão numa placa de latão com a efigie de Evita (Foto nº 2). Antes e depois de morta, houve ainda tanta jornada pelo mundo! Descansa em paz, senhora.
Na Praça de Maio, a Casa Rosada (Foto nº 3), o instável poder político, as mães e avós todas as semanas pedindo justiça pelos seus filhos desaparecidos, assassinados há quatro décadas. A paz, ao lado, na catedral do arcebispo da diocese, hoje papa Francisco (Foto nº 4).
Dias de Buenos Aires, o bairro de San Telmo, compras na feira ao ar livre, comidas, parrilhadas, o bife de chorizo, o bom vinho argentino.
A sul de San Telmo, outro bairro, La Boca. Uma rua chamada Caminito é também nome de tango. Por perto, o mítico estádio de futebol conhecido por La Bombonera, com a forma de uma caixa de bombons. Por aqui, no Boca Juniors, singrou e brilhou Diego Maradona.
Jantar-espectáculo com doze bailarinos, uma cantora e cinco músicos, piano, percursão, bandameón, violino e viola baixo. O sentir dos corpos, o libertar da alma. Caída de um limbo celestial, uma jovem cantora, imaculadamente vestida de branco, tal como Evita Perón, cantou:
No llores por mi Argentina,
Mi alma está contigo,
Mi vida intera te la dedico,
Mas no te alejes, te necessito.
Grande tango, boa noite, Buenos Aires!
quinta-feira, 29 de abril de 2021
Guiné 61/74 - P22153: Consultório militar do José Martins (62): X Recenseamento Geral da População Portuguesa de 1960
O nosso camarada José Martins (ex-Fur Mil TRMS, CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), em mensagem de 25 de Março de 2021, mandou-nos um trabalho sobre o X Recenseamento Geral da População ocorrido no ano de 1960.
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Nota do editor
Último poste da série de 14 DE ABRIL DE 2021 > Guiné 61/74 - P22103: Consultório militar do José Martins (61): Implementação do Estatuto do Antigo Combatente - Últimos desenvolvimentos
Guiné 61/74 - P22152: In Memoriam (392): Claúdio Ferreira (1950-2021), ex-fur mil art, CART 3494 (Xime e Mansambo, 1971/74)... Passa a integrar, a título póstumo, a Tabanca Grande, sob o nº 840 (Jorge Araújo)
IN MEMORIAM
HOMENAGEM AO CAMARADA
CLÁUDIO MANUEL MARQUES FERREIRA [1950-2021]
- Ex-Fur Mil Art da CART 3494 (Xime-Mansambo, 1971-1974) –
por Jorge Araújo
Camaradas,
Serve o presente para dar-vos conta de mais uma notícia que nunca estamos preparados ou desejamos fazê-lo. Trata-se de mais uma baixa no contingente da minha CART 3494, desta feita a do meu/nosso camarada Cláudio Manuel Marques Ferreira (1950-2021), ex-furriel do meu Grupo de Combate (o 1.º), com quem partilhei, durante os já longínquos anos de 1972-1974, para além do mesmo espaço de pernoita, muitos momentos de verdadeira amizade e solidariedade e, também, muitas emoções, nomeadamente ao calcorrear os mesmos caminhos que nos "couberam em sorte", todos eles situados a sul do Xime.
Com efeito, este triste e sentido desfecho já estávamos a prever há algum tempo, precisamente quando o telemóvel do Cláudio Ferreira deixou de comunicar. É que no final do mês de Março, o camarada António Bonito contactou-me perguntando se sabia algo sobre o camarada Cláudio Ferreira, uma vez que lhe ligou mas o seu telefone estava desligado. Este era o indício do que já tinha acontecido… e que hoje foi, lamentavelmente, confirmado.
Descansa em paz, camarada Cláudio Ferreira!
Em sua homenagem, recordo aqui alguns momentos que fazem parte da memória colectiva da CART 3494, que no próximo mês de Outubro comemora meio século de existência, quando a Unidade se constituiu no RAP 2, em Vila Nova de Gaia, preparando a sua missão Ultramarina.
Foto 1 > Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Sector L1 (Bambadinca) > Xime > Setembro de 1972 > Da esquerda para a direita: Cláudio Ferreira, João Godinho e Jorge Araújo, trio de furriéis responsáveis pelo 1.º Gr Comb.
◙ - MEMÓRIAS DO DIA 9 DE AGOSTO DE 1972 (VÉSPERA DO NAUFRÁGIO NO GEBA)
(…) O dia 09 de Agosto de 1972, 4.ª feira, foi passado no cumprimento das diferentes tarefas logísticas internas como sejam: limpeza, recolha e abastecimento de água pelos diferentes abrigos e outros serviços de manutenção ao aquartelamento, sob a orientação operacional dos três furriéis do grupo: Cláudio Ferreira, João Godinho e Jorge Araújo.
Concluídas as diferentes missões, o restante tempo que faltava para encerrar o dia foi utilizado no jantar, na messe, e depois recolhemos ao nosso "TZero", procurando recuperar energias para o dia seguinte, já que a missão atribuída na escala era de «intervenção», desconhecendo-se, naquele momento, o que estava previsto ou pensado para esse efeito.
Já na posição de deitado, recebendo o ar fresco da ventoinha suspensa na estrutura da cabeceira da cama, pois estávamos na "época das chuvas", eis que entra no quarto o camarada Cláudio Ferreira, com ar de poucos amigos, contando que tinha sido chamado ao Gabinete do CMDT da Companhia, ex-Cap. António José Pereira da Costa, líder da CART 3494 desde 22Jun1972, recebendo instruções para preparar a sua Secção (Bazuca) reforçada com mais alguns elementos do Gr Comb (o 1.º), com o objectivo de no dia seguinte, de manhã, participar num patrulhamento a efectuar na margem direita do Rio Geba, estando prevista a inclusão, na acção, do Major de Operações do BART 3873, ex-Major de Artª. Henrique Jales Moreira.
Perante os sinais de ansiedade transmitidos em cada frase emitida e o nervosismo sentido em cada movimento corporal, logo o questionámos – eu (Jorge Araújo) e o João Godinho – o que se passa contigo?
A resposta não foi imediata. Mas, depois de alguma insistência, afirmou sentir-se um pouco em baixa de forma. Perguntei-lhe se queria que eu fosse no seu lugar. A sua resposta foi afirmativa, deixando cair, então, um grande fardo que tinha sobre os seus ombros. (…)
Seria que estava a adivinhar ou a persentir algo negativo? – (ver P10246)
Foto 2 > Guiné > Zona Leste >Região de Bafatá > Sector L1 (Bambadinca) > Xime > Dezembro de 1972 > Messe de Sargentos - Da esquerda para a direita J. Pacheco [Fur, 20.º Pel Art], João Godinho [Fur], Serradas Pereira [Alf], João Fernandes [Fur], Cláudio Ferreira [no acto de cantar] e Jorge Araújo [de costas].
Foto 3 > Guiné > Zona Leste >Região de Bafatá > Sector L1 (Bambadinca) > Mansambo > Abril/1973 > Em 1.º plano, da esquerda para a direita: os Furriéis Jorge Araújo, Cláudio Ferreira, Abílio Oliveira e João Godinho; em 2.º plano (e pela mesma ordem): Acácio Correia [Alf], Luciano Costa [Cap], Luciano de Jesus [Fur] e José Araújo [Alf, 1946-2012].
Foto 4 > Guiné > Zona Leste >Região de Bafatá > Sector L1 (Bambadinca) > Mansambo > Julho de 1973 > Da esquerda para a direita, Carvalhido da Ponte [Fur Enf], Acácio Correia [Alf], Cláudio Ferreira [Fur], Manuel Ramos [1.º Cabo - 1950-2012] e Rogério Silva [Sold Radiot - 1950-2002] (foto do álbum do Acácio Correia).
◙ - VISITA AO CLÁUDIO FERREIRA NO CENTRO DE MEDICINA DE REABILITAÇÃO DE ALCOITÃO EM 28 DE JULHO DE 2015
Quanto ao seu estado físico, ele tem a sua génese num acidente de viação, ocorrido em 2009 no IC9, entre Tomar e o Entroncamento, que lhe provocou várias fracturas expostas em ambos os membros. Ao fim de um ano em recuperação a sua mobilidade permitia-lhe já fazer uma vida normal.
Em 2014, seis anos depois, começou a sentir sinais de falta de equilíbrio até que um dia [em Novembro], ao descer os degraus da escada da sua habitação, em Santarém, caiu desamparado, voltando a fracturar a perna esquerda em vários sítios, entre eles o fémur.
Levado para o Hospital local, aí foi sujeito a uma intervenção cirúrgica. No recobro, durante a recuperação da anestesia, nos primeiros períodos em que esteve acordado tomou consciência do seu corpo. Tudo parecia funcionar. Porém, decorrido algum tempo nesse estado de repouso, entre vigílias e sonos, constatou que não executava a motricidade voluntária dos membros inferiores, pelo que chamou a equipa médica, disso lhe dando conta.
Feitos os exames de diagnóstico do protocolo, voltou ao Bloco para nova cirurgia. Foi-lhe dito, sumariamente, pela equipa médica desta segunda operação, que tinha sido removido um coágulo sanguíneo, o qual contribuiu para esta última situação.
Daí estar no Centro de Medicina de Reabilitação de Alcoitão, entregue à supervisão técnica dos especialistas nesta área científica, na expectativa de recuperar o que deixou de funcionar de um momento para outro – a mobilidade dos membros inferiores.
Eis algumas imagens dessa nossa visita.
Foto 5 > Cascais > Alcoitão > Julho de 2015 > O camarada Cláudio Ferreira durante a amena cavaqueira, recordando momentos passados em comum há mais de quatro décadas, no CTIG.
Foto 6 > Cascais > Alcoitão > Julho de 2015 > O camarada Cláudio Ferreira ouvindo o relato do Acácio Correia (à direita), relacionado com a sua visita à Guiné-Bissau, em 1998, na qual incluiu os locais palmilhados pelo colectivo da CART 3494.
Foto 7 > Cascais> Alcoitão > Julho de 2015 > Um novo trio olhando para a câmara do camarada Luciano de Jesus: da esquerda para a direita, Jorge Araújo, Acácio Correira e Cláudio Ferreira
Foto 8 > Cascais > Alcoitão > Julho de 2015 > A equipa que conviveu com o camarada Cláudio Ferreira, levando-lhe os afectos e a solidariedade de todos os membros da CART 3494.
Foto 9 > Cascais > Alcoitão > Julho de 2015 > O camarada Cláudio Ferreira dirigindo-se ao colectivo dos «Fantasmas do Xime», enviando-lhes um GRANDE ABRAÇO e votos de muita saúde. Fotos (e legendas): © Jorge Araújo (2021). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Hoje, que soubemos da sua morte, resta-nos enviar à sua família, e amigos, os nossos mais sentidos pêsames, dizendo-lhes que o nosso camarada Cláudio Ferreira continuará a estar presente… SEMPRE!
Saudações,
Jorge Araújo.
28.Abr2021
Comentário do editor LG:
Jorge, e continuará sempre, na nossa memória, o Claúdio Ferreira, ao passar a integrar, a título póstumo, a nossa Tabanca Grande. Ficará, simbolicmante, inumado, no talhão nº 840, à sombra do nosso sagrado poilão. (**)
Fico sensibilizado também pela vossa solidariedade, ao visitá-lo no Centro de Medicina de Reabilitação de Alcoitão, em julho de 2015 (***). São exemplos desses que devem ser conhecidos e louvados.
Fica também aqui expressa, em público, a nossa solidariedade na dor, endereçada à família e aos amigos e camaradas mais próximos.
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Notas do editor:
(*) Último poste da série > 7 de abril de 2021 > Guiné 61/74 - P22077: In Memoriam (391): Maria Cristina Robalo Allen Revez (8/3/1943 - 5/4/2021) - A Cristina, a Guiné e a sua presença na nossa sala de conversa (Mário Beja Santos)
(**) Último poste da série > 29 de março de 2021 > Guiné 61/74 - P22048: Tabanca Grande (517): Jean Soares, ex-1º cabo de radiolocalização, Batalhão de Reconhecimento de Transmissões (Trafaria, e Maquela do Zombo, 1972/75): enfermeiro psiquiátrico reformado, a viver em França, em Caen, Normandia, e que está a tentar a recuperar a nacionalidade portuguesa que perdeu... Nasceu em Pirada... Senta-se à sombra do nosso poilão, no lugar nº 839.
(***) Vd. poste de 26 de setembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15162: História da CART 3494 (10): A dimensão humana do colectivo da CART 3494 (Jorge Araújo)