segunda-feira, 2 de outubro de 2023

Guiné 61/74 - P24720: Coisas & loisas do nosso tempo de meninos e moços (6): Olha o ceguinho de um olho, é prà pulga e prà piolho! (Luís Graça, Lourinhã)


Fonte Propagandas Históricas (com a devida vénia...) 

"Olha o ceguinho de um olho, é prà pulga e prò piolho!"...

por Luís Graça (*)


1. Eu ainda sou do tempo do óleo de fígado de bacalhau. Na idade de ir para  a escola, já com sete anos feitos (em 29 de janeiro de 1954), a caminho portanto dos 8,  lembro-me de tomar,  às refeições, uma colher de sobremesa   desse "milagroso óleo" que nos anos 40 e 50 do século passado estava na moda. 

Já não posso precisar se era uma colher de sopa, a "dose de cavalo", se apenas uma colher de sobremesa, quantidade mais indicada para crianças abaixo dos 12 anos. Nem sei se tomava  todos os dias. 

Como o nome sugere,  o óleo de fígado de bacalhau  ("cod liver oil", em inglês) era(é) extraído do fígado do bacalhau, considerado rico em vitamina A, vitamina D e ómega 3. 

 Na época, no pós-guerra, eram ainda muitas as carências aiimentares, e à nossa mesa não chegavam os suplementos nutricionais de hoje.  A criança comia a comida dos adultos,  e o próprio leite, â parte o leite materno, era um luxo. (O Oeste não era uma zona de criação de gado leiteiro, e uma grande parte dos seres humanos são intolerantes à lactose.)

Ao que parece, o óleo de fígado de bacalhau já dera utilizado há muito como complemento alimentar nos países do Norte da Europa, em especial nos países nórdicos, onde era(é) mais a baixa a exposição da pele ao sol (importante fonte de  produção de vitamina D). 

Por sua vez, a  Emulsão Scott,  um medicamento tradicional à base de óleo de fígado de bacalhau, era popular na América desde os anos de 1830.

No sítio brasileiro, Propagandas Históricas, fomos encontrar um anúncio de 1906 fazendo a publicidade dos benefícios do óleo de fígado de bacalhau. Era uma "preparado especial", da firma  J. Coelho Barbosa & C. Vendendo-se nas farmácias. de São Paulo, apresentava-se como  um conccorrente ("homeopático"...) da industrializada Emulsão Scott dos gringos.

O óleo de figado de bacalhau  continua hoje a vender-se nas farmácias ou nas lojas de produtos naturais, em cápsulas ou em emulsão ("xarope")... No nosso tempo, o raio do "xarope"  (que fazia bem aos ossos...) tinha um cheiro e sobretudo um sabor extremamente desagradáveis. A nossa primeira reação era de recusa, rejeição, vómito. 

As nossas mães, para nos obrigar a tragar a "horrível mistela", apertavam-nos o nariz, sem qualquer cerimónia. Com a goela escancarada, era só enfiar pela boca abaixo uma colherada do "xarope"... Era a nossa tortura (já não me lembro se era diaria e se era ao almoço, se ao jantar).

Segundo apurei, numa das farmácias da Lourinhã do pós-guerra, o óleo de fígado de bacalhau era fornecido em grandes frascos e depois acondicionada em frascos mais pequenos, para venda ao público. Recorde-se que só a partir os anos 50 há uma desenvolvimento, exponencial, da indústria farmacêutica. As farmácias  tinham muito poucas caixas de medicamentos  (aspirina, supositórios, e pouco mais).  Viviam  até então da manipulação de fórmulas,  da venda de "produtos naturais",  tudo em frascos.  

2. Na época tínhamos problemas de subnutrição, raquitismo, pulmões e... "escrófulas" ("doença crónica e hereditária das glândulas linfáticas em que se alteram os fluidos que contêm, formando tumores que se podem ulcerar", segundo a sintética definição do Dicionário Priberam da Língia Portuguesa)... Havia muita miudagem "escrufulosa" (que termo horroroso!)  e  nessa época o arsenal terapêutico ainda era muito reduzido...  

Andávampos sempre com montes de infeções, nomeadamente nas pernas e braços... O antibiótico mal tinha chegado e a vacinação (obrigatória) também chegava tarde à escola. (Acho que a primeira vacina que tomei foi a BCG. ) A tuberculose tinha ainda uma alta taxa de incidência, tal como as enterites, as diarreias, os problemas respiratórios e outras doenças infeto-contagiosas... 

A falta de higiene pessoal e ambiental (não havia recolha do lixo, ia tudo para o quinteiro ou esterqueiro, nos campos), o contacto com a terra, o estrume, os dejetos humanos,  etc., a par das deficièncias alimentares e da falta de serviços públicos de saúde  (só mais tarde apareceram os centros de saúde materno-infantil, na década de 60) explicam uma parte da morbimortalidade das crianças, no campo e na cidade...

Para dar um exemplo: quando eu tinha 14 anos, em 1961, no início da guerra colonial, ainda morriam 88,8 crianças com menos de um ano de idade por cada 1.000 nascimentos (!). (Cerca de 120, no imediato após-guerra.)

Nos anos 50 havia três médicos residentes na minha vila,  para uma população que devia andar já perto dos 22 mil (o concelho).

Também sou do tempo em que, no início dos anos 50,  se começou a beber leite, na minha terra e na minha rua...

 Um vizinho, que na periferia da vila, criava vacas leiteiras começou a vender leite porta a porta, com a bilha de folha de Flandres ao ombro... Leite ainda quentinho da vaca, que não passava por nenhum processo de pasteurização nem controlo de higiene  ou qualidade...

São estas e outras as lembranças, ainda vivas, da minha infância passada na Rua do Castelo. O ti’ Clemente Leiteiro, com a bilha do leite, de folha de Flandres já muito amolgada, que ia de porta em porta, vendendo um quartilho de leite,  acabado de tirar da teta da vaca!... Só não me lembro do seu pregão... "Leite que sabia a mijo", diziam os putos com as mães a apertarem-lhes o nariz para eles abrirem a boca. O leite, o óleo de fígado de bacalhau e, já agora, os ovos crus (com um furinho em cada ponta, para a gema e  a clara sairem inteirinhos, num jacto),  tomavam-se a fazer caretas… mas eram a medicina do pobres. 


3. Também sou do tempo do DDT (sigla de diclorodifeniltricloroetano), considerado o primeiro grande pesticida moderno, com extensivo e intensivo uso durante e após a II Guerra Mundial para combater doenças como a malária e o tifo (que dizimavam os soldados nos países subtropicais), e depois as pragas agrícolas. 

 As nossas mães, sem suspeitarem sequer dos graves inconvenientes que, a longo prazo, tinha o raio do inseticida para  a saúde humana (e ambiental) , utilizavam o DDT alegremente para matar pulgas e piolhos, não só na roupa da cama como no couro cabeludo da criançada ("canalha", no Norte).... 

Quando chegávamos a casa, com um camadão de piolhos apanhados na escola,  no recreio ou nas brincadeiras de rua, era um dia de amargura... A receita dolorosa mas milagrosa era água a ferver, pente de dentes finos de osso de baleia, e DDT, nuinhos dentro da tina de  folha de Flandres, com o fundo de madeira, que servia de banheira (a casa de banho moderna ainda era um luxo que nem sequer entrava nos nossos sonhos)...

Era uma "vergonha" uma criança. filha de "gente decente" (sic), apanhar pulgas e piolhos!,,,

Há quem se lembre (gente da minha idade) de ver e ouvir o vendedor de DDT, na feira do Marco de Canaveses, nos anos 50/60, apregoar o famigerado inseticida:  "Olha o ceguinho de um olho, é prà pulga e prò piolho!"...

Felizmente o DDT acabou por ser banido, há já alguns anos (em data que de momento não posso precisar). Mas foi largamente utilizado em Portugal como insecticida nacahricultura e nas campanhas contra a malária (ou "sezões"), nomeadamente nas regiões produtoras de arroz do sul do país.

Enfim, pobretes, mas alegretes!... LG

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Guiné 61/74 - P24719: Notas de leitura (1621): "Tertúlias da Guerra Colonial"; edição da Associação dos Pupilos do Exército, 2021 (2) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 13 de Janeiro de 2022:

Queridos amigos,
Fica aqui um histórico dado por um elemento da Marinha acerca do Destacamento de Fuzileiros Especiais 8 entre 1971 e 1973, um caso de Marinha no mato, pois estavam instalados num aquartelamento em Ganturé, com missões de patrulhamento no rio Cacheu, seguiram para Gampará, aí em instalações muito precárias, atividade operacional intensa e alimentação mais deficiente, conheceram o castigo, percorreram o rio Corubal e caminharam até Buba, voltaram para Ganturé, a comissão terminou em abril de 1973, assistiram ainda a intensidade da vida operacional do PAIGC e à chegada dos mísseis. Foi esta intervenção e a de Carlos de Matos Gomes que respigámos num conjunto de tertúlias promovidas pela Associação dos Pupilos do Exército.

Um abraço do
Mário.



O modo dos portugueses fazerem a guerra no mato (2)

Mário Beja Santos

Tertúlias da Guerra Colonial é uma edição da Associação dos Pupilos do Exército, 2021, o presidente da associação convidou um conjunto de oficiais das Forças Armadas que ao longo de quatro sessões, sempre através da plataforma Zoom, analisaram as quatro dimensões tidas como mais interessantes para as tertúlias: antecedentes políticos e fundamentos; combater no mato; efeitos colaterais e sentimentos coloniais; do 25 de Abril à descolonização. Estas quatro sessões realizaram-se em outubro e novembro de 2020. É da temática “combater no mato” que vamos aqui resumir as comunicações de Carlos de Matos Gomes sobre a quadrícula do Exército e a Marinha na guerra no mato da Guiné por Alcindo Ferreira da Silva. No número anterior procedeu-se a recensão da comunicação de Carlos Matos Gomes, vejamos agora aspetos principais da intervenção de Alcindo Ferreira da Silva. Começa por nos dizer que no início dos anos 1970 a Marinha tinha na Guiné três Destacamentos de Fuzileiros Especiais de origem metropolitana e dois Destacamentos de Fuzileiros Especiais Africanos. Ele chegara a Bissau em princípios de junho de 1971. Seguiu para o mato, primeiro para Ganturé, situado na margem norte do rio Cacheu, junto de um antigo armazém da CUF, 9 casamatas-abrigos dispostos em círculo, e descreve o ambiente. No rio havia uma ponte cais onde atracavam com frequência a lancha de fiscalização grande que estava em missão na área e as lanchas de desembarque média que patrulhavam o rio. Da ponte cais partia uma picada que atravessava a base e se dirigia em linha quase reta até Bigene, onde estavam outras unidades militares. A missão principal do destacamento consistia em efetuar a interdição da passagem de pessoal e material do Senegal para o interior do território da Guiné através do corredor de Sambuiá, para além de efetuar operações na margem sul com o objetivo de desarticular o dispositivo do PAIGC.

Dois botes com três fuzileiros cada, armados com uma metralhadora e bazucas e outros elementos armados com armas ligeiras fiscalizavam o tarrafo à procura de indícios da presença do inimigo. Por vezes os botes eram emboscados na entrada ou passagem de uma clareira ou deparavam com uma canoa ou bote de borracha atravessar o rio. Uma ou duas vezes por semana, o destacamento realizava uma operação na margem norte do rio Cacheu para tentar intercetar alguma coluna de reabastecimento do PAIGC. Quando as operações se realizavam na margem sul tinham como objetivo assaltar acampamentos, eram recontros normalmente breves.

Ao fim de uns meses, o destacamento saiu de Ganturé e foi enviado para Gampará onde decorria, desde há cerca de dois meses uma operação de reocupação do território e ali se preparava a construção de reordenamento. Ali se encontraram com o Destacamento de Fuzileiros Especiais 21 de fuzileiros africanos e uma companhia do Exército. O acantonamento era constituído por um quadrado desenhado por covas de lobo, cobertas por ramagem, à sua volta construíram-se mesas e bancos, enfim uma vida muitíssima rudimentar. Nas redondezas do acantonamento encontravam-se alguns grupos dispersos de população que tinha sido desalojada das suas tabancas quando estas foram destruídas no início da ocupação. As restantes populações e os guerrilheiros do PAIGC tinham retirado alguns quilómetros para a margem sul do rio Pedra Agulha, junto de Ganquelé. Foi intensa a atividade operacional, nas atividades de proteção, patrulhando a região afim de contrariar a penetração dos guerrilheiros para norte do rio Pedra Agulha. Operações que exigiam um esforço físico violento, em percurso em corta-mato, em zonas em que se respiravam impregnado de pó da terra e do capim queimado. Dois meses e meio que levaram a um pleno cansaço, foram depois rendidos por uma companhia de paraquedistas. Depois de uns dias de descanso em Bissau partiram para operação conjunta Pato Azul, na região do Quínara, em que participaram forças especiais. Após Gampará foram enviados para Cacheu, com a missão de patrulhar o rio e afluentes e de realizar semanalmente uma ou duas operações nas proximidades da Caboiana, um santuário do PAIGC. Com alguma regularidade, também efetuavam operações conjuntas. Ao fim de três meses, foram novamente enviados para Gampará, aqui houve um incidente entre um fuzileiro e um elemento do Exército, Spínola determinou que o destacamento, por castigo, realizasse uma operação, subiram em botes o rio Corubal e percorreram cerca de 40 quilómetros uma região controlada pelo PAIGC, até Buba.

Meses depois, seguiram novamente para Ganturé, aqui terminou a comissão em finais de abril de 1973. Foi em Ganturé que se começou a percecionar a intensificação da atividade da guerrilha, viveram os últimos dias em Ganturé com o aparecimento de dois mísseis. Esta foi a vida no mato do Destacamento de Fuzileiros Especiais 8. E concluiu assim a sua intervenção:
“O estar no mato significou, para todos os que por lá andaram, o possível e o próximo contato de fogo quando saiam para operações no mato ou no decorrer dos ataques ao aquartelamento nas suas horas de serviço ou descanso e, por isso, a necessidade permanente de manter a disciplina e a segurança, a coesão e o espírito de unidade, o treino e as armas sempre prontas, mas o que marcava este decorrer dos dias era, sobretudo, a rotina, a espera de que qualquer coisa acontecesse, a contagem do tempo que não passava, o isolamento, a solidão mesmo que rodeado de camaradas, ausência de informação, a saudade e para muitos a participação numa guerra imposta, ou injusta, ou sem sentido”.


Render fuzileiros na Guiné, imagem da RTP, com a devida vénia
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Nota do editor

Último poste da série de 29 DE SETEMBRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24712: Notas de leitura (1620): "Tertúlias da Guerra Colonial"; edição da Associação dos Pupilos do Exército, 2021 (1) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P24718: Blogues da nossa blogosfera (184): Histórias da vida real, de Fernando Magro (1936-2023): cenas pícaras da vida de um topógrafo

1. O nosso camarada Fernando Valente (Magro) (1936-2023), que nos deixou recentemente aos 87 anos,  tinha um blogue, "Portugal e o Passsado", onde publicou, entre 2011 e 2014, duas dezenas de pequenos textos sobre alguns temas da História de Portugal, que lhe eram caros, e de que já transcrevemos um, sobre a Maria da Fonte (*).

Outro dos seus blogues tinha por título "Histórias da vida real", publicado em 2016. Tem 21 postes ou postagens. Deste blogue, tomamos a liberdade de publicar um apontamento, bem humorado, retirado das sua experència profissional como topógrafo.

Recorde-se que o nosso saudoso camarada Fernando de Pinho Valente Magro (ex-cap mil art, BENG 447, Bissau, 1970/72), era engenheiro técnico de formação. Deixou-nos, em livro (e aqui publicadas no blogue) as suas "Memórias da Guiné" (Lisboa, Edições Polvo, 2005, 86 pp.). 

Era o nosso tabanqueiro nº 622, tendo ingressado na Tabanca Grande em 5/7/2013, pela mão do mano, mais novo, Abílio Magro (ex-fur mil amanuense, CSJD/QG/CTIG, 1973/74),

"A gesta de seis irmãos Magro que cumpriram Serviço Militar em África (Angola, Guiné e Moçambique)", também pode ser aqui recordada no blogue, criado pelo Abílio Magro, .Os Magros do capim.




2. Blogues da Nossa Blogosfera > "Histórias da vida real",> quarta-feira, 13 de julho de 2016 > Os trabalhos de topografia

Na minha vida profissional procedi a diversos levantamentos topográficos quer para a execução de projectos de vias rodoviárias e de abastecimentos de água a populações quer para a implantação de edifícios.

Utilizava nesses trabalhos um taqueómetro, aparelho destinado à obtenção e registo dos elementos necessários ao cálculo de distâncias e de desníveis e ao desenho dos levantamentos topográficos (plantas, perfis longitudinais e transversais).

O referido aparelho é munido de uma luneta que permite ver à distância como um binóculo. No decorrer desses meus trabalhos de campo algumas vezes me deparei com situações curiosas.

Certa vez em Bissau, na Guiné, prestando serviço para a Empresa Tecnil, tive de proceder ao levantamento topográfico de uma apreciável área de terreno, tendo em vista a implantação no local das novas instalações da referida empresa.

No fim da tarde, com o trabalho terminado, tive a ideia de fazer algumas miradas sobre os arredores do lugar algo ermo e pouco frequentado onde me encontrava. E aconteceu-me a certa altura deparar com um longínquo grupo de jovens mulheres negras e mulatas completamente nuas tomando banho num riacho. Fiquei surpreendido com tal aparição e por alguns momentos não deixei de gozar o espectáculo que elas proporcionavam.

Pude perceber que se tratava de um grupo de lavadeiras de roupa que, depois de executarem o seu trabalho, se banhavam no riacho, todas nuas, para se refrescarem possivelmente pelos seus corpos estarem transpirados devido ao trabalho que haviam efectuado ao calor inclemente da Guiné.

De outra vez estava eu a executar o projecto de uma estrada municipal entre Lamego e Resende, na região do Douro, acompanhado de um topógrafo quando tive outra divertida surpresa.

Depois de ter implantado no terreno diversas bandeirolas definindo a directriz de parte da referida estrada regressei à estação onde operava o referido topógrafo.
Encontrei-o sozinho a rir-se, soltando sonoras gargalhadas. Pensando que o meu colaborador tinha "pirado" perguntei-lhe o que se passava com ele.

- Venha, venha ver ! - foi a sua reposta.

Aproximei-me do taqueómetro, olhei pela luneta e o que vejo: uma jovem rapariga, lá longe com as mamas de fora do corpete, quando tentava atravessar uma corrente de água. A travessia dessa corrente fazia-se caminhando por uma espécie de barragem constituída por calhaus rolados.

A rapariga desequilibrava-se ao caminhar por cima dos calhaus e como era dotada de seios volumosos os mesmo com a ginástica que tinha de fazer para se aguentar de pé na passagem da levada, libertavam-se do "soutien" e saiam cá para fora. Por mais que ela tentasse acomodá-los no interior da roupa nada conseguia pois, desequilibrando-se, eles voltavam a aparecer à luz do dia.

Também me ri com a situação. Depois passei o taqueómetro ao meu companheiro que continuou a seguir a rapariga por alguns minutos e a rir-se como um desalmado.

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Nota do editor:

Último poste da série > 21 de setembro de  2023 > Guiné 61/74 - P24681: Blogues da nossa blogosfera (183): "Portugal e o passado", de Fernando Magro (1936-2023): a "revolta da Maria da Fonte" (1846)

domingo, 1 de outubro de 2023

Guiné 61/74 – P24717: Coisas & loisas do nosso tempo de meninos e moços (5): A nossa feira de setembro (José Saúde, Aldeia Nova de São Bento, Serpa)

A nossa feira de setembro



1. O nosso Camarada José Saúde, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 (Nova Lamego, Gabu) - 1973/74, enviou-nos a seguinte mensagem. 
    

Camaradas,  

Em primeiro lugar, aplaudo a excelente iniciativa que nos faz recuar ao nosso tempo de meninos e moços; em segundo lugar, aplaudo, também, tudo o que tenho lido sobre esse tempo no nosso blogue; em terceiro lugar, mas com a devida vénia, vou colocar um texto que fez parte de um dos meus livros sobre a terra que viu nascer: Aldeia Nova de São Bento – Memórias, Estórias e Gentes, uma obra que vai na segundo edição.      

O texto diz-nos como era a feira de setembro, 1, 2 e 3, na minha aldeia e os seus diversos contextos para uma miudagem que não perdia a oportunidade de acompanhar passo a passo o desenvolvimento de uma novidade, anual, que traziam normalmente novidades. Aliás, era assim esse já recuado tempo, pois, atualmente tudo mudou de forma radical. 

A nossa feira de setembro

por José Saúde

 

Aspeto geral da feira, mas numa fase de construção. Vê-se a marcação das ruas ainda incompletas 


A curiosidade da rapaziada ao longo da semana que antecedia a nossa feira que se realizava nos dias 1, 2 e 3 de setembro, apresentavam-se divinalmente ao rubro. A bisbilhotice da miudagem era interessante. Tudo começava quando se dava início ao colocar os postes de iluminação, o estender dos fios nos postes e o subsequente colocar das lâmpadas, assim como a definição das ruas. 

Seguia-se o interesse pela chegada dos primeiros tendeiros que se faziam transportar por um carro puxado por uma besta. Depois as camionetas atulhadas com o material para o carrossel, ou de carros para a pista de automóveis, e outros que transportavam tudo o que fosse importante para a montagem do circo. O circo era constituído por famílias de artistas que utilizavam as suas próprias caravanas, o mesmo sucedendo para os proprietários dos carrosséis e da pista dos automóveis. De resto, tudo passava pelo coabitar nas próprias barracas.

Na verdade, a semana era deveras estonteante para uma juventude que passara o ano a pensar na sua feira. A malta, sempre ativa, não arredava pé do recinto e inteirava-se de todos os pormenores. Seguiam-se as cavaqueiras de uma mocidade que via na feira a grande novidade desse tempo.Novidades que se estendiam por diversos acontecimentos, quiçá únicos, vistos nessa altura.           

Apareciam os vendedores de versos avulsos, os amola-tesouras, as bancas de brinquedos no exterior do mercado, gentes a pedir esmola, as tendeiras a procurarem uma costureira para lhe arranjarem um vestido, ou de pessoas dos circos, carrosséis, ou da pista dos carros a procurarem um mecânico para um pontual arranjo no seu veículo, enfim, havia de tudo um pouco.

Recordo o mestre Portela que tinha uma oficina num casão que era propriedade de Luís de Lá Féria, propriedade esta que fazia parte da sua mansão familiar, hoje essa antiga residência é pertença da Junta de Freguesia, ser muito solicitado para os amanhos dos velhos automóveis dos feirantes, sobretudo de pessoas do circo que possuíam a maioria desses de transporte. Um ano tive a oportunidade em assistir a um arranjo na oficina do Portela do automóvel do “palhaço pobre” do circo e que era um espetáculo de homem. Os seus apartes punham a malta em delírio.

O primeiro dia de feira era, na parte da manhã, destinado à corredora. Ali faziam-se os negócios do gado. Não havia cheques nem transferências bancárias. Todo o negócio era feito com dinheiro vivo. O vendedor aprontava para o preço do animal e o comprador retorquia com um valor muito abaixo do pretendido pelo dono da besta. Pelo meio aparecia o “cortador” (homem feito ao ganho de uma percentagem previamente acertada e normalmente um individuo de raça cigana), pessoa esta que fazia “chantagem” para a concretização no negócio, sendo os ciganos mestres nestas andanças.

Ciganos, “negociantes” de gado

A muito custo o vendedor lá ia cedendo ao preço lançado pelo comprador. Exemplificando: partindo do princípio que o vendedor pretendia dez notas, isto significava que uma nota, nesses tempos, era de 100 mil réis, sendo o preço lançado de mil réis, mas o comprador propunha o valor de 500 mil réis. Entretanto, aparecia o “cortador” a intrometer-se no negócio oferecendo, também, dinheiro para a compra do animal. Conversa puxa conversa, o vendedor fraquejava e o comprador avançava com mais uma nota. Chegava-se, finalmente, a um acordo e a passagem do dinheiro para a venda do animal ficar concluída.

Ao lado dos negócios do gado, situavam-se pequenas barrancas que continham os apetrechos para os animais. Cabrestos, chocalhos, albardas, golpelhas para transportar a palha, molins, arreatas, de entre outros utensílio

                                                            A corredora

Nesses tempos dizia-se que o primeiro dia era dos campaniços. Esta pressuposta dicotomia é-nos plenamente admissível. As pessoas viviam em montes dispersos na serra aldeã, logo, o dia era propício para se fazerem negócios. Havia que reforçar a frota com animais novos. A idade sabia-se pelos dentes das bestas. Mas, na feira compravam-se utensílios que não existiam normalmente na aldeia.

O povo enchia-se de gentes que, vestindo-se de grave, passeavam pela feira que assumia o estatuto de evento de grande porte. Comprava-se torrão, algodão doce, bugigangas, pratos, panelas de alumínio, tachos, cadeirões em buinho, jarras, molduras, jogava-se um tiro nas barracas onde as meninas, sempre solícitas, chamavam os clientes que no fim recebiam um miminho, andava-se no carrossel, conduziam-se os carros na pista, e, à noite, ia-se ao circo. 

Havia, ainda, quem se dedicasse aos jogos de lazer, onde o objetivo passava por trazer algo para casa ou umas moedinhas para os bolsos, ou desembolsar os tostões que lhe fugiam inadvertidamente da algibeira. Existiam também as barracas de comes e bebes e um frango assado na brasa, naquele tempo, apresentava-se como repasto de se lhe tirar o chapéu.

A rua que dava acesso à feira, aquela que se situa entre o Largo do Rossio pequeno e o Rossio grande, estava apetrechada com barracas de fruto, particularmente de peros amarelos, sendo o seu cheiro deveras divinal, sobretudo ao longo da noite. Ou de barrancas onde se vendiam as mantas trazidas pelos vendedores vindos das Beiras, onde se comercializavam os safões, as pelicas, com a famosa lã de ovelha, as mantas, de entre outros agasalhos de inverno.

Lembro, também, a visita dos forasteiros que se instalavam nas tabernas onde mastigavam os seus farnéis. Puxavam de um “talego” e lá vinham os bons nacos de presunto, ou de paios, ou de toucinho com “vieirinho” magro, que acompanhavam com o vinho, ou cerveja, arrefecidos no fundo do poço localizado no quintal, pois nesses tempos não havia frigoríficos, sendo que nessas vendas aconchegavam os seus estômagos. Existia, ainda, a possibilidade de refrescar a bebida, comprando-se barras de gelo na fábrica que os taberneiros colocavam em alguidares de barro.

O terceiro dia de feira era o mais forte. Pelo menos foi essa a impressão com que o povo ficou e que ainda hoje preservo. O circo, por exemplo, cedo anunciava “grátis às damas, damas grátis” e a plebe enchia as bancadas à volta da pista do espetáculo.

Nós, então crianças, delirávamos com a magia do espetáculo. Os contorcionistas, os palhaços (o rico e o pobre), os trapezistas, os ilusionistas, os malabaristas, o trabalho com animais ferozes feito pelos domadores, enfim, uma amalgama circense que nos levava a inimagináveis sonhos.

À entrada da feira, à esquerda, situava-se, habitualmente, a barraca do Favinhas, um retratista que fora, sem dúvida, um homem que fotografou milhares pessoas cujas imagens são agora restos de saudade. Não fora ele não existia hoje reproduções dos nossos antepassados.

Assim era, em resumo, a nossa feira de setembro!


Um abraço, camaradas

José Saúde
Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523
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Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série de  1 DE OUTUBRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24716: Coisas & loisas do nosso tempo de meninos e moços (4): A minha primeira viagem, de camioneta, a Lisboa, com 9 anos (Eduardo Estrela, Faro)

Guiné 61/74 - P24716: Coisas & loisas do nosso tempo de meninos e moços (4): A minha primeira viagem, de camioneta, a Lisboa, com 9 anos (Eduardo Estrela, Faro)


Fonte: EVA  Transportes SA > Arquivo Histórico (2023) (com a devida vénia...) (*)


1. Texto que o Eduardo Estrela nos mandou para a série "Coisas & loisas do tempo de meninos e moços (**):

Data - 30 set 2023 16:51 
Assunto - Viagens da nossa memória

Lembro que o dia apareceu sereno e límpido. Dias antes, a minha mãe tinha começado a preparar a viagem que íamos fazer.

Como prenda dos meus bons resultados escolares, o meu pai ofereceu-me um relógio e através dum pedido que fez ao Sr. Aníbal da Cruz Guerreiro, empresário farense  dono da EVA (*), obteve para ele, para a minha mãe e para mim, a título gracioso, viagens de ida e volta a Lisboa utilizando as camionetas (agora são autocarros) daquela empresa.

Na saída de Faro para S. Brás de Alportel, perto da minha casa, havia uma paragem. Foi aí que entrámos na dita camioneta. Eram 9,30 da manhã dum dia extraordinário para mim, que iniciava nesse momento a primeira grande viagem da minha vida, a caminho do desconhecido e do imaginário.

Ronceiro, o veículo foi galgando quilometros atravessando o Caldeirão e parando amiudadas vezes para largar ou deixar entrar passageiros.

Os meus olhos devoravam o encanto da serra e ficaram inundados com a beleza das planícies do Alentejo e do seu colorido manto.

Perto da hora do almoço, a camioneta parou em Ferreira do Alentejo durante pouco mais de 1 hora, de modo a que os passageiros que fariam o percurso completo pudessem comer.

No final do dia arribámos a Cacilhas, aguardando vez para que, camioneta e passageiros atravessassem o Tejo a bordo do cacilheiro.

A chegada ao Terreiro do Paço era por volta das 7 horas da tarde. Ficámos instalados na casa duma prima irmã da minha mãe, na Rua Palmira aos Anjos, durante uma semana.

Tudo para mim era novo e grande. O movimento das pessoas, dos veículos, tudo feito a um ritmo a que eu não estava habituado. Ficava encantado por ver os eléctricos atrás uns dos outros em constante movimento.

À época, a Almirante Reis estava esventrada por força das obras do metropolitano e ver os trabalhadores lá em baixo na sua azáfama, deixava-me boquiaberto e a pensar como era possível trabalhar àquela profundidade.

Fui ao aquário Vasco da Gama, aos Jerónimos, ao museu dos coches, ao jardim zoológico, ao aeroporto, aos lugares habituais a que iam as pessoas que visitavam a grande cidade pela primeira vez.

Tinha 9 anos e acabava de conhecer um pouco da terra das "muitas e desvairadas gentes".

No regresso a Faro, transmiti aos meus amigos o encantamento da viagem e das coisas que tinha visto.
Depois, pouco tempo depois, a minha vida levou uma dolorosa e tremenda volta.

O meu herói deixou-nos e tivemos eu e a minha mãe, doente cardíaca, que nos adaptar a uma realidade cruel.







(i) ex-fur mil at inf, CCAÇ 14, Cuntima e Farim, 1969/71;

(ii) natural de Faro, vive em Cacela Velha, a jóia da Ria Formosa, cantada por Sophia;

(iii) uma das suas paixões é o teatro amador, mas também comeu, na infância, órfão de pai, "o pão que o diabo amassou";

(iv) é o membro nº 541, da Tabanca Grande, desde 29/2/2012.
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Notas do editor:

(*) Empresa de Viação do Algarve, Lda: criada em 1933; hoje EVA Transportes SA, Faro. (Fonte: EVA > Arquivo Histórico)


(...) Teria pouco mais que 8 meses de gestação, estando ainda no quentinho da barriguinha da minha mãe, quando fiz a minha primeira viagem.

Em Dezembro de 1945, o meu pai, ainda solteiro, havia “emigrado” de Azurara, freguesia do concelho de Vila do Conde, para Matosinhos em busca de uma vida melhor. Um familiar da minha mãe tinha-lhe arranjado um modestíssimo emprego como funcionário público na “Junta”, assim era conhecida na época a Administração dos Portos do Douro e Leixões, mas muito bom para quem não tinha nenhum meio de subsistência. A minha mãe, ainda sua namorada, ficou em Azurara, na casa de seus pais, à espera de melhores dias para se poderem casar. (...)

Vd. também postes anmteriores da série:

27 de setembro de  2023 > Guiné 61/74 - P24704: Coisas & loisas do nosso tempo de meninos e moços (1): A Feira (Joaquim Costa, Vila Nova de Famalicão)

(...) Terminado o verão, de pé livre e descalço, minha mãe me levou à feira para comprar umas chancas, para resguardar o pezinho da chuva e do frio no caminho para a escola bem como o “material escolar”.

O dia de feira era um autêntico dia de festa, pelo que era o êxodo das aldeias para a vila na ânsia de encontrarem alguns produtos e artigos (escolares… e não só!) a bom preço, bem como um pouco de divertimento e “galhofa” fugindo, por algumas horas, às rotinas do trabalho diário.(...)


28 de setembro de 2023 > Guiné 61/74 - P24707: Coisas & loisas do tempo de meninos e moços (2): O martírio da viagem de comboio de Afife ao Porto (Valdemar Queiroz, Afife, Viana do Castelo)

(...) Com dez anos fiz a primeira viagem de comboio, foi no correio de Afife ao Porto.
Foi à casa de uma tia nas férias grandes de Verão.

O martírio começou em casa da minha avó, continuou estrada abaixo até à Estação e só melhorou quando o comboio partiu e eu descalcei umas botas novas que me apertavam os pés. (...)

sábado, 30 de setembro de 2023

Guiné 61/74 - P24715: Facebook...ando (38): António Medina, um bravo nativo da ilha de Santo Antão, que foi fur mil na CART 527 (1963/65), trabalhou no BNU em Bissau (1967/74) e emigrou para os EUA, em 1980, fazendo hoje parte da grande diáspora lusófona - Parte III: de sintex pelo rio Cacheu e afluentes, até às ilhas de Pecixe e Jeta


 Foto nº 1


Foto nº 2


Foto nº 3 

 Guiné  > Região do Cacheu >  Rio Cacheu e afluentes >  CART 527 (1963/65)   

Por determinação do nosso comandante do Batalhão de Bula, BCAÇ 507 (Bula, 1963/65), tenente coronel Hélio Felgas, tivemos que fazer reconhecimentos fluvial nos afluentes, estendidos às Ilhas de Jeta e Pecixe (a sul / sudoeste de Teixeira Pinto).

Para isso foi-nos distribuído uma pequena lancha em plástico reforçado, (sintex) com motor fora de borda, manobrado por um cabo e um soldado de Engenharia.

Interessante saber, com exceção do Rio Corubal,  no Sul da Guiné, onde se dá o fenómeno do Macaréu,  à semelhança do Amazonas (recuo das águas para a nascente, criando uma onda de grande porte), os denominados Geba, Mansoa e Cacheu não são rios, mas sim braços de mar que entram pela terra dentro, |  21 de Dezembro de 2013 
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Fotos (e legenda): © António Medina (2014). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Continuação da seleção de fotos do álbum do nosso camarada da diáspora lusófona, 
António Medina:

(i) ex-fur mil at inf,  CART 527 (Teixeira Pinto, Bachile, Calequisse, Cacheu, Pelundo, Jolmete e Caió 1963/65), de resto o único representante desta subunidade, na Tabanca Grande;

(ii) de seu nome completo, António Cândido da Silva Medina, nasceu em 26 de setembro de 1939, na ilha de Santo Antão, Cabo Verde (completou há dias 84 anos);

(iii) estudou no liceu Gil Eanes (Mindelo, São Vicente) (o único liceu então existente nas ilhas);

(iv) depois da "peluda", em Bissau, e até à independência, foi funcionário do BNU (Banco Nacional Ultramarino), entre 1967 e 1974;

(v) vive desde 1980 nos EUA, em Medford, no estado de Massachusetts, onde foi bancário;

(vi)  tem página no Facebook (último poste: 30 de outubro de 2022); 
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Nota do editor:

(*) Último poste da série > 27 de setembro de 2023 > Guiné 61/74 - P24703: Facebook...ando (37): António Medina, um bravo nativo da ilha de Santo Antão, que foi fur mil na CART 527 (1963/65), trabalhou no BNU em Bissau (1967/74) e emigrou para os EUA, em 1980, fazendo hoje parte da grande diáspora lusófona - Parte II

Guiné 61/74 - P24714: Os nossos seres, saberes e lazeres (593): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (122): Oh Bruxelles, tu ne me quittes pas! (13) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 30 de Junho de 2023:

Queridos amigos,
A galopada cultural culminou no Museu de Félicien Rops, santo do meu culto, merece o apodo do mais escandaloso artista do século XIX, mas a clientela nunca lhe faltou, admirava-lhe o génio mesmo com aquelas provocações pornográficas e satânicas. O museu de Namur possui um admirável acervo de todo o seu percurso, desde desenhador de humor a pintor consagrado. Seguiu-se uma viagem pelo Meuse, isto é, andarilhar pela margem, como se fôssemos em direção em Dinant, uns bons quilómetros a juntar à boa passeata por três museus, não posso dar sinal de desfalecimento, a meu lado vai uma aficionada por passeios pedestres, daqueles que podem absorver 30 quilómetros diários, ainda por cima por montes e vales, aguentei firme, guiado pela fé de que tinha uma grande repasto à minha espera e que dormiria um sono de pedra em Watermael-Boitsfort, como aliás aconteceu. No comboio, quando deitava contas à vida para sairmos cedo, de modo a chegarmos a Zaventem pouco depois das 9h, recebi no telemóvel a notícia de que o voo fora diferido para a noitinha. Ah é? Então levanto-me cedo e ainda vou cirandar um pouco por esta Bruxelas onde não sei quando regressarei, tenho dito.

Um abraço do
Mário



Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (122):
Oh Bruxelles, tu ne me quittes pas! (13)


Mário Beja Santos

Toda a moleja me saiu do corpo quando entrei no Museu Félicien Rops, no n.º 12 da rue Fumal, venho de novo encontrar-me com aquele que é alvo de um epíteto pouco lisonjeiro: o mais escandaloso artística do século XIX. O museu dá-nos uma panorâmica desde os seus trabalhos como caricaturista, desenhador em obras de romancistas e poetas consagrados, até aos seus trabalhos mais sulfurosos com destaque para Pornocrates, que os críticos consideram o seu mais genial trabalho. Rops nasceu em Namur, foi viajante insaciável (Hungria, Escandinávia, EUA, África do Norte, Espanha…), como muitos artistas da sua geração iniciou a sua atividade como desenhador de humor cedo mostrou estar em total dissonância com a moral da sua época, enveredou na corrente simbolista, de que se será um dos seus próceres mais desalinhados. Aos 18 anos, em Bruxelas, fundou um jornal onde realiza caricaturas irónicas e mordazes sobre as classes sociais, os artistas do seu tempo, a atmosfera política. Faz desenhos para uma obra de Charles Baudelaire. Instala-se em Paris, o seu tema de predileção passa a ser a mulher, no papel de dominador ou de cortesã. Atento ás ideologias sobre a decadência presentes na arte e na literatura, aborda sem qualquer receio a prostituição, o erotismo ou o satanismo. Numa série dedicada às Satânicas celebra a aliança entre mulher e Satã. Percorro deslumbrado esta série de obras, temas aparentemente mórbidos, por vezes uma pornografia descarada, há também as telas revelando praias ou panorâmicas de cidade onde se sente perfeitamente que Rops jamais desconsiderou o naturalismo, e momentos há que se percebe que o seu olhar vanguardista prepara a transição para o impressionismo. Que me acompanha olha para o relógio, está na hora de pelo Meuse, é só mais uma hora ou duas, depois tens um banquete à espera.

Pornocrates
Tratamento da mulher e do satanismo
A Agonia
Autorretrato
Félicien Rops
Estou ciente que em itinerâncias do passado já mostrei este rio, o Meuse é encantador na serenidade da sua correnteza e dá que pensar como o Homem tantas vezes obtém sucesso numa boa aliança entre o património natural e o edificado. Agora presto homenagem a quem me preparou este dia de tanta fruição. Quem aparece na imagem é uma amiga de quatro décadas, fizemos conhecimento em Veneza, eu como participante numa conferência, ela como intérprete. É a musa do romance Rua do Eclipse, foi ela que me inspirou a vida de uma intérprete e organizadora de um dossiê sobre a comissão militar de um tal Paulo Guilherme que andou pela Guiné entre 1968 e 1970. Ela é uma andarilha, telefono-lhe e está a caminho de uma viagem para atravessar os Estados Unidos da América, mesmo de ponta a ponta, ou partiu para a Úmbria, voltou há três dias para se integrar num grupo de passeios pedestres que vão até ao norte da Holanda. Insiste que eu fique uns dias em Namur, faremos passeios pedestres a valer, aí tenho medo, já não tenho coluna vertebral para grandes subidas e descidas, arranjo pretextos, mas não hesito em estar um dia inteiro na companhia desta andarilha que tem assinaturas para tudo quanto é ópera, música sinfónica, música de câmara, festivais. Obrigado por tudo, minha adorada amiga! E enquanto ela prepara o ágape vou perscrutar como está o seu jardim, não tem dúvida quanto aos cuidados, vou agora registar o que dá a primavera em flor, se há o conceito do tempo belga tido por instável, com sol, ventania, chuviscos, céu de chumbo, isto para já não falar das pesadas chuvadas de outono e inverno e dias de gelo, a verdade é que este jardim se engalanou para me receber.
Todos os anos, deve ser puro acaso, aqui venho encontrar estas túlipas cor de rosa, estão viçosas, prometo voltar para o ano para que vocês ostentem flores tão acetinadas.
Quando vivi numa casinha de campo em Pedrógão Grande comprei um pequeno rododendro que, para espanto meu, cresceu sem dificuldade, nunca lhe faltei com água e limpeza da folhagem, era uma alegria ver os botões e depois a explosão de branco, parecia uma árvore pequena. Na posse de outro proprietário, há seis anos, a casa desmantelou-se no grande incêndio de Pedrógão Grande e aquele calor imenso chegou à horta e ao jardim, senti um baque no coração quando vi o meu rododendro enfarruscado, sem vida. Aqui em S. Marc, este rododendro suscita-me recordações da minha perda, sinto-me feliz porque a natureza tem sempre razão e sabe cobrar juros, o que se perde acolá ganha-se aqui.
Que grande surpresa, vi nascer este rododendro aqui ainda a moradia estava em construção e já a proprietária andava azafamada na organização do jardim, também ele se engalanou para receber quem o tem visto crescer ao longo dos anos.
É um bonito tapete de jacinto-uva, temos muito no nosso país, é um lilás muito delicado, creio que toda a Europa é bafejada por imensas variedades de jacintos, uma flor que tem a particularidade de ser o arauto da primavera.
Havia para ali tanta passarada que interpelei a dona da casa quanto aos porquês daquele corrupio no arvoredo do jardim, ela apontou para diversas caixinhas de alimento e fiquei por ali especado a ver a alegria esfusiante das aves a debicar e a bebericar e depois correr para outras paragens.
Entardeceu, chegou a hora de partir, a dona da casa insiste em levar-me a Bruxelas, declino, vou até à gare ferroviária de Namur, é uma viagem de cerca de uma hora, suspiramos por novo encontro, talvez no outono, na pior das hipóteses na primavera. No comboio consulto o telemóvel, sou surpreendido com uma mensagem da companhia aérea, o voo marcado para as 11h45 foi alterado as 21h10. Deito contas à vida: a minha mochila é leve (fora os trastes comprados na Feira da Ladra), e se eu aproveitasse a manhã e o princípio da tarde a cirandar pelo centro de Bruxelas, enfim, uma despedida em grande? Vamos ver o que o destino me reserva.

(continua)

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Notas do editor:

Vd. poste anterior de 23 DE SETEMBRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24691: Os nossos seres, saberes e lazeres (591): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (121): Oh Bruxelles, tu ne me quittes pas! (12) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 26 DE SETEMBRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24701: Os nossos seres, saberes e lazeres (592): António Carmo, artista plástico de renome, nosso camarada da Guiné (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P24713: Álbum fotográfico do António Alves da Cruz, ex-fur mil at inf, 1ª C/BCAÇ 4513/72 (Buba, 1973/74) (9): Ainda a proteção à coluna Buba-Aldeia Formosa


Guiné-Bissau > A estrada Buba - Nhala - Mampatá - Quebo (antiga Aldeia Formosa). 

Infografia: António Alves da Cruz (2023) (a partir do Google Maps, com a devida vénia)



Guiné > Guiné > Região de Quínara > Buba > 1ª C/BCAÇ 4513/72 (Bula, 1973/74) > Proteção a um coluna Buba - Aldeia Formosa. Troço entre Buba e Nhala. Foto nº 40: o "bagabaga" do furriel mil Cruz e do operador de transmissões

Foto (e legenda): © António Alves da Cruz (2023). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do António Alves da Cruz (ex-fur mil at inf, 1ª C/BCAÇ 45113/72, Buba, 1973/74), na sequència do poste P24711 (*):


Data - sexta, 29/09, 18:05
Assunto - Coluna Buba- Aldeia Formosa

Amigo Luís, boa tarde

Sobre a proteção à coluna,  era feita da seguinte maneira;  saía um grupo de combate de Buba e outro de Nhala,  faziam a picagem da estrada para a deteção de minas até se encontrarem a meio. Depois do encontro,  os grupos recuavam e instalavam-se em pontos pré definidos para,  se necessário,  pedir apoio de artilharia. 

Para apoio de artilharia o comandante do grupo tinha um mapa da zona com os pontos de artilharia marcados para orientar o fogo pedido. Os pontos de impacto estavam marcados na carta por K (Por exemplo;  K14,   K23,  K30) e assim se orientava o fogo do mato.

As fotos que enviei são todas na estrada velha (*).  A nova estava a ser construída um pouco ao lado,  era uma autèntica reta (de Buba a Nhala) (vd. imfografia, acima). Podes comparar pelas fotos.  No meu tempo Buba era uma vila pequena, todo esse casario que se vê,  no meu tempo era mato.

Foto 42: junto ao bagabaga,  além da minha arma está também a do operador de transmissões.

Mas quero falar sobre essa tela vermelha que sempre nos acompanhava para sinalização da FAP em caso de apoio aéreo (nesta altura já era complicado,  por causa dos nossos "amigos" Strela ),

Revendo aquela tela,  recordo a IAO  tirada em Bolama. Pouco tempo depois de começar um belo dia apareceu o alferes dos comandos africanos, Marcelino da Matam e o major piloto aviador Mantovani.

O Marcelino da Mata,  como éramos periquitos,  fez a demonstração do efeito do rebentamento do RPG 7 e chamou à atenção para certos perigos que iriamos encontrar. 

O major Mantovani impressionou pela sua simpatia. Homem de fácil trato e extremamente educado, explicou como pedir apoio aéreo, identificar sempre a área com a tela até à confirmação visual do piloto. Para não haver qualquer dúvida,  se necessário o mais graduado do grupo devia falar com o piloto em claro. 

Para minha surpresa e revolta,  aquele oficial da FAP que tanto nos impressionara,  passados poucos dias, em 6 de abril de 1973,  era abatido por um míssil Strela quando pilotava um T6. Paz à sua alma, que descanse em paz.

Um forte abraço, Cruz
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sexta-feira, 29 de setembro de 2023

Guiné 61/74 - P24712: Notas de leitura (1620): "Tertúlias da Guerra Colonial"; edição da Associação dos Pupilos do Exército, 2021 (1) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 11 de Janeiro de 2022:

Queridos amigos,
Do conjunto de intervenções que deram origem à publicação da responsabilidade da Associação dos Pupilos do Exército, optei por aquelas que são assinadas por Carlos de Matos Gomes e Alcindo Ferreira da Silva, a primeira sem a ver com as observações sobre a quadrícula, a presença da Companhia do mato, os seus méritos e deméritos, a lógica do Regime em fazer suprir as ausências da administração por um contingente militar a quem se multiplicavam as missões e as obrigações, acabando por implicar essa unidade, em zonas de média e alta intensidade bélica, a um recuo nos patrulhamentos e operações, delegando-se nas Forças Especiais, a realização de grandes atos ofensivos. E veremos seguidamente o testemunho de quem foi fuzileiro especial e combateu em pleno mato, em Ganturé e Gampará.

Um abraço do
Mário



O modo dos portugueses fazerem a guerra no mato (1)

Mário Beja Santos

Tertúlias da Guerra Colonial é uma edição da Associação dos Pupilos do Exército, 2021, o presidente da associação convidou um conjunto de oficiais das Forças Armadas que ao longo de quatro sessões, sempre através da plataforma Zoom, analisaram as quatro dimensões tidas como mais interessantes para as tertúlias: Antecedentes políticos e fundamentos; Combater no mato; Efeitos colaterais e entimentos coloniais; Do 25 de Abril à descolonização. Estas quatro sessões realizaram-se em outubro e novembro de 2020. É da temática combater no mato que vamos aqui resumir as comunicações de Carlos de Matos Gomes sobre a quadrícula do Exército e a Marinha na guerra no mato da Guiné por Alcindo Ferreira da Silva.

Carlos de Matos Gomes observa que a quadrícula constituía a base do dispositivo militar português nesta guerra: malha de unidades, organicamente e hierarquizadas, cobrindo o território de acordo com a intensidade da atividade dos guerrilheiros, da densidade populacional, da importância económica ou tática.

 Lembra também que desde 1959 existiam estudos no Ministério do Exército para a criação de um novo tipo de unidades e de novas táticas para fazer face à evolução da situação em África. Esta quadrícula foi o dispositivo territorial exclusivo do Exército, gozou de várias designações: Regiões Militares, Comando Territorial, Zonas de Intervenção Operacionais (estas comandadas por oficiais generais e coronéis, delas dependiam os setores que por sua vez integravam batalhões e na base da quadrícula situava-se a Companhia).

A opção por este dispositivo respondia a uma dupla necessidade: a de reconquistar e manter os locais onde haviam ocorrido ações violentas de sublevação; e a de instalar órgãos de soberania e de administração até aí inexistentes.

 Era a dupla necessidade de ocupar militar e administrativamente parcelas do território onde, até ao início das ações violentas não havia presença de órgãos do Estado, nem de administração, nem serviços públicos. O autor recorda que em 1961, no norte de Angola, não existia um só quilómetro de estrada alcatroada, não existia uma rede de telecomunicações com o mínimo de eficácia e não existia uma só unidade militar. Pode mesmo tomar-se os acontecimentos da Baixa do Cassanje, janeiro de 1961, prelúdio da violentíssima sublevação dos Dembos, como prova de ausência do Estado, não assegurando as funções elementares de garantia da justiça e segurança das populações. “Não foi por acaso que as ações violentas da guerra ocorreram em zonas onde a administração do Estado estava pouco presente, ou era quase inexistente, como acontecia no norte de Angola e no norte de Moçambique”.

A Companhia de quadrícula tinha demasiado tarefas, sobre ela recaía: administrar pessoal e equipamento, incluindo a defesa e o abastecimento da tropa; órgão de soberania e de administração do território, por ausência de outro, providenciando serviços mínimos de saúde, de educação e até de justiça, agindo segundo as normas da ação psicológica; e, acima de tudo, realizar operações militares, nomadizar, fazer patrulhamentos ofensivos. “Desde cedo foi percebido pelos comandantes dos teatros de operações que só era possível cobrir todas estas tarefas em zonas de baixa intensidade operacional, onde não fosse provável a ocorrência de situações de envergadura por parte do inimigo. Onde o pelotão/grupo de combate não era suficiente, e em boa parte dos teatros de operações deixou de ser nos primeiros anos da guerra, a atividade operacional ficava circunscrita às imediações do aquartelamento e quase se reduzia às colunas logísticas de reabastecimento, era uma atividade que se limitava à presença e à ação psicológica”.

Esta implantação territorial na quadrícula de companhia, observa o autor, teve o mérito de aproximar os seus militares das populações africanas, a quem proporcionaram significativas melhorias das condições de vida, mas desviavam o Exército da função principal de combater, o que fez com que as ações militares de alguma envergadura tivessem de ser assumidas pelas forças de intervenção, maioritariamente constituídas pelas tropas especiais. E há os efeitos perversos: “A reduzida capacidade operacional das companhias da quadrícula provocou o aumento de efetivos de unidades de intervenção, quase sempre especiais, mais caras e mais difíceis de obter. A quadrícula de companhia tornou ainda o Exército, no seu todo, como uma força defensiva, fixa ao território, sem mobilidade, com as suas unidades vulneráveis, e exigiu um esforço excessivo e pouco remunerador para manter este dispositivo. No final da guerra, em especial na Guiné e em Moçambique, a quadrícula de companhias consumia-se em boa parte para manter uma ocupação ineficaz do território, os seus quartéis constituam alvos fixos e remuneradores para os guerrilheiros”.

O regime de Salazar viu nesta solução de administração militar uma série de vantagens: era barata, pois os recursos das Forças Armadas substituíam o que competia com uma administração civil; solução que também agradava os militares, pois era moralmente mais recompensador dedicarem-se a tarefas de apoio social do que à guerra. “Em Angola, onde os efetivos em 1960 eram de cerca de 70 mil homens, o general Fraser, chefe do Estado-Maior das Forças Armadas sul-africanas, numa reunião com as autoridades portuguesas, calculava que um máximo de 30 mil homens seria suficiente, desde que empregues naquilo que as Forças Armadas poderiam fazer, combater o inimigo, e desde que existisse um bom governo civil”.

E há o chamado sentimento de dever, a razão por que se luta, que o autor assim resume: “Na guerra colonial, curiosamente de forma muito semelhante ao que aconteceu com a participação de Portugal na Grande Guerra, as tropas nunca souberam com clareza por que combatiam. As respostas que davam nos inquéritos referem o cumprimento de um dever (resignação); defender o que é nosso (a adoção de um discurso vazio, que era contrariado por parte dos militares quando reconheciam que a guerra aproveitava a uns poucos que com ela enriqueciam à custa do sacrifício dos soldados). Mas as tropas, também como na Grande Guerra, foram, no geral, mal instruídas, e o seu nível quer de motivação quer de instrução sofreu uma contínua degradação ao longo dos anos de guerra”. O autor explana ainda a opinião dos Aliados, a situação em Moçambique e conclui assim: “A guerra colonial era, por motivos históricos e de conjuntura nacional, uma guerra perdida à partida, no sentido em que a vitória seria manter no último quarto do século XX uma entidade política com uma pequena cabeça na Europa, espalhado por três continentes e pelos três oceanos do planeta. Mas a guerra travada no mato, nas florestas, nas chanas, nas bolanhas de Angola, de Moçambique e da Guiné sofreu dos condicionamentos gerais da participação de Portugal na Grande Guerra. O mato de África não foi um lugar de glória nem de boa memória”.

Vamos de seguida ver uma exposição sobre a Marinha na guerra no mato da Guiné.

(continua)
Alferes Marques Vieira, 1971. Imagem carregada por Kai Archer, com a devida vénia
Viagem num rio da Guiné. Imagem retirada de GUINÉ BISSAU - Memórias, com a devida vénia
Fuzileiros a caminho de uma operação na Guiné. Imagem retirada de fuzileiros especiais 12 - 1970 / 1971 - guiné, com a devida vénia
Parte do armamento apreendido na Operação - Cocha, na base do PAIGC zona de Cumbamory, pelo destacamento de Fuzileiros Especiais. Imagem retirada de fuzileiros especiais 12 - 1970 / 1971 - guiné, com a devida vénia


Fixação do texto e edição de imagens: Carlos Vinhal
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Nota do editor

Último poste da série de 25 DE SETEMBRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24697: Notas de leitura (1619): "PAIGC A Face do Monopartidarismo na Guiné-Bissau", por Rui Jorge Semedo; Nimba edições, 2021 (Mário Beja Santos)