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terça-feira, 5 de novembro de 2024

Guiné 61/74 - P26118: As nossas geografias emocionais (29): A antiga Nova Lamego ou Gabu Sara, em set 67/fev 68, ao tempo do Virgílio Teixeira, ex-alf mil SAM, CCS/BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69)



Foto nº 1 > Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego > CCS/BCAÇ 1933 (1967/69) >  O ex-alf mil SAM, junto a uma placa com as distâncias quilométricas, a partior de Gabu Sara: a povoação mais longe era Buruntuma, na fronteira com a Guiné-Conacri (67 km), a nordeste. Bafatá, a sudoeste, ficava a 53 km. E Madina do Boé, a sul, distava 65 km.



Foto nº 2 > Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego > CCS/BCAÇ 1933 (1967/69) > 4º trimestre de 1967 > Edifício do comando e do Conselho Administrativo, de estilo colonial, tal como o encontrámos, com paliçadas e bidões de protecção, ruas esburacadas e em terra batida, com pó ou lama. Foto tirada a partir do edifício dos CTT,  na outra esquina. 
 

Foto nº 3  > Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego > CCS/BCAÇ 1933 (1967/69) > Dezembro de 1967 > Junto ao Posto de Transmissões, com a mascote deles, um pequeno macaco.cão. Foto tirada na porta de acesso do serviço de  tansmissões, do qual era responsável o meu amigo alferes Mesquita.  


Foto nº 4 > Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego > CCS/BCAÇ 1933 (1967/69) >  Janeiro de 1968  > O Posto de abastecimento da velhinha ‘SACOR’. Sendo uma vila  já importante [cidade só era Bissau, e mais tarde, já em 1970, Bafatá]  tinha a bomba de gasolina.  Devo ter abastecido lá a minha motorizada.


Foto nº 5 > Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego > CCS/BCAÇ 1933 (1967/69) > 4º trimestre de 1967 > >  Rua Principal da vila
 cheia de gente, mas sem carros. Verifica-se um movimento de pessoas locais e não só, com as suas bicicletas, a maioria a pé, com os seus bebés às costas, e não se vê aqui no centro, mulheres com os seios à mostra.


 Foto nº 6 > Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego > CCS/BCAÇ 1933 (1967/69) > Novembro de 1967 > Uma das ruas principais, com casas modernas de habitação. A rua ainda era de terra batida, mas notava-se já um movimento de construção nova, quer para residência das populações locais, ou para arrendamento como cheguei a ouvir.


Foto nº 7 > Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego > CCS/BCAÇ 1933 (1967/69) > Dezembro de 1967 >  A ‘Porta de Armas’ das instalações do Quartel. Junto ao local de entrada, uma legenda da BCAÇ 1856 (Nova Lamego, mar 1966/abr 67). Junto de mim (estava eu de oficial de dia), o alf mil inf Carneiro.


Foto nº 8  Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego > CCS/BCAÇ 1933 (1967/69) >  c. Janeiro / fevereiro de 1968  > A 
 cerimónia,  cheia de significado,  da continência à Bandeira Nacional. Trata-se do hastear da bandeira, pela manhã. O  arrear era às 18 horas, já quase noite. Em Bissau, por exemplo, toda a gente ficava em sentido, até na estrada principal, paravam os carros e saiam as pessoas com destino ou vindas de Bissau, a passar em Brá.



Foto nº 9 > Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego > CCS/BCAÇ 1933 (1967/69) >  Novembro de 1967 > Na entrada da Escola Primária do Gabu: uma visita à escola, na companhia do meu camarada o alf mil trms Mesquita.


Foto nº 10 > Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego > CCS/BCAÇ 1933 (1967/69) >  4º trimestre de 1967 > Um passeio de bicicleta, a um domingo, numa rua bem arranjada. São pequenas vivendas, moranças,  para a população local, numa época em que era preciso  criar melhores condições de vida e habitação.


Fot6o nº 11 > Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego > CCS/BCAÇ 1933 (1967/69) > Janeiro de 1968 >  Uma casa nova e moderna com cobertura de telha.  Sendo uma vila  em desenvolvimento, as casas faziam-se a bom ritmo.


Foto nº 12 > Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego > CCS/BCAÇ 1933 (1967/69) > Novembro de 1967 > Passeio de bicicleta com a malta, numa tarde de Domingo:

(i) eu, em segundo plano, apoiado na árvore;  

(ii) a seguir o furriel Carvalho – que ficou ferido num dedo e mais tarde passou a fazer parte da ADFA no Porto;

(iii) a seguir o furriel enfermeiro – Carlos Veiga, com camisa aos quadrados, e que foi mais tarde, já na peluda, médico, entretanto já falecido infelizmente;

(iv)  depois outro furriel que não me lembro do nome;

(v)  um homem à vil civil, talvez militar, guineense;

(vi)  sentado o alferes Figueiredo, natural da Guiné, onde tinha já mulher e filhos, bem como os pais e o seu negócio de família.

 Este edifício pertencia naturalmente às instalações da tropa, mas não estou certo.



Foto nº 13 > Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego > CCS/BCAÇ 1933 (1967/69) >  > Outubro de 1967 > Um passatempo nos primeiros tempos, a frequència do Clube do Gabu. Talvez numa tarde de domingo, no café do cllube,  com os meus amanuenses; os primeiros cabos Seixas (ao meio) e Horta (à esquerda), eu à direita.


Foto nº 14 > Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego > CCS/BCAÇ 1933 (1967/69) > Setembro / outubro de 1967 > A melhor casa comercial, a Casa Caeiro. Foto tirada do 1º andar das instalações do Conselho Administrativo do batalhão (que esteve ali, de setembro de 67 a fevereiro de 68(.



Foto nº 15 > Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego > CCS/BCAÇ 1933 (1967/69) >  21 Fevereiro de 68 > O comerciante, sr. Caeiro, e a sua filha, na sala de cinema do Gabu, nas últimas filas.   A família era portuguesa da metrópole. (Detalhe: a filha do sr.  Caeiro  ostenta, na foto, a capa de uma revista humorística brasileira, popular na época, "Vamos Rir!", de periodicidade mensal, da "Rádio Editora Lda.)


Foto nº 16 > Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego > CCS/BCAÇ 1933 (1967/69) >  4º trimestre de 1967 > 
Vista aérea da cidade e quartel de Nova Lamego.  O avião – Dakota – a fazer-se à pista à sua frente, não se conseguem ver bem os contornos nem da cidade nem das ruas, nem casas nem quartel, só a pista.


Fotos (e legendas): © Virgílio Teixeira (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. O nosso amigo e camarada Virgílio Teixeira, natural do Porto, a viver em Vila do Conde, refiormado (foi economista e gestor de empresas) é, dos nossos tabanqueiros,  quem tem mais fotos de Nova Lamego: cerca de 300. (*)

Esteve lá, em Nova Lamego,  entre setembro de 1967 e fevereiro de 1968. Era alf mil SAM,  presidente do Conselho Administrativo do comando do BCAÇ 1933. Esta unidade irá depois para São Domingos, na região do Cacheu, no final de fevereiro de 1968, sendo rendida pelo BCAÇ 2835,

Eis como descreve a Nova Lamego que conheceu no curto período de 5 meses (**):

(...) Também conhecida por Gabu, era uma vila de porte médio, sede de circunscrição, com vártios equipamentos sociais  correios, escola, cinema, igreja,  café, bar), algumas casas de comidas e bebidas, bem como, algumas lojas de comércio.

O concelho do Gabu era governado por um administrador de Circunscrição, com sede na vila,  e um administrador de posto com sede em Piche.

De todas as lojas, a que mais se destacava era a famosa Casa Caeiro, mesmo no centro da cidade. Ali vendia-se de tudo o que precisávamos e mais o que não era preciso para nada.

O Senhor Caeiro, dono da referida casa comercial, tinha uma bela filha, branca. (Fico na dúvida se a família era de origem libanesa, mas não, já me confirmaram que era portuguesa.)  

A Casa Caeiro localizava-se mesmo do outro lado da rua, frente a frente, onde estava o gabinete do Conselho Administrativo, e do respectivo Comando do Batalhão.

Era um edifício tipo colonial, e ficávamos no 1º andar desse edifício, e logo se poderia ver todo o andamento e movimento da loja, a Casa Caeiro, que não era nada pequena, e que era frequentada pelas variadas etnias locais.

De tal modo que era um passatempo, vir para o varandim, e ver as pessoas, locais e outras pessoas,  europeias ou não, com os seus negócios, e acima de tudo, quando a filha do Caeiro saia à rua, logo éramos  alertado por alguém com 'o grito do Ipiranga0, para irmos todos ver a beldade de mulher a sair à rua, com o seu corpo,  formoso para aquelas paragens.

Posto isto, a Casa Caeiro era visitada quase diariamente pela malta nem que fosse para comprar uma caixa de fósforos, ou um abano para o calor.

Era gente simpática, que enas se dedicava ao comércio, não alinhava nem de um lado nem de outro, eram independentes, o que já não era uma tarefa difícil numa zona de guerra, como aquela.

Quanto à filha do Caeiro, apenas falei com ela na loja, cruzávamo-nos na rua, no café ou no pequeno cinema semanal. Não sabia a vida que eles levavam fora das horas de serviço. (...)

(Seleção, revisão / fixação de texto, reedição e numeração das fotos: LG)

2. Em mail que os enviou, em 02/11/2024, 16:27,  o nosso camarada Virgílio Teixeira dá a seguinte lista  de "militares  que viveram com a família fora de Bissau", incluindo Nova Lamego (NL) e São Domingos (SD),  no seu tempo:

  • Capitão médico António Cortez, esteve com a mulher sempre, quer em NL, Bissau, e SD.
  • Capitão Cardoso, comandante da CCS, casou e foi com a noiva viver com o nosso Batalhão em SD, substituindo o antigo que foi para o QG de Bissau;
  • 2º Sargento do quadro, não sei o nome, que esteve em Nova Lamego no Pel Rec Daimler 1143;:
  • Alferes Figueiredo do Pelotão Informações e Operalões etc, que manteve a mulher por vários períodos não seguidos, quer em NL e SD.
  • Major Américo Correia, 2º Comandante do BCAÇ 1933, que esteve com a mulher em períodos curtos, em NL e SD.
________________

Notas do editor

(*) Último poste da série >4 de novembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26115: As nossas geografias emocionais (28): Gabu, antiga Nova Lamego (Valdemar Queiroz, ex-fur mil at inf, CART 11, 1969/70)

(**) Vd. postes de:

Guiné 61/74 - P26117: (In)citações (268): Antigos combatentes e capelães... "Confessores da Pátria 'versus' Confessores da Fé" (Manuel Lopes, ex-cap inf, CCAÇ 3396, "Lenços Negros", Moçambique, 1971/73)



Foto nº 3 > Anadia > Moita > 42º convívio anual do pessoal da CCAÇ 3396, "Lenços Negros" (Moçambique, 1971/73) > 25 de maio de 20214 > igreja Matriz de Moita > Foto de grupo, no final da celebração litúrgica.


Fotos (e legendas); © Manuel Lopes (2024). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Por mail do passado domingo dia 27 de outubro, o cor art ref António J. Pereira da Costa, nosso tabanqueiro de longa data (12/12/2007) e  om 203 referências no blogue, chamou-nos a atenção para um curioso texto divulgado por um seu camarada do curso da Academia Militar, do ano de 1964, Manuel Lopes, e que tem por título "60º Aniversário da entrada na Academia Militar: Confessores da Pátria 'versus' Confessores da Fé".

O Tó Zé (TZ, como é conhecido por alguns de nós) ou PK (pelos seus camaradas da AM) sugeriu que o texto poderia eventualmente ter interesse para o blogue.

E até mais: "Lembrei-me de propor ao blogue a atribuição  [do título] de 'Confessores da Pátria' aos padres das Companhias que amparavam a malta nas suas diferentes dificuldades espirituais."

E uma vez obtida a autorização do autor (Manuel Maria Martins Lopes, cor inf ref, ex-cmdt da CCAÇ 3369, "Lenços Negros", Moçambique, 1971/73), aqui vão os dois textos em questão. 


 (i) 60º Aniversário da entrada na Academia Militar: Confessores da Pátria 'versus' Confessores da Fé

por Manuel Lopes (cor inf ref)

Caros camaradas:

No final da celebração da missa, adentro do programa das comemorações do 60º Aniversário da nossa entrada na Academia Militar, tive oportunidade de prestar uma singela homenagem à Igreja que esteve sempre presente durante a nossa atividade militar, lembrando também o Padre Gamboa, o nosso capelão que nos recebeu à chegada.

Evoquei depois o testemunho recente do Padre Vitor Espadilha, que na celebração da missa (dia 25 de maio, na Igreja Matriz de Moita,  Anadia) do 42º Convívio anual de ex-combatentes, revelou que a Igreja tinha uma distinção especial para aqueles que se sacrificaram e deram a vida pela causa da Fé. Chamam-se os 'Confessores da Fé'.

Por isso, para nós que nos sacrificámos e jurámos dar a vida pela Pátria, o Padre Vitor Espadilha distinguiu-nos com a designação de 'Confessores da Pátria'.

Assim, registar as nossas vivências militares faz parte da nossa condição de 'Confessores da Pátria'.

Abraço amigo.

Lisboa, 26 de outubro de 2024

Manuel Lopes

 

(ii) 'Lenços Negros', Confessores da Pátria 'versus' Confessores da Fé

por Manuel Lopes


À semelhança de anteriores convívios anuais organizados pelos ex-combatentes da CCaç 3396, 'Lenços Negros', mobilizados para Moçambique de 1971 a 1973, teve lugar na Moita, Anadia,  no passado dia 25 de maio, como tem sido habitual em todos os convívios, a
celebração de uma Missa por intenção daqueles que já partiram.

A passagem pela Igreja Matriz da Junta de Freguesia da Moita ficaria assim indelevelmente marcada pela saudação especial protagonizada pelo Senhor Padre Vitor Espadilha, na presença de ex-combatentes, familiares e amigos, que aqui destacamos:

“Ao ver os vossos cabelos brancos (alguns já os perderam!...), eu imagino vocês rapazinhos novos, há uns anos atrás, convivendo e sonhando e depois com a vida mais entroncada pelo problema da guerra!...

"Tivestes que ir para lá, sim, não, sim?!...

"Aquilo que foi o Portugal colonial e a separação da Mãe, do Pai, da esposa que ficava!...

"As notícias que chegavam e não chegavam!...

"Saudades da Terra!...

"As diferentes complicações que provocamos e dobramos nos sonhos de qualquer rapaz jovem!...

"Mas será que vocês estavam sós?!

"Agora está alguém ao vosso lado, a vossa esposa, os vossos filhos, os vossos netos!...

"Outros não chegaram, lembramo-los hoje também.

"Celebramos a gratidão e o dom da Vida!...

"Nósm na Igreja, temos uma distinção, com os mártires como São Sebastião. São os que morreram por causa da Fé, são representados com uma palma na mão, são os Confessores que foram para uma situação de luta, arriscando a Vida, prontos a morrer, fortes a dar
ajuda. Esses que estavam dispostos a dar a Vida, chamam-se na Igreja 'Confessores da Fé'.

"Então vocês são 'Confessores da Pátria', por quem lutaram, a quem estavam dispostos a dar a Vida.”


Continuando a celebração da Missa o Senhor Padre Vitor Espadilha convidou os ex-combatentes para se juntarem à sua volta no altar:

“Quando a gente vai num barco ou num avião, o destino do barco ou do avião, é o destino daqueles que lá vão, de todos que o ocupam!

"Ou chega ao porto ou não chega!...

"E vocês que estavam na Companhia, o destino era igual, não é?! Era uma Unidade que vocês criaram, que vos liga profundamente para o resto das vossas Vidas!!...

"Então quero que vocês dêem as mãos e rezem comigo!”




Foto nº 1 > Anadia > Moita > 42º convívioo anual do pessoal da CCAÇ 3396, "Lenços Negros" (Moçambique, 1971/73) > 25 de maio de 20214 > greja Matriz de Moita > Comunhão e partilha em torno do altar


E o Senhor Padre Vitor Espadilha continuou a surpreender-nos com o pedido seguinte:

“Queria que ficasse na Igreja um símbolo da vossa presença!...

"Eu vou pedir a um de vocês que me dê um Lenço Negro!...

"Quem me dá um Lenço Negro?!

"Por favor, não coloque aqui no altar, vai entregar a Ela, a Nossa Senhora de Fátima, para que continue sempre nas mãos Dela!"...


Carlos Costa, organizador do Convívio, subiu então para uma cadeira a fim de colocar um Lenço Negro nas mãos da imagem de Nossa Senhora de Fátima que tinha sido colocada no altar no início da celebração da Missa.

"A partir de agora ficará sempre na Paróquia!!", anunciou o Senhor Padre Vitor Espadilha.



Foto nº 2 > Anadia > Moita > 42º convívio anual do pessoal da CCAÇ 3396, "Lenços Negros" (Moçambique, 1971/73) > 25 de maio de 2024 > Igreja Matriz de Moita > Um Lenço Negro nas mãos de Nossa Senhora de Fátima



Seguiu-se o Cântico entoado e aplaudido por todos os presentes:

Miraculosa, rainha dos Céus,
Sob o teu manto tecido de Luz,
Faz com que a guerra se acabe na Terra,
Paz entre os homens, a Paz de Jesus!
Pelas crianças, flor em botão,
Pelos velhinhos, sem Lar, sem Pão,
Pelos Soldados que à guerra vão,
Senhora,  aceita minha oração!


No final o Padre Vitor Espadilha, qual Lenço Negro, juntou-se à fotografia à saída da Missa na Igreja Matriz, tendo à sua frente o Mateus, neto do Aníbal Duarte Santos, organizador local do Convívio   (Fot0 nº 3, vd. acima).

Alguns dias mais tarde tivemos oportunidade de enviar este email de agradecimento ao Senhor

"Padre Vitor Espadilha:

"Bom dia Senhor Padre Vítor, Lenço Negro:

"Só agora tive conhecimento do seu email, por isso aqui estou a dar notícias.

"Antes de mais os meus agradecimentos, em meu nome, de todos os ex-combatentes, familiares e amigos dos Lenços Negros. A sua benção no altar e a oferta de um Lenço Negro a Nossa Senhora de Fátima serão sempre referências indeléveis do nosso 45º Convívio anual.

"A CCaç 3396 que já tinha sido consagrada a Nossa Senhora em 1971, volta de novo ao seu Convívio, passados 53 anos, reconfortados com a sua mensagem de Paz.

"Obrigado. Vamos continuar em contacto. Vou convidá-lo para a nossa página de 'Moçambique, Lenços Negros' para nos continuar a acompanhar com a sua profunda mensagem de estima, compreensão e solidariedade.

"Obrigado. Abraço. Manuel Lopes"



O Senhor Padre Vitor Espadilha não tardou a responder assim:

"Boa noite. Fico muito honrado...vocês são nossos HERÓIS... contem comigo... sempre..."

Ao fim de 45 Convívios anuais da CCaç 3396, "Lenços Negros", e em tempo de comemoração dos 50 anos do 25 de Abril, nunca nos tinham apelidado de HERÓIS, quais Confessores da Pátria.

A Igreja, como nenhuma outra Instituição através do Padre Vitor Espadilha, soube interpretar e sublimar o tempo de guerra e os sacrifícios que lhe estão intimamente associados.

Habituado a identificar os ex-combatentes como Heróis da Liberdade, foi reconfortante ouvir da parte do Padre Vitor Espadilha a sua identificação como HERÓIS, remetendo-nos para a importância da Igreja e dos valores religiosos a ela ligados que nos acompanharam nos
diferentes teatros de operações.

Bem haja,  Senhor Padre Vitor Espadilha.

Foi reconfortante, salutar e estimulante a nossa passagem pela Igreja Matriz da Moita, marco indelével das nossas vivências de guerra e de Paz.

Lisboa, 16 de junho de 2024.

Manuel Lopes

PS - No programa do Convívio estava a deposição de uma coroa de flores junto ao Monumento dos ex-combatentes, a visita ao Museu do Vinho e a realização de um almoço no Restaurante D. Sancho. Mas o essencial já tinha acontecido na Igreja Matriz da Moita.

(Revisão / fixação de texto, título do poste: LG)

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Nota do editor:

Último poste da série >31 de outubro de 2024 > Guiné 61/74 - P26100: (In)citações (267): Memorando sobre a Escola São Francisco de Assis, em Timor, entregue ao primeiro-ministro Xanana Gusmão através do embaixador Dionísio Babo Soares, representante do país nas Nações Unidas (João Crisóstomo)

Guiné 61/74 - P26116: Manuscrito(s) (Luís Graça) (261): Porto Santo, e a África aqui tão perto - Parte V: o Pico da Ana Ferreitra e a magia da geologia

 












Porto Santo > Pico Ana Ferreira, geossítio nº 4  > 2 de outubro de 2024


Fotos (e legenda): © Luís Graça (2024). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. É o geossítio (PSt04) que vale o percurso de jipe (pela parte Norte da ilha,  4 pessoas, custando 40 euros por pessoa, num total de 3 horas com guia).

É o ponto mais alto da ilha, no lado ocidental (288 m). Fica-se estarrecido com o "piano", o conjunto de "colunas prismáticas", nascidas do "génio" do vulcão, ou,  em linguagem menos poética, resultante do fenómeno, que em geologia e geomorfologia se chama ... disjunção prismática.

Não há muitas, no nosso planeta, formações geológicas exibindo disjunções prismáticas como esta... Só não percebo por que é que ainda não foi classificada como "monumento natural", e não há maior cuidado com a sua proteção.

Cite-se mais algumas famosas a nível mundial:


Este geossítio no Pico Ana Ferreira durante anos foi uma pedreira. Extraía-se pedra para a construção e obras públicas.  Até que alguém deu conta desta obra-prima da natureza, que é um regalo para a fruição estética... e uma referência obrigatória para a educação ambiental e o turismo na ilha.

Lê-se no  "site" oficial da Geodiversidade da Região Autómoma da Madeira:

(...) "Nesta antiga pedreira do Pico de Ana Ferreira observa-se uma disjunção prismática com colunas quase perfeitas, de elevado valor estético. 

"Esta estrutura, de cor cinza clara, foi originada pelas tensões de contração que se geraram durante o arrefecimento do magma no interior de uma conduta vulcânica.

"A rocha resultante do magma consolidado - mugearito, por ser mais resistente do que as rochas encaixantes, sobreviveu à ação erosiva, enquanto o material à sua volta foi desaparecendo ao longo do tempo." (...)

__________________

Nota do editor:

2 de novembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26109: Manuscrito(s) (Luís Graça) (260): Ao fim da tarde, ao pôr do sol no Atlântico, lembramos neste dia todos os nossos mortos queridos

Vd. poste anterior > 29 de outubro de 2024 > Guiné 61/74 - P26092: Manuscrito(s) (Luís Graça) (259): Porto Santo, e a África aqui tão perto - Parte IV

segunda-feira, 4 de novembro de 2024

Guiné 61/74 - P26115: As nossas geografias emocionais (28): Gabu, antiga Nova Lamego (Valdemar Queiroz, ex-fur mil at inf, CART 11, 1969/70)



Guiné > Zona leste > Região de Gabu > CART 11 (Nova Lamego, Piche, Paunca, 1969/1970) > Nova Lamego >  Quartel de Baixo >  1969 > O Valdemar Queiroz , em frada nº 3, e com o típico capacete colonial.


Guiné > Zona leste > Região de Gabu > CART 11 (Nova Lamego, Piche, Paunca, 1969/1970) > Nova Lamego > Quartel de Baixo > 1969 > O Valdemar Queiroz  em dia de... sargento de dia (1)


Guiné > Zona leste > Região de Gabu > CART 11 (Nova Lamego, Piche, Paunca, 1969/1970) > Nova Lamego > Quartel de Baixo > 1969 > O Valdemar Queiroz  em dia de... sargento de dia (2)



Guiné > Zona leste > Região de Gabu > CART 11 (Nova Lamego, Piche, Paunca, 1969/1970) > Nova Lamego > 
Quartel de Baixo > 1969 >Porta d' armas. À   esquerda, o Valdemar e uma lavadeira.

Fotos (e legendas): © Valdemar Queiroz  (2034). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné > Zona leste > Região de Gabu > CART 11 (Nova Lamego, Piche, Paunca, 1969/1970) > Nova Lamego > Quartel de Baixo > 1969 >"Porta de armas": continência à bandeira nacional.

Foto (e legenda): © Abílio Duarte  (2013). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné-Bissau > Região de Gabu > Gabu > Sede do Governo Regional de Gabu > s/d (c. 2011) > Fonte: Página do Facebook de Rádio Gandal 104.7 FM - Gabú, Guiné-Bissau (com a devida vénia...)






Guiné-Bissau > Região de Gabu > Gabu > 16 de dezembro de 2009 > A rua comercial da nova Gabu, onde há banco (agência do BAO - Banco da África Ocidental) e multibanco... Em 2009, a velha "rainha do Gabu" havia já destronado a "princesa do Geba", do nosso tempo, Bafatá, a cidade "colonial" mais encantadora da Guiné... Mudam-se os tempos, mudam-se os lugares: aqui falava-se mais francês do que português, e corriam muitos CFA, escreveu o João Graça, médico e músico, que viajou por estas paragens...  

Fotos (e legenda): © João Graça (2009). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné-Bissau > Região de Gabu > Gabu > 2008 > Rua principal; ao fundo, a sede do governo regional. Fonte: Wikimedia Commons (com a devida vénia...)


"Repare-se nos magníficos poilões existentes nas traseiras do edifício e que faziam parte das sombras no nosso Quartel." (VQ)


Guiné-Bissau > Região de Gabu > Gabu > "Núcleo histórico"... Cortesia de:  Catálogo da exposição “Urbanidades – Arquitectura e Sítios Históricos da Guiné-Bissau”  Organização: Fundação Mário Soares (Alfredo Caldeira e Victor Hertizel Ramos); Curadoria: Ana Vaz Milheiro, com Filipa Fiúza,  ISCTE-IUL, DINÂMIA’CET, Lisboa, 2016)




Guiné-Bissau > Região de Gabu > Gabu > 16/2/2005 > Edifício da Estação dos CTT



Guiné-Bissau > Região de Gabu > Gabu > 16/2/2005 > Edifício da administração do Gabu

Fotos (e legendas): © José Couto / Tino Neves (2005). Fotos gentilmente cedida por José Couto (ex-fur mil trms, CCS/BCAÇ 2893, Nova Lamego, 1969/71), camarada do nosso grã-tabanqueiro Constantino Neves.



Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego > s/d  (c. anos 1940) > Sede da circunscrição. Fonte: desconhecida



Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego >  1955 > Visita do Presidente da República, gen Craveiro Lopes, com o cortejo passando defronte do edifício da administração. Fonte: desconhecida.

(Fotos selecionadas por Valdemar Queiroz; nem todas se publicaram por falta de resolução; revisão / fixação de texto, edição de fotos: LG)




1. Mensagem de Valdemar Queiroz (ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70), membro da Tabanca Grande desde 16 de fevereiro de 2014; tem 186 referências no nosso blogue, de que é um leitor atento e comentador assíduo):



Data - sábado, 2/11, 14:55 (há 1 dia)

Assunto - Gabu (Nova Lamego) > Edifício do Governo Regional do Gabu

Parecia um Palácio.

Julgo que fora de Bissau não existia, em 1969/70, um edifício com a grandeza do da Administração de Nova Lamego, mais tarde do Governo Regional do Gabu.
 
A parte lateral esquerda e as traseiras do edifício, assim como um vasto terreno e um grande armazém, era ocupada por instalações militares, o chamado Quartel de Baixo, de Nova Lamego.

Todo o Quartel de Baixo era ocupado pela minha CART11, de soldados fulas do recrutamento local, que anteriormente por lá tinha estado instalada, julgo que parte, da CART 1742, do Abel Santos, que deixou interessantes vasos feitos das partes inferiores de barris de vinho.

Num piso superior, das traseiras do edifício, com acesso por uma escadaria para uma varanda a toda a volta, ficavam as instalações dos oficiais e sargentos e secretaria, sendo utilizada na parte da bela varanda virada à entrada pela messe de oficiais e sargentos.

Nas várias fotografias anexas, umas tiradas da Net e outras do nosso blogue, vê-se a parte frontal do edifício desde 1940 até à atualidade. 

Na fotografia do Abel Santos (à esquerda), embora pouco legível, vê-se a escadaria que dá acesso à grande varanda e instalações da Companhia, no rés do chão havia uma arrecadação. Como curiosidade, note-se a porta d'armas com um sentinela e usando uma simples corda a barrar a entrada.
 
É pena não haver fotografias no blogue com tropa fotografada junto da frontaria do edifício, assim como na 'parada' a apanhar a parte do Quartel instalado no edifício.

Dentro das nossas instalações havia uma porta trancada de ligação com um pátio do edifício que de uma das nossas janelas podíamos verificar tratar-se duma cadeia de penas leves de mulheres.

Havia valas e arame farpado em todo o perímetro do Quartel, tínhamos um morteiro 120 no meio da parada, um forte abrigo para o material e umas espessas paredes no edifício que aguentavam granadas de RPG-7.
 
Durante vários meses que estivemos instalados no Quartel de Baixo, apenas fomos atacados com os foguetões 122 que passaram por cima, mas os Pelotões da Companhia estavam em intervenção com acções de patrulhamento, reforço de outras unidades e segurança de outras tabancas.

Valdemar Queiroz





Guiné > Região do Gabu > Nova Lamego > CCS / BCAÇ 2893 (1969/71) > 1970 > Foto aérea > Povoação e quartel velho de Nova Lamego (hoje Gabu). Principais edifícios civis e militares 


Legendas:

(1) Caserna das Praças;
(2) Casas civis (para alugar);
(3) Loja dos irmãos Libaneses;
(4) Depósito de géneros;
(5) Estação dos CTT (civil);
(6) Destacamento de Engenharia;
(7) Messe de Oficiais;
(8) Messe de Sargentos;
(9) Parque e Oficinas Auto;
(10) Refeitório;
(11) Dormitório de alguns Sargentos;
(12) Sala do Soldado;
(13) Parque de Jogos.

Imagem aérea do quartel antigo e da vila de Nova Lamego.O quartel estava situado no centro da vila, formando um rectângulo e ocupando alguns edifícios civis. A foto já vinha com as marcas sem a respectiva legenda,que o Tino Neves completou. (Foto cedida por Roseira Coelho, que o Tino Neves presumia fosse ten pilav, mas não, segundo apurámos, trata-se de  José João Roseira Coelho, licenciado em Engenharia Eletrónica pela Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, ex-alf mil sapador, e professor.) .

Foto (e legendas): © Roseira Coelho / Tino Neves (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagenm complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

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Nota do editor:

Guiné 61/74 - P26114: Notas de leitura (1741): À descoberta do passado de África, por Basil Davidson (1) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 20 de Julho de 2023:

Queridos amigos,
A obra de Basil Davidson não esconde os objetivos subjacentes: mostrar como houve civilizações e culturas prodigiosas antes da chegada do europeu, é uma escrita com o seu poder elegíaco, e se assim não fosse não tinha havido uma edição a pedido do Ministério da Educação da República Popular da Angola. Tendo sido um ativista fervoroso pelas causas dos movimentos independentistas (PAIGC, MPLA e FRELIMO), também aqui deixa a sua marca da água, veremos adiante que trata a questão da escravatura na África pré-colonial como cão por vinha vindimada, era quase tudo compra de gente que ficava em família, segue-se então o comércio ignóbil dos europeus, que deixou os seus filhos e filhas povoarem vastas regiões das Américas e das Caraíbas, e que deram um contributo vital para o desenvolvimento do Novo Mundo. A despeito de óbvia parcialidade no tratamento das chamadas "questões quentes", Davidson é um excelente escritor e o seu livro uma lição de divulgação, uma boa obra de consulta para certos investigadores e universitários que queiram procurar aprender a escrever para o grande público.

Um abraço do
Mário



À descoberta do passado de África, por Basil Davidson (1)

Mário Beja Santos

A edição original é de 1978 e a tradução portuguesa de 1981, Sá da Costa Editora, que também produziu uma edição para o Ministério da Educação da República Popular da Angola. Basil Davidson, jornalista e escritor, tem vasto currículo ligado aos movimentos independentistas de língua portuguesa, recordo que foi ele que propiciou a ida de Amílcar Cabral a Londres em 1960, o líder do PAIGC (então PAI) apresentou um significativo documento sobre as colónias portuguesas, deu conferências e conversou com parlamentares, estabeleceu apoios. Este livro é uma introdução à história dos africanos, decorre às vezes numa atmosfera de intenso elogio ao contributo dos africanos para o progresso do Mundo Antigo, enfatizará a ascensão e esplendor de civilizações famosas do vale do Nilo, e iremos ver referências a mercadores e impérios, o Gana, o Mali e o Songai; haverá uma exposição quanto à importância da África Oriental e Central, como é óbvio procuraremos relevar o que ele escreve sobre a África Ocidental. Em tom francamente divulgativo, seguem-se exposições quanto ao modo de vida dos africanos, uma exposição sobre o comércio de escravos e, por fim, um capítulo dedicado ao colonialismo e independência.

Tudo começa com a descoberta em 1888 das ruínas de grandes edifícios de pedra na região do Zimbabué, quem teria construído aquelas grandiosas muralhas de pedra e sabido fazer elegantes pulseiras de ouro batido? Os primeiros arqueólogos não encontravam resposta. Hoje sabe-se que estas paredes do Zimbabué terão cerca de mil anos. Como se sabe que houve povos africanos pioneiros no último período da Idade da Pedra e a paleontologia dá como certo e seguro de que o homem, tal como o conhecemos, tem aqui a sua origem.

O povo mais bem-sucedido foi aquele que vivia nas margens do rio Nilo, no território que depois foi o Egito. Davidson dá-nos um quadro de tão portentosa civilização e a sua cronologia. Ali perto nasceu outra civilização, o reino de Kush, construído em duas fases, a primeira sobre a influência egípcia e a fase em que a capital era Méroe, a cerca de 140 km a Norte da moderna Kartum, a capital do Sudão, o poder e a influência de Méroe durou aproximadamente oito séculos. Estes kushitas eram grandes viajantes e comerciantes, inventaram um alfabeto novo com signos para 23 letras (os cientistas ainda trabalham na sua decifração); hábeis agricultores, mas também fortes na guerra, utilizavam a cavalaria, domesticaram o elefante africano; no auge do seu poderio, entre aproximadamente 300 a.C. e 200 d.C., os kushitas dominavam a parte das parcelas do Norte e do centro do Sudão Oriental.

O autor volta-se agora para os povos berberes; antes do ano 2000 a.C., uma grande parte do que é atualmente o deserto do Saara consistia em pradarias bem irrigadas onde viviam e labutavam muitos grupos africanos da Idade da Pedra; as alterações climáticas reconfiguraram estes povos saarianos, deram-se impressionantes migrações; os Tuaregues estão entre os descendentes destes primeiros saarianos; aqueles que viviam no Norte de África aprenderam a metalurgia com os vizinhos do outro lado do Mediterrânio, na Hispânia. O autor refere Cartago e Roma em África e dá um enfoque aos primeiros reinos cristãos de África. O Egito chegou a ser terra cristã; mas a comunidade mais original é a Igreja Copta, criou elegantes igrejas, belas bibliotecas, muitas pinturas e esculturas religiosas; tiveram diferendos com Bizâncio, mas ficaram independentes; há também a registar o cristianismo núbio.

África foi sempre um continente difícil, se bem que possuidor de territórios aprazíveis, ao longo de alguns dos grandes rios, ou nas margens dos lagos, ou nas férteis terras altas orientais que constituem atualmente o Quénia, a Uganda, o Norte da Tanzânia, o Ruanda e o Burundi; mas a maioria dos africanos só pode sobreviver e prosperar respondendo a severos desafios de clima e solo.

“Por vezes foram ajudados pela exuberância da natureza de África, pelas suas altas florestas ou grandes manadas de animais de boa carne, tais como antílopes e búfalos; mas estas mesmas vantagens também acarretavam desvantagens. As florestas eram de difícil penetração; com frequência era difícil viver nelas. Os animais incluíam perigosas feras. A maioria dos africanos teve também de resistir às doenças peculiares das regiões tropicais. Estas incluíam a malária, transmitida pelos mosquitos; certas outras doenças, tais como a bilharzíase, transmitida por caracóis aquáticos ou a debilitação provocada pelos ancilóstomos (infeção parasitária); e, entre as piores, a doença transmitida pela mosca tsé-tsé.”

A despeito destas adversidades, a população fixou-se, desenvolveu a sua agricultura, utilizou o ferro, gerou civilizações. Podemos falar do mundo africano dedicado ao comércio, em duas regiões distintas. A primeira foi o império de Monomotapa, ligado ao comércio mundial pelos mercadores suaílis que, das cidades da costa oriental, penetravam no interior; a segunda, foi a África Ocidental a sul do Sudão, dotou-se de mercadores sudaneses e berberes do Saara do Norte de África. Os africanos produziram e exportaram muitas centenas de toneladas de ouro.

É a vez de ser referenciado o Andaluz, em inícios do século VIII muçulmanos do Norte de África ergueram uma civilização nas regiões meridional e central de Espanha que durou até 1492, quando os Reis Católicos conquistaram Granada. É descrita esta brilhante civilização andaluza, a sua arte e os seus eruditos.

A sul do Saara temos os impérios das savanas. Estes povos centravam-se principalmente em ricas cidades-mercados onde os seus reis e mercadores viviam, eram povoados como forte atrativo para outros negociantes. E fala-se do Gana, teve o auge do seu poder cerca do ano 1000, os seus reis controlavam as rotas que levavam para o Sul, do Gana para o país que ficava à volta das nascentes do rio Níger, tinha o domínio da exportação do ouro, produziam moedas que circularam em dois continentes. A ascensão do Mali foi em grande parte obra do povo Mandinga de Wangara. Depois de 1250, o Mali expandiu-se até se transformar num dos maiores Estados do seu tempo. São desconhecidas as datas dos reinados dos primeiros monarcas do Mali. Sabe-se mais do bem-sucedido Kankan Mussa, que tomou o poder cerca de 1312, reinou até 1337. Dele sabemos mais através de um viajante árabe Ibn Batuta que nos deixou um relato palpitante do rei e da sua civilização. Este Kankan Mussa ficou na história por uma famosa peregrinação a Meca. “Diz-se que Mussa levou com ele cerca de 80 carregamentos de ouro do Mali, 500 dos seus servos traziam um bastão de ouro com o peso de 2 quilos. O imperador deu a maior parte deste ouro no Cairo, enquanto os cortesões também se serviam do ouro para fazerem compras nos mercados elegantes da capital egípcia.” O autor faz uma descrição deste império e depois fala-nos dos Songhai do Sudão Central que se impuseram depois da derrocada do Gana.

Deles iremos falar adiante, bem como de Tombuctu, haverá uma curta referência às cidades da costa Oriental e voltaremos à África Ocidental.


Mário Pinto de Andrade, Ana Maria Cabral, Pedro Pires e Basil Davidson, Cidade da Praia. 1980. FMSMB - Arquivo Mário Pinto de Andrade
Basil Davidson (1914-2010)
Ruínas localizadas a 20 km de Masvingo, sul de Zimbabwe. Era o centro de uma poderosa civilização conhecida como Império Monomotapa, cobrindo áreas do Zimbabwe e Moçambique.
Um pormenor do que foi o reino de Kush
Igreja de São Jorge em Lalibela, Etiópia

(continua)
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Nota do editor

Último post da série de 3 de novembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26111: Notas de leitura (1740): "Poemas de Han Shan" (China, séc. VIII), organização, tradução e apresentação de António Graça de Abreu, no Centro Científico e Cultural de Macau, Lisboa, 26/9/2024