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segunda-feira, 27 de janeiro de 2025

Guiné 61/74 - P26430: O segredo de... (49): António Medina (1939-2025) - Parte V: Comentários (2014): (I) Vasco Pires / Luís Graça / Manuel Carvalho / António Graça de Abreu / Joaquim Luís Fernandes / Júlio Costa Abreu / Manuel Luís Lomba / António Rosinha / António Medina / César Dias / Carlos Pinheiro / João Lemos



Guiné > Região do Cacheu > Zona Oeste > Sector 01 (Teixeira Pinto) > Jolmete > "Eu com o Dandi Djassi, futuro capitão de milícia, em pose para a foto".

Foto de Manuel Resende.  ex-alf mil, CCaç 2585/BCaç 2884, Jolmete, Pelundo e Teixeira Pinto, 1969/71.

Foto (e legenda): © Manuel Resende (2012). Todos os direitos reservados, [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Major General Hélio Esteves Felgas (1920-2008): duas comissões na Guiné  (Bula, 1963/64; Mansoa, Tite, Bafatá, 1968/69); um dos militares portugueses da sua geração mais condecorados, autor de dezenas de livros e artigos sobre a "luta contra o terrorismo", a guerra ultramarina... Comparou a Guiné ao Vietname. Também considerava que a solução para a Guiné não era militar mas política... Foi, todavia, um crítico de Spínola que lhe terá roubado, entretanto, a ideia dos reordenamentos (aldeias estratégicas) (1). Um oficial intelectualmente brilhante mas controverso, dizem alguns dos seus pares, mais novos. (Foto gentilmente cedida ao nosso blogue pela filha, Dra. Helena Felgas, advogada, que era amiga do prof Jorge Cabral.)
 


1. Na altura, a "partilha do segredo" do António Medina (1939-2025) (*) provocou diversos comentários (**) que merecem ser aqui revistos, incluindo a resposta do autor (que infelizmente acaba de nos deixar no início deste ano). Também o Vasco Paris (1948.2016), camarada da diáspora lusófona já não está entre nós (morreu no Brasil).

Outro camarada da diáspora lusófona é o Júlio Costa Abreu, é contemporâneo dos acontecimentos tal como o Manuel Luís Lomba. Camnaradas de épocas diferentes, mas que conheceram o "chão manjaco": Manuel Carvalho, António Graça de Abreu, Joaquim Luís Fernandes e João Lemos, além do António Medina.


(i) Vasco Pires (1948-2016) (ex-alf mil. cmdt, 23º Pel Art, Gadamael, 1970/72),

"War is hell,"

"You cannot qualify war in harsher terms than I will. War is cruelty, and you cannot refine it; and those who brought war into our country deserve all the curses and maledictions a people can pour out. I know I had no hand in making this war, and I know I will make more sacrifices to-day than any of you to secure peace."


General William Tecumseh Sherman

Parabéns, Camarada, por conseguires exorcizar os teus "fantasmas".

terça-feira, 24 de junho de 2014 às 20:25:00 WEST 

 PS -  (...) Fiz a citação do major-general Sherman, por se tratar de um militar da terra de adoção do camarada Medina.

Citei-o também, por ser o autor da célebre frase "War is hell", repetida até hoje à exaustão.

Transcrevi a frase seguinte, por ter sido feita, por um militar considerado intransigente, num momento de decisão particularmente difícil - a evacuação e incêndio de Atlanta.

Quanto a juízos de valor,nada tenho contra quem os faz, contudo, eu tento não os fazer. (...)


(ii) Luís Graça, editor

Nunca é demais recordar uma das regras básicas do nosso blogue, sem a qual não pode haver "partlha de memórias e de afetos":

(...) "recusa da responsabilidade coletiva (dos portugueses, dos guineenses, dos fulas, dos balantas, etc.), mas também recusa da tentação de julgar (e muito menos de criminalizar) os comportamentos dos combatentes, de um lado e de outro" (...)


(iii) Manuel Carvalho Manuel Carvalho (ex-fur mil armas pesadas inf, CCAÇ 2366 / BCAÇ 2845, Jolmete e Quinhamel, 1968/70)


 
(...) Cerca de quatro anos depois junho de 68 a minha companhia 2366 chegou a Jolmete e aí permanecemos cerca de um ano. O Blog tem fotos minhas desse mesmo barracão que era o edifício com mais qualidade que existia em Jolmete.A pouca população que havia tinha sido recuperada no mato. O régulo atual de Jolmete julgo que é o Cajan Seidi. Por acaso não te lembras do nome desse régulo? (...)


(iv)  António Graça de Abreu ( ex-alf mil, CAOP1, Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74):

Diz o António Medina:

"Não se trata de nenhuma minha criatividade ou ficção, mas sim a descrição verdadeira de factos sucedidos, contados a mim na altura por quem foi testemunha e participante de uma acção bastante degradante e vergonhosa."

Portanto o António Medina não assistiu aos "fuzilamentos", ouviu contar.

Não digo que não possam ter acontecido, todas as guerras são sujas, tudo é possível, até o assassínio de três majores e um alferes, mais dois guias, gente do meu CAOP 1, em 1970, militares desarmados que iam em negociações de paz, exactamente na estrada do Pelundo para o Jolmete.

Estive sete meses em Teixeira Pinto, em 1972/73, estive no Jolmete em 1972, jamais ouvi esta história. Eu sei que já haviam passado oito anos, mas "fuzilamentos" deste tipo costumam deixar lastro na memória das gentes.

Gostava que estes "fuzilamentos" fossem confirmados por mais pessoas que se possam pronunciar com verdade, com factos, não de ouvir contar. (...)
 

(v) Joaquim Luís Fernandes (ex- alf mil, CCAÇ 3461/BCAÇ 3863, Teixeira Pinto, 1973, e Depósito de Adidos, Brá, 1974):
 
(...) Eu sou um sentimentalão! E se calhar muito ingénuo.

Ao ler esta narrativa sentia uns arrepios e um desgosto profundo e interrogava-me: Como terá sido possível tão medonho ato por parte de um corpo do exército português, formado e enquadrado por valores éticos,que condenariam em absoluto tal procedimento? Ou havia nesse tempo outra doutrina que eu desconheço?
E porque duvidar da verosimilhança da descrição do camarada António Medina?...

Tudo isto mexe comigo. Porque vivi aí os meus primeiros medos e pisei esse chão incerto e instável,sou remetido para as questões que tantas vezes coloquei a mim próprio: Porquê a antipatia que via espelhada nos rostos dos manjacos e a sua desconfiança e má vontade?

Teria a ver com a memória desses factos, ou eram memórias bem mais antigas, do tempo de Teixeira Pinto ou ainda mais antigas do tempo dos escravos do Cacheu?

Em 1973, em Teixeira Pinto, coabitávamos em paz aparente com a população local,(velhos, mulheres alguns jovens adolescentes e crianças) mas sentia que eramos "personas non gratas". Toleravam-nos enquanto os serviamos Diziam-me os meu soldados: "Eles fazem de nós seus criados".

Também ainda não consegui encaixar bem toda a tramoia dos assassinatos dos três majores, do alferes e dos acompanhantes, em 1970. Apesar de tudo o que li, ficaram-me vários hiatos sem explicação. Agora fico com mais esta dúvida: Será que um acontecimento não tem nada a ver com o outro? A minha intuição diz-me que sim. Pelo menos o local escolhido foi o mesmo. Porquê?... Esta história tem muito por contar! (...)


(vi) Júlio Costa Abreu (ex-1º cabo 'cmd', Grupo Centuriões, Cmds do CTIG, Brá, 1964/66)

(...) Ser ou não ser , e questão ter ou ter razão.

E de quem foi na culpa de terem fuzilado em Banbandinca depois do 25 de Abril tantos soldados Comandos, como por exemplo o Jamanca e muitos outros, ou será que depois de eles terem confiado nos novos donos da Guiné foi a paga que lhes deram? 

Isso também motivo para serem assassinados ?  E guerra realmente nunca foi limpa mas isso e normal.

Julio Abreu (
Crupo de Comandos Centurioes, ex-Guiné Portuguesa)


(vii) Manuel Luís Lomba (ex-fur mil cav, CCAV 703/BCAV 705, Bissau, Cufar e Buruntuma, 1964/66):

(...) Terei sido contemporâneo destas circunstância.Chegamos a Bissau (BCav 705) em 26/7/64 e a minha subunidade (CCav 703) foi de intervenção para Bula em Agosto, fez o seu baptismo de fogo em Naga e durante 20 dias reforçou a atividade operacional o BCaç 507, comandado pelo então tenente-coronel Hélio Felgas - que alinhava no mato.

Sem pretender sindicar a memória do camarada António Medina, acho algo de estranho. Aquele comandante exortava-nos à implacabilidade em relação à gente que nos recebesse à bala ou granada, mas incitava-nos ao cuidado de poupar populações. Enfatizava o dilema das mesmas - colocados entre a tropa e os "terroristas". 

Havia bastantes presos, junto à casa da guarda que recebiam o rancho geral e não me apercebi de maus tratos. Isto dois meses após esses eventuais factos. Cercar tabancas e fazer capturas foi o nosso dia a dia nosso de cada dia operacional. 

Aconteceram atos lamentáveis? Com certeza. Mas o fuzilamento dos capturados diferido dois meses suscita melhores provas. Luís Cabral não refere esse evento no seu livro "Crónica da Libertação". E aquele foi o tempo da prisão de importantes paigcistas, como Rafael Barbosa, Fernando Fortes, sem esquecer os que vieram a conspirar e assassinar Amílcar Cabral que não foram eliminados. (...)


(viii) António Rosinha (ex-fur mil, Angola 1961/62, e topógrafoda TECNIL, Guiné-Bissau, 1987/93)

(...) Todos os crimes e fuzilamentos e atrocidades cometidos pelos tugas estão adaptados ao discurso anticolonial conveniente às autoridades revolucionárias que tomaram conta do poder em toda a África.

Isto desde o início da guerra em 1961, sempre se acreditou em tudo o que vinha de Argel, Moscovo e Brazaville e Conacry.

Desde os números arredondados tipo os 50 mártires do Pidjiquiti até aos milhares de turras da UPA lançados ao mar, pelos luxuosos PV2 da FAP, tudo está "provado" e "comprovado".

Só falta descobrir o segredo das valas comuns e da contagem dos respectivos cadáveres. (...)

quinta-feira, 26 de junho de 2014 às 13:51:00 WEST 
 
(ix) António Medina (1939-2025) (ex-fur mil,
OE, CART 527 /  (Teixeira Pinto, Bachile, Calequisse, Cacheu, Pelundo, Jolmete e Caió, 1963/65).

 (...) 
Acabo de tomar conhecimento de comentários feitos por alguns camaradas, mostrando certa relutância em aceitar a narrativa dos factos acontecidos na área de Jolmete. Cada um tem o direito de aceitar ou discordar e até pedir provas mais concretas desde que estejam disponíveis.

Segundo a teoria aplicada pelo comandante do Batalhão de Bula , ver comentaário do camarada Manuel Lomba porque assim reza o seu segundo parágrafo:

” Aquele comandante exortava àimplacabilidade em relação às gentes que nos recebessem à bala  ou granada mas incitava-nos ao cuidado de poupar populações" ,

Ora, o que foi feito em Jolmete ?

Pouparam, sim, a vida das mulheres e crianças. Mas sem condescendência, como vingança, exterminaram os homens da tabanca,considerando o facto que talvez fossem coniventes com os autores da tal emboscada ou assim evitar o perigo de virem a pegar em armas. Foi uma ação bastante secreta como é obvio.

Se enquadra ou não na teoria operacional daquele comandante  ?

Sabemos que casos semelhantes aconteceram não só na Guiné mas também em Angola e Moçambique, em grupos ou a nível individual.

O camarada Manuel Carvalho se refere ter estado em Jolmete em 1968, quatro anos depois , assim como que a pouca população que havia em Jolmete tinha sido recuperada no mato. isto vai ou não ao encontro do que escrevi, da fuga da população que restou e se refugiou no mato?

Estava eu em Bissau como empregado do BNU quando em 1970 se deu o caso dos três majores, um alferes e outros na estrada de Jolmete. Não obstante fossem militares e em guerra, o caso consternou os civis da cidade de Bissau. Teria sido vingança do PAIGC sobre a tropa colonial ?  (...)
 

(x) César Dias, ex-fur mil sapador, CCS/BCAÇ 2885, Mansoa, 1969/71)

(...) Camaradas, não tenho dificuldade nenhuma em considerar veridica a narrativa do António Medina, já era diferente se estes episódios se tivessem passado durante a era de Spinula, tanto quanto me apercebi não era possivel uma situação destas, com ou sem PIDE. (...)
 
segunda-feira, 30 de junho de 2014 às 13:06:00 WEST 


(xi) Carlos Pinheiro (ex-1.º cabo trms op msg, Centro de Mensagens do STM/QG/CTIG, Bissau, 1968/70):

(...) Fiz a minha comissão na Guiné de outubro de 68 a novembro de 70. Desembarquei cá no dia da Operação Mar Verde.

 Ao longo daqueles 25 meses tive conhecimento de tanta coisa mas, como respondi ao inquérito, dessas cenas macabras nunca ouvi falar com consistência. Estava lá quando os 3 Majores e o Alferes foram selvaticamente assassinados nessa zona de Jolmete. Um horror. 

Mas estava lá também quando foi a evacuação de Madina de Boé quando morreram aquelas dezenas de militares na jangada que se virou. Mas uma coisa conclui hoje. O comandante de Bula falado no poste foi o mesmo que coordenou o abandono de Madina de Boé. E no ano seguinte levou uma Torre e Espada ao peito no Terreiro de Paço. Coincidências? Não sei. (...)


(xii) João Lemos  (ex-alf mil sapador, CCS/BART 6521/72, Pelundo, 1972/74)


(...) Pertenci à CCS do BART 6521/72, onde era alferes miliciano sapador. Estive no Pelundo desde 1972 até à entrega deste quartel, tal como os de Có e o de Jolmete, ao PAIGC, em 1974. Em Jolmete estava a 3ª Companhia do BART 6521/72. 

Fui muitas vezes a Jolmete, pois comandei muitas vezes as escoltas entre Jolmete e João Landim. Passei muitas vezes na “2ª bolanha”, onde foram assassinados os Majores, o Alferes e os dois guias negros em 1970.

 Cheguei portanto a esta zona 8 anos depois dos factos narrados pelo camarada António Medina. Convivi muito com Dandi Djassi que veio a ser fuzilado, tal como o “Sete”, pelo PAIGC, depois da saída das tropas portuguesas da Guiné Bissau. 

Dandi Djassi era de Jolmete, mas vivia no Pelundo, onde, juntamente com as milícias desta localidade, combatia o PAIGC ao lado das tropas portuguesas. 

Nunca ouvi falar dos factos narrados pelo camarada António Medina, mas, tal como diz o comentário anterior do camarada Cesar Dias, "não tenho dificuldade nenhuma em considerar verídica a narrativa do António Medina, já era diferente se estes episódios se tivessem passado durante a era de Spínola, tanto quanto me apercebi não era possível uma situação destas, com ou sem PIDE”. (...)

(Revisão / fixação de texto: LG)

___________

Notas do editor:

(**) Vd,. poste de 5 de setembro de 2018 > Guiné 61/74 - P18988: Blogues da nossa blogosfera (103): "Memórias de Jolmete", de Manuel Resende: Cajan Seidi, o atual régulo de Jolmete, neto de Cambanque Seidi, o régulo de Jol que, em 1964, foi uma das cerca de 20 vítimas de represálias das NT (Manuel Resende / Eduardo Moutinho Santos)

Guiné 61/74 - P26429: As nossas geografias emocionais (36): Fulacunda, sempre!... (Henk Eggens, médico neerlandês, a viver em Portugal)





Foto nº 1 e 1A > Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) >  Vista aérea da pista, do heliporto, do aquartelamento e da tabanca de Fulacunda... São visíveis o perímetro do aquartelamento, os espaldões do obus 14 e outras armas pesadas (que já identificámos noutro poste)... Podem-se contar inclusive as moranças civis e as instalações da tropa...  Tinha também valas e abrigos... Assinalada a amarelo, a "morança" que o nosso amigo dr. Henk Eggens, médico, cooperante, neerlandès, habitou em 1980/82 (e que integrava as antigas  instalaçóes das NT).

Segundo informação recente do nosso amigo e camarada Jorge Pinto, a população de Fulacunda andaria à volta de 400 pessoas de etnia biafada, em 1972/74 . Havia uma família balanta e outra fula,   "Toda esta população tinha familiares nas tabancas do mato que rodeavam Fulacunda e que muitas vezes vinham de visita, nos davam algumas 'informações' sobre o movimento do bigrupo de Bunca Dabó, levando em troca uns quilos de arroz"... Não havia comerciantes, nem colonos... A atividade agrícola era residual,,, "O alimento da população era basicamente o arroz fornecido pela tropa".


Foto (e legenda):  © Jorge Pinto (2025). Todos os direitos reservados.[Edição e legendagem complementar: LG/HE]



 Foto nº 2> Guiné-Bissau > Região de Quínara > Fulacunda > 1980 >   "Casa do médico, Land Rover do projeto,  mota da noiva e carro 404 privado".


Foto: (e legenda) © Henk Eggens (2024). Todos os direitos reservados.[Edição e legendagem complementar: LG/HE]




Foto nº 3 > Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) >  Uma "peladinha"... em frente à futura casa do dr. Henk Eggens.

 
Foto (e legenda);  © Fernando Carolinbo  (2025). Todos os direitos reservados.[Edição e legendagem complementar: LG/HE]


1. Mensagem do nosso amigo Henk Eggens (*), com data de  18/1/2025, 16:53

Olá Luís, kuma di kurpu? 

Gostei de ver mais fotografias da minha tabanca de então.(**)

A primeira fotografia que mando junto, com círculo a amarelo,  mostra onde morei; um ano fiquei sozinho, depois um ano vivi com a minha 'noiva', que depois ficou esposa/companheira de vida durante 26 anos antes de falecer há 19 anos.

A "morança" compostaq de duas casas, nós uma, e o chefe da aldeia, Carlitos, com a sua família na outra.

Não sei quem ocupava este prédio durante a época colonial. Como o prédio era dentro do quartel, seria um oficial do exército português? Ou era um escritório?

A segunda fotografia mostra a nossa casa em 1980, com os meios de transporte disponíveis para nós.

Também achei interessante a fotografia e o comentário sobre filhos de povos mistos (mulheres guineenses e soldados portugueses) (**). O que aconteceu com a maioria destas crianças? Os pais reconheceram a paternidade? Ficaram na tabanca ou foram para Portugal para serem criadas e educadas? Tens informação sociológica sobre este assunto?

Na altura tinha um assistente de laboratório, Manuel, de origem cabo-verdiano, que me ajudava em Fulacunda. O povo lhe chamou de burmedjo. Foi totalmente aceite na tabanca. Mas ... quando houve o golpe de Estado em 1980, liderado por 'Nino' Vieira, com tendências anti-caboverdianas (o presidente Luís Cabral foi preso por um ano depois do golpe), o pobre Manuel ficou em baixo da sua cama por três dias, com medo. Depois tudo voltou ao normal.

Em Cabinda (Angola, onde vivi, de 1976-1978), pessoas de cor mais clara (podiam ser mestiços) eram chamados mwana mundele (na língua Lingala), criança do branco. De vez em quando estas palavras eram utilizadas como insulto.

Bem, mando-te um AB e mantenhas (mantenha-se),

Henk.

PS -  Podes publicar este texto no blog se quiseres, na esperança de ter respostas às minhas perguntas.

(Revisão / fixação de texto, pontual: LG)


2. Comentário do editor LG:

Obrigado, Henk, pelo que temos falado, és cidadão do mundo, e um grande "africanista" (cem qualquer conotação colonial)... Para além da Guiné-Bissau, trabalhaste em Angola, Indonésia, etc,. como especialista em medicina tropical, e muito em particular na área da prevenção e controlo da lepra. Tens uma visão integrada e global da saúde pública.  E depois escreves muitissimo melhor o meu portuguès do que eu o teu neerlandês...

Deixa-me,  antes de mais dizer-te que lamento que tenhas ficado viúvo tão cedo e com duas filhas órfãos... Tens, no entanto, uma história de vida rica...Vamos "partindo" (partilhando, em crioulo)  memórias, boas e más, das nossas "geografias emocionais": é o que eu e todos nós aqui, "amigos e camaradas da Guiné", te podemos oferecer... (***)

Acabo de publicar a tua mensagem com a tua autorização. É bom para todos: cá está a tal blogo...terapia, que tu querias saber o que era:  tens que acompanhar o nosso blogue...para perceber uma dos "slogans"; "O Mundo é Perqueno e a nossa Tabanca é Grande"... (Tabanca é a nossa tertúlia, ou comunidade virtual, que se se reune à sombra de um simbólico poilão, e onde cabemos todos com tudo o que nos une e até cm aquilo que nos pode separar...)

Sem querer dar uma definição (sempre redutora), direi que esta "terapia" ou "catarse", pela palavra e a imagem, pela partilha de memórias e afetos, num grupo de pares (antigos conmbatentes), funcionou muito bem nos primeiros anos do blogue...

Como sabes,  os antigos combatentes são sempre mal tratados em todas as guerras, aqui, na tua terra, em Timor, na Guiné, em Angola, em Moçambique, em França, nos EUA... Como deves imaginar, a guerra colonial, a seguir ao 25 de Abril de 1974, foi silenciada, esquecida,. branqueada, escamoteada... O mesmo aconteceu, pelo menos, aos guineenses que pagaram um elevado "imposto de sangue" na luta pela independência da sua terra (e, por tabela, de Cabo Verde).

Sobre as rivalidades (e graves conflitos) entre os guineenses e a nomenclatura cabo-verdiana do PAIGC,  não vou falar agora. Nem sobre os filhos que os militares portugueses deixaram na Guiné (uma estimativa aponta para umas escassas centenas, infelizmente um valor demasiado alto: o Portugal, democrático0, do pós-25 de Abril, não teve nem a coragem nem a lucidez  nem a compaixão de reconher estes filhos da guerra, eufemisticamente também conhecidos como "filhos do vento", por analogia com os "dust children" daa guerra do Vietname)... 

Ficará a conversa para mais tarde, que os dois assuntos são c0mplexos e delicados.

(Revisão / fixação de texto, superficial: LG)

_____________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 28 de novembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26209: Ser solidário (275): Quatro anos como médico cooperante (1980-1984), em Fulacunda e em Bissau (Henk Eggens, neerlandês, consultor internacional em saúde pública,
reformado, a viver em Santa Comba Dão)

(**) Vde. poste de 18 de janeiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26400: Por onde andam os nossos fotógrafos ? (35): Jorge Pinto (ex-alf mil, 3.ª C / BART 6520/72, Fulacunda, 1972/74) - Parte V

(***) Último poste da série > 20 de dezembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26292: As nossas geografias emocionais (35): Helsínquia, Finlândia (António Graça de Abreu)

domingo, 26 de janeiro de 2025

Guiné 61/74 - P26428: O segredo de... (48): António Medina (1939-2025) - Parte IV: Acredito na versão do Cajan Seidi sobre a vala comum de Jolmete (Manuel Carvalho, ex-fur mil armas pes inf, CCAÇ 2366 / BCAÇ 2845, Jolmete, 1968/70)


Guiné > Região do Cacheu > Zona Oeste  > Sector 01 (Teixeira Pinto) > Jolmete > CCaç 2366 / BCAÇ 2845 (1968/70) >  "Eu, com o Dandi e o Martins na chegada da operação em que apanhamos o RPG2 e três armas". (Dandi, natural de Jol, no chão manjaco, capitão da companhia de milícias do Pelundo, agraciado com Cruz de Guerra pelo Gen Spínola em 1972, será fuzilado pelo PAIGC em 1975)

Na foto, as armas capturadas ao PAIGC, de origem soviética: ds esquerda para a direita, uma pistola-metralhadora PPSH-41 ("costureirinha", na gíria da NT), um LGFog RPG2 e uma pistola-metralhadora Sudaev PPS-43 (vd. postes P5690 e P5682).



Guiné > Região do Cacheu > Zona Oeste  > Sector 01 (Teixeira Pinto) > Jolmete > CCaç 2366 / BCAÇ 2845 (1968/70) >  Foto sem legenda: as "mulheres grandes" e a NT... Apoio médico-sanitário ?...  Nesta altura, a pouca população que existia, tinha sido "recuperada do mato"... Depois dos trágicos acontecimentos de junho/setembro de 1964, os sobreviventes (mulheres e crianças), ter-se-ão refugiado no mato...


Guiné > Região do Cacheu > Zona Oeste  > Sector 01 (Teixeira Pinto) > Jolmete >  CCaç 2366 / BCAÇ 2845 (1968/70) >  Vista (parcial) da tabanca (terá sido incendiada pela própria população em meados de 1964, segundo a informação do António Medina)
 

Fotos (e legendas): © Manuel Carvalho (2012). Todos os direitos reservados, [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. C
omentário do nosso camarada Manuel Carvalho (ex-fur mil armas pesadas inf, CCAÇ 2366 / BCAÇ 2845, Jolmete, 1968/70) ao poste P18988 (*):



(...) "Pois o Cajan foi um dos nossos valentes milícias de Jolmete,  conhecia muito bem a zona e foi muitas vezes o homem da frente, é bom vê-lo ainda com alguma saúde, também não andará longe dos setenta anos.

A Amélia que está na segunda foto de vestido rosa,  continua muito franzininha como era há 50 anos mas tratava muito bem da roupa de muitos de nós e até julgo que tinha algumas mais velhas,  suas colaboradoras. Quem quiser ver como ela era há 50 anos,  tenho uma foto com ela ao colo no poste P10191 (**).

Sou dos que acreditam na história que o Cajan conta sobre o aniquilamento de cerca de vinte Homens Grandes da população de Jolmete.

(Revisão / fixação de texto: LG)


Guiné 61/74 - P26427: Tabanca da Diáspora Lusófona (30): José António Marinho, que vive em New Jersey, e pertenceu à CCS/BCAÇ 2928, Bula, 1970/72 (João Crisóstomo)



1. Mensagem recebida pelo formulário de contacto do Blogger:


Data - sexta, 24/01/2025, 03:45


Vivo nos EUA en NJ (New Jersey), gostava. que me inscrevessem no blogue. 

Estive em Bula. de
1970. a 1972, na CCS/BAÇ 2928.
Obrigado

Cumprimentos,
José Antônio A Marinho | Email: (...)


2. O nosso coeditor Carlos Vinhal está a tratar do pedido de ingresso na Tabanca Grande. Pedimos, entretanto, ao régulo da Tabanca da Diáspora Lusófona, o  João Crisóstomo,  para contactar o seu "vizinho" de New Jersey e nosso camarada... Eis a mensagem que ele lhe enviou:


Caro camarada José António Marinho,


Acabo de receber uma mensagem do “comandante” de todos os "camaradas da Guiné”, Luís Graça, dando-me conhecimento da tua mensagem: (...) "Vivo nos EUA en NJ gostava. que me inscrevessem no blog, estive em Bula,  de 1970. a 1972 na CCS/BCAÇ 2928. Obrigado." (...)

Mas que agradável surpreza! Um camarada meu, que vive em New Jersey, portanto meu vizinho, (eu vivo em Queens , Nova Iorque ) e eu nem sequer tinha conhecimento!

Podes dar-me o teu número de telefone que eu ligo-te, talvez mesmo ainda hoje, ou amanhã?

Eu estive na Guiné: Xime, Bambadinca, Enxalé, Porto Gole, Missirá… em 1965/67. Temos com certeza "manga de assuntos" de interesse para falar.

Espero a tua resposta por E mail, pode ser? Ou mesmo telefone,  se quiseres ligar-me. Senão eu ligo-te. Diz-me as melhores horas para ti, Eu , embota já velhote, ando/estou sempre a correr, sempre com mil coisas a fazer mas para os meus amigos ( e, para mim, os "camaradas da Guiné” são como irmãos),  eu cá me viro…  
 
(...) Com "parte mantenhas”…

João Crisóstomo (segue a morada e os contactos)



João Crisóstomo, 

_______________

Nota do editor:

Último poste da série > 1 de janeiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26333: Tabanca da Diáspora Lusófona (29): Happy New Year 2025! (João Crisóstomo, Régulo, Nova Iorque)

Guiné 61/74 - P26426: O segredo de ... (47): Antonio Medina (1939-2025) - Parte III: O Cajan Seidi, régulo de Jolmete, é neto do Cambanque Seidi, régulo de Jol, morto pelas NT em 1964, junto com outros homens grandes... Mostrou-me, em 2017, a vala comum, muito perto do sítio onde foram mortos em 1970 os nossos 3 majores (Eduardo Moutinho dos Santos, ex-alf mil, CCAÇ 2366, e cap mil grad, CCAÇ 2381, 1968/70)


Guiné-Bissau > Região de Cacheu > Jolmete > 2017 > Moutinho dos Santos com Cajan Seidi, a quem convidou para  ir almoçar em Canchungo (ex-Teixeira Pinto).


Guiné-Bissau > Região de Cacheu > Jolmete > 2017 >  Moutinho dos Santos e o Fernandino Leite  com a Amélia,  a 3ª mulher de Cajan Seidi, e com os seus filhos,  em Jolmete.

Fotos (e legendas): © Eduardo Moutinho Santos / Manuel Resende (2018) Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Blogue
Memórias de Jomete > 30 de agosto de 2018 > Post nº 76 - Cajan, Régulo
de Jolmete (*)

Manuel [Cármine] Resende [Ferreira],  ex-alf mil art,  CCAÇ 2585 / BCAÇ 2884, Jolmete, Pelundo, Teixeira Pinto (maio 69/mar 71), régulo da Magnífica Tabanca da Linha [foto à direita]

Nota informativa para quem não se lembra: 

Moutinho dos Santos era alferes da Companhia que esteve antes de nós em Jolmete, a CCAÇ 2366. Era a Companhia do sr. capitão Barbeites. 

Depois de sair de Jolmete em 28 de maio de 1969 (dia em que ficámos por nossa conta, e logo com um grave acidente com a bazuca do 1º cabo Brotas), tal como mais tarde o nosso alferes Almendra, foi graduado em capitão pelo sr. general Spínola e a Companhia foi para Quinhamel, gozar “férias”, mas ele, como capitão, teve que ir comandar outra Companhia no Sul [CCAÇ 2381]. 

Presentemente exerce advocacia no Porto e é um excelente elemento [um dos régulos] da Tabanca Pequena de Matosinhos, com várias idas à Guiné para entrega de bens.



Eduardo Moutinho Santos, ex-alf mil, CCAÇ 2366 (Jolmete e Quinhámel) e cap mil grad cmdt da CCAÇ 2381 (Buba, Quebo, Mampatá e Empada)
[foto à esquerda]


Pergunto eu a Moutinho dos Santos:

“Amigo Moutinho Santos, recentemente estive com o Marques Pereira, alferes da minha Companhia, a 2585,  que vos sucedeu. Presentemente vive em Moçambique, e veio cá. 

"Mostrei-lhe fotos do Cajan e disse-lhe que o Cajan tem um filho médico no Hospital de Santo António, creio que foste tu que me deste essa informação.

"Sabes quem é a mãe? perguntou ele, será a Maria Sábado, do nosso tempo ?.... Sabes alguma coisa dele, ou contactos... “ (*)


Resposta de Moutinho dos Santos:

(...) De facto, o Cajan Seidi, soldado milícia do Pelotão de Milícias de Jolmete, que "alinhou" connosco, e convosco, nas matas do Jol, tem em Portugal, mais especificamente no Porto, um "filho" médico, o dr. Jorge Seidi (conhecido entre os amigos por Jorgito). 

Ele faz parte das equipas de Urgências do Hospital de Santo António, penso que como contratado de uma empresa de "manpower" que presta serviços aos hospitais do Porto. Pus a palavra filho entre aspas, pois, na verdade ele não é filho biológico do Cajan, mas sim sobrinho.

Como sabes, segundo as "leis" da etnia manjaca, e de outras etnias da Guiné, em que os sobrinhos e primos também são considerados "filhos" quando vivem todos na mesma morança, o irmão que herda a "posição" (sucede no cargo) de outro irmão mais velho, também "herda" a mulher e os filhos do irmão. Com o Cajan sucedeu isso.

O avô do Cajan, de nome Cambanque Seidi, régulo do Djol, tinha vários filhos, sendo um deles o pai do Cajan, de nome Domingos, que foi morto pelo PAIGC logo no início da luta pela independência.

O avô, ao tempo régulo, foi um dos mortos na "chacina" praticada em 1964 pelas NT contra os homens grandes da tabanca de Jolmete e outras do regulado.

Este "assunto" consta de um poste do blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, ali colocado por um Furriel [António Medina] de uma companhia [CART  527] da guarnição de Bula / Teixeira Pinto em 1964, antigo combatente que emigrou para os USA (**) (foto à esquerda, EUA, 2016)(***)... 

O Cajan teria nessa data 15/16 anos...
 
Este "assunto", a que ninguém se referia quando estivemos em Jolmete, e também nunca yinha sido falado anteriormente quer pelo nosso Exército quer mesmo pelo PAIGC, foi-me confirmado pelo Cajan e por dois dos seus "filhos" que, inclusive, na última visita (2017) que fiz a jolmete, quiseram indicar-me o local onde foram enterrados, em "vala comum", muito perto do sítio onde os nossos 3 majores foram mortos em 1970...

Como o Cajan era o neto sobrevivo mais velho do régulo, veio a "herdar" o cargo do avô, pois o irmão/primo a quem tal cargo pertenceria já tinha falecido, deixando viúva a Quinta e o filho Jorge que - na altura em que estivemos em Djolmete - estaria à guarda de um tio em Dakar (Senegal) e internado numa Missão Católica. Oficialmente ninguém se referiu - que eu saiba - ao cargo do Cajan durante a nossa estadia em Djolmete.

Assim, o Cajan com o cargo de régulo do Djol, herdou como 1ª mulher a cunhada, de nome Quinta - que vivia em Djolmete ao tempo em que nós por lá estivemos -, de quem veio a ter mais 3 filhos (Joãozinho, falecido, Minguito e Melita, médica em Bissau). Atualmente está em Portugal com o filho,  dr. Jorge.

 O Cajan tem mais 4 mulheres... e 25 filhos ao todo...

A segunda mulher do Cajan é a Maria Sábado - nossa conhecida - de quem o Cajan tem vários filhos (um deles o Fidalgo,  que é professor e director da Escola E/B de Canchungo, ex-Teixeira Pinto).

A terceira mulher do Cajan é a nossa conhecida Amélia, de quem o Cajan tem 6 filhos (vários deles a viver em Bissau).

A quarta mulher do Cajan é a Emília de quem o Cajan tem vários filhos. 

Por fim, a quinta mulher, ainda muito nova, de nome Maria, também tem já filhos...

Para o ano, se tudo correr bem, se houver "patacão"  e a saúde ajudar, tenciono voltar à Guiné-Bissau e a Jolmete para, com a Tabanca Pequena de Matosinhos, fazermos a instalação de um poço artesiano, pois, os poços tradicionais que a ACNUR abriu na Tabanca de Jolmete, quando serviu de Campo de Refugiados dos independentistas do Casamansa, secaram todos e a população (3 mil  habitantes), que só tem uma hora de água por dia do poço do Centro de Saúde, voltou a ter de ir buscar a água à bolanha (...)

(Reproduzido com a devida vénia. Revisão  e fixação de texto: LG)

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 5 de setembro de 2018 > Guiné 61/74 - P18988: Blogues da nossa blogosfera (103): "Memórias de Jolmete", de Manuel Resende: Cajan Seidi, o atual régulo de Jolmete, neto de Cambanque Seidi, o régulo de Jol que, em 1964, foi uma das cerca de 20 vítimas de represálias das NT (Manuel Resende / Eduardo Moutinho Santos)

(**) Vd. poste de 24 de junho de 2014 > Guiné 63/74 - P13326: De Lisboa a Bissau, passando por Lamego: CART 527 (1963/65) (António Medina) - Parte II: Foi há 50 anos, a 24 de junho de 1964, sofremos uma emboscada no regresso ao quartel, que teria depois trágicas consequências para a população de Jolmete: como represália, cerca de 20 homens, incluindo o régulo e o neto, serão condenados à morte e executados pelas NT, dois meses depoisVd, postes de:

(***) Últimos postes da sérioe:

sábado, 25 de janeiro de 2025

Guiné 61/74 - P26425: O segredo de... (46): António Medina (1939-2025) - Parte II: em 24 de junho de 1964, a CART 527 sofreu uma emboscada no regresso a Jolmete...Como represália, cerca de 20 homens, incluindo o régulo e o neto, serão condenados à morte pelo comando do BCAÇ 507, sediado em Bula, e executados pelas NT, dois meses depois


Guiné > Região do Cacheu >  Carta de Pelundo (1953) (Escala 1/50 mil) > Posição relativa de Jolmete e Ponta Nhaga, na margem esquerda do rio Cacheu. Pelundo ficava a sudoeste de Teixcira Pinto. E Bula a leste.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2025)


 
O António Medina
na mata da Caboiana (c. 1964)

O António Medina (1939-2025) nasceu na ilha de  Santo Antão, Cabo Verde.

Foi fur mil inf, OE, CART 527 (Teixeira Pinto, Bachile, Calequisse, Cacheu, Pelundo, Jolmete e Caió, 1963/65).

Trabalhou no BNU em Bissau (até à independência) e  depois em Lisboa.

Emigrou para os EUA em 1980. 

Morreu no princípio de 2025 em Medford, Massachusetts (onde vivia), aos 85 anos.






Guiné > Zona Oeste > CART 527 (Teixeira Pinto, Bachile, Calequisse, Cacheu, Pelundo, Jolmete e Caió, 1963/65) > s/l > s/d > O fur mil OE António Medina e a sua secção.



Guiné > Região do Cacheu > Zoan Oeste > Pelundo > O António Medina, em primeiro plano, com miúdos e adolescentes da tabanca... Atrás,  instalações do quartel protegidas por bidões com areia.

Fotos (e legendas): © António Medina (2014). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



António Medina,2016

Região do Cacheu > Setor Oeste > Teixeira Pinto, Pelundo, Jolmete, Ponta Nhaga >  24 de junho de  1964, emboscada  do IN e suas consequências

por António Medina (1939-2025)
 

I. Já lá vão precisamente cinquenta anos que carrego um facto bastante sombrio e macabro que a minha memória, vencendo o tempo e as mazelas deixadas em mim pela doença do Parkinson, conseguiu preservar no silêncio até hoje, pela maneira desumana e cruel que um julgamento sumário foi executado, ditado pelo Comando do Batalhão de Caçadores 507, de Bula [sendo na altura seu comandante o tenente coronel Hélio Felgas].

Não se trata de nenhuma minha criatividade ou ficção, mas sim a descrição verdadeira de factos sucedidos, contados a mim na altura por quem foi testemunha e participante de uma ação bastante degradante e vergonhosa, devidamente escondida e “abafada” pelos militares e a PIDE, porque das vítimas nada reza.

Por questão da minha própria ética procurarei evitar denunciar aqueles responsáveis que estiveram diretamente envolvidos em tal processo.

Desejo também esclarecer neste caso especifico que, como furriel operacional,  fui um dos indicados a participar com a minha secção no cerco à  tabanca de Jolmete que a seguir mencionarei, na captura de elementos considerados subversivos e na escolta dos mesmos para Teixeira Pinto onde ficaram sob a nossa guarda dentro daquele perímetro militar. 

Quando “Sargento Dia” em escala como qualquer um outro, assisti o corpo da guarda na distribuição de água e sobras do rancho para o sustento dos mesmos.


II. Por determinação do Comando de Bula, assiduamente as tabancas de Ponta Nhaga e de Jolmete eram visitadas pelas nossas forças, dentro do espírito do programa de reconhecimentos como retenção a possíveis infiltrações inimigas.

Sentiamo-nos confiantes e familiarizados,  mais com os residentes de Jolmete, pela simpatia e maneiras com que éramos distinguidos, muitas vezes dando-nos as boas vindas, exibindo as suas danças e cantares na cadência de um bater de palmas e pés no chão, ao som de um batuque não ensurdecedor, pelo contrário harmonioso no qual um ou outro soldado por graça se juntava.

No clima amistoso que se vivia, [a gente] se estendia no chão de papo para o ar em qualquer sombra, as cartucheiras debaixo da cabeça para melhor conforto e a arma ao lado, conversa amena entre soldado e nativo, negociando particularmente um frango para um delicioso churrasco no regresso ao quartel, um ou outro apreciando em silêncio as curvas de uma bajuda de “mama firmada” que bem parecia mais ter sido talhada a canivete, comportamento que fugia às regras e normas de segurança exigidas pelo status da guerra e que bem poderiam custar a nossa própria vida, o que estávamos ignorando.

A pedido do sargento encarregado do rancho e sob a discrição e consentimento do régulo que fixava os preços, quantas vezes se comprou frangos, ovos, cabritos e bananas que tivessem disponíveis, oferecendo-nos o gostoso e fresco vinho de palma (seiva da palmeira) sem todavia pressioná-los. 

Como “labaremos” (agradecimento),  se distribuía garrafões e latas vazias e algum arroz que o inventário do vagomestre classificava como sobra na existência do fim de cada mês.

A nível de pelotão, repetitivamente e em roulement,  lá íamos em coluna auto pela estrada de terra batida totalmente despreocupados, sem qualquer referência a minas ou outras armadilhas porque delas ainda nada ou pouco se falava, de Teixeira Pinto, passando por Pelundo,  seguindo em direção de Ponta Nhaga, depois regressar a Teixeira Pinto passando por Jolmete,  e vice-versa na semana seguinte.

Quando menos se esperava, no dia de S. João, 24 de junho de 1964, à tardinha durante o nosso regresso de Jolmete para Teixeira Pinto,  fomos surpreendidos e emboscados por um grupo armado a cerca de quatro quilómetros da tabanca, causando-nos algumas baixas com certa gravidade.

De madrugada chovia a potes, encharcados mas agora conscientes da presença inimiga, cautelosos e com medo, reforçados,  regressámos a Jolmete, com um percurso a fazer a pé depois de Pelundo, para que o factor surpresa nos beneficiasse na operação sob o comando do capitão de Teixeira  Pinto.

 As instruções eram taxativas para se prender todos os homens,  inclusive o régulo, deixando apenas mulheres e crianças. Que fossem transportados para Teixeira Pinto onde ficariam sob a nossa custódia até novas instruções. Assim tudo foi feito em cumprimento, sem qualquer resistência .

Conhecíamos o neto do régulo de Jolmete,  de nome Celestino, rapaz de cerca de 22 anos de idade, simpático, vestido e calçado, expressando-se bem em português, com o segundo ano dos liceus já feitos no Honório Barreto em Bissau onde dava continuidade aos seus estudos. Sempre que chegava a Teixeira Pinto era ele hóspede da nossa messe para uma refeição e bate-papo connosco,  furriéis. Acontece que naquela manhã o Celestino estava na Tabanca do avô e também foi preso.

III. Levados para Teixeira Pinto ficaram fechados no edifício do celeiro que se situava dentro da área do quartel, cedido pelo Administrador do Concelho, numa estadia de quase dois meses sob nossa guarda.  

Pelos resultados colhidos nos interrogatórios  se constatou que o grupo armado planeava atacar na nossa hora de ociosidade, com receio de alguma represália da tropa a posteriori, o régulo e o neto felizmente convenceram-lhes que alterassem seus planos para uma acção fora da tabanca, o que de nada serviu mais tarde como atenuante para lhes poupar a vida.

Entretanto o Comando de Bula [BCAÇ 507] ditou-lhes a pena capital,  para que todos fossem fuzilados em local secreto, com exceção do Celestino que continuaria preso em Teixeira Pinto. Que fossem transportados pela estrada de Jolmete em dia a indicar onde estaria tudo já preparado pelos participantes de Bula.

Eram eles cerca de vinte homens, o régulo de Jolmete já homem velho, de barbas e cabelos brancos, fraco pela má alimentação, outros mais novos, todos sendo transportados em GMC  sob escolta do segundo pelotão [da CART 527].

 No local indicado já os esperava um dos capitães de Bula, com uma vala aberta por uma escavadora e um outro pelotão alinhado à distância, olhando de frente para a vala, de costas para a estrada. 

O pelotão da CART 527 cuidou apenas da segurança da área para que o trabalho fosse ultimado sem qualquer interferência do inimigo.

De mãos atadas, os prisioneiros foram alinhados de costas para a vala. O capitão de Bula ali estava como oficial mandante da ordem. Através de um intérprete explicava a razão daquele procedimento, quando um dos presos consegue se soltar e fugir em direcção à mata. 

Nesse interim de confusão o pelotão disparou precipitadamente sem ter recebido ordem de fogo, restando corpos sem vida caídos na vala, à podridão, sem direito sequer a um choro, à dança das mulheres grandes ou a um toque de bombolom.

A vala comum foi fechada e armadilhada com minas anti-pessoal plantadas por sapadores de Bula. No dia seguinte essa acção da tropa colonial foi revelada pelos órgãos do PAIGC .

O Celestino continuou preso em Teixeira Pinto até que um dia a sua pena também capital não tardasse a chegar. 

Um furriel seria indicado para executar a sentença, que para nós era bastante pesaroso e em nada dignificante, dado o relacionamento e bom trato que mantínhamos com ele até se retratar como informador, para depois ser prisioneiro de guerra sem qualquer possibilidade de defesa.

Desta maneira, logo se soube da execução a ser cumprida, naquela tarde os furriéis saíram quanto mais cedo do quartel procurando uma forma de evitar participar no fuzilamento.

 Eu, como exemplo, decidi sem que ninguém desse conta visitar um senhor cabo-verdiano empregado comercial de uma casa libanesa, pai de uma linda morena a quem ia eu fazendo olhos bonitos para um possível namoro “caliente”. Me permitiu aquele senhor,  meu patrício, arrastar um pouco mais a minha visita naquela noite, sem todavia lhe dar a entender do que se estava passando. 

O facto foi consumado por um colega furriel miliciano e sua secção nas imediações do pequeno aeródromo de Teixeira Pinto

Viveu-se alguns dias em clima de pesar e tristeza no quartel, evidenciado pelos soldados nativos (eram eles distribuídos pelos pelotões e tinha eu três deles na secção) que praticamente se afastaram das outras praças. 

No dia seguinte da execução fui instruído para fazer uma patrulha de reconhecimento com o meu grupo em determinada área, notei que no momento de um pequeno descanso que achei por bem todos fizéssemos, os três militares se afastaram do grupo e se sentaram, de armas na mão como todos nós. 

Tive certa apreensão no momento o que me levou a aproximar e ficar junto deles em conforto, sem todavia ter havido nenhuma conversa, pelo contrário um silêncio absoluto de quem se sentia bastante magoado e triste. Felizmente nada aconteceu talvez pela disciplina, tratamento amigo e igual para todos que sempre implementei.

Regressámos algum tempo depois à tabanca de Jolmete e constatámos que tinha sido destruída, suas palhotas queimadas não pela tropa, abandonada pelos sobreviventes que se puseram em debandada para local desconhecido.

Acreditámos nessa altura que tivessem procurado lugar que para eles fosse mais seguro, em apoio também ao PAIGC por jamais merecermos sua confiança.

Uma vasta área foi limpa do capim, árvores e arbustos para que fosse construído para a nossa defesa e logística um verdadeiro ”fortim” com troncos de cibos, chapas de bidões e zinco, terra batida, conforme as fotos em anexo.

António Medina, 
Medford, Massachusetts, USA,  junho de 2014

(Revisão / fixação de texto, negritos, parênteses retos: LG)
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Nota do editor:

Último poste da série > 25 de janeiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26424: O segredo de... (45): António Medina (1939-2025) - Parte I: "Uma história de terror que me atormentou toda a vida (Jolmete, junho / setembro de 1964)

Guiné 61/74 - P26424: O segredo de... (45): António Medina (1939-2025) - Parte I: "Uma história de terror que me atormentou toda a vida (Jolmete, junho / setembro de 1964)"


  
Guiné  > Região do Cacheu > Jolmete > CART 527 (1963/65) > Aspeto da vida no aquartelamento.   O António Medina, à esquerda


Foto (e loegenda): © António Medina (2014). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




António Mediba, 2016
1. Mensagem, de  
 23 de Junho de 2014, às 22:52, enviada pelo nosso saudoso camarada da diáspora António Medina (1939-2025) (*) , e que voltamos a republicar (em quatro postes, a última com com os comentários dos nossos leitores) (**).


Recorde.se:

(i) o António Medina era natural da ilha de Santo Antão, Cabo Verde,

(ii) foi fur mil inf, CART 527 (Teixeira Pinto, Bachile, Calequisse, Cacheu, Pelundo, Jolmete e Caió, 1963/65):

(iii) trabalhou depois BNU em Bissau (***) e em Lisboa;

(iv) passou a viver nos EUA desde 1980, em Medford, Massachusetts (onde morreu há dias) (*)


Olá,  camarada e amigo Luís:

Há muito não te contactei porque procurei ultimar este trabalho que vivia em letargia nas minhas memórias, precisamente para coincidir com o aniversário deste acontecimento que na altura me desapontou imenso, sem todavia nada poder fazer.

Antes de se tomar qualquer iniciativa,  gostaria que atentamente lesses o seu conteúdo e me desses a tua opinião se pode ou não ser publicado no blogue. Considerei este caso como uma forma de terror que se pode juntar a muitos mais e infelizmente praticados pelo nosso exército em todas as frentes de luta.

Aguardarei ouvir a tua opinião quando puderes.

Um abraço
Medina


2. Resposta de L.G. na mesma data (23/6/2014):

António:

Não há, não houve, nem nunca haverá guerras "limpas". No caso da guerra que nos coube em sorte, é minha opinião que nem nós nem o PAIGC fomos "meninos de coro".

Na mesma altura, ou antes, em que se passam os acontecimentos que tu relatas (em Jolmete, na região do Cacheu, entre junho e setembro de 1964), o PAIGC fazia o seu 1º congresso em Cassacá, no sul, na região de Tombali, e "limpava" a casa, com julgamentos revolucionários e execuções sumárias que tiveram o OK de Amílcar Cabral...

Mas uma mão não limpa a outra, nem um partido dito revolucionário como o PAIGC podia servir de bitola para "avalizar" o comportamento dos militares de um exército regular, de um país ocidental como o nosso.

Usámos a arma do terror, tal como o PAIGC usou. Infelizmente, vou sabendo, aqui e acolá, em conversas "off record", com outros camaradas do teu tempo, de mais casos, pontuais é certo, de execuções sumárias, praticadas nessa época, noutros sítios (por ex., no setor de Bambadinca, zona leste onde estive)... Não sabemos qual a extensão dessas práticas, espero que tenham sido meros casos isolados. Também não adianta "sacar" culpas para o exército, ou reparti-las com a PIDE e/ou a administração colonial...

No mínimo, e não havendo tribunais de guerra, estas decisões deviam ter o OK (tácito ou explícito ) de Bissau, e no caso concreto que relatas, do brig Arnaldo Schulz (ministro do interior de Salazar, entre 1958 e 1961, promovido a brigadeiro em 1963, ainda em Angola, e nomeado depois governador e comandante-chefe no TO da Guiné, em maio de 1964; chegou a Bissau a 24 de maio de 1964).

Eu fiz a guerra, de junho de 1969 a março de 1971, no tempo de Spínola e da chamada política da "Guiné Melhor"... Não participei nem tive conhecimentos de casos como o que relatas. Mas no meu tempo, os meus soldados africanos da CCAÇ 12, os mais velhos (com o pobre do Abibo Jau, mais tarde fuzilado pelo PAIGC) contaram-me algumas histórias macabras, da responsabilidade da polícia administrativa de Bambadinca.

Por outro, Samba Silate é um exemplo triste de uma tabanca balanta reduzida a cinzas.... E um padre italiano, da missão de Samba Silate, Antonio Grillo, foi preso pela PIDE em 23/2/1963, acusado de atividades subversivas... Já escrevemos sobre isso, aqui no blogue... 

A "guerra subversiva" e "contrassubversiva", nesta época (1959/64), ainda está muito mal documentada....

Um dos princípios fundamentais do nosso blogue é a nossa obrigação de relatar factos e episódios por nós vividos ou do nosso conhecimento direto, procurando dizer a verdade e só a verdade, e recusando fazer juízos de valor...

O teu testemunho é assertivo, pormenorizado, ponderado, equilibrado e, parece-me, isento e responsável, ditado também por um imperativo de consciência de um homem cristão e português, como tu.

Em dez anos de blogue é a primeira vez, em 2014, que um camarada nosso tem a coragem de, publicamente, assinar um relato desses, com execuções sumárias de suspeitos de colaborar com o IN.

Da minha parte, suspeito que este tipo de ações não chegava a constar dos nossos relatórios militares, sendo portanto altamente improvável que um dia os investigadores tenham acesso a estes factos no Arquivo Histórico Militar, por exemplo.

Tens o meu OK, para publicar o teu testemunho, e gostaria que fosse já, 50 anos depois. É uma efeméride trágica. Tens o cuidado de não identificar nenhum camarada, e esse é um dos nossos princípios. Não somos juízes nem queremos julgar ninguém. Esses factos também fazem parte da nossa memória (dolorosa) da guerra na Guiné.

Dou-te os parabéns pela tua decisão de contar este "segredo". É também uma afirmação contra o medo de seres julgado pelos teus pares. Espero que apareçam mais versões destes acontecimentos. As tuas melhoras, se possível.

Um abraço fraterno. Luís Graça


O António Medina na mata da Caboiana
(c. 1964)

3. R
esposta do António Medina, na "volta do correio" (24/6/2014):


 Obrigado,  Luís,  pela tua apreciação ao meu testemunho que resolvi trazer à tona do que realmente aconteceu há cinquenta anos. Vamos então publicá-lo quanto antes como dizes e conto com a tua colaboração nesse sentido.

 Gostaria de o realçar talvez com algumas fotos minhas de Jolmete que certamente aí tens, assim mesmo vou tentar reenviá-las de imediato para que não se perca mais tempo. Logo após a publicação, agradecia que me avisasses para que eu possa tomar conhecimento. Telefonar-te-ei um dia desses.

Um abraço amigo
AMedina



Crachá da CART 527

4. Ficha de unidade >  Companhia de Artilharia nº 527

Identificação: CArt 527
Unidade Mob: RAL 1 - Lisboa
Crndt: Cap Mil Art António Maria de Amorim Pessoa Varela Pinto | Cap Art Domingos Amaral Barreiros

Divisa: -
Partida: Embarque em 27mai63; desembarque em 4jun63 | Regresso: Embarque em 29abr65

Síntese da Atividade Operacional

Em 25jun63, seguiu para Teixeira Pinto, a fim de reforçar o BCaç 239 e depois o BCaç 507, com vista à realização de operações de patrulhamento e batida na região de Binar.

Em 8ag063, substituindo a CCaç 154, assumiu a responsabilidade do subsector de Teixeira Pinto e destacamento de Cacheu, ficando então integrada no dispositivo e manobra do BCaç 507 e tendo ainda empenhado efectivos em diversas operações realizadas na região do Jol e Pelundo, entre outras; por períodos variáveis, destacou, ainda, efectivos para reforço das guarnições locais de Calequisse, Caió e Bachile.

Em 28abr65, foi rendida no subsector de Teixeira Pinto pela CCav 789 e recolheu a Bissau para embarque de regresso.

Observações - Não tem História da Unidade. Fonte: Excertos de Portugal. Estado-Maior do Exército. Comissão para o Estudo das Campanhas de África, 1961-1974 [CECA] - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974). 7.º volume: Fichas das Unidades. Tomo II: Guiné. Lisboa: 2002, pág. 439.


5. O essencial do "segredo" do António Medina  será republicado, dez anos depois, no poste seguinte desta série (***):  

em resumo,  "foi há 50 anos [agora 60], a 24 de junho de 1964, sofremos uma emboscada no regresso ao quartel, que teria depois trágicas consequências para a população de Jolmete: como represália, cerca de 20 homens, incluindo o régulo e o neto, serão condenados à morte e executados pelas NT, dois meses depois".

 _____________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 23 de janeiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26417: In Memoriam (531): António Medina (Santo Antão, Cabo Verde, 1939 - Medford, Massachusetts, EUA, 2025), ex-fur mil at inf, OE, CART 527 (Teixeira Pinto, Bachile, Calequisse, Cacheu, Pelundo, Jolmete e Caió 1963/65), nosso grão-tabanqueiro desde 2014

(**) Último poste da série > 21 de agosto de 2024 > Guiné 61/74 - P25862: O segredo de... (44): Aos 70 anos, comecei a ficar farto da guerra (Torcato Mendonça, 1944-2021)... Um "segredo póstumo" que chega ao blogue por mão da Ana Mendonça e do Virgínio Briote

Vd também poste de 29 de julho de 2015 > Guiné 63/74 - P14945: O segredo de... (19): António Medina (ex-fur mil, CART 527, 1963/65, natural de Cabo Verde, mais tarde empregado do BNU, e hoje cidadão norte-americano): Desenfiado em Bissau por três dias, por causa dos primos Marques da Silva, fundadores do conjunto musical "Ritmos Caboverdeanos"... Teve de se meter num táxi, até Teixeira Pinto, que lhe custou mil pesos, escapando de levar uma porrada por "deserção"!

(***( Vd. poste de 4 de outubro de 2023 > Guiné 61/74 - P24725: O segredo de... (39): António Medina: O surpreendente reencontro, em Bissau, em junho de 1974, com o meu primo Agnelo Medina Dantas Pereira, comandante do PAIGC