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quarta-feira, 23 de abril de 2025

Guiné 61/74 - P26717: 21º aniversário do nosso blogue - Parte I: Já em tempos aqui expliquei que o blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné é uma flor bravia, nasceu por acaso (Luís Graça, editor)


Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Sector L1 (Bambadinca) > Subsetor do Xime ou Xitole> c. 1970 >  2º Grupo de Combate da CCAÇ 12, deslocando-se numa bolanha em zona controlada pela guerrilha do PAIGC... Arquivo pessoal de Humberto Reis (ex-fur mil at inf, OE, CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71). É uma das fotos mais icónicas (e pirateadas) do nosso blogue.

Foto: : © Humberto Reis  (2005). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Marco de Canaveses > Paredes de Viadores > Candoz > Quinta de Candoz > 23 de abril de 2025 >  Cota tinctoria ou malmequer-dos-tintureiros: cresce na nossa vinha, como flor bravia... Resistente ao frio mas não às nossas botifarras...

Foto (e legenda): © Luís Graça (2025). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Já em tempos expliquei que o blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné é uma flor bravia... Nasceu por acaso... 

Eu tinha um blogue, que criei em 8 de outubro de 2003, e que se chamava "Blogue-Fora-Nada", ainda hoje disponível "on line" (www.blogueforanada.blogspot.com),  seria, mais tarde, em 1 de junho de 2006, rebatizado como blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (www.blogueforanadaevaotres.blogspot.com).

Essa história, de resto, já aqui está contada e recontada.

Em 23 de abril de 2004, publiquei, no "Blogue-Fora-Nada" um primeiro texto alusivo à guerra colonial / guerra do ultramar, na Guiné (*). Na altura tinha-me chegado às mãos uma coleção de quase de duas centenas de cartas, recebidas por uma "madrinha de guerra". 

Dessas publiquei uma, nas vésperas do 25 de Abril de 2004, em jeito de homenagem às "nossas mulheres" e, em particular, às "nossas madrinhas de guerra". 

Em boa verdade, já tinha feito, há anos atrás, em 1980, um primeiro tratamento temático dessas cartas; um artigo meu, sobre o tema, já fora publicado no extinto semanário "O Jornal", na secção criada pelo saudoso jornalista e escritor Afonso Praça (Torre de Moncorvo, 1939 - Lisboa, 2011), "Memórias da Guerra Colonial". (Ele próprio antigo combatente em Angola.)

Em 2004 só se publicaram quatro postes... O quinto só apareceu em 20 de abril de 2005... A partir  daqui publicaram-se mais 384 até ao fim desse ano... Com periodicidade diária ou quase diária.

Com a avalanche de mensagens o blogue passou a ser de facto o Luís Graça & Camaradas da Guiné. Hoje publico o poste P26717...

Chegamos a esta data com:
  • 901 membros (registados) da Tabanca Grande (a nossa comunidade virtual ou "tertúlia");
  • c. 106,1 mil comentários;
  • 884 seguidores;
  • 16,3 milhões de páginas visualizadas...

Temos, além disso, uma página no Facebook ("Tabanca Grande Luís Graça"), com cerca de 3,3 mil amigos.

São números que valem o que valem, mais de 50 anos depois do fim da guerra da descolonização da Guiné...
 
Mas recordemos as palavras de alguns dos nossos "históricos", a propósito do nascimento do nosso blogue...

Mensagens recebidas (2005/2006) (selecção)

Nome / Data

Mensagem

A. Marques Lopes  (Matosinhos) > 14 de Maio de 2005

Ex-alferes miliciano da CART 1690, hoje coronel, DFA, na situação de reforma: Cantacunda, Banjara, Sare Ganá, Sare Banda, Geba... Vocês ouviram falar ? Nos idos tempos de 1967 e 1968. Ferido em combate.  Junta-se agora ao "grupo dos ex-combatentes e amigos da Guiné", por mão do Sousa de Castro.

"Caros amigos e camaradas : Soube de vós todos através do Sousa de Castro. Aqueles que já me conhecem sabem que eu tive outro endereço, e falámos muito através dele. O que sucedeu é que tive de mudar esse endereço...  Para aqueles que eu conhecia enviei-lhes o meu novo endereço, mas não deu resultado, devido à minha nabice certamente. Devido a esta também, tive de mandar formatar o disco rígido mais de uma vez e perdi todos os endereços nele contidos. Para todos, conhecidos e não conhecidos, é com muita satisfação que me junto ao grupo dos ex-combatentes e amigos da Guiné. Como vêem o meu endereço actual é cantacunda@netcabo.pt (hei-de um dia dizer-lhes o que era Cantacunda, na floresta do Oio, bem como Banjara, também na floresta do Oio) (...)"


Albano Costa (Guifões, Matosinhos) > 17 de Novembro de 2005

"Eu tive o prazer de poder ir 15 dias à Guiné [em 2000] e conhecer localidades que só conhecia de nome quando me encontrava com colegas que diziam aonde tinham estado, e eu agora passei por muitas delas: Mansoa, Jugudul, Bambadinca, Xime, Mansambo, Xitole, Saltinho, Aldeia Formosa, a famosa ponte Balana, Buba, Guilege, Gadamael Porto, Chogué, Empada, Catió Canjabari, Jumbembem, Farim e muitas, muitas mais.

"Pude conhecer essas terras num ambiente de puro safari, e conviver com aquele maravilhoso povo (...)"


Américo Marques (Viana do Castelo) > 17.06.2005

Mandou-nos uma mensagem , tocante, sobre os "momentos do fim": 

"Eu sou dos últimos guerreiros do Império. Meio guerreiro, pois não acabei a Comissão e ainda participei na troca de bandeiras. A minha ignorância e o meu patriotismo fizeram-me sentir uma tristeza mais triste.

"Era Transmissões de Infantaria,  Formado no BC 5, Campolide [ Lisboa ]. Formei Batalhão em RAL 5, Penafiel. Embarquei no N/M Niassa em Junho de 1973, na companhia de um BCAÇ de Tomar,  mais duas Companhias recebidas no Funchal. Pertenci à 3ª CART do BART  6523, aquartelado em Nova Lamego. Estive os 17 meses em Cansisséum destacamento (com 25 soldados) que estava à distância de 1 hora, a pé (claro), da margem direita do Rio Corubal. Quem fosse de Bafatá para Nova Lamego, virava à direita por uma picada, situada mais ou menos a meio do trajecto.

"Sou de Viana do Castelo e amigão do Sousa Castro e do Luis Carvalhido que me recebeu no Xime, em trânsito para  Nova Lamego. Era eu um coitado dum periquito; e o Luis não me ofereceu uma bazuca, levou-me a ver um buracão feito por  uma. Perdi logo a sede. Espero que as fotos sejam mais um tijolo... para construir a historia das Dores e Agonias que estão aqui e agora. Sendo ao mesmos tempo Pedaços de Vida, que se ofereceu (como se fossem mais uns Castelos) aquela Bandeira; muito amada e que aquece mais que mil vulcões. Um Alfa Bravo".


Antero Santos  (Avintes, V.N. Gaia)> 17 de Abril de 2006

"Por curiosidade fiz uma pesquisa sobre Aldeia Formosa e encontrei um conjunto de notícias sobre a Guiné e a Guerra Colonial. Não imaginava que pudesse encontrar tanta informação. Cheguei a Guiné em 23 de Março de 1972 e fiz parte de CCAÇ 3566 - Os Metralhas; a partir de 4 de Janeiro de 1973 e até ao fim da comissão passei a fazer parte da Companhia Africana CCAÇ 18 - Aldeia Formosa (Quebo, para os africanos), tendo regressado em 24 de Junho de 1974.

"De momento pretendo somento acrescentar uma nota acerca do chefe religioso Cherno Raschid que também conheci pessoalmente, faleceu em 1973 (...)  durante o período em que estive em Aldeia Formosa.  Na realidade o poder deste chefe religioso era enorme - a guerra parou para que um conjunto de autoridades religiosas dos países vizinhos se deslocasse a Aldeia Formosa para participar no seu funeral".
 

António Santos (Caneças, Odivelas) > 8 de Maio de 2006

"Caro camarada, Luis Graça:  Peço desculpa de no primeiro contacto estar tão íntimo mas tomo a liberdade após entender que no blogue-fora-nada é mesmo assim. Ando há cerca de um mês a espreitar o teu blogue cujo tema é a Guiné, e a vontade de entrar na conversa vai aumentando todos os dias e, como alguma vez tem que ser a primeira, cá vai.

"(...) Chamo-me António Santos, Ex-Soldado de Transmissões, em Nova Lamego, Sector L3, de 72/74 incorporado no Pel. Mort. 4574/72, para render o Pel. Mort. 2267/70".


António dos Santos Almeida (Lisboa) > 9.06.2005

Ex-soldado de artilharia, da CART 2339 ("Os Viriatos"), esteve em Fá Mandinga e Mansambo, entre Janeiro de 1968 e Dezembro de 1969. Gostaria de encontrar companheiros de viagem para voltar à Guiné. Telefonou a dizer que se sentia muito feliz por encontrar malta do tempo dele. Hoje é advogado e vive na região do Ribatejo. Deixou o seu número de telemóvel: 962601138.


Belmiro Vaqueiro (Bragança) > 26.06.2005

" (...) percorri todos esses locais e ainda tenho bem presente os momentos vividos em Cantacunda e Banjara. Fiz parte da Companhia de Caçadores nº 1426 com sede em Geba (1965 a 1967), companhia que que pelos vistos foi rendida pela CART 1690 nos primeiros dias de Maio de 1967". 

O ex-furriel miliciano Vaqueiro vive hoje em Bragança.


Carlos Fortunato (Lisboa)> 07.07.2005

"Amigo Luís Graça: Já criei um link do meu site [CCAÇ 13 - Os Leões Negros, 1969/71] para o teu, e uma recomendação de visita ao Blog. Excelente Blog, muito interessante, e importante para não se perder no tempo, pena que não se consiga obter mais detalhe sobre a operação Mar Verde, que invadiu a Guiné Conakry, apesar de ter participado, não cheguei a desembarcar, pois a mesma foi abortada".


Carlos Marques dos Santos  (Coimbra) > 28 de Dezembro de 2005

 "Por mero acaso descobri nas minhas navegações  na Internet um site ou blog que referia Mansambo. Ao explorá-lo encontrei dois  nomes - Ernesto Ribeiro e António Santos Almeida (Cart 2339).

"Por mail, entrei em contacto com o Almeida e descobri que ele  iria à Guiné em Março próximo. Manifestei o desejo de ir também e logo a seguir um telefonema de quem há cerca de 35 anos não tinha notícias, apesar  de termos desde há dez anos encontros anuais.  Este ano vai ser no Gerês, em Maio, o nosso encontro. Este mail serve-me de 1.º contacto e,  ao mesmo tempo, e vendo fotos de Mansambo, contribuir para a memória colectiva, enviando algumas das que possuo".


Carlos Vinhal  (Leça da Palmeira, Matosinhos) > 24 de março de 2006

"Entrei recentemente no seu site e, como antigo combatente da Guiné, queria deixar o meu modesto contributo para aumentar o número daqueles que não têm complexos em assumir-se como antigos combatentes de uma guerra que, a não querendo, dela não fugiram (...).Fui Furriel Miliciano Atirador com a especialidade de Minas e Armadilhas (...). A [minha] a CART2732, embarcou no Cais do Funchal para a Guiné no dia 13 de Abril de 1970, chegando a 17. Uns quantos dias em Brá e no dia 21 do mesmo mês seguimos para Mansabá, situada entre Mansoa e Farim, onde permanecemos até finais de Fevereiro de 1972. Como se tratava de uma Companhia independente ficámos dependentes administrativa e operacionalmente do BCAÇ2885 sediado em Mansoa. Os Oficiais, Sargentos, Cabos e Soldados especialistas eram todos continentais. Os madeirenses, homens de comprovada bravura, eram aquilo que poderíamos chamar a carne para canhão. A verdade é que muitos deles foram feridos em combate mais de uma vez e nunca viraram a cara à luta" (...)


Fernando Chapouto > 30.06.2005

Felicita o A. Marques Lopes pela "coragem demonstrada depois de ser ferido". 

Mais:  "Quero agradecer-lhe por me proporcionar a possibilidade de reviver o passado, ao ler os seus escritos sobre os locais que eu tão bem conhecia e especialmente Banjara onde o sofrimento era grande, não só pelo isolamento como pela fome que se passava".  

O exf-furriel Miliciano Chapouto pertencia à CCAÇ 1426 (1965/67), com sede em Geba, com passagem por Banjara, Camamudo e Cantacunda. Tem a cruz de guerra. Promete mandar fotografais para o nosso álbum.


Fernando Franco  (Amadora) > 30 de Abril de 2006

"Camarada Luis Graça, obrigado e parabéns pelo teu belo site, pois desde que o descobri que vejo e revejo, mais uma vez os meus agradecimentos. Estive no BIG (Batalhão de Intendência Geral) em Bissau entre 1973 e 1974 numa CIAG (Companhia de Intendência de Apoio Directo) e se me pudesses ajudar a encontrar alguns camaradas desse tempo ou anteriores, ficava muito grato".


Fernando Gomes de Carvalho (V. N. Famalicão) > 27.06.2005

Era furriel miliciano na CCAÇ 2401, 1º pelotão. Andou pelo Norte e Leste da Guiné.

"Não tive sítio certo (...). Quantas vezes recordo a igreja de Geba, junto ao Rio Geba! Ali podia esquecer África e, por alguns momentos, pensar que estava na Metrópole, passando os olhos sob a torre e o telhado da igreja e fixando, ao fundo, o horizonte. Era o meu cantinho no Minho!"... 

É sócio-fundador do Museu da Guerra Colonial, situado em Vila Nova de Famalicão. Convida os camaradas a visitá-lo. TM: 968583045


Hugo Moura Ferreira (Lisboa ) > 22 de Dezembro de 2005

"Começo por me apresentar informando-o que também estive na Guiné  (Cufar - CCAÇ 1621 e Bedanda - CCAÇ 6) como Alf Mil de Infantaria, entre Novembro de 1966 e Novembro de 1968. (...)Como estou aposentado do MNE [Ministério dos Negócios Estrangeiros], tenho agora mais algum tempo para me dedicar ao que gosto.

"Assim, como navego muito na Net, procurando também assuntos relacionados com a Guiné, descobri o seu Blog, que está FENOMENAL e pelo qual gostaria de o felicitar, de que é pena esteja muito dirigido a zonas em que eu não estive e datas diferentes das minhas. Mas, à parte tudo isso, o que ali encontro, incluindo os links, me dá uma satisfação indescritível e me provoca uma tal nostalgia que se transforma em prazer masoquista" (...)


Humberto Reis  (Lisboa) > 23.05.2005

"Luís: (...) Se queres saber do Pina [ex-furriel miliciano da CCAÇ 12] vai aos almoços da rapaziada. Já estive com ele, e as respectivas famílias, na Festa da Cerveja ainda no tempo em que se realizava no Castelo de Silves (agora realiza-se na Fábrica do Inglês). Também já estive em casa dele 2 vezes e a última que lá estive foi há uns 3 ou 4 anos a beber um copo com o Sousa (1º cabo enfermeiro) e o Patronilho (condutor que é de Setúbal e mora em Azeitão) e as respectivas caras metades. Foi um encontro casual numa altura de feriado com ponte em que eles, tal como eu, estávamos pelo Algarve.

"Quanto ao Zé da Ila [ex-furriel miliciano Sousa, da CCAÇ 12], como nós lhe chamamos, já lá vão mais de 35 anos, ainda há 2 meses estive no Funchal a beber um copo com ele e a esposa. De vez em quando tem vindo aos almoços da malta e até já tem ficado "hospedado" lá em casa. Por questões profissionais tenho ido várias vezes à Madeira e normalmente encontro-me com ele".


Idálio Reis  (Cantanhede)> 16 de Maio de 2006

"Caro Luís Graça: Não me contive perante a catadupa de missivas que o foranada vai recebendo. Assim, surge esta segunda mensagem, a reiterar com o tempo.   O seu fundamento serve tão-só para também dar o singelo contributo de um ex-alferes miliciano [um sobrevivente de Gandembel / Ponta Balana, CCAÇ 2317], a quem lhe foi dado a conhecer essa Guiné profunda, e que hoje vai sendo divulgada tão bem pelos companheiros da Tertúlia" (...).


João S. Parreira (Sassoeriros, Carcavelos, Cascais)> 3 de Dezembro de 2005

"Luís Graça:  Foi com agrado que li a tua mensagem e nela vi que fui bem recebido tal como era de esperar. O Briote já me tinha falado da tua simpatia e do blogue. Parabéns, é uma obra extraordinária. Não me canso de passar tempos infinitos a olhar para o monitor e a devorar todas as estórias, contos e tudo o mais que tens publicado.  É fascinante.  De facto em Brá conheci bem o V. Briote e o M. Dias, pois muitas vezes partilhámos os bons e os maus momentos.  Logo que tenha oportunidade vou enviar umas fotos. Pelo interesse que possa ter para a rapaziada o Uva vai preparar e enviar-te mais detalhes sobre o célebre baile da Associação que o VB  tão bem soube descrever" (...)


João Tunes (Corroios, Seixal) > Agosto .2005

"Caro camarada (*) Luís Graça:  Ando há tempos para lhe escrever mas a Netcabo faz-me, volta e meia, negaças. O objecto principal é agradecer-lhe a sua simpática transcrição de um meu post sobre a morte dos "três majores" na guerra da Guiné. Depois, felicitá-lo pelo seu blogue e por alimentar e dinamizar a "Tertúlia" (a que gostaria de me vir a juntar).

"Entretanto, tive o grato conhecimento de que o Luís tinha chegado à fala com o académico guineense Leopoldo Amado que tenho o prazer de conhecer pessoalmente e contar com a sua amizade. Por mera coincidência no fio da conversa, verificámos, eu e o Leopoldo, que tínhamos sido "vizinhos" em Catió no ano de 1970 - eu, armado em alferes (miliciano!) de transmissões da tropa colonial e ele um dos muitos miúdos guineenses que viviam na tabanca sob protecção das NT. É excelente pessoa e um homem cultíssimo, despreconceituado relativamente ao passado da guerra e alguém que pode ajudar na catarse histórica daquele encontro de povos com metralha, com benefícios para portugueses e guinéus mas sem que a memória tenha de ser pintada de qualquer cor e muito menos filtrada (...).

(*) entenda-se o termo no seu significado castrense


Jorge Cabral (Lisboa) > 21 de Dezembro de 2005

"Luís:  Muito obrigado! Através do blogue, recordo. E sinto. Vejo os rostos  dos camaradas, oiço os sorrisos das crianças, e até, calcula, consigo admirar de novo os belos seios das bajudas. Peço permissão para pertencer à Tertúlia, oferecendo o pícaro de  alguns episódios que vivi (...)".


Jorge Santos (Setúbal)> 6 de Julho de 2005

"Sou o o autor do site sobre a Guerra colonial, onde constam vários assuntos sobre a mesma, e que já deve ser do vosso conhecimento: http://www.geocities.com/guerracolonial .


"(...)  Eu não fiz a comissão na Guiné, mas sim em Moçambique, integrado num Companhia de Fuzileiros, entre Janeiro de 1968 e Abril de 1970. Mas acompanho, no geral, tudo o que diz respeito à Guerra Colonial, desde há bastantes anos".


Jorge Tavares (Lisboa)> 22 de Dezembro de 2005

"Tomei conhecimento do seu site sobre a Guiné, o que me deu uma certa nostalgia do tempo que por lá passei. Sou o ex-Furriel Miliciano Tavares,  Radiomontador, do BCAÇ 2856 que esteve em Bafatá de 1968 a 1970. Junto em anexo algumas fotos dessa altura (...)".


José Bastos > 16 de Julho de 2006

" (...) Chamo-me José Bastos, estive  na Guiné em serviço militar desde Janeiro de 1973  a Agosto 1974, fui 1º. cabo de transmissões (STM), estive todo o ano de 1973  em Bafatá, tendo vindo a Portugal de férias no início de 1974  e voltado à Guiné, desta vez para Bula, onde estava quando se deu o 25 de Abril (...).

"Voltei à Guiné em 1976 e daí para cá tem sido uma corrida quase constante, este ano ainda só lá estive em Março, mas o ano de 2005 fui lá 5 vezes, 2004 igual, 2003 idem, etc.  A minha vinda a este blogue é simplesmente para agradecer aos camaradas que vão deixando aqui as suas histórias, agradecer-lhes, agradecer ao Luis Graça e a todos quantos fazem com que, um dia, quando a nossa geração desaparecer, os nossos filhos, os nossos netos, quer brancos, quer pretos, saibam tirar a lição que já todos nós tirámos, concerteza, sobre a guerra colonial: tanto nós como o PAIGC  lutámos por objectivos que, no meu ponto de vista, só o do PAIGC era um objectivo válido, consistente, assente na determinação nobre de serem independentes. Nós fomos defender um património que não nos pertencia, mas ficou uma grande lição de humanismo e respeito  entre dois povos que falam a mesma língua e que choram ambos os seus mortos" (...).


José Carlos Mussá Biai (Lisboa)

É do Xime, e era menino no tempo em que por lá passaram a CART 2715 (1970/72), a CART 3494 (1972/73) e a CCAÇ 12 (1973/74)..  O furriel miliciano enfermeiro, de nome José Luís Carvalhido da Ponte, natural de Viana do Castelo, foi alguém especial na sua vida e na vida de outros meninos, por ter sido seu professor na única escola que lá havia, a  PEM (Posto Escolar Militar) nº 14.  Também teve como professor, depois da CART 3494 ter ido para Mansambo, o furriel Osório, da CCAÇ 12, que dava aulas no Posto Escolar Militar nº 14, juntamente com a esposa. Fez a instrução primária debaixo de fogo. Um dos seus irmãos, o Braima, era guia e picador das NT. O seu pai, um homem grande, mandinga, do Xime, o chefe religioso da comunidade islâmica  local (um almanu).

A família teve problemas depois da independência devida à colaboração com as NT, Teve irmãos que fizeram o serviço militar em Farim e que depois foram presos. O José Carlos, nascido em 1963,  foi para Bissau fazer o liceu. Foi cinco anos professor, até vir para Lisboa e obter uma bolsa de estudo da Fundação Gulbenkian. Hoje é formado em engenharia florestal. É casado. A sua mulher é natural do Xitole, filha de um comerciante conhecido dos tugas, o Braima. Trabalha e vive em Portugal, no Instituto de Geográfico Português.  Mas nunca mais voltou a encontrar os seus professores do Xime. O José Carlos é um exemplo de tenacidade, coragem, determinação e nobreza que honra qualquer ser humano. Que nos honra a nós e ao povo da Guiné-Bissau a ele que pertence.


José Manuel Samouco > 4 de Abril de 2006

"Apresenta-se o ex-furriel miliciano José Manuel Samouco, pertencente à CCAÇ 2381, Os Maiorais, que passou pela Guiné entre Maio de 1968 e Abril de 1970. Camarada de guerra do Zé Teixeira e por ele viciado no blogue. Feita a necessária mas sumária apresentação, venho, carregado de emoção, solicitar a devida autorização para me juntar a vós. Leitor atento, diário, emocionado, por tudo o que se escreve e mostra no blogue, senti hoje uma vontade enorme de me tornar participante de viva voz" (...)
 

José Neto (Queluz) > 5 de Dezembro de 2005

"Sou actualmente Capitão Reformado, vivo em Queluz de Baixo, Oeiras, e fui, com o posto de 2º sargento, o primeiro sargento da CART 1613 que guarneceu Guiledje nos anos de 1967/68.
Por interposta pessoa conheci o Engenheiro Carlos Silva, impulsionador da reconstrução do nosso "quartel" , a quem mostrei o meu album fotográfico e um extrato das minhas "Memórias para os meus netos" (...). Também estive, antes, em Cabinda e, depois em Calunda (Leste mais ao leste de Angola), mas Guiledje, talvez por ser o lugar onde levei mais porrada  ficou-me no coração. Mas não foi só no meu, porque no passado dia 3 de Junho, em Braga, ainda reunimos setenta e tal elementos da Companhia e a velhada continua a nutrir um carinho muito especial por aquele cantinho de África" (...).


José Teixeira   (Matosinhos> 11 de Dezembro de 2005

(...) "Sou mais um antigo combatente da Guiné que trouxe a maravilhosa doença da  sôdade.

Estive na Guiné como Enfermeiro entre 1968/70, na CCAÇ  2381- Os Maiorais de Empada.

Em Abril deste ano tive a felicidade de voltar às terras por onde passei, com um grupo de amigos entre os quais o Xico Allen ( Xico de Empada)" (...). 


Júlio Benavente  (North Providence, Rhode Island, EUA) > 29 de Abril de 2006

"Amigo Luis: Somos quase da mesma idade estive na Guine em 67/68 e que saudades desse tempo, embora pareca um paradoxo, pois como se pode ter saudades duma coisa  como foi o tempo de guerra,mas la aprendemos a o que e a camaradagem que nos juntou ate hoje mesmo sem contacto pessoal, e como ficamos putos novamente quando falamos com alguem que tambem la esteve na Guine. O meu nome e Julio Benavente fui furriel miliciano na CCS do BCAV 1905 de Fevereiro 1967 ate Novembro de 1968. Hoje vivo no Estado de Rhode Island, na cidade de North Providence. nos Estados Unidos da América.

"Um abraço camarada e obrigado por esta oportunidade de reviver" (...)

 
Leopoldo Amado > (Lisboa) > 21 de Agosto de 2005

"Caro Luís Graça: Gostaria de louvá-lo vivamente pelo trabalho que vem desenvolvendo de há um tempo a esta parte sobre a guerra colonial: Guiné. Não o conheço pessoalmente, mas algo diz-me que que também é meu compatriota, ou seja, que é guineense de alguma forma, como aliás todos os guineenses.

"Sou historiador guineense, vivo em Lisboa e estou justamente a fechar uma tese sobre a guerra colonial versus guerra de libertação (o caso da Guiné), ou seja, a mesma realidade vista dos sois lados: do Exército português e Portugal, por um lado, e doutro, as FARP e o PAIGC.  Assim, gostaria de manter contacto contactos consigo e, porque não, trocar imenso material, na medida em que, não obstante estar já na fase final da tese, ando a investigar este assunto há pelo menos 7 anos, 3 dos quais para o livro que escrevi para o ex-Presidente Aristides Pereira (um livro que versa mais o aspecto político da guerra da Guiné) e 4 anos dedicados a minha tese (que Versa mais os aspectos militares dos contendores).

"Para mim, e para a Guiné-Bissau, é sumamente importante a compreensão dos contornos desta guerra, até para que a imprescindível catarse tenha lugar e possa curar as feridas  que abriu  (e são elas tantas!), pelo que proponho que me aceitem no vosso grupo de tertúlia, caso acharem que a minha presença não iria de alguma forma "perturbar", na medida em que sou tão somente um estudioso do assunto e bem tão pouco participei na guerra, senão ouvindo os tiros de um o outro lado, que me deixavam borrado de medo (ainda era uma criança) (...)".

 

Luís Carvalhido (Viana do Castelo) > 21 de Abril de 2005

"Companheiro: Permite-me que te chame companheiro e amigo. Não me conheces, mas tal como muitos milhares de Portugueses falamos uma linguagem mais comum que a própria linguagem de Camões. Vivemos Africa e sentimos o frio das noites de medos disfarçados no fumo do tabaco e no paladar acre da cola.  (...) Pisei os mesmos caminhos que tu, num triângulo que ia do portinho do Xime, até ao interior do Xitole.  Decerto que não estarás admirado se te disser que te chamo companheiro porque também tu deves conhecer de cor e salteado a localização das tabancas de Bambadinca, onde eu passei cerca de vinte e sete meses.

"Deixa-me voltar um pouco atrás, para te dizer como é que cheguei até ti. Para além de estar socialmente ligado à Associação Portuguesa dos Veteranos de Guerra  (isto é outra história, que dava outro livro, ou outros livros) , sou amigo do António Castro, meu amigo e companheiro de armas na Guiné. Com ele mantenho contactos diários e através dele tomei conhecimento da tua existência e das muitas coisas que temos em comum (...).

 "E digo-te isto sobretudo porque nessa altura eu tinha um olhar de menino rebelde. Olhar de quem vê e não acredita. Olhar de quem sabe que tem que ser, mas que não fica calado. Olhar de menino ingénuo, mas muito selvagem. Olhar de quem brinca com coisas sérias, não se detendo com os medos comuns. Medo de morrer sim, medo de afrontar nunca. Perdoa-me, porque quando começo nunca mais acabo. Africa é imensa, Africa é linda, Africa é inesquecível, a guerra colonial é uma nódoa que tem quer ser exorcizada." (...)


Manuel Carvalhido (Viana dp Castelo) > 10 de Novembro de 2005

 (...) "Também estive em Bambadinca, 1972/74, na CCS do BART 3873. Já lá vão muitos anos, parece que ainda ontem aconteceu... Acabei de ler alguns relatos autênticos que eu tenho na memória gravados.

"Foram tempos que marcaram as nossas personalidades, que ficaram gravados nas nossas memórias e que jamais serão apagados. Lembro-me perfeitamente do Bento ter trocado o serviço com o Sousa Pinto. Até sei que foi numa segunda feira pela manhã, na estrada do Xime-.Bambadinca".


Manuel Cruz (Sines) > 11 de Julho de 2005
 

Manuel Cruz, que trabalha em Sines numa multinacional como engenheiro, confirma em mensagem enviada ao David J. Guimarães que foi "o comandante da CCAÇ  3493 do BART 3873". E acrescenta: 

(...) "Chegámos a Bolama para treinos militares entre o Natal e o Ano Novo (1971 / 1972). Depois seguimos para Mansambo onde estivemos em sobreposição com a companhia (???) comandada por um capitão miliciano, de nome Agordela. Não sei exactamente quando, mas o sr. comandante da Guiné, Gen. Spínola, transferiu-nos para Cobumba (perto de Cufar - COP4 e perto de Bedanda e um pouco mais a montante do rio Cobumba instalou-se um grupo de Fuzileiros). Alguns meses depois a CCAÇ 3493 foi para Fá Mandinga, onde estivemos poucos meses.

"A última parte da comissão, que nos custou ao todo 27 meses, estivemos em Bissau no COMBIS, onde integrávamos a defesa de Bissau e dávamos apoio / segurança a colunas militares - civis para Farim".


Manuel G. Ferreira > 7 de Julho de 2005

"Sou Manuel Guedes Ferreira.  Soldado Condutor Auto. Estive na Guiné passei por Bolama, Cumuré, Xime, Mansambo, Bambadinca e Bafatá. Há   um tempo atrás o meu amigo Sousa Castro (fomos  da mesma CART 3494)  falou-me deste excelente trabalho feito por todos vós. Pois  já tenho navegado nele, e de facto está 5 estrelas, os meus parabéns. Mando algumas fotos"...


Manuela Gonçalves (Nela)(Caldas da Rainmha) > 7 de Janeiro de 2006

"Não posso deixar de enviar os meus parabéns pela excelente ideia deste blog! Também nós temos muitas recordações de Bissau!  Vou recordar alguns desses momentos no meu blog.
Continuem o vosso blog!

Blog: Caminhos por onde andei. Post: Guiné- Bissau 

 

Manuel Lema Santos (Massamá, Sintra)> 5 de Abril de 2006

(...) "Fui oficial da Marinha de Guerra da Reserva Naval o que equivalia, em termos práticos, aos seus pares congéneres milicianos do exército. Não mais do que universitários, licenciados ou em vias disso que, tendo de cumprir num horizonte próximo e ao serviço da cidadania o serviço militar obrigatório, optavam pela inscrição nesse ramo das Forças Armadas, vindo posteriormente a ser seleccionados ou não, de acordo com as exigências e os resultados dos testes prestados no ramo. Fui apenas um entre os quase 3000 oficiais da Reserva Naval que, entre 1958 e 1982, desfilaram naquela Instituição; daqueles, cerca de um milhar terão desempenhado missões de serviço nas antigas colónias portuguesas, entre 1961 e 1975. No meu caso, depois de um curso de seis meses na Escola Naval, a viagem de instrução de cadete e o juramento de bandeira com promoção a Aspirante (Outubro de 1965 a Maio de 1966) marcaram, em sucessão, instrução e formação, camaradagem, também crescimento. 

"Depois, já promovido a Subtenente, o destacamento para uma unidade naval na Guiné, o NRP Orion - P362 (LFG - Lancha de Fiscalização Grande) onde fui oficial Imediato de Maio de 1966 a Abril de 1968; uma unidade naval de 42 metros, com 2 oficiais, 4 sargentos e 22 praças entre outras 6 idênticas (Argos, Dragão, Hidra, Lira, Cassiopeia e Sagitário). Seguiram-se inúmeras operações, apoios à navegação (LDG's, LDM's, LDP's, TT's, embarcações e batelões) e oceanografia, escoltas, fiscalização, transportes, ataques e respostas, evacuação de feridos, prisioneiros e até transporte de agentes da PIDE" (...).


Manuel Santos > 29 de Março de 2006

"Olá, camarada,pois após de ter consultado o vosso site veio-me à lembrança os bons e maus momentos que eu passei na Guiné, mais propriamente em Nova Lamego, no ano de 71/72 estando integrado no pelotão de antiaérea 3001.

"Vocês estão a fazer um belíssimo trabalho que é de se tirar o chapéu, e eu dentro das minha possibilidades vou tentar aumentar o vosso espólio, espero eu. Temos um pequeno grupo do pelotão faltando ainda uns elementos que não nos foi possível de os contactar, mas espero ainda de os descobrir. Não sei explicar o que sinto quando nos juntamos, a verdade é que conto os dias que faltam para nos reunirmo-nos. E  vai já ser no próximo mês de Maio no dia 20.

"Espero noticias vossas e estou disponível para poder contribuir dentro das minhas possibilidades e capacidades" (...)

            

Mário Beja Santos (Lisboa) > 14 de Junho de 2006

Acabei de localizar e contactar o Mário Beja Santos (conhecido assessor do Instituto do Consumidor): embora sendo um homem atarefado, pareceu-me querer entrar para a nossa tertúlia e  sobretudo colaborar com mais textos da sua autoria. Autorizou-me o publicar a lenda do Alferes Hermínio de Jesus… Fica aqui o meu agradecimento (público) pela sua atenção e o nosso voto  para que se junte à centena de amigos & camaradas da Guiné que constituem já a nossa tertúlia (LG)...

"Prezado Luís Graça, gostei muito do seu telefonema e procurarei corresponder ao seu solicitado. Para já leva dois textos com todas as autorizações necessárias para os publicar. Estou asfixiado com o fim do ano lectivo. Mas terei muito gosto em continuar em conversar consigo nos próximos tempos. Abraços, Beja Santos"


Mário Dias (Alhos Vedros, Moita)> 16 de Novembro de 2005

"(...) Fui para a Guiné com 15 anos (em 1952). De lá saí em 1966.  Conheço, como seria de esperar, (...) a quase totalidade da Guiné. Lá cumpri o serviço militar obrigatório (recruta e CSM) e, estando já na disponibilidade, regressei à efectividade de serviço (1963) como furriel miliciano apenas com a intenção de colaborar e ajudar na guerra que tinha já começado. Fiz parte de um grupo de oficiais e sargentos que se deslocaram a Angola para tirar o curso de comandos e uma vez regressados, formámos um grupo que actuou na célebre Operação Tridente,  na ilha do Como (Janeiro a Março de 1964). Posteriormente, demos instrução e fizemos parte dos 3 primeiros grupos de comandos da Guiné (...)".


Martins Julião > 22 de Julho de 2006

"Caro companheiro Luis Graça: Só há pouco tempo conheci este espaço de encontro. O Paulo Santiago (Pelotão 53 - Saltinho), foi o camarada 'responsável' pela minha apresentação aos camaradas. Chamo-me Martins Julião, fui Alferes Mil de Infantaria da CCAÇ. 2701 - Saltinho ( Abril de 1970/Abril de 72). Hoje sou um pequeno empresário e gerente de uma unidade industrial, após mais de 20 anos como professor do Ensino Secundário.

"Tocou-me profundamente aquele recordar, in sitio, da emboscada do Quirafo. O Alf Armandino que era o Alferes mais 'velho' da companhia que me rendeu ( eu era na CCAÇ  2701 o Alferes mais 'velho'), tornou-se de imediato, até pela sua imensa simpatia e  gentileza, o meu 'protegido e confidente' (...). O Armandino deu-me umas lembranças típicas da Guiné  para entregar à mãe, que morava no concelho de Castro Daire. Nunca reuni coragem para lhas entregar" (...)  

 

Maurício Vieira  (Sintra) > 1 de Outubro de 2005

(...) "Gostaria de contactar com ex-combatentes do BCAÇ 3884, do qual faziam parte a CCAÇ 3547, CCAÇ 3548 e CCAÇ 3549, estacionadas em Geba, Fajonquito e Contuboel, respectivamente (1). Eu fazia parte da CCS, que estava sediada em Bafatá (1972/74). Era comandante o tenente coronel Correia de Campos, o 2º comandante era o conhecido major Vargas (ligado ao Ginásio Clube Português). Eu era radiotelegrafista. Recordo entre outros o Machado e o Freitas, de Guimarães; o Rato, da Vidigueira; o escriturário Pais, de Lisboa, o Martins, também de Lisboa, além do Faria, do Luis Catarino, da Vidigueira, do Martins, de Vila Real, do furriel Alves, não esquecendo o nosso furriel Martins, de transmissões." (...)


Pedro Lauret (Lisboa) > 13 de Junho de 2006

(...) "Dei hoje conta da vossa existência. Sou praticamente da última geração que esteve na Guiné. Fui imediato do NRP Orion entre 1971 e 1973. Sou hoje Capitão-mar-guerra reformado. O silêncio que se faz sentir em torno da guerra colonial é para mim revoltante. Se perguntarmos a qualquer jovem, até aos 40 anos, o que foi a guerra, na sua maioria tem apenas ideias vagas. A culpa também é nossa. O que contamos às nossas mulheres, filhos e netos?

"Estive na Guiné num momento particularmente difícil, em 1973 após o PAIGC ter colocado em operação os mísseis Strella, e a FAP ter deixado de voar numa primeira fase e posteriormente voar com enormes limitações. Deixaram de se verificar evacuações e apoios de fogo.

"Sou do tempo em que o Presidente do Conselho, Prof. Marcello Caetano, afirma ao General Spínola que aceita a derrota (como na Índia), mas nunca a negociação (ver livro Depoimento de Marcello Caetano).É necessário quebrar este silêncio traumático e doloroso.

"Faço neste momento parte da Direcção da Associação 25 de Abril, e estamos a trabalhar para lançar um grande site sobre a Guerra Colonial" (...)


Raul Albino (Azeitão) > 27 de Agosto de 2006

(...) "Através do Mário Beja Santos tive conhecimento do vosso blogue e ele convenceu-me a participar nele (...).Como apresentação ligeira, fui Alf Mil Inf na CCAÇ 2402 do BCAÇ 2851, na Guiné entre 1968 e 1970" (...)


Renato Monteiro  (Lisboa) > 4 de Julho de 2005

"Amigo Luis: Muito surpreendido por me rever numa piroga no rio Geba. Na verdade, não me lembrava desse episódio. Não menos espantado por rever a picada do Xime e outros locais que, passado tanto tempo, ainda se encontram bem presentes na minha memória...

"Lamento, ao contrário, não ter reconhecido ninguém nas fotos nem, sequer, te referenciar. Não sei a explicação.  Sou, na realidade, co-autor do livro que referes. Fico ao teu dispor para o caso de quereres comunicar, e feliz pela Internet ter possibilitado este reencontro. Um abraço, Renato Monteiro".


Rui Esteves  (Lavadores. V.N. Gaia) > 29 de Novembro de 2005

(...) "Chamo-me Rui Esteves, tenho 57 anos de idade, fui furriel miliciano enfermeiro. Pertenci à Companhia de Caçadores 3327,formada nos Açores, companhia denominada independente. Chegámos a Bissau em Janeiro de 1971; regressámos em Janeiro de 1973. Estivemos na zona de Teixeira Pinto / Cacheu  (acampámos ao longo de meses ao longo da estrada que começou em Teixeira Pinto: a dormir no chão; sem água para banhos; sem qualquer construção que não fosse feita de folhas de palmeira).  Aqui morreu o único soldado da nossa companhia.

"Quando começou a estação das chuvas, fomos distribuídos por vários aquartelamentos da zona. Em Novembro fomos transferidos para a zona de Tite, para Bissássema, onde rendemos uma CCAÇ  que estava muito desmoralizada e com muitas baixas quer em combate, quer por motivos de saúde. Encontrei aqui um rapaz que tinha feito a recruta comigo, nas Caldas da Raínha: falo do Pedro Alegre, que tinha um jeitão para a música e um azar do caneco em tudo o que se metia.

"Os meses foram passando, escorrendo devagar -  o tempo que eu passei a olhar para dentro, a sonhar com a vida aqui; os meus projectos para quando regressasse ! Em Janeiro de 1973 -- prestes a completar 24 meses de comissão,  regressámos à Metrópole. Tivemos sorte, as Companhias que se seguiram já fizeram 27, 28 meses de comissão...

"Parece que foi ontem, e já estamos aqui quase a verificar na prática como será quando tiver 64 anos (lembram-se do When I'm Sixty-Four, do album Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band  ? ) " (...)

 

Rui Felício (Lisboa) > 9 de Março de 2006

"Meu caro Luis Graça: Fiquei surpreendido pelo facto do Paulo Raposo te ter enviado as minhas 'estórias' da Guiné...Mandei-as para ele e para o David, mas achei que não devia inundar ou deteriorar o teu blogue com historietas muito pessoais e que pudesses achar descabidas aqui. Mas a publicação de uma delas demonstra que, afinal, achas que é merecedora de publicação.. Fico honrado com isso e agradeço-te a distinção. 

(...) "Um abraço ( quero que penses numa forma de nos encontrarmos .. gostaria de te conhecer pessoalmente). E renovo os parabéns, já anteriormente dados, para o teu blogue"... Rui Felicio, Ex-Al Mil Inf, CCAÇ 2405, Guiné 1968/1970.

 

Sousa de Castro (Viana do Castelo) > 9 de Maio de 2005

"Como estas coisa são!... Como este mundo é pequeno! Quero dizer ao Zé Carlos [ Mussá Biaai] que eu, António Castro, de Viana do Castelo, fui 1º cabo radiotelegrafista da CART 3494 (Fantasmas do Xime), conheço perfeitamente o ex-Furriel enfermeiro, dou-me muito bem com ele. Curiosamente ele irá talvez em Junho ou Julho à Guiné ao abrigo da Plataforma de Cooperação com a Guiné-Bissau, mais precisamente ao Cacheu que está geminado com Viana do Castelo desde 1988.

"Informo também o Zé Carlos qual o endereço e telefone para o poder contactar. O nome correcto é:  José Luís Carvalhido da Ponte / Rua Moinho Vidro, 89 / Viana do Castelo / 4900-753 MEADELA


Tino Neves (Cova da Piedade, Almada) > 28 de Agosto de 2006

(...) "Há 4 anos atrás, após o meu novo estatuto de Aposentado,  iniciei-me nas pesquisas de informações de tudo o que se relacionava sobre a Guiné, assim como o contacto dos Camaradas de Armas  (CCS / BCaç.2893) . (...) Entrei no seu Blogue e gostei muito, pois nunca tinha entrado em nenhum. (...) Gstaria muito de dar também o meu contributo, contando  algumas histórias passadas e vividas por mim em terras da Guiné.

(...) "Fui 1º. Cabo Escriturário da CCS do Batalhão de Caçadores nº. 2893 estacionado no Sector Leste (L3), Nova Lamego (Gabu) desde o dia 22/11/1969 a 04/09/1971" (...).


Torcato Mendonça (Fundão)  > 14 de Maio de 2006

"O Carlos Marques dos Santos deu-me a conhecer este Blogue. Há muito que a 'guerra' acabou para mim, só que quase diariamente ela aparece…! Não resisti fui à Net e tenho navegado pelo blogue. Fui alferes miliciano na [CART] 2339. Li certos eventos que os vivi – o Malan Mané estava vivo em Novembro de  69 e recebia tratamento no Hospitral de Bissau. Abracei-o causando espanto ao fuso que o guardava. Só que eu estive na mata com o Malan Mané, soube que foi ferido (...)

"Meu caro há escritos que não tinha deles essa recordação. Vou ter que ir à História da Companhia. Agradeço-lhe este blogue, o fazer-me relembrar certas vivências e questionar-me sobre outras. Mansambo  da foto não era a do meu tempo. O Zacarias Saiegh foi meu amigo. Era um homem extraordinário, ele e outros que foram meus camaradas e foram fuzilados. Nunca os esqueço e não sei perdoar" (...)


Victor Barata > 9 de Maio de 2006

"Pois bem, Luis Graça, tomei o gosto, não vos largo. Chamo-me Victor Barata, fui Especialista da Força Aérea Portuguesa, Melec de Aviões e Instrumentos de Bordo. Cumpri o meu serviço militar de 1969 a 1974, sendo o período de 1971/1973 cumprido na Província da Guiné, mais concretamente na linha da frente das DO27, fazendo todo o tipo de serviço desde a tão desejada entrega de correio, géneros alimentícios, etc., às tristes evacuações, lgumas  sabe  Deus em que circunstâncias. Percorri todos os locais onde este tipo de aeronave tinha 'poucas' condições para se entregar a uns metros de terra avermelhada, tive um acidente dentro de uma desta aeronaves já em terra, mas...existiu uma situação há 35 anos que me faz perder a fala de cada vez que a recordo, vou tentar!" (...)


Victor Condeço (Entroncamento) > 19 de Novembro de 2006

"Camarada Luís Graça: Em primeiro lugar deixe-me cumprimentá-lo e elogiar o seu muito digno e meritório trabalho que tem conseguido levar por diante no blogue.

"Ter já conseguido fazer deste blogue um referencial histórico de um período da história de Portugal, escrito pelas pessoas que fizeram essa própria história, não é obra fácil.(...)

"Sou assíduo frequentador desde Março de 2006, altura em que procurando por mapas da Guiné e me deparei com este excelente sítio. Raro é o dia que o não visite, já li também a grande maioria dos postes mais antigos, onde recordei ou fiquei sabendo de acontecimentos que já não lembrava ou nunca soubera (...).

" (...) [Fui] Furriel Miliciano (...) do Serviço de Material – Mecânico de Armamento e por isso mesmo sem grandes histórias de guerra para contar. Participei na Guerra da Guiné por obrigação, como aliás quase todos nós, desde 1 de Maio de 1967 a 3 de Março de 1969,  fazendo parte da CCS do BART 1913 que era constituído também pelas CART 1687 (Cachil e Cufar), CART1688 (Bissau e Biambi) e CART 1689 (Fá, Catió, Cabedú e Canquelifá)." (...)


Victor David (Coimbra)  > 8 de Fevereiro de 2006 >

"Camarada Luís Graça: Tive um imenso prazer em conhecer-te [hoje, em Coimbra] e espero que me autorizes a entrar de quando em vez no Blogue. Parabéns pela iniciativa e dentro em breve contactarei com camaradas da minha companhia - a dos baixinhos do Dulombi, a CCAÇ  2405  - para que eles também possam dar a sua achega a tão excelente ideia" (...).


Virgínio Briote   (Lisboa) > 22 de Outubro de 2005

 

"Pois, a Guiné! A Guiné faz parte de mim. Entrou-me no sangue aos 21 anos, tenho 62, vive comigo. Percorrem-me sentimentos contraditórios, não devia ser, mas é o que sinto às vezes. Assaltos, pé ante pé, ao nascer do dia, ou ainda de noite, de heli a qualquer hora do dia. Descargas de adrenalina e de tiros, estardalhaço de rockets, granadas, 10 minutos no máximo, retirar a seguir no goss-goss. Depois, o regresso a Bissau, [a Brá ], o banho e o sono, o almoço farto no Fonseca. E o desassossego e a dor tantas vezes levados àquelas gentes, um peso que trago comigo, que me curva. Passou-se comigo, não ouvi contar".



Observ. - A vermelho os camaradas que já faleceram, segundo o nosso conhecimento
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Nota do editor:

(*) O poste nº 1 pode ser aqui (re)lido >  23 de abril de 2004 > Guiné 63/74 – P1: Saudosa(s) madrinha(s) de guerra (Luís Graça)

Guiné 61/74 - P26716: Facebook...ando (74): Manuel Ribeiro de Faria, ex-cap inf, cmdt da CCAÇ 3414 (Sare Bacar, Cumeré, Brá, 1971/73), a subunidade a que pertenceu o nosso saudoso amigo e camarada Joaquim Peixoto (1947-2018)




Joaquim Peixoto (1949-2018), ex-fur mil arm pes inf, 
CCAÇ 3414 (Sare Bacar, 1971/73)


1. Há muito que não falamos aqui do Joaquim Peixoto (Penafiel, 1949-Porto, 2018): 

(i) foi ur mil arm pes inf, MA, CCAÇ 3414 (Sare Bacar e Bafatá, 1971/73); 

(ii) professor do 1º ciclo,  reformado, vivia em Penafiel, e era casado com a Margarida Peixoto, também ela professora do ensino básico, reformada;

(iii) e ambos membros da nossa Tabanca Grande, para além de amigos da Quinta de Candoz;


Joaquim e Margarida.
Monte Real, 2010.
Foto de Manuel Carmelita
(iv) a morte, sempre traiçoeira, levou-o sem poder completar os 70 anos;

(v) era uma figura muito querida na sua terra, e ,muito querida também de todos nós (e em especial. da Tabanca de Matosinhos e de "O Bando do Café Progresso");

(vi) o casal participou ainda por diversas vezes dos Encontros Nacionais da Tabanca Grande, em Ortigosa e  Monte Real;

(vii) o Peixoto integrou a Tabanca Grande em 11/7/2009;  

(viii) tem cerca de meia centena de referências no nosso blogue. A CCAÇ 3414, por sua vez, tem 22 referências.

Infelizmente mais nenhum "falcão de Sare Bacar" apareceu aqui com a vontade expressa de preencher o lugar vazio deixado pelo  Joaquim Peixoto que "da lei da morte já se libertou". 

É verdade que o grosso da companhia era malta dos Açores (que só se reencontrou pela primeira vez em 2012, na Ilha Terceira). 

A CCAÇ 3414 foi mobilizada pelo BII 17, Angra do Heroísmo. E foi comandada pelo cap inf Manuel José Marques Ribeiro de Faria, hoje cor inf ref.


2. Há quinze dias passámos na A4, em Penafiel, a caminho de Candoz,  e lembrámo-nos dos nossos amigos Joaquim e Margarida Peixoto. 

Por outro lado, há dias deparei-me com a página do Facebook do cor inf ref Manuel Ribeiro de Faria que, de resto, é amigo do Facebook da Tabanca Grande (temos 22 amigos em comum). 

Com a devida vénia, recuperei algumas das fotos do seu álbum, com destaque para a sua passagem pelo CTIG (onde foi alferes ou tenente em Có, em 1968/69, e depois capitão, em 1971/73, em Sare Bacar).  Tem um brilhante currículo militar, tendo servido o Exército Português até 2008.

Gostaria que ele se juntasse ao blogue da Tabanca Grande. Tenho o nº 902, sob o nosso  fraterno poilão, no caso de ele aceitar o meu convite para se juntar ao blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.

Recordo aqui um dos seus postes, com data de 24 de dezembro de 2019, 06:55


Natal !... Este é o meu septuagésimo sexto!...

Temos de concordar que já vou tendo alguma experiência...

Vi e vivi muitos tipos de Natal, Natais europeus, Natais africanos, até asiáticos [em Goa, na Índia (1947/48/49)], uns em clima de paz, outros até de guerra, os primeiros em que se esperava a prenda (raramente "as prendas") posta no sapatinho pelo Menino Jesus que viria a ser substituído por um Pai Natal. Alguém deve ter pensado que era exploração infantil... E mais, não é que já há também uma Mãe Natal? (Elas estão a tomar conta disto)...

De todos os Natais que vivi, tiveram especial significado aqueles passados no calor da Guiné, em 1971 e 72, em noites de vigília (de prevenção, esperando um possível ataque, já que o PAIGC tinha essas tentações), visitando vários núcleos de defesa (postos de combate) onde os meus soldados, os meus "Falcões" açorianos, com pequenas celebrações lembravam a data, as famílias distantes, mas onde tinham uma pequena lembrança para o seu Capitão (ainda guardo algumas delas), pequenas e singelas no tamanho, enormes, descomunais, no significado.

Nesta época passam-me pela memória todos os meus Amigos (isto, segundo as regras que eu aprendi, inclui as Amigas) e desejo-lhes o melhor deste mundo contido na tradicional mensagem "Feliz Natal e um Bom Ano Novo"...
Peço-lhes, em troca, um momento de reflexão para todos aqueles a quem a Noite de Natal não é tão abençoada como aquela que mereciam, sobretudo as crianças que, por esse Mundo fora, não têm Ceia de Natal e não sabem sequer, muitas delas, se terão algo para se alimentarem no dia seguinte.

Assim, como militar que sou e serei sempre, envergo o meu melhor uniforme para, em sinal de respeito, desejar a todos os meus Amigos um Feliz Natal.



Cor inf ref Manuel Faria Ribeiro (n. 1943) 



Angola > 1959 > O jovem Ribeiro de Faria, Comandante de Bandeira
 na Milícia da Mocidade Portuguesa  



Academia Militar > 1965 (lapso, deve ser 1963) > 
Aluno-cadete, 1º ano, ao lado de sua mãe




Guiné > Zona leste >  Região de Bafatá > Sector L1  > Susetor de Sare Bacar >
 Sare Bacar> 1973 > Cap inf, cmdt da CCAÇ 3414 (1971/73)



Angola > Março de 1996 a Setembro de 1997, ao serviço como Chefe do Estado Maior da UNAVEM III (United Nations Angola Verification Mission), depois MONUA (Mission d'Observation des Nations Unies Angola).



Guiné > Zona Oeste > Có >  1968 > "Aquartelamento de Có, ainda muito "piriquito"(era assim que eram chamados os inexperientes recém-chegados), ainda cheio de ideias. Procedimento que sempre adoptei, quando saía para uma operação, levava perto a mim um apontador de metralhadora MG-42, um apontador de Morteiro 60 mm, um apontador de Lança Granadas-Foguete e um Radio-telegrafista.

"Eu (o comandante), levar as fitas de carregamento da metralhadora, armado em Pancho Villa, era uma fantasia que a experiência cedo corrigiu... Eu estava lá para comandar, avaliar a situação, dar as ordens e coordenar a acções ou reacções adequadas, e não para terefas que não eram nem deviam ser da minha competência.

"Os ensinamentos que colhi, muito me serviram e ajudaram na posterior preparação da minha Companhia de Caçadores Independente 3414 com que voltei à Guiné". (Julgamos que em Có o  Manuel Ribeiro de Faria devia alferes ou tenente.)
 


Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > CIM Contuboel > "Nasceu em 11 de Abril de 1910, em Estremoz, António de Spínola. Recordo esta figura notável não de honrarias palacianas, mas das operações nas bolanhas da Guiné, onde pude, de muito perto e com muita honra, servir sob as suas ordens. Captei esta imagem em 1972 quando, em Contuboel, Spínola presidia à cerimónia de encerramento de um Curso de Formação de Milícias que eu dirigia."

Fotos (e legendas): : © Manuel Ribeiro de Faria (2025). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


3. O
 cor inf ref Manuel Ribeiro de Faria, filho e neto de militares, nasceu em 1943,  viveu em Goa,  em Moçambique e em Angola. O pai, Manuel Ribeiro  de Faria (por sua vez nascido em 1915,  Inhambane, Moçambique) morreu com o posto de tenente-general, segundo apurámos da sua página do Facebook.

Em 1954 vivia em Angola, começando a frequentar o Colégio Alexandre Herculano - Nova Lisboa, hoje Huambo, e voltaria a Angola em 1996 como Chefe do Estado Maior da UNAVEM III. 

Fez duas comissões de serviço no CTIG.  Deve ser do curso de 1963 na Academia Militar. Segundo a sua página no Facebook, nasceu em Mafra e mora em Oeiras. A sua última função no Exército foi a de diretor do Museu Militar. Interessa-me particularmente pela história militar.
 

4. Ficha de unidade > Companhia de Caçadores n.º 3414

Identificação: CCaç 3414

Unidade Mob: BII 17 - Angra do Heroísmo

Crndt: Cap Inf Manuel José Marques Ribeiro de Faria

Divisa: "Antes Morrer Livres Que em Paz Sujeitos"

Partida: Embarque em 23Jun71; desembarque em 02Jul71 | Regresso: Embarque em 23Set73

Síntese da Actividade Operacional

Após realização da IAO, de 5 a 31ju171, no CIM, em Bolama, seguiu em 5ag071 para Sare Bacar, a fim de efectuar o treino operacional e a sobreposição com a CCaç 2636. 

Em 27Ag071, assumiu a responsabilidade do subsector de Sare Bacar, com pelotões destacados em Sora e Sare Aliú Sene, ficando integrada no dispositivo e manobra do BArt 2920 e depois do BCaç 3884.

Em 18mai73, foi rendida no subsector de Sare Bacar pela CCaç 4147/72 e seguiu, em 20,ai73, para Cumeré, tendo reforçado o dispositivo do COP 8, de 4jun73 a 5jul73.

Em 5jul73, substituindo a CCaç 3518, assumiu a responsabilidade do subsector de Brá, ficando na dependência do COMBIS, com vista a garantir a segurança e protecção das instalações e das populações da área. No período efectuou ainda escoltas a colunas de reabastecimento a Farim, Binta, Guidage e Mansabá.

Em 25set73, foi substituída no subsector de Brá pela CCaç 3477, a fim de
efectuar o embarque de regresso.

Observações - Tem História da Unidade (Caixa n." 96 - 2ª Div/4ª  Sec, do AHM).

Fonte: Excerto de Portugal. Estado-Maior do Exército. Comissão para o Estudo das Campanhas de África, 1961-1974 [CECA] - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974). 7.º volume: Fichas das Unidades. Tomo II: Guiné. Lisboa: 2002, pág. 405.

(Seleção, revisão / fixação de texto: LG)
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terça-feira, 22 de abril de 2025

Guiné 61/74 - P26715: Convívios (1021): XXIX Convívio do pessoal da CCAÇ 3398/BCAÇ 3852 (Buba, 1971/73), dia 10 de Maio de 2025, em Santo Tirso (Joaquim Pinto Carvalho, ex-Alf Mil)

XXIX CONVÍVIO

DIA 10 DE MAIO DE 2025 EM SANTO TIRSO


Amigo "Incendiário":

Vamos celebrar mais um ano de convívio, será o 29.°, desta vez regressamos ao norte do País: a Santo Tirso.

A data escolhida foi a de 10 de maio de 2025 (Sábado).

O ponto de encontro será no Mosteiro de Nossa Senhora da Assunção, em Monte Córdova, Santo Tirso.

Agendamos esta chegada pelas 10:30 horas.

Pelas 11:30 horas deslocamo-nos para o Mosteiro de Nossa Senhora da Assunção, onde será celebrada uma cerimónia religiosa, pelo pároco local, em memória dos nossos camaradas falecidos.

Após esta cerimónia seguiremos para o Restaurante O Cleto - Monte Córdova, Santo Tirso.


A ementa será composta por:

Entradas:
Pão; manteigas; rissóis; presunto; moelas e rojões

Sopa de legumes;

1.º Prato: Bacalhau com cebolada
2.º Prato: Vitela/Lombo assado com batata assada

Sobremesas:
Bolo de bolacha e pudim
Café e digestivos.

Por último, o tradicional Bolo de Aniversário da Companhia.

O preço por pessoa é de 40,00€. Crianças dos 6 aos 12 anos: 20,00€.

Como compreendem agradeço que confirmem a vossa presença bem como a totalidade dos familiares que vos acompanham, até ao dia 25/04/2025, através de mensagem para o telemóvel 966 743 750.

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Nota do editor

Último post da série de 18 de abril de 2025 > Guiné 61/74 - P26701: Convívios (1020): Rescaldo do Encontro Anual do pessoal da CCAV 8351/72 - "Tigres de Cumbijã", levado a efeito no passado dia 5 de Abril de 2025, em Castelo Branco (Joaquim Costa, ex-Fur Mil AP Inf)

Guiné 61/74 - P26714: Vivências em Nova Sintra (Aníbal José da Silva, Fur Mil Vagomestre da CCAV 2483/BCAV 2867) (8): O gerador; O bezerro; Os cães e a raiva; As botas trocadas; As abelhas e As rolas

CCAV 2483 / BCAV 2867 - CAVALEIROS DE NOVA SINTRA
GUINÉ, 1969/70


VIVÊNCIAS EM NOVA SINTRA

POR ANÍBAL JOSÉ DA SILVA


20 - O GERADOR

A luz elétrica que havia só à noite era produzida por um gerador. Um dos mecânicos, o Amadora, era o responsável pelo seu bom funcionamento e digamos que sempre se portou à altura em termos de competência. O mesmo não se pode dizer quanto à permanência no seu local de trabalho. É que quando havia flagelações ao quartel e era preciso parar o gerador, o Amadora, por vezes, não estava lá. E então ouvia-se o pessoal a gritar por ele, chamando-lhe filho desta e filho daquela e berrando “Ó Amadora apaga a merda da luz”.

A casa do gerador
Abrigo/dormitório do 2.º Pelotão
A macaca sarita nossa mascote


21 - O BEZERRO

No decorrer duma operação em que participaram os comandos, foram, por eles mortas algumas vacas, tendo restado um bezerro, que a nossa malta trouxe para Nova Sintra. Foi colocado a pastar junto ao arame farpado, para crescer e engordar. Já imaginávamos uma refeição com bife e batata frita, mas o azar bateu-nos à porta. O bezerro desaparecera e só foi descoberto uns dias depois, dentro de um poço seco, que havia junto da vedação. O bezerro tinha morrido e lá se foram os bifes.

Autêntica pega de caras
A pocilga
O galinheiro


22 - OS CÃES E A RAIVA

Quando estou no gabinete de comando a apresentar os mapas do depósito de géneros e da cantina, ao capitão Loureiro, para análise e eventual aprovação, entrou no gabinete o cabo cripto e entregou uma mensagem ao capitão. Este leu-a, deu-ma a ler e como se tratava de uma mensagem urgente, para tratamento imediato, disse-me: rapaz Silva vai buscar a tua G3 e anda ter comigo.

A mensagem dizia para abater todos os cães existentes no aquartelamento, devido a um surto de raiva. Retorqui dizendo: Mas meu capitão, vamos andar aos tiros dentro do quartel? Não será melhor avisar toda a gente? - Não pode ser - disse ele - porque senão eles vão escondê-los dentro dos abrigos e debaixo das camas. Tiro neste e tiro naquele lá se foram seis cães. Quem os atingiu foi o capitão com a sua Kalashnikov, tempos antes apreendida ao PAIGC.

Duas das vítimas
Abrigo/dormitório novo
Abrigo/dormitório desmantelado


23 - AS BOTAS TROCADAS

No decorrer de uma operação e numa paragem para descanso, o furriel Lima, das Transmissões, queixou-se fortemente de dores nos pés e que quase não podia caminhar. Alguém a seu lado, atento ao que ele dizia, reparou que o Lima tinha as botas calçadas ao contrário. Ele tirou-as, lavou os pés, provavelmente na água da bolanha, o enfermeiro tratou as bolhas, desinfetou e depois lá seguiram na direção do objetivo.

Regresso de uma operação
Regresso ao sair da bolanha
Dia de Páscoa 1969


24 - AS ABELHAS

Noutra operação no decorrer da mesma, houve a habitual paragem para descansar e comer a ração de combate. O pessoal aproveitou para tirar a camisa do camuflado e refrescar-se um pouco.

Alguém tocou nos ramos de uma árvore, tendo provocado a fuga dum enxame de abelhas, que foram atacar vários troncos humanos esbranquiçados e descamisados. Os mais graves foram o Alferes Maranhão e o Furriel enfermeiro Bettencourt, que foram evacuados para o Hospital Militar, em Bissau, onde permaneceram vários dias internados.



25 - AS ROLAS

Havia dois dias no ano, creio que no mês de Junho, em que as rolas faziam a migração, talvez do sul para norte. Nos ramos das árvores na periferia do quartel, poisavam às centenas e então era um ver se te avias a deitá-las abaixo, mesmo com a G3. Boas arrozadas se fizeram.

O capitão Bernardo e as rolas
Messe de oficiais/secretaria/comando
Desmantelar um paiol

(continua)
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Nota do editor

Último post da série de 15 de abril de 2025 > Guiné 61/74 - P26692: Vivências em Nova Sintra (Aníbal José da Silva, Fur Mil Vagomestre da CCAV 2483/BCAV 2867) (7): Coluna de Reabastecimento a S. João - Coluna a S. João em 08/12/69 e Colunas de reabastecimento a Lala

Guiné 61/74 - P26713: o nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (111): o crachá da CCAV 2721 (Paulo Salgado / João Moreira / João Rodrigues Lobo / José Carvalho)



Crachá da Companhia de Transportes 2345. Angola, c. 1968. (Divisa: "omnia per omnia portans", levando tudo através de tudo)



Miniguião da CCAV 2721 (Olossato e Nhacra, 1970/72)






Alguns dos crachás (badges, em inglês) de unidades e subunidades de cavalaria que passarm pelo TO da Guiné (Fonte: www.agbmorais.com, com a devida vénia)




1, Respondendo ao pedido do nosso leitor cor cav ref António Belo Morais (*):


(i) Paulo Cordeiro Salgado  

Vivam, Todos.

Gostaria de ser prestável ao Sr. Coronel António Morais. Infelizmente, não tenho o crachá da nossa companhia (a CCAV 2721), eu que até fui o comandante interino! Pasme-se, pois.

Vou perguntar a dois ou três camaradas com quem converso frequentemente se têm este material identificador.

Uma saudação bloguista, Paulo Salgado.

segunda-feira, 21 de abril de 2025 às 20:02:00 WEST 
 

(ii) João Moreira 
 
Boa tarde, camaradas:

Recebi os vossos emails, mas infelizmente não posso colaborar, porque não sei onde andará o meu crachá da CCAV 2721.

Pode ser que o Salgado obtenha bons resultados nos contactos que vai fazer. Faço votos para que assim seja.

Abraço, João Moreira

segunda-feira, 21 de abril de 2025 às 20:02:00 WEST 


(iii) João Rodrigues Lobo

 
Pelo blog Luis Graça & Camaradas da Guiné, do qual sou leitor assíduo, soube da sua colecção.
Não sei se procura outros crachás além do de cavalaria que menciona mas, se não o tiver e estiver interessado, terei todo o gosto em enviar-lhe um crachá da Companhia de Transportes 2345, pela qual tive uma curta passagem em 1968, em Angola.

Os melhores cumprimentos, 
João Rodrigues Lobo (ex-alferes miliciano)

(iv) José Carvalho

Parece-me provável que o Coronel Bela Morais tenha curiosidade em saber se algum camarada lhe disponibiliza o almejado crachá que procura e,  não sendo eu quem o possa oferecer (pois não pertenci a essa unidade), transmito somente um grande abraço para um amigo de infância que não revejo há perto de 60 anos.

Tó Guilherme, sou o Zé Júlio, e convivemos muitos anos no Baleal. Tenho esporadicamente tido noticias tuas através do teu irmão J.M.

Na Tabanca Grande sou o José Carvalho e,  no livro Baleal Memórias e Famílias do teu irmão (**), pertenço à família Faria Pimentel. 

Grande abraço José Carvalho


(**) Baleal : memórias e famílias / José Manuel Bela Morais. - Lisboa : Scribe, 2014. - 306 p. : il. ; 24 cm. - ISBN 978-989-8410-37-5 

segunda-feira, 21 de abril de 2025

Guiné 61/74 - P26712: o nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (110): o cor cav ref António Bela Morais procura um exemplar do crachá da CCAV 2721 (Olossato e Nhacra, 1970/72)


Guião da CCAV 2721, "Infernais avante", Olossato e Nhacra, 1970/72. Mobilizada pelo  RC 4 - Santa Margarida, tece dois cmdts,   Cap Cav Francisco Vasco Gonçalves Moura Borges, e Cap Cav Mário António Batista Tomé. Chegou ao CTIG em 11abr70 e regressou à metrópole em 28fev72.
 
Imagem: Cortesia de João Moreira


1. Através do Formulário de Contacto do Blogger recebemos a seguinte mensagem:

Data - 21 abril 2025 11:30

Bom dia, sou militar de cavalaria reformado, e estou a juntar os crachás das unidades que estiveram no ultramar, para mais tarde oferecer ao museu militar.

Por isso, gostaria de saber se é possível arranjar um exemplar do crachá da CCav 2721 que não tenho.

Os meus cumprimentos

Cor Cav António Morais | 1949abmorais@gmail.com


2. Resposta do editor LG:

OIá, camarada. Obrigado pelo contacto. Da CCAV 2721 (Olossato e Nhacra, 1970/72) temos mais de 110 referências no nosso blogue. E dois representantes, o ex-alf mil cav Paulo Salgado e o fur mil cav João Moreira.

Fica aqui o seu pedido. Só temos uma imagem do guião da CCAV 2721. Mas pode ser que acha que haja mais colecionadores, e nomeadamente de crachás (e emblemas de braço) de unidades e subunidades que serviram no CTIG. Se não vir inconveniente, aqui fica também o seu endereço de email para troca de informação.

Por outro lado, descobrimos na Net a sua página (em português e inglês): www.agbmorais.com Ficamos a saber:

(...) O meu nome é António Bela Morais, sou Coronel de Cavalaria do Exército Português. Eu servi o Exército desde Janeiro de 1970 até Junho de 1991, e posteriormente a Guarda Nacional Republicana até Fevereiro de 2001.

Sou coleccionador de Crachás e Emblemas de Braço das Unidades de Policia a Cavalo e das Forças Armadas Portuguesas.

Tenho para troca vários exemplares que constam da minha lista de repetidos. (...)


Parabéns pela sua bela coleção. E oxalá possa ainda aumentá-la e enriquecê-la. Disponha do nosso blogue. Saudações, Luís Graça.
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Nota do editor LG:

Último poste da série > 6 de janeiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26354: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (109): Portaria n.º 372-C/2024/1, de 31 de Dezembro que estabelece as condições de acesso dos Antigos Combatentes a uma percentagem adicional de comparticipação sobre a parcela não comparticipada dos medicamentos pelo SNS

Guiné 61/74 - P26711: Notas de leitura (1791): Lançados ou tangomaus e pombeiros, no tráfico de escravos, o que os distingue (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 28 de Março de 2024:

Queridos amigos,
É impressionante vermos que o Google e outros motores de busca guardam um número já bastante apreciável de trabalho sobre lançados e pombeiros. Num feliz acaso das minhas compras na Feira da Ladra encontrei estas atas de colóquio onde o professor universitário brasileiro Carlos Alberto Zerón apresentou um trabalho onde disseca analogias e dissemelhanças entre pombeiros e tangomaus, influentes intermediários no tráfico de escravos em África, parece-me um trabalho muitíssimo bem elaborado, embora tenha dificuldade em entender a omissão de referências aos estudos de António Carreira, Jean Boulègue, Silva Horta e Eduardo Costa Dias sobre estes luso-africanos de origem cabo-verdiana, mas também judeus e foragidos.

Um abraço do
Mário



Lançados ou tangomaus e pombeiros, no tráfico de escravos, o que os distingue

Mário Beja Santos

A investigação sobre os lançados ou tangomaus e pombeiros, imagens de importância primordial nas relações luso-africanas soma uma enorme quantidade de textos que qualquer um de nós pode encontrar em qualquer motor de busca, inclusivamente documentos universitários publicados em vários continentes. Mas pela primeira vez encontrei um trabalho que permite apreciar o que em lugares e espaços diferenciados de África distingue um lançado de um pombeiro. Trata-se do trabalho de um professor universitário brasileiro, Carlos Alberto Zerón, apresentado no II Colóquio Internacional sobre mediadores culturais, séculos XV a XVIII, que se realizou em Lagos, em outubro de 1997. Estranho o facto de Zerón pôr muita ênfase num trabalho publicado por Maria da Graça Garcia Nolasco da Silva, intitulado Subsídios para o estudo dos lançados da Guiné, publicado no Boletim Cultural da Guiné Portuguesa, n.º 25, 1970, e nunca fazer a referência aos trabalhos de António Carreira, merecedores de crédito.

Por decisão da Coroa, que não queria ser prejudicada nos seus réditos, os cabo-verdianos tinham limitações no seu comércio, estavam proibidos de se internarem pelos rios, mas a verdade é que muitos desobedeceram, foram figuras privilegiadas no comércio ilícito em toda a zona dos Rios da Guiné. Eram, sobretudo, judeus foragidos, refugiados políticos, cooperando com traficantes originários de outros países, sobretudo ingleses, franceses e holandeses. O tangomau atua nos Rios da Guiné. O pombeiro é um mercador ambulante que atua sobretudo na região angolana, eram mulatos ou negros, antigos escravos libertos que funcionavam como emissários dos comerciantes europeus, que atuavam nestes paradeiros africanos ou no continente americano. O que se sabe de ambos os tipos de agentes comerciais é através de relatos indiretos, caso das relações de missionários ou das relações de viagens. Zerón, neste seu trabalho, pretende identificar as características essenciais destes dois grupos socioeconómicos, que também aparecem referenciados nos tratados jurídicos escritos pelos teólogos no decorrer do século XVI.

No caso dos tangomaus, a primeira regulamentação do trato da Guiné, de 1470, refere-os, segue-se um alvará de 1508 onde é abordado a punição deles considerando-os como infratores ao regime de monopólio real. No caso dos pombeiros, temos os relatos de viajantes, de administradores da Coroa e da correspondência dos missionários, existe esta informação desde os primórdios da ocupação portuguesa na região do Congo e Angola. Como escreve Zerón:
“através destes escritos vemos a conquista militar de Angola, efetiva a partir de 1574/1575, ganha evidência uma dupla estratégia de captação de escravos: aos prisioneiros feitos durante a guerra de conquista somavam-se os escravos negociados diretamente junto dos inúmeros mercados localizados no interior do país. Neste último caso, eram os próprios comerciantes portugueses, ou seus escravos, ditos pombeiros que realizavam a operação. Ambas as práticas foram inicialmente toleradas, sem que a administração real fosse além de um controlo alfandegários nos portos de desembarque. Mas um aumento significativo na demanda pela mão de obra escrava nesta mesma época (a década de 1570 corresponde ao início da expansão da cultura canavieira no Brasil, por exemplo) correspondeu a uma série de abusos que desorganizavam o mercado africano e colocavam em risco a estabilidade do fluxo do comércio negreiro.”
E daí terem iniciado as interdições das atividades dos pombeiros.

Revelou-se impossível a aplicação na região do Congo e de Angola de um modelo centralizador e monopolista. Quem eram os pombeiros? Eram escravos de negociantes e feitores, viviam próximos dos portugueses implantados juntos à costa africana, guarda-se documentação importante sobre esta atividade dos pombeiros, caso da descrição que nos deixou o físico holandês Olfert Dapper na sua Descrição dos Países Africanos, uma edição de Amesterdão de 1668:
“Alguns senhores ensinam a ler, a escrever e a calcular e outras coisas que possam ser úteis ao comércio a esses escravos comumente chamados pombeiros a partir deste local de comércio Pombo. Esses pombeiros têm ainda a seu serviço, sob seu comando, outros escravos, às vezes até ao número de 100 ou 150, os quais transportam as mercadorias sob suas cabeças pelo interior do país.”

O que têm estes agentes em comum? Antes que os conquistadores e os comerciantes portugueses ousem instalar-se ou desenvolver as suas atividades mercantis no interior do continente africano, são os tangomaus e os pombeiros que perfazem a intermediação comercial entre os europeus e os africanos. A despeito das fórmulas diferenciadas empregadas pela Coroa para tentar controlar o tráfico negreiro no Golfo da Guiné e nas regiões do Congo, Angola e Benguela, dá-se conta que a primeira operação de troca é efetuada quase exclusivamente por agentes intermediários marginais às sociedades europeia e africana. Temos registos da presença de pombeiros e tangomaus ativos juntos dos mercados africanos até ao século XVIII e mesmo até ao início do século XIX. Zerón lembra que há relatos detalhados sobre os tangomaus dos dois clássicos da literatura de viagens da autoria de André Álvares de Almada e André Donelha, bem como na Relação do jesuíta Fernão Guerreiro.

Repudiados tanto pela Coroa como pelos missionários, os tangomaus eram verdadeiros intermediários, mesmo que fossem encarados como apátridas, fossem eles judeus, homiziados ou degredados, valiam-se dos seus expedientes e da sua autonomia para mediar entre os negociantes estrangeiros e as tribos aborígenes. Uns com influência e até ligados às famílias dos régulos, outros levando uma existência miserável. Adotavam hábitos alimentares aborígenes e ritos gentílicos, praticavam frequentemente a poligamia, pagariam tributos aos chefes com quem negociavam. Ao contrário dos pombeiros, os tangomaus eram frequentemente donos dos seus bens, comerciavam principalmente escravos, mas também outras mercadorias (panos, algodão, cera, marfim, ouro, coiros) A sua vida religiosa era sincrética, um misto de cristianismo e vários animismos, havendo mesmo uma descrição de 1606 do jesuíta Baltasar Barreira que informa que há uma aldeia de 100 portugueses que seguem a lei de Moisés.

O pombeiro é um ser desqualificado e marginalizado pela sociedade portuguesa, dotados da capacidade de dotar várias línguas, como já se referiu eram escravos de confiança, operavam de maneira semelhante aos tangomaus, mesmo com uma autonomia significativamente menor já que não possuíam a propriedade das mercadorias negociadas nem participavam dos lucros obtidos. Quando em missão, os pombeiros partiam por um longo tempo com outros escravos que lhe eram subordinados, levavam as mercadorias dos seus senhores para trocá-las por escravos e também por marfim. Outra analogia que encontramos entre tangomaus e pombeiros era o interesse pela sua intermediação, apoiada pelas duas partes interessadas, os pequenos fornecedores e os comerciantes europeus buscavam quebrar o controlo monopolista imposto pelos grandes potentados locais.

Zerón, no termo da sua exposição questiona se esta intermediação dos pombeiros e dos tangomaus no comércio de escravos era ou não uma mediação cultural. Dá-nos uma síntese da moldura do pensamento na tradição jurídica antiga e medieval e depois na idade moderna quanto à legitimação do tráfico de escravos, mas estes pensadores da era dos Descobrimentos e depois consideravam que a intermediação destes agentes comerciais marginais estava desvinculada dos valores da sociedade cristã ocidental, não lhe atribuíam qualquer consideração para além de serem mediadores em negócios, eram discriminados pela sua aculturação e pela sua condição marginal social. E Zerón termina dizendo que pombeiros e tangomaus foram mais “atravessadores” que “mediadores culturais”.

Negociantes de escravos em Gorée, Senegal, século XVIII
Mercado de escravos no Recife, desenho de Zacharias Wagner
“Os Rios da Guiné” em History of the Upper Guinea Coast, 1545-1800, por Walter Rodney, New York University Press, 1970
Brasão de Fernão Gomes
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Nota do editor

Último post da série de 18 de abril de 2025 > Guiné 61/74 - P26700: Notas de leitura (1790): Philip J. Havik, um devotado historiador da Guiné: As turbulentas duas primeiras décadas na Guiné, ainda é difícil falar dela como colónia (6) – 1 (Mário Beja Santos)