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sexta-feira, 25 de abril de 2025

Guiné 61/74 - P26725: Recordações de um fulacundense (Armando Oliveira, ex-1º cabo, 3ª C/BART 6520/72, 1972/74) - Parte III



Foto nº 1A e 1



Foto nº 2A e 2




Foto nº 3A e 3




Foto nº 4, 4A e 4B


Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) >
 Mais fotos sobre o cotidiano da vila que, com a guerra, perdeu o status de sede de circunscrição (para Tite)....Segundo nosso grão-tabanqueiro Jorge Pinto, tinha nesta época cerca de 400 habitantes, da etnia biafada. Embora com parentes no mato, Fulacunda era atacada pelo PAIGC.

 Fotos do álbum do Armando Oliveira, natural do Juncal, Paredes de Viadores, Marco de Canaveses; mora no Porto.

Fotos (e legendas): © Armando Oliveira (2025). Todos os direitos reservados.[Edição e legendagem complementar: Blog Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Armando Oliveira, ex-1º cabo, 3ª C/BART 6520/72, "Os Serrotes" (Fulacunda, 1972/74), pertencia ao 3º Pelotão, comandado pelo nosso amigo, camaradada e grão-tabanqueiro Jorge Pinto. Ele era o apontador da metralhadora pesada Breda. Passou há dias a sentar-se à sombra do nosso poilão, no lugar nº 901.


É meu conterrâneo, da minha segunda terra, Marco de Canaveses (a terra também da Carmen Miranda, do engº Belmiro de Azevedo e do general Carlos Azeredo , um conhecido monarquista que participou ativamente do 25 de Abril e que foi chefe da casa militar do presidente da República, Mário Soares ).

Trabalhou 37 anos, como civil, no Hospital Militar Dom Pedro V, Porto. Tem página do Facebook . Mora no Porto.

Tem uma bela coleção de "slides" da Guiné, que mandou digitalizar. Uma parte dessas imagens já foram publicadas em postes do José Claudino da Silva, e nomeadamente na série "Ai, Dino, o que te fizeram"...

Voltou à Guiné-Bissau 4 vezes, tendo sempre passado por Fulacunda.

Comecei a publicar ontem  mais alguns fotos do seu álbum (*) . Mandou-me pelo correio, para a minha morada na Lourinhã,  uma "pen" com o seu espólio fotográfico (incluindo a história da unidade).

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Guiné 61/74 - P26724: (In)citações (267): O Vinte e cinco de Abril é um poema universal (Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico)

Foto com a devida vénia a AGENDA CULTURAL LISBOA


25 DE ABRIL

adão cruz

O Vinte e cinco de Abril é um poema universal.

É muito difícil entender a alma quase cósmica dos valores, dos princípios, e dos magníficos versos deste profundo poema.

Recordar o 25 de Abril não é relembrar apenas o facto concreto de um golpe militar e de uma revolução popular, com mais cartazes ou menos cartazes, mais foguetes ou menos foguetes, mais canções ou menos canções, ainda que de iniciativa extremamente louvável.

Recordar e comemorar Abril é ensinar em tudo quanto é lugar, na escola, na rua, no trabalho, que o 25 de Abril foi um portentoso fenómeno universal de iluminação das consciências, de abertura das catacumbas fascistas, um glorioso hino à liberdade com repercussão e geração de profundas mudanças sociais e mentais não só em Portugal mas em muitos países do mundo.

O vinte e cinco de Abril foi um dos fenómenos político-sociais de maior importância pedagógica dentro de uma sociedade encarcerada em mitos, preconceitos, obscurantismos e grilhetas mentais que formataram e aviltaram a vida até meados do século passado. Os seus valores intrínsecos, mal-entendidos e mal interpretados por muita gente, mesmo gente de cultura, foram repensados e desenvolvidos ao longo dos anos e percorreram o mundo de lés-a-lés, renascendo e reproduzindo-se como elevados conceitos de deveres, direitos, dignidade e justiça do cidadão no seio de um colectivo humano. Mas este entendimento, infelizmente, apenas fazia parte daquela humanidade sonhadora e senhora da mentalidade saudável do homem cidadão e do político sério, honesto, social e bem-intencionado.

Pondo de lado a ignorância, a incultura, o obscurantismo de qualquer espécie de que muita gente não era culpada, mas vítima de grupos organizados a partir de altas instâncias poderosamente perversas, por mais cru que nos pareça, não devemos escamoteá-lo: uma boa parte da humanidade sempre foi corrompida e continua corrompida. Gente sem valores do ponto de vista da desumanidade, da desigualdade, da perda de consciência, da honra e dignidade, da crueldade, do ódio, da vingança, da sede de sangue, do deus dinheiro acima de tudo, do poder a qualquer preço, da ganância, da guerra e da morte como indústria.

E do cancro que gera todas estas metástases, a eterna corrupção. Corrupto significa podre. Estes sim, sempre foram e continuam a ser os inquisidores dos grandes sonhos, os mesmos de sempre, desde a morte de Giordano Bruno até à fogueira dos belíssimos versos do magnífico poema que abriu as nossas almas no vinte e cinco de Abril.

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Nota do editor

Último post da série de 20 de abril de 2025 > Guiné 61/74 - P26709: (In)citações (266): A falha da natureza imperfeita, por Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 / BCAÇ 1887 (Canquelifá e Bigene, 1966/68)

quinta-feira, 24 de abril de 2025

Guiné 61/74 - P26723: 21º aniversário do nosso blogue - Parte II: Comentários de João Crisóstomo (Eslovénia), José Câmara (EUA) e Joaquim Costa (V. N. Famalicão)

1. Comentários dos nossos camaradas e fiéis leitores (*):



(i) João Crisóstomo (EUA) 264 referências no blogue):

João Crisóstomo (com tempo para ler…)

Estive a ler alguns dos “primeiros contactos” enviados ao blogue , então ainda incipiente, de Carlos Vinhal, Jorge Cabral, Beja Santos, Virgínio Briote e muitos outros.

Revivendo e pondo-me nas situações destes nossos camaradas descobrindo o nosso blogue e o que ele representava como catarse e uma porta aberta para um mundo que lhes trazia um misto de saudades e dores, não pude deixar de ficar emocionado com aqueles primeiros testemunhos.

Fizeram-me reviver também a mim os meus primeiros contactos, quando, através do blogue, procurava encontrar o Zagalo que fui ainda ver num hospital em Lisboa e depois vim a conhecer pessoalmente o Luís Graca, o Beja Santos e logo a seguir vários indivíduos que tinham sido meus camaradas em Mafra, Lamego, Madeira e depois na Guiné.

Passados 33 anos, de férias numa visita a Portugal viria a ter ocasião dum primeiro encontro em grupo com camaradas da minha companhia, a CCAÇ 1439, seguido mais tarde por um outro encontro na Madeira…

Como são fortes estas lembranças, que passados tantos anos os revivemos como se os tivéssemos vivendo outra vez. E logo a seguir fui ler o teu post nº 1, de 23 de Abril de 2004, a com a tua homenagem às mulheres portuguesas “que se vestiam de luto” rastejavam no chão de Fátima, implorando à Virgem o regresso de seus filhos… rezando o terço à noite"...

E logo a seguir li a carta enviada por um soldado à sua madrinha de guerra, numa véspera de Natal!

Puxa vida! Se celebrar o aniversário é para ser algo “emocionante", não podias ter feito melhor…Obriga-nos a reagir e a ser fortes para esquecer esse passado/pesadelo ; e de feridas cicatrizadas saber agora seguir em frente...

João Crisóstomo, ainda na Eslovénia
quarta-feira, 23 de abril de 2025 às 23:18:00 WEST



(ii) José Câmara (EUA) (144 referências no blogue):


21 anos a blogar é uma vida. Parabéns e um obrigado a todos aqueles que contribuiram e continuam a contribuir na manutennção da flor.

Abraço transatlânico.

José Câmara


quarta-feira, 23 de abril de 2025 às 23:42:00 WEST





(iii) Joaquim Costa (Vila Nova de Famalicão) (87 referèncias no blogue):

Aos pais e mães que deram vida a este blogue, os meus parabéns pela bonita idade. Saudações particulares ao Luís e ao Carlos Vidal, pela sua persistência, resiliência... e paciência.

Um grande abraço do eterno periquito,
Joaquim Costa


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Nota do editor:

(*) Último poste da série > 23 de abril de 2025 > Guiné 61/74 - P26717: 21º aniversário do nosso blogue - Parte I: Já em tempos aqui expliquei que o blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné é uma flor bravia, nasceu por acaso (Luís Graça, editor)

Guiné 61/74 - P26722: Álbum fotográfico de João Moreira (ex-Fur Mil Cav da CCAV 2721 - Olossato e Nhacra, 1970/72) (25)

Foto 196 > Agosto de 1971 > Nhacra > João Moreira
Foto 197 > Agosto de 1971 > Nhacra > João Moreira
Foto 198 > Agosto de 1971 > Nhacra > João Moreira
Foto 199 > Agosto de 1971 > Nhacra > João Moreira junto a um memorial
Foto 200 > Agosto de 1971 > Nhacra > João Moreira
Foto 201 > Agosto de 1971 > Nhacra > João Moreira junto a um carro de alguém que estava lá colocado.
Foto 202 > Agosto de 1971 > Nhacra > João Moreira sentado num Sintex
Foto 203 > Agosto de 1971 > Nhacra > João Moreira
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Nota do editor

Último post da série de 17 de abril de 2025 > Guiné 61/74 - P26697: Álbum fotográfico de João Moreira (ex-Fur Mil Cav da CCAV 2721 - Olossato e Nhacra, 1970/72) (24)

Guiné 61/74 - P26721: Recordações de um fulacundense (Armando Oliveira, ex-1º cabo, 3ª C/BART 6520/72, 1972/74) - Parte II

 





Foto nº 1A,1B e 1




Foto nº 2A e 2




Foto nº 3 e 3A


Foto nº 4


Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > 
Apesar de terem "parentes no mato", os fulacundenses, de etnia biafada, tinham uma boa relação com a tropa que, de resto, lhes fornecia a "bianda". A população era de  539 almas, na sua  maioria biafadas (336), uma minoria de balantas (120), manjacos (74) e fulas (9), segundo a história da unidade (BART 6520/72, 1972/74).

Fulacunda, com a guerra (e a passagem da sede de circunscrição para Tite) perdeu muita da sua importância de outrora. Passou a ser apenas posto administrativo. Tinha apenas uma casa comercial, lutando com muitas dificuldades de abastecimento. 

Fotos do álbum do Armando Oliveira, natural do Juncal, Paredes de Viadores, Marco de Canaveses; vive no Porto.

Fotos (e legendas): © Armando Oliveira (2025). Todos os direitos reservados.[Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1.  O Armando Oliveira, ex-1º cabo,  3ª C/BART 6520/72, "Os Serrotes" (Fulacunda, 1972/74), pertencia  ao 3º Pelotão, comandado pelo nosso amigo, camaradada e grão-tabanqueiro  Jorge Pinto, e passou há dias a sentar-se à sombra do nosso poilão, no lugar nº 901. 


 É meu  conterrâneo,  da minha segunda terra, Marco de Canaveses, embora viva no Porto.  Trabalhou 37 anos, como civil,  no Hospital Militar Dom Pedro V, Porto. Tem página do Facebook.

Tem uma bela coleção de "slides" da Guiné, que mandou digitalizar. Uma parte dessas imagens já foram publicadas em postes do José Claudino da Silva, e nomeadamente na série "Ai, Dino, o que te fizeram"...

 Voltou  â Guiné-Bissau 4 vezes, tendo sempre passado por Fulacunda. 

Publico hoje mais alguns fotos do seu álbum. Mandou-me pelo correio uma "pen"  com o seu espólio fotográfico, que só  hoje pude ver, depois de regerssar à Lourinhã, após quinze dias de estadia na Quinta de Candoz, cuja estação de comboio mais próxima é justamente o Juncal... Passei lá várias vezes nestas "férias pascais". 

Obrigado, Armando, pela tua generosidade:  a "encomenda" chegou à minha caixa do correio na Lourinhá. Obrgado pela "pen" com as  tuas fotos e os ficheiros com a história do teu batalhão. Vamos publicando.  
 
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Guiné 61/74 - P26720: Convívios (1022): Rescaldo do Encontro comemorativo do 55.º aniversário do regresso da CCAÇ 2381 (Maiorais) da Guiné, levado a efeito no passado dia 12 de Abril em Fátima (José Teixeira, ex-1.º Cabo Aux Enfermeiro)

1. Em mensagem do dia 23 de Abril de 2025, o nosso camarada José Teixeira, ex-1.º Cabo Aux Enfermeiro da CCAÇ 2381 (Buba, Quebo, Mampatá e Empada, 1968/70), enviou-nos o rescaldo do convívio comemorativo do 55.º aniversário do regresso dos Maiorais da Guiné.


A Companhia de Caçadores 2381 (Ingoré, Buba, Aldeia Formosa, Empada 1968 - 1970) comemorou o 55.º de regresso da Guiné com um almoço no Restaurante do Hotel SDIVINE em Fátima, no passado dia 12 de abril.

Dos cerca de 150 militares que embarcaram no Niassa em 1 de maio de 1968, com destino à Guiné, e regressaram em 9 de abril de 1970, estiveram presentes trinta e três, com os seus familiares (esposas, filhos e netos), que, como é hábito, partilham da nossa alegria e totalizaram 83 pessoas em festa.

Foram lembrados os camaradas falecidos na Guiné, e também, todos os que de nosso conhecimento já partiram para a eternidade, conforme listagem a seguir:

Adelino Sousa Costa
Agostinho Carvalho
Alberto Cruz Gomes
Albino Oliveira
António Delfim de Carvalho
Armando Martins Filipe
Armando Vitorino Pinheiro
Carlos Castelo Dias
Eliseu Caetano
Feliciano Henriques
Fernando Monteirinho
Francisco Carvalho
Franquelim Costa
Honorato
Ilídio Heliodoro Morgado
Ilídio Lopes Alves
João Caliça
João Figueiredo
Joaquim Sousa Barbosa
José Agostinho António
José Manuel Pedro
José Manuel Viana
José Salvaterra
Luís Alves Ferreira
Luís José Campos Silva
Luís Rodrigues Franco
Nuno José P Santos
Mário Caixeiro
Vítor Alves Pires
Moisés de Jesus Marques
José Hipólito Massano
António Maria Úrsula
Leonel Valente
Manuel Vieira Godinho
Vítor Santos (furriel)
Bertino Cardoso (furriel)
Vasco Rosado Moreira
Joaquim Carvalho de Almeida
Joaquim Basílio Branco

Depois de ser feita a chamada de cada um deles, seguiu-se um minuto de silêncio em sua memória.

Recordamos alguns veteranos da Companhia que não puderam estar presentes. Alguns por doença, outros porque já não conduzem, outros, outros por ter familiares doentes ou por razões pessoais que os impediram de estar presentes, mas deram sinal de vida.

Acácio Marques
António Catarino Ferreira
António Carvalho Martins
Hélder Correia
Hernâni Ferreira
Joaquim Veríssimo
José António Caetano
José Costa
José Manuel Silva
José Lagarinhos
Nuno Pereira Rosa
Raul rolo Brás
Manuel Martins

Seguiu-se o almoço. Como sempre a alegria foi uma constante. Os abraços de amizade e as conversas carregadas de nostalgia e saudade foram o prato do dia. Também as mazelas do tempo que foi passando e não perdoa foram tema, mas ficou a promessa de sempre - para o ano há mais! Será no mesmo local, dia 11 de abril.

José Teixeira

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Nota do editor

Último post da série de22 de abril de 2025 > Guiné 61/74 - P26715: Convívios (1021): XXIX Convívio do pessoal da CCAÇ 3398/BCAÇ 3852 (Buba, 1971/73), dia 10 de Maio de 2025, em Santo Tirso (Joaquim Pinto Carvalho, ex-Alf Mil)

Guiné 61/74 - P26719: Parabéns a você (2368): David Guimarães, ex-Fur Mil Art Minas e Armadilhas da CART 2716/BART 2917 (Xitole, 1970/72)

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Nota do editor

Último post da série de 15 de abril de 2025 > Guiné 61/74 - P26690: Parabéns a você (2367): António Pimentel, ex-Alf Mil Rec Inf da CCS/BCAÇ 2851 (Mansabá e Galomaro, 1968/70)

quarta-feira, 23 de abril de 2025

Guiné 61/74 - P26718: Historiografia da presença portuguesa em África (478): A Província da Guiné Portuguesa - Boletim Oficial do Governo da Província da Guiné Portuguesa, 1914 e 1915 (32) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 15 de Novembro de 2024:

Queridos amigos,
Começou em agosto a Primeira Guerra Mundial, houve que acautelar os abastecimentos; estamos ainda no rescaldo da campanha no Oio, em 1915 Teixeira Pinto e Abdul Indjai recebem instruções de Josué Oliveira Duque para submeter Papéis e Grumetes de Bissau, Teixeira Pinto à frente de um pelotão de 30 praças indígenas e Abdul Indjai com 1500 irregulares; é dissolvida a Liga Guineense, acusada de estar ao lado da permanente hostilidade dos indígenas de Bissau e de não satisfazer os fins para que fora fundada, matéria que tem feito correr muita água, não esquecer a defesa feita pelo advogado Loff de Vasconcelos, que escreveu a denúncia de que os irregulares de Abdul Indjai saqueavam as empresas, uma devastação que deixou profundas marcas na ilha de Bissau. Às vezes interrogo-me se alguma vez iremos saber a verdade do que foi o procedimento da Liga Guineense e se não foi nestas operações da ilha de Bissau que Abdul Indjai se passou a considerar inatacável na prática das suas rapinas, que irá repetir no Oio, onde será preso e depois exilado em Cabo Verde.

Um abraço do
Mário



A Província da Guiné Portuguesa
Boletim Oficial do Governo da Província da Guiné Portuguesa, 1914 e 1915 (32)

Mário Beja Santos

O governador é Josué de Oliveira Duque, manda transcrever no Boletim Oficial n.º 34, de 22 de agosto, o acervo de louvores pelas operações contra os Balantas insubmissos, organizara-se em 14 de abril uma coluna de comando do capitão João Teixeira Pinto. Ele agora é louvado nos seguintes termos: “Pelo inexcedível zelo e proficiência com que se houve na organização da coluna constituída com os pequenos recursos da província, e pela extraordinária coragem, patriotismo e abnegação, que revelou em todas as fases das operações, que constituíram, por assim dizer, um ininterrupto combate, sem tréguas, contra um inimigo valente e traiçoeiro, sempre com notável desproporção de forças, tanto mais notável que a coluna era composta, na sua quase totalidade, de elementos indígenas irregulares.” São também louvados os 2.ºs Tenentes da Armada Artur Arnaldo do Nascimento Gomes e Raúl Queimado de Sousa, respetivamente comandantes das lanchas canhoneiras Zagaia e Flecha; mas também vários sargentos e, curiosamente, é também louvado o administrador de Bissau, Vergílio Acácio Cardoso, pela muita coragem que mostrou durante o ataque ao posto militar de Bula, onde acidentalmente se encontrava; e não deixa de ser significativo a extensão do louvor a Abdul Indjai, “pela extrema ousadia e coragem que revelou durante as operações, coadjuvando, com os auxiliares sob a sua direção, o comando da coluna tão eficazmente que, segundo opinião do mesmo comandante, lhe deve, em grande parte, o bom êxito das operações”; em portaria complementar são louvados um primeiro artilheiro e um segundo fogueiro.

No Boletim Oficial n.º 36, de 5 de setembro, o governador impões restrições à venda de pólvora e armas, refere que fora proibida a sua venda por ponderosos motivos de ordem pública, atendendo que era de justiça que as casas comerciais não deviam manter por mais tempo tal proibição ou tal restrição, mas que se impunha cuidado e parcimónia nas suas vendas, e com restrições, determinava: até nova ordem era proibida no território da província a importação de armas e pólvora de comércio; mantida a proibição de venda de armas de comércio; a pólvora só podia se vendida nas localidades sede de administrações de circunscrições civis ou de comandos militares; a venda só podia ser feita em indivíduos munidos de uma licença de compra passada e assinada pelo administrador de circunscrição ou comandante militar.

O ministro das Colónias, Alfredo Augusto Lisboa de Lima entendeu publicar um louvor envolvendo o antigo governador, 1.º Tenente, Carlos de Almeida Pereira, nos seguintes termos: “Tendo sido levada a efeito na província da Guiné, em 1913, a ocupação da região do Oio, de longa data e submissa, apenas com os diminutos recursos militares da província, empresa esta que a muito se afigurava de impossível realização, pela resistência a opor pelo gentio, e sendo certo que para se atingir tal objetivo muito contribuiu a boa orientação que à administração da referida província soube imprimir o ex-Governador Carlos Pereira, porquanto, sem descurar os outros ramos da administração lhe mereceu especiais cuidados a ocupação militar da província, de que resultou, não só o alargamento da nossa soberania, mas ainda o aumento considerável das respetivas receitas, que a seu turno lhe permite o mais largo progredimento da mesma colónia: manda o Governo da República Portuguesa louvar o referido oficial pelos serviços que prestou pelo governador daquela colónia, demonstrados na inteligente, perseverante e dedicada atenção que prestou aos diferentes ramos da administração, tendo tido especial relevo, pelos brilhantes resultados obtidos, a ação que exerceu promovendo o alargamento da nossa autoridade em regiões, até então hostis, por uma cuidada e eficaz operação militar.”

O início da Primeira Guerra Mundial exigiu a tomada de medidas que zelassem pelo abastecimento de cada uma das províncias. No suplemento ao Boletim Oficial n.º 43, de 30 de outubro, o Governo publica a Portaria n.º 323, nos seguintes termos:
“Usando as atribuições conferidas pelo decreto de 3 de agosto último;
Hei por conveniente determinar:
1ª – Fica proibida a exportação da província da Guiné para países estrangeiros de géneros alimentícios, gados e combustíveis;
2º - Fica igualmente proibida e reexportação de açúcar importado das províncias de Angola, Moçambique e Cabo Verde.”


E assim chegámos a 1915, depois de uma longa monotonia de preceitos administrativos, encontra-se no Boletim n.º 34, de 21 de agosto, referência a nova insubmissão, desta feia em Bissau. Manda publicar Oliveira Duque a seguinte portaria:
“Tendo-se tentado, por meios suasórios, chamar ao convívio da civilização e à subordinação ao Governo os indígenas da ilha de Bissau, impondo-se-lhes apenas a entrega de armas em seu poder e o pagamento do imposto de palhota e até mesmo só esta última condição;
Tendo-se ultimamente tentado fazer o arrolamento, o que não permitiram em grande parte da ilha;
Não tendo pago a maior parte das povoações arroladas pagando apenas uma parte do imposto três dessas povoações;
Sendo frequentes os desacatos feitos na povoação a soldados da guarnição, e cada vez mais acentuadas as provas de desrespeito para com a nossa soberania, o que constitui uma situação que sem risco da nossa dignidade e até do sucesso público, não pode nem deve continuar;
Hei por conveniente determinar:
1.º Que seja organizada uma coluna de operações para submeter os indígenas rebeldes da ilha de Bissau com a seguinte designação: ‘Coluna de operações contra os Papéis e Grumetes revoltados da ilha de Bissau’, sob o comando do chefe do Estado-Maior, capitão João Teixeira Pinto;
2.º Que a constituição da coluna seja a seguinte: comandante, um pelotão de 30 praças indígenas da 2ª companhia indígena, um corneteiro e dois segundos sargentos, sob o comando do tenente de Infantaria Henrique Alberto de Sousa Guerra; uma metralhadora Hotckiss 6mm com dois soldados europeus e dois indígenas; serviço de saúde tendo à frente o capitão-médico Francisco Regala; 1500 irregulares compreendendo 200 cavaleiros sob as ordens do chefe de guerra Abdul Indjai, tenente de 2ª linha, tendo como imediato o alferes de 2.ª linha Mamadu Sissé.”

A composição da coluna incluía ainda duas lanchas canhoneiras, lanchas da capitania, etc.

Segue-se o teor da portaria n.º 296, ainda do Boletim Oficial n.º 34, de 21 de agosto:
“Pelas averiguações a que se tem procedido sobre as circunstâncias que motivaram o estado da permanente hostilidade por parte dos indígenas de Bissau, e que determinaram as operações acabadas de efetuar, vê-se que nesse estado teve uma principal, quase única influência, a Liga Guineense, com sede na vila de Bissau e estatutos aprovados em 24 de julho de 1911.
Considerando que a mesma associação não satisfez a nenhum dos fins para que se tinha fundado, pois que não fez propaganda de instrução, e se fundou uma escola, de há muito tempo que se acha fechada; não trabalhou nunca para o progresso da província, antes por todas as formas o entravou, e nem se coaduna esse desejo de progresso com o estado de guerra, que poderia ter evitado, e até ao contrário instigou:
Hei por conveniente dissolver a mencionada Liga Guineense, cuja existência tem sido inconveniente para o progresso da província, talvez por ter determinado os seus atos apenas a intenção de ser útil aos seus consócios, pondo de parte por completo os interesses da província.”

Composição da coluna de operações no Oio, comanda João Teixeira Pinto e regista-se a presença do tenente de 2.ª linha Abdul Indjai
Relação do oficial e praças que prestaram serviço no posto militar de Mansoa de 5 de fevereiro a 2 de julho de 1914
A compra de ratos vivos ou mortos
A clara predisposição, em novembro de 1914, de intervir, dá-se como pretexto os deveres com Inglaterra

(continua)
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Nota do editor

Último post da série de 16 de abril de 2025 > Guiné 61/74 - P26694: Historiografia da presença portuguesa em África (477): A Província da Guiné Portuguesa - Boletim Oficial do Governo da Província da Guiné Portuguesa, 1913 e 1914 (31) (Mário Beja Santos)