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sábado, 31 de maio de 2025

Guiné 61/74 - P26867: Convívios (1034): Fotorreportagem do 61º almoço-convívio da Magnífica Tabanca da Linha, Algés, 29 de maio de 2025 (Manuel Resende / Luís Graça ) - Parte I

 

Foto nº 1 > Magnífica Tabanca da Linha > 61º almoço-convívio > Algés > Restaurante Caravela De Ouro > 29 de maio de 2025 >  O régulo Manuel Resende visivelmente bem disposto por tudo ter corrido bem: ds 87 inscritos faltaram 4, por razões de força maior... 

E neste convívio tinhamos um "magnífico" que veio de longe: o João Crisóstomo, nosso camarada, que vive em Nova Iorque. 

Na foto, de pé à esquerda, o Luís Graça  (Lourinhã) e à direita,a sentado, o Joaquim Pinto de Carvalho (Cadaval) (fez ntem anos, uma capicua, 77...). Quatro régulos, ao fim e ao cabo: da Tabanca Grande, da Tabanca da Diáspora Lusófona, da Tabanca da Linha e, por último, da Tabanca do Atira-te ao Mar e Não Tenhas... Medo!

Foto nº 2 > Magnífica Tabanca da Linha > 61º almoço-convívio > Algés > Restaurante Caravela De Ouro > 29 de maio de 2025 >  Aspeto parcial do 2º (e último) piso do restaurante que estava cheio (11 meses de 8 convivas)... Já há muito, desde antes da pandemia, que não se atingia praticamente a lotação máxima.


Foto nº 3 > Magnífica Tabanca da Linha > 61º almoço-convívio > Algés > Restaurante Caravela De Ouro > 29 de maio de 2025 > As "nossas mulheres grandes" (sempre "bajudas"!) desta vez responderam à chamada do nosso régulo: a sala estava muito bem composta... 

Aqui o António Duque Marques, com a esposa... O casal viva na Amadora. ("António, como é que ? És "magnífico" desde  18 de maio de 2017, mas ainda não és membro da Tabanca Grande ? Ainda por cima, meu vizinho!... Temos estado distraídos os dois, tu e eu!... Estás 'convocado' para te sentares à sombra do nosso poilão, no lugar nº 906!")... 


Foto nº 4 > Magnífica Tabanca da Linha > 61º almoço-convívio > Algés > Restaurante Caravela De Ouro > 29 de maio de 2025 > Outro casal amoroso, simpatiquíssimo, fotogénico, apanhado pelo nosso fotógrafo com um sorriso lindo: o José Diniz Souza Faro e a esposa (S. Domingos de Rana, Cascais)... (Foi fur mil art, 7.º Pel Art / BAC , Cameconde, Piche, Pelundo e Binar, 1968/70, tem 14 referências no nosso blogue, e é membro da nossa Tabanca Grande desde 23/05: é "magnífico" desde 15/5/2015).


Foto nº 5 > Magnífica Tabanca da Linha > 61º almoço-convívio > Algés > Restaurante Caravela De Ouro > 29 de maio de 2025 > Outro "menino da Linha", o Mário Fitas, com a sua Helena.

 É um dos "pais-fundadores" da Tabanca da Linha, em 2010 (está no livro de baptismo com a data de 19/2/2015, o que não bate certo). Ofereceu-nos, com uma bela dedicatória, o seu ultimo  livro (Mário Vicente - "Do Alentejo à Guiné: Putos, Gandulos e Guerra", ed. autor, maio de 2025, 162 pp.)



Foto nº 6 > Magnífica Tabanca da Linha > 61º almoço-convívio > Algés > Restaurante Caravela De Ouro > 29 de maio de 2025 > Já não nos víamos há muito tempo, desde os bons tempos antes da pandemia!... Teve um grande susto, quase a patinar, disse-me ele...Refiro-me ao António Alves Alves (Carregado, Alenquer), que é "magnífico"  desde 15/11/2015...(Também não és "grão-tabanqueiro", temos de ver isso, camarada!)


Foto nº 7 > Magnífica Tabanca da Linha > 61º almoço-convívio > Algés > Restaurante Caravela De Ouro > 29 de maio de 2025 > Manuel Gonçalves e Tucha, mais dois meninos (Carcavelos, Cascais)... São transmontanos de Bragança... O Manuel Gonçalves, ex-alf mil Manutenção,  CCS/BCAÇ 3852 (Aldeia Formosa, 1971/73),  é "magnífico há "dois anos"... E "grão.tabanqueiro" desde 2 de agosto de 2018 (nº 776); foi alunos dos Pupilos do Exército...


Foto nº 8 > Magnífica Tabanca da Linha > 61º almoço-convívio > Algés > Restaurante Caravela De Ouro > 29 de maio de 2025 > Foi uma grande alegria para todos nós (e para mim e a Alice, em especial) poder abraçar o Manuel Joaquim e a esposa... Problemas de saúde (do foro oftalmológico) tem-no impedido, há muito, de comparecer aos nossos convívios. Tem 110 referências no nosso blogue.

É autor, como se lembram, de uma das mais belas histórias, com fim feliz, contadas no nosso blogue.  Foi fur mil armas pesadas inf da CCAÇ 1419 (Bissau, Bissorã e Mansabá, 1965/67), hoje professor do ensino básico reformado: trouxe para a sua casa e educou, como padrinho, o "nosso minino Adilan", o Zé Manel, o José Manuel Sarrico Cunté...

Falámos do Adilan, à mesa, com muita emoção (!)... Agora já avô, e feliz por viver em Portugal, o Zé Manel!... Camaradas: é um grande lição de portuguesismo e de humanidade, a do Manuel Joaquim e do Adilan, aliás, Zé Manel, dois membros da Tabanca Grande (onde raça, etnia, cor de pele, religião, partido, clube, classe social, etc., ficam lá fora).. Dois grandes seres humanos que muito nos honram e a quem desejemos o melhor da vida...


Foto nº 9 > Magnífica Tabanca da Linha > 61º almoço-convívio > Algés > Restaurante Caravela De Ouro > 29 de maio de 2025 > Mais dois meninos (e uma menina) da Linha... Não precisam de apresentação... São veteraníssimos nestas andanças!... São "magníficos" da primeira hora e também membros da Tabanca Grande: António Marques e Gina (Cascais) e Armando Pires (Oeiras)...

Fotos: © Manuel Resende (2025). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Escreveu o Manuel Resende na página do Facebook da Magnífica Tabanca da Linha, quinta feira, 29 de maio, às 21:56:


Mais um convívio se realizou hoje no Restaurante Caravela de Ouro, foi o nº 61. As cadeiras ocupadas foram 83. Creio que fizemos uma boa manifestação de gratidão ao nosso camarada João Crisóstomo, que vive em Nova Iorque  e que fizemos coincidir com as suas férias cá. Quem não souber quem é o Crisóstomo vá ao Blog Luis Graça e procure. Está lá tudo.

Como de costume, e para que fique registado, tirei algumas fotos que junto, clicando neste link.

2. Vamos selecionar algumas das mais de 6 dezenas de fotos do Manuel Resende, editá-las e legendá-las. Este é o primeiro poste.  

Fica aqui também a minha / nossa gratidão ao "magnífico-mor". 

Foi mais um almoço-convívio cuja organização esteve impecável e foi do agrado geral. 

Sempre discreto, o Manuel Resende está em "todas" as funções que cabem a um "régulo":  depois de ter convocado as "tropas", sempre com música suave ao ouvido (não precisa de berrar, vai atualizando o Facebook...), e de ter orientado as coisas com o restaurante,  lá esteve ele, de novo,  para nos nos receber,  dar as boas vindas aos "piras" (7 desta vez vez!), receber a "guita", fazer as contas, pagar,  etc. 

Nunca tem tempo, coitado, para provar os aperitivos e come à pressa... Lá pega na máquina fotográfica e percorre as 11 mesas, tirando 61 chapas... em tempo recorde... E ainda por cima posando, com calma e pachorra, para os "telemóveis" que querem ficar com uma "selfie"...

Tudo começa antes das 12h30 para acabar mais ou menos às 15h00... Vamos ter saudades do nosso "régulo" quando ele se reformar (mas, felizmente, ainda falta muito...). Deus lhe dê muita saúde e longa vida,  que ele merece as duas coisas... (LG)

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Nota do editor:

Guiné 61/74 - P26866: Parabéns a você (2382): Mário Beja Santos, ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52 (Missirá e Bambadinca, 1968/70)

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Nota do editor

Último post da série de 30 de Maio de 2025 > Guiné 61/74 - P26862: Parabéns a você (2381): Fernando Andrade de Sousa, ex-1.º Cabo Aux Enfermeiro da CCAÇ 2590/CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71) e Joaquim Pinto Carvalho, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 3398/BCAÇ 3852 e da CCAÇ 6 (Buba e Bedanda, 1971/73)

sexta-feira, 30 de maio de 2025

Guiné 61/74 - P26865: Agenda Cultural (887): Visitas guiadas à exposição "Imaginários da Guiné-Bissau - O Espólio da Álvaro de Barros Geraldo (1955-1975)", patente de 8 de maio a 31 de agosto de 2025, no Museu Nacional de História Natural e da Ciência, Rua da Escola Politécnica 56, Lisboa (Catarina Laranjeiro)


1. Mensagem de Catarina Laranjeiro, investigadora no Instituto de História Contemporânea da NOVA (FCSH), com data de hoje, 30 de Maio de 2025, dando conta das visitas guiadas à Exposição "Imaginários de Guiné-Bissau", no Museu Nacional de História Natural e da Ciência:

Boa tarde,
Gostaria muito de contar com vocês nas visitas comentadas da exposição Imaginários da Guiné-Bissau: O Espólio de Álvaro de Barros Geraldo, no Museu Nacional de História Natural e da Ciência.
A primeira visita é já este domingo!

A exposição, que contou com a curadoria minha e da Inês Vieira Gomes, parte do espólio de Álvaro de Barros Geraldo para questionar o argumento da “manutenção da paz” num território em guerra.
Através de imagens de emboscadas, cerimónias e iniciativas militares e sociais, propõe-se uma leitura crítica desse discurso e dos seus legados pós-coloniais, neste ano em que celebramos os 50 anos das independências das antigas colónias portuguesas.
O Museu é um espaço fresco, com um belo jardim para quem vier com crianças.

Aqui ficam as datas das visitas comentadas, sempre às 11h00:

01.06 (domingo): Visita comentada por Daniel Barroca e João Egreja
29.06: Visita comentada por Catarina Mateus e Inês Vieira Gomes
13.07: Visita comentada por Ariana Furtado e Catarina Laranjeiro
27.07: Visita comentada por Aurora Almada e Santos e Paulo Catrica
31.08: Visita comentada e debate com Amadu Dafé e Onésio Soda

Um abraço
Catarina

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Nota do editor

Último post da série de 24 de maio de 2025 > Guiné 61/74 - P26840: Agenda Cultural (886): Entrada livre... O nosso grão-tabanqueiro, luso-guineense, Mamadu Baio & Amigos (incluindo o João Graça, violino, mais 5 guineenses), amanhã, dia 25, no Palácio Baldaya, Estrada de Benfica, 701, Lx, às 17h30, na 16ª edição do festival "Junta-Te Ao Jazz"... Encerra, às 18h30, com o grande Paulo Flores, a voz angolana do kizomba, do semba, da resiliência e da esperança

Guiné 61/74 - P26864: Notas de leitura (1803): "Um Império de Papel, Imagens do Colonialismo Português na Imprensa Periódica Ilustrada (1875-1940)", por Leonor Pires Martins; Edições 70, 2012 (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 8 de Janeiro de 2025:

Queridos amigos,
É uma bela edição correspondente a uma investigação rigorosa e que permite dados surpreendentes, uma viagem por publicações periódicas ilustradas desde que se fundou a Sociedade de Geografia de Lisboa até esse acontecimento faustoso que foi a Exposição do Mundo Português, em 1940. Temos aqui uma investigação de como se mostrava e satisfazia a curiosidade quanto a este ascendente Terceiro Império, a iconografia das expedições, como se procurou suturar o tratamento vexame do Ultimato, passando a pente fino crueldades existentes ou ficcionadas pela potência britânica. Naturalmente que para esta recensão se procurou mostrar imagens da Guiné, logo em 1879, mostrando Bolama como capital. E pela primeira vez pude ver gente num empreendimento que me intrigava desde agosto de 1968, nesse dia fiz o primeiro patrulhamento na companhia do furriel Zacarias Saiegh, fomos até à Aldeia do Cuor, onde vi, abismado, paredes monumentais de edifícios sobre os quais ninguém me dava esclarecimento. Só mais tarde soube que tinha ali dado consultoria técnica o engenheiro Armando Cortesão, de quem herdei os ferros de uma cama, e agora pude ver gente que ali viveu e até uma criança que ali nasceu. Esta sociedade agrícola aspirava muito, afundou-se rapidamente e certo e seguro com grandes prejuízos, não sabemos se para os empreendedores ou para o banco financiador.

Um abraço do
Mário


A Guiné num Império de Papel

Mário Beja Santos

É uma soberba obra de investigação, Um Império de Papel, Imagens do Colonialismo Português na Imprensa Periódica Ilustrada (1875-1940), por Leonor Pires Martins, Edições 70, 2012, uma exposição de representações visuais do Império em publicações ilustradas desde que foi fundada a Sociedade de Geografia de Lisboa até a esse ponto alto do nacionalismo imperial português, a Exposição do Mundo Português de 1940.

A revista O Ocidente terá um papel fulcral no elenco das publicações, nela colaboraram nomes de talento do seu tempo, como Rafael Bordalo Pinheiro. Recorda a autora que nos finais do século XIX, altura em que as fronteiras coloniais em África se encontravam já definidas, o território português compreendia, para além do continente e suas ilhas adjacentes, mais de 1 200 000 km2 na costa africana ocidental (Angola), 783 000 km2 na costa oriental (Moçambique), a Guiné com cerca de 36 000 km2, dois arquipélagos no Atlântico (Cabo Verde e São Tomé e Príncipe) e ainda resquícios do antigo Império do Oriente: Goa, Damão e Diu, no subcontinente indiano, Macau, no Sul da China e Timor na Insulíndia. Num país de elevadíssimo analfabetismo, a classe política conhecia as legislações alusivas aos chamados territórios ultramarinos, foi graças a revistas e a jornais ilustrados que o grande público passou a ver expressões do Império, muitas vezes sobre a retórica propagandística, caso de uma fotografia em que aparece uma guineense que participou na Exposição Colonial do Porto, em 1934, a Rosinha, empenhando a bandeira portuguesa junto do monumento “Ao Esforço Colonizadora”, fotografia manifestamente encenada, onde se pode ler a legenda: “Negra muito embora, portuguesa de lei, ei-la empunhando a bandeira verde-rubra que domina todo o Império”, imagem que aparece na revista Civilização. Este esforço colonizador é mostrado em edifícios, estradas e pontes.

Outros momentos de exaltação são as imagens das expedições, que deram glória e fama a Serpa Pinto, Capelo e Ivens, entre outros. Essas expedições ao interior do continente africano concorriam com outras expedições europeias, a Conferência de Berlim decretara que ter uma colónia era ocupar território, a revista O Ocidente publicará imagens alusivas a estas expedições e depois as homenagens, os jantares, as conferências dos expedicionários, a sua chegada em triunfo, imagens dos africanos que acompanhavam os novos heróis da gesta, o Terceiro Império. Como igualmente apareciam imagens de indígenas com os seus usos e costumes; e quando chegou a hora do ultimato britânico não faltaram imagens que procuraram revelar os aspetos cruéis do colonialismo britânico e, claro está, caricaturistas como Rafael Bordalo Pinheiro revelavam a subserviência portuguesa ao poder britânico, era a resposta à humilhação que nos provocara o maior império colonial do seu tempo; e, com poder catártico, irá mostrar-se um outro herói, Mouzinho de Albuquerque, e a prisão de Gungunhana, e a sua exposição pública, o seu exílio em Angra do Heroísmo.

Também estas publicações exploraram uma outra dimensão, o pitoresco, a fauna, o deslumbramento dos rios, a opulência das florestas, o povoamento, casas, hospitais, centros urbanos, é assim que vemos a ilha de Bolama que apareceu na revista O Ocidente, em 1879, havia que mostrar a capital da Guiné. Surgiu depois a fotografia, terá também um papel fundamental na ilustração das publicações. Havia também que exibir como facto consumado que estávamos a trabalhar no progresso e no desenvolvimento, não eram só os edifícios e as infraestruturas, era a cartografia, o ensino, o estabelecimento de hospitais e farmácias, a missionação, as culturas agrícolas, a abertura dos caminhos de ferro, a briosa ocupação militar como vemos num desenho produzido a partir de uma fotografia, tropa no forte de Cacheu, isto em 1891.

A missionação aparece associada ao ensino, à escola de artes e ofícios, ao aparecimento de igrejas, como se mostra a igreja matriz de Bolama em 1896, que veio publicado na revista Branco e Negro. Os jardins, os edifícios das alfândegas, as estátuas, os cais, até mesmo a projeção em terras de África do mundo rural português tem inteiro cabimento no Império de Papel, havia que suscitar a curiosidade para atrair imigrantes, mostrar famílias, crianças europeias nos territórios da colonização, colonos em piquenique, mas, sempre que necessário, expor as expedições militares. É o caso do grande acervo de imagens do primeiro fotógrafo militar português José Henriques de Mello, que acompanhou as tropas comandadas por Oliveira Muzanty, em abril de 1908, para destituir Infali Soncó, um régulo insurreto que pretendia impedir a navegabilidade do Geba, ao tempo o coração da atividade comercial.

Ao folhear este belíssimo trabalho, deparei-me com uma reportagem sobre a Guiné Portuguesa, publicada na revista Ilustração, procurava-se mostrar os colonos brancos e como viviam. E pude ver pela primeira vez uma resposta a uma dúvida que tinha desde 5 de agosto de 1968. Nesse dia fiz o meu primeiro patrulhamento de reconhecimento no regulado do Cuor, saímos de Missirá para a Aldeia do Cuor; aqui chegados, mesmo à beira do Geba estreito, levantavam-se paredes grossíssimas, pedra volumosa, indício certo e seguro de que ali houvera um qualquer importante estabelecimento. Soube mais tarde, nas minhas leituras no Arquivo Histórico do Banco Nacional Ultramarino, de que se tratava da Sociedade Agrícola do Gambiel, ali foi consultor técnico Armando Zuzarte Cortesão, nome eminente da cartografia portuguesa, encontrei referências à natureza do empreendimento, era um grande sonho agrícola que cedo caiu na água. Pois bem, na revista Ilustração, num número de 1926, encontrei fotografias alusivas a esses colonos “brancos”, numa delas um grupo de empregados onde se vê um deportado e noutra, vê-se o chefe do empreendimento com mulher e criança que nascera na região, pode ver-se na fotografia do grupo de empregados que eram instalações de boa constituição, de grande solidez, os tais vestígios que guardei desse patrulhamento de agosto de 1968.

O Estado Novo trouxe africanos a exposições organizadas em Portugal. Podem ver-se três fotografias publicadas na revista Ilustração, isto em outubro de 1932, aspetos da Grande Exposição Industrial Portuguesa que se realizou no Pavilhão dos Desportos, em 1932, são guineenses, na fotografia superior temos um ministro das Colónias, Armindo Monteiro, com a sua comitiva e sentados algumas figuras ilustres, porventura régulos e em baixo, numa fotografia, três fulas e noutra as mulheres fulas que acompanharam os régulos. A exposição de 1934 trouxe igualmente guineenses, elas revelaram-se um grande motivo de atração, todas de peito ao léu, houve fotografias de Domingos Alvão e Eduardo Malta, nomeado pintor oficial da exposição, fez vários retratos a lápis, produziram-se álbuns desses desenhos que evidenciam o risco talentoso de Malta. E assim chegamos ao acontecimento grandioso da Exposição do Mundo Português, foi o momento culminante em que o Estado Novo procurou mostrar a multidões imagens de um Império que era sobretudo conhecido por quem lia jornais e revistas, agora revelava-se para o orgulho dos portugueses qual era a dimensão daquela comunidade imperial imaginada.

Um Império de Papel dá-nos conta do que foram ficções e realizações, era um império longínquo que parecia ao alcance da mão e destinado à eternidade.


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Nota do editor

Último post da serie de 29 de maio de 2025 >Guiné 61/74 - P26860: Notas de leitura (1802): "Gil Eanes: o anjo do mar", de João David Batel Marques (Viana do Castelo: Fundação Gil Eanes, 2019, il, 132 pp.) - Parte II: A questão da assistência à frota branca, que atinge o seu auge com o Estado Novo, nos anos 40/50: em 1958 a "faina maior" tinha 77 unidades e 5736 homens (Luís Graça)

Guiné 61/74 - P26863: Casos: a verdade sobre... (53): o ataque do PAIGC a Bissássema em 3 de fevereiro de 1968: entre a propaganda e o "apagão"



Guiné > Região de Quínara > Tite > Bissássema > 10 de março de 1968 > CCAÇ 2314 > Destruição, pelas NT, da tabanca, antes da retirada.  Très anos depois será reocupada e nela construído um reordenamento.


Guiné > Região de Quínara > Tite > Bissássema > s/d > 10 de março de 1968 > CCAÇ 2314 > Destruição, pelas NT, da tabanca, por ocasião da retirada.


Guiné > Região de Quínara > Tite > Bissássema > s/d >  c. 3 fev / 10 mar 68 > CCAÇ 2314 >  O alf mil at inf José Manuel Pais Trabulho.

Fotos do álbum do cor GNR ref Pais Trabulo, disponíveis na página do facebook da CCAÇ  2314 - Age quod agis, 9 de dezembro de 2020 (com a devida vénia...)



Fonte: Casa Comum | Instituição: Fundação Mário Soares e Maria Barroso | Pasta: 04325.001.006 | Título: PAIGC - Communiqué | Assunto: Amílcar Cabral, Secretário-Geral, informa que o PAIGC, no combate de 03.FEV.1968 em Bissássema, a 12 km de Bissau, fez 3 prisioneiros portugueses, da companhia sediada em Tite. Terão direito ao tratamento previsto pelas convenções internacionais. | Data: Segunda, 19 de Fevereiro de 1968 | Fundo: Arquivo Mário Pinto de Andrade | Tipo Documental

Citação:
(1968), "PAIGC - Communiqué", Fundação Mário Soares / Arquivo Mário Pinto de Andrade, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_84046 (2025-5-30)


(Reproduzido com a devida vénia...) Vd. tradução para português a seguir:


PAIGC - Partido Africano para a Independência da Guiné e Cbo Verde


Comunicado


No dia 3 de fevereiro do corrente, na sequência de um combate que opôs uma unidade do nosso Exército regular a um contingente colonialista, perto da tabanca de Bissássema, a 12 km de Bissau, na margem esquerda do rio Geba, foram feitos prisioneiros os elementos do exército colonial português, de que se apresenta a seguir a identificação:
  • Alferes de infantaria, António Júlio Rosa;
  • 1º cabo nº 093526/66, Geraldino Marques Contino;
  • Soldado nº 034680/66, Victor Manuel de Jesus Capítulo.
Todos os três pertencem à companhia 1743, estacionada em Tite.

Na sequência do mesmo confronto, 18 soldados inimigos foram postos fora de combate.

O inimigo, que retirou em debandada para o campo fortificado de Tite, abandonou no terreno uma grande quantidade de material, incluindo 8 aparelhos emissores-recetores de campanha, de fabrico inglês,

De acordo com os princípios do nosso Partido, estes novos prisioneiros terão direito ao tratamento previsto pelas convenções internacionais

Amílcar Cabral, Secretário Geral





Guiné > Região de Quínara > Carta de Tite (1955) (escala 1/50 mil) > Posição relativa de Tite, Jabadá, Enxudé, rio Geba e Bissássema (a sudoeste de Tite)

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2025)


1. Já aqui o dissemos: tanto as NT como o PAIGC parece terem feito um "apagão" da batalha de Bissássema (que, em rigor, vai de 31 de janeiro, início da operação para reocupar Bissássema, a 10 de março de 1968, altura em a tabanca foi queimada e abandonada pelas NT, para renascer três anos depois com o gen Spínola  a mandar fazer um grande reordenamento de 100 moranças mais os equipamentos coletivos habituais: escola, posto sanitário, lavadouros, mercado, etc.) (*)


Na riquíssima e incontornável plataforma Casa Comum, desenvolvida pela Fundação Mário Soares e Maria Barroso, que reúne diversos arquivos, surpreendentes e relevantes para a documentação e o conhecimento da guerra colonial (nomeadamente, o de Amílcar Cabral e o Mário Pinto de Andrade), há uma única referência a Bissássema, num comunicado assinado por Amílcar Cabral, em francês,  datado de 19/2/1968, quinze dias depois dos acontecimentos, sobre o grande "ronco" do dia 3; omite-se, portanto, os desaires que o PAIGC sofreu, nesse e nos dias seguintes. 

Cabral era perito em tirar o melhor partido dos sucessos militares e hábil em ignorar ou escamotear os revezes (tal como, de resto,  os nossos comandantes, o que é "humano", afinal não somos heróis nem santos, isto é, "semideuses"...).

Por sua vez, no livro da CECA - Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). , 6º Volume: Aspetos da Atividade Operacional, na Guin+e  no período de 1967/70, só há 5 referências a Bissássema: omite-se a acção do PAIGC, ocorrida em 3/2/1968 (*), de que resultaram 3 prisioneiros portugueses, da CART 1743, sediada em Tite.  Lapso ?  "Branqueamento" ou "apagão" ? 

Há uma referência, mas com outra data (8/2/1968), no cap II (Atividade operacional, relativa ao 1º semestre de 1968)

(...) Zona Sul

Acção - 08Fev68

Forças da CCaç 2314 e 2 Gr Comb/CArt 1743, que ocupavam temporariamente Bissássema, SI, em reação ao ataque desencadeado sobre a povoação, expulsaram e perseguiram o ln que já havia penetrado em dois pontos do perímetro defensivo, causando-lhe 15 mortos e muitos feridos em número não estimado e apreendendo:

1 LGFog
2 Pistolas metralhadoras PPSH;
7 Gran LGFog;
Munições e material diverso. (...)


Fonte: Excertos de: Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 6.º Volume; Aspectos da Actividade Operacional; Tomo II; Guiné; Livro II; 1.ª Edição; Lisboa (2015), pág. 166 (Com a devida vénia...)

(Revisão / fixação de texto, negritos: LG)

Pergunta-se; será que o ataque a Bissássema, de 3 /2/1968 foi deliberadamente omitido pela Comissão para o Estudo das Campanhas de África (CECA) ? (**)

À partida, julgamos que não faria sentido essa omissão, mais de  4 décadas depois  do fim da guerra e da independência da Guiné-Bissau...  Mas confirmamos que a CECA também não refere, por exemplo, o ataque do PAIGC a Cantacunda, dois meses depois,  em 10/11 de abril de 1968, de que resultaram 1 morto e 11 "elementos retidos pelo IN" (prisioneiros de guerra, levados para Conacri, e só libertados, tal como os de Bissássema na sequência da Op Mar Verde, em 22 de novembro de 1970).

Em conclusão, no volume nº 6, Tomo II, Guiné, Livros I, II e III, a CECA centra-se apenas na atividade operacional das NT e só esporadicamente refere a atividade IN.

O hoje cor GNR ref Pais Trabulo (ex-alf mil até inf, CCAÇ 2314, Tite, 1968/69)  escreveu (*):

(...) "Ainda hoje, temos no nosso pensamento a visão dolorosa do estado dos nossos camaradas em fuga para Tite, bem como as lágrimas que corriam nas suas faces, os olhos cobertos de lama e a maioria descalços, ou mesmo nus, parecendo figuras de filmes de terror, apenas com forças para agarrarem, desesperadamente, a arma, a sua única salvação para manter a vida, quando em redor somente havia a morte…

Sabe-se que esta intervenção, em Bissássema, foi um fracasso para ambos os lados e que o PAIGC sempre ocultou no seu historial:

(i) se, pelo lado português, para além dos três prisioneiros e dois desaparecidos e feridos, não se conseguiu concretizar os objetivos propostos;

(ii)  para o lado do PAICG, o elevado números de baixas levou a que sempre escondesse as suas consequências, tendo, inclusivamente, sido considerado por alguns, como um dos maior desaires que sofreu o movimento de libertação da Guiné." (...)

Esperemos que o nosso novo grão-tabanqueiro nº 905, o Joaquim Caldeira, nos possa akjudar a responder a algumas das nossas dúvidas.


 (seleção, revisão / fixação de texto, tradução,  edição de fotos: LG)

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Notas do editor:

(*) Vd. postes de:


24 de maio de 2025 > Guiné 61/74 - P26839: Facebok...ando (79): Bissássema (cor GNR ref João Manuel Pais Trabulo, ex-alf mil, CCAÇ 2314, Tite e Fulacunda, 1968/69) - Parte II: a tragédia de 3 de fevereiro de 1968 e dias seguintes, que a NT e o PAIGC tentaram esquecer


Guiné 61/74 - P26862: Parabéns a você (2381): Fernando Andrade de Sousa, ex-1.º Cabo Aux Enfermeiro da CCAÇ 2590/CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71) e Joaquim Pinto Carvalho, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 3398/BCAÇ 3852 e da CCAÇ 6 (Buba e Bedanda, 1971/73)


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Nota do editor

Último post da série de 28 de maio de 2025 > Guiné 61/74 - P26854: Parabéns a você (2380): António Acílio Azevedo, Ex-Cap Mil, CMDT da 1.ª CCAV/BCAV 8320/72 e da CCAÇ 17 (Bula e Binar, 1973/74)

quinta-feira, 29 de maio de 2025

Guiné 61/74 - P26861: Álbum fotográfico de João Moreira (ex-Fur Mil Cav da CCAV 2721 - Olossato e Nhacra, 1970/72) (30)

Foto 236 > Janeiro de 1972 > Quartel de Nhacra > João Moreira
Foto 237 > Janeiro de 1972 > Piscina de Nhacra > João Moreira
Foto 238 > Janeiro de 1972 > Nhacra > Anti-aérea no posto retransmissor da Emissora Oficial Guiné > João Moreira
Foto 239 > Janeiro de 1972 > Tabanca de Nhacra > João Moreira
Foto 240 > Janeiro de 1972 > Tabanca de Nhacra > João Moreira
Foto 241 > Janeiro de 1972 > Nhacra > João Moreira
Foto 242 > Janeiro de 1972 > Nhacra > João Moreira
Foto 243 > Janeiro de 1972 > Nhacra > Antena da Emissora Oficial Guiné > João Moreira

(continua)
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Nota do editor

Último post da série de 22 de maio de 2025 > Guiné 61/74 - P26831: Álbum fotográfico de João Moreira (ex-Fur Mil Cav da CCAV 2721 - Olossato e Nhacra, 1970/72) (29)

Guiné 61/74 - P26860: Notas de leitura (1802): "Gil Eanes: o anjo do mar", de João David Batel Marques (Viana do Castelo: Fundação Gil Eanes, 2019, il, 132 pp.) - Parte II: A questão da assistência à frota branca, que atinge o seu auge com o Estado Novo, nos anos 40/50: em 1958 a "faina maior" tinha 77 unidades e 5736 homens (Luís Graça)




"Quanto de "sal, sol, sangue, suor e lágrimas" havia nos 8,8 kg quilos de bacalhau que cada portuguêw comia, em média, nos "anos de ouro" do Estado Novo ?", pergunto eu (LG),

Fotos do livro em recensão, e que ilustram as duras condições de trabalho dos pescadores (foto acima, nos dóris, pp. 18/19: "Os pescadotes afastam-se  do navio-mãe para iniciar um dia de pesca") e da restante tripulação (segunda foto, pág. 59: "O 'Gil Eanes' no meio de perigosos 'growlers' ").

(Reprodução com a devida vénia, ao autor e editor...)


1. Estamos a tirar algumas notas de leitura do livro "Gil Eanes, o anjo do mar", da autoria de João David Batel Marques (Viana do Castelo : Fundação Gil Eanes, 2019,  132 pp,. ed. bilingue em português e inglês) (*)


O livro narra a vida e a morte do último navio-hospital da frota bacalhoeira (1955-1984),  três décadas  em que fez  73 viagens (com ponto de partida em Lisboa e chegada também em Lisboa" (pág. 94).  

O autor é o capitão David João David Batel Marques, ilhavense, nascido em 1953, autor e coautor  de diversos livros sobre a pesca do bacalhau, os seus navios e as suas gentes, alguns deles publicados pela Fundação Gil Eanes (**).

Vida e morte ? Vida, morte e ressurreição, para sermos mais precisos. De facto, graças â Fundação SOS Gil Eanes, foi resgatado "in extremis", em 1997, quando estava atracado em Alhos Vedros à espera de ser desmantelado pelo sucateiro. 

Em 29 de janeiro de 1998, seria assinado o contrato de compra do navio entre a Comissão Pró-Gil Eanes e o sucateiro de Alhos Vedros. Por 50 mil contos (acrescidos do valor dos impostos àquela data.) (A preços de hoje, são c. de 430 mil euros, e não 250 mil, como escreveu o autor, pág. 96; para a conversão utilizámos o simulador de inflação da Pordata).

Para o resgaste do navio teve um papel importante, entre muitas outras personalidades, a par da mobilização do município e do povo de Viana do Castelo,  o prof doutor José Hermano Saraiva, que disse, na RTP (em 29/2/1997, num programa da sua série "Horizontes da Memória III"):

 "Portugal tem uma brilhante história marítima. Mas quem faz a história marítima são os navios. E eu pergunto: onde está o museu dos nossos navios?"

O valor do navio, construído nos Estaleiros Navais de Viana do Castelo (ENVC), será,  em 1955,  de 40 mil contos ( o equivalente, a preços de hoje, a cerca de 23 milhões de euros, e não a 200 mil euros, como vem grosseiramente apontado na pág. 39).

2. Como é que se chega  á decisão de construir um navio-hospital, de apoio à frota da pesca do bacalhau, que fosse de desenho e tecnologia nacionais, construído em estaleiros nacionais ?

A frota branca, que se desenvolve a partir de finais do séc. XIX, começa a sentir a necessidade de ter um navio de apoio. A vida dos pescadores e marinheiros sempre foi muito dura.  Os pescadores passavam muitas horas nos dóris a pescar bacalhau à linha (!), em condições climatéricas, físicas e psíquicas de grande exigência. A sua remuneração dependia da qualidade e quantidade do pescado. 

Por outro lado, regressados ao navio-mãe, passavam o resto da jornada diária de trabalho a processar o peixe (escalagem e salga). Era um trabalho extenuante, sujeitos a acidentes e outros riscos (cortes, quedas, exaustão física e emocional, etc.). Para o pescador dos dóris, a jornada começava às 4h00 da manhã e podia terminar só 18 ou até 20 horas depois (!), nos  limites da fisiologia humana.

Até ao início dos anos 20 do século passado,  não havia assistência a bordo. Os franceses, por seu turno, já beneficiavam, desde se1896, de assistência médico-hospitalar nos bancos da Terra Nova.

Em 1922, os franceses dispunham do navio-hospital "Sainte Jeanne d'Arc", que também prestava cuidados às tripulações portuguesas. Era propriedade de uma associação humanitária, a "Societé des Oeuvres de Mer", que teve 7 navios-hospitais, de 1896 a 1939, cada navio com um médico e um capelão.  (A França chegou a ter   11 mil homens, na pesca do bacalhau, na Terra Nova e na Islândia, em finais do séc. XIX, e Portugal teria então uns 800, 40 em media por embarcação)

O médico a bordo no "Sainte Jeanne d' Arc", citado por  João David Batel Marques,  escreve, no seu relatório desse ano de 1922, que tinha hospitalizado 13 doentes portugueses (5 dos quais com  tuberculose pulmonar, doença infetocontagiosa perigosa; vários tinham  hemoptises; e 1 morreu). 

Havia homens, além  disso, com infeções graves, que deviam ser hospitalizados com urgência, mas que se recusavam a tal, ou eram impedidos pelos seus capitães (pág. 12).

Face a esta situação, o Ministério da Marinha é cada vez mais pressionado a mandar um navio-hospital para prestar assistência médica ao pessoal da frota (constituída ainda só por lugres).

O primeiro navio-hospital foi o cruzador "Carvalho Araújo" que levava como chefe dos serviços médicos o segundo-tenente Carlos Augusto Rodrigues Borges (pág, 14). (Nasceu no Porto, em 1897; morreu em 1970,  em Vila Nova de Gaia.)

Escreveu ele:

 "Nunca será possivel  bem ajuizar o que estes infelizes passam e sofrem nessa vida horrorosa de todos os dias, cheia de trabalhos  violentos e e de perigos variadíssimos e quase que permanentes" (pág. 14).

E acrescenta: (...) "A inesperada aparição do 'Carvalho Araújo' provocou,   nessa gente rude, muitas lágrimas de enternecimento e, por vezes,  o entusiasmo deveras significativo!".

Mas  um navio de guerra não podia cumprir as funções especializadas a desempenhar por um navio-hospital. O comandante e o médico do "Carvalho Araújo" deram ideias e sugestões para o desenho e construção desse futuro navio de assistência, que deveria também servir de intermediário no transporte de correio entre Saint John's e Portugal (pág. 20).

O médico, segundo-tenente, Carlos Borges assinala a prevalência, entre as tripulações da frota branca, de:

  • doenças infetocontagiosas;
  • problemas do estômago;
  • problemas pulmonares.

E não era raro haver mortes (que ficavam sepultados nas profundezas do mar).

Só em 1927 a frota bacalhoeira vai ter o seu primeiro "Gil Eanes", o ex-navio alemão "Lahneck", construído em 1914, e apresado pelas autoridades portuguesas no rio Tejo. Sofreu adaptações na Holanda para servir como navio-hospital. Operou como "Gil Eanes" entre 1916 e 1955.

Teve uma atividade irregular, como navio-hospital:

"Entre 1931 e 1936 a atividade do  navio  resumiu-se ao transporte de presos" (pág, 24).

Só em 1942 se faria a sua transferência, da Marinha de Guerra para a Marinha Mercante. A propriedade passou a ser do Grémio dos Armadores  de Navios da Pesca do Bacalhau (GANPB). Teve diversos capitães da marinha mercante e capitães de bandeira (que eram oficiais da Armada) (pág. 27).

A última viagem aos bancos bacalhoeiros foi em 1954. Em 1955 fez-se à agua o novo navio-hospital "Gil Eanes". (**)

O Estado Novo fazia questão, na época, de transformar a "epopeia do bacalhau" (sic) num verdadeiro estandarte do "ressurgimento económico do país" (pág. 30). Veja-se, por exemplo,  como a frota vai crescer de 1935 a 1961, para um total de 91 unidades e quase 6 mil  homens:

  • 22 lugres de madeira;
  • 4 lugres de aço;
  • 41 navios a motor (de madeira, 19; e de aço, 22);
  • 24 arrastões clássicos.

"Em 1958 , foi à pesca a melhor frota de sempre, composta por 77 navios e, e tripulada por 5736 homens" (pág, 30). 

Mas era já o princípio do fim.

(Continua)  (**)

3. Pedi ao assistente do Gemini IA / Google, que me apresentasse os principais factos e datas do génese e desenvolvimento da  nossa frota bacalhoeira. Aqui vão:


A frota bacalhoeira portuguesa tem uma história longa e complexa, com raízes na Idade Média e um desenvolvimento significativo a partir do século XIX, culminando no auge durante o Estado Novo.


Inícios e Primeiros Registos:

  • Século XIV:  há registos de acordos de pesca entre Portugal e Inglaterra (em 1353, entre D. Pedro I e Eduardo II), o que indica que a pesca do bacalhau já era uma atividade relevante para os portugueses; Portugal trocava sal por bacalhau com a Inglaterra.

  • Final do Século XV / Início do Século XVI: com os "Descobrimentos", a necessidade de alimentos não perecíveis para as longas viagens impulsionou a procura do bacalhau; a "descoberta" dos vastos bancos de pesca na Terra Nova (hoje Canadá), atribuída a navegadores como Gaspar Corte Real (cerca de 1500), abriu caminho para a pesca em larga escala no Atlântico Norte; 
  • D. Manuel I, em 1506, já cobrava dízimo sobre essa pesca;
  • No reinado de D. João III, a frota portuguesa de bacalhoeiros chegou a atingir as 150 embarcações, e em 1508, o bacalhau já correspondia a 10% do pescado comercializado em Portugal;
  • Os portugueses, ao contrário dos vikings que apenas secavam o peixe, desenvolveram a técnica de salgar e secar o bacalhau, o que lhe conferiu o sabor característico.

Século XIX e Início do Século XX: O Despertar da Frota Moderna:
  • Segunda metade do Século XIX: companhias como a Bensaude & C.ª (depois Parceria Geral de Pescas) e a Mariano & Irmãos, ambas de proprietários açorianos mas sediadas no continente devido ao clima mais propício à seca do bacalhau, investem na pesca do bacalhau;
  • 1870: Surgem os primeiros registos de pesca com dóris (pequenos botes de pesca utilizados pelos pescadores a partir do navio-mãe);
  • Início do Século XX (década de 1930): a frota bacalhoeira ainda era composta maioritariamente por veleiros (lugres em madeira):


O Auge: Estado Novo e a "Campanha do Bacalhau"

  • 1934: é  criada a Campanha de Bacalhau, com o objetivo principal de reduzir a importação de bacalhau e garantir o abastecimento alimentar do país, esta campanha marcou um período de grande investimento e desenvolvimento da frota, o Estado Novo via a pesca do bacalhau como um símbolo de autonomia e força nacional; e o pescador de bacalhau torna-se um "herói nacional";
  • 1935: é criado o Grémio dos Armadores dos Navios de Pesca do Bacalhau (GANPB), que reunia as entidades ligadas à indústria;1936: surge o primeiro arrastão em Portugal; a modernização da frota começa a ganhar ímpeto, com a substituição gradual dos veleiros por arrastões, em aço, a motor;
  • 1937: o lançamento do lugre-bacalhoeiro Creoula (10 de maio de 1937) é um marco; este navio, que realizou 37 campanhas até 1973, é hoje um navio de treino da Marinha Portuguesa e um símbolo lendário da pesca do bacalhau;
  • Anos 40-50: A frota atinge o seu apogeu em número de navios e volume de pesca; entre 1948 e 1953, há um grande impulso no número de arrastões bacalhoeiros; a vida a bordo era extremamente dura e perigosa, com os pescadores nos dóris a enfrentar condições adversas e o risco de colisão com icebergs; as jornadas de trabalho podiam chegam às 18 horas ou mais;
Declínio e Fim da Pesca Tradicional:
  • Pós-II Guerra Mundial: a frota portuguesa começa a sofrer com a falta de modernização e a implementação de legislação internacional que restringiu o acesso aos bancos de pesca (Terra Nova e Gronelândia);
  • 1966: embora já houvesse arrastões, ainda existiam 10 veleiros em funcionamento, demonstrando o atraso na modernização completa;

  • 1967: Fernando Alves Machado, Secretário do Comércio, vai abolir o regime protecionista do comércio do bacalhau, o que leva ao fim da tabela de preços e do condicionamento das importações: isso, juntamente com o atraso na modernização, contribuiu para o declínio;
  • 1974 (Revolução dos Cravos): a Revolução de 25 de Abril de 1974 marca o fim da pesca de bacalhau à linha (ou seja, com os dóris),  considerada heróica mas ineficiente e perigosa; muitos dos últimos grandes navios de pesca de bacalhau à linha fizeram a sua última campanha nesse ano;
  • Anos 80/90: a adesão de Portugal à Comunidade Económica Europeia (CEE, atual UE) em 1986 e à Política Comum das Pescas implicou a aceitação de restrições de acesso a pesqueiros;
  • 1992: o Canadá proíbe a pesca de fundo nos seus bancos, um duro golpe para a frota bacalhoeira portuguesa;
  • Entre 1990 e 1998: a frota portuguesa sofre uma redução drástica, perdendo mais de 30 navios e ficando reduzida em mais de 70%.

Atualmente, a frota portuguesa satisfaz apenas uma pequena percentagem do consumo nacional de bacalhau, que continua a ser um alimento central na gastronomia portuguesa. A maior parte do bacalhau consumido em Portugal é importada (Noruega, Islândia, Canadá).

 Os portugueses consomem cerca de 20% de todo o bacalhau pescado no mundo (consumo "per capita" andaria à volta dos 7 kg, antes da II Guerra Mundial; 8,8 kg, entre 1946 e 1967; 7,7 em 2020, com a pandemia; 5,5 / 6 kg, nos anos mais recentes); no auge da pesca do bacalhau, as capturas seriam da ordem das 60 mil toneladas anuais.

Acrescente-se, nos anos 60/70, a crescente dificuldade de recrutamento de pescadores e marinheiros, devido á emigração e á guerra colonial, a par das duríssimas condição de trabalho. 

A "Faina Maior" era considerada um verdadeiro "desígnio nacional", daí o Estado tê-la considerado  uma  alternativa ao serviço militar.  O Decreto n.º 13441, de 8 de abril de 1927,  estabelecia a dispensa do serviço militar aos pescadores e marinheiros que tivessem cumprido um mínimo de seis campanhas de pesca consecutivas (!) na frota nacional bacalhoeira. Também concedia adiamento ae aos 26 anos de idade... (Artº 24º).


Excerto: Decreto n.º 13441, de 8 de abril de 1927


 Fonte: Gemini IA / Google / LG


(Revisão / fixação de texto: LG)

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Notas do editor:

(**) Mais bibliografia de João David Batel Marques (n. 1953): 

Viagem de fé : pescadores portugueses, homens de fé, de olhos postos na proteção da Virgem Maria / João David Batel Marques, Manuel Domingos, Salvador de Sousa / apresentação Luís Nobre. - Viana do Castelo : Fundação Gil Eannes, 2023. - 51, [5] p. : il. ; 22 cm. - ISBN 978-989-54795-2-8


O "Gil Eannes" de 1955 = The 1955 Gil Eannes / João David Batel Marques ; trad. Regina Bezerra. - Viana do Castelo : Câmara Municipal de Viana do Castelo, 2021. - 2 v. : il. ; 28 cm. - (Os navios de assistência à frota bacalhoeira = The assistance vessels to the cod fishing fleet ; 2, 3). - Ed. bilingue em português e inglês. - ISBN 978-972-588-346-4 (pt. 1). - ISBN 978-972-588-347-1 (pt. 2)

O "Carvalho Araujo" e o "Gil Eannes" ex Lahneck = The Carvalho Araújo and the Gil Eannes former Lahneck / João David Batel Marques ; trad. Regina Bezerra. - Viana do Castelo : Câmara Municipal de Viana do Castelo, 2021. - 303, [1] p. : il. ; 28 cm. - (Os navios de assistência à frota Bacalhoeira = The assistance vessels to the cod fishing fleet ; 1). - Ed. bilingue em português e inglês. - ISBN 978-972-588-340-2

A pesca do bacalhau : história, gentes e navios = Cod fishing : history, people and ships / João David Batel Marques ; sel., ed. e composição fot. Rui Bela ; consultoria e rev. técnica João David Batel Marques. - Viana do Castelo : Fundação Gil Eannes, 2018-2019. - 4 v. : il. ; 28 cm. - Ed. bilingue em português e inglês. - T. 1: A história e as gentes = History and people. - 319, [1] p. T. 2: Os lugres da pesca à linha = Handliner schooners. - 2018. - 415, [1] p. T. 3: Os navios-motor da pesca à linha = Handliner motor vessels. - 2019. - 284, [4] p. T. 4: Os arrastões = Trawlers. - 2019. - 367, [1] p. - ISBN 978-989-99869-3-0 (t. 1). - ISBN 978-989-99869-4-7 (t. 2). - ISBN 978-989-99869-5-4 (t. 3). - ISBN 978-989-99869-6-1 (t. 4)

Os navios de pesca à linha = The handliners / Jean Pierre Andrieux ; cons. e rev. técnica João David Marques ; trad. Tim Oswalda ; colab. Valdemar Aveiro... [et al.]. - Viana do Castelo : Fundação Gil Eannes, 2018. - 269, [3] p. : il. ; 28 cm. - Ed. bilingue em português e inglês. - ISBN 978-989-99869-2-3

Uma viagem no tempo : navios, equipamentos, instrumentos e palamenta / João David Batel Marques ; fot. Anna Soik... [et al.]. - Viana do Castelo : Fundação Gil Eannes, 2018. - 175, [1] p. : il. ; 22 cm. - (Manuel Mário Cravo Bola)


quarta-feira, 28 de maio de 2025

Guiné 61/74 - P26859: Historiografia da presença portuguesa em África (483): A Província da Guiné Portuguesa - Boletim Oficial do Governo da Província da Guiné Portuguesa, 1921, começou a era de Vellez Caroço (37) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 7 de Dezembro de 2024:

Queridos amigos,
Na minha despretensiosa apreciação há três nomes de governadores, desde a criação da autonomia da Guiné até ao fim do primeiro quartel do século XX, que se impõem pela coragem das decisões tomadas, pela nobreza de espírito e um certo olhar visionário: Pedro Ignácio de Gouveia, Carlos Pereira e Vellez Caroço. Este último aparece na Guiné após os turbulentos acontecimentos da pacificação de Bissau em 1915 (que ainda hoje não estão verdadeiramente deslindados, importava à propaganda oficial exaltar o heroísmo de Teixeira Pinto e procurar pôr na sombra de atrocidades praticadas por Abdul Indjai e os seus irregulares), a penúria da guerra, o Sidonismo, a passagem meteórica de vários governadores, que se limitaram à rotina, e não havia dinheiro para o desenvolvimento. Vellez Caroço veio disposto a fazer obra, a impor a disciplina, a proibir a preguiça e a lançar as pedras de projetos indispensáveis para manter a economia da Guiné viável às exportações. Veremos adiante que Vellez Caroço encontrará muita contestação, sobretudo por parte das casas comerciais, é uma situação que eu já tinha detetado quando li os relatórios financeiros da delegação do BNU de Bolama. O que se pode dizer é que Vellez Caroço introduz um modo de liderança e de respeito pelas funções a que se obrigarão os governadores seguintes, caso de Leite de Magalhães ou Carvalho Viegas.

Um abraço do
Mário



A Província da Guiné Portuguesa
Boletim Oficial do Governo da Província da Guiné Portuguesa, 1921, começou a era de Velez Caroço (37)


Mário Beja Santos

O Governador Vellez Caroço é figura dominante do Boletim Oficial no ano de 1921. Até chegar, o que nos é dado a saber é uma pura rotina, parece estar tudo em conformidade dentro dos trâmites usuais. Com Vellez Caroço, ele assume-se como a voz do Governo, quer gestões sérias, vai atacar a indisciplina, enfrenta com rigor a sonolência burocrática. Logo no Boletim n.º 35, de 27 de agosto, aparecem duas portarias que são elucidativas de que quer seriedade nos negócios da administração e premeia os comportamentos exemplares. No primeiro caso, veja-se o que ele escreve:
“Tendo-se dado ultimamente nesta província alguns conflitos de caráter pessoal entre diferentes funcionários e entendendo que devo terminar com tão pouco edificantes exemplos, hei por conveniente mandar publicar:
Ao fazer a minha apresentação nesta província, e referindo-me à disciplina que desejo manter e manterei custe o que custar, declarei: ‘admito que se deem conflitos entre diferentes funcionários, no desempenho das suas funções, mas não posso tolerar, nem tolerarei, tanto nas participações de factos ou delitos, como na apresentação de queixas, se faça uso de uma linguagem despejada e se empreguem termos injuriosos para a dignidade pessoal seja de quem quer que for. Faça-se justiça mas guarde-se a compostura e o decoro.’

O funcionalismo, tanto o militar como o civil, deve impor-se à consideração pública pela sua extrema correção, pela sua delicadeza e fina educação; deve ser um exemplo frisante de altas virtudes cívicas, do mais acendrado patriotismo, do respeito aos poderes constituídos de dedicação à instituições.
Infelizmente, para a disciplina, para o bom nome de alguns funcionários, que ocupam posições de destaque, e para a ordem social pela qual, eu, por dever do cargo, tenho de velar, têm-se ultimamente dado factos que em absoluto se afastam deste ponto de vista.

A bem de todos, e mais uma vez, como manifestação de benevolência e espírito de conciliação, previno e chamo a atenção dos funcionários sobre a forma como encaro este problema de ordem e como interpreto as minhas funções de primeira autoridade da província, na manutenção da disciplina: podem todos ter a certeza que não me afastarei uma linha só que seja do cumprimento dos meus deveres e que, fiel executor das leis, igualmente aplicarei sem tergiversar o rigor dos regulamentos.”


Noutra portaria, Vellez Caroço louva os altos serviços prestados pela guarnição do rebocador Bissau, louvando particularmente o chefe da missão geoidrográfica, o imediato do rebocador e um conjunto de sargentos e praças. E o Boletim Oficial começa a publicar decisões que espelham o que acima o governador advertiu. É o caso do despacho publicado no Boletim Oficial n.º 35, estávamos em 27 de agosto:
“Conformo-me com a opinião do sr. Tenente-Coronel Araújo Júnior, por mim nomeado para proceder às averiguações sobre a queixa apresentada pela Casa Pereira Neves, de Bissau, contra o procedimento do Administrador do Concelho, sr. dr. Francisco Augusto Regala. Não pode invocar-se nem se estabelecer precedente de cada um fazer justiça pelas suas mãos. É contra os mais elementares princípios de justiça e revela inclusivamente uma falta de confiança nas autoridades encarregadas de velar pela ordem.

Por este Governo serão dadas as instruções a todas as autoridades administrativas para que tais factos se não repitam, instaurando com escrupuloso cuidado o processo de investigação e enviando-se a Juízo, devidamente testemunhado, o respetivo auto de notícia. Em harmonia com esta doutrina, oficie-se desde já ao sr. Administrador do Concelho de Bissau para que proceda às devidas investigações sobre os crimes de furto praticados na Casa Pereira Neves e que remeta em seguida o respetivo auto de notícia ao tribunal competente.”


No mesmo Boletim publica-se o despacho do governador quanto a um processo de inquérito mandado proceder aos atos do administrador interino da 6.ª Circunscrição Civil (Papéis):
“Em face do processo de averiguações e respetivo relatório, apresentado neste Governo pelo sr. Tenente-Coronel Araújo Júnior, e referente ao Administrador Vitorino António Casse Mendes, verifica-se que são caluniosas as acusações produzidas contra o referido administrador, que era acusado de condenar os indígenas ao pagamento de multas excessivas e injustificadas e de aplicar-lhes bárbaros castigos corporais.
Folgo de ter ocasião de manifestar a minha satisfação por não se terem confirmado tais acusações, pois embora entenda que os administradores de circunscrições, isolados e sem força pública que os possa apoiar, precisam por vezes de empregar meios enérgicos para manter a disciplina, merecem-me a maior reprovação os exageros e os castigos corporais aplicados como sistema.

Encontrarão sempre as autoridades desta província em mim o maior apoio na defesa do seu prestígio, quando injustamente agravado: não regatearei louvores a quem os merecer; mas, se procedendo assim cumpro simplesmente com os deveres do meu cargo, correlativamente é-me imposta obrigação de fazer justiça, punindo os que se desmandarem.
É com esta orientação que, concordado com as conclusões do relatório do sr. Tenente-Coronel Araújo Júnior, por mim nomeado para proceder a averiguações sobre os atos praticados pelo administrador de Bor, aprovo o seu procedimento enviando a Juízo e exigindo responsabilidade aos indivíduos que falsamente acusaram o referido administrador de faltas tão graves.”


Em outubro, Vellez Caroço faz publicar as propostas orçamentais para 1921-1922, aqui se publica um extrato:
“A Província da Guiné tem as suas finanças equilibradas e tem havido inclusivamente saldos orçamentais, mas, devemos confessá-lo, isso tem sido principalmente devido a não se fazerem melhoramentos com a largueza de vistas que o desenvolvimento comercial e agrícola da província exigem; a ter um constante défice de funcionários, porque poucos são os que querem vir para esta província, onde, a par de uma vida caríssima, verdadeiramente incomportável para quem não negoceia ou não tem que vender, há a suportar as agruras de um clima quase inóspito, e ao qual, só rodeado de comodidades e de um relativo bem-estar, o europeu pode resistir; à incidência de uns direitos excessivamente pesados sobre a exportação das oleaginosas, principal riqueza da Guiné, dificultando-lhe assim a livre concorrência nos mercados (…)
Assim, em breve regulamentaremos o trabalho indígena, melhoraremos os portos de Bissau e Bolama, terminando a construção do cais acostável do Pidjiquiti e consertando a ponte, que ameaçava ruína para as embarcações de maior tonelagem; terminaremos as obras da ponte acostável de Bolama (…)
Somos absolutamente contrários à orientação até agora seguida de terem imobilizados os saldos da colónia, que atingem uma quantia superior a mil contos, sem vencimento de juro algum, quando esses fundos só à colónia pertencem. Como início deste programa e para criar receitas compensadoras que permitam ao orçamento da Guiné comportar o aumento das despesas, onde principalmente avultam o acréscimo dos vencimentos aos funcionários civis e militares, proponho à consideração das entidades competentes as seguintes propostas orçamentais.”


Foram assim os primeiros meses da governação de Vellez Caroço.

O anúncio da chegada do Tenente-Coronel Jorge Frederico Vellez Caroço
Tenente-Coronel Vellez Caroço
Aldeia Fula, 1910
O Geba em Bafatá

(continua)
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Nota do editor

Último post da série de 21 de maio de 2025 > Guiné 61/74 - P26827: Historiografia da presença portuguesa em África (482): A Província da Guiné Portuguesa - Boletim Oficial do Governo da Província da Guiné Portuguesa, estamos em 1920 (36) (Mário Beja Santos)