quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Guiné 63/74 - P5565: O meu Natal no mato (30): Também lá estive... (Carlos Pinheiro, 1º Cabo Op Msgs, STM/QG Bissau, 1968/70)

1. Mensagem de Carlos Pinheiro, com data de hoje:
Luis Graça:

Também lá estive é o titulo, por acaso. Mas o que eu queria dizer é que já tenho feito alguns comentários aqui para a Tabanca e ultimamente têm sido publicados.

Porém, salvo erro no dia de Natal, também resolvi contar as peripécias de uma noite de Natal, a de 69, mas creio não ter sido publicada.

Se calhar não cumpri as regras da casa. E era isso que eu precisava saber. Raro é o dia em que não espreito o site e de vez em quando lá aparece um ou outro do meu tempo.

Quando for possivel agradeço mesmo que me forneçam as instruções, isto é as regras, para me passar a sentir também um tabanqueiro, porque ami cá sibe.

Um abraço

Carlos Pinheiro

Ex-1º Cabo Op Mensagens, mobilizado para o BCAÇ 1911 que nunca conheci (Veio no mesmo UIGE em que eu fui) e que passei os 25 meses (Out 68 a Nov 70) no Dest ST/QG/Bissau.

2. Também lá estive...
por Carlos Pinheiro

Companheiros, camaradas e amigos!

Como ex-combatente na Guiné, Outubro/68 a Novembro/70, e como leitor assíduo do, permitam-me, nosso blogue, nesta época natalicia há recordações que nos vêm mais à memória e o melhor, antes que seja tarde,  é passá-las para o papel.

Era véspera de Natal de 1969 e se bem que a guerra por vezes abrandasse, nunca parava. E havia sítios e posições que nunca podiam ser descuradas. Por exemplo, na minha guerra, no STM do QG de Bissau, que comunicava com o mato, com todos os COPs, todos os Agrupamentos, todos os Batalhões, todas as Companhias e até muitas outras subunidades, através das quatro redes de rádio (grafia) existentes, que comunicava com a metrópole, em grafia e em fonia e às vezes até por tele-impressor, com o BT na Graça que depois encaminhava as mensagens para os destinos, que comunicava com a Marinha e com a Força Aérea através de tele-impressor quando funcionava, a nossa guerra nunca podia parar. E as antenas colocadas ali bem perto, na Antula, eram o suporte e a garantia de que as mensagens chegavam aos seus destinos.

Nessa noite de Natal, depois de um jantar mais que atribulado que chegou a meter uma marcha até à messe de oficiais e ao "palácio das confusões" (messe de sargentos) onde os senhores estavam numa grande janta e o pessoal de serviço sem direito a nada, (a CCS/QG, vá-se lá saber porquê, tinha-se esquecido de nós),  depois deste pequeno incidente se ter resolvido,e sem que a nossa guerra tivesse alguma vez parado, nessa noite que devia ser de paz, recebemos uma mensagem zulu (relâmpago) duma unidade de que já não me recordo, e que tinha estado a ser flagelada, a pedir simente, vejam bem, um FRAPIL, porque no ataque tinham ficado sem gerador e dentro em pouco ficariam sem comunicações.

Já era tarde, talvez mais de meia-noite, quando isto aconteceu. Foi só chamar-se o motorista, ainda me lembro, o Mamadu Djaló que mais tarde foi motorista de táxi na cidade, que estava encostado no Unimog e pormo-nos a caminho do Batalhão do Serviço de Material, ali à Bolola, e entregar a mensagem ao oficial de dia para providenciar no sentido do solicitado chegar ao seu destino logo de manhã cedo. E assim foi. Lá foi um Allouette, bem cedinho, cumprir esta missão importante de que nós tivemos logo o reporte quando o FRAPIL foi instalado e começou a cumprir a sua missão.

Nessa noite os rádios nunca pararam, mas este caso foi de facto o mais relevante que aqui recordo com nostalgia.

Carlos Pinheiro
1º cabo Op Msgs
26/12/2009

3. Comentário de L.G.:

Meu caro Carlos: A gente (os editores do blogue) estão como tu e os demais camaradas do STM do QG de Bissau: não temos mãos a medir e não conseguimos publicar tudo o que chega à nossa caixa de correio... just in time.  Naturalmente que tu não és discriminado pelo simples facto de ainda não seres, formalmente, membro da nossa Tabanca Grande. Teremos, entretanto,  muito gosto em acolher-te na nosso grupo: afinal, tu também estiveste lá, és por direito próprio um camarada da Guiné... Manda-nos as duas fotos da praxe e promete respeitar as nossas dez regras de convívio  (disponíveis na coluna do lado esquerdo do nosso blogue)... E não te esqueças: uma vez camarada da Guiné, camarada da Guiné para sempre... Entre nós, pode haver amuos mas não há divórcios... Separações pode havê-las, sim, mas temporárias... E as nossas memórias são escritas  com humor, humanidade,  às vezes ainda com sangue, suor e lágrimas... Não são delitáveis (do inglês: to delete)... Até à próxima, camarada... Já agora, diz-nos donde és e/ou onde vives. Bom Ano. Luís Graça
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Nota de L.G.:

Guiné 63/74 - P5564: Em busca de... (106): Camaradas de António dos Anjos Maria, ex-Soldado da 1.ª CCAÇ/BCAÇ 4615/73 (Cacheu, 1973/74) (Tiago Mateus)

1. Mensagem de Tiago Miguel Mateus com data de 19 de Agosto de 2009:

Gostava de contactar com pessoas que estiveram na Guiné de 68 a 72, 73.
Gostava de conhecer alguém que tenha fotos de militares.
Tinha um tio que faleceu em 72, no rio Cacheu.

Chamava-se ANTÓNIO DOS ANJOS MARIA.

Era natural de Quinta de Belide, Colmeal, Góis.

Nunca o conheci, tenho uma foto dele na Guiné, fardado.

Gostava de contactar camaradas dele que até talvez o conhecessem, ou que tenham fotos.

Cumprimentos
Tiago Miguel Mateus
mateus.tiagomiguel@gmail.com


2. Comentário de CV:

Caro Tiago Miguel
Sobre o seu tio, recolhi estes elementos da Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974), 8.º Volume, Mortos em Campanha, Tomo II, Guiné - Livro 2:

Nome: António dos Anjos Maria
Número: 01096173
Posto: Soldado Atirador
Unidade: 1.ª CCAÇ/BCAÇ 4615/73
Unid. Mobiliz.: RI 16 - Évora
Estado civil: Solteiro
Pai: Manuel Maria
Mãe: Maria dos Anjos
Lugar: Quinra do Belide
Freguesia: Colmeal
Concelho: Góis
Local de Operações: Mansambo
Local de sepultura: Cemitério do Colmeal
Data do falecimento: 4 de Maio de 1974
Causas da morte: Acidente, afogamento

Sobre a Companhia de seu tio, recolhi os elementos constantes da pág. 193 da Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974), 7.º Volume - Fichas das Unidades, Tomo II, Guiné.

A 1.ª Companhia seguiu em 02NOV73 para Cacheu, a fim de efectuar o treino operacional e a sobreposição com a CCAÇ 3460, tendo assumido, em 23NOV73, a responsabilidade do subsector de Cacheu, com um pelotão destacado em Bianga.

Após desactivação de Bianga em 26AGO74, efectuou, em 02SET74, a desactivação e entrega do aquartelamento de Cacheu e recolheu seguidamente a Bissau, a fim de aguardar o embarque de regresso.


Fica agora com elementos que não tinha.

Há uma discrepância entre o 8.º Volume, Mortos em Campanha e o 7.º Fichas das Unidades, porque se o primeiro diz que a 1.ª CCAÇ operava em Mansambo o segundo refere Cacheu.

Como o camarada António Maria morreu afogado no Rio Cacheu, o 7.º Volume é que deve estar correcto.

Em tempos apareceu um camarada do BCAÇ 4615/73, Batalhão a que pertencia o seu tio, à procura de companheiros*.
O mail dele é: jlrodrigues.22@gmail.com

Temos no nosso Blogue um tertuliano da 3.ª Companhia, também do Batalhão 4615, que é o ex-Furriel Miliciano António Manuel Tavares Oliveira**.
O seu endereço é: antavol@hotmail.com

Sugiro que contacte os dois no sentido de começar as suas pesquisas.

Um abraço
CV
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 6 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4292: Em busca de... (72): BCAÇ 4615 (Teixeira Pinto 1973/74) (Francisco Teixeira)

(**) Vd. poste de 21 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5311: Tabanca Grande (189): António Manuel Oliveira, ex-Fur Mil da 3.ª CCAÇ/BCAÇ 4615/73 (Os Pifas), Bassarel, 1973/74

Vd. último poste da série de 27 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5551: Em busca de... (105): Furriéis Mil Art Araújo, Santos e Tobias Queirós (Guileje e Gadamael, 1972/74) (Luís Paiva)

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Guiné 63/74 – P5563: Estórias do Mário Pinto (Mário Gualter Rodrigues Pinto) (32): O regresso (Mário G R Pinto)


1. O nosso Camarada Mário Gualter Rodrigues Pinto, ex-Fur Mil At Art da CART 2519 - "Os Morcegos de Mampatá" (Buba, Aldeia Formosa e Mampatá - 1969/71), enviou-nos a sua 32ª mensegem, em 29 de Dezembro de 2009:

Camaradas,

Resolvi retirar do baú das minhas memórias da guerra a estória do regresso à Metrópole da minha CArt 2519.

Regressamos no paquete Uíge, numa autêntica viagem de cruzeiro com paragem na bonita ilha da Madeira.

O REGRESSO

Às primeiras horas da manhã do dia 07MAR191971, atracou em Bissau a LDG proveniente de Buba, que trazia a bordo os últimos elementos da CArt 2519, com destino a Brá, para se juntar aos restantes camaradas que já há algum tempo, na cidade, gozavam finalmente a paz e as férias merecidas.

Digo férias e digo bem, porque a maior parte dos nossos camaradas tinham passado 22 meses e meio no mato, plenos de privações de todo o tipo, sem qualquer conforto, que, de alguma forma, Bissau sempre nos punha à disposição.

Em Brá aquartelados, esperamos ansiosamente o embarque marcado para 11MAR1971, o que não veio acontecer, pois o mesmo foi adiado para 6 dias depois (17).

O pessoal da Companhia todo reunido em Bissau, originou naturais momentos de euforia e de exageros, nomeadamente os inevitáveis festejos dos meus camaradas, que vieram colocar um grave problema ao Comandante (Capitão Barrelas), já que os nossos soldados tinham-se esquecido de alguns artigos do RDM, coisa que, em Bissau, era fatal à nossa malta, confrontados com a grande quantidade de oficiais e sargentos do QP, que estavam colocados na cidade e nela circulavam, por todos os cantos.

O tempo passado no mato (Vietname) e a falta de algumas normas a que se tinham vindo a desacostumar, não se compatibilizava com o rigor e disciplina que, como é sabido, se impunham aos militares que gravitavam nos quartéis da cidade, chocando, como é óbvio, com as rotinas e condutas habituais em Bissau.

Assim, surgiram alguns problemas com a PM, que a custo fomos resolvendo (diga-se de passagem com alguma cumplicidade dos mesmos) e, após um jantar de despedida da Companhia no "Solar dos 10", lá embarcámos de madrugada no dia 17 no paquete Uíge, rumo à tão ansiada Metrópole.

A vida a bordo apesar da ansiedade da chegada correu bem, com o pessoal todo animado esperando ver Lisboa a surgir no horizonte marítimo. A certo momento fomos informados que íamos fazer escala na Madeira, onde ficaríamos cerca de 6 horas para permitir o desembarque de uma Companhia de pessoal Madeirense.

Contamos os últimos pesos, ainda em nosso poder, para trocá-los por escudos ainda a bordo do navio.

Sim, porque como vocês se lembram toda gente fazia negócio com a malta, no câmbio da moeda. Na ida trocavam-nos os escudos por pesos, davam-se mil escudos e recebiam-se, em troca, mil pesos e, no regresso, davam-se mil pesos e, em troca, recebiam-se oitocentos escudos.

Como também nunca percebi como certos civis subiam a bordo à chegada a Bissau, para cambiar o dinheiro do pessoal?

Depois de vadiar umas horas na Madeira, lá retomámos a viagem fazendo a última refeição a bordo, já que no dia seguinte chegaríamos a Lisboa.

Pela manhã, bem cedo, avistamos terra e já ninguém segurava os homens. Até entrarmos na foz do Tejo e alcançarmos o cais de Alcântara foi uma alegria geral. A euforia era contagiante apoderando-se de todos nós, gritava-se, cantava-se e alguns até choravam. Cada um manifestava, a seu modo, a sua alegria de chegar são e salvo a Lisboa.

O cais que nos viu partir acabava de nos ver chegar, cheio com os nossos familiares e amigos, que também esperavam ansiosamente para nos abraçar.

Finalmente foi dada ordem de desembarque. Uma a uma as Companhias foram abandonando o paquete, descendo a escada que nos ligava a terra. Com os olhos ansiosos lá íamos procurando avidamente os nossos familiares, no meio da multidão que nos rodeava.

Foi a confusão geral naquele cais, correrias num vaivém frenético, procurando pais, tios, primos, namoradas, esposas e filhos… parecia que todo o mundo se tinha reunido naquele local, para nos abraçar. É impossível descrever o que ia na alma de cada um, mas tenho a certeza que era uma alegria imensa, aliada ao sentido de termos cumprido o dever a que tinhamos sido chamados, e a partida para um novo retomar da vida.

Seguiram-se as honras militares e o embarque, em viaturas, para Évora - RAL 3, Unidade Mobilizadora, onde no mesmo dia fomos desmobilizados, rumando cada um para o seu destino.

Assim se dispersou a CART 2519 em termos militares.

Por louvável iniciativa de alguns camaradas, foi feito o toque a reunir e todos os anos nos encontramos, para um salutar almoço de convívio, juntamente com os nossos queridos familiares.

Um abraço,
Mário Pinto
Fur Mil At Art

Fotos: © Mário Pinto (2009). Direitos reservados.
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Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

Guiné 63/74 - P5562: História da CCAÇ 2679 (31): Ataque à tabanca de Tabassi em 30NOV70 (José Manuel M. Dinis

1. Mensagem de José Manuel M. Dinis (ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71), com data de 27 de Dezembro de 2009:

Ora viva!
Imagino-te, Carlos, depois das festas natalícias, com um bocadinho de dificuldade em chegares com os dedinhos ao teclado. Uma espécie de empanturrice que tolhe os movimentos. Por isso, peço desculpa se for inoportuna a mensagem, mas, consola-te com a proximidade da noite das grandes farras, durante a qual terás oportunidade para dançar em todos os estilos, desbaratando as gorduras excessivas, apurando o bom colesterol, deixando-te revigorado de músculos para o que der e vier. Jura, pá que não vais ficar agarrado ao computador! E depois, nos primeiros dias de Janeiro, vais às análises, e tranquilizas a família com os resultados.

Nesta perspectiva, quero fazer votos de que estejamos atleticamente melhor preparados, que durante o ano que termina. E que juntes muitas alegrias.

Votos extensivos aos atabancados e curiosos.

Peço aos prezados camaradas que, se algum tiver conhecimento de um alentejano, de nome Manuel António Espadinha Ourives, meritoso Foxtrot, o favor de nos pôr em contacto.

Abraços
J.D.


Tabassi, 30NOV70
JMMD

Sob o céu estrelado, imensamente abundante de astros, como não se vê em Portugal, mas inspiram saudades e desejos de viajar, adormeci sobre o luxo de um colchão insuflável, estendido sobre a erva fresca, virado para oeste, onde havia uma vala abrigo, para o que desse e viesse, a uns cinco, seis metros do arame que delimitava a aldeia na direcção poente e, logo a seguir, era a orla da mata densa, sombria, povoada por passarada e macacos, que, ao anoitecer, dormiam como gente.

Devia estar em sono profundo. Talvez sonhasse, porque era bom sonhar com alternativas às dificuldades. Mas, como não era meu costume recordar os sonhos, não posso afirmá-lo. Se, porém, seguia Morfeu na vigilância que exercia sobre as donzelas que dormiam e sonhavam, e nessa esteira me insinuava junto delas, não tive qualquer sucesso, nem o episódio durou muito tempo, pois, repentinamente, pum, despertei com um tiro, um tiro só, a romper com o silêncio escuro do princípio da noite. Que raio de merda, afirmava interrogativamente, enquanto me dirigia para o lado do disparo, do lado norte da aldeia.

Quando me aproximei do primeiro grupo daquele lado, logo o Virgílio Sousa se me dirigiu, num misto de nervoso e arrependido por ter disparado:

- Meu furriel, dizia incomodado, há ali turras a instalarem-se, eu estava de vigilância e ouvi muito bem os movimentos deles e galhos a quebrar.

Por mim não pressentia nada, e o silêncio era total. Respondi que seriam macacos num qualquer movimento. O Virgílio retorquia que não. Era dos melhores soldados e eu apreciava-o bastante. Dei-lhe a reprimenda pelo disparo infeliz, fiz-lhe ver que estávamos ali à conversa e não havia sinais do inimigo, o que contrariava a impressão dele, mas se viessem para atacar-nos, o tiro e a nossa conversa já teriam dado uma direcção, e já teríamos sido alvejados. Com ele estavam ainda o Orlando, o Pestana e o Pauleiro. Uma boa equipa. Estes últimos quase não falaram, mas pareciam alinhar com os argumentos do Virgílio. Uns minutos depois regressei ao colchão. Deixei a arma junto ao morteirete. O morteiro 60 naquela noite, ficava por minha conta, enquanto designara o Rodrigues para outra equipa, dada a falta de pessoal. Comigo ficavam também o Transmissões, o Enfermeiro e o Virgílio Fernandes. Voltei a adormecer, e profundamente.

Pum-pum-pum, tará-tá-tá, tará-tá-tá. O barulho era a sério. De supetão, abri os olhos, ergui-me, e corri. Na surpresa, ainda me agachei à aproximação de um rocket que soprava durante a passagem, e deixava um rasto que lhe dava identificação. Corri quatro ou cinco passadas, e bati de caras numa árvore. Merda, era no sentido contrário. Identifiquei assim a minha posição no terreno. Corri, então, em direcção à valeta, onde estavam os meus parceiros, já aos tiros para a periferia. A arma estava num extremo, na direcção norte. Disse ao Virgílio para ter atenção ao lado da bolanha, não fossem os gajos desencadear a norte e penetrar pelo sul.

Tabassi tinha defesas naturais: a norte e oeste, a floresta densa que se aproximava do arame, a sul, a bolanha e o cemitério conferiam-nos alguma segurança e desprezávamos a defesa por ali, no entanto, no momento, parecia-me um lado vulnerável. Em princípio, só se afigurava possível atacar a aldeia, a partir da direcção leste-oeste, a de mais fácil instalação para atacar, já que o coberto florestal não era tão denso, e a estrada de Bajocunda para Pirada seria ideal para colocar morteiros.

Afinal, disparavam rockets junto do arame.

Respirava-se um ar aquecido, uma mistura de terra e pólvora que me deixava apreensivo. À minha frente a visibilidade era boa. Peguei na G3 e reparei que no ângulo extremo do arame, onde se encontravam os linhas norte e oeste, havia uma saída de RPG. Dirigi para ali meia dúzia de tiros, não sei se demasiado alto, se demasiado baixo. As saídas continuavam a acontecer. A distância seria de uns quarenta metros. Daquele extremo para sul, junto do arame, não vi qualquer sinal de ataque. Mas do lado norte, na direcção para a estrada, mesmo sem visibilidade directa por interposição da tabanca, dava para ver e ouvir distintamente os reflexos e explosões das saídas e o rasto dos rockets, enquanto as armas ligeiras só causavam perturbação. Dei ao Transmissões essa indicação para quando se iniciasse o fogo de artilharia. Voltei ao meu lugar, e decidi-me pelo morteiro. Introduzi a mão, e senti o tubo limpo. Acariciei-o com a esperança de uma boa parceria. Havia ali um cunhete de granadas e estava a céu aberto, numa zona desmatada. Peguei numa granada, retirei-lhe as cargas propulsoras, porque a distância para o alvo era bastante escassa. Com a mão esquerda empinei o tubo, dei-lhe um ângulo de quase noventa graus, e direcionei-o. Pensei com os meus botões se a granada não iria rebentar atrás, pois já punha em dúvida se não excedera no ângulo. Porra, ajusta ligeiramente e vai à experiência, disse para mim. A granada voou e caíu ali perto, nitidamente perto, provocando uma explosão bem localizada. Fantástico, mais duas ou três do mesmo género, a ver, pensei com ar avalizador. Seguiram-se uns bons tiros e a posição inimiga perdeu actividade.

- Cabrões de merda, estão a querer fintar-me, e reagi, enviando mais fruta.

O ataque continuava de outras posições, num carnaval de metralha e rebentamentos. Entretanto, o Virgílio de Sousa viera anunciar-me que o Orlando e o Pestana estavam atingidos e inoperacionais. Perguntei-lhe qual era a situação e respondeu que o Pauleiro ficara a aguentar. Mandei-o regressar rapidamente e que poupasse munições. Disse ao Transmissões que comunicasse já termos dois feridos graves. O Enfermeiro, um piriquito deslocado de uma Companhia de Pirada, disse-me que ia para para junto dos feridos, mas ripostei-lhe para aguentar, que preferia um Enfermeiro vivo, a um gajo morto. A Artilharia fizera-se ouvir. Dirigi-me ao Rádio para chamar a atenção que visavam muito longe, e o ataque prosseguia, para esperarem mais um bocado e encurtarem a alça, tudo em português decentíssimo que não posso aqui reproduzir. Quando dei conta, o Enfermeiro desaparecera, tinha ido prestar os primeiros socorros e, felizmente, em boa hora o decidiu.

Voltei ao morteiro, agora para fazer tiros para a floresta ao longo do arame onde o IN se instalara. A coisa complicava-se por falta de visibilidade, mas tinha que ser, para abater ou provocar a debandada. Porra, acabaram-se as granadas. Mas junto do Viçoso, no lado oposto, junto da entrada, havia outro cunhete. Fui em correria. Quando regressava ao morteiro, o ataque tinha terminado. Mais umas palavrinhas para a Artilharia. Larguei o rádio, e avisei aqules dois que aguentassem ali, e o Virgílio que estivesse atento ao arame. Um tiro seria um sinal de ataque com certeza.

Fui à posição onde se registaram os feridos. Já ali estavam alguns elementos da posição mais próxima. Depressa reorganizei a defesa, deixei que três ou quatro providenciassem ao carregamento dos feridos para o interior da aldeia. Foram para a casa do chefe da tabanca. Havia que designar dois outros elementos para substituição. Depois dei a volta à aldeia para ver o pessoal. Estavam bem dispostos e ainda tinham bastantes munições. Até o piriquito alentejano, o Espadinha Ourives, demonstrava bom ar e confiança. O Antão Mendes veio ter comigo, com a cremalheira dental aberta, em sorriso largo e malandro, a contar que os gajos que estavam mesmo à frente dele, levaram com uma quantidade de dilagramas que se lixaram. Perguntei-lhe se tinha retirado as cavilhas às granadas, e respondeu que sim, pois claro.

- Grande coisa que fizeste, hoje era para os corrermos à pedrada, disse, afastando-me.

- O furriel está maluco, ouvio-o dizer, e devia continuar a descrever as cenas para quem queria mais informações.

Finalmente fui saber dos feridos. Fiquei arrepiado, até à espera do pior. À luz da vela e de uma mecha, o Enfermeiro desdobrava-se em cuidados. Fez um excelente trabalho, cuidou das feridas de cada um com grande dedicação e saber, salvando-os da morte. Deu um tremendo exemplo de camaradagem, primeiro, arriscando-se na deslocação durante o foguetório; depois, no local, dispensando os primeiros socorros à luz de um isqueiro, nas barbas do inimigo que ainda atacava; finalmente, na assistência nocturna até à evacuação. Sem descanso, sem dar mostras de cansaço, com tremenda escassez de meios. Subitamente, senti uma tremenda pressão sanguínea, que percorria as artérias em grande velocidade e grande tensão. Foi, durante um minuto, a minha descarga nervosa.

Recebi a informação de que o 3.º Pelotão vinha a caminho com outro Enfermeiro. Desloquei-me novamente às posições do lado de Bajocunda a prevenir a chegada eminente dos camaradas, não fosse acontecer um disparate. Fui lá eu, não mandei. Depois, junto do Rádio, fui informado que, aos primeiros alvores, devia ter os feridos prontos para evacuação, mas seriam levados em viatura para Bajocunda, e dali seriam transferidos para Bissau.

À frente, o Leal comandava o 3.º Pelotão, e dava exemplo de coragem e determinação para nos socorrerem. Foi uma grande alegria. Reforçámos as posições defensivas, pois seriam ainda umas duas da manhã e considerámos a possibilidade de novo ataque.

Aos primeiros alvores, saíu uma Secção para verificar as posições inimigas, sem mexer no que fosse, enquanto eu ficava junto dos feridos a ver como seriam tratados, sem intromissões desnecessárias. Como previsto, de Bajocunda chegaram as viaturas para os transportar. Alguém chegou-se a mim, referindo a existência de mortos na mata. Já não esperei mais, e logo me dirigi para o local. Alertei para ninguém me seguir, e aos que estavam por lá, para não se movimentarem. Quando ali cheguei, no sítio onde, inicialmente, detectara as saídas de RPG, estavam cinco corpos, um ainda vivo. Lembro-me muitas vezes do que pode ter sido a sua última manifestação: tocou-me na bota e fez um olhar surpreendente, absolutamente branco, o globo ocular ter-se-ia revirado, e parecia um berlinde leiteira. Morreu pouco depois. Pedi para me trazerem a corda e referi que não queria ali mais ninguém. Aproximavam-se civis com facas para cortar orelhas. Referi novamente que não queria ali mais ninguém, para além dos que estavam comigo, e dei ordem a dois Foxtrot para dispararem sobre os desobedientes. Quando me trouxeram a corda, mandei afastar o pessoal. Fiz um laço que coloquei num dos pés de cada um e, na posição de deitado, puxei por cinco vezes sem consequências. Nenhum dos corpos estava armadilhado. O terreno também não apresentava sinais de minas.

Durante a fuga acelerada, o IN teve a preocupação de levar o material passível de carregar. Ainda assim deixaram algum armamento. Já não corríamos qualquer perigo. Mandei vir um Unimog, e ajudei a carregar os turras, para serem enterrados em Bajocunda. Antes, alguém se me dirigiu:

- Furriel, olhe só as botas destes gajos, novinhas e em "calfe", enquanto eu ando com estas rotas e sem concerto. Posso tirar-lhe as botas?

- Claro que sim, podiam tirar as botas, os cintos, uma faca de mato, até uma pistola, que foi convenientemente guardada. Só não podiam ferir-lhes a dignidade.

Ainda recebi um cinto como recordação.

No interior do arame, perto da posição atingida pelo primeiro disparo IN, encontrei uma granada de morteiro, enfiada na terra arenosa, e que não rebentara. Provavelmente não atingiria o pessoal que já contava com dois feridos, mas foi uma grande sorte, e só eu usei o morteiro. Foi quando fiz fogo cruzado sobre umas moranças para aliviar a pressão do IN.

O comportamento do Pelotão foi de grande atitude, com reacção pronta, serena e eficaz. Sofremos duas baixas, resultantes do primeiro disparo do IN, que acertou, exactamente, numa árvore próxima da posição ocupada pelos Foxtrot, e estilhaçou em redor, atingindo aqueles dois com gravidade. O Pestana foi evacuado para Lisboa, enquanto o Orlando, um mês depois, apesar das marcas e de alguns estilhaços impregnados no corpo, pediu para regressar ao mato e ao Pelotão, continuando a usar o lança-granadas como arma. Guindou-se, dessa maneira, a um nível heróico, desprezando os serviços auxiliares, em favor da família em que se tornara o Foxtrot, contribuindo para a coesão e impondo-se à admiração dos restantes. Aguentou até ao final da comissão com raros queixumes, humilde, mas decidido e camarada.

À chegada a Bajocunda uma multidão apinhava-se para nos receber. O Lameirão deu uma buzinadela, e imediatamente o proibi de fazer festa. A presença de muitos civis deixou-me intrigado, a pensar, se estariam ali para nos vitoriar, se em derradeira homenagem aos mortos. Apeei-me e dirigi-me para o quarto. Deitei-me sobre a cama, ainda perplexo, a pensar sobre a infelicidade dos mortos, sobre a provável infelicidade dos feridos, e sobre a possível afectação do nosso comportamento futuro. Pensei sobre os senhores da guerra, no conforto dos gabinetes, naqueles que dominam as mentes, impingem-lhes missões de inaceitáveis sacrifícios e entendimentos, e manipulam grandes e insondáveis interesses sob o manto da razão e do progresso, mas não se preocupam com as vítimas, antes, aliviam as consciências com a atribuição de medalhas e pseudo-homenagens, que se resumem ao frete de um discurso. E o povo aceita e orgulha-se dos heróis, perpetuando os sistemas que o domina.

Alguns elementos do 2.º Pelotão - Foxtrot, de pé, da esquerda para a direita: Dinis, Abreu, Teresa e França. Em baixo: Lamarão (condutor), Rodrigues, Martins e Virgílio Sousa
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Notas de CV:

Vd. último poste da série de 8 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5424: História da CCAÇ 2679 (30): Situação geral no mês de Outubro de 1970 (José Manuel M. Dinis)

Guiné 63/74 - P5561: Tabanca Grande (198): Rogério Cardoso, ex-Fur Mil da CART 643/BART 645 (Mansoa, 1964/66)

1. Vamos conhecer hoje o nosso camarada Rogério Cardoso, ex-Fur Mil da CART 643/BART 645, Bissorã, 1964/66), que finalmente nos mandou as suas fotos da praxe.

O Rogério chegou até nós por intermédio do nosso camarada Carlos Brito, ex-Fur Mil da CCS/BART 645, que curiosamente, nunca se tendo apresentado formalmente à Tabanca, tem colaborações no nosso Blogue.


2. Vamos recordar o que escreveu Carlos Brito sobre Rogério Cardoso

O Rogério Cardoso foi Fur Mil Manutenção da CArt 643.
Foi condecorado por ao ter-se oferecido para substituir um camarada doente, ter sido ferido em combate.
Ele foi atingido por uma granada de RPG, que não explodiu, mas que lhe fracturou uma perna. Mesmo ferido, teve o bom (?) senso de pegar na granada e atirá-la para longe.
Também foi ele o autor e mentor da AM, feita num Unimog, que aparece nas fotos e que baptizou de Paulucha, em honra da sua filha Paula.
Na minha modesta opinião, a CArt 643 teve um desempenho brilhante, talvez os melhores Águias Negras, mas, como já disse anteriormente, todos foram bons... para nada.
O Rogério é também um dos fundadores da Associação Amizade do BArt 645.


Rogério e a sua autometralhadora Paulucha

O armamento apreendido ao IN. Entre ele está a granada que atingiu o Rogério, sem contudo rebentar.


3. Transcrição do Despacho publicado na OE n.º 13 - 3.ª série de 1966 e do Louvor que originou a Condecoração




4. Comentário de CV:

Caro Rogério, estás formalmente apresentado à Tertúlia. Não te digo para te instalares, porque já fazes parte dos que colaboram no Blogue, no teu caso, lembrando os bravos "Águias Negras".
Contamos com a tua colaboração activa na organização deste espólio de episódios e imagens da guerra colonial da Guiné.

Recebe um abraço de boas-vindas da tertúlia.
__________

Notas de CV:

(*) Vd. postes de:

20 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5509: Álbum fotográfico de Rogério Cardoso (1): A Paulucha e material apreendido ao IN (Rogério Cardoso / Carlos Brito)

21 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5515: Estórias avulsas (66): O grande amigo Sargento Bajouco da CART 642 (Rogério Cardoso)

22 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5521: Álbum fotográfico de Rogério Cardoso (2): Quotidiano da CART 643 em Bissorã
e
29 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5559: Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras (17): Mais uma história do Sargento Pilav Honório (Rogério Cardoso)

Vd. último poste da série de 27 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5549: Tabanca Grande (197): Rui Santos, ex-Alf Mil da 4.ª CCAÇ, Bedanda, 1963/65

Guiné 63/74 - P5560: FAP (43): Parteiros à força... (Jorge Narciso, ex-1º Cabo Esp MMA, BA 12, 1969/70)


Guiné > Bissalanca > BA12 > O ex-1º Cabo Esp MMA (1968/69) junto a um heli Al III. (*). Estve na Guné de Março de 1969 a Dezembro de1970.

Foto: © Jorge Narciso (2009). Direitos reservados




Amigo Manuel [Amaro]

Este teu poste  fez-me relembrar uma também "não estória" aparentada,  que vivi na Guiné.

Tendo como actividade primeira a de mecânico dos helis, "tirocinei" também numa semi-especialidade (empírica,  pois sem qualquer preparação prévia) de auxilio à enfermagem, com o apoio necessário às enfermeiras páras, com quem realizávamos evacuações.

Pôr a soro, fazer pensos, executar e manter garrotes, massagens cardíacas, transfusões,etc. etc. foram infelizmente acções com as quais me familiarizei.

Mas partos, era coisa que para além do meu próprio (de que não me ficou nenhum registo) estava completamente fora do meu quotidiano.

Porém um certo dia é solicitada uma evacuação (sem enfermeira) para a ilha de Unhocomo (que em conjunto com a de Unocomozinho eram as mais longíquas nos Bijagós).

Usufruindo, no voo de ida, da sempre agrádavel imagem daquele belo arquipélago (e do mar envolvente, onde pululavam quantidades enormes de tubarões, que bem se viam lá de cima) e finalmente aterrados numa paradisíaca ilha, quem nos surge para embarque ?

SÓ (Ai, Ai) uma GRÁVIDA em fase final de parto!

Embarcada a parturiente e enquanto pensava como se iria desenrascar o, talvez, primeiro mecânico/parteiro, ponderei as envolventes:

(i) Quase uma hora de voo até Bissau;

(ii) A parturiante não só não dava mostras de entender (ou não estava para aí virada) patavina do que lhe ia tentando dizer, nem dos gestos de consolo que ia ensaiando;

(iii) O olhar do Piloto era ainda mais estupefacto e aflitivo que o meu próprio e talvez mesmo que o da citada.

Enfim e abreviando argumentos, já que a viagem essa parecia nunca mais acabar, já sem ilhas, nem mar, nem tubarões, todos ora resumidos e concentrados naquele corpo/ventre que cada vez mais se contorcia, felizmente, mais para mim que, coitada, para ela, lá se aguentou até ao Hospital Civil de Bissau (na única vez que ali aterrei) onde finalmente presumo terá dado à luz o seu rebento.

Os restantes 5 minutos de voo, no regresso a Bissalanca, foram para mim e para o Piloto, como a nossa própria "renascença".

Um Abraço

Jorge Narciso

2. Comentário de L.G.:

Jorge, deves estar a referir-te ao actual Hospital Nacional Simão Mendes, herdeiro do Hospital Civil de Bissau, do nosso tempo (mas de que não temos falado aqui, no nosso bloue)... Por outro lado, julgo - se a memória não me atraiçoa - que o nosso comum amigo Humberto Reis, em viagem de Bambadinca para Bissau, de heli, à boleia, viu-se na mesma situação que tu... Só que ele terá sido mesmo parteiro à força, já que o parto se consumou em pleno voo...  (O Humberto tinha a especialidade errada: acho que ele teria dado um belo piloto de helis, a avaliar pela frequència  com que apanhava boleias vossas para uma escapadela até Bissau...).

Nenhum de nós, militares,  estava preparado, técnica e culturalmente,  para estas delicadas missões de apoio à população civil, e muito menos para assistir a um parto de emergência... Também eu estive, conpletamente isolado, em tabancas em autodefesa, sem enfermeiro, sem caixa de primeiros socorros... As NT, na Guiné, não estavam preparadas para missões de paz... Mesmo assim, montámos escolas e postos sanitários,  fomos médicos, enfermeiros, parteiros, professores, fizémos reordenamentos, fomos engenheiros, carpinteiros, pedreiros...

Situações como estas deveriam ter relativamente frequentes, a partir do momento em que foi posta em marcha a política spinolista da Guiné Melhor, e os vossos helis eram aproveitados, no regresso à base, para dar boleia tanto a militares como a civis... Dizia-se que um heli custava por hora 15 contos, não sei quem pagava (se é que pagava) à FAP missões civis específicas, como esta que tu nos descreves...

A tua história merece ficar na montra do blogue, tal como já tinha acontecido com a alegada "não-estória" do Manuel Amaro, esse, sim enfermeiro, e na ocasião parteiro... à força.  Um bela história, afinal, de solidariedade humana, diga-se de passagem.  Não tenho dúvidas que tu farias o teu melhor, se a criancinha tivesse mesmo decidido sair do "bem bom" do ventre materno, enquanto o teu heli sobrevoava o mar infestado de tubarões...Enfim, hoje poderias acrescentar ao teu currículo de vida mais esta faceta, ao mesmo tempo divertida, a de aprendiz de parteiro... à força.

Continuação de boas festas, apesar da tragédia que se abateu sobre a nossa bela região oeste, na véspera de Natal. Espero que esteja tudo bem contigo. Luis.
________________

Nota de L.G.:

(*) Vd. poste de 20 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5305: Tabanca Grande (188): Jorge Narciso, ex-1º Cabo Esp MMA, BA 12, Bissalanca, 1969/70

Guiné 63/74 - P5559: Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras (17): Mais uma história do Sargento Pilav Honório (Rogério Cardoso)

1. Mensagem de Rogério Cardoso* (ex-Fur Mil, CART 643/BART 645, Bissorã, 1964/66), com data de 22 de Dezembro de 2009:

Amigo Carlos aqui vai mais uma.

Quem nos anos 64/65 não conhecia o Honório?

Sempre bem disposto e amigo, tinha um carinho especial por aqueles que sofriam no mato.

Nas paragens entre dois aquartelamentos, quase sempre enfiava uma Sagres para a viagem.

Estando eu em Bissorã e depois de uma breve paragem para largar correio, pedi-lhe para me levar para Bissau.
Respondeu-me afirmativamente mas que ia primeiro ao Olossato, e lá seguimos sempre como era costume, de um adeus nas asas do DO27 para quem ficava.

Já no Olossato um 1.º Sargento também lhe pediu boleia para Bissau.
Depois do sim, o 1.º Sargento mandou-me sair do lugar da frente, que eu vinha ocupando, pois eu era Furriel e ele 1.º Sargento, já que normalmente o DO27 não tinha lugares sentados atrás, motivado pelo transporte frequente de carga.

O Honório, Furriel Piloto, interrompeu o nosso diálogo dizendo que quem mandava no aparelho era ele e que eu ficava onde estava, o senhor 1.º Sargento que fosse para trás, o que aconteceu.

Do Olossato até Bissau, e depois de me avisar de soslaio, o nosso amigo Honorio fez dezenas de tropelias, fazia razantes até ás bolanhas, tentou aterrar na estrada de Mansoa/Bissau por mais que uma vez, etc.
Não havia dúvida que eu ouvia algum barulho vindo de trás, como que qualquer coisa a rebolar e um forte cheiro a azedo.

Quando tocámos na pista em Bissau eu preparei-me para sair e vejo o 1.º Sargento, um indivíduo obeso, deitado de costas espumando pela boca e nariz (naturalmente cerveja a mais) e sem conseguir sair.

Diz-me o Honório:

- Está feita justiça, este nunca mais se arma em importante.

Um abraço para todos os ex-combatentes,
Rogério Cardoso

Guiné > Região de Tombali > Guileje > 1967 > CART 1613 (1967/68) > Um Dornier, DO 27, na pista, de terra batida, do aquartelamento. Foto do saudoso Cap Ref José Neto (1927-2006).
__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 22 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5521: Álbum fotográfico de Rogério Cardoso (2): Quotidiano da CART 643 em Bissorã

Vd. último poste da série de 21 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4396: Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras (16): Uma história do Honório (Vítor Oliveira)

Guiné 63/74 - P5558: Parabéns a você (60): Luís Fernando Moreira, ex-Fur Mil TRMS da CCAÇ 2789/BCAÇ 2928 (Editores)

1. Quis o nosso camarada Luís Fernando Moreira* conhecer o mundo antes do reveillon, e assim, a 29 de Dezembro de um ano já longínquo (1948 ou 1949) cá o tínhamos para contentamento dos papás, que assim o puderam levar, na noite de passagem de ano, ao Monte de Santa Luzia para desfrutar do belíssimo espectáculo do fogo de artifício sobre o lendário Rio Lima.

Caro Luís, não te esqueças de ir recriar esta situação, que não sendo plausível no ano em que nasceste, podes agora concretizar com a tua família. Moras numa das cidades mais bonitas de Portugal, que nesta época natalícia, a par do mês de Agosto aquando das Festas da Agonia, mais se ornamenta e mais bela se torna.

Toda a Tabanca te deseja o melhor, muitos e bons anos de vida, sempre com o aconchego da família e dos amigos que granjeaste ao longo da vida.


Há muito que fazes parte da nossa tabanca, mas só este ano foste apresentado formalmente à Tertúlia.
Deixo aqui o que sabemos de ti, o essencial.

Mensagem de Luís F. Moreira, ex-Fur Mil TRMS da CCAÇ 2789/BCAÇ 2928, Bula, 1970/72, com data de 1 de Fevereiro de 2009:

Antes de mais um grande agradecimento pelo trabalho feito ao serviço de todos aqueles que perderam um pedaço da sua juventude na guerra. Muito obrigado.

Depois de algum tempo já consegui entrar em contacto com o genro do João Antão da minha Companhia e já enviei 3 fotos. Vou procurar manter o contacto e troca de informações.

Aproveito para enviar também para a nossa caserna três fotos, que me parece ter algum interesse a quem passou por BULA. A capela do Batalhão, o Monumento que deixamos em memoria dos nossos mortos e a equipa de futebol do grupo de Pete (um destacamento da CCaç 2789).

Enviarei depois as duas minhas para pertencer à grande Caserna.

Um Abraço a todos
Luís Moreira
Ex-Fur Mil Trms
CCaç 2789/BCaç 2928
BULA
1970/72

__________

Notas de CV:

(*) Vd. postes de12 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3876: Tabanca Grande (116): Luís F. Moreira, ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 2789/BCAÇ 2928 (Bula, 1970/72)
e
15 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3894: O cruzeiro das nossas vidas (13): S.O.S., fogo a bordo do Carvalho Araújo (Luís F. Moreira)

Vd. último poste da série de 27 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5543: Parabéns a você (59): José Pedro Neves, ex-Fur Mil Op Esp da CCAÇ 4745 (Editores)

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Guiné 63/74 - P5557: Cancioneiro do Xime (2): Sangue, suor e lágrimas (Manuel Moreira)


Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Xime > 1969 ou 1970 >  Im histórico do nosso blogue, o ex-Fur Mil Op Esp Humberto Reis, da CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71, junto a um dos três Obuses 105 mm, de fabrico Krupp (eu próprio identifiquei a chapa com a marca de fabrico), que defendiam o aquartelamento do Xime (CART 2715, 1970/72).

Era uma arma da  II Guerra Mundial. O seu alcance, médio, não lhe permitia defender o destacamento da Ponta do Inglês, junto à Foz do Corubal.   Este destacamento, guarnecido por um Grupo de Combate da CART 1746, a que pertencia o Manuel Moreira (mas também o Gilberto Madail, figura pública, ligada ao mundo do futebol), foi abandonado pelas NT em finais de 1968. O Manuel Moreira,  que é membro da nossa Tabanca Grande, bem poderia contar-nos como foram os últimos tempos passados na Ponta do Inglês.  A CART 1746 esteve  em Bissorã  (Região do Oio), de Julho de 1967 a Janeiro de 1968,  e o resto do tempo, Junho de 1969, no Xime (Zona Leste) (*).

Foto: © Humberto Reis (2005). Direitos reservados



1. Letra que nos foi enviada pelo nosso camarada Manuel Vieira Moreira, ex-1.º Cabo Mec Auto da CART 1746 (Bissorã, Xime e Ponta do Inglês, 1967/69)


Sangue, Suor e Lágrimas
por Manuel Vieira Moreira



1
Muitas noites tenho passado,
Na Guerra bem acordado,
Por não conseguir dormir.
Com os olhos sempre alerta,
Pois é sempre pela certa
Que os Turras cá possam vir. (Bis)

2
Certa noite fui acordado
E por estrondos alarmado,
Às duas da madrugada.
Mas rapidez é comigo,
Corri logo a um abrigo
P'ra responder de rajada. (Bis)

3
A nossa bela Nação
Defendo-a do coração,
Estas são as minhas dádivas.
Misturadas com a dor,
Lágrimas, Sangue e Suor,
Suor, Sangue e Lágrimas. (Bis)(Final)

Do Fado: Saudade, Silêncio e Sombra
Xime, 20 de Dezembro de 1968

______________

Nota de L.G.:

(*) Vd. postes de:

29 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5026: Parabéns a você (30): Manuel Moreira, ex-1.º Cabo Mec Auto da CART 1746, Ponta do Inglês e Xime, 1967/69 (Editores)

27 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3526: Tabanca Grande (99): Manuel Moreira, ex-1.º Cabo Mec Auto da CART 1746, Ponta do Inglês e Xime, 1967/69

31 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P1009: Cancioneiro do Xime (1): A canção da fome (Manuel Moreira, CART 1746)

Guiné 63/74 - P5556: Blogues da Nossa Blogosfera (30): Do caos ao cosmos, extensão de Reflexos e interferências (Regina Gouveia)

1. Mensagem de Regina Gouveia com data de 27 de Dezembro de 2009:

Aos meus amigos
Tenho já um segundo blogue, mais intimista, em que, mantendo a ligação à ciência, publicarei textos e imagens mais pessoais.

Poderão aceder em http://docaosaocosmos.blogspot.com/

Um abraço a todos com votos de um 2010 muito feliz
Regina Gouveia

Este blogue é como que uma extensão do blogue http://reflexoeseinterferncias.blogspot.com/. Será um blogue mais intimista onde partilharei convosco textos e pinturas, de minha autoria e não só... (RG)


2. Comentário de CV:

Cara Regina, já visitei o seu novo Blogue, ainda em início de vida.

Porque tudo o que tenha a ver com a Guiné-Bissau é para nós motivo de interesse, não resisto a transcrever um dos primeiros postes que lá encontrei. Faço-o com a devida vénia e porque sei que não se zanga connosco.


Telejornal

Vejo o Telejornal no canal dois
A apresentadora fala da BSE, de clonagem, do Kosovo e, logo depois,
de um acidente no Cais do Sodré e da instabilidade na Guiné.
E eu empreendo no tempo uma viagem...
O Braima, a Binta, o Adrião, onde andarão neste momento?
Conheci-os em Bafatá, há muito tempo, iam buscar o "cume" no fim da refeição.
Recordo os seus olhos vivos de crianças pele negra, dentes alvos, sem igual
os passos apressados quando o vento anunciava em breve um temporal
Eu era aluna e eles mestres do crioulo de que mal guardo lembranças.



Das mulheres, recordo as suas vestes fossem mulheres grandes ou "bajudas"
no tronco, eram em geral desnudas, presos na cinta panos coloridos
que, de compridos, chegavam quase ao chão.
Algumas eram de tal modo belas que pareciam extraídas de telas
Recordo, servindo-me o café, o Infali com aquele seu olhar tão doce e triste
talvez o ar mais triste que eu já vi. Será que o café ainda existe?
Recordo aquele condutor, o Mamadu mostrando com orgulho o seu menino
Que terá feito deles o destino?
Recordo os passeios na estrada do Gabu os mangueiros, os troncos de poilão,
a mesquita, o mercado, a sensação de paz que tudo irradiava,
apesar do obus de Piche que atroava, apesar da maldição da guerra
cujo espectro por cima pairava.
Recordo ainda o cheiro e a cor da terra, o Colufe e o Geba sinuosos
onde canoas esguias deslizavam, recordo macaquitos numerosos
que entre os ramos das árvores saltavam enquanto que lagartos, preguiçosos,
ao sol, pelos caminhos se espraiavam e uma miríade de insectos buliçosos
ao nosso redor sempre volteavam.
Recordo o batuque daquele casamento. Na foto ficou bem impresso o momento
em que o dançarino fazia um mortal numa fantástica expressão corporal
Foi lá na Ponte Nova, naquela tabanca onde de azul se coloriam panos
que as mulheres usavam em volta da anca e que desciam quase até ao chão.
Tudo isto se passou há muitos anos.
A apresentadora fala agora em danos causados por uma longa estiagem
e mostra uma desértica paisagem.
Eu regresso da minha viagem e tento organizar o pensamento.
O telejornal está quase no final. Deve seguir-se a previsão do tempo.

__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 30 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5378: Blogoterapia (133): Falando do povo da Guiné-Bissau... e alguns poemas (Regina Gouveia)

Vd. último poste da série de 3 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5398: Blogues da Nossa Blogosfera (29): Portal Guerra Colonial Portuguesa: novas publicações (Jorge Santos)

Guiné 63/74 - P5555: A navegação no Rio Geba e as embarcações do meu tempo: Corubal, Formosa, BOR... (Manuel Amante da Rosa)


Guiné-Bissau > Arquipélago dos Bijagós > Ilha de Bubaque > 12 de Dezembro de 2009 > "Expresso dos Bijagós", o barco da carreira semanal Bissau-Bubaque, um antigo cacilheiro, adquirido pelo armador português que explora esta ligação marítima.

Foto: © João Graça (2009). Todos os direitos reservados


1. Comentário do Manuel Amante da Rosa (que  está em Macau, ao serviço da CPLP), ao poste de 28 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5553: Memórias de um alferes capelão (Arsénio Puim, BART 2917, Dez 69/ Mai 71) (6): O Geba e as viagens do Bubaque

Caro Arsénio, por cá, em Macau (*), já é bastante tarde mas é a melhor hora para passar uma revista às actividades da Tabanca Grande.

Quanto ao navio [que aparece na foto, da autoria de Carlos Marques dos Santos] quer me parecer, pelo mastro da proa, suposição que a casa de leme estaria bem à popa e ser construído em ferro,  que seria um dos batelões ou lancha da casa Gouveia ou da Ultramarina.

Talvez, mas ainda sem certeza, possa ser um dos batelões da Marinha (BM2), para emprego civil.

Como se pode observar do amontoado de passageiros, sem qualquer protecção contra o sol ou outras intempéries,  o número de feridos e mortos em caso de ataque à passagem por Mato Cão sempre era,  infelizmente, significativo.

O Corubal e o Formosa eram navios de bom porte, estilizados, lindos, velozes, com boas condições de segurança e navegabilidade, que faziam a carreira de Bolama, Bubaque nos Bijagós, Cacine, Cacheu e alguns outros portos. Foram construídos nos Estaleiros de Viana do Castelo em 1952, pela placa que tinham no confortável camarote da primeira classe.

Dizia~se que o motor a diesel que tinham, penso que de oito ou dez cilindros, tinham sido construídos pela Alemanha nazi para os seus submarinos. Nunca comprovei este detalhe. Calavam mais de um metro e meio pelo que só vi uma vez o Formosa no porto de Xime na maré cheia. Mas que teriam chegado a Bambadinca antes da guerra.

Da última vez que viajei nele foi no fim da especialidade, em Bolama, com destino a Bissau acompanhado de mais de 300 militares que saíam do CIM [Centro de Instrução Militar]. Lembro-me de que viajou connosco o Capitão Moás, que era de Cavalaria.

Quanto ao BOR, como os outros, também era do Comando da Defesa Marítima. Era o que se chamava um ferryboat, para transporte de viaturas, cargas a granel, passageiros, gado e tudo o mais que houvesse, incluindo a guarnição de várias unidades militares a nível de companhias e seus apetrechos e viaturas. ~

Tinha dois potentes e ruidosos motores, um a bombordo e outro a estibordo, que lhe permitia grande capacidade de manobra e calava pouco. Mas era lento de exasperar e desconfortável. O sol era abrasador para quem não estivesse abrigado. Levava facilmente mais de 400 passageiros e cargas.Era seguro e muito utilizado para o transporte das guarnições militares.

O Rio Geba já não é, hoje, navegável a montante de Xime. A falta de navegação nesse trecho também contribuiu para o assoreamento do rio em muitos pontos. Mesmo para canoas a motor.

Tentarei trazer mais pormenores dos navios e gentes que desafiavam o Mato Cão.

Abraço
Manuel Amante
____________

Nota de L.G.:

(*) Vd. postes de:

 12 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5455: Memória dos lugares (60): O Rio Geba e o navio Bubaque, do meu pai (Manuel Amante da Rosa)

27 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1787: Embaixador Manuel Amante (Cabo Verde): Por esse Rio Geba acima...

Guiné 63/74 - P5554: Votos de Feliz Natal 2009 e Bom Novo Ano 2010 (24): Várias mensagens de Boas Festas (Editores)

Reproduzimos mais algumas mensagens de Natal de camaradas que se nos dirigiram através de correio electrónico. Os editores e a Tertúlia retribuem e agradecem. 

1. Mensagem de António José Pereira da Costa


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2. Mensagem de José Francisco Robalo Borrego 

Caríssimo Carlos Vinhal e Excelentíssima Família, 
Com a mais elevada consideração e estima venho desejar-vos um Santo Natal e um 2010 o melhor possível em todos os campos! 
Se for possível gostaria que esta Mensagem fosse extensível a todos os camaradas da Tabanca Grande e suas famílias. 
Deixo ao teu critério... 

São estes os votos mais sinceros do camarada e amigo 
JOSÉ BORREGO 
ABRAÇOS 

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3. Mensagem de Jorge Rosales 

Aqui vai um abraço de votos de Boas Festas, com SAUDE, para ti e todo o pessoal da Tabanca. 
Jorge Rosales 

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4. Mensagem de Jorge Teixeira 

Caros Tertulianos Queridos Editores e seu/nosso Cmdt, não menos amado. 
Caro Carlos Vinhal Camaradas (vou discursar?) 
Há uma coisa que não entendo, não percebo nada. Se o Natal é quando um homem quiser, dizem, porque é que só nesta altura, toda a gente envia as Boas Festas? Só para chatear e dar trabalho? (ao CV?) Têm 365 dias para o fazer, não se guardem para o último dia! 

Como eu não sou desses, aproveito esta altura boa para desejar a todos UM BOM NATAL E FELIZ ANO NOVO (será ao contrário?), já agora, como nos velhos tempos, além das Propriedades para o Ano Novo, também um adeus até ao meu regresso

BOAS FESTAS 
cumprim/jteix 
PS: (sempre a politica), outra vez, mas sem conotação. PS: Já alguém pensou que afinal JC também era um ex-combatente? Não foi ele que lutou contra os vendilhões do templo? (logo... lutou...) E como nós não foi vilipendiado, enxovalhado, desprezado e torturado pelos governantes? 
Afinal de que nos queixamos? Temos o que merecemos. 
jt 

 ***/***/***/***/***

5. Mensagem de Francisco Palma 

Estimado Luis Graça; Carlos Vinhal e a TODOS os Camaradas da Tabanca Grande e ex-Combatentes NATAL MUITO FELIZ E UM ANO 2010, PLENO DE SAUDE, AMOR E PAZ 

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6. Mensagem de Luiz Fonseca 

Os meus mais sinceros votos de um ÓPTIMO NATAL e um ANO NOVO pleno de realizações.
Luiz Fonseca 

 ***/***/***/***/*** 

7. Mensagem de Alberto Sousa e Silva 

Que a paz, o amor e a harmonia permaneça nos vossos corações e de toda a familia. Feliz Natal para todos os Tertulianos, Guiné. São os votos de: ALBERTO SILVA CCAÇ 2382 - BUBA 1968/1970 

 ***/***/***/***/*** 

8. Mensagem de Manuel Vieira Moreira: 

Com votos de Santo Natal e Feliz Ano de 2010 para toda a Tabanca, envio mais uma das minhas Canções da Guiné que fazem parte da minha "Guerra". 

Manuel Vieira Moreira, ex-1.º Cabo Mec Auto da CART 1746 

Sangue, Suor e Lágrimas 

Muitas noites tenho passado 
Na Guerra bem acordado 
Por não conseguir dormir. 
Com os olhos sempre alerta 
Pois é sempre pela certa 
Que os Turras cá possam vir. (Bis) 

Certa noite fui acordado 
E por estrondos alarmado 
Às duas da madrugada. 
Mas rapidez é comigo 
Corri logo a um abrigo 
P"ra responder de rajada. (Bis) 

A nossa bela Nação 
Defendo-a do coração 
Estas são as minhas dádivas. 
Misturadas com a dor 
Lágrimas, Sangue e Suor 
Suor, Sangue e Lágrimas. (Bis)

(Final) 

Do Fado: Saudade, Silêncio e Sombra 
XIME, 20 de Dezembro de 1968 

Um Abraço para todos 

 ***/***/***/***/*** 

9. Mensagem de António Graça de Abreu: 

Com os desejos de um Feliz Natal e um excelente Ano Novo 2010, 
Um abraço, 
António Graça de Abreu

__________ 

Nota de CV: 

Guiné 63/74 - P5553: Memórias de um alferes capelão (Arsénio Puim, BART 2917, Dez 69/ Mai 71) (6): O Geba e as viagens do Bubaque



Guiné > Rio Geba > A caminho de Bissau > 1968 ou 1969 > O Fur Mil Carlos Marques dos Santos, da CART 2339, Mansambo, 1968/69, num dos típicos barcos civis de transporte de pessoal e de mercadoria, que fazia a ligação Bambadinca-Bissau-Bambadinca, passando pela temível Ponta Varela, na confluência do Rios Geba e Corubal e o assustador Mato Cão, no Geba Estreito, entre o Xime e Bambadinca. Estes barcos (alguns ligados a empresas comerciais, como a Casa Gouveia) tinham, como principal cliente a Manutenção Militar. Pelo Xime e por Bambadinca passava o "ventre da guerra" de toda a Zona Leste. (Não tenho a certeza se este era o "Bubaque", que pertencia ao pai do embaixador Manuel Amanante da Rosa, membro da nossa Tabanca Grande).

Foto: © Carlos Marques dos Santos (2006). Direitos reservados.


1. Texto de Arsénio Puim, escrito originalmente em resposta a um comentário de Manuel Amante da Rosa (*):

13 de Dezembro de 2009
Luis Graça



Mando um pequeno trabalho relativo ao comentário amigo de Manuel Amante da Rosa, sobre o «Bubaque». Também mandei hoje um comentário para José Marcelino Martins, com uma info.




2. Recordando... VI > Ainda o Geba e o "Bubaque"

Começo por enviar um abraço ao nosso camarada Manuel Amante da Rosa (**), cujo texto, publicado na sequência das minhas memórias sobre o rio Geba e a memorável viagem no «Bubaque», apreciei muito, em si e pelo encontro que nos proporcionou.

Como este mundo é pequeno e como é grande o poder deste blogue!

Obrigado pelos dados que nos forneceu sobre a «biografia» do histórico «Bubaque» e a carreira, que ele desempenhava com tanta proficiência, entre Bissau e Bambadinca.

Esta foi a minha viagem de eleição no território da Guiné, pela sua originalidade, pela sua distância e pelo seu encanto. O Geba estreito constituiu, de facto, o troço mais palpitante, nomeadamente o Mato Cão – até o nome não sabe bem – onde, desta vez, não estava o nosso alferes Cabral, de Missirá, para ver o barco passar e nos proteger. O trajecto do Geba largo, até ao Xime, eu já o tínha percorrido, em LDG, quando o nosso Batalhão deixou Bissau e veio para Bambadinca, mas era de noite e foi às escuras.

A viagem do «Bubaque», desde as 10 horas às cinco da tarde - não sei se parámos em algum porto intermédio, como o Xime, já não me lembro - correu muito bem, com muita ordem, boa convivência e sem qualquer problema. Foi um espectáculo permanente oferecido aos nossos olhos e que, como em outras ocasiões, me fez pensar e sentir: que pena a guerra!...

Julgo que o rio Geba é um importante recurso natural da Guiné, com grandes potencialidades, inclusive turísticas, pela sua navegabilidade e beleza, pela curiosidade do macaréu, pela sua importância piscícola assim como para a cultura do arroz nas bolanhas marginais.

E o mesmo se pode dizer do Corubal – não conheço os outros rios – que também é navegável, mas não era navegado na altura, por não oferecer segurança em razão da ocupação e controle da linha do Corubal pelos guerrilheiros.

Não sei o que acontece hoje, após a guerra. É possível que, com o livre trânsito das vias terrestres, as carreiras fluviais tenham perdido importância, ou não. Mas se eu voltasse à Guiné, gostaria de fazer, precisamente, a mesma viagem no Geba, que, afinal, não acabou em Bissau.

Depois de dormir uma noite no «Vaticano» - assim se chamava a residência do Capelão Chefe e onde ficavam os capelães que estavam no mato quando se deslocavam a Bissau – embarquei de novo na manhã do dia seguinte para Bolama, onde decorreu um encontro dos capelães militares do território.

Desta vez, o barco, ainda de menores dimensões, era o «Corubal» - não sei qual era a empresa proprietária –, que desceu o Canal do Geba (que o nosso Batalhão tinha subido alguns meses antes no Carvalho Araújo), circundou a costa leste da zona continental, passou ao largo da ilha das Cobras e a ilha das Areias, e três horas e meia depois aportava na majestosa e decadente antiga capital da Guiné, na excelente ilha de Bolama.

Arsénio Puim