Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
terça-feira, 17 de fevereiro de 2015
Guiné 63/74 - P14270: Parabéns a você (862): António Carvalho, ex-Fur Mil Enf da CART 6250 (Guiné, 1972/74) e Fernando Chapouto, ex-Fur Mil Op Esp da CCAÇ 1426 (Guiné, 1965/67)
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Nota do editor
Último poste da série de 16 de fevereiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14263: Parabéns a você (861): António Eduardo Carvalho, ex-Cap Mil Inf da CCAÇ 3 e CCAÇ 19 (Guiné, 1974)
segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015
Guiné 63/74 - P14269: Agenda cultural (376): Sessão de apresentação do Projecto "MGF, NÃO", dia 19 de Fevereiro de 2015, a partir das 14h20, no Edifício Municipal, Campo Grande n.º 25, Lisboa (Beja Santos)
C O N V I T E
SESSÃO DE APRESENTAÇÃO PROJECTO "MGF, NÃO", DIA 19 DE FEVEREIRO DE 2015, A PARTIR DAS 14H20, NO EDIFÍCIO MUNICIPAL, CAMPO GRANDE, 25 - SALA 1, LISBOA
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Notas do editor
MGF - Mutilação Genital Feminina, vd. os sítios da APAV e da Aministia Internacional Portugal
Último poste da série de 16 de Fevereiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14265: Agenda cultural (379): Apresentação do livro "Dois Destinos, Dois Amigos", de José Alvarez, dia 19 de Fevereiro de 2015, pelas 18h30, na Livraria Ler Devagar, em Lisboa
Guiné 63/74 - P14268: Historiografia da presença portuguesa em África (54): Revista de Turismo, jan-fev 1956, número especial dedicado à então província portuguesa da Guiné: monumentos - Parte II (Mário Vasconcelos): o moderno aeroporto de Bissau e o cais do Pidjiguiti
Guiné > Bissau > 1956 > O modermo aeroporto de Bissau e o cais do Pidjiguiti...
Imagens de zincogravuras, reproduzidas, com a devida vénia, de Turismo - Revista de Arte, Paisagem e Costumes Portugueses, jan/fev 1956, ano XVIII, 2ª série, nº 2. (*).
Digitalizações: Mário Vasconcelos (2015). [Edição: LG]
Guiné > Bissau > s/d > Aeroporto Craveiro Lopes. Bilhete Postal, Colecção "Guiné Portuguesa, 121". (Edição Foto Serra, C.P. 239 Bissau. Impresso em Portugal, Imprimarte, SARL).
Colecção: Agostinho Gaspar / Digitalizações e edição: Luís Graça & Camaradas da Guiné (2010).
1. As duas imagens de cima, a preto e branco, são uma gentileza do nosso camarada Mário Vasconcelos [,ex-alf mil trms, CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, COT 9 e CCS/BCAÇ 4612/72,Mansoa, e Cumeré, 1973/74; foto atual à direita] que descobriu um exemplar, já raro, desta edição da revista Turismo, no espólio do seu falecido pai.
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Notas do editor:
Último poste da série > 9 de fevereiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14236: Historiografia da presença portuguesa em África (53): Revista de Turismo, jan-fev 1956, número especial dedicado à então província portuguesa da Guiné: anúncios de casas comerciais - Parte X (Mário Vasconcelos): Bissau, cidadezinha colonial, em 1956, onde chegam as modas de Lisboa
Vd. também poste de 3 de fevereiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14213: Historiografia da presença portuguesa em África (53): Revista de Turismo, jan-fev 1956, número especial dedicado à então província portuguesa da Guiné: monumentos - Parte I (Mário Vasconcelos): destaque para o edifício da administração civil (Bissau) e o monumento aos pilotos italianos mortos em 1931 (Bolama)
Guiné 63/74 - P14267: Feliz Ano Novo Chinês 新年快樂 Happy New Year - Cabra 羊 Goat (Virgílio Valente / Wai Tchi Lone, ex-alf mil, CCAÇ 4142, Gampará, 1972/74)
1. Mensagem do nosso camarada Virgílio Valente [Wai Tchi Lone, em chinês], que vive e trabalha em Macau,, há mais de 2 décadas; ex- alf mil, CCAÇ 4142, Gampará, 1972/74; foto atual à esquerda; agradecemos e retribuímos os votos de Feliz Ano Novo Chinês, e fazemos, da nossa partem votos para que seja no ano da Cabra que o nosso camarada Wai Tchi Lone nos mande as prometidas fotos de Gampará ou do tempo da tropa para a gente formalizar a sua entrada na Tabanca Grande]:
Data: 16 de fevereiro de 2015 às 16:31
Assunto: Feliz Ano Novo Chinês 新年快樂 Happy New Year - Cabra 羊 Goat
Feliz Ano Novo Chinês
Assunto: Feliz Ano Novo Chinês 新年快樂 Happy New Year - Cabra 羊 Goat
Feliz Ano Novo Chinês
Guiné 63/74 - P14266: Convívios (650): Encontro do pessoal do Batalhão de Cavalaria 3846 (Companhia Independente), dia 15 de Março de 2015, na Batalha (Delfim Rodrigues)
Nota do editor
Último poste da série de 24 de janeiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14180: Convívios (649): Rescaldo do último Encontro da Magnífica Tabanca da Linha levado a efeito no passado dia 22 de Janeiro de 2015 (José Manuel Matos Dinis)
Guiné 63/74 - P14265: Agenda cultural (375): Apresentação do livro "Dois Destinos, Dois Amigos", de José Alvarez, dia 19 de Fevereiro de 2015, pelas 18h30, na Livraria Ler Devagar, em Lisboa
Convite para a apresentação do livro "Dois Amigos, Dois Destinos" de José Alvarez, Editora Âncora, a ter lugar no próximo dia 19 de Fevereiro pelas 18h30 na Livraria Ler Devagar, em Lisboa.
A obra será apresentada pelo Eng.º Fernando Tabanez Ribeiro e pelo Dr. Mário Beja Santos.
Sinopse:
A trama inicia-se em Cabo Verde, num cenário de intrigas da aristocracia colonial e da relação de poder com os locais. Com a Guerra Colonial em pano de fundo, a acção desloca-se mais tarde para a Guiné e, finalmente, para Lisboa, onde o jovem guineense universitário Eduardo conhece Joana, por quem se enamora, e o companheiro de estudos Tomás, que, tal como ele, é jogador de rugby.
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Nota do editor
Último poste da série de 12 de fevereiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14244: Agenda cultural (378): A banda musical "Melech Mechaya" [leia-se: o rei da festa...] vai animar a longa louca noite de "Sexta-feira 13", em Montalegre, a rija capital do Barroso e do misticismo... Vivam os folgazões e prazenteiros barrosões! Vivam os nossos camaradas transmontanos!
A obra será apresentada pelo Eng.º Fernando Tabanez Ribeiro e pelo Dr. Mário Beja Santos.
Sinopse:
A trama inicia-se em Cabo Verde, num cenário de intrigas da aristocracia colonial e da relação de poder com os locais. Com a Guerra Colonial em pano de fundo, a acção desloca-se mais tarde para a Guiné e, finalmente, para Lisboa, onde o jovem guineense universitário Eduardo conhece Joana, por quem se enamora, e o companheiro de estudos Tomás, que, tal como ele, é jogador de rugby.
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Nota do editor
Último poste da série de 12 de fevereiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14244: Agenda cultural (378): A banda musical "Melech Mechaya" [leia-se: o rei da festa...] vai animar a longa louca noite de "Sexta-feira 13", em Montalegre, a rija capital do Barroso e do misticismo... Vivam os folgazões e prazenteiros barrosões! Vivam os nossos camaradas transmontanos!
Guiné 63/74 - P14264: Notas de leitura (682): "Guerra Colonial - Fotobiografia", por Renato Monteiro e Luís Farinha, Publicações D. Quixote (Mário Beja Santos)
1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 13 de Maio de 2014:
Queridos amigos,
Muitos dirão que a substância desta fotobiografia está completamente ultrapassada. Atenda-se, porém, ao facto de que nos anos 1990 ainda não tinha aparecido um documentário sequenciado sobre a guerra, repertoriando acontecimentos, protagonistas, ações de guerra dos dois lados, apreciações do quotidiano, as orquestrações da propaganda e, enfim, a descolonização.
João de Melo escreveu então com propriedade: “Com exceção de alguns contributos isolados, pouco se tem escrito e falado, entre nós, sobre a guerra colonial. Pode mesmo dizer-se que os traumas por ela causados permanecem apenas ao nível de um registo secreto, mais ou menos individual”.
Este panorama mudou drasticamente, como diariamente podemos testemunhar, aqui, no nosso blogue, porventura a mais vasta fotobiografia jamais organizada por largas centenas de figurantes que, sem qualquer rebuço, falam de si e do que experimentaram. Mas, apesar de tudo, esta Fotobiografia foi um empreendimento editorial cuja importância não se pode iludir como peça histórica.
Um abraço do
Mário
Guerra colonial em fotobiografia
Beja Santos
Quase coincidindo com o lançamento de “Os Anos da Guerra”, coordenado por João de Melo, nas Publicações Dom Quixote, e de que já fizemos ampla referência, Renato Monteiro e Luís Farinha lançaram mão a um projeto ao tempo inovador, uma fotobiografia da guerra colonial, desde 1961 até à descolonização. A primeira edição surgiu em 1990 e a segunda em 1998. Edições que foram um êxito, e percebe-se porquê. Ao tempo, ainda não havia nenhuma história da guerra de África, no todo ou na parte. E o estado de alma dos combatentes ainda era de uma grande hesitação: escrever para quê e para quem? Mostrar as recordações com que fito? Daí perceber-se a observação de João de Melo na introdução desta fotobiografia, tenha-se em atenção que foi escrita há cerca de 25 anos:
“Com a exceção de alguns contributos isolados, pouco se tem escrito e falado, entre nós, sobre a guerra colonial. Pode mesmo dizer-se que os traumas por ela causados permanecem apenas ao nível de um registo secreto, mais ou menos individual. Denunciados por quantos se não conformaram com os lugares, os silêncios, as responsabilidades não assumidas e os preconceitos de um sistema de rasura e de apagamento progressivo das suas consequências, os autores dessas denúncias e análises são ainda hoje objeto de toda a sorte de incompreensões. E, se é verdade que essa guerra modelou o imaginário de muitos escritores e de alguns cineastas portugueses, é pouco provável que ela subsista, no nosso comportamento coletivo, para além de um aparente exercício de ficção”. E a finalizar, o escritor cola-se ao empreendimento que constitui o saber alinhar imagens como ponto de partida para o conhecimento histórico:
“Somos, muitos e muitos de nós, personagens desta Fotobiografia, colhidos por estes lugares, pelos gestos suspensos dos pequenos e grandes atos, sobretudo pela soma das tragédias que em parte explicam o acaso, a sorte e a certeza de estarmos vivos, rendidos à grande e única paixão que é a vida”.
O documental prevalece sobre o estético, há que entender o início da guerra nas três frentes, os embarques de 1961, os protagonistas de Angola, como Mário de Andrade, Joaquim Pinto d'Andrade ou Agostinho Neto, mostrar as plantações de algodão na Baixa do Cassange, as destruições, o contra-ataque, a propaganda. E neste contexto mostra-se uma imagem rara, uma manifestação patriótica junto do palácio do governador da Guiné, em 15 de fevereiro de 1959, de repúdio pela atitude da Comissão de Curadoria das Nações Unidas, e de seguida o Pindjiquiti, Amílcar Cabral e Nino Vieira. E depois o dealbar da insurreição a cargo da FRELIMO.
O prato substância deste escol de imagens denomina-se ação armada, a guerrilha e a contraguerrilha, picadas, colunas, embarques para operações, patrulhamentos, emboscadas, banda desenhada de caráter épico, desativação de minas, viaturas destruídas, aldeamentos bombardeados, devastações de toda a ordem; e golpes de mão, manuais escolares encontrados nas bases dos rebeldes, páginas de diários, metralhadoras antiaéreas, viaturas destruídas; e Angola em toda a sua complexidade de uma guerrilha com diferentes grupos rivais. E noutro segmento, os autores desdobram-se para mostrar as múltiplas manifestações do ganhar confiança junto das populações: construção de escolas, transporte das populações, reordenamentos, confraternizações, brochuras, panfletos, iniciativas do Movimento Nacional Feminino, olhares dos militares para as carências sobretudo dos jovens. Alguém escreve na Guiné em 1970:
“À hora da refeição chega o rapazio. Uma vintena. Trazem latas e, depois de se banquetearem com o que sobeja, correm para o rio, onde se refrescam. Todos os dias almoçamos com a imagem da fome diante de nós”.
E temos o incomensurável quotidiano, o confronto com o desconhecido, a mata temerosa, a precaridade dos elementos, a imagem do cansaço, a chegada de feridos ao hospital, a missa campal, os jogos de futebol, voleibol ou cartas, enfim, as lavadeiras, até brinquedos de criança como uma camioneta Berliet feita com paus.
E a fotobiografia culmina com a descolonização, lanchas ajoujadas com os pertences dos militares na hora da abalada até Lisboa.
Esta fotobiografia, para que não subsistam dúvidas, colheu o triunfo graças ao seu ineditismo. Na viragem do século, tudo mudou, a começar pelo panorama editorial, reformados, sexagenários, septuagenários, aperceberam-se que nada tinham a perder em desencadear o coração e a emoção, sucederam-se os blogues, os desabafos nas redes sociais, multiplicaram-se os colóquios, a história contemporânea, mesmo com sérios embaraços, desatou a ouvir os protagonistas. Mas esta fotobiografia é um pilar incontornável do chamamento à atenção entre as gerações, aquelas imagens, para o bem da História, ali estavam cristalizadas e prontas a serem interpeladas. Como foram e continuaram a ser.
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Nota do editor
Último poste da série de 13 de fevereiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14246: Notas de leitura (681): "Os Princípios do Pan-africanismo", por Charles Olapido Akinde e “Os Condenados da Terra”, por Frantz Fanon (2) (Mário Beja Santos)
Queridos amigos,
Muitos dirão que a substância desta fotobiografia está completamente ultrapassada. Atenda-se, porém, ao facto de que nos anos 1990 ainda não tinha aparecido um documentário sequenciado sobre a guerra, repertoriando acontecimentos, protagonistas, ações de guerra dos dois lados, apreciações do quotidiano, as orquestrações da propaganda e, enfim, a descolonização.
João de Melo escreveu então com propriedade: “Com exceção de alguns contributos isolados, pouco se tem escrito e falado, entre nós, sobre a guerra colonial. Pode mesmo dizer-se que os traumas por ela causados permanecem apenas ao nível de um registo secreto, mais ou menos individual”.
Este panorama mudou drasticamente, como diariamente podemos testemunhar, aqui, no nosso blogue, porventura a mais vasta fotobiografia jamais organizada por largas centenas de figurantes que, sem qualquer rebuço, falam de si e do que experimentaram. Mas, apesar de tudo, esta Fotobiografia foi um empreendimento editorial cuja importância não se pode iludir como peça histórica.
Um abraço do
Mário
Guerra colonial em fotobiografia
Beja Santos
Quase coincidindo com o lançamento de “Os Anos da Guerra”, coordenado por João de Melo, nas Publicações Dom Quixote, e de que já fizemos ampla referência, Renato Monteiro e Luís Farinha lançaram mão a um projeto ao tempo inovador, uma fotobiografia da guerra colonial, desde 1961 até à descolonização. A primeira edição surgiu em 1990 e a segunda em 1998. Edições que foram um êxito, e percebe-se porquê. Ao tempo, ainda não havia nenhuma história da guerra de África, no todo ou na parte. E o estado de alma dos combatentes ainda era de uma grande hesitação: escrever para quê e para quem? Mostrar as recordações com que fito? Daí perceber-se a observação de João de Melo na introdução desta fotobiografia, tenha-se em atenção que foi escrita há cerca de 25 anos:
“Com a exceção de alguns contributos isolados, pouco se tem escrito e falado, entre nós, sobre a guerra colonial. Pode mesmo dizer-se que os traumas por ela causados permanecem apenas ao nível de um registo secreto, mais ou menos individual. Denunciados por quantos se não conformaram com os lugares, os silêncios, as responsabilidades não assumidas e os preconceitos de um sistema de rasura e de apagamento progressivo das suas consequências, os autores dessas denúncias e análises são ainda hoje objeto de toda a sorte de incompreensões. E, se é verdade que essa guerra modelou o imaginário de muitos escritores e de alguns cineastas portugueses, é pouco provável que ela subsista, no nosso comportamento coletivo, para além de um aparente exercício de ficção”. E a finalizar, o escritor cola-se ao empreendimento que constitui o saber alinhar imagens como ponto de partida para o conhecimento histórico:
“Somos, muitos e muitos de nós, personagens desta Fotobiografia, colhidos por estes lugares, pelos gestos suspensos dos pequenos e grandes atos, sobretudo pela soma das tragédias que em parte explicam o acaso, a sorte e a certeza de estarmos vivos, rendidos à grande e única paixão que é a vida”.
O documental prevalece sobre o estético, há que entender o início da guerra nas três frentes, os embarques de 1961, os protagonistas de Angola, como Mário de Andrade, Joaquim Pinto d'Andrade ou Agostinho Neto, mostrar as plantações de algodão na Baixa do Cassange, as destruições, o contra-ataque, a propaganda. E neste contexto mostra-se uma imagem rara, uma manifestação patriótica junto do palácio do governador da Guiné, em 15 de fevereiro de 1959, de repúdio pela atitude da Comissão de Curadoria das Nações Unidas, e de seguida o Pindjiquiti, Amílcar Cabral e Nino Vieira. E depois o dealbar da insurreição a cargo da FRELIMO.
O prato substância deste escol de imagens denomina-se ação armada, a guerrilha e a contraguerrilha, picadas, colunas, embarques para operações, patrulhamentos, emboscadas, banda desenhada de caráter épico, desativação de minas, viaturas destruídas, aldeamentos bombardeados, devastações de toda a ordem; e golpes de mão, manuais escolares encontrados nas bases dos rebeldes, páginas de diários, metralhadoras antiaéreas, viaturas destruídas; e Angola em toda a sua complexidade de uma guerrilha com diferentes grupos rivais. E noutro segmento, os autores desdobram-se para mostrar as múltiplas manifestações do ganhar confiança junto das populações: construção de escolas, transporte das populações, reordenamentos, confraternizações, brochuras, panfletos, iniciativas do Movimento Nacional Feminino, olhares dos militares para as carências sobretudo dos jovens. Alguém escreve na Guiné em 1970:
“À hora da refeição chega o rapazio. Uma vintena. Trazem latas e, depois de se banquetearem com o que sobeja, correm para o rio, onde se refrescam. Todos os dias almoçamos com a imagem da fome diante de nós”.
E temos o incomensurável quotidiano, o confronto com o desconhecido, a mata temerosa, a precaridade dos elementos, a imagem do cansaço, a chegada de feridos ao hospital, a missa campal, os jogos de futebol, voleibol ou cartas, enfim, as lavadeiras, até brinquedos de criança como uma camioneta Berliet feita com paus.
E a fotobiografia culmina com a descolonização, lanchas ajoujadas com os pertences dos militares na hora da abalada até Lisboa.
Esta fotobiografia, para que não subsistam dúvidas, colheu o triunfo graças ao seu ineditismo. Na viragem do século, tudo mudou, a começar pelo panorama editorial, reformados, sexagenários, septuagenários, aperceberam-se que nada tinham a perder em desencadear o coração e a emoção, sucederam-se os blogues, os desabafos nas redes sociais, multiplicaram-se os colóquios, a história contemporânea, mesmo com sérios embaraços, desatou a ouvir os protagonistas. Mas esta fotobiografia é um pilar incontornável do chamamento à atenção entre as gerações, aquelas imagens, para o bem da História, ali estavam cristalizadas e prontas a serem interpeladas. Como foram e continuaram a ser.
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Nota do editor
Último poste da série de 13 de fevereiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14246: Notas de leitura (681): "Os Princípios do Pan-africanismo", por Charles Olapido Akinde e “Os Condenados da Terra”, por Frantz Fanon (2) (Mário Beja Santos)
Guiné 63/74 - P14263: Parabéns a você (861): António Eduardo Carvalho, ex-Cap Mil Inf da CCAÇ 3 e CCAÇ 19 (Guiné, 1974)
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Nota do editor
Último poste da série de 14 de fevereiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14248: Parabéns a você (860): Senhora Dona Clara Schwarz, Amiga Centenária, Grã-Tabanqueira
Nota do editor
Último poste da série de 14 de fevereiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14248: Parabéns a você (860): Senhora Dona Clara Schwarz, Amiga Centenária, Grã-Tabanqueira
domingo, 15 de fevereiro de 2015
Guiné 63/74 - P14262: In memoriam (218): morreu um "homem grande", o nosso camarada Amadú Bailo Jaló (Bafatá, 1940 - Lisboa, 2015), que fez parte do Batalhão de Comandos Africanos e da CCAÇ 21, um combatente valoroso e um homem de valores (Virgínio Briote)
Amadu Bailo Jalo (Bafatá, 1940 - Lisboa, 2015) |
Data: 15 de fevereiro de 2015 às 13:27
Assunto: Amadú Bailo Jaló
Caros Camaradas,
Faleceu hoje no Hospital Militar, no Lumiar, o Amadú. Ainda não se conhecem datas e locais do funeral. (*)
Abraço
V Briote
2. Comentário de L.G.:
Estou fora de Lisboa. Mais uma brutal notícia que, embora não nos colhendo de surpresa, nos entristece profundamente: sabíamos que o Amadu estava
internado há algumas semanas e que a saúde já era precária há anos...
Íamos sabendo notícias dele através do Virgínio que foi, para ele, mais do que um camrada e um amigo.... Tinha planeado ir visitá-lo ao Hospital e ainda há dias falei dele a um dos meus alunos que trabalha como enfermeiro no hospital militar, no Lumiar. Infelizmente já não irei a tempo de poder estar ao seu velório e prestar-lhe a minha última homenagem. Terei que o fazer à distãncia,
Íamos sabendo notícias dele através do Virgínio que foi, para ele, mais do que um camrada e um amigo.... Tinha planeado ir visitá-lo ao Hospital e ainda há dias falei dele a um dos meus alunos que trabalha como enfermeiro no hospital militar, no Lumiar. Infelizmente já não irei a tempo de poder estar ao seu velório e prestar-lhe a minha última homenagem. Terei que o fazer à distãncia,
Vou pedir aoi Virgínio que nos faça uma pequena resenha biográfica (**): ele ajudou o Amadu a escrever e a publicar as suas memórias (Amadu Bailo Djaló - "Guineense, Comando, Português", Lisboa, Associação de Comandos, 2010, 229 pp, + fotos, edição esgotada).
Foi pena que, com a degradação da saúde do Amadu, nestes últimos anos, não tenha podido sair, como planeado, o 2º volume, com as aventuras e desvanturas do autor, a seguir à independência do seu pais. Vivia há largos em Portugal, na Amadora, com uma filha e netos. E de tempos a tempos ia até Londres juntar-se ao filho.
Acabou a sua longa carreira militar (iniciada em 1962) como alf comando graduado, na CCAÇ 21, comandada pelo tenente cmd grad Jamanca, um dos primeiros camaradas guineenses a ser fuzilado pelo PAIGC.
Os sentidos pêsamos à família, por parte dos editores, colaboradores e demais membros da Tabanca Grande. Morre uma homem bom, um grande e bravo combatente, um digno muçulmano e um português que se orgulhava das suas origens como fula e guineense.
_________________
Notas do editor:
(*) Último poste da série > 14 de fevereiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14257: In Memoriam (217): Britt-Marie, esposa do nosso camarada José Belo, faleceu no passado dia 12 de Fevereiro
(**) Vd,. poste de 21 de abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4229: Os nossos camaradas guineenses (7): Amadu Djaló, as memórias do Comando Africano continuam (Virgínio Briote)
(...) As memórias, como já referi, cobrem todos os anos da guerra. De ainda antes, até. O nascimento em Bafatá, a frequência da escola corânica e depois a da missão católica, de uns padres italianos, a permanência de dois meses no mato para a cerimónia da circuncisão, aos 13 anos a viagem com o irmão mais velho a Boké, os negócios da venda de tecidos e bugigangas na República da Guiné-Conackry, as saudades dos pais e da vida de Bafatá e o regresso à cidade natal.
A incorporação na tropa deu uma grande volta à vida dele. O contacto com os militares europeus, a passagem por Bolama, Cacine, Bedanda, Farim, o 1º ataque do PAIGC a Farim, as 3 emboscadas, no mesmo dia, na estrada Cuntima-Farim, o 1º morto do PAIGC que ele viu ser arrastado pelo soldado Solda, do BCav 490, em 1964, o regresso à CCS do QG, a entrada para os comandos do Saraiva. Uma grande volta na vida dele.
Com o Saraiva viu coisas que nunca imaginou. Viu tudo. Inaugurou a pista de Madina do Boé. Desembarcou de uma das cinco DO 27, que levaram o grupo para Madina. Ao som de tambores, percorreram o trajecto da pista, acabada nesse mesmo dia, até ao aquartelamento. Episódios de Madina que não esquece: a ida com o Saraiva e com o régulo a Hore Moure, na Rep. da Guiné-Conackry, os três vestidos à fula, com duas granadas ofensivas cada um com o grupo emboscado a cerca de 500 metros. A entrada nas casas, que serviam de pouso à ainda incipiente guerrilha apenas durante o dia. A história da mina que matou quase metade do grupo em Gobige. Os funerais em Bissau, a reunião em Brá para discutirem os procedimentos que tinham tomado em Madina e logo a seguir a ida para o Oio, com mais 11 camaradas. Nesta acção, indescritível para os nossos olhos de agora, viu mesmo tudo o que de pior a guerra, qualquer guerra, tem. Crianças, velhos, paralíticos, gado, ficaram-lhe na memória como os principais actores dessa saída.
E depois, Burontoni e o Malan, um miúdo de 7 ou 8 anos que vivia com os pais, junto a um acampamento da guerrilha. Ninguém queria ficar com o Malan. O Saraiva não queria mascotes, o capitão L., da Companhia local respondeu negativo. Amadu trouxe a criança para Brá. Depois, com 4 metros de tecido que um camarada tinha apanhado num acampamento, foi a um alfaiate fazer 4 calções e 3 camisas. Uns sapatos e uns chinelos completaram o guarda-roupa do Malan, que teve de mudar o apelido para Djaló.
Malan Djaló passou a viver na grande família Djaló. Nunca ninguém soube a história do rapaz até 1973. Malan cresceu, andou na escola, aprendeu bem o português. Quando chegou a independência voltou a ver os pais, mas à noite regressou à família Djaló. Passou a dar aulas de português em quartéis do PAIGC, até conhecer uma jovem por quem se apaixonou. Casou e nasceu-lhe uma menina. A sorte da vida não estava com o Malan. Uma doença rápida, em dias, matou-o numa cama do hospital de Bafatá. Um ano depois, a menina morreu também, vitima da mesma doença, presume o Amadu.
Histórias, umas atrás das outras, que a guerra foi muito longa e foi feita de muitos episódios. Tem sido este o meu trabalho, caros Camaradas. Programei a entrega do texto para o final deste mês. (...)
Vd. ainda poste de 13 de abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6149: Amadú Bailo Djaló, meu camarada:
tem o seu dia de festa no dia 15, no Museu Militar, às 18h (Virgínio Briote)
(...) O Amadu Djaló foi meu Camarada nos Comandos em Brá, entre 1965 e 1966, embora não tenha feito parte do meu grupo. Em 1964 pertenceu ao grupo do então Alferes Maurício Saraiva e em 1965 transitou para o do Alferes Luís Rainha. Acabada a Companhia de Comandos do CTIG, depois de uma breve estadia em Bafatá,. foi para Fá Mandinga, para colaborar na formação dos Comandos Africanos e depois participou em numerosas operações até ao fim do conflito.
O livro começa por falar da vida na cidade natal, Bafatá, do convívio com os Pais, Irmãos, Avô e os amigos mais chegados. A ir e a regressar, acompanhando um primo, feito djila [1], ao Senegal. A hesitar na incorporação, a tentar adiar, enquanto abria uma banca para negociar, no Mercado de Bafatá.
Não pôde evitar, fugir não fazia parte da sua maneira de ser, nem lhe cabia na cabeça deixar os Pais e a família para trás. Ainda faltavam uns meses para começar a guerra a sério, mas já havia cheiro a pólvora no ar.
Depois da recruta em Bolama, entre 1962 e 1964 deambulou como condutor por Cacine, Bedanda, Catió, Cufar e Farim. Removeu abatizes, viu os efeitos das primeiras minas e caiu nas primeiras emboscadas. Mas naquele tempo ainda era possível ir de Farim a Susana, em coluna, em viagens intermináveis.
Cansado de ser “rebenta minas”, pediu a transferência para a 4ª Rep, do QG, em Bissau. Foi-lhe concedida. No parque das viaturas da C.C.S. do Q.G. teve a sorte e o contentamento de encontrar o seu amigo, o Tomás Camará, que estava no grupo de Comandos do então Alferes Saraiva.
- Comandos? Que é isso de Comandos de Saraiva?
Não precisou de muitas respostas para, tempos depois, estar em Madina do Boé com o grupo. Para participar, e de que maneira, num acontecimento que o marcou para sempre: a mina no pontão do Gobige, na estrada de Contabane para Madina, que matou todos os Camaradas, menos um, que vinham na segunda e última viatura.
Um grupo de vinte homens, repartido em duas viaturas, de um momento para o outro, estava reduzido a metade. Não podiam ir todos buscar socorro a Madina, a cerca de trinta quilómetros de distância. Alguém tinha que ficar ali, a amparar os feridos, a guardar os mortos. Uma tarde que pareceu um ano, junto à estrada para Madina, a assistir ao morre este, agora aquele, até à noite, quando chegou o socorro. E, logo dois ou três dias depois, foram para o Oio e a história quase se repetiu. Porque a guerra é assim, é feita de repetições, os que morreram já não morrem outra vez, morrem outros, os feridos é que podem ter mais sorte, podem voltar a ser feridos outra vez.
Já quase no final da comissão do grupo foram ao Como. Outra odisseia. O grupo de Saraiva, como lhe chamavam, despedia-se numa operação, a que o alferes pôs o nome de Ciao. Tudo correu bem a princípio. Depois, já na retirada, o alferes não quis sair de lá sem trazer a MP [2], que alguns afirmavam ter sido usada contra eles. Alguns ofereceram-se para voltarem ao acampamento em chamas. Dos dez que reentraram nas barracas, um morreu, um ficou ileso e os restantes foram atingidos pelo fogo inimigo.
O grupo de Saraiva acabou e o Amadú achou que já era tempo de ter um pouco de paz. Afinal era um condutor encartado e era mais antigo que muitos. E como condutor ganhava mais 150 escudos que nos Comandos de Brá e, na altura, 150 escudos davam para comprar muito arroz.
(**) Vd,. poste de 21 de abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4229: Os nossos camaradas guineenses (7): Amadu Djaló, as memórias do Comando Africano continuam (Virgínio Briote)
(...) As memórias, como já referi, cobrem todos os anos da guerra. De ainda antes, até. O nascimento em Bafatá, a frequência da escola corânica e depois a da missão católica, de uns padres italianos, a permanência de dois meses no mato para a cerimónia da circuncisão, aos 13 anos a viagem com o irmão mais velho a Boké, os negócios da venda de tecidos e bugigangas na República da Guiné-Conackry, as saudades dos pais e da vida de Bafatá e o regresso à cidade natal.
A incorporação na tropa deu uma grande volta à vida dele. O contacto com os militares europeus, a passagem por Bolama, Cacine, Bedanda, Farim, o 1º ataque do PAIGC a Farim, as 3 emboscadas, no mesmo dia, na estrada Cuntima-Farim, o 1º morto do PAIGC que ele viu ser arrastado pelo soldado Solda, do BCav 490, em 1964, o regresso à CCS do QG, a entrada para os comandos do Saraiva. Uma grande volta na vida dele.
Com o Saraiva viu coisas que nunca imaginou. Viu tudo. Inaugurou a pista de Madina do Boé. Desembarcou de uma das cinco DO 27, que levaram o grupo para Madina. Ao som de tambores, percorreram o trajecto da pista, acabada nesse mesmo dia, até ao aquartelamento. Episódios de Madina que não esquece: a ida com o Saraiva e com o régulo a Hore Moure, na Rep. da Guiné-Conackry, os três vestidos à fula, com duas granadas ofensivas cada um com o grupo emboscado a cerca de 500 metros. A entrada nas casas, que serviam de pouso à ainda incipiente guerrilha apenas durante o dia. A história da mina que matou quase metade do grupo em Gobige. Os funerais em Bissau, a reunião em Brá para discutirem os procedimentos que tinham tomado em Madina e logo a seguir a ida para o Oio, com mais 11 camaradas. Nesta acção, indescritível para os nossos olhos de agora, viu mesmo tudo o que de pior a guerra, qualquer guerra, tem. Crianças, velhos, paralíticos, gado, ficaram-lhe na memória como os principais actores dessa saída.
E depois, Burontoni e o Malan, um miúdo de 7 ou 8 anos que vivia com os pais, junto a um acampamento da guerrilha. Ninguém queria ficar com o Malan. O Saraiva não queria mascotes, o capitão L., da Companhia local respondeu negativo. Amadu trouxe a criança para Brá. Depois, com 4 metros de tecido que um camarada tinha apanhado num acampamento, foi a um alfaiate fazer 4 calções e 3 camisas. Uns sapatos e uns chinelos completaram o guarda-roupa do Malan, que teve de mudar o apelido para Djaló.
Malan Djaló passou a viver na grande família Djaló. Nunca ninguém soube a história do rapaz até 1973. Malan cresceu, andou na escola, aprendeu bem o português. Quando chegou a independência voltou a ver os pais, mas à noite regressou à família Djaló. Passou a dar aulas de português em quartéis do PAIGC, até conhecer uma jovem por quem se apaixonou. Casou e nasceu-lhe uma menina. A sorte da vida não estava com o Malan. Uma doença rápida, em dias, matou-o numa cama do hospital de Bafatá. Um ano depois, a menina morreu também, vitima da mesma doença, presume o Amadu.
Histórias, umas atrás das outras, que a guerra foi muito longa e foi feita de muitos episódios. Tem sido este o meu trabalho, caros Camaradas. Programei a entrega do texto para o final deste mês. (...)
Vd. ainda poste de 13 de abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6149: Amadú Bailo Djaló, meu camarada:
tem o seu dia de festa no dia 15, no Museu Militar, às 18h (Virgínio Briote)
(...) O Amadu Djaló foi meu Camarada nos Comandos em Brá, entre 1965 e 1966, embora não tenha feito parte do meu grupo. Em 1964 pertenceu ao grupo do então Alferes Maurício Saraiva e em 1965 transitou para o do Alferes Luís Rainha. Acabada a Companhia de Comandos do CTIG, depois de uma breve estadia em Bafatá,. foi para Fá Mandinga, para colaborar na formação dos Comandos Africanos e depois participou em numerosas operações até ao fim do conflito.
O livro começa por falar da vida na cidade natal, Bafatá, do convívio com os Pais, Irmãos, Avô e os amigos mais chegados. A ir e a regressar, acompanhando um primo, feito djila [1], ao Senegal. A hesitar na incorporação, a tentar adiar, enquanto abria uma banca para negociar, no Mercado de Bafatá.
Não pôde evitar, fugir não fazia parte da sua maneira de ser, nem lhe cabia na cabeça deixar os Pais e a família para trás. Ainda faltavam uns meses para começar a guerra a sério, mas já havia cheiro a pólvora no ar.
Depois da recruta em Bolama, entre 1962 e 1964 deambulou como condutor por Cacine, Bedanda, Catió, Cufar e Farim. Removeu abatizes, viu os efeitos das primeiras minas e caiu nas primeiras emboscadas. Mas naquele tempo ainda era possível ir de Farim a Susana, em coluna, em viagens intermináveis.
Cansado de ser “rebenta minas”, pediu a transferência para a 4ª Rep, do QG, em Bissau. Foi-lhe concedida. No parque das viaturas da C.C.S. do Q.G. teve a sorte e o contentamento de encontrar o seu amigo, o Tomás Camará, que estava no grupo de Comandos do então Alferes Saraiva.
- Comandos? Que é isso de Comandos de Saraiva?
Não precisou de muitas respostas para, tempos depois, estar em Madina do Boé com o grupo. Para participar, e de que maneira, num acontecimento que o marcou para sempre: a mina no pontão do Gobige, na estrada de Contabane para Madina, que matou todos os Camaradas, menos um, que vinham na segunda e última viatura.
Um grupo de vinte homens, repartido em duas viaturas, de um momento para o outro, estava reduzido a metade. Não podiam ir todos buscar socorro a Madina, a cerca de trinta quilómetros de distância. Alguém tinha que ficar ali, a amparar os feridos, a guardar os mortos. Uma tarde que pareceu um ano, junto à estrada para Madina, a assistir ao morre este, agora aquele, até à noite, quando chegou o socorro. E, logo dois ou três dias depois, foram para o Oio e a história quase se repetiu. Porque a guerra é assim, é feita de repetições, os que morreram já não morrem outra vez, morrem outros, os feridos é que podem ter mais sorte, podem voltar a ser feridos outra vez.
Já quase no final da comissão do grupo foram ao Como. Outra odisseia. O grupo de Saraiva, como lhe chamavam, despedia-se numa operação, a que o alferes pôs o nome de Ciao. Tudo correu bem a princípio. Depois, já na retirada, o alferes não quis sair de lá sem trazer a MP [2], que alguns afirmavam ter sido usada contra eles. Alguns ofereceram-se para voltarem ao acampamento em chamas. Dos dez que reentraram nas barracas, um morreu, um ficou ileso e os restantes foram atingidos pelo fogo inimigo.
O grupo de Saraiva acabou e o Amadú achou que já era tempo de ter um pouco de paz. Afinal era um condutor encartado e era mais antigo que muitos. E como condutor ganhava mais 150 escudos que nos Comandos de Brá e, na altura, 150 escudos davam para comprar muito arroz.
Até que apareceu lá na 4ª Rep, um alferes, o Luís Rainha, do grupo Centuriões, que tinha substituído o grupo de Saraiva, com uma autorização da 1ª Rep para o levar, outra vez, para os Comandos de Brá.
Pouco tempo depois, entrou numa nomadização, prevista para durar 48 horas, na zona de Faquina Mandinga, Sitató, na fronteira com o Senegal. Uma nomadização que acabou por se tornar num golpe de mão, guiados pelas vozes e gargalhadas dos guerrilheiros, que se achavam seguros até verem os Comandos entrarem pelo acampamento.
E, outra vez em Maio, tal como no ano anterior com o grupo de Saraiva, nova teimosia, desta vez do Rainha. Ao mesmo acampamento, no Como, para vingar as baixas que o 'grupo de Saraiva' tinha tido. Entre outro material trouxeram a pistola, de coronha nacarada, do Pansau Na Isna e o chapéu chinês dele, também.
Depois a Companhia de Comandos do CTIG acabou. E sempre que a unidade acabava, ou alguma coisa não lhe agradava, o Amadú pedia transferência para a 4ª Rep, a sua eterna casa-mãe.
Tempos depois, estava em Bafatá, quando chegou uma ordem do General Spínola para todos os Comandos Guineenses se concentrarem em Bissau, para fazerem provas e novo curso para a constituição de uma Companhia de Comandos Africanos.
Depois, foram operações atrás de operações da 1ª Companhia de Comandos Africanos, comandada pelo Capitão João Bacar Djaló [, na foto a esquerda, ao meio], enquanto, em Fá Mandinga, se formavam outras Companhias que iriam constituir o Batalhão de Comandos, sob a orientação do então Capitão Almeida Bruno.
Nos anos que durou a guerra participou em acções em todo o território onde a presença do PAIGC se fazia sentir. Percorreu matas e carreiros de Bambadinca, Canquelifá, Cobiana, Conakry, Cumbamori, Cuntima, Fá Mandinga, Farim, Gandembel, Gadamael, Gabu, Guidage, Guileje, Madina do Boé, Mansabá, Morés, Piche, passou e voltou a passar pelos rios e margens do Cacheu, do Geba, do Corubal, chafurdou e chorou nos tarrafos, em operações umas atrás das outras.
Em 25 de Abril de 1974 andava atrás da guerrilha, na zona de Piche, quando ouviu no rádio de um milícia que tinha havido um golpe militar em Lisboa.
A guerra acabou e começou outra, a luta pela sobrevivência na Guiné-Bissau. A entrega das armas, a vida civil sem amigos, as prisões dos camaradas, os fuzilamentos, a prisão dele e a escapadela numa hora que só costuma acontecer uma vez na vida de um homem, graças a um acto digno e cavalheiresco de um comandante do PAIGC.
A Bissau de Luís Cabral, em 1975, tornou-se uma cidade triste, com recolheres obrigatórios, denúncias, falta de arroz, falta de tudo, menos de 'milho para burro', que um país amigo lhes enviara num navio. O golpe do Nino foi para ele e para muitos o renascer de uma esperança. A seguir veio a desilusão e a viagem para Portugal. (...)
Vd. também os postes:
16 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6168: Lançamento do livro do Amadu Bailo Djaló: Lisboa, Museu Militar, 15 de Abril (1): "Os cobardes, esses, vivem mais, mas nunca hão-de ter música para dançar" (provérbio tradicional guineense)
17 de abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6169: Lançamento do livro do Amadu Bailo Djaló: Lisboa, Museu Militar, 15 de Abril (2): Um grande contador de histórias, um homem bom, um notável condutor de homens...
Pouco tempo depois, entrou numa nomadização, prevista para durar 48 horas, na zona de Faquina Mandinga, Sitató, na fronteira com o Senegal. Uma nomadização que acabou por se tornar num golpe de mão, guiados pelas vozes e gargalhadas dos guerrilheiros, que se achavam seguros até verem os Comandos entrarem pelo acampamento.
E, outra vez em Maio, tal como no ano anterior com o grupo de Saraiva, nova teimosia, desta vez do Rainha. Ao mesmo acampamento, no Como, para vingar as baixas que o 'grupo de Saraiva' tinha tido. Entre outro material trouxeram a pistola, de coronha nacarada, do Pansau Na Isna e o chapéu chinês dele, também.
Depois a Companhia de Comandos do CTIG acabou. E sempre que a unidade acabava, ou alguma coisa não lhe agradava, o Amadú pedia transferência para a 4ª Rep, a sua eterna casa-mãe.
Tempos depois, estava em Bafatá, quando chegou uma ordem do General Spínola para todos os Comandos Guineenses se concentrarem em Bissau, para fazerem provas e novo curso para a constituição de uma Companhia de Comandos Africanos.
Depois, foram operações atrás de operações da 1ª Companhia de Comandos Africanos, comandada pelo Capitão João Bacar Djaló [, na foto a esquerda, ao meio], enquanto, em Fá Mandinga, se formavam outras Companhias que iriam constituir o Batalhão de Comandos, sob a orientação do então Capitão Almeida Bruno.
Nos anos que durou a guerra participou em acções em todo o território onde a presença do PAIGC se fazia sentir. Percorreu matas e carreiros de Bambadinca, Canquelifá, Cobiana, Conakry, Cumbamori, Cuntima, Fá Mandinga, Farim, Gandembel, Gadamael, Gabu, Guidage, Guileje, Madina do Boé, Mansabá, Morés, Piche, passou e voltou a passar pelos rios e margens do Cacheu, do Geba, do Corubal, chafurdou e chorou nos tarrafos, em operações umas atrás das outras.
Em 25 de Abril de 1974 andava atrás da guerrilha, na zona de Piche, quando ouviu no rádio de um milícia que tinha havido um golpe militar em Lisboa.
A guerra acabou e começou outra, a luta pela sobrevivência na Guiné-Bissau. A entrega das armas, a vida civil sem amigos, as prisões dos camaradas, os fuzilamentos, a prisão dele e a escapadela numa hora que só costuma acontecer uma vez na vida de um homem, graças a um acto digno e cavalheiresco de um comandante do PAIGC.
A Bissau de Luís Cabral, em 1975, tornou-se uma cidade triste, com recolheres obrigatórios, denúncias, falta de arroz, falta de tudo, menos de 'milho para burro', que um país amigo lhes enviara num navio. O golpe do Nino foi para ele e para muitos o renascer de uma esperança. A seguir veio a desilusão e a viagem para Portugal. (...)
Vd. também os postes:
16 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6168: Lançamento do livro do Amadu Bailo Djaló: Lisboa, Museu Militar, 15 de Abril (1): "Os cobardes, esses, vivem mais, mas nunca hão-de ter música para dançar" (provérbio tradicional guineense)
17 de abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6169: Lançamento do livro do Amadu Bailo Djaló: Lisboa, Museu Militar, 15 de Abril (2): Um grande contador de histórias, um homem bom, um notável condutor de homens...
Guiné 63/74 - P14261: Fotos à procura de... uma legenda (52): a boeira, de Candoz, também conhecida por alvéola ou lavandisca, noutros sítios (Luís Graça)
Marco de Canaveses > Paredes de Viadores > Candoz > Quinta de Candoz > 14 de fevereiro de 2015 >
Boeira é o nome desta ave, aqui na região. Estamos no limite da Região de Entre Douro e Minho, com o rio Douro (barragem do Carrapatelo) ao fundo e as serras da Aboboreira e Montemuro ao fundo... As boeiras são assim chamadas por estarem aasociadas aos bois de trabalho... Quando se lavrava, com o arado puxado por uma junta de bois, a boeira aparecia imediatamente para apanhar, da terra revolvida, os insetos com que se alimenta... As boieiras tal como outras aves residem por aqui, fazem aqui os seus ninhos... A fauna aqui é diversificada, e inclui javalis... Ainda não tempos a nossa pobre cadalela caiu numa armadilha de apo montada para o javali... Não inclui a boeira numa poema que há tempos escrevo sobre as aves da Tabanca de Candoz... Não sou onitólogo, mas reparo hoje essa injustiça, o meu pecado de omissão (*)...
Foto: © Luís Graça (2015). Todos os direitos reservados
You Tube > Nhabijões > Vídeo (1' 35'') de Luís Graça (2015)
O trator e as boeiras... Antigamente as boieiras seguiam os bois que puxavam o arado... Daí o seu nome... Hoje associam o trator ao seu alimento preferido: os insetos que vivem debaizo da terra... Basta revolver a terra e estrumá-la, para que a boieira venha logo tomar o seu lugar à mesa da mãe natureza...
Alvéola > Com a devida vénia, da Wikipédia em português
(...) Motacilla lugens
Classificação científica
Reino: Animalia
Filo: Chordata
Classe: Aves
Ordem: Passeriformes
Família: Passeridae
Motacillidae
Subfamília: Motacillinae
Género: Motacilla
Espécies (...)
As alvéolas são aves passeriformes, classificadas no género Motacilla da sub-família Motacillinae. O grupo inclui onze espécies com distribuição no Velho Mundo.
Este pássaro também conhecido como Labandeira, Lavadeira, Lavandisca, Lavandeira, Alveliço, Avoeira, Boieira e Pastorinha. (**)
As alvéolas são aves de pequeno porte, com um comprimento que ronda os 19,5 centímetros. de constituição delgada. O bico é alongado e fino, próprio para uma alimentação à base de insectos. A cauda longa é agitada de um lado para o outro quando a alvéola está em repouso. As patas são relativamente longas e terminam em dedos com garras compridas. A plumagem é geralmente branca, negra e/ou cinzenta, mas algumas espécies podem ser mais coloridas, apresentando tons de amarelo. As cores do macho e da fêmea são muito parecidas entre si, sendo que no entanto a cor cinzenta do dorso da fêmea geralmente penetra pelo preto da coroa.
A época de acasalamento desta espécie ocorre no fim do Inverno. A fêmea constrói um ninho em qualquer concavidade, seja um buraco de um muro, as raízes de uma árvore, a cavidade de um tronco de árvore, um local abrigado de um telhado. A postura ronda geralmente cinco a seis ovos que são incubados pela fêmea por cerca de duas semanas. Os juvenis saem do ninho duas ou três semanas depois, geralmente já durante a Primavera.
As Labandeiras do Norte da Europa migram no Inverno para zonas do continente africano e para o sul do continente Europeu. A alvéola-branca-britânica é uma subespécie. O macho surge com o dorso preto. Parecidos com a alvéola-branca são a alvéola-cinzenta (Motacilla cinerea) de peito amarelo, cauda negra e dorso cinzento e a alvéola-amarela que tem as regiões inferiores de cor amarela e o dorso esverdeado.
Este pássaro encontra-se espalhado por quase todo o mundo com particular destaque para a Europa, Ásia e África. Surge em Portugal na Beira Baixa, Beira Litoral, Estremadura, Ribatejo, Alentejo e Algarve, no arquipélago da Madeira e em todas as ilhas dos Açores.
Pode ser avistada em campos abertos, prados, margens fluviais e lacustres e no caso das ilhas surge frequentemente à beira-mar, com mais frequência no Verão enquanto no Inverno tem tendência a se deslocar mais para as Serras. (...)
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(...) Motacilla lugens
Classificação científica
Reino: Animalia
Filo: Chordata
Classe: Aves
Ordem: Passeriformes
Família: Passeridae
Motacillidae
Subfamília: Motacillinae
Género: Motacilla
Espécies (...)
As alvéolas são aves passeriformes, classificadas no género Motacilla da sub-família Motacillinae. O grupo inclui onze espécies com distribuição no Velho Mundo.
Este pássaro também conhecido como Labandeira, Lavadeira, Lavandisca, Lavandeira, Alveliço, Avoeira, Boieira e Pastorinha. (**)
As alvéolas são aves de pequeno porte, com um comprimento que ronda os 19,5 centímetros. de constituição delgada. O bico é alongado e fino, próprio para uma alimentação à base de insectos. A cauda longa é agitada de um lado para o outro quando a alvéola está em repouso. As patas são relativamente longas e terminam em dedos com garras compridas. A plumagem é geralmente branca, negra e/ou cinzenta, mas algumas espécies podem ser mais coloridas, apresentando tons de amarelo. As cores do macho e da fêmea são muito parecidas entre si, sendo que no entanto a cor cinzenta do dorso da fêmea geralmente penetra pelo preto da coroa.
A época de acasalamento desta espécie ocorre no fim do Inverno. A fêmea constrói um ninho em qualquer concavidade, seja um buraco de um muro, as raízes de uma árvore, a cavidade de um tronco de árvore, um local abrigado de um telhado. A postura ronda geralmente cinco a seis ovos que são incubados pela fêmea por cerca de duas semanas. Os juvenis saem do ninho duas ou três semanas depois, geralmente já durante a Primavera.
As Labandeiras do Norte da Europa migram no Inverno para zonas do continente africano e para o sul do continente Europeu. A alvéola-branca-britânica é uma subespécie. O macho surge com o dorso preto. Parecidos com a alvéola-branca são a alvéola-cinzenta (Motacilla cinerea) de peito amarelo, cauda negra e dorso cinzento e a alvéola-amarela que tem as regiões inferiores de cor amarela e o dorso esverdeado.
Este pássaro encontra-se espalhado por quase todo o mundo com particular destaque para a Europa, Ásia e África. Surge em Portugal na Beira Baixa, Beira Litoral, Estremadura, Ribatejo, Alentejo e Algarve, no arquipélago da Madeira e em todas as ilhas dos Açores.
Pode ser avistada em campos abertos, prados, margens fluviais e lacustres e no caso das ilhas surge frequentemente à beira-mar, com mais frequência no Verão enquanto no Inverno tem tendência a se deslocar mais para as Serras. (...)
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Notas do editor:
(*) Vd.poste de 8 de agosto de 2014 > Guiné 63/74 - P13475: Manuscrito(s) (Luís Graça) (39): A felicidade ? É onde nós a pomos e onde nós estamos...
(*) Vd.poste de 8 de agosto de 2014 > Guiné 63/74 - P13475: Manuscrito(s) (Luís Graça) (39): A felicidade ? É onde nós a pomos e onde nós estamos...
são felizes.
Mas em Candoz poderiam sê-lo.
Não há aves do paraíso em Candoz
porque Candoz fica no hemisfério norte,
longe dos trópicos e longe do paraíso
(se é que ele existe).
Dizem que as aves do paraíso
são as criaturas mais lindas do mundo.
Em Candoz, há outras aves, outros pássaros,
daqueles que rasgam os céus
e nidificam na terra:
não há perdizes,
ou, se existem, são poucas e loucas;
mas há verdes pombos bravos dos pinhais,
e rolas, de outras paragens,
alegres pintassilgos,
ruidosos pardais do telhado,
andorinhas, cada vez mais,
no vaivem das suas viagens,
mas também toutinegras, popas, verdilhões.
Há coros de rouxinóis,
outras aves canoras e canastrões,
melros de bico amarelo
que fazem seus ninhos nas ramagens
das videiras do vinho verde.
Não há guarda-rios, de azuis e rubras plumagens,
à cota trezentos,
com o rio Douro ao fundo do vale,
a serra de Montemuro em frente.
Eça de Queiroz,
meu vizinho, da Quinta de Tormes,
deveria ter gostado de conhecer Candoz
onde os pássaros são livres,
e, se são livres, logo serão felizes.
Pelo menos têm grandes espaços para voar,
os pássaros de Candoz.
Claro que há os predadores,
o gaio, o corvo, o búteo, o mocho, o milhafre…
A liberdade é a primeira condição da felicidade.
Triste é o melro na gaiola,
mesmo que esta seja forrada a ouro. (...)
(**) Último poste da série > 10 de fevereiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14238: Fotos à procura de ... uma legenda (51): Manuel Joaquim dos Prazeres, empresário de cinema e caçador, Cabo Verde (1929/1943) e depois Guiné (1943/73)... Fotos da Praia, ilha de Santiago, Cabo Verde, com amigos (Lucinda Aranha)
Guiné 63/74 - P14260: Tabanca Grande (455): José Júlio Dores Nascimento, ex-Fur Mil Art da CART 2520 (Xime, Enxalé, Mansambo, Quinhamel, 1969/71)
1. Mensagem do nosso camarada e novo tertuliano José Júlio Dores Nascimento(*), ex-Fur Mil Art da CART 2520, Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71, com data de 10 de Fevereiro de 2015:
Caro Luís Graça,
Apresenta-se o Ex-Furriel Miliciano José Júlio Dores do Nascimento, pertencente à CArt 2520, que esteve em comissão de serviço na Guiné, entre Junho de 1969 e Março de 1971.
A CArt 2520, prestou serviço em duas fases distintas, sendo a primeira fase numa zona bastante operacional, com muita actividade fora do arame farpado. Essa zona chamava-se Xime e ficava localizada na margem esquerda do rio Geba, na parte que fazia confluência com o rio Corubal.
Para efeitos operacionais a nossa Companhia estava subordinada ao Batalhão de Bambadinca. Durante vários meses tivemos à nossa responsabilidade o destacamento do Enxalé, que ficava frente ao Xime, na margem direita do Geba.
Faziam parte da nossa zona as tabancas de Amedalai, Taibatá e Dembataco, populações que estavam em autodefesa e que eram frequentemente atacadas.
Na zona operacional do Xime, permanecemos até final do mês de Maio de 1970.
Na segunda fase da nossa permanência na Guiné, a CArt 2520 esteve sediada em Quinhamel.
Esta zona era uma espécie de cordão de segurança à cidade de Bissau e por isso os quatro pelotões da Companhia estavam repartidos pelos destacamentos de Safim, João Landim, Bijemita, Ilondé, São Vicente da Mata e Ondame (Biombo).
Pertenci ao 3.º Pelotão que fez uma breve passagem por Mansambo (Junho/69) e pelo Enxalé, entre Janeiro e Fevereiro de 1970.
Nos meses de Junho a Agosto de 1970, quando da mudança de zona operacional, o nosso pelotão esteve em Safim, nessa altura fui com a minha secção para João Landim, que ficava mesmo juntinho à margem do rio Mansoa. Esta secção tinha por missão fazer a segurança a uma jangada motorizada da Marinha e outra da Engenharia, jangadas estas que faziam a passagem entre margens, tanto de viaturas militares como civis e também da nossa tropa e população.
E por último estive no Biombo, desde Setembro/70 a Março /71.
Durante a permanência no Xime, o meu pelotão participou em várias operações no mato. A nossa actividade foi muito intensa, nomeadamente fazendo segurança às embarcações que navegavam no rio Geba, na zona da Ponta Varela e protecção às colunas que se faziam na estrada Xime-Bambadinca, na parte considerada mais perigosa, que era a Ponta Coli.
No Enxalé fazíamos a protecção à população e alguns patrulhamentos nas proximidades do aquartelamento. Aqui deu para dedicar à leitura e "devorar" alguns livros e até revistas.
Considero-me um combatente, tenho muito orgulho de ter pertencido ao Exército Português. Penso ter honrado e dignificado a farda que enverguei, que o digam os meus soldados. As dificuldades foram muitas, tanto físicas como psicológicas, mas ultrapassei-as com alguma facilidade, porque estava preparado para isso, não só pela preparação militar e psicológica, que tive em Tavira, Vendas Novas, Leiria, Torres Novas e Santa Margarida, como pelo facto de até ir para o serviço militar, a minha vida não ter sido nada fácil, desde a minha infância até à minha juventude.
Sou oriundo duma família muito modesta, éramos nove irmãos e até ir para a tropa nunca tinha conhecido facilidades. Pelo que observei, pelo que passei e vivi no terreno e pelos conhecimentos que tenho daquilo que passou na Guiné, quero aqui deixar a minha grande e singela homenagem aos que nas matas, nas picadas e nos quartéis dessas terras escaldantes de África deram o seu melhor, principalmente àqueles que sacrificaram a sua vida, pela grande Pátria Portuguesa.
Tenho algumas pequenas histórias para contar e que aos poucos as irei escrevendo.
Nestes termos, peço a minha entrada nesta "tabanca grande", que cada vez irá sendo maior.
Com um grande abraço do,
José Nascimento
CART 2520
2. Comentário do editor:
Caro camarada José Nascimento,
Sê bem-vindo, és o 677.º Grã-Tabanqueiro do nosso Blogue. Recebe desde já um abraço da parte dos editores e da tertúlia.
Entra, instala-te e, depois de conheceres os cantos da casa começa a trabalhar.
A tua tarefa será contribuir com as tuas memórias escritas e fotográficas. Assim deixarás aqui a tua parte sobre a história da guerra da Guiné.
Sem paixões, e tanto quanto a memória nos permita, queremos deixar para futuro material de pesquisa que outros possam consultar, processar e dar a conhecer aos vindouros.
Caro amigo Nascimento, ficamos ao teu dispor para qualquer esclarecimento.
O teu camarada e anovo amigo
Carlos Vinhal
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Nota do editor
(*) Vd. poste de 8 de maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9863: (De)caras (10): Relembrando o Fur Mil Joaquim de Araújo Cunha, natural de Barcelos, que pertencia à CART 2715 (Xime, 1970/72), e que foi morto de morte matada em 26/11/1970 (José Nascimento, CART 2520, Xime, 1969/70)
Último poste da série de 26 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P14083: Tabanca Grande (454): António Santos Dias, ex-Fur Mil da CTransp 9040/72 (Guiné, 1974)
Caro Luís Graça,
Apresenta-se o Ex-Furriel Miliciano José Júlio Dores do Nascimento, pertencente à CArt 2520, que esteve em comissão de serviço na Guiné, entre Junho de 1969 e Março de 1971.
A CArt 2520, prestou serviço em duas fases distintas, sendo a primeira fase numa zona bastante operacional, com muita actividade fora do arame farpado. Essa zona chamava-se Xime e ficava localizada na margem esquerda do rio Geba, na parte que fazia confluência com o rio Corubal.
Para efeitos operacionais a nossa Companhia estava subordinada ao Batalhão de Bambadinca. Durante vários meses tivemos à nossa responsabilidade o destacamento do Enxalé, que ficava frente ao Xime, na margem direita do Geba.
Faziam parte da nossa zona as tabancas de Amedalai, Taibatá e Dembataco, populações que estavam em autodefesa e que eram frequentemente atacadas.
Na zona operacional do Xime, permanecemos até final do mês de Maio de 1970.
Na segunda fase da nossa permanência na Guiné, a CArt 2520 esteve sediada em Quinhamel.
Esta zona era uma espécie de cordão de segurança à cidade de Bissau e por isso os quatro pelotões da Companhia estavam repartidos pelos destacamentos de Safim, João Landim, Bijemita, Ilondé, São Vicente da Mata e Ondame (Biombo).
Pertenci ao 3.º Pelotão que fez uma breve passagem por Mansambo (Junho/69) e pelo Enxalé, entre Janeiro e Fevereiro de 1970.
Nos meses de Junho a Agosto de 1970, quando da mudança de zona operacional, o nosso pelotão esteve em Safim, nessa altura fui com a minha secção para João Landim, que ficava mesmo juntinho à margem do rio Mansoa. Esta secção tinha por missão fazer a segurança a uma jangada motorizada da Marinha e outra da Engenharia, jangadas estas que faziam a passagem entre margens, tanto de viaturas militares como civis e também da nossa tropa e população.
E por último estive no Biombo, desde Setembro/70 a Março /71.
Durante a permanência no Xime, o meu pelotão participou em várias operações no mato. A nossa actividade foi muito intensa, nomeadamente fazendo segurança às embarcações que navegavam no rio Geba, na zona da Ponta Varela e protecção às colunas que se faziam na estrada Xime-Bambadinca, na parte considerada mais perigosa, que era a Ponta Coli.
No Enxalé fazíamos a protecção à população e alguns patrulhamentos nas proximidades do aquartelamento. Aqui deu para dedicar à leitura e "devorar" alguns livros e até revistas.
Localização de Xime e Enxalé. Vd Carta do Xime 1/50.000
Considero-me um combatente, tenho muito orgulho de ter pertencido ao Exército Português. Penso ter honrado e dignificado a farda que enverguei, que o digam os meus soldados. As dificuldades foram muitas, tanto físicas como psicológicas, mas ultrapassei-as com alguma facilidade, porque estava preparado para isso, não só pela preparação militar e psicológica, que tive em Tavira, Vendas Novas, Leiria, Torres Novas e Santa Margarida, como pelo facto de até ir para o serviço militar, a minha vida não ter sido nada fácil, desde a minha infância até à minha juventude.
Sou oriundo duma família muito modesta, éramos nove irmãos e até ir para a tropa nunca tinha conhecido facilidades. Pelo que observei, pelo que passei e vivi no terreno e pelos conhecimentos que tenho daquilo que passou na Guiné, quero aqui deixar a minha grande e singela homenagem aos que nas matas, nas picadas e nos quartéis dessas terras escaldantes de África deram o seu melhor, principalmente àqueles que sacrificaram a sua vida, pela grande Pátria Portuguesa.
Tenho algumas pequenas histórias para contar e que aos poucos as irei escrevendo.
Nestes termos, peço a minha entrada nesta "tabanca grande", que cada vez irá sendo maior.
Com um grande abraço do,
José Nascimento
CART 2520
2. Comentário do editor:
Caro camarada José Nascimento,
Sê bem-vindo, és o 677.º Grã-Tabanqueiro do nosso Blogue. Recebe desde já um abraço da parte dos editores e da tertúlia.
Entra, instala-te e, depois de conheceres os cantos da casa começa a trabalhar.
A tua tarefa será contribuir com as tuas memórias escritas e fotográficas. Assim deixarás aqui a tua parte sobre a história da guerra da Guiné.
Sem paixões, e tanto quanto a memória nos permita, queremos deixar para futuro material de pesquisa que outros possam consultar, processar e dar a conhecer aos vindouros.
Caro amigo Nascimento, ficamos ao teu dispor para qualquer esclarecimento.
O teu camarada e anovo amigo
Carlos Vinhal
____________
Nota do editor
(*) Vd. poste de 8 de maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9863: (De)caras (10): Relembrando o Fur Mil Joaquim de Araújo Cunha, natural de Barcelos, que pertencia à CART 2715 (Xime, 1970/72), e que foi morto de morte matada em 26/11/1970 (José Nascimento, CART 2520, Xime, 1969/70)
Último poste da série de 26 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P14083: Tabanca Grande (454): António Santos Dias, ex-Fur Mil da CTransp 9040/72 (Guiné, 1974)
Guiné 63/74 - P14259: Libertando-me (Tony Borié) (4): ...e o Lisboa rasgou o cartão
Quarto episódio da série "Libertando-me" do nosso camarada Tony Borié, ex-1.º Cabo Operador Cripto do CMD AGR 16, Mansoa, 1964/66.
Já lá vão uns anos, vivíamos no norte, na altura exercíamos funções de vice-presidente do maior clube de língua portuguesa situado na costa leste dos USA, todos os dias era uma aventura, jogava o Benfica, Sporting ou Porto, se ganhavam, havia alegria, quando marcavam um golo, gritavam, bebiam e atiravam os filhos ao ar, ficavam latas e garrafas de cerveja no chão ou em qualquer lado, se perdiam, os amigos discutiam e às vezes até chegavam a “vias de facto”, indo para casa dizendo “mal de tudo”.
Aos fins-de-semana, na época de verão, havia “arraiais à portuguesa”, sardinha assada, frango de churrasco, febras, vinho verde, branco e tinto, dançavam e o nosso rancho folclórico exibia-se, era uma autêntica festa portuguesa, como se estivéssemos em qualquer aldeia do Minho, Beira, Ribatejo ou Algarve, a polícia local colaborava, já nos conhecíamos, também bebiam e, para o final, já falavam algumas palavras obscenas do vocabulário de Camões.
Num dia, mais propriamente a uma sexta-feira, recebo um telefonema do Consulado de Portugal em Newark, onde um funcionário superior, meu amigo, me diz que ia ao nosso clube na noite do dia seguinte, com uma personagem que tinha vindo de Portugal, creio que era ministro em funções do governo da altura, pessoa muito ilustre, trazendo consigo um pequeno grupo de pessoas que deviam ser seus ajudantes em campo.
Na altura não havia festas e não tínhamos “nada” com que os pudéssemos receber, mas como havia um casamento no nosso salão principal, falámos com a pessoa encarregue pelo serviço, prestando-se imediatamente em colaborar, preparando uma mesa com o que de melhor havia na altura, incluindo alguns mariscos e vinhos especiais, recebendo a personalidade e os seus ajudantes de campo, que se desfaziam em sorrisos, distribuindo cartões de apresentação, com o escudo da bandeira de Portugal em relevo, (portanto naquele momento, para nós, era o país Portugal), dizendo sempre que queriam ajudar os portugueses na diáspora, que foi para isso que nos visitavam, mais isto e mais aquilo, faziam um pouco o papel de “coscuvilheiros”, perguntando o que precisávamos, quais as nossas dificuldades, se tudo estava a correr bem com a comunidade, mostravam que queriam saber da “nossa vida”.
O senhor José Garcia, combatente da guerra colonial em Moçambique, com tatuagem no antebraço direito, muito mal desenhada, dizendo “amor de mãe”, a quem nós carinhosamente, cá fora, chamávamos “Zé Barbeiro” e, dentro do clube, chamávamos “Ò Lisboa”, por ser oriundo da capital, tinha a mania que sabia cantar o fado, pois frequentemente entoava, e muito bem, uma frase de um qualquer fado famoso, mas só sabia aquela frase, era quem nos cortava o resto do cabelo, fazia parte do nosso clube, estava lá, queria reclamar, pois em tempos, depois de alguma burocracia, tinha comprado um terreno aos herdeiros do que fora dono, ao lado de uns casebres onde os seus pais viviam, nos arrabaldes da cidade de Lisboa, onde queria fazer obras para melhorar a vida dos pais e, onde queria acabar os seus dias quando a idade chegasse. Mostrava fotografias a todos, dizendo que iria fazer “daquilo” um “chalé”.
Pois a cidade, não só não lhe concedeu essas facilidades, como lhe comunicou que “aquilo” era para ser tudo destruído, pois era uma zona que iria ter uma urbanização onde iria haver um grande “shopping mall”. Tivemos que o “segurar”, pois queria atirar-se à personagem, barafustava, dizia mal da reputação da mãe daquela personagem, rasgou o cartão de apresentação da ilustre personagem, sempre teimando que lhe queria “cortar o cabelo”.
Nós, como havia muita dificuldade em livros escolares em português para a nossa escola, logo lhe pedimos livros, muitos ou poucos livros, novos ou usados, dizendo essa personagem, com uma simplicidade notável, que se a nossa dificuldade era essa, estava já resolvida, pois ia providenciar em mandar imediatamente uma grande encomenda de material escolar.
Pois companheiros, esperámos, esperámos, nunca nada recebemos, todos os dias tirávamos cópias, nas costas de papel cedido pela cidade e por amigos do nosso clube, dos poucos livros que tínhamos, estando a máquina de copiar sempre a avariar, pois se não fosse assim, muitas crianças, filhos de portugueses e não só, nunca saberiam que o D. Afonso Henriques não gostava da mãe e, que o navegador Vasco da Gama, que se destacou por ter sido o comandante dos primeiros navios ou caravelas, a navegar da Europa para a Índia, que era a mais longa viagem oceânica até então realizada, era uma personagem que ia ao serviço de uma grande empresa, que tinha investido nele, procurando no seu regresso, recuperar todo o investimento, com o respectivo lucro.
Tony Borie, Fevereiro de 2015
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Nota do editor
Último poste da série de 8 de fevereiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14233: Libertando-me (Tony Borié) (3): O senhor Spencer, em Mansoa, industrial de madeiras, representante do Gazcidla e de uma agência de viagens
Já lá vão uns anos, vivíamos no norte, na altura exercíamos funções de vice-presidente do maior clube de língua portuguesa situado na costa leste dos USA, todos os dias era uma aventura, jogava o Benfica, Sporting ou Porto, se ganhavam, havia alegria, quando marcavam um golo, gritavam, bebiam e atiravam os filhos ao ar, ficavam latas e garrafas de cerveja no chão ou em qualquer lado, se perdiam, os amigos discutiam e às vezes até chegavam a “vias de facto”, indo para casa dizendo “mal de tudo”.
Aos fins-de-semana, na época de verão, havia “arraiais à portuguesa”, sardinha assada, frango de churrasco, febras, vinho verde, branco e tinto, dançavam e o nosso rancho folclórico exibia-se, era uma autêntica festa portuguesa, como se estivéssemos em qualquer aldeia do Minho, Beira, Ribatejo ou Algarve, a polícia local colaborava, já nos conhecíamos, também bebiam e, para o final, já falavam algumas palavras obscenas do vocabulário de Camões.
Num dia, mais propriamente a uma sexta-feira, recebo um telefonema do Consulado de Portugal em Newark, onde um funcionário superior, meu amigo, me diz que ia ao nosso clube na noite do dia seguinte, com uma personagem que tinha vindo de Portugal, creio que era ministro em funções do governo da altura, pessoa muito ilustre, trazendo consigo um pequeno grupo de pessoas que deviam ser seus ajudantes em campo.
Na altura não havia festas e não tínhamos “nada” com que os pudéssemos receber, mas como havia um casamento no nosso salão principal, falámos com a pessoa encarregue pelo serviço, prestando-se imediatamente em colaborar, preparando uma mesa com o que de melhor havia na altura, incluindo alguns mariscos e vinhos especiais, recebendo a personalidade e os seus ajudantes de campo, que se desfaziam em sorrisos, distribuindo cartões de apresentação, com o escudo da bandeira de Portugal em relevo, (portanto naquele momento, para nós, era o país Portugal), dizendo sempre que queriam ajudar os portugueses na diáspora, que foi para isso que nos visitavam, mais isto e mais aquilo, faziam um pouco o papel de “coscuvilheiros”, perguntando o que precisávamos, quais as nossas dificuldades, se tudo estava a correr bem com a comunidade, mostravam que queriam saber da “nossa vida”.
O senhor José Garcia, combatente da guerra colonial em Moçambique, com tatuagem no antebraço direito, muito mal desenhada, dizendo “amor de mãe”, a quem nós carinhosamente, cá fora, chamávamos “Zé Barbeiro” e, dentro do clube, chamávamos “Ò Lisboa”, por ser oriundo da capital, tinha a mania que sabia cantar o fado, pois frequentemente entoava, e muito bem, uma frase de um qualquer fado famoso, mas só sabia aquela frase, era quem nos cortava o resto do cabelo, fazia parte do nosso clube, estava lá, queria reclamar, pois em tempos, depois de alguma burocracia, tinha comprado um terreno aos herdeiros do que fora dono, ao lado de uns casebres onde os seus pais viviam, nos arrabaldes da cidade de Lisboa, onde queria fazer obras para melhorar a vida dos pais e, onde queria acabar os seus dias quando a idade chegasse. Mostrava fotografias a todos, dizendo que iria fazer “daquilo” um “chalé”.
Pois a cidade, não só não lhe concedeu essas facilidades, como lhe comunicou que “aquilo” era para ser tudo destruído, pois era uma zona que iria ter uma urbanização onde iria haver um grande “shopping mall”. Tivemos que o “segurar”, pois queria atirar-se à personagem, barafustava, dizia mal da reputação da mãe daquela personagem, rasgou o cartão de apresentação da ilustre personagem, sempre teimando que lhe queria “cortar o cabelo”.
Nós, como havia muita dificuldade em livros escolares em português para a nossa escola, logo lhe pedimos livros, muitos ou poucos livros, novos ou usados, dizendo essa personagem, com uma simplicidade notável, que se a nossa dificuldade era essa, estava já resolvida, pois ia providenciar em mandar imediatamente uma grande encomenda de material escolar.
Pois companheiros, esperámos, esperámos, nunca nada recebemos, todos os dias tirávamos cópias, nas costas de papel cedido pela cidade e por amigos do nosso clube, dos poucos livros que tínhamos, estando a máquina de copiar sempre a avariar, pois se não fosse assim, muitas crianças, filhos de portugueses e não só, nunca saberiam que o D. Afonso Henriques não gostava da mãe e, que o navegador Vasco da Gama, que se destacou por ter sido o comandante dos primeiros navios ou caravelas, a navegar da Europa para a Índia, que era a mais longa viagem oceânica até então realizada, era uma personagem que ia ao serviço de uma grande empresa, que tinha investido nele, procurando no seu regresso, recuperar todo o investimento, com o respectivo lucro.
Tony Borie, Fevereiro de 2015
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Nota do editor
Último poste da série de 8 de fevereiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14233: Libertando-me (Tony Borié) (3): O senhor Spencer, em Mansoa, industrial de madeiras, representante do Gazcidla e de uma agência de viagens
sábado, 14 de fevereiro de 2015
Guiné 63/74 - P14258: Manuscrito(s) (Luís Graça) (46): Quando o absurdo da morte bate à porta dos amigos...Para o Zé Belo, em memória de Britt-Marie
Poemombro ou o ombro amigo
Para o Zé Belo,
nestes dias
em que o absurdo lhe bateu à morte;
em memória de Britt-Marie (*)
Às vezes a gente pensa
que o mundo vai desabar.
Às vezes a gente teme
que o céu vá cair
em cima das nossas cabeças.
Às vezes a gente deixa de ver,
e de sentir.
E até de pensar.
Às vezes a gente vê que não há luz,
que estamos num túnel, escuro,
que não há luz ao fundo do túnel,
que há alguém que te diz,
perentório, seguro:
– É o fim! Acabou-se!
Ou então:
– É bom que esqueças,
desiste, parte para outra!
Às vezes a gente tem dúvidas.
E pergunta se vale a pena.
Se valeu a pena,
a vida, em retrospetiva.
Às vezes a gente até duvida do amor e da amizade
dos que nos amam e gostam de nós.
Às vezes a coisa parece que está feia,
às vezes parece que tudo é feio.
Que a coisa está preta e feia,
a vida, o país, o mundo à nossa volta,
os outros,
o marido ou a mulher.
os filhos,
os amigos,
os colegas de trabalho,
os vizinhos,
os concidadãos,
os homens e as mulheres do teu país,
a humanidade, por fim globalizada.
Às vezes dá-te uma enorme vontade de chorar.
E de parar no caminho.
E de chorar numa pedra do caminho.
Às vezes a gente quer desistir de caminhar.
A gente sente que lhe faltam as forças,
e que já que foi longe de mais.
Que não nascemos para caminhantes,
que já fizemos a nossa parte,
que já cumprimos o nosso papel,
que as pernas estão cansadas.
As pernas.
O corpo.
A alma.
Os músculos.
Os neurónios.
Os ossos.
Que andamos a caminhar há muito tempo,
que já demos a volta ao mundo não sei quantas vezes.
Às vezes a gente apercebe-se
que tem uma enorme vontade de chorar.
Mas que não tem lágrimas para o fazer,
não tem sequer forças para o fazer.
E é então que nos dá uma raiva danada,
telúrica, fulminante, brutal,
uma raiva de vulcão.
E descobrimos, então,
o terrível vulcão que há em nós.
E a gente, de repente,
dá de novo à chave de ignição.
... E retoma o caminho.
Querido amigo:
eu sei que não podemos competir com os vulcões,
que só explodem de mil em mil anos,
ou de cem mil em cem mil, tanto faz.
E que são uma força bruta da natureza.
Brutal.
Fulminante.
Telúrica.
Mas temos o direito de explodir,
de dizer o que nos vai na alma.
Temos o direito ao nosso vulcão,
tu tens direito ao teu vulcão,
tens direito mesmo ao teu vulcãozinho.
O direito de mostrar o que te dói no corpo e na alma.
De explodir.
De chorar.
De chorar de raiva.
Ou mesmo baixinho.
A única diferença, além da escala de tempo,
é que os vulcões não têm uma ombro amigo.
Para chorar.
Para encostar a cabeça e chorar.
Hoje ou amanhã,
(...) Comentário de L.G.:
Meu querido Zé Belo:
Ainda há dias falavas da tua casa na Lapónia com candura, ternura e uma estranha ponta de saudade, premonitória…
Às vezes a gente teme
que o céu vá cair
em cima das nossas cabeças.
Às vezes a gente deixa de ver,
e de sentir.
E até de pensar.
Às vezes a gente vê que não há luz,
que estamos num túnel, escuro,
que não há luz ao fundo do túnel,
que há alguém que te diz,
perentório, seguro:
– É o fim! Acabou-se!
Ou então:
– É bom que esqueças,
desiste, parte para outra!
Às vezes a gente tem dúvidas.
E pergunta se vale a pena.
Se valeu a pena,
a vida, em retrospetiva.
Às vezes a gente até duvida do amor e da amizade
dos que nos amam e gostam de nós.
Às vezes a coisa parece que está feia,
às vezes parece que tudo é feio.
Que a coisa está preta e feia,
a vida, o país, o mundo à nossa volta,
os outros,
o marido ou a mulher.
os filhos,
os amigos,
os colegas de trabalho,
os vizinhos,
os concidadãos,
os homens e as mulheres do teu país,
a humanidade, por fim globalizada.
Às vezes dá-te uma enorme vontade de chorar.
E de parar no caminho.
E de chorar numa pedra do caminho.
Às vezes a gente quer desistir de caminhar.
A gente sente que lhe faltam as forças,
e que já que foi longe de mais.
Que não nascemos para caminhantes,
que já fizemos a nossa parte,
que já cumprimos o nosso papel,
que as pernas estão cansadas.
As pernas.
O corpo.
A alma.
Os músculos.
Os neurónios.
Os ossos.
Que andamos a caminhar há muito tempo,
que já demos a volta ao mundo não sei quantas vezes.
Às vezes a gente apercebe-se
que tem uma enorme vontade de chorar.
Mas que não tem lágrimas para o fazer,
não tem sequer forças para o fazer.
E é então que nos dá uma raiva danada,
telúrica, fulminante, brutal,
uma raiva de vulcão.
E descobrimos, então,
o terrível vulcão que há em nós.
E a gente, de repente,
dá de novo à chave de ignição.
... E retoma o caminho.
Querido amigo:
eu sei que não podemos competir com os vulcões,
que só explodem de mil em mil anos,
ou de cem mil em cem mil, tanto faz.
E que são uma força bruta da natureza.
Brutal.
Fulminante.
Telúrica.
Mas temos o direito de explodir,
de dizer o que nos vai na alma.
Temos o direito ao nosso vulcão,
tu tens direito ao teu vulcão,
tens direito mesmo ao teu vulcãozinho.
O direito de mostrar o que te dói no corpo e na alma.
De explodir.
De chorar.
De chorar de raiva.
Ou mesmo baixinho.
A única diferença, além da escala de tempo,
é que os vulcões não têm uma ombro amigo.
Para chorar.
Para encostar a cabeça e chorar.
Hoje ou amanhã,
em qualquer dia do ano ou da semana
Sempre que te apetecer,
sempre que te der raiva de chorar.
Se os amigos têm algum préstimo
é justamente para saber ouvir.
Ouvir, escutar, entender.
Mais do que falar,
analisar,
explicar
ou compreender.
Para estar contigo.
Simplesmente para estar ao pé de ti.
Ou para te segredar ao ouvido
qualquer coisa que te faça sorrir.
Sempre que te apetecer,
sempre que te der raiva de chorar.
Se os amigos têm algum préstimo
é justamente para saber ouvir.
Ouvir, escutar, entender.
Mais do que falar,
analisar,
explicar
ou compreender.
Para estar contigo.
Simplesmente para estar ao pé de ti.
Ou para te segredar ao ouvido
qualquer coisa que te faça sorrir.
Mesmo que seja um sorriso amargo.
Ao ouvido, baixinho.
E sobretudo para te oferecer o ombro amigo:
pode até ter pouco préstimo,
mas sempre é mais macio e quente
do que a pedra do caminho.
Ao ouvido, baixinho.
E sobretudo para te oferecer o ombro amigo:
pode até ter pouco préstimo,
mas sempre é mais macio e quente
do que a pedra do caminho.
Luís Graça (**)
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Notas do editor:
(*) Vd. poste de 14 de fevereiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14257: In Memoriam (217): Britt-Marie, esposa do nosso camarada José Belo, faleceu no passado dia 12 de Fevereiro
Notas do editor:
(*) Vd. poste de 14 de fevereiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14257: In Memoriam (217): Britt-Marie, esposa do nosso camarada José Belo, faleceu no passado dia 12 de Fevereiro
Meu querido Zé Belo:
Ainda há dias falavas da tua casa na Lapónia com candura, ternura e uma estranha ponta de saudade, premonitória…
Falavas dessa casa, no passado… ”Para a minha família, esta casa mais não é que um refúgio de paz. Para a manter com os níveis de conforto, modernidade e funcionalidade neste isolamento extremo, é claro que se torna necessário um custo económico considerável e, não menos, um planeamento contínuo e sempre bem antecipado. As profissões, tanto da minha mulher como a minha, permitiram, felizmente, os largos períodos em que aqui nos refugiámos. “…
Alguns dias depois do teu escrito, largamente comentado, em tom descontraído, ligeiro e bem-humorado, morre a tua companheira de uma vida, e a mãe dos teus filhos!...
Acabo de ler a brutal notícia no nosso blogue, num dia em que, ao mesmo tempo, celebramos com alegria os 100 anos de uma mulher grande, a decana da nossa Tabanca Grande, que há um ano perdeu o seu filho mais novo, o nosso saudoso Pepito.
Zé, ficamos aparvalhados, desarmados, despidos, indefesos, perante uma notícia tão devastadora como é a perda do amor da nossa vida. Sei que não somos deuses, não somos imortais, mas nunca estamos (nem estaremos) preparados para receber, assim, de chofre a notícia da morte de quem amamos…
Zé, apesar da distância física, apesar do sofrimento por que estás a passar, tu e os teus filhos, fica com a certeza de que, na tua pátria, por muita madrasta que ela tenha sido contigo, tens bons amigos e camaradas que estão contigo, nesta hora de provação. São muitos os ombros amigos com que podes contar na nossa Tabanca Grande, e onde podes reclinar a cabeça e chorar, porque só os homens choram, de dor, de raivo e de impotência, quando o absurdo lhes bate à porta …
O absurdo tocou-te à porta, meu bom amigo.
Saibamos honrar a memória da tua Britt-Marie que , para além de te ter dado um lugar no seu coração, dei-te também uma segunda pátria, um doce lar e uma família maravilhosa.
Zé, acabei de chegar ao Porto, vindo do meu refúgio em Candoz, e fiquei destroçado ao saber esta notícia. Recebe um xicoração apertado, meu, do João e do resto da minha família, a Alice e a Joana. (...)
Alguns dias depois do teu escrito, largamente comentado, em tom descontraído, ligeiro e bem-humorado, morre a tua companheira de uma vida, e a mãe dos teus filhos!...
Acabo de ler a brutal notícia no nosso blogue, num dia em que, ao mesmo tempo, celebramos com alegria os 100 anos de uma mulher grande, a decana da nossa Tabanca Grande, que há um ano perdeu o seu filho mais novo, o nosso saudoso Pepito.
Zé, ficamos aparvalhados, desarmados, despidos, indefesos, perante uma notícia tão devastadora como é a perda do amor da nossa vida. Sei que não somos deuses, não somos imortais, mas nunca estamos (nem estaremos) preparados para receber, assim, de chofre a notícia da morte de quem amamos…
Zé, apesar da distância física, apesar do sofrimento por que estás a passar, tu e os teus filhos, fica com a certeza de que, na tua pátria, por muita madrasta que ela tenha sido contigo, tens bons amigos e camaradas que estão contigo, nesta hora de provação. São muitos os ombros amigos com que podes contar na nossa Tabanca Grande, e onde podes reclinar a cabeça e chorar, porque só os homens choram, de dor, de raivo e de impotência, quando o absurdo lhes bate à porta …
O absurdo tocou-te à porta, meu bom amigo.
Saibamos honrar a memória da tua Britt-Marie que , para além de te ter dado um lugar no seu coração, dei-te também uma segunda pátria, um doce lar e uma família maravilhosa.
Zé, acabei de chegar ao Porto, vindo do meu refúgio em Candoz, e fiquei destroçado ao saber esta notícia. Recebe um xicoração apertado, meu, do João e do resto da minha família, a Alice e a Joana. (...)
Guiné 63/74 - P14257: In Memoriam (217): Britt-Marie, esposa do nosso camarada José Belo, faleceu no passado dia 12 de Fevereiro
1. Mensagem dirigida ao nosso camarada José Belo, publicada hoje no sítio da Tabanca do Centro, a propósito do falecimento de sua esposa e companheira Britt-Marie:
Joaquim Mexia Alves
2. Em nome da Tertúlia da Tabanca Grande, aqui deixamos ao camarada José Belo, a seus filhos e demais familiares, o nosso abraço solidário e o profundo pesar pelo falecimento de sua esposa e mãe.
Caro amigo Zé Belo, que vos sirva de consolo saber acabou o sofrimento da vossa ente querida e que apesar de vos ter deixado fisicamente, ficará para sempre no vosso coração.
A Tertúlia
____________
Nota do editor
Último poste da série de 31 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P14100: In Memoriam (216): Rui Romero (1934-1966), cap mil inf, 1º cmdt da CCAÇ 1565 (1966/68)... Finalmente... a Verdade (Ana Romero)
É
sempre muito difícil escrever para dar notícias terrivelmente tristes.
Mais
difícil se torna quando envolvem um amigo a quem não podemos abraçar fortemente
nos nossos braços, por se encontrar milhares de quilómetros longe.
Não há
modos mais suaves ou melhores de dar estas notícias.
Em
escassos três meses, depois de diagnosticada uma doença do foro
oncológico, faleceu a Britt-Marie, mulher do nosso camarigo José Belo, que vive
longe na Suécia.
Como
Português que é, a distância do seu Portugal, da sua língua materna, não ajuda
nada a viver estes momentos dolorosos, que eu nem calculo o que sejam.
Podia
escrever aqui um “tratado” de palavras doces, de conforto, de solidariedade,
mas tenho, por experiência própria, que nestes momentos as palavras são
escusadas e que o melhor é o beijo na face, o abraço forte, apertado, de tal
modo que ele sinta que os nossos corações batem no mesmo compasso do dele.
E é
isso que aqui te queremos dar, José Belo, querido camarigo, um abraço que envolve
todos nós, mas um abraço de tal modo que sintas que estamos contigo agora e
sempre.
Joaquim Mexia Alves
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2. Em nome da Tertúlia da Tabanca Grande, aqui deixamos ao camarada José Belo, a seus filhos e demais familiares, o nosso abraço solidário e o profundo pesar pelo falecimento de sua esposa e mãe.
Caro amigo Zé Belo, que vos sirva de consolo saber acabou o sofrimento da vossa ente querida e que apesar de vos ter deixado fisicamente, ficará para sempre no vosso coração.
A Tertúlia
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Nota do editor
Último poste da série de 31 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P14100: In Memoriam (216): Rui Romero (1934-1966), cap mil inf, 1º cmdt da CCAÇ 1565 (1966/68)... Finalmente... a Verdade (Ana Romero)
Guiné 63/74 - P14256: Homenagem da Tabanca Grande à nossa decana: a "mindjer grande" faz hoje 100 anos... Clara Schwarz da Silva, mãe do Pepito (8): Mensagens da Tertúlia
MENSAGENS DE FELICITAÇÕES DA TERTÚLIA A PROPÓSITO DO CENTENÁRIO DA NOSSA GRÃ-TABANQUEIRA E MULHER GRANDE DO NOSSO BLOGUE SENHORA DONA CLARA SCHWARZ
1. Mensagem do nosso camarada Domingos Gonçalves, (ex-Alf Mil da CCAÇ 1546/BCAÇ 1887, Nova Lamego, Fá Mandinga e Binta, 1966/68):
Cem anos, - que linda Idade!
Tantas histórias para contar!
À grande tabanqueira,
Tão querida,
Só posso desejar
Outros cem anos de vida.
Domingos Gonçalves
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2. Mensagem do nosso camarada Francisco Baptista, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2616/BCAÇ 2892 (Buba, 1970/71) e CART 2732 (Mansabá, 1971/72):
Senhora D. Clara:
Pelo grande respeito e admiração que aprendi a ter por si, através de testemunhos deste blogue, neste dia em que faz cem anos, sendo a "Mulher Grande" desta Tabanca eu sinto-me tão pequeno que me apetece pedir-lhe a bênção como pedia à minha mãe, quando era jovem.
Desejo-lhe muita saúde e felicidade junto das pessoas que lhe são queridas, filhos, netos e amigos.
Sei que já sofreu muito, tantos familiares mortos sem justiça, numa guerra selvagem, só por serem diferentes na religião ou nos costumes. Além desses outros familiares próximos partiram sendo o último o seu filho Carlos, esse homem bom, que tanto fez pelo bem das gentes da Guiné-Bissau que tanta falta lhe sentirão.
É duro, é cruel, para uma mãe ver partir um filho mas D. Clara deve pensar na grande obra que ele realizou e na admiração, respeito e amizade que conquistou, o Carlos continua a viver, nessa obra, nas boas recordações que deixou e sobretudo no coração dos guineenses.
O Carlos continua vivo também nas semelhanças de carácter, de modos, no sorriso franco, nos gestos dos seus filhos e dos seus netos.
D. Clara, neste dia em que faz cem anos, que todos os seus amigos da Tabanca Grande festejam, assim como os seus familiares e amigos mais próximos, deixe que lhe chame mãe e que lhe envie com muito carinho os mesmos beijos que gostaria de dar à minha mãe, que já não me pode ler ou ouvir, porque já partiu.
PARABÉNS! MUITOS BEIJOS MÃE!
Francisco Baptista
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3. Mensagem do nosso camarada Fernando de Jesus Sousa (ex-1.º Cabo da CCAÇ 6, Bedanda, 1970/71):
Uma saudação muito especial, com estima e consideração para esta grande Senhora.
Desejo-lhe um feliz aniversário repleto de amizade e carinho.
Parabéns e muitas felicidades.
Fernando Sousa
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4. Mensagem do nosso camarada Manuel Luís Nogueira de Sousa (ex-Fur Mil Art da 1.ª CART do BART 6520/73, Bolama, Cadique e Jemberém - 1974):
Muitos parabéns á estimada e lutadora "centenária", meta alcançada por poucos.
Que acrescente muitos mais e com qualidade de vida.
MSousa
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5. Mensagem do nosso camarada José Casimiro Carvalho (ex-Fur Mil Op Esp da CCAV 8350 e da CCAÇ 11) - Gadamael, Guileje, Nhacra e Paúnca, 1972/74):
De forma indelével, o "Pepito" está ligado umbilicalmente a mim. Por isso e por ter sido gerado por essa menina, quero desejar, como ex-combatente ("tuga") e como apaixonado por esse POVO um bom aniversário e que ainda viva assista ao fim das atrocidades , entre elas a excisão feminina.
Parabéns BAJUDA.
José Carvalho,
ex-militar de Guiledje (Guileje)
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6. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70):
Luís,
A Sr.ª D.ª Clara Schwarz da Silva, Primeira Dama desta confraria, é nome memorável diferentes títulos: pelas sementes que deixou naquele ponto dos trópicos; por pertencer a uma estirpe familiar que deu a um grande escritor, seu marido, um grande artista e um desenvolvimentista humanitário, seus dois filhos já falecidos; e por dispor de um património de memória de que a Guiné não devia abdicar, pela fertilidade e pela luminosidade do seu exemplo.
Escrevo-lhe com o pedido especial de que não se esqueça de que não há futuro sem aprofundar o conhecimento do passado, é deste que despontam valores, princípios, matrizes da identidade de um país que vive finalmente um tempo de esperança e de pacificação.
E mando-lhe um beijinho, as mulheres grandes são por inerência caudais de sabedoria, archotes da experiência e expoentes de bravura.
E como tu observas, é mesmo inspiradora de todos nós, sei o que é perder um filho.
Que Deus a conserve e nos guie com o seu exemplo, a rasgada admiração do
Beja Santos
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7. Mensagem do nosso camarada José Lima da Silva (ex-Soldado da CCAÇ 1496/BCAÇ 1876, Bissum, Pirada e Bula, 1966/67):
Os meus parabéns para a Senhora Dona Clara Schwarz, e se a saúde deixar, que vais mais alguns anos.
Um beijo para ela
José Lima da Silva
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____________Nota do editor
Último poste da série de 14 de Fevereiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14255: Homenagem da Tabanca Grande à nossa decana: a "mindjer grande" faz hoje 100 anos... Clara Schwarz da Silva, mãe do Pepito (7): José Eduardo Reis Oliveira (Tabanca de São Martinho do Porto)
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