quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

Guiné 63/74 - P16889: Agenda cultural (533): "Buruntuma: algum dia serás grande", coleção "Fim do Império", livro de fotografia, a lançar oficialmente em janeiro ou fevereiro de 2017... 10 pp de texto, 100 pp. de fotografia. Autor: Jorge Ferreira, ex-alf mil, 3ª CCAÇ (Nova Lamego, 1961/63)


Cartaz de divulgação do livro do nosso camarada Jorge Ferreira, "Buruntuma: um dia serás grande", edição no âmbito do Programa Fim do Império, da Liga dos Combatentes, e que conta com o apoio do nosso blogue, Luís Graça & Camaradas da Guiné, Tabanca Grande


1. Mensagem do nosso camarada Jorge Ferreira, com data de 20 do corrente:


[Foto à esquerda: Jorge Ferreira, ex-alf mil da 3ª CCAÇ, tendo estado em Buruntuma com o seu pelotão (20 metropolitanos e 20 guinenses) entre novembro de 1961 e julho de 1962; a 3ª CCAÇ estava sediada em Nova Lamego, tendo mais tarde dado origem à CCAÇ 5, "Gatos Pretos"] (*)

Caro Luís

Na sequência da nossa conversa telefónica, junto além da Capa,  como sugeriste,  outros elementos que poderão interessar para uma 1ª divulgação do livro no teu /nosso Blogue. (**)

Relativamente à Sinopse  deixo ao teu critério as alterações que entendas por bem fazer.

Reitero os meus Votos de um Santo Natal e de um Novo Ano, pleno de alegrias e muita saúde.

Um Abraço de Amizade e os meus agradecimentos pela confiança  depositada.
Jorge Ferreira



Capa do livro

S I N O P S E 

“BURUNTUMA – algum dia serás GRANDE …” é um Livro de Fotografia, uma Reportagem Fotográfica (Páginas: texto: 10; fotos: 100; dimensões: 22 x 22 cm) sobre um Pelotão misto (20 militares guinéus e igual número de metropolitanos pertencentes ao Esquadrão de Cavalaria 252) que durante 11 meses (1961 / 62) esteve destacado naquela povoação fronteiriça [vd. mapa abaixo da Guiné-Bissau].

Através de imagens “velhinhas” de mais de 50 anos, pretende-se testemunhar a actividade militar desenvolvida naquela Região “Chão Fula” a que chamámos nomadização e traçar um retrato das gentes que o habitavam e que constitui um verdadeiro MOSAICO HUMANO .

Recuperando as nossas MEMÓRIAS, inserimos nesta 2ª PARTE – MH - um pequeno texto “Enquadramento Socio-Cultural do Povo Fula” baseado nas múltiplas conversas estabelecidas com as autoridades gentílicas da Região e com o Régulo Sene Sane, autoridade máxima do Regulado de Canquelifá que abrangia o triângulo Buruntuma – Bajocunda – Piche, área da nossa intervenção.

Relativamente às imagens de Jovens Fulas ostentando os seios descobertos, em MOSAICO HUMANO, manda a Verdade e Realidade Antropológica e Cultural do Povo Fula não lhe atribuir qualquer manifestação de erotismo, pondo de parte os princípios e convenções  da nossa tradição judaico-cristã.

Não se pode ignorar que a Mulher, entre os Fulas, tem como principais actividades o trabalho nos campos e a procriação. O homem terminada a sua higiene matinal recolhe-se sob a sombra de uma árvore frondosa, cavaqueando com os seus patrícios, dedilhando o Masbaha / Misbaha, similar a um Rosário com 39 ou 99 contas, e mascando noz de Cola, e assim vão passando os dias.

Mesmo as actividades relacionadas com a astorícia são os “meninos” que as desempenham.

Assim, não será de estranhar que a Mulher Fula assumindo os trabalhos mais árduos e para fazer face aos ardores do Sol impiedoso desnude o tronco e de quando em quando se refresque recorrendo à água dos poços (poças) disseminados pelos campos de cultivo.

Naturalmente que a nudez do tronco também funciona como factor de sedução, pois um casamento com um Régulo, Chefe de Tabanca ou proprietário abastado, libertará a “eleita” dos trabalhos mais pesados.

Exactamente, por isso, muitas dessas fotos foram recolhidas a pedido dos próprios familiares das jovens com o propósito de as enviarem para parentes que habitavam não só o “Chão Fula” como também os territórios vizinhos do Senegal e da República da Guiné-Conakry.

Preocupados com o rigor das nossas memórias, não deixámos de as confrontar com o trabalho de investigação “Fulas do Gabu”, 1948, do Secretário de Administração José Mendes Moreira.

Por último, foi nossa intenção manter a autenticidade das imagens inseridas, não recorrendo a qualquer manipulação apesar dos sinais de velhice que ostentam.[Vd. aqui algumas dessas velhas fotos de Buruntuma, no blogue de fotografia do autor, Jorge da Silva Ferreira.]

A todos os que me acompanharam nesta Missão, metropolitanos e guinéus de quase todas as etnias, dedico, em particular, esta reportagem fotográfica.

Jorge Ferreira

INFORMAÇÔES GERAIS

Preço: 12,5€ + Portes (disponíveis a partir de 20 de dezembro de 2016)

Lançamento formal: Jan / Fev 2017

Encomendas: jorgeferr@netcabo.pt

Mapa da Guiné-Bissau: posição de Buruntuma,  região de Gabu
____________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 19 de setembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16502: Tabanca Grande (495): Jorge Ferreira, ex-alf mil, 3ª CCAÇ (Bolama, Nova Lamego e Buruntuma, 1961/63), nosso grã-tabanqueiro nº 728...

terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Guiné 63/74 - P16888: Camaradas da diáspora (14): Amigos, por aqui, aos trancos e barrancos mas metendo o peito... (Augusto Mota, Brasil)

1. Mensagem de Augusto Mota, com data de 22 do corrente:



[foto à esquerda: ex-1º cabo, Grupo Material e Segurança Cripto (Bissau, QG, CTIG, 1963/66); viveu em Bissau até 1974,  e depois no Brasil, até hoje; natural do Porto, tem a dupla nacionalidade: é o nosso grã-tabanqueiro nº 6«726, desde 6/9/2016] (*)

Amigos, por aqui, aos trancos e barrancos mas metendo o peito.

Quero apenas agradecer a paciência que tiveram comigo ao longo do ano que agora se vai.
FELICIDADES para vocês no ano que se avizinha.
Dos alforges em um velho baú, mando alguns rabiscos...

Um abraço para todos! (**)
Mota

O SERTANEJO

por Augusto Mota

Lá na casa de taipa onde nasceu,
grosseira, velha,
triste,
poeirenta,
parida pelo chão seco,
nativo...

Nada de pilão.
Pau-a-pique nu,
suado
por mãos calejadas,
rudes,
duras,
sofridas,
mãos cansadas...

à porta, dizia,
dessa casa miserável,
isolada,
espraia o olhar pela imensidão
despida,
aguardando a noite

- ASSUSTADORA!

Pavorosa!
Noite de preces,
de murmúrios,
de silêncios que
gritos esfrangalham,
arautos da morte
e sua corte,
clamores desvairados
de impotência,
brados de insanidade,
uivos de agonia...

Naquela condição de
alma perdida,
aborto inesperado,
assustador,
submisso ao cansaço,
à desilusão,
pensa e repensa
em seus pedaços perdidos
por entre duendes,
relíquias,
fantasias,
orgasmos desvairados.

                                         - TUDO EM VÃO!

Ali
sepultou o pai, amargurado,
ali, também,
aquela a quem rasgou o ventre minguado...


- MAS MINHA MÃE, DEUS!
SUBLIME, ABNEGADA...
QUANTOS PECADOS DELA,
SIM!...
SÃO SEUS?...


Mais além,
naquele mato ressequido
de pontas para o céu
vermelho brasa,
jaz o filho famélico,
mirrado,
que o sol inclemente despia,
enlutava os olhos desmedidos,
quebrava a pele,
escravizava,
dominava...
até quedar de mãos abertas,

- SUPLICANTES!

apanágio desta terra madrasta de seus filhos.

A mulher o sepultou,
muda e mecânica,
guardando a dor no olhar
desesperado,
desvairado,
acusador...

Olha as gretas no solo
como veias...
são toalhas rendilhadas no capricho
por bruxas que pululam sorridentes.

- AQUI SATÃ FESTEJA SEUS DELÍRIOS
E DEUS RECOLHE AS PRECES DOS FINADOS!

Tudo quanto é vivo se apressa neste
satânico terreiro
onde mirabolantes vultos dançam,
pulam, festejam um
momento derradeiro...

Morreu a plantação
já faz tempo.
tinha um bode que vendeu,
chorou o jumento...
a léguas a caveira da vaquinha...

Xiquexique não tem mais.
Macambira,
Mandacaru,
Palma,
qualquer raiz...
a seca matou rato e urubu,
calango,
porco espinho e tatu...
restou sua loucura para alimentar
a teimosia
e a boca de palavras entupida.
Dizem velhos vizinhos de infortúnio:


- DEUS ASSIM O QUER.
                                          É NOSSO DESTINO.

                                          - QUE JUSTIÇA GRANDIOSA SERÁ ESSA
                                          QUE DÁ VIDA,
                                          QUE MATA,
                                          FAZ SOFRER?!...

QUE PAI É ESSE DE UM FILHO INOCENTE
QUE AFINAL NEM PEDIU PARA
NASCER?!...
QUE SÁDICO IMPRESTÁVEL
SE SATISFAZ
SOBRE A BRUTA NATUREZA?!...

Ao despertar,
sol matinal,
cenário de Dali.
Tela grotesca,
mágoa ,

- HUMILHAÇÃO.

Segue arquejando
pelo caminho imenso
tal braseiro inclemente,
tenebroso.
Sobraçando a enxada,
ossudo,esquálido,
esfarrapado,
sujo, 
débil,
pálido,
busca um local onde cavar.
Não a última morada de seus ossos
mas uma cova de onde brote
a vida.
Um barreiro milagroso
em que gente e bicho
comunguem na terra.

Pertinho dum juazeiro paladino,
senhoril,
seco mas imponente,
majestoso,
que ninguém sabe como ali nasceu...
vovô dizia:
- aqui corria um rio...

lança o ferro ao solo.
Cava, esburaca,
fura sem parar.
Ao lado,
de olhar mortiço,
lazarento,
o cachorro.
Um amigo da infância,
fiel até nas desventuras.
Alimenta-se com a própria fome...

enquanto o sol
hercúleo, vil, gigante,
aquele mesmo que mata e consola,
que nos alegra,
humilha,

- VIOLA...


brutal e fero cobre suas costas...


- NERO RESSUSCITOU NESTE SERTÃO!


desfere golpes, golpeia a terra
seca.
Há labaredas no aço da enxada...

Esta terra que tanto tem de valioso,
petróleo,
ouro,
turmalina,
água-marinha,
feldspato,
lítio e diamante ,
não tem, afinal, nada.
Não tem da vida o mais

- IM – POR – TAN – TE!!!...

E quando o desalento
o toma de loucura,
desnorteia
a mente conturbada,
surge então uma gotinha
que a terra sorve,
pingo de suor,
sangue,
até de lágrimas...
num frenesim de raiva,

- DESVARIO,

Cava mais forte,
cava mais profundo,
teimoso
sem parelha neste mundo,
quando então, o barreiro

- NASCE,
CHORA!

Por entre aquela terra
calcinada,
aparece uma sombra de umidade
que lentamente veste a cor do barro.

Cai de joelhos
e, molhando a boca
sôfrega, gretada,
aquele herói
surrado do sertão
apenas balbucia:

- Á G U A ! ! !


augusto mota
Vertentes do Lério

11/1990 
_______________

Nota do editor:

(*) Vd. postes de:

6 de setembro de  2016 > Guiné 63/74 - P16452: Tabanca Grande (493): Augusto Mota, grã-tabanqueiro nº 726... Especialista em material de segurança cripto (Quartel General, CTIG, Bissau, 1963/66), gerente comercial da Casa Campião em Bissau, agente do Totobola (SCML), agente e correspondente do "Expresso" e de outros jornais e revistas, livreiro, animador cultural, português da diáspora a viver no Brasil há mais de 40 anos...

8 de setembro de  2016 > Guiné 63/74 - P16465: Tabanca Grande (493): Augusto Mota, nascido no Porto, a viver no Brasil há mais de 40 anos, grã-tabanqueiro nº 726: "Não fui Cabo Cripto, fui sim do Grupo de Material e Segurança Cripto: éramos cinco a trabalhar num 'cofre' [bunker], no Quartel General, em Bissau (1963/66)... Já não me lembro do nome desses camaradas"... (E, depois como civil, até 1974, foi o homem dos sete ofícios!)

12 de setembro de 2016 >Guiné 63/74 - P16477: História de vida (11): Augusto Mota: nasceu no Porto, começou a trabalhar aos 10 anos, foi 1º cabo do Grupo Material e Segurança Cripto (Bissau, 1963/66), foi homem dos 7 ofícios em Bissau, como civil, foi para o Brasil em 1974, tem hoje dupla nacionalidade, tendo-se formado em ciências económicas... Trabalhou como gerente de empresas, foi empresário, entrou por concurso para a função pública, está reformado...

7 de outubro de  2016 > Guiné 63/74 - P16570: Blogpoesia (473): Peregrinação (Augusto Mota, camarada da diáspora no Brasil; ex-1º cabo, Grupo Material e Segurança Cripo , Bissau, QG, CTIG, 1963/66)

(**) Último psote da série > 23 de dezembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16874: Camaradas da diáspora (13): O ativista João Crisóstomo (EUA) visitou a nossa Tabanca Grande... e já tem causas para o ano de 2017... Um delas é a continuação das celebrações dos 225 anos do Consulado Geral de Portugal em Nova Iorque... Para ele e a Vilma, desejamos "Merry Christmas and Happy New Year".. Mas também para o Eduardo Jorge e a São que desta vez foram consoar para Londres...(O que os pais fazem pelos filhos, camaradas!)

Guiné 63/74 - P16887: O nosso querido mês de Natal de 2016 e Ano Novo de 2017 (22): Anabela Pires, amiga grã-tabanqueira e "globetrotter"


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Catesse > 22 de Janeiro de 2012 > A Anabela Pires, bendita entre as mulheres...

Foto: © AD - Acção para o Desenvolvimento / Pepito (2012). Todos os direitos reservados [ Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Mensagem natalícia da nossa amigfa grã-tabanqueira Anabela Pires [nascida em Moçambique, técnica superior de serviço social no Ministério da Agricultura, reformada, amiga dos nossos grã-tabanqueiros Jero (Alcobaça) e Alice Carneiro (Alfragide/Amadora), "globetrotter", esteve três meses, entre janeiro e março de 2012,  integrada, como voluntária, no projeto do Ecoturismo, da AD - Acção para o Desenvolvimento, e a viver em Iemberém; foi o golpe de Estado de 2012 que a obrigou a sair da Guiné-Bissau]


Assunto - O Amor no Natal e no Ano Novo


Queridos familiares, amig@s, ex-coleg@s, vizinhos,

O Natal está a chegar! Para mim o Natal é, ou deve ser, uma época especial dedicada ao AMOR pelos outros. Por isso nestes dias há temas que não me saem do pensamento:

(i) Aleppo, atentados, refugiados, guerras ....

(ii) corrupção, ganância, falta de vergonha, a grande desigualdade social atribuída às diferentes profissões, discussão do salário mínimo nacional comparado com os salários usufruídos por outros, a pobreza mesmo de muitos que trabalham todo o ano ....

(iii) depreciação constante de valores fundamentais tais como a Honestidade, a Educação (não a escolaridade, mas sim a correção com que tratamos os outros), a Sinceridade, a Humildade, a Gratidão, a Bondade, a Generosidade, a Igualdade, a Paz ....

(iv) o tão imperfeito apoio dado pelos nossos governantes às pessoas portadoras de deficiência ..... onde encontramos tant@s heróis e heroínas.

Porque os meus pensamentos andam por estes temas e porque penso que é disto que o nosso país e o mundo precisa, os meus votos de Natal e para o Ano Novo são para que cada um de nós se esforce por ser mais honesto, mais humilde, mais grato, mais generoso, mais pacífico e mais defensor da igualdade social.

Votos pessoais de um Natal e Ano Novo harmoniosos, para vós e vossas famílias, onde não falte a Coragem aos que estão a viver momentos difíceis.

Abraço cada um de vós em particular, com muita força, e quero expressar a minha gratidão a todos aquel@s que me manisfestaram o seu carinho no ano que agora termina.

Anabela Pires

__________________

Nota do editor:

Último poste da série > 26 de dezembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16884: O nosso querido mês de Natal de 2016 e Ano Novo de 2017 (21): José Carlos Mussá Biai, José da Câmara, Aires Ferreira e José Lino Oliveira

Guiné 63/74 - P16886: Parabéns a você (1184): José Pedro Neves, ex-Fur Mil Op Especiais da CCAÇ 4745/73 (Guiné, 1973/74)

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Nota do editor

Último poste da série de 25 de Dezembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16879: Parabéns a você (1183): Ismael Augusto, ex-Alf Mil Manut do BCAÇ 2852 (Guiné, 1968/70)

segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

Guiné 63/74 - P16885: Manuscrito(s) (Luís Graça) (106): Que 2017 seja, para os jovens idosos da Tabanca Grande, um ano de prática do envelhecimento ativo, saudável e produtivo, a exemplo dos meus amigos caminheiros do Parque da Quinta das Conchas, Lumiar, Lisboa


Lisboa 18 de dezembro de 2016 >  Lisboa > Jardim Olavo Bilac,  Largo das Necessidades >  A Lisboa ribeirinha ao lusco-fusco. Lisboa  (e o resto do pais ..) é cada vez mais uma cidade de... jovens idosos (e de adultos idosos e de idosos-idosos) que aprendem a viver e a envelhecer de maneira ativa e saudável.

Foto (e legenda): © Luís Graça (2016). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Canaradas da Guiné]




As janeiras dos caminheiros da Quinta das Conchas


por Luis Graça






Anda o poeta desinspirado
Nesta quadra de natal,
Mais que triste, desassossegado,
Quando no mundo triunfa o mal.


Mas hoje de conta façamos
Que a quadra vai ter magia,
E a todos vós desejamos
Bom almoço e alegria.

Natal é consumição,
Mas não p’ra estes caminheiros,
Tratam bem do coração,
Na saúde são os primeiros.

Fazem guerra ao colesterol,
Os das Conchas, gente amiga,
Gostam de apanhar sol
E fazem guerra à barriga.

Também gostam de blá-blá,
Os donzéis e as donzelas,
São inimigos do sofá,
Tanto eles como elas.

Aqui respiram bem fundo,
Desligam o complicómetro,
Depois de viajar p'lo mundo,
E fazer muito quilómetro.

Ninguém chateia ninguém,
Nem ninguém se atropela,
Sabe-se o gosto o que a vida tem
E anda-se com mais cautela.

Neste almoço de Natal,
A amizade estreita laços,
Que esta gente quer, afinal,
É beijinhos e… abraços!

Boas festas, queridos amigos,
Mais um ano está passado,
Com fintas a alguns perigos, 
Mas por certo bem gozado.


Lisboa, Quinta das Conchas,

20 de dezembro de 2016 (*)

Comentário de LG:

Já aqui falei deste de grupo de gente senior (**), que inclui alguns amigos e camaradas da Guiné, membros da nossa Tabanca Grande (Alice Carneiro, João Martins, Joaquim Pinto de Carvalho e esposa Maria do Céu, bem como outros antigos combatentes) e que se juntam todas as terças feiras de manhã para conviver e fazer duas horas de caminhada no Parque da Quinta das Conchas, no Lumiar, em Lisboa (vd. aqui o sitio da Camara Municipal de Lisboa).

De tempos a tempo fazem uma visita lúdico-gastronómico-cultural, geralmente de dois dias, fora de Lisboa... E almoçam juntos, em certas datas marcantes. Antes da partida para as férias de verão, fazem uma celebração gastronómico-tertuliana no restaurante O Arranhó, ali perto da Quinta das Conchas. Fazem também um almoço de Natal.

São todos ou quase todos (e são mais as donzelas do que os donzéis) gente reformada,  das mais diversas profissões, magistrados, advogados, professores, engenheiros, médicos, enfermeiros, jornalistas, topógrafos, técnicos de serviço social, etc. Gostam de viahar pelo mundo fora, e alguns já conhecem, os quatros cantos do planeta,,,

É a tertúlia da Quinta das Conchas, como eu lhes chamo, mas à qual eu ainda não pertenço,  formalmente... Acolhe-me com simpatia e amizade, sempre que por lá apareço... Uma vez por outra, sento-me à mesa com eles e elas, os/as caminheiros/as da Quinta das Conchas, para dar dois dedos de conversa, almoçar, tomar um café, ... Digamos, três ou quatro vezes por ano... Costumo levar para a "sobremesa" uns versinhos, de fabrico próprio,,, Estes foram os últimos que fiz (e que a Alice "declamou"), há dias, no almoço de Natal, a que eu não pude ir.

Regressam no início do novo ano de 2017... E oxalá / inshallá / enxalé o seu exemplo frutifique, nomeadamente entre os nossos grã/tabanqueiros.., que são mais "sedentários".

Porqu~e destacar este grupo de am,igos/as ? Os caminheiros da Quinta das Conchas promovem o envelhecimento ativo, e saudável, através da atividade física e do convívio, importantes para a gente se manter á tona da vida, com saúde e qualidade de vida,,, E são, de facto,  um exemplo a seguir... Quem quiser lá aparecer às 3ªs feiras, às 10h00, será bem vindo. Reunem-se a essa para tomar café (, entrada pela Rua da  Tobis Portuguesa), antes de darem início à caminhada de duas horas... Cada um ao seu ritmo, pois claro... Não há metas nem pódium...

Recorde-se que a OMS (Organização Mundial de Saúde) define envelhecimento ativo como o processo de otimização das oportunidades para a saúde, participação e segurança, para melhorar a qualidade de vida das pessoas que envelhecem.

Que 2017 seja, para os jovens idosos da Tabanca Grande,  um ano de prática do envelhecimento ativo, saudável e produtivo, a exemplo  dos nossos  amigos caminheiros do Parque da Quinta das Conchas, Lumiar,  Lisboa.  (LG)
______________

Notas do editor:

(*) Último poste da série > 18 de dezembro de  2016 > Guiné 63/74 - P16846: Manuscrito(s) (Luís Graça) (105): Natal de 1955 (... quando ainda o Pai Natal não tinha sequestrado e morto o Menino Jesus)

Guiné 63/74 - P16884: O nosso querido mês de Natal de 2016 e Ano Novo de 2017 (21): José Carlos Mussá Biai, José da Câmara, Aires Ferreira e José Lino Oliveira


Lisboa, Avenida da Liberdade, 18 de dezembro de 2016 > Iluminações de Natal

Vídeo (1' 00'') > alojado no You Tube > Luís Graça


1. Mais algunas mensagens natalícias de amigos e camaradas da Guiné:


 (i) José Carlos Mussá Biai   [o nosso "mininu do Xime", membro da nossa Tabanca Grande, desde longa data, hoje engenheiro florestal, a viver e a trabalkhar em Portugal]


Caros Luís e Camaradas da Guiné,

Mais um ano prestes a terminar e um outro que se aproxima a grande velocidade...
Faço votos que o próximo ano seja melhor do que este que está a terminar, tanto em termos pessoais, familiares e profissionais (para aqules que ainda estão no ativo).

Um Natal muito Feliz e com muita saúde.

(ii)  José da Câmara  

[ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 3327 e Pel Caç Nat 56, Brá, Bachile e Teixeira Pinto, 1971/73]

Para os meus fmiliares e amigos um Feliz e Santo Natal. Que o Menino vos traga muita saúde.

(iii)  Aires Ferreira

[ex-alf mil, CCAÇ 1686 / BCAÇ 1912; Mansoa, 1967/69)}

Feliz Natal e um Novo Ano com muita saúde e alegria.

Um abraço


[ex-Fur Mil Amanuense da CCS/BCAÇ 4612/74, Mansoa, Cumeré e Brá, 1974]

Bom dia, feliz Natal, muita saúde  e um bom Ano de 2017.

____________

Nota do editor:

Último poste da série > 25 de dezembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16882: O nosso querido mês de Natal de 2016 e Ano Novo de 2017 (20): Boas festas com água...Em 2016 ajudámos cerca de 100 mil pessoas a ter água potável junto das suas casas (Patrício Ribeiro, Bissau)


Guiné 63/74 - P16883: Notas de leitura (914): “Guiné-Bissau, das Contradições Políticas aos Desafios do Futuro”, por Luís Barbosa Vicente, Chiado Editora, 2016 (2) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 21 de Dezembro de 2016:

Queridos amigos,
Não se pode ficar insensível à natureza das análises que Luís Barbosa Vicente faz ao seu país, é corajoso ao pôr em cima da mesa os custos da política sem regras, as intrigas institucionais, a falta de solidariedade entre os órgãos de soberania e o tremendo impasse político em que vive a Guiné-Bissau. Aponta remédios, socorre-se da sua profissão de gestor de projetos e de formador e consultor para sugerir uma reforma da Administração Pública que dê segurança e competência aos quadros e administrativos, dignidade para que a Função Pública e a vida das autarquias ganhe vivacidade; por outro lado aponta novos caminhos para a participação pública. Observações rigorosas, contundentes, de um guineense que vive em Rio Maior, sem descurar a sua pátria.

Um abraço do
Mário


Olhares sobre a Guiné-Bissau depois das eleições de 2014, até hoje (2)

Beja Santos

A obra intitula-se “Guiné-Bissau, das Contradições Políticas aos Desafios do Futuro”, por Luís Barbosa Vicente, Chiado Editora, 2016. O autor é guineense e desenvolve ampla atividade como gestor de projetos e desenvolvimento e, igualmente, como formador e consultor da União Europeia.

No texto anterior, deu-se conta da sua análise sobre as profundas contradições existentes ao nível das instituições de soberania guineenses, e como é que elas têm sido marcantes depois das eleições de 2014, até à atualidade.

Luís Vicente entende que todos estes desencontros permanentes em que a Guiné-Bissau incorre também derivam do abandono do legado político do PAIGC, e que foi a alavanca da luta pela independência. E explana o tema da unidade, as propostas programáticas de Cabral, a dinâmica da organização política e a vontade de mobilização interna para progredir para o desenvolvimento e para novas patamares da civilização e da cultura dos homens livres, pós-colonialismo.

O autor atribui uma enorme importância a um desligamento entre a entidade política que é o PAIGC com os grupos constituintes da sociedade civil, é como se a entidade política vivesse num circuito fechado, em que cada um militante aspira a uma fatia maior para a consumação dos seus interesses.

E assim se retoma a questão da unidade. Quando o autor regressou à Guiné depois das eleições de 2014, sentiu que os seus interlocutores tinham uma preocupação comum: unidade, coesão e urgência no estabelecimento das prioridades para o arranque do país, bem como com a reorganização do aparelho de Estado. Seguidamente, analisa os constrangimentos e desafios que se põem à Administração Pública e lembra que todo o enviesamento procede do período subsequente à independência da Guiné-Bissau.

Um membro do PAIGC, logo a seguir a Outubro de 1974, deu conta da relativa indiferença por parte dos membros do governo quanto à necessidade de estabelecer procedimentos administrativos para uso da máquina do Estado. Naquele primeiro governo de Luís Cabral nada estava escrito sobre a sua estrutura e muito menos quanto aos titulares dos seus diferentes órgãos. Sabia-se apenas quem estava em determinado cargo, o resto era mistério. Extrapolando para os dias de hoje, observa o autor: “A maior parte dos serviços funcionam por autorrecriação dos seus dirigentes, funcionários e técnicos, sem quaisquer normas de procedimentos administrativas e de controlo previamente definidos, daí existirem falhas de comunicação entre as administração do mesmo serviço público e serviços diferentes incluindo a relação entre o cidadão, o Estado e a Administração Pública”. Em cada governo, quem chega altera a sua maneira a estrutura do cargo que vai desempenhar, seja assessor-conselheiro, diretor de gabinete. Vive-se a instabilidade crónica.

Todas as críticas dos cidadãos ao funcionamento da Administração acabam por ter fundamento: a justiça continuar a funcionar mal, não garante ao indivíduo o seu papel de defensor da causa pública; existem funcionários públicos a mais e sem qualificação, isto num estado que consome mais de metade da riqueza nacional com os encargos com a Administração Pública. E finaliza o autor: “Não existe um diploma que regule de forma global, sistemática e coerente, o modo de proceder da Administração Pública perante os particulares, o que se traduz na vigência de ambiguidades que prejudicam os particulares e põem em causa um bom e regular funcionamento da Administração”. Ele defende um plano de modernização administrativa e governação eletrónica da Guiné-Bissau e explana abundantemente sobre o modelo, dando como exemplo o que fez no quadro da cooperação entre o município do Rio Maior e a Câmara Municipal de Bissau – é nos termos de uma experiência uma matéria digna da maior intenção dos quadros políticos guineenses.

Por fim, o autor faz propostas para o novo paradigma do desenvolvimento assente nos pilares da ética, da responsabilização dos agentes públicos, na valorização da diplomacia económica e numa nova dinâmica da cooperação, detalhando as potencialidades do setor mineiro na Guiné-Bissau.

Olha-se para este ensaio como uma indesmentível prova de boa vontade de um guineense que pretende ver a Guiné-Bissau trilhar caminhos mais largos na boa governação, no exercício da cidadania, na ética política e na valorização dos mercados, em nome de uma riqueza melhor distribuída.
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Nota do editor

Último poste da série de 23 de Dezembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16872: Notas de leitura (913): “Guiné-Bissau, das Contradições Políticas aos Desafios do Futuro”, por Luís Barbosa Vicente, Chiado Editora, 2016 (1) (Mário Beja Santos)