segunda-feira, 4 de julho de 2022

Guiné 61/74 - P23410: Notas de leitura (1461): "Crónicas Soviéticas", por Osvaldo Lopes da Silva; Rosa de Porcelana Editora, 2021 (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 4 de Julho de 2022:

Queridos amigos,
O nome Osvaldo Lopes da Silva está diretamente associado à presença de quadros cabo-verdianos que tiveram um papel da maior importância nos derradeiros anos da luta. Leopoldo Amado já entrevistara longamente este quadro do PAIGC e do PAICV tudo a propósito da sua participação no cerco de Guileje. É um documento memorial de quem acompanhou ininterruptamente durante 28 anos a história da URSS e procurou estudar as sucessivas evoluções até à desintegração da URSS. Julião Soares Sousa saudará no prefácio a importância destes testemunhos, que são raríssimos. Atenda-se ao que ele vai escrever sobre o papel da URSS não só no apoio ao PAIGC como no relacionamento havido com outros movimentos de libertação. Não é surpresa o que ele escreve do mau relacionamento entre o aparelho dirigente soviético e o MPLA.

Um abraço do
Mário



Memórias de um quadro do PAIGC e PAICV na União Soviética

por Mário Beja Santos


"Crónicas Soviéticas", por Osvaldo Lopes da Silva, Rosa de Porcelana Editora, 2021, é uma narrativa de índole memorial centrada fundamentalmente na década de 1960 e que acompanha a vida deste quadro do PAIGC e PAICV no seu relacionamento com a URSS, até ao seu desmembramento. 

Osvaldo Lopes da Silva cursava Engenharia Civil em Portugal quando, em 1961, aderiu ao PAIGC e partiu para o exílio. Completou o curso de Economia em Moscovo, foi comandante de artilharia na luta armada na Guiné, teve papel relevante no cerco a Guileje. Com a independência de Cabo Verde assumiu as pastas ministeriais da Economia e Finanças e posteriormente dos transportes, comércio e turismo. 

É, indiscutivelmente, um ensaio histórico a ter em conta não propriamente por relato que o autor nos dá da evolução da URSS, mas do seu papel com as lutas de libertação nacional, havendo referências bem claras do apoio dado pela URSS ao PAIGC.

O autor chega a Moscovo em finais de 1961, manterá uma relação ininterrupta de 28 anos com o país. Irá recordar as vivências do estalinismo, a ascensão de Khrushchov, a crise dos mísseis, a queda de Khrushchov, a invasão da Checoslováquia, uma narrativa que se prolongará até 1989, data em que ele visita pela última vez a URSS. Considera-se testemunha privilegiada da vida da União Soviética. Fala-nos dos seus estudos em Kiev, a tentativa dos anfitriões em dar explicações para as crises da Polónia e da Hungria, a doutrina da coexistência pacífica, mas o autor vai detetando situações anómalas, um exemplo. 

“O que ainda restava da paranoia securitária da era de Estaline atingia por vezes os limites do ridículo. Os cidadãos soviéticos não dispunham de lista telefónica. Nem mesmo os da maior cidade, Moscovo, com os seus 6 milhões de habitantes. Para ultrapassar a situação, a cidade de Moscovo, que já era imensa nos anos 60, era servida por uma rede de uns 10 quiosques, não mais, cada um depositário de uma lista telefónica.”

E descreve os interrogatórios de quem estava do lado de lá do balcão, tão minuciosos que afastavam os mais afoitos. Relata a vida universitária dos estudantes de África, Ásia e América Latina, as conversas havidas com antigos presos políticos, as prisões mais arbitrárias que imaginar se possa. 

E acompanhamos as estimas e amizades que ele vai fazendo com gente que lhe fala da História da Rússia, ainda do tempo do Romanov e da ascensão do bolchevismo, dir-se-á que não há aqui elementos históricos novos, mas é uma narrativa muito bem-apresentada, 

Osvaldo Lopes da Silva disseca o estalinismo em todo o esplendor dos seus crimes, vamos perceber o ódio enraizado dos polacos contra os russos, e mesmo antes da Segunda Guerra Mundial. Temos o corolário das purgas, antes de mais dos leninistas da primeira hora até ao complô que estava a ser montado sobre médicos judeus, estava igualmente prevista uma purga de físicos mas Estaline e Béria retraíram-se quando o físico-chefe deu a saber que o fabrico da bomba atómica se baseava na teoria da relatividade e da mecânica quântica, isto quando o aparelho comunista se preparava para exorcizar a “teoria idealista” da relatividade.

A narrativa prossegue dando conta da política de Estaline durante a Segunda Guerra Mundial, dos problemas emergentes com a China, as infâmias do acordo germano-soviético de não agressão de 1939, temos depois a era de Khrushchov, inicialmente cheia de esperanças, o abalo provocado pela crise dos mísseis de Cuba, a nova liderança soviética com Brejnev à frente, um período hoje inequivocamente classificado como de estagnação e da burocracia toda poderosa.

Em finais de janeiro de 1967, Amílcar Cabral chegou a Moscovo vindo de Cuba, dá instruções a Osvaldo para partir para Conacri. Está nessa altura em preparação uma formação militar em que participaram cabo-verdianos com novo armamento destinado à guerrilha. Salta o seu relato para a separação de Guiné-Bissau de Cabo Verde e escreve o seguinte:

“Na impossibilidade em que Cabo Verde se encontrava nenhuma intervenção no sentido de alterar uma evolução política que se anunciava destrutiva, fazíamos apelo aos amigos que nos acompanharam na Luta que se aproximassem mais dos guineenses, com ajuda e aconselhamento. Foi-me assegurado que a nossa interpretação dos acontecimentos ocorridos na Guiné-Bissau tinha pleno cabimento nas análises das autoridades soviéticas e aconselhavam-nos a deles tirar uma inequívoca conclusão: o projeto de Unidade Guiné-Cabo Verde estava morto e enterrado; tentar ressuscitá-lo só podia levar à desnecessária confrontação.”

O autor dedica um capítulo ao papel da URSS nas lutas de libertação, desvela que Khrushchov era apoiante da descolonização, daí a criação da Universidade Patrice Lumumba para milhares de jovens do terceiro mundo, e concedeu uma ajuda multiforme aos movimentos de libertação nacional. 

Os soviéticos eram pragmáticos, preferiam concentrar a ajuda na formação de quadros militares qualificados e graduar o fornecimento de material bélico à medida que o movimento de libertação nacional desse provas de controlar o terreno. Não esquece o grave diferendo sino-soviético e dá-nos uma imagem dos primeiros anos da luta dos movimentos de colónias portuguesas.

“O material fornecido pela União Soviética ao PAIGC começou por ser constituído por pistolas Makarov, carabinas SKS, pistolas metralhadoras PPCha, a pachanga dos guerrilheiros, morteiros, canhões sem recuo, tudo material que abarrotava os paióis dos tempos da II Guerra Mundial e que já não tinha qualquer utilidade para as renovadas e modernizadas forças armadas soviéticas.” 

Refere o salto qualitativo de 1969 com os cursos abarcando artilharia, minas e armadilhas, o PAIGC passou a receber os mísseis terra-terra GRAD e cada vez mais AK, em detrimento de PPCha.

E recorda que o ponto mais alto da ajuda militar da URSS ao PAIGC foram os mísseis antiaéreos Strela. Essa ajuda militar dava especial atenção à formação militar, em centros de formação ou em bases navais. 

Também foi dispensado apoio à formação de pessoal de saúde, formaram-se algumas centenas de ajudantes de enfermagem. É igualmente referido que o principal interlocutor de Cabral era Boris Ponomariov, o responsável pela programação anual da ajuda soviética na luta do PAIGC. É aquando de uma dessas visitas que o autor nos relata o que pensava sobre a unidade de Guiné-Cabo Verde e as discussões havidas com Cabral. Osvaldo tinha sérias reservas, como escreve. 

“A simples constatação da existência de fortes resistências ao projeto de unidade no seio de guineenses e de cabo-verdianos, as quais tenderiam a agudizar-se depois de vencido o inimigo comum, o colonialismo português, só poderia reforçar as minhas reservas. A plataforma que eu proporia seria no sentido de salvar o que fosse possível do relacionamento entre guineenses e cabo-verdianos, apresentado abertamente a unidade como um contrato para a luta, entre partes reconhecidamente diferentes, com claro respeito pela personalidade nacional de cada uma delas.” 

E discute com Cabral, que lhe pergunta mesmo se ele pensava que queria impor a unidade pela via autoritária, se não tinha confiança nele. Ao que Osvaldo respondeu: 

“Tenho toda a confiança no camarada Cabral. Não tenho é confiança num projeto que depende, em tudo, da boa fé de um só homem.” 

O autor conclui a sua narrativa com a descrição da cooperação Cabo Verde-União Soviética.

Como observa em prefácio Julião Soares Sousa, há um mérito maior neste trabalho. 

“É que são praticamente inexistentes memórias de quadros de movimentos de libertação que, tendo feito formação na URSS ou algures.  se predispuseram a relatar as suas vivências. Não podia deixar de enfatizar a importância deste contributo de Osvaldo Lopes da Silva para a História Contemporânea.”
Osvaldo Lopes da Silva, fotografia da Infopress de Cabo Verde, com a devida vénia
Fotografia tirada na base de formação militar de Perevalnei (Crimeia), em abril de 1969. Vê-se, da esquerda para a direita: Osvaldo Lopes da Silva, Samora Machel, oficial soviético, Amílcar Cabral, Agostinho Neto e não identificado.
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Nota do editor

Último poste da série de 1 DE JULHO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23401: Notas de leitura (1460): “O percurso geográfico e missionário de Baltasar Barreira em Cabo Verde, Guiné, Serra Leoa”, por Graça Maria Correia de Castro; Sociedade Histórica da Independência de Portugal, 2001 (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P23409: A(r)didos e mal pagos: histórias pícaras da nossa guerra (4): peripécias de um aspirante miliciano, no Depósito de Adidos de Luanda, um mês e tal à espera de transporte para o CTIG (João Rodrigues Lobo, ex-alf mil, cmdt, PTE / BENG 447, Brá, 1967/71)

1. Mensagem do João Rodrigues Lobo, ex-alf mil, cmdt do PTE (Pelotão de Transportes Especiais) / BENG 447 (Bissau, Brá, dez1967/fev1971)


Data - 4 jul 2022, 15h06
Assunto - Passagem por Depósito de Adidos

Ao ler artigos interessantes de camaradas nos Depósitos de Adidos (em Lisboa, Bissau e Luanda) comecei a relembrar alguns episódios (pícaros?), que espero tenham  interesse para publicação Talvez sim, talvez não, conforme comentários que li no Blog. (Mas aqui vão.) (*)

Estive no Depósito de Adidos de Luanda um mês e tal. (Novembro/Dezembro de 1968). Estava no QGA (Quartel General de Angola) quando fui mobilizado e fui imediatamente para o Depósito de Adidos a aguardar transporte para a Guiné. (Que não havia directo!)

Solução era  vir a Lisboa e daí para Bissau, mas quando?!... E em navios fretados, quanto tempo mais?

E, enquanto lá permanecesse, continuava como aspirante miliciano pois só seria promovido (a alferes) à data do embarque.

Solução: Lá arranjei uma “cunha” na Força Aérea, tendo conseguido lugar num avião que vinha para Lisboa e com escala na ilha do Sal. Dificil,  pois estava lotado para o destino Lisboa. 

Além disso ainda consegui trazer a minha mala com um pouco mais do peso permitido. Mesmo assim tive de vir com as botas calçadas para aquela não pesar mais... Enfim, mais uma semanita e tal na ilha do Sal, onde na messe me roubaram uma boa camisola, no dia da partida, até me levarem para Bissaslanca num avião de carga da FAP, entre caixotes e demais material.

No Depósito de Adidos, em Luanda, a situação era sempre diferente e interessante, pois por lá passavam todos os camaradas em deslocações, à espera de transportes, para consultas, etc, muitos deles “pirados” e outros muito “pirados”.

Assim, eu embora tenha conseguido não dormir nem comer lá (e raramente lá estava durante o dia), sempre tinha de fazer serviços e nesses dias por lá ficava.

Alguns episódios que recordo:

Todos os dias era recebido pelo Oficial de Dia um telefonema do QGA  (não me recordo do nome da secção, seria ComLad?), para saber da situação no DA. (Esse telefonema era de horário aleatório.)

Certa noite, estando eu lá a dormir, por estar de serviço juntamente com  um Alferes, foi recebido o tal telefonema do QG, o Alferes dormia e ressonava e por mais barulho que fizesse não acordava. Resolvi então atender e, logo do outro lado, o militar disse a senha, à  qual eu teria de responder com a contra-senha. Mas qual contra-senha? 

Não notei que ficasse muito admirado por eu não saber. (Porventura já seria habitual naquele DA.) Lá me explicou que eu teria de ver um cartão (que ainda demorei a encontrar) e, consoante a senha, ver no quadriculado como havia de responder. 

Lá fiz isso e dei-lhe a contra-senha errada! Perguntou-me de imediato o nome e quem eu era, ao que respondi de imediato. Qual o meu espanto quando ele se identificou como capitão e disse que me conhecia muito bem, pois tinha estado comigo no QG. Após alguma boa cavaqueira, “perdoou” o lapso, lá se despediu e me poupou uma provável “porrada”.

Era habitual, todas as noites, haver uma ronda de jeep por algumas unidades de Luanda, com passagem e apresentação aos oficiais ou sargentos de dia das mesmas. Normalmente a ronda era feita por sargento ou furriel e praças. 

Bela noite, estando eu de serviço, o alferes, o sargento e alguns praças escalados já não se encontravam no DA, uns por entretando terem tido transporte, e outros se encontrarem “desenfiados”. Resolvi fazer a ronda sozinho, conduzindo o jeep, o qual consegui, e sendo “compreendido” pelos camaradas das outras unidades. Correu bem, nada se passou no DA,  nem na ronda e regressei ao DA, tudo calmo, nada se passou...

Outra noite, também de serviço e também sem o alferes, fui acordado por um camarada pois nas traseiras de uma casa civil com muro para o quartel, um homem gritava a bom som, pedindo ajuda porque o queriam matar. Com uma escada que encontrámos, trepei até ao cimo do muro e vi-o muito exaltado dizendo que à frente da casa estava um individuo a ameaçá-lo, por causa da mulher, e se nós poderiamos ajudar. 

 Lá lhe disse que era assunto civil e que chamasse a polícia, mas ele dizia que tinha medo de entrar em casa pois o outro poderia estar também a tentar entrar pela frente. Lá ficou mais sossegado quando eu lhe disse que iria mandar o jeep de ronda passar à frente da casa dele. O jeep passou, mas não foi visto homem nenhum, nem mais vimos ou ouvimos o fulano, nem nessa noite nem nunca mais, e também porque nunca mais passei frente à casa dele.

E, por agora é tudo, até ao próximo post.

Abraço, 
João Rodrigues Lobo.
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Guiné 61/74 - P23408: Tabanca da Diáspora Lusófona (19): Oh, home, sweet home!... De novo em casa, depois de um périplo de dois meses por Portugal, Inglaterra e Eslovénia (João Crisóstomo, Queens, Nova Iorque)


Foto nº 1 > Inglaterra >Stonehenge > 20/5/2022 > João e Vilma


Foto nº 2 > Inglaterra > Londres > Piccadilly Circus >
 18/5/2022> João e Vilma


Foto nº 3 > Inglaterra > Londres > 18/5/2022>
 "Depois do valente trambolhão da Vilma , 
escadas abaixo, neste ‘London bus', 
não houve vontade de mais fotos… e voltamos a Portugal"


Foto nº 4 >  Eslovénia  >  > 18/5/2022> Vilma no seu "jardim secreto", algures numa das montanhas da sua bela e querida terra natal


Fotos (e legendas): © João Crisóstomo (2022). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Mensagem de João Crisóstomo, membro da nossa Tabanca Grande, com cerca de 190 referências no blogue, conhecido luso-americano a viver em Queens, Nova Iorque, ativista social (tendo-se batido por causas como Foz Côa, Aristides Sousa Mendes e Timor Leste), régulo da Tabanca da Diáspora Lusófona, ex-alf mil inf, CCAÇ CCAÇ 1439 (Xime, Bambadinca, Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67):

Data - segunda, 27/06/2022, 00:23

Assunto - Home, sweet home!

Caríssimo:
 
Acabo de chegar dum encontro da “Academia de Bacalhau de Long island” (comemorando mais um aniversário) e lá fizemos os tradicionais brindes “Gavião do Panacho” (*)… Ao transmitir-lhes o abraço que o Rui Chamusco me instruiu esta manhã para fazer, eles decidiram dar uma pequena ajuda para a Escola S. Francisco de Assis em Timor Leste… Gente boa!

Chegámos bem, vindos da Eslovénia, depois de dois atrasos (menores): um Zagreb, minutos antes de nós deslocarmos eles fecharam tudo para uma aterragem de emergência, usando a pista que o nosso avião ia usar para deslocar. Avisaram-nos etc. etc., ao mesmo tempo que nos informaram ter tudo corrido bem sem acidentes para passageiros e tripulação. É tudo o que sei, nem sei sequer que avião foi. 

Depois em Lisboa, em trânsito , chegando atrasados, foi uma corrida para apanhar o avião para Nova Iorque. E ao fim e ao cabo não era preciso pois outros aviões chegaram atrasados e eles esperaram… Chegámos um pouco atrasados a Nova Iorque mas chegámos direitinhos.
 
Tínhamos um amigo nosso à nossa espera e estamos em casa. Oh, home, sweet home! Como é bom entrar no nosso próprio buraquinho! (Depois de dois meses fora, passando por Portugal, Inglaterra e Eslovénia, périplo de que te mando mais algumas fotos.)

Mando-te os contactos que me pediste do ex-fur mil da CCAÇ 1439, Joaquim Teixeira, bem como do "Mafra",  Manuel Leitão, e do filho, Pedro Leitão (**). Não encontrei o nome do "Mafra"  na  lista de essoal da CCaç 1439. Dizes tu que ele era de um Pelotão de Morteiros... E já é tarde para ligar para ele. Mas amanhã eu ligo.

Estou, estamos, cansados… vou-me mesmo deitar que a idade agora já exige destas coisas…
Abraços e beijos à Alice. E sempre na esperança de que vocês nos façam a surpresa de nos anunciarem a vossa visita…

João e Vilma

2. Em mensagem anterior, de 16 de junho de 2022, 19h02, o João (ainda na Eslovénia com a Vilma)  tinha-nos dito, entre coisas, o seguinte:

(...) Nós estamos bem, e quase de volta a nova Iorque. Entre as voltas que temos dado neste país de sonho fomos visitar o nosso "Secret Garden”. Fica numas montanhas a 973 metros de altitude. Em 2017, por brincadeira deixamos a nossa passagem marcada numa árvore (sei que é coisa de garotos, mas deu-nos para aquilo…) e no ano seguinte marcamos a nossa passagem outra vez. Depois veio a pandemia etc.,  e no ano passado eu não pude acompanhar a Vilma. E este ano fomos ver se o nosso “memo” ainda lá estava… e estava , como podes ver pela foto.

Aproveito para juntar um apendice ao livro LAMETA. Este é um corolário à Escola S. Francisco de Assis em Timor Leste. Como sabes a situação da falta de professores credenciados ainda não encontrou solução e continuamos a lutar com quantas forças temos e todos os meios que se nos apresentam. Neste apêndice falo também do “Dia da Consciência”, celebrado amanhã , 17 de junho, data que felizmente não tem sido esquecida.
 
Um grande abraço , já com com muitas saudades, J
oão e Vilma. (...) (***)

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Notas do editor:



domingo, 3 de julho de 2022

Guiné 61/74 - P23407: Convívios (937): 37º encontro nacional do BENG 447, Caldas da Rainha, 25/6/2022, com 181 participantes (João Rodrigues Lobo, ex-alf mil, cmdt, PTE, Brá, 1967/71)






Caldas da Rainha > 25 de junho de 2022 > Vários aspetos do convívio que juntou 181 camaradas e familiares

Fotos (e legendas): © João Rodrigues Lobo (2022). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. Mensagem de João Rodrigues Lobo, ex-alf mil, cmdt do PTE (Pelotão de Transportes Especiais) / BENG 447 (Bissau, Brá, dez1967/fev1971)

Data - 25/06/2022, 18:41
Assunto - 37º Convívio do BENG 447

Decorreu hoje no Paraíso do Coto, Caldas da Rainha, mais um encontro dos camaradas do Grande Batalhão. (*)

Estiveram presentes 181 camaradas, com as suas inevitáveis recordações .

Do "meu" PTE  reconhecemo-nos 4, com sentimentos alegres e espontâneos, o Lobo, o Simão, o Leal e o Neves. Boas recordações. O capitão Aguiar também nos trouxe boas memórias bem como a excelente organização do Araújo e outro camarada.

Todos conviveram e recordaram tempos de há 50 anos atrás. Pró ano há mais. (**)

Grande abraço,
João

Anexo - 6 fotos
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 20 de junho de 2022 > Guiné 61/74 - P23372: Lembrete (41): 37º Encontro Nacional do Pessoal do BENG 447, Brá, Bissau, sábado, 25 de junho, Restaurante O Paraíso do Coto, Caldas da Rainha: há autocarros a partir do Porto e de Lisboa

(**) Último poste da série > 27 de junho de  2022 > Guiné 61/74 - P23387: Convívios (936): 26º Convívio do Pessoal de Bambadinca (1968/71) + CCAÇ 1439 (Xime, Bambadinca, Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67): Caldas da Rainha, 28/5/2022: Fotos - Parte II (João Crisóstomo)

Guiné 61/74 - P23406: Blogpoesia (771): "Amor e Vida", por Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547/BCAÇ 1887

© ADÃO CRUZ


Em mensagem do dia 28 de Junho de 2022, o nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547/BCAÇ 1887, (Canquelifá e Bigene, 1966/68) enviou-nos este seu pema:


Amor e Vida

Sei que a vida vive no caminho dos montes
sei que a vida mora na música das flores
sei que a vida mora na casa da poesia
e no coração do silêncio em que o sonho dorme.

Sei que a vida não é aurora resplandecente
nem o infindo vazio do nada
sei que a vida é flor criada
fio a fio
espinho a espinho
na esperança de encontrar o amor
no alvor da madrugada.

Sei que a vida só é poema
quando o amor se cruza no caminho
sei que o amor é sonho
quando o sonho acorda na canção da vida.

Hoje…

Não sei onde descobrir um raio de luz
ou um copo de vinho para acender o sol
nem descortino o pequeno horizonte
rente ao chão ou rente ao mar
onde amor e vida se possam encontrar.

Sei apenas que as noites são pequenas
para acordar no meio de um sonho bonito
e que as águas do rio não fazem ideia
de que as ondas do mar são águas de infinito
que apagam suavemente em leve sussurro
o que amor e vida escreveram na areia.


adão cruz

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Nota do editor

Último poste da série de 30 DE JUNHO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23399: Blogpoesia (770): "Já Poeta não sou", por Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547/BCAÇ 1887)

Guiné 61/74 - P23405: A minha guerra foi pior que a tua?!...(1): Bambadinca (1969), Gandembel (1968/69), Gadamael (1973) (Luís Graça / C. Martins / Hugo Guerra / Alberto Branquinho / Joaquim Mexia Alves)


Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) > Invólucros de granadas de canhão s/r, deixadas na orla da mata contígua à pista de aviação, na noite do ataque a Bambadinca, 28 de maio de 1969...  


Foto: © José Carlos Lopes (2013). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné > Região de Tombali > Gadamael > CCAÇ 2769 (Gadamael e Quinhamel, de janeiro de 1971 a outubro de 1972) > Vista aérea de Gadamael Porto nos finais do ano de 1971. Foto do cor art ref António Carlos Morais da Silva, e por ele gentilmente cedida ao nosso camarada Manuel Vaz.

Foto (e legenda): © Morais da Silva (2012) Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné > Região de Tombali > Gadamael > CCAÇ 2317 (1968/69) > A messe de oficiais

Foto (e legenda): © Idálio Reis (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Nas nossas conversas sobre a Guiné do nosso tempo (1961/74), já tenho ouvido "bocas"  do género: "Ah, mas não compares, o meu sítio foi muito pior do que o teu!"... 

Pior? Melhor? O que isso quer dizer? Há escalas para medir estas coisas?... Não creio. E até agora nunca ouvi dizer, a nenhum antigo combatente, que passou lá, na Guiné,  "as melhores férias da sua vida"...

Mesmo em Bissau, não havia o conforto e a segurança  que se podia esperar, por comparação, por exempo, com as outras capitais dos territórios em guerra, como Luanda e Lourenço Marques. Bissau chegou a ser flagelada, houve atentados terroristas, ouvia-se Tite a "embrulhar", estava a escassos quilómetros de Bissalanca e da Base Aérea nº 12, havia um inusitado movimento  de tropas, viaturas, aeronaves, navios da marinha,  estava rodeada de quartéis, tinha um enorme perímetro de duplo arame farpado, etc. 

Bissau era o "hall" de entrada da guerra...  Mas não se vivia lá tão mal (e em insegurança) como na generalidade dos quartéis e destacamentos do "mato"...  E no "mato" a guerra (e a sua violência) foi evoluindo com o tempo, e o próprio dispositivo militar foi crescendo e adaptando-se, de acordo com o terreno, a região, a implantação do IN, a sua agressividade, estratégia, armamento, população sobre o seu contr0lo, etc.  E, claro, o conceito de estratégia  dos nossos comandantes-chefes (de que destaco os três principais, Arnaldo Schulz, 1964/68; António Spínola, 1968/73; Bettencourt Rodrigues, 1973/74)...

Claro que havia diferenças em função do ramo das forças armadas a que se pertencia (Exército, Marinha, Força Aérea), especialidade, posto, local, período, companhias de quadrícula e de intervenção, tropa especial e "tropa-macaca", etc. 

Os desgraçados que estiveram em Gandembel (de abril de 1968 a janeiro de 1969), os "homens de nervos de aço", sofreram 372 ataques e flagelações em menos de nove meses, até que o Spínola mandou retirar aquele  dispositivo (em Gandembel e Balana) (*)... (Nos últimos tempos temos falado pouco de Gandembel, será que já está tudo dito ?!...)

Nunca ninguém contabilizou os milhares de granadas que lá cairam... e muito menos a dor, o sofrimento (físico e psíquico), o luto, o stresse pós-traumático, etc. (coisas que são mais difíceis de descrever, medir, quantificar...).

Mas Gandembel foi, fora de dúvidas,  um dos piores sítios da guerra da Guiné, mas também só existiu durante o tempo necessário para uma mulher gerar uma criança (nove meses). Depois a FAP foi lá e escaqueirou todo o trabalho ciclópico dos homens da CCAÇ 2317 (1968/70), que construiram, sob as ordens de Schulz e depois de Spínola, aquele quartel, a pá e pica, e defenderam-no com unhas e dentes das investidas do 'Nino' Vieira...

O mesmo se pode dizer de Guidaje, Guileje e Gadamael, nos meses de maio/junho de 1973... Será que se tornaram "colónias de férias" ou "resorts turísticos" depois disso? Guileje foi retirada em 22 de maio de 1973, por isso fica fora da corrida... Por seu turno, Guidaje acalmou, mais depressa que Gadamael... E houve outros sítios (por exemplo, na zona leste, no setor de Nova Lamego) que também conheceram o inferno depois da "batalha dos 3 G": Copá, Canquelifá, etc.

Como se costuma dizer,  cada um sabe de si e Deus sabe de todos...  Mas cada um tem o direito de dizer, aqui no blogue,  onde e quando a guerra lhe doeu mais...  

Vamos lá "repescar" alguns comentários do nosso vastíssimo blogue, que já tem mais de 23,4 mil  postes e 93,4 mil comentários... Alguns comentários "escondidos" (na vitrine das traseiras) merecem vir até à montra principal do nosso blogue, mesmo que seja uma dezena de anos depois... Ficamos também a saber que alguns dos nossos leitores (e comentadores) são mais nocturnos ("mochos") do que diurnos ("cotovias")...


2. Seleção de nove comentários, datados de 30 e 31 de Maio de 2011 e de 1 de junho de 2011, de vários camaradas,  ao poste P8345 (**), poste esse que teve cerca de 4 dezenas de comentários, numa altura (2011) em que ainda havia muita coisa para dizer, contar ou comentar, e a malta ainda tinha muito sangue na guelra. Mas também, de algum modo, estávamos a aprender a lidar com as nossas diferenças de perceção e opinião... e a cultivar o humor de caserna.

Refira-se, por fim que  um dos autores do poste P8345 (o Carlos Marques dos Santos) e três dos comentadores (Jorge Cabral, Luís Faria, Torcato Mendonça), infelizmente já faleceram... Curvo-me à sua memória e não lhes perturbo o sono eterno.

(i) Luís Graça | 29 de maio de 2011 às 07:38

(...) Para um "pira" acabado de desembarcar numa LDG no Xime, e que faz o percurso Xime-Bambadinca, em coluna auto, com forte protecção, e debaixo de grande tensão, na manhã de 2 de junho de 1969, a imagem do amontoado de invólucros (e empenagens) de granadas de morteiro e canhão s/r é das coisas que ficam logo na retina...

Fiz/fizemos o mesmo "percurso turístico" que muitos outros camaradas da zona leste, ao passar e parar em Bambadinca, a caminho do centro militar de Contuboel (por exemplo, visita aos quartos atingidos por morteiradas)... Felizmente que, embora tendo bom armamento (e até sofisticado), os artilheiros do PAIGC eram em geral mauzinhos, por falta de formação técnica...

O ataque a Bambadinca teve sobretudo impacto político e psicológico... É de destacar a "ousadia" do PAIGC... E a data escolhida (28 de Maio) também não terá sido arbitrária...


(ii) Luís Graça | 29 de maio de 2011 às 08:17

Que a defesa militar de Bambadinca foi descurada, não temos dúvidas... Estava-se sob o efeito psicológico, positivo, da Op Lança Afiada... Ninguém acreditava que alguma vez Bambadinca pudesse ser atacada... Em Maio de 1969, Bambadinca tinha apenas os seguintes efectivos:

(i) Comando e CCS do BCAÇ 2852

(ii) Pel AM Daimler 2046

(iii) Pel Mort 2106 (-)

(iv) Pel Caç Nat 63

Casa arrombada, trancas à portas... Daí o desgraçado do Carlos Marques Santos ter saído de Mansambo para ir "montar a tenda" na ponte (semidestruída) do Rio Udunduma... Daí as emboscadas (todos os dias) em Bambadincazinho (na célebre Missão do Sono), a abertura de valas à pressa... São factos a lembrar. (...)


(iii) C. Martins | 30 de maio de 2011 às 01:05

(...) Sempre que leio estas estórias fico com inveja... Oh bambadinqueiros, foram todos uma cambada de sortudos!... 

Nós, os gadamaelistas,  era assim: embrulhar, corrida para os abrigos ou espaldões de obus e morteiros, comer vianda, jogar póquer  de dados, beber Old Parr ou Gin com água da bolanha, dormir nos intervalos, sair para o mato, embrulhar, idem, idem, idem... Isto para os graduados, porque para os soldados ainda era pior.

Eu já sabia que tinha sido assim, só estou a confirmar. Não me lembro de ter passado um único momento agradável. Não nos podiamos dar ao luxo de facilitar.

Um alfa bravo para todos os sortudos. 
O invejoso C. Martins (ex-artilheiro em Gadamael)


(iv) Hugo Guerra | 30 de maio de 2011 às 20:23

(...) Faz tempo que me remeto ao silêncio, embora todos os dias e por mais que uma vez "folheie" o nosso blogue. 

Reparo que é preciso muito cuidado para deixar algo escrito porque as apreciações chovem, o que é salutar, e portanto todo o cuidado é pouco com o que se digita.

Hoje fiquei banzado com o relato do ataque a Bambadinca, localidade que eu, na minha ingenuidade dos vinte anitos, pensava não existir na Guiné que frequentei entre Agosto de 68 e Março de 70. (Gandembel, Ponte Balana, Chamarra e São Domingos), só para avivar a memória.

Que me perdoem os homens e mulheres que fizeram a guerra em Bambadinca, mas podiam ficar-se pelas belas desrições que fazem das Messes, das Familias presentes, da vida social e do que mais constituia o seu dia a dia e lembrarem-se de vez em quando das centenas de ataques junto ao arame farpado em Gandembel, dos mortos e feridos que lá tivemos, e éramos cerca de 500 homens enterrados nos bunkers, à espera que a noite corresse bem e não nos entrassem no arame farpado.

Bolas... não me venham dizer que todas as "estadias" na Guiné eram iguais. Isso é fazer esquecer Madina do Boé, Guileje, Gadamael Guidage e outros tantos buracos onde os nossos militares faziam das tripas coração para sobreviver.

Não me sobra engenho e arte para descrever o que eram essas flagelações, mas custa-me ver que o blogue está a ficar demasiado cor de rosa.

As porradas que vou levar dos camaradas que habitualmente escrevem no blogue, serão encaradas com simpatia porque muito poucos escolheram as suas estâncias de férias.

Quando em Set 1970 fui viver e trabalhar para Angola, no Ambriz primeiro e em Camabatela por último, aí sim, vi com os meus olhos o que era uma guerra convencional e de ar condicionado, com mortos e feridos em acidentes de viação e chá das cinco em casa dos gerentes coloniais das fazendas, que ainda os havia... Mas isso são outros trezentos que, por exemplo, o camarada Rosinha bem conhece...

Agora a minha Guiné... poupem-me, sem ofensa para ninguém. (...)


(v) Alberto Branquinho | 30 de maio de 2011 às 23:06

(..) Ó camarada Hugo Guerra! Que coragem! Ando, desde 6ª feira à noite, a matutar sobre "comento... não comento".

E, agora, fazendo novo acesso a este post sobre o ataque a Bambadinca (primeiro lugar onde arrimámos, para ficar em Fá uns meses), vejo que alguém veio dizer aquilo que eu andava a matutar: digo/não digo... embora de forma mais comedida.

É que o que eu queria, afinal, dizer era da trabalheira que dariamos aos editores se escrevessemos sobre as vicissitudes dos vários ataques diários (nocturnos e diurnos) que sofriamos em Gandembel e Ponte Balana. (Pelo menos durante o quase mês e meio que durou a operação Bola de Fogo).

E o que teriam que contar os de Guileje, Gadamael, Guidage, etc. Preocupação era quando estavam um dia sem atacar ("O que é que os gajos estarão a pensar fazer?").

Desculpem qualquer coisinha (...)

 
(vi) C. Martins | 31 de maio de 2011 às 00:21

(...)   Eu até sei porque fui destacado para Gadamael: foi por motivos políticos... O meu o crime foi pertencer à pró-associação de estudantes da FML - Faculdade de Medicina de Lisboa.

Não, não era do PCP, se bem que os pides pensavam que sim, e por isso bastante porrada levei em Caxias, para além da tortura do sono. 

Solto, malhei com os costados na tropa. Mobilizado para o CTIG, passei dois dias em Bissau, e aí vou eu de batelão até Cacine e de sintex até Gadamael. 

Aí chegado deparo com um ambiente surrealista, 15 minutos depois de desembarcar, parti o bico com elas a cairem junto ao arame farpado em frente aos obuses, a mata a arder e eu em cima da roda do obus a armar aos cucos para demonstrar que os tinha no sítio... Só que estava borrado de medo. Fiquei logo apanhado do clima.

Camarigos, quando digo que muitos foram uns sortudos, estou a falar a sério, assim como quando digo que tenho inveja.

Quero realçar que não me considero nenhum herói, apenas fui objecto das circuntâncias.

Era contra a guerra, e tinha bastante consciência política... mas jamais pensei em desertar ou ser refractário... O que é uma contradição, é verdade... Mas, o que é que querem?... Gosto muito de ser tuga, porra... Estou a ficar emocionado.

Acho que já disse demais, para quem quer ficar no semi-anonimato, e tem idade para ter juízo.

Um alfa bravo para os sortudos, e principalmente para os menos. (...)


(vii) Joaquim Mexia Alves | 31 de maio de 2011 às 09:47

(...) Perante alguns comentários aqui colocados, resta-me pedir desculpa por me ter "armado" em combatente. É que não estive em Guidage, Guileje, Gadamael, e outros sítios e como tal não tenho direito a contar as minhas "férias" na Guiné.

Não sou um combatente, sou um sortudo!!!

Ainda gostaria de saber quem foi que meteu uma cunha para eu ter tanta sorte em ter ido para a Guiné, para os sítios tão agradáveis em que passei dois anos da minha vida?

Pior do que eu, ou seja, ainda menos combatente, só o cozinheiro que nunca saiu para o mato!

Mato? Qual mato? Aquilo era um jardim onde se saltava à corda e brincava à cabra-cega!

Remeto-me à minha insignificância, e peço desculpa por ter estado na Guiné.

Um abraço para todos, com um sorriso, porque o humor ajuda a sentirmo-nos bem. (...)


(viii) Alberto Branquinho |   31 de maio de 2011 às 12:44

(...) Pensei que estavamos a falar "só" de ataques a aquartelamento(s) e não da "guerra fora de portas"... para onde foi extrapolado o cotejo.

É que quanto a "guerra fora de portas" há, logo, um factor importante, que é o de muitos (a maior parte das unidades) terem permanecido todo o tempo no mesmo quartel ou na mesma (reduzida) zona e outros terem andado durante dois anos com a "trouxa" às costas, como unidades de intervenção, como "mulheres-a-dias" a fazer limpezas em casa alheia, por quase dois terços da Guiné. Transportados em colunas-auto e variadas vezes em Lanchas de Desembarque, contando, neste caso, com uma emboscada. (...) 


(ix) C.Martins | 1 de junho de 2011 às 00:23

(...) Pronto, está o "caldo entornado"... Peço desculpa a todos que se sentiram ofendidos ao chamar-lhes "sortudos".

Não foi minha intenção menosprezar e muito menos ofender quem quer que seja... Não penso nem nunca pensei que fui melhor que os outros... só porque estive num sítio onde a guerra foi mais intensa...

Cada um sabe de si. A minha forma de estar na vida, não é propriamente vangloriar-me do que fiz, nomeadamente na guerra.

Todos fomos combatentes, mas não se pode escamotear a verdade... havia no TO da Guiné zonas mais "quentes" do que outras... é ou não é verdade?

Eu só falo de Gadamael, porque foi o único sítio onde estive, posteriormente também estive em Bissau já na fase de retracção das NT quando já não havia guerra, onde a bem da verdade, passei os únicos tempos na "descontração".

Penso que uma das finalidades do blog, é cada um relatar aquilo que passou. (...)

Ainda quero dizer a todos os camarigos, que aquilo que nos une (ex-combatentes na Guiné) é bem mais forte, independentemente das opiniões de cada um.

Por favor levem isto na "desportiva".. eu pelo menos levo. (...)

(Luís Graça):

(...) Deixem-me só lembrar que, dois meses depois desta operação [, Lança Afiada,], o PAIGC retribuiu a visita das NT e apareceu às portas de Bambadinca em força: mais de 100 homens, três canhões sem recuo, montes de LGFog, morteiros...

Esse ataque ficou célebre: os camaradas de Bambadinca, segundo algumas versões que ouvi na altura, da "velhice", e dados que confirmei mais tarde, teriam sido apanhados com as calças na mão, far-se-iam quartos de sentinela sem armas, não havia valas suficientes, houve indisciplina de fogo, etc...

 Claro que no dia seguinte o Caco Baldé, alcunha por que era conhecido o Gen Spínola, deu porrada de bota a baixo, na hierarquia do comando do batalhão, do tenente-coronel (Pimentel Bastos, o célebre Pimbas) até ao capitão da CCS (...).

A sorte da malta de Bambadinca (Comando e CCS/BCAÇ 2852, Pel Caç Nat 63, Pel Mort 2106 e Pel AM Daimler 2106, sem esquecer os civis...) terá sido, diz-se ainda hoje, os canhões s/r, postados ao fundo da pista de aviação, terem-se enterrado no solo e a canhoada cair na bolanha... 

Quando nós, periquitos da CCAÇ 2590 (futura CCAÇ 12), lá passámos, menos de uma semana depois, a 2 de junho de 1969, vindos de Bissau e do Xime a caminho da nossa estância de férias (Contuboel, um mês e meio de paraíso... seguido depois de 18 meses de inferno... quando fomos justamente colocados... em Bambadinca como companhia de intervenção, leia-se, de "pretos"), alguns dos nossos camaradas da CCS do BCAÇ 2852 ainda falavam com emoção deste ataque:
- Podíamos ter morrido todos - dizia-me o 1º cabo cripto Agnelo Ferreira, natural da minha terra, Lourinhã (...)

Na história do BCAÇ 2852, o ataque (ou melhor, "flagelação") a Bambadinca é dado em três secas  linhas, em estilo telegráfico: 

"Em 28 [de Maio de 1969], às 00h5, um Gr IN de mais de 100 elementos flagelou com 3 Can s/r, Mort 82, LGF, ML, MP e PM, durante cerca de 40 minutos, o aquartelamento de Bambadinca, causando 2 feridos ligeiros. " (...). 
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 19 de julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1971: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/70) (Idálio Reis) (9): Janeiro de 1969, o abandono de Gandembel/Balana ao fim de 372 ataques

sábado, 2 de julho de 2022

Guiné 61/74 - P23404: Os nossos seres, saberes e lazeres (510): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (57): De novo em São Miguel, é infindável a romagem de saudade - 2 (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 18 de Abril de 2022:

Queridos amigos,
Estas romagens de saudade têm os seus preceitos. Não há aspetos enfadonhos por retornar aos lugares conhecidos, vem-se em alforria, escolhe-se à carta, só há dias marcados para o Vale das Furnas, até lá tocam as campainhas. É a primeira manhã em Ponta Delgada, e logo assoma à memória a fase de adaptação à vida da cidade, de modo geral todos os outros tinham vida familiar organizada, eram muito poucos os que andavam a amanhar com recursos próprios. Tinha mapas das ruas, havia já os rigores outonais, quando ao fim da tarde descia da Rua de Lisboa em diferentes direções. Primeiro foi a descoberta do desenho da cidade, aquelas ruas quilométricas que pareciam vir lá do fundo da costa sul e se embrenhavam de São Pedro a São Roque; e no casco histórico de Ponta Delgada dei comigo a subir e a descer dentro daquele plano ortogonal que ainda hoje me surpreende. Mas por ali andei a mirar monumentos do meu culto, como o Convento de Santo André ou a Igreja do Colégio, de olhos postos no chão a contemplar os enleios geométricos da calçada portuguesa, a passar pelos jardins e a cogitar o que fazer durante a tarde, recordei João Bom, sabe-se lá porquê, talvez pela proximidade à Bretanha, não havia chuva à vista, passeou-se a manhã toda, amesendar-se era outro propósito e a seguir tomou-se a camioneta da carreira. Como nos velhos tempos, tinha que ser.

Um abraço do
Mário



Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (57):
De novo em São Miguel, é infindável a romagem de saudade - 2


Mário Beja Santos

Começo a manhã na vadiagem, há objetivos definidos, mas não quero furtar as surpresas, é para isso que serve a memória e meio século de afetos perduráveis, inquebrantáveis. Desço a Rua do Contador, aqui está à minha espera o Convento de Santo André, uma das maiores formosuras da arquitetura religiosa, data do século XVI e escusado é dizer que andou ao sabor das remodelações. Num dos primeiros fins de semana disponíveis, em outubro de 1967, vim visitar o Museu Carlos Machado, criado em 1930, entrava-se pelo lado oposto desta primeira imagem, subia-se uma escadaria, havia a graciosidade de um pequeno jardim, e assim se entrava no que fora um convento de religiosas clarissas, impressionara-me muito a igreja, de uma só nave, com a sua cobertura de pinturas e as impressionantes grades de ferro forjado, e fora um prazer aquela área de História Natural. Limito-me agora a mirar o convento por fora, toca-me esta harmonia, a moldura dos janelões, a austeridade das grelhas para quem está dentro ver e não ser visto, e depois, como é impressiva a imagem do rendilhado dos janelões. Não quero empanzinadelas de arte, sei que no Núcleo de Santa Bárbara, em edifício próximo, um espaço de recolhimento recuperado, estão as exposições dos dois artistas plásticos, Domingos Rebelo e Canto da Maia, hoje de manhã visito o primeiro, a ambos conheço bem, quero revê-los cuidadosamente para melhor os conservar.

A caminho do Núcleo de Santa Bárbara, quedo-me diante deste pormenor de calçada portuguesa que logo me assombrou quando aqui cheguei, a quantidade imensa de desenhos geométricos, veja-se a profundidade desta rua que muitas outras, também em profundidade atravessam, é certo que há momentos em que se caminha a medo, tal e tanto é o tráfego rodoviário, mas os passeios estreitam-se, é a contingência do desenvolvimento, guardo as saudades daquele tempo em que caminhava tão gostosamente a pé, para saborear a ortogénese, a perpendicularidade destas ruas estreitas, parece que vieram do campo para a cidade, guardando este casario baixo compactado, o que dá um encanto por aqui vaguear na dimensão da escala humana.
O que mais gosto em Domingos Rebelo é a sua narrativa em prol da açorianidade, mesmo sendo ele dotado de uma paleta suave, vem da escola realista, naquele turbilhão de Paris, caldeiro de movimentos estéticos, foi ali que firmou o seu pincel figurativo, com ressaibos naturalistas, e daí esta plasticidade onde cabe retrato, neste caso e elegia dos trabalhos agrícolas, onde não faltam nuvens tormentosas, e daqui se salta para um tema icónico, os imigrantes, ele regista o que é fundamental levar dos parcos bens, bem visível o registo do Senhor Santo Cristo dos Milagres, e há a dor da partida e também aquela figura enigmática da senhora da cidade, bem enchapelada, que tudo olha sem interferir, e o pano de fundo aquelas Portas da Cidade, hoje profundamente alteradas.
Vamos agora aos retratos, primeiro um artista dos tempos de Paris, atenda-se à pose, à meditação, ao sossego das mãos, não é artista em transe, poderá ser poeta ou músico. A obra seguinte toca-me muito, dentro da linhagem do Orpheu, ele foi o último, aí talvez por fevereiro de 1968, o grande etnógrafo e poeta quis conhecer-me e convidou-me para jantar na Rua do Frias, bem perto deste Núcleo de Santa Bárbara onde o estou a recordar, no retrato ele está no vigor da idade, recebeu-me no alto das escadas, com uma estranhíssima indumentária que parecia ter uns guizos, ainda pensei que era traje gaúcho, a um jovem sem obra que se limitara a cumprir um programa de conferências proposto por amigos, era deferência demasiada. Contemplo o retrato, recordo o jantar e os dois livros que me ofereceu, ganhei forças para ir ver mais tarde a exposição que está na Biblioteca Municipal.
Sob a forma de um tríptico, Domingos Rebelo faz desfilar gente piedosa que vem beijar o pezinho do Menino Jesus, todos os olhares se encaminham nessa direção, a exceção está no primeiro plano, aquela mãe ajoelhada fará certamente um comentário à menina de pé descalço, seguramente sob o olhar do sacristão, e curiosamente o menino que balança o ostensório é figura única que domina a cena, e o que podia ser um desequilíbrio na figuração acaba por organizar toda a sinceridade e ingenuidade da tensão religiosa.
É a oração de romeiro, e duas recordações me assaltam. A primeira, e a de carro, algures na costa norte, e avançava em marcha cadenciada um grupo de romeiros, conforme me alertaram. Saímos da viatura, como prova de respeito. Nada me fora dado ver tão intenso sinal de piedade, o coro da reza, o caminhar sem distrações, a austeridade da indumentária, os velhos e as crianças, provando que o amor a Deus não divide as idades. A segunda, foi uma brejeirice, convidado a fazer uma conferência no Dia Mundial dos Direitos do Consumidor, na autarquia de Ponta Delgada, fui recebido à porta pelo seu presidente, o Dr. Machado. Vendo-me a contemplar um quadro que logo identifiquei como saído da paleta de Domingos Rebelo, uma família orando com um pão em primeiro plano, logo comentou: “Este quadro estava no meu gabinete, confesso que a certa altura em já não podia ver aquele pão a toda a hora, mandei-o pôr aqui à entrada, e olhe que está muito bem, não lhe parece?”.
Domingos Rebelo não precisou de copiar ninguém, mas devo dizer que desconhecia esta obra que até me recordou o espanhol Joaquín Sorolla, pelas cores vivas, pela movimentação na orla da praia, pela ondulação e imponência da figura principal, aquele equilíbrio ao ombro de quem sabe como e o que transporta. Como fiquei a gostar desta embriaguez de luz!
Despeço-me de Domingos Rebelo revendo o seu autorretrato, ele em pose de desfastio, como se simulasse que estava a ser fotografado em momento de pausa, e temos a sua mulher, a sua musa, de olhar vagante, meticulosamente inserida num meio florido, ressaltando o acetinado do vestido daquele esverdeado neutro, que, sabe-se lá porquê, me lembrou Cézanne, passe a autenticidade deste mestre açoriano.
Outro local de memória, um daqueles jardinzinhos que pululam dentro da cidade, decidira fazer uma pausa, não havendo hoje o meu saudoso Café Gil, o nosso ponto de encontro noturno, estando fechada a livraria também, fui matar saudades à Tabacaria Açoriana, guarda formato antigo, tem hoje outra substância, mas os livros lá estão, a preços económicos, e as pessoas ali se reúnem em tertúlia, como nos velhos tempos. Parei e meditei. Quero ver se organizo o programa da cidade da tarde, há autocarros, está decidido, se tiver a sorte de comer uma boa sopa de peixe na Central, vou até João Bom. O que veio a acontecer.

(continua)

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Nota do editor

Último poste da série de 25 DE JUNHO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23383: Os nossos seres, saberes e lazeres (509): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (56): De novo em São Miguel, é infindável a romagem de saudade - 1 (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P23403: Guidaje, Guileje, Gadamael, maio/junho de 1973: foi há meio século... Alguém ainda se lembra? (7): um "annus horribilis" para ambos os contendores: O resumo da CECA - Parte VI: o ataque a Gadamael Porto: de 31 de maio a 11 de junho, o IN disparou cerca de 1500 granadas de canhão s/r e morteiro 120



Guiné > Região de Tombali > Gadamael > De 31 de maio a 11 de junho de 1973, em cerca de 6 dezenas de flagelações, caíram em Gadamael Porto 1468 granadas de canhão s/r e de morteiro 120. Fonte: CECA (2015), p. 333



Foto nº 1 > Guiné > Região de Tombali > Gadamael > 1974 > CCAÇ 4152/73  (Gadamael e Cufar, 1974 >  O alf mil Carlos Milheirão (*), depois,  no obus 14, e por detrás, assinalados por seta e  legenda, o depósito de géneros e a enfermaria


Foto nº 2  > Guiné > Região de Tombali > Gadamael > 1974 > CCAÇ 4152/73  (Gadamael e Cufar, 1974 > 
Em primeiro plano, o autor das fotos, o alf mil Carlos Milheirão, que esteve em Gadamael entre fevereiro e julho de 1974.


Foto nº 3  > Guiné > Região de Tombali > Gadamael > 1974 > CCAÇ 4152/73  (Gadamael e Cufar, 1974 > 
Legendas, em primeiro plano, o Carlos Milheirão... À volta, da direita para a esquerda (i) portadas da messe; (ii) depósito de géneros e enfermaria; (iii) canhão sem recuo; e (iv) geradores elétricos (?).


Foto nº  4 > Guiné > Região de Tombali > Gadamael > 1974 > CCAÇ 4152/73  (Gadamael e Cufar, 1974 > 
O Carlos Milheirão no espalddão do obus 14. Legendas: da esquerda para a direita: (i) aqui provavelmente estava uma das metralhadoras; (ii) obus 14; (iii) algures por aqui havia um canhão sem recuo; e (iv) depósito de géneros e enfermaria.
 

Foto nº  5 > Guiné > Região de Tombali > Gadamael > 1974 > CCAÇ 4152/73  (Gadamael e Cufar, 1974 >
 Crianças... Legendas: (i) direção da bolanha /cais; (ii) depósito de géneros e enfermaria; e (iii) enfermaria / abrigo.


Foto nº  6 > Guiné > Região de Tombali > Gadamael > 1974 > CCAÇ 4152/73  (Gadamael e Cufar, 1974 > 
Aspeto geral do aquartelamento... Legendas, da esquerda para a  direita: (i) abrigo; (ii) bandeira; (iii) padaria (?); (iv) cozinha e messe de sargentos; (v) messe e bar de oficiais; (vi) estas telhas certamente "voaram" com um disparo de obus para a mata do Cantanhez (Jemberém); e (v) espaldão de obus 14 


Foto nº  6A> Guiné > Região de Tombali > Gadamael > 1974 > CCAÇ 4152/73  (Gadamael e Cufar, 1974 > Foto anterior, mais detalhada.


Foto nº  7> Guiné > Região de Tombali > Gadamael > 1974 > CCAÇ 4152/73  (Gadamael e Cufar, 1974 > 
Legendas: (i) abrigo; (ii) geradores elétricos (?); e (iii) bandeira (quando se içava ou arriava, os cães vinham para ali e uivavam ao toque do clarim)


Foto nº  8 > Guiné > Região de Tombali > Gadamael > 1974 > CCAÇ 4152/73  (Gadamael e Cufar, 1974 > 
Da esquerda para a direita: (i) bolanha; (ii)  algures por aqui havia um canhão sem recuo; (iii) obus 14; (iv) depósito de géneros e enfermaria; (v) bolanha/cais; e (vi) tabanca.

Fotos (elegenda): © Carlos Milheirão (2015). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Continuação da publicação da esta nova série "Guidaje, Guileje, Gadamael, maio/junho de 1973: foi há meio século... Alguém ainda se lembra?" (**).

Trata-se de excertos da CECA (2015) sobre estes acontecimentos de maio/junho de 1973. Recordamos Guidaje, Guileje e Gadamael, os famosos 3 G, "a batalha (ou as batalhas) dos 3 G", na véspera da efeméride dos seus 50 anos (que será em 2023).  

Felizmente que ainda temos muitos camaradas vivos, que podem falar "de cátedra" sobre os 3 G, Guidaje, Guileje e Gadamael... Outros, entretanto, já não estão cá, que "da lei da morte já se foram libertando"... Do lado do PAIGC, por seu turno, é cada vez mais difícil poder-se contar com testemunhos, orais ou escritos, sobre os acontecimentos de então.



CAPÍTULO III > ANO DE 1973 > 2. Nossas Tropas


2. 1. Ataque lN no Sul a Guileje e a Gadamael Porto

2.1.2. Ataque lN a Gadamael Porto


Após a retirada da guarnição de Guileje (22Mai73), a guarnição de Gadamael 
Porto tinha a seguinte constituição:

CCaç 4743/72, 
2 GComb/CCaç3520, 
Pel Canh s/r 3080 (5 armas) 
e Pel Mil 235. 

Vindas de Guileje: 

CCav 8350/72, 
15° Pel Art (14 cm) a 3 bocas de fogo, Pel Rec Fox 3115, apenas com 1 VBTP White 
e 1Sec (+)/Pel Mil 236 (o restante pessoal estava ausente ou havia sido baixa em combate).

O Cmdt do CAOP 1, Cor Para Rafael Ferreira Durão, esteve no aquartelamento de 22 a 31Mai73.

O Capitão Inf 'Cmd' Manuel Ferreira da Silva assumiu o Comando do COP 5 em 31 de Maio de 1973.

"[ ... ] No dia 29, no Comando-Chefe das FAG, foi-me comunicado que no dia seguinte seguiria para Gadamael Porto, para comandar o Comando Operacional n" 5, substituindo o Major Coutinho e Lima, entretanto preso em Bissau. No dia 30, segui de helicóptero para Cacine, e em 31 de barco "sintex", para Gadamael Porto onde cheguei cerca das 11h00n depois de 2 horas de viagem [... ]

Após a partida do coronel Rafael Durão, nesse mesmo dia, reuni com os dois Comandantes de Companhia, Cap Mil Inf Manuel Maia Rodrigues (CCaç 4743/72) e Cap Mil Art Abel Quelhas Quintas (CCav 8350/72), para me inteirar da situação. Após o almoço, quando iniciávamos uma visita ao aquartelamento, começaram as flagelações contínuas, com artilharia, morteiros, canhão sem recuo e mísseis. No início os impactos verificavam-se fora das instalações, mas gradualmente foram-se aproximando, e no final do dia já caiam dentro do aquartelamento.

O aquartelamento de Gadamael Porto, onde se encontravam as instalações militares tinha uma área de cerca de um hectare, com uma avenida central em terra batida que do cais, onde na maré cheia acostavam os pequenos barcos, passava junto à enfermaria, comando, depósito de géneros, arrecadação de material de guerra, posto de rádio, etc. e seguia para a pista de aviação. Os alojamentos estavam dispersos, e alguns junto ao arame farpado, que protegia a parte por onde o ln podia atacar. Do lado oposto existia a tabanca
da população com cerca de 500 habitantes. [... ]

Gadamael Porto face à sua localização, normalmente não era atacado, pelo que os abrigos existentes eram reduzidos, e as valas à volta do aquartelamentonnão ofereciam qualquer protecção às granadas do lN. 

Além disso, para além dos militares a população de Guileje, procurou ocupar os poucos lugares com alguma protecção, o que mais complicou a situação. O aquartelamento de Gadamael Porto, era um local com pequenas instalações dispersas, com fraca consistência construídos apenas com adobes feitos no local que, como se constatou durante as flagelações, se desmoronavam quando as granadas de morteiro e artilharia aí rebentavam. O PAIGC utilizou durante os ataques granadas explosivas, incendiárias e perfurantes.

Ao amanhecer do dia 1 de Junho, o 2°dia da minha permanência, iniciou--se aquele que seria o dia mais crítico de toda a batalha de Gadamael Porto,mcom as flagelações quase permanentes particularmente de artilharia e morteiros 120 mm. Num espaço de tempo de 3 minutos chegaram a cair 18 granadas 
dentro do Quartel. 

O Relatório final da CCaç 4743/72 fala em 700 granadas no final do dia, mas penso que o número foi superior, a 1000. O que mais impressionava nem eram as explosões, mas sim o silvo arrepiante das granadas quando passavam por cima de nós.

Para responder ao fogo do PAIGC tínhamos a nossa artilharia e o morteiro 81 mm, que iam fazendo fogo com a rapidez possível. Poucos dias antes os obuses de 10.5 cm tinham sido substituídos pelos de 14 cm, mas os espaldões de protecção não estavam ainda adaptados. 

Cerca das 10h00 explodiu uma granada do lN na cobertura de zinco do Pelotão, causando 3 mortos e 11 feridos, o que o tomou inoperacional. Ainda se pôs um obus a funcionar com o apoio de voluntários e o pessoal que restou do Pelotão de Artilharia, mas ao fim de vários disparos ficou inoperacional. 

Claro que até esta altura os soldados nas valas e torreões de vigilância não faziam fogo, pois não se via qualquer inimigo. Os disparos que mandei efectuar, foi quando à tarde me apercebi que alguém estava a regular o tiro e então fez-se fogo de metralhadora para a encosta do outro lado do rio, onde era possível ver o aquartelamento.

A única arma pesada ainda disponível era o morteiro 81 mm, que embora não tivesse alcance para atingir as posições inimigas, continuava a marcar a nossa presença e que podia atingir as tropas do PAIGC, que encontravam nas imediações, como se provou mais tarde . [... ]

No dia 1 de Junho de 1973 houve 8 mortos e 28 feridos, que foram evacuados para Cacine que distava mais de 20 km, e os barcos levavam 2 horas no trajecto. Apesar da situação difícil nunca faltaram militares, para levar os feridos e os mortos para a enfermaria.

Ao princípio da tarde explodiu uma granada no posto de rádio, que ficou bastante danificado. Nesse abrigo encontravam-se os dois comandantes de Companhia, que ficaram feridos, e outros oficiais. Os dois capitães foram evacuados para Cacine, debaixo das granadas que continuavam a cair, e ficamos sem ligação rádio para qualquer aquartelamento. 

Lembro a noção da responsabilidade do operador cripto, que me veio perguntar se devia destruir os códigos secretos, ao que respondi que não. Passado algum tempo consegui
descobrir um rádio portátil TR-28, que estava intacto e a funcionar, o que me permitiu ser ouvido pela Unidade sedeada em Cufar, a quem pedi para comunicarem para Bissau a situação. Foi esta minha comunicação verbal que informou Bissau que Gadamael Porto embora com uma situação muito difícil estava ocupado, pois a Companhia de Cacine cerca das 12h00 informara Bissau que Gadamael Porto fora destruído e o pessoal tinha fugido para o mato, possivelmente devido aos rebentamentos contínuos que se ouviram em Cacine,
e conversas com os primeiros feridos, que aí chegaram cerca dessa hora vindos de Gadamael Porto. Se não fosse a comunicação rádio a informar a nossa ocupação de Gadamael Porto, poderia criar-se uma situação mais complicada e de difícil solução.

Após a evacuação dos capitães fiquei sem qualquer elemento de ligação às Companhias, em virtude de ter chegado na véspera e não conhecer os subalternos, que estavam dispersos pelo aquartelamento. Entretanto com as flagelações constantes, muitos dos soldados particularmente da Companhia de Guileje em virtude de as valas não oferecerem protecção, deslocaram-se ao longo delas até à tabanca da população, e ao tarrafo (zona alagadiça), que não estavam a ser bombardeados. 

Não me apercebi dessas movimentações, hipotecado, como estava, com os problemas dos feridos, transmissões e reacção ao fogo ln para resolver. Durante a noite alguns nregressaram ao aquartelamento mas na manhã do dia 2 outros militares tiveram conhecimento de um navio patrulha da Marinha o NRP ORION sob o comando do Comandante Pedro Lauret e 2 LDM (Lanchas de Desembarque Médio) que estavam no rio
Cacine a cerca de 1 km. 

Com o apoio de botes de fuzileiros dirigiram-se para aí tendo sido recolhidos pela Marinha cerca de 200 militares e centenas de elementos da população. Foram levados para Cacine, tendo regressado passados dias a Gadamael Porto. É verdade que se os soldados se mantivessem nas valas, o número de baixas teria sido superior. Também é verdade que o navio patrulha, não enviou nenhum emissário ao aquartelamento a perguntar do que
precisávamos, quando tudo faltava, e só tive conhecimento da sua presença no dia seguinte.

Ao fim da tarde quando estávamos numa das evacuações de feridos no Cais, o médico ficou também ferido e foi evacuado. Era o alferes médico Antunes Ferreira, que foi incansável no tratamento e na preparação dos feridos e não queria ser evacuado. Lembro que todos os 8 mortos e 28 feridos em Gadamael Porto, nesse dia, foram evacuados para Cacine de "sintex".

Pouco tempo depois, quando vindo do Cais me deslocava junto do mort 81 mm, o Furriel Carvalho, saiu do abrigo veio na minha direcção e comunicou-me que não tinha munições para o morteiro, e que estavam poucos soldados na zona critica, e queria saber o que fazer. Eu nem sabia onde estavam as munições de morteiro, mas depois de o acalmar, apareceu o 1º cabo escriturário Raposo que se propôs ir na Berliet buscar granadas, ao paiol a cerca de 100 metros debaixo das flagelações, o que fez e foi incansável nessas tarefas e noutras, ajudado por outros militares que entretanto apareceram. [... ]

Mas tudo se resolveu. As granadas de morteiro apareceram montou-se uma metralhadora apareceram mais militares e passámos a noite a lançar uma granada de morteiro de tempos a tempos, a disparar umas rajadas de metralhadoras para assinalar a nossa presença, napesar de as flagelações com artilharia e morteiros do lN continuarem durante a noite. Nestes militares estavam oficiais, sargentos e praças, no efectivo de muitas dezenas.

A ideia de abandonar o Quartel nunca se me colocou, pois sabia que só por barco podia sair da zona. A minha preocupação durante o dia era evacuar os feridos, e garantir um mínimo de defesa. Mesmo que essa possibilidade existisse a minha formação ética o impediria. Aliás durante o dia estive sempre ocupado, a resolver os problemas que continuamente surgiam. Tudo seria diferente se eu conhecesse há mais tempo aqueles militares, que na maioria eram açorianos e que eram bons soldados, e a cadeia de comando pudesse funcionar.

No dia 2 de Junho, de manhã, aterrou um helicóptero com o General Spínola, o melhor Oficial General combatente da guerra de África. Logo que saiu do heli ouviram-se as saídas das granadas dos morteiros 120 mm, que demoravam 18 segundos a chegar ao Quartel, e que foi o tempo suficiente para se puxar o General, para dentro do helicóptero, apesar da sua resistência, e este levantar com o Cor Durão ainda pendurado. Quando estava a uns 20
m de altura as granadas caíram no local onde este aterrou. Antes de barco ou heli, tinham chegado o Cor Rafael Durão e os capitães de Cavalaria Manuel Monge e António Caetano. O capitão Monge foi comandar a Companhia de Cacine (Nota: Assumiu o comando da CCaç 3520 em 04 12h00 Jun73) e mais tarde o COP 5, e o capitão Caetano a Companhia 8350/72 (por um período limitado).

Nos dias 2 e 3 de Junho apesar da intensidade das flagelações, não houve mortos pois os militares procuraram melhores abrigos. No dia 3 chegou uma Companhia de Pára-quedistas comandada pelo Capitão Terras Marques, que eu conhecia, e que se instalou na zona da tabanca e nos assegurou uma estabilidade defensiva. 

No dia 4 de Junho um GComb da CCav 8350/72, efectuou um patrulhamento ao fim da pista antiga, a poucas centenas de metros. O lN atacou-o, tendo as nossas forças sofrido 4 mortos e 4 feridos e a captura de 3 esp G-3 e 1 EIR AVP-1. Os Pára-quedistas, chegados na véspera, acorreram ao local e recuperaram os feridos e os mortos. 

No dia 3 de Junho à tarde tinha-se apresentado o Major Pára-quedista Mascarenhas Pessoa que por ser mais antigo passou a comandar o COP 5. Os ataques mantinham-se intensos
levando o novo Comandante do COP 5 no dia 4 a solicitar a retirada ordenada
de Gadamael Porto. O que nunca se concretizou. [... ]

Perante a gravidade da situação em Junho desembarcaram mais duas Companhias de Pára-quedistas. Entretanto o Comando do Batalhão de Pára- quedistas deslocou-se para Gadamael Port0.  O Comandante era o Ten-Cor Pára-quedista Araújo e Sá e o 2° Comandante o Major Pára-quedista Moura Calheiros a quem muito devemos bem como aos Capitães Cordeiro, Terras Marques e Tenente Borges. 

Em fins de Junho fui com a CCaç 4743/72 para Tite. Regressei mais tarde ao COP 5 como Adjunto deste, comandado pelo Major Cav Manuel Monge, depois da saída dos Páraquedistas. Terminei a comissão na Guiné em Novembro de 1973. [... ]

Entretanto a CCav 8350/72 vinda de Guileje, e a CCaç 4743/72 de Gadamael Porto, foram rendidas por uma Companhia de Cavalaria e por uma Companhia de Artilharia.   [Nota : A CCaç 4743/72 foi rendida por troca pela CArt 6252/72 marchando por escalões em 4 e 19 de Jul73 para Tite e Bissássema. Em 26Jun73 a CCav 8452/72 foi colocada em Gadamael Porto a fim de colmatar a saída da CCav 8350/72. De 18Jun73 a 13Jul73 a 3ª C / BCaç 4612/72 foi atribuída em reforço temporário do COP 5 e colocada em Gadamael Porto. ] 

De 31 de Maio,  data da minha chegada até fins de Junho de 1973, as Nossas Tropas e Milícias aí aquarteladas tiveram 15 mortos e 39 feridos. [... ]  [Nota Depoimento escrito pelo Coronel de Infantaria 'Comando' Manuel Ferreira da Silva. ] 


Flagelações ln a Gadamael Porto de 22Mai a 30Jun26

 [Nota
 : Relatório das flagelações a Gadamael Porto no período de 22Mai73 a 30Jun73, da CCaç 4743/72.  ] 

Transcreve-se o "Desenrolar da Acção":

"O lN manifestou-se em contactos com as NT nos dias 25, 26 e 27Mai73 nas regiões de Ganturé, Lamoi e Bricana Velha, procurando impedir a penetração das NT na zona de Gadamael Fronteira.

No dia 31Mai73, iniciou as flagelações com morteiros 120 mm, tendo as primeiras granadas caído fora do perímetro do aquartelamento e sucessivamente o fogo foi sendo mais ajustado, deduzindo-se que o lN tinha montados Postos Avançados de Observação.

No dia  1Jun73 iniciou nova flagelação que durou várias horas tendo as granadas caído todas dentro do aquartelamento, com especial incidência sobre os depósitos de géneros e da cantina, zonas periféricas de defesa (valas) e espaldões da Artilharia que foram duramente atingidos.

A Zona do Cais de acostagem, foi igualmente batida, sobretudo quando da evacuação dos mortos e feridos. 

Nas flagelações que se seguiram nos dias imediatos o ln utilizou, morteiros 120 mm, canhão 130 mm, morteiros 82 mm e canhão src, com granadas explosivas, perfurantes e incendiárias, estas sobretudo de noite, cuja acção servia como ponto de referência.

A população, ainda no dia 31Mai73, pela tarde e noite, sobretudo a de Guileje procurou refúgio no aquartelamento, invadindo as instalações e ocupando valas e abrigos. 

No dia 1Jun73, ainda noite, foi seguida pela população da Gadamael Porto, que de manhã, quando o fogo IN se concentrou mais sobre a área do Quartel, propriamente dito, debandou para as zonas da tabanca e margem direita do rio, levando consigo, artigos de cantina, géneros e materiais, tudo o que apanhou à mão.

 Seguindo pelo tarrafo a população refugiou-se na região de Talaia, onde se lhe juntaram dezenas de militares que haviam saído das valas do Quartel, que estavam a ser fortemente batidas, bem como do Cais, entre eles, doentes e feridos ligeiros, que foram evacuados para
Cacine e, ainda os militares psicologicamente mais afectados que juntamente com a população foram recolhidos para Cacine. Os restantes militares, passada que foi a maior intensidade das flagelações, desse dia, foram regressando ao aquartelamento.

Nas flagelações que tiveram lugar durante o período o lN continuou a concentrar o fogo mais sobre as instalações com granadas incendiárias; assim, na noite de 2 para 3Jun73, uma granada atingiu a arrecadação do material de aquartelamento e material sanitário, e na noite seguinte a arrecadação do material de guerra e arquivo da secretaria, originando incêndios que destruíram toda a existência, não só destas dependências como das anexas que constituíam mesmo edifício. 

Após o aparecimento do clarão do incêndio o lN continuava enviando granadas, ora esporádicas ora com intensidade, obrigando o pessoal a manter-se nas valas e abrigos, impedindo qualquer acção, pelo que foi vão qualquer tentativa para debelar os incêndios. [...]

As perdas em pessoal e material avultam pela intensidade e ajustamento dos fogos. As arrecadações dos materiais, guerra e aquartelamento, sanitário e transmissões com as dependências anexas ou contiguas, atingidas por granadas incendiárias cujo fogo se propagou com uma rapidez alarmante, foram destruídas bem como toda a existência, salvo a excepção do material de transmissões que se conseguiu retirar a tempo na sua quase totalidade. Os materiais destruídos, sujeitos a altas temperaturas e ao deflagrar de munições, o armamento e outros ficaram calcinados reduzidos a um montão de sucata.
 
Igualmente os depósitos de géneros e artigos de cantina, sala do soldado, oficina auto e duas casernas de Pelotão, atingidas por várias granadas explosivas sofreram não só a destruição como foram alvo na noite de 1 para 2Jun73 da inversão da população que se apoderou de artigos, géneros e material.

Um elevado número de armas extraviado tem por base a troca de armas entre o pessoal que superlotava o aquartelamento, acontecendo que no acto de evacuação dos feridos, o fogo incidiu sobre o cais, muitos militares deixaram cair as armas ao rio tendo mesmo acontecido que num bote ao virar-se, tem-se conhecimento que pelo menos cinco armas ali se tenham perdido".

(Continua)

Fonte: Excertos de: Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo  das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 6.º Volume; Aspectos da Actividade Operacional; Tomo II; Guiné; Livro III; 1.ª Edição; Lisboa (2015), pp. 325-333.

[ Seleção / revisão / negritos / fixação de texto pata efeitos de publicação deste poste no blogue: L.G.]
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Notas do editor:


(**) Último poste da série > 30 de junho de 2022 > Guiné 61/74 - P23398: Guidaje, Guileje, Gadamael, maio/junho de 1973: foi há meio século... Alguém ainda se lembra? (6): um "annus horribilis" para ambos os contendores: O resumo da CECA - Parte V: o ataque a Guileje