Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
quinta-feira, 7 de setembro de 2023
Guiné 61/74 - P24630: A minha ida à guerra (João Moreira, ex-Fur Mil At Cav MA da CCAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72) (7): HISTÓRIA DA COMPANHIA DE CAVALARIA 2721: Capítulo I - Alterações na Composição da CCAV 2721
"A MINHA IDA À GUERRA"
7 - HISTÓRIA DA COMPANHIA DE CAVALARIA 2721: CAPÍTULO I - ALTERAÇÕES NA COMPOSIÇÃO DA CCAV 2721
João Moreira
(continua)
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Nota do editor
Último poste da série de 31 DE AGOSTO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24604: A minha ida à guerra (João Moreira, ex-Fur Mil At Cav MA da CCAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72) (6): HISTÓRIA DA COMPANHIA DE CAVALARIA 2721: Capítulo I - Mobilização, Composição e Deslocamento para o CTIG
Guiné 61/74 - P24629: Convívios (971): CCAÇ 3398 (Buba, 1971/73): Cinquentenário do regresso, Freiriz, Vila Verde, 2set2023 (Joaquim Pinto Carvalho)
“INCENDIÁRIO”
(letra adaptada à música da cantiga popular do
cancioneiro minhoto “Laurindinha”; autoria: Joaquim Pinto Carvalho,
Ó “incendiário” que foste à guerra
Ó “incendiário” que foste à guerra
E que regressaste ai-ai-ai vivo à tua
terra ai-ai-ai
E que regressaste ai-ai-ai vivo à tua
terra
Vivo à tua terra de que foste um dia
Vivo à tua terra de que foste um dia
Para assentar praça ai-ai-ai nesta
companhia ai-ai-ai
Para assentar praça ai-ai-ai nesta
companhia
Nesta companhia lá no BC 10
Nesta companhia lá no BC 10
Depois o Niassa ai-ai-ai levou-te à
Guiné ai-ai-ai
Depois o Niassa ai-ai-ai levou-te à
Guiné
Levou-te à Guiné, foste “periquito”
Levou-te à Guiné, foste “periquito”
Nas terras de Buba ai-ai-ai havia
mosquito ai-ai-ai
Nas terras de Buba ai-ai-ai havia
mosquito
Havia mosquito e muita bolanha
Havia mosquito e muita bolanha
Mas naquela guerra ai-ai-ai já ninguém
te apanha ai-ai-ai
Mas naquela guerra ai-ai-ai já ninguém
te apanha
Já ninguém te apanha já ninguém te
quer
Já ninguém te apanha já ninguém te
quer
É na tua terra ai-ai-ai é que é bom viver ai-ai-ai
É na tua terra ai-ai-ai é que é bom viver
É que é bom viver e ter alegria
É que é bom viver e ter alegria
E sem esquecer ai-ai-ai a nossa
companhia ai-ai-ai
E sem esquecer ai-ai-ai a nossa
companhia
A nossa companhia - a dos
“incendiários”
A nossa companhia - a dos “incendiários”
Que está de parabéns ai-ai-ai neste cinquentenário ai- ai-ai
Que está de parabéns ai-ai-ai neste cinquentenário
Oh Laurindinha, vem à janela.
Oh Laurindinha, vem à janela.
Ver o teu amor, (ai ai ai) que ele vai p'ra guerra.
Ver o teu amor, (ai ai ai) que ele vai p´ra guerra.
Se ele vai pra guerra, deixá-lo ir.
Se ele vai pra guerra, deixá-lo ir.
Ele é rapaz novo, (ai ai ai) ele torna a vir.
Ele é rapaz novo, (ai ai ai) ele torna a vir.
Ele torna a vir, se Deus quiser.
Ele torna a vir, se Deus quiser.
Ainda vem a tempo, (ai ai ai) de arranjar mulher.
Ainda vem a tempo (ai ai ai) de arranjar mulher.
Ele torna a vir, se Deus quiser.
Ele torna a vir, se Deus quiser.
Ainda vem a tempo, (ai ai ai) de arranjar mulher.
Ainda vem a tempo (ai ai ai) de arranjar mulher.
Ainda vem a tempo, (ai ai ai) de arranjar mulher.
Ainda vem a tempo (ai ai ai) de arranjar mulher.
Ainda vem a tempo, (ai ai ai) de arranjar mulher.
Guiné 61/74 - P24628: Álbum fotográfico do António Alves da Cruz, ex-fur mil at inf, 1ª C/BCAÇ 4513/72 (Buba, 1973/74) (5): Ainda Bolama, abril de 1973
1. Continuação da publicação de uma seleção de fotos do álbum do António Alves da Cruz (ex-fur mil at inf, 1ª C/BCAÇ 45113/72, Buba, 1973/74) (*).
Estamos a seguir, tanto quanto possível, a ordem cronológica da comissão de serviço na Guiné;
(i) Partida do BCaç 4513/72: Embarque em 16mar73; desembarque em 22mar73 (**)
(ii) IAO no CIM de Bolama, em abril de 1973 (***);
(iii) A 1ª Comp, após o treino operacional no subsector de Buba com a CCaç 3398, sob orientação do BCaç 3852, passou a reforçar a actividade daquela subunidade no esforço realizado de contrapenetração no referido subsector e depois integrada no seu batalhão, na função de intervenção que lhe foi atribuída, tendo-se instalado, a partir de 17,ai73, em Mampatá (*).
Mensagem de 29 de agosto passado, às 19h55, enviada pelo António Albves da Cruz
Bom dia amigo Luis
Assunto - Fotos de Bolama
De Bolama ficaram algumas fotos por publicar, em especial a da esplanada junto à piscina onde está grande parte dos furriéis do BCAÇ 4513/72.
Aqui vão as fotos e legendas:
1 - Bolama, abril de 1973, desfile do BCAÇ 4513/72 perante o General Spinola;
2 - Pessoal do 4513/72 em Bolama na esplanada junto á piscina;
3 - A dar ao dente em Bolama, da esquerda para a direita: Oliveira, Victor, Gatões, Victor Domingues, Peixoto, Cruz, Reis, Costa e Carvalho
4- Bolama, Monumento aos Aviadores Italianos: Raposo, Victor, Cruz, Paraty, ?, e Cabral;
5- Bolama, Monumento aos Aviadores Italianos : Cruz.
Abraço, Cruz
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(*) Último poste da série : 6 de setembro de 2023 > Guiné 61/74 - P24625: Álbum fotográfico do António Alves da Cruz, ex-fur mil at inf, 1ª C/BCAÇ 4513/72 (Buba, 1973/74) (4): Mampatá, maio-julho de 1973
(**) Vd. poste de 30 de agosto de 2023 > Guiné 61/74 - P24600: Álbum fotográfico do António Alves da Cruz, ex-fur mil at inf, 1ª C/BCAÇ 4513/72 (Buba, 1973/74) (2): O percurso de muitos de nós: Tavira (CISMI), Elvas (BC 8), Tomar (RI 15), T/T Uíge...
quarta-feira, 6 de setembro de 2023
Guiné 61/74 - P24627: Historiografia da presença portuguesa em África (384): Grandes surpresas na revista "As Colónias Portuguesas" e a Guiné na Exposição Internacional de Antuérpia, 1930 (Mário Beja Santos)
1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 2 de Fevereiro de 2023:
Queridos amigos,
É compensador andar a bisbilhotar em publicações que à primeira vista não nos fazem pensar que dali salta pepita de ouro. Sugeriram-me na Biblioteca da Sociedade de Geografia que começasse a ver os primeiros volumes da revista As Colónias Portuguesas, e fiquei assombrado por encontrar um mapa com a localização dos estabelecimentos comerciais portugueses nas margens do Rio Grande de Buba, tratou-se, sem margem para dúvidas, do primeiro grande empreendimento económico do século XIX, teve vida efémera devido às sangrentas guerras no Forreá, mas aqui fica a ilustração desta nossa presença, eram fundamentalmente portugueses e cabo-verdianos; não deixa de ser interessante folhear o catálogo português, a apresentação da Guiné no contexto da Exposição Colonial Portuguesa na Grande Exposição de Antuérpia de 1930, publicação da Agência-Geral das Colónias, edição em francês.
Alude-se à descoberta da Guiné, aos primeiros navegadores, ao primeiro povoado protuguês, Porto da Cruz, fundado em 1584 pelos frades em Guinala, nas margens do Rio Grande de Buba; repertoriam-se as primeiras fortalezas, e as companhias comerciais; não escapa uma referência à questão de Bolama e às campanhas de Teixeira Pinto, tudo para se dizer que reinava agora uma paz profunda. Não falta um esquisso fisiográfico com rios, estações do ano e dados meteorológicos. Não havia então censo demográfico, mas são apresentadas as principais etnias, menciona-se que em 1925 havia na Guiné 768 europeus e sírios; depois de se falar nas 11 circunscrições administrativas, mencionam-se 2800 km de estradas, uma rede de 685 km para as comunicações telegráficas e duas estações de cabos submarinas. Quanto a dados económicos, toda a riqueza da Guiné provinha da agricultura e da criação de gado: arroz, amendoim, óleo de palma, couros, cera e borracha. Não deixa de surpreender a imagem com a cultura do algodão, é facto que ela existiu, embora sem continuidade. Obviamente para atrair os caçadores alerta-se para o facto da Guiné ser uma região privilegiada para a caça.
Um abraço do
Mário
Grandes surpresas na revista "As Colónias Portuguesas" e a Guiné na Exposição Internacional de Antuérpia, 1930
Mário Beja Santos
A revista "As Colónias Portuguesas" publicou-se entre 1833 e 1891, era inequivocamente dirigida à atração de investimentos, de funcionários da administração colonial, potenciais estudiosos do Terceiro Império. Comecei, na Biblioteca da Sociedade de Geografia de Lisboa, por percorrer o volume referente a 1933 e a 1934. E fui surpreendido por gravuras para mim totalmente inéditas, mesmo que conhecesse o conteúdo. Por exemplo, desconhecia por inteiro a marcação das feitorias portuguesas no Rio Grande de Buba, na sua época áurea, foi um período flamejante que acabou de forma caótica por causa da guerra do Forreá, mesmo quando as autoridades portuguesas conseguiram encontrar um régulo fiel que estabilizasse as relações entre Fulas e Biafadas, os estabelecimentos comerciais apagaram-se. A imagem deixou para a posteridade a localização desses empreendimentos que depois se reduziram à insignificância ou ao apagamento.
Pedro Ignacio de Gouveia, brilhante oficial da Marinha, é depois de Augusto Frutuoso Figueiredo de Barros, Governador interino, o primeiro Governador da Guiné (1881-1884), haverá um segundo mandato. A primeira vez que me confrontei com a sua prosa, e que muito me impressionou, foi a carta que ele dirigiu ao ministro da Marinha e Ultramar referindo a viagem do alferes Marques Geraldes até Selho (hoje no Senegal), para ir buscar mulheres raptadas de um parente do régulo local, é um belíssimo documento.
A Igreja de São José de Bolama era o templo religioso da capital da colónia. Será devorada por um incêndio e deu origem à atual igreja.
Duas imagens, Cacheu e Bissau, respetivamente, desconhecia inteiramente estas gravuras, ajuda-nos a entender a relação entre as povoações e a fortificação de cada uma. Aspeto curioso é a minucia do artista que nos mostra a navegação do Geba, ainda não existe o cais do Pidjiquiti.
A participação portuguesa na Exposição Internacional de Antuérpia, 1930:
A Guiné no catálogo da Exposição Colonial Portuguesa
Três imagens da Guiné para visitantes da Exposição Internacional de Antuérpia. Raquel Roque Gameiro era uma artista modernista, pendo para este arrozal, linhas sóbrias, com um arroz fora da moldura, para nos sugerir a pujança da cultura orizícola, já muito importante neste tempo. A segunda imagem é esclarecedora que havia cultura do algodão, o capataz branco segue atentamente o trabalho guineense.
Um curioso mapa da época, atribuindo o nome de Senegâmbia ao Senegal. A Africa Ocidental francesa era vastíssima e o nome Senegâmbia vinha do passado remoto. Veja-se os nomes do que se consideravam as povoações principais e como se procura caracterizar o Boé.
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Nota do editor
Último post da série de 30 DE AGOSTO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24601: Historiografia da presença portuguesa em África (383): Um importante ensaio sobre a missionação franciscana na Guiné e Rios da Guiné, século XVIII na "Revista Itinerarium", ano LXVIII, n.º 228, julho-dezembro de 2022 (2) (Mário Beja Santos)
Guiné 61/74 - P24626: Contos com mural ao fundo (Luís Graça) (9): Requiem para um paisano
Fotos © Arlindo Roda (2010). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Disseram-me que tinhas morrido, meu infortunado camarada, já depois do nosso regresso a casa. Talvez nos finais dos anos 70 do século passado, não posso precisar.
"Lerpado", morrido, de morte matada, morrido, como um cão, com um tiro na nuca, como os cães que abatemos (dezenas!|), uma noite, em Bambadinca, nessa alucinante e sangrenta "Noite das Facas Longas", lembras-te?!... (Precisávamos de dormir, e eles eram uma alcateia selvagem de vira-latas, famintos, sem-abrigo, que todas as noites invadiam a parada, e uivavam às nossas janelas!)
Disseram-me que tinhas sido encontrado, morto, longe da nossa Guiné, dessa terra verde e vermelha que tu tanto amaste, longe da tabanca de Sinchã Mamajã, e da morança da tua bela e sensual Fatumatá, de mama firme, que se escapulia para a tua morança, nas noites de cio e lua cheia, em que uivava a hiena (o "lobo", para os guineenses)…
Onde, afinal ? Não longe do lugar dos teus verdes anos, não longe do arco-íris do teu céu de menino, quiçá perto do estuário do teu Tejo, numa qualquer praia do mar da Palha, ou numa valeta suja de uma rua escura da tua cidade (Se bem recordo, moravas no Afonsoeiro, Montijo, na Rua Damão, rodeada de outras ruas com topónimos ultramarinos, Luanda, Ilha do Príncipe, Ilha de Sáo Tomé, Moçambique, Cabo Verde),,,
Em que encrencas te meteste, meu irmão ? E com quem jogavas à lerpa, camarada ? Ou em que emboscada caíste, meu amigo ?
No século passado, meu amigo, no século transato, meu irmão!...
Vestidas as calças à boca de sino, e as camisas às florinhas que estavam na moda, na época, regressávamos ao doce lar, com as exóticas bugigangas compradas com o patacão da guerra em Bissau, na loja do libanès Taufik Saad.
Como se tudo continuasse como dantes e a vida corresse normalmente, "contra os ventos da história" (como então se dizia), nessa viagem de regresso à pátria servia-se a bordo, na chamada classe turística, reservada aos sargentos: (i) uma sopa de creme de marisco; (ii) seguido de um prato de peixe (pescada à baiana); e (iii) um prato de carne (lombo estufado à boulanger)... sem esquecer (iv) a sobremesa: a bela fruta da época, o bom café colonial, o inevitável cigarro a acompanhar um uísque velho, antes de mais uma noitada de lerpa ou de king...
Tu tinhas um lar, todos tínhamos um lar, uma família, alguns um emprego, muitos uma namorada ou uma noiva ou uma mulher e até filhos à sua espera… Mas eu…, o que sabia eu de ti ? O que sabíamos nós uns dos outros ? E dos nossos sonhos de meninos que foram obrigados a crescer tão cedo e tão rãpido ?
Não, nunca mais voltei a ver-te, depois desse dia 22 de março de 1969, ao longo de todos estes anos, em que tantas coisas aconteceram, para o pior e o melhor, na nossa Pátria... Uma palavra, repara, que saiu do léxico dos tugas, e já não se usa mais, a Pátria... Afinal o que é a Pátria, camarada ? Ou era ?
A imagem mais forte, não a última, que retenho de ti, é a do menino e moço que saiu, fardado, garboso, bem escanhoado, da casa de seu pai e sua mãe...É a imagem do puto reguila, quiçá rebelde, temperamental, belicoso mas generoso, da margem sul do Tejo. Com jeito para o desenfianço, o desenrascanço, que a vida era dura para os homens da CCAÇ 12, brancos e pretos. E com lábia para as bajudas de mama firme e para os "dubis", os putos da companhia, alguns ainda meninos de sua mãe.
Retenho ainda, sem qualquer sentimento de pudor nem de culpa, a imagem do nosso patético duelo, numa noite de desvario, no bar de sargentos de Bambadinca, tendo por arma, letal, uma garrafa de VAT 69. (Ou era Jonhnie Walker ? Ou White Horse, a tal do cavalinho branco ? Já não me lembro do rótulo, sei apenas que era scotch, e do bom, daquele que vinha From Scotland for the Portuguese Armed Forces with love!, da Escócia para os tugas com amor.)
Um duelo de morte, gole a gole, até ao gole ou golpe final, em menos de 15 minutos!... Com árbitro e tudo, apostas a dinheiro, mirones e claques de apoio, como mandavam as regras dos apanhados do clima de Bambadinca!... Já não sei quem ganhou: seguramente perdemos os dois...
Apanhados do clima, cacimbados, dizes bem, Exaustos, usados e abusados, filhos de Sísifo, filhos de um deus menor, condenados ao mais insano dos suplícios, uma guerra a que chamavam de baixa intensidade, de contraguerrilha, do gato e do rato, de contrassubversão…
Era a nossa triste condição, era a nossa quiçá estúpida, mas viril, maneira de matar… o tempo, o escasso tempo de lazer em tempo de guerra, , cronometrado, o tempo de espera entre uma operação e outra, o tempo de espera que podia ser entre a vida e a morte, que estava quase sempre emboscada nos trilhos que levavam do Xime à Ponta do Inglês.
Foi esse fado que te matou, essa maldita toxina, essa adrenalina, que trouxeste das águas do Geba e do Udunduma, e das bolanhas do Corubal, do cacimbo das manhãs de Sinchá Mamajá, e que te impedia de parar para pensar, simplesmente parar, simplesmente pensar, simplesmente viver, simplesmente respirar à tona de água. meu irmão, meu camarada, meu amigo.
Foi o sobressalto da vida, foi a vida em sobressalto, foi a vida em saldo, foi a alma em carne viva, foi a dor em lume brando... Foi isso que te matou. No pós guerra, na guerra dos paisanos.
© Luís Graça (2015). Revisto em 6set2023
Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Setor L1 (Bambadinca) > Carta do Xime (1955) (Escala 1/50 mil) > Subsetor de Bambadinca > Detalhe > Tabancas fulas em autodefesa, Samba Juli, Sare Adé, Sinchã Mamajá e Sansacuta, situadas entre os rio Quéuol e Timinco, a leste da estrada Bambadinca-Mansambo. na frinteiras entre os regulados de Badora e Corubal
Nota do editor:
(*) Último poste da série > 30 de agosto de 2023 > Guiné 61/74 - P24599: Contos com mural ao fundo (Luís Graça) (8): Bonjour tristesse!
(...) Nada fazia prever, quando o Teodoro nasceu, que estaria predestinado a ser padre. Pelo menos não havia nenhum sinal exterior dessa predestinação, desse chamamento de Deus.
− Nenhum rasto de estrela ou cauda de cometa a apontar para a minha casinha de xisto. (Apesar de tudo, sempre era melhor do que a loja da vaca e do burro, em cuja manjedoura nascera o Menino Jesus, em Belém.) − comentaria ele, com um misto de ironia e melancolia, mais tarde, em 2008, quarenta anos depois da sua partida para França, onde fixara residência. Nunca mais voltara à sua aldeia, na Serra da Lousã, a não ser então, depois da reforma. (...)
Postes anteriores da série "Contos com mural ao fundo":
21 de agosto de 2023 > Guiné 61/74 - P24572: Contos com mural ao fundo (Luís Graça) (7): Sozinho, como um cão
(...) Estive no seu leito de morte. Um fatal cancro dos pulmões, porventura curável nos nossos dias, roubara-lhe a vida, há uns trinta anos atrás. Teria hoje os seus 80 anos, se fosse vivo. Morreu jovem, demasiado jovem.
Era um dos meus heróis da adolescência, o Doc. Tinha lentamente recuperado a alegria de viver, depois de uma grave crise que ele próprio qualificara de “existencial”. (...)
26 de julho de 2023 > Guiné 61/74 - P24504: Contos com mural ao fundo (Luís Graça) (5): O "Felgueiras", de 1º cabo hortelão a comendador (1943-2017) (Parte I)
(...) Conhecemo-nos, por um mero acaso, num casamento em Braga, a terra dos arcebispos (um dos quais, o Dom Lourenço Vicente, do séc. XIV, meu longínquo conterrâneo, senhor das terras da Lourinhã).
A história do "Felgueiras" já me tinha sido contada, muito por alto, pelo pai do noivo. Antigos camaradas da Guiné, tinham estado numa companhia independente, colocada no setor de Teixeira Pinto (hoje Canchungo), na região do Cacheu.
− Fomos e viemos no mesmo navio: para lá no "Niassa", para cá no "Uíge"... − acrescentou o Arlindo, o pai do noivo. (..)
20 de julho de 2023 > Guiné 61/74 - P24491: Contos com mural ao fundo (Luís Graça) (4): Amigos para sempre!
(...) Foi o primeiro encontro da Companhia, depois do regresso da Guiné... Vinte anos depois (!)... Na Anadia, em 1991, o ano em que nasceu a Internet, pelo menos a Internet que conhecemos hoje, em que as pessoas estão familiarizadas com as redes sociais, e usam o telemóvel e o correio eletrónico.
A organização coube ao "Vagomestre", auxiliado pelo "Transmissões"... Não lhes foi fácil descobrir nomes, moradas, telefones e até faxes... E juntar "boas vontades". (Ainda não havia endereços de e-mail, comunicava-se por telefone, telegrama e fax.) (...)
8 de julho de 2023 > Guiné 61/74 - P24459: Contos com mural ao fundo (Luís Graça) (3): Um tiro de misericórdia!
(...) Conheceste-o no Chez Toi, em Bissau. Ou melhor, reconheceste-o, de Tavira, do CISMI, do Centro de Instrução de Sargentos Milicianos. Haviam pertencido, ambos, à Companhia de Instrução comandada por uma figura impagável, um tenente gordinho, que, dizia-se, tinha-se coberto de “honra & glória” no Norte de Angola. Já esqueceste o seu nome, para bem da tua higiene mental.
Em Bissau, estavas hospedado naquela espelunca, de paredes de tabique, que à noite funcionava como boite. (Era assim que, na época, se chamavam, “en français, comme il faut!”, todas as espeluncas da noite, em Lisboa e, onde se bebia uísque marado, "de Sacavém", e havia umas miúdas de minissaia e cueca vermelha, peludas, que te faziam olhos remelosos, e cócegas no pescoço… Tinham unhas compridas, como os felinos, pintadas de um verniz vermelho horroroso. Faziam, pela vida, coitadas. E viviam nas periferias de Lisboa que cresciam então como cogumelos, em arredores como a linha de Sintra, começando na Reboleira.) (...)
26 de junho de 2023 > Guiné 61/74 - P24433: Contos com mural ao fundo (Luís Graça) (2): Que Alá te proteja dos teus amigos, que dos inimigos cuidas tu!
(...) A guerra. Essa coisa tão primordial que é a guerra. Que estaria inscrita no nosso ADN, a acreditar nos sociobiólogos para quem o comportamento humano
seria geneticamente determinado.
A guerra é a continuação da evolução por outros meios, dirão os entomólogos, especialistas em insetos sociais. Para eles, a morte de uma ou de um milhão de formigas (ou de seres humanos...) é-lhes totalmente indiferente. Desde que triunfe o ADN, um projecto de ADN musculado, duma "raça" nova e superior... (Onde é que o leitor já leu isto?) (...)
Aqui, esperas, desesperas, esperas. Que a esperança é a última coisa a morrer, diziam-te na tropa os gajos mais otimistas, os safados dos instrutores, sobretudo dos coirões, velhos, dos cabos RD, readmitidos, que sabiam que já não iam à guerra, nem nunca morreriam docemente pela Pátria. (...)
Guiné 61/74 - P24625: Álbum fotográfico do António Alves da Cruz, ex-fur mil at inf, 1ª C/BCAÇ 4513/72 (Buba, 1973/74) (4): Mampatá, maio-julho de 1973
1. Continuação da publicação de uma seleção de fotos do álbum do António Alves da Cruz (ex-fur mil at inf, 1ª C/BCAÇ 45113/72, Buba, 1973/74).
Estamos a seguir a ordem cronológica da comissão de serviço na Guiné. Partida do BCaç 4513/72: Embarque em 16mar73; desembarque em 22mar73.
A 1ª Comp, após o treino operacional no subsector de Buba com a CCaç 3398, sob orientação do BCaç 3852, passou a reforçar a actividade daquela subunidade no esforço realizado de contrapenetração no referido subsector e depois integrada no seu batalhão, na função de intervenção que lhe foi atribuída, tendo-se instalado, a partir de 17,ai73, em Mampatá.
Mensagem do António Alves da Cruz, ex-fur mil, 1ª C/BCAÇ 45113/72 (Buba, 1973/74)
Data - sexta, 1/09/2023, 14:55
Assunto - Fotos
Boa tarde, Luís
De maio a julho de 1973, a 1ª Companhia do BCAÇ 4513/72 esteve sediada em Mampatá para reforçar as operações na zona de Nhacobá.
Durante 3 meses andámos como companhia de intervenção. Junto fotos.
Forte abraço amigo Luis
Cruz
PS - Para os senhores censores do blogue, esclareço que a farda que usava, na ocasião, era Pestana & Brito e o boné Dolce & Gabbana.
Fotos > Legenda:
Foto 1 - Mina anticarro levantada na estrada Cumbijã/Nhacobá. Com todo o cuidado, a mina estava armadilhada. Foi neutralizada pelo ex-furriel mil Reis e ex-alferes mil Torres, do 4º pelotão da 1ª C/BCAÇ 4513/72.
Foto 2 - Levantamentode mina A/C na estrada Cumbijã / Nhacobá. À esquerda, de faca de mato na mão, o ex-fur mil Reis; ao centro com a HK 21, um camarada de quem não recordo o nome; e à direita, o ex-alf mil Torres. (Infelizmente o Reis e o Torres já não estão entre nós.)
Foto 3 - Eu, na tabanca de Mampatá, com dois grandes amigos: à direita o ex-furriel Reis, e à esquerda o ex-furriel Victor.
Foto 4 - Eu, com a tabanca de Mampatá ao fundo.
Fotos 5 e 6 - Crianças de Mampatá
Foto 7 - Mampatá, unho de 73
Foto 8 - Posto de vigia junto à enfermaria virado para a estrada do Cumbijã.
Foto 9 - Mampatá, geliporto, à direita a estrada para o Cumbijã , Colibuia e Nhacobá.
Foto 10 - Durante um patrulhamento o descanso do 3º pelotão para comer uma latita da ração de combate, este pontão estava numa estrada abandonada há muito que ia de Mampatá para Sinchã Cherno e Empada.
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Nota do editor:
Útimo poste da série > 3 de setembro de 2023 > Guiné 61/74 - P24614: Álbum fotográfico do António Alves da Cruz, ex-fur mil at inf, 1ª C/BCAÇ 4513/72 (Buba, 1973/74) (3): Bolama, lugar de passagem