quarta-feira, 30 de março de 2011

Guiné 63/74 - P8014: A minha CCAÇ 12 (15): Op Safira Única, 21 de Janeiro de 1970: Ir à Ponta do Inglês e, sem dar um tiro, recuperar 15 elementos da população, destruir dois acampamentos e aprisionar um guerrilheiro "em férias" (Luís Graça)



Guiné > Zona leste > Sector L1 (Bambadinca, ao tempo do BCAÇ 2852, 1968/70) > Evolução de forças da CCAÇ 12 (1969/71), na região do Xime, presumivelmente em finais de 1969...  Em primeiro plano, os Fur Mil At Inf Arlindo Roda (3º Gr Comb) e Tony Levezinho (2º Gr Comb)... Repare-se no potencial de fogo, só deste grupo de combate: os dois municiadores de bazuca (uma 8.9) traziam um "pack" de seis granadas cada um, ou seja, um total de 12, mais uma granada no tubo transportado pelo apontador... Mas nesta operação, elas irão voltar todas à arrecadação...


Foto: © Arlindo Roda (2010). Todos os direitos reservados




A. Continuação da série A Minha CCAÇ 12 (*), por Luís Graça


(7.3) Op Safira Única: recuperados 15 elementos da população sob controlo IN, na região de Poindom/ Ponta do Inglês, destruídos 2 acampamentos  e capturado o guerrilheiro Festa Na Lona, oriundo de uma unidade combatente... do Gabu.


Na última operação (*), o IN mostrara-se particularmente agressivo, reagindo à acção das NT durante mais de meia-hora. E o guia-prisioneiro Jomel Nanquitande tentara despistar-nos com manobras de diversão. A frustração era profunda, sobretudo entre os soldados africanos da CCAÇ 12. Mas foi imediatamente compensada pelo êxito espectacular da operação seguinte, uma semana depois.


Sabia-se que na Ponta do Inglês o IN controlava um importante aglomerado populacional que cultivava a bolanha do Poindom. Segundo as informações do prisioneiro Jomel Nanquitande, a população não estava armada, sendo a segurança aos trabalhos agrícolas feita por um grupo que todos os dias se deslocava do Baio (onde há um acampamento com 50 homens armados), fazendo a cambança do Rio Buruntoni (, afluente do Rio Corubal), em canoa.


Em face destes elementos, foi decidido fazer uma batida cuidadosa à área da Ponta do Inglês (ou Gã Garnes, como o PAIGC lhe chamava), a fim de:  (i) aniquilar os grupos IN eventualmente detectados, (ii) aprisionar a população que nela vivesse e (iii) destruir todos os meios de vida existentes (Op Safira Única, 2 dias, região de Xime – Gundagué Beafada – Ponta do Inglês).


O conceito da operação era executar a progressão e batida com o Dest A (CCAÇ 12, a 3 Gr Comb reforçados) e o Dest B (CART 2520, unidade de quadrícula do Xime, a 2 Gr Comb),  apoiando-se mutuamente, sobretudo a partir de Gundagué Beafada.






Guiné > Zona Leste > Região do Xime (margem direita do Rio Corubal) > Foz do Corubal, tendo à direita a Ponta do Inglês, de triste memória para muitos de nós... Mais acima, na margem esquerda, Ganjauará, perto de Gampará, de triste memória para o Vitor Tavares e os seus  camaradas da CCP 121/BCP 12 (Mapa de Fulacunda, Escala 1/50000). 
(Detalhes)


Desenrolar da acção:


(i) Em 20 de Janeiro de 1970, pelas 23.30h, a Artilharia do Xime executa uma concentração de 4 tiros sobre a Ponta do Inglês, na margem direita do Rio Corubal (Fulacunda 8I2-95).


(ii) Ao amanhecer, pelas 5h30, saem os 2 Destacamentos do Xime, apoiando-se mutuamente e progredindo com o auxílio de bússola através dum itinerário previamente estudado, de maneira a evitar os trilhos da Ponta do Inglês, usados pelo IN.


(iii) Por volta das 15.30h, já nas proximidades do objectivo (Xime 2B8), foram notados indícios de presença humana: trilhos batidos, moringas nas palmeiras para recolha de vinho e um cesto de arroz.


(iv) Seguindo um dos trilhos, avistou-se um homem desarmado que seguia em direcção contrárias às NT. Capturado, informou: (a)  que ia recolher vinho de palma, (b) que a tabanca ficava próxima, (c) que não havia elementos armados e (d) que a maior parte da população estava àquela hora a trabalhar na bolanha do Poindom.


(v) Feita a aproximação com envolvimento, capturaram-se mais 2 homens, 5 mulheres e 6 crianças, andrajosos e aterrorizados. Um dos homens capturados disse chamar-se Festa Na Lona, de etnia balanta, estar alí a passar férias (sic) e pertencer a uma unidade combatente do Gabu (Nova Lamego). Foi-lhe apreendido uma pistola Tokarev (7,62, m/ 1933) e vários documentos.


Foto à direita: Uma pistola de origem soviética, Tokarev m/1933, de 7,62, igual ou parecida à que que foi apreendida ao guerrilheiro Festa Na Lona, na Ponta do Inglês, no decurso da Op Safira Única ...


Pelo que me recordo, esta pistola ficou à guarda do Alf Mil Abel Maria Rodrigues,  transmontano, comandante do 3º Grupo de Combate da CCAÇ 12, que a tomou como ronco... Não sei (mas ele pode-nos dizê-lo, já que é membro da nossa Tabanca Grande), se a conseguiu trazer para a Metrópole e legalizá-la...


Ao que parece, esta arma teve a sua estreia na Guerra Civil de Espanha, em 1936, nas fileiras do exército republicano, estando distribuída a pilotos e tripulações de tanques, entre outros... (Para saber mais, ver o que diz o nosso especialista em armamento, Luís Dias, sobre esta pistola soviética).


(vi) Havia 2 tabancas (ou melhor: barracas), cada uma com 4-5 moranças, afastadas umas das outras cerca de 200 metros. Cada casa era revestida de chapa de bidão e coberta de capim. Para o efeito foram aproveitados os bidões existentes no antigo aquartelamento da Ponta do Inglês que as NT retiraram em Novembro de 1968.


Foram destruídos todos os meios de vida encontrados e incendiadas casas, à excepção das que ficaram armadilhadas (a 1ª e a última, no primeiro acampamento). A localização do acampamento era em Xime 2A5-93.


Mais notável, os 2 Dest executaram toda a acção sem disparar um único tiro...


(vii) A retirada fez-se igualmente a corta-mato em direcção de Gundagué Beafada, tendo-se chegado ao Xime pelas 18.30h do dia 21. 


(viii) Os prisioneiros ficaram às ordens do comando e CCS do BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70). Lembro-me particularmente do ar aterrorizado das crianças, nuas, ao ouvir o ronco de uma GMC... Eram miúdos nascidos no mato. Já não recordo de qual terá sido o seu destino: como era usual, eram entregues à autoridade administrativa local e acabavam por ser integrados  nalguma tabanca mais próxima, com gente da sua etnia (balantas ou beafadas). Todos os anos era o mesmo drama, com esta pobre gente que trazíamos do mato, na altura da época seca, e para qual não havia, no quartel de Bambadinca, as condições mínimas de acolhimento... (Vd., a este propósito,  as memórias do alferes capelão Arsénio Puim, que pertenceu à CCS/BART 2917, Bambadinca, 1970/72).


(ix) Durante a noite, a Artilharia fez fogo de concentração sobre os acampamentos IN do Baio/Buruntoni e Ponta Varela/Poindom.
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Fontes consultadas:


História da CCAÇ 12: Guiné 69/71. Bambadinca: Companhia de Caçadores nº 12. 1971. Cap. II. 24-25.
Guiné 68/70: História do Batalhão de Caçadores nº 2852. Documento policopiado. Bambadinca: BCAÇ 2852. 1970. Cap. II. 131-132.
Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, I e II Séries
Diário de um Tuga (notas pessoais de L.G.)
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Nota do editor:


(*) Vd. poste de 17 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7957: A minha CCAÇ 12 (14): Op Borboleta Destemida, 14 de Janeiro de 1970: a ferro a fogo no Poindon/Ponta Varela ou... como nunca confiar num guia-prisioneiro (Luís Graça)

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