segunda-feira, 8 de janeiro de 2007

Guiné 63/74 - P1410: Antologia (57): O Natal de 1973 em Copá, de Benigno Fernando

Excertos de Benigno Rodrigo, O Princípio do Fim. Porto: Campo das Letras. 2001. (Campo da Memória, 6). pp. 29-30 (1):

Estavam próximo do Natal de 1973. Num desses dias o Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde atacou a povoação de Amedalaí, que ficava a 5 km de Bajocunda e a 17 km de Copá. A povoação era formada por população civil e pela milícia armada e o ataque aconteceu ao fim da tarde.

De Copá viam-se o fumo e as labaredas da tabanca que ardia, provocados pelos disparos, que duraram várias horas. De Bajocunda foram em socorro da povoação três pelotões que provocaram algumas baixas ao PAIGC, sendo forçado a retirar. No dia seguinte, ao fazerem o reconhecimento, verificaram que, no local do ataque, havia ligaduras ensanguentadas dos feridos do inimigo. Próximo do local, encontraram um macaco morto e confirmaram que por ali existiam minas, já que o macaco morrera por ter despoletado uma delas. O comandante da companhia tomou providências para desminar o caminho.

25 de Dezembro, dia de Natal de 1973. Eram 11 horas em Copá, o alferes Brás foi ter com o Rodrigues e disse-lhe:
- Recebi uma mensagem via rádio dizendo que o capitão Cruz ficou bastante ferido. Por isso, vais ter que me levar a Bajocunda.

Tentou recusar-se, porque pressentia que as coisas naquela zona não estavam nada boas, mas lá teve que dar início a mais uma das suas arriscadas viagens, acompanhado do alferes e de mais de meia dúzia de camaradas. Quando lá chegaram, o ambiente era desolador. Os camaradas foram ao seu encontro e com as lágrimas nos olhos disseram-lhe:
- Rodrigues, tu és maluco, não sabes o perigo em que te andas a meter ao fazeres viagens desta maneira; parece que não sabes o que aconteceu ao nosso capitão.

De facto, ainda não sabia o que na realidade tinha acontecido, embora soubesse que o capitão estava ferido; veio da boca dos camaradas a história do que aconteceu: nesse dia 25 de Dezembro, o capitão Cruz saiu de Bajocunda de manhã, com os homens necessários para desminar Amedalai. Chegados ao local, levantaram as minas sem problemas e quando se preparavam para vir embora, um dos soldados disse:
- Meu capitão, tenho a impressão de que ao pé do senhor está mais uma mina.

De facto era verdade, o capitão virou o pé ao lado e sem saber accionou a mina que lhe amputou uma das pernas. Terminava nesse momento a sua comissão, que durou apenas três meses na Guiné-Bissau. Regressaram a Copá, o Rodrigues jurou ao alferes que não voltaria a sair naquelas condições e ele respondeu-lhe:
- Deixa lá, se não quiseres ir, ensinas-me a conduzir e vou no teu lugar.

Os últimos dias de 1973 e os três primeiros de 1974 passaram-se relativamente calmos, embora o alferes Brás lhes tenha pregado um susto. Num desses dias, às 21 horas, fez um disparo de bazuca que os fez saltar fora da cama, apavorados. Na passagem de ano, fizeram uma festa, cantaram as janeiras acompanhados por batimentos em ferros.

A população também comemorou à moda islâmica, juntando grupos de pessoas vindas de fora, que cantaram em coro toda a noite. O alferes Fragata ficou a comandar a companhia como substituto interino do capitão Cruz.(...)
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Nota de L.G.:

(1) Vd. post de 8 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1409: Bibliografia de uma guerra (16): Pirada, Bajocunda, Canquelifá, Copá: o princípio do fim (Beja Santos)

2 comentários:

Anónimo disse...

este Benigno deve ter deturpado muito as memórias do meu sold. condutor António Rodrigues,no ataque a Amedalai foi ao final do dia como é que saíram em socorro de Amedalai 3 pelotões se nós em Bajocunda também estava-mos a ser atacados, o que fizemos foi lá ir logo de manhã e é que verificamos os estragos,e se calhar o PAIGC teve feridos, as minas só mais tarde é que sabemos que estavam lá é preciso muito decaramento para detorpar os factos reais se eu fosse o meu Condutor levava-o a tribunal.

Amilcar Ventura, Furri. Mecân. 1ª Comp. 8323 disse...

o comentário de 10 Maio é meu Amilcar Ventura.