domingo, 19 de agosto de 2007

Guiné 63/74 - P2061: A odisseia esquecida de Gandembel / Balana (Nuno Rubim / Idálio Reis)

Guiné > Região de Tombali > Gandembel > CCAÇ 2317 (1968/69) > 1968 > Início da construção do aquartelamento > No comments! (As grandes fotografias dispensam legendas)

Foto: © Idálio Reis (2007). (Editada por L.G.). Direitos reservados.



1. Mensagem do Nuno Rubim, na sequência do post de 19 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1971: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/70) (Idálio Reis): 28 de Janeiro de 1969, o abandono de Gandembel/Balana ao fim de 372 ataques

Caro Luís

Concordo plenamente contigo !!! Vamos pensar num meio de apoiar o camarada Idálio Reis a preservar ( publicar ?) documentalmente, reunido cronologicamente, todo esse importantíssimo acervo escrito e fotográfico !

E a prova segue em attach ... Desde Janeiro deste ano que insisto com ele ...

Um abraço

Nuno Rubim

2. Mensagem do Idálio Reis para o Nuno Rubim, com data de 7 de Junho de 2007:


Assunto - Torpedos bengalórios

Meu caro Nuno Rubim

Alegrou-me esta sua ciber-visita, porque ademais mostra que está apegado a esta visceral questão (parece que cada vez mais candente) da guerra da Guiné. Porque o Luís Graça tem editado a minha estória de modo algo compassadamente (1), tenho o prazer de lhe anexar as partes que então lhe enviei.

E porque o faço para si? Peço-lhe para dar pouco valor histórico ao memorial da CCAÇ 2317, que se encontra no Arquivo [Histórico] Militar. Ele não narra a grande generalidade dos factos então passados e, quando o faz, comete omissões ou erros.

Dos 372 ataques/flagelações que Gandembel sofreu, o maior foi a 15 de Julho (de 1968) e, com consequências mais desastrosas, bem diferenciado dos 2 que tiveram lugar na 1ª quinzena de Setembro. É que quando se quer quantificar o arsenal que o IN fez utilizar, somente lhe posso reconhecer que foi variado e imenso, ter a sensação do tempo dispendido, avaliar o tipo de armamento posto nesse teatro e tentar reconhecer os resultados. Fui incapaz de reconhecer quanto armamento ou efectivos se cercaram de Gandembel.

A utilização dos torpedos bengalórios fez-se incidir muito em especial em 15 de Julho, em que se tornou bem visível que houve destruição do arame farpado em frente ao paiol.

Quanto ao comandante da Companhia, o então capitão Barroso de Moura, desculpe este meu desabafo, mas hoje julgo que foi o pior de todos nós. A Companhia de Gandembel teve um capitão em part-time, pois facilmente se esquivava para Bissau. E vencido 2/3 da comissão, regressou a Lisboa para se guindar a posto mais elevado do Exército.

Foi homem que jamais vi, nem mesmo à nossa chegada se dignou a estar presente. Nunca apareceu nos convívios e também deixou poucas saudades ao pessoal da Companhia. E que direi eu, que um certo dia me puniu com 2 dias de prisão, agravado para 7 dias, e que me impediu de gozar qualquer período de férias?

Viria a ser substituído, já a Companhia em Nova Lamego, por um capitão do quadro de nome Pinto Guedes e que fora integrado ab initio na CCS. Este tomou a atitude então mais consentânea às circunstâncias, de nunca se intrometer nos seus destinos.

Sempre ao seu dispôr. Um forte e cordial abraço do Idálio Reis.

3. Resposta do Nuno Rubim:

Caro Idálio Reis:

Muito obrigado pelos dados que me enviou.

O drama de Gandembel merece ficar para a história e o camarada poderia talvez escrever uma monografia ilustrada sobre o assunto. Seria um importantíssimo contributo para o estudo da guerra colonial.

O meu trabalho, no quadro do Projecto Guileje, limitou-se à recolha de informações (documentos e fotos) sobre as unidades que lá serviram, mas depressa realizei que não poderia dissociar essa informação das unidades envolventes. Mas não faço análises, embora uma ou outra vez tente explicar a razão de ser de alguns acontecimentos ocorridos.
Esse trabalho de interpretação há-de ser feito (julgo eu...) no futuro. Por isso todo o material que recolhi (e o que ainda espero recolher), quer de fontes nossas, quer do PAIGC, ficará depositado no centro de documentação do núcleo museológico a instalar pela AD em Guileje.
Mas já propuz ao Pepito (Carlos Schwarz ), que aceitou a ideia, de que lá fiquem expostas ampliações de algumas das mais significativas fotografias, bem como alguns mapas, para além do diorama e das miniaturas dos meios de combate.
Quanto aos Torpedos Bengalore, nenhuma das listas que possuo, quer nossas quer do PAIGC, os menciona.

Sobre o que me fala dos intervenientes no processo, pois acho que o melhor é um dia falarmos pessoalmente sobre isso. Terei muito prazer nisso.

Grande abraço
Nuno Rubim

___________

Nota de L.G.:
(1) Além do post supracitado, vd. os anteriores (que de facto foram saíndo no nosso blogue com bastante irregularidade, por razões que não são imputáveis ao autor, mas sim ao editor, nomeadamente devido à riqueza e à abundância do material fotográfico que é preciso, no entanto, editar).

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