domingo, 7 de outubro de 2007

Guiné 63/74 - P2162: O fatídico dia 12 de Outubro de 1970 - Emboscada no itinerário Braia/Infandre (Afonso M. F. Sousa)


Afonso M. F. Sousa, ex-Fur Mil Trms, CART 2412 (Bigene, Binta, Guidage e Barro) (1968/70)

Mais um dossiê organizado pelo nosso camarada Afonso Sousa (1), residente actualmente em Maceda, Ovar, a quem o nosso blogue agradece a persistência, o entusiasmo, a paixão do rigor, o amor da verdade, a discrição e a camaragem (Carlos Vinhal, co-editor)


O fatídico 12 de Outubro de 1970
Guiné - Região de
Mansoa

Dossiê organizado por Afonso M.F. Sousa

A sequência dos momentos que precederam a trágica emboscada (Uma descrição sumária onde se procura circunscrever os passos e os momentos que preencheram este trágico dia do Pel Caç Nat 58 e da CCAÇ 2589)


Brasão do Pel Caç Nat 58

O Pel Caç Nat 58, em Outubro de 1970, estava sediado em Infandre. Defendia, juntamente com a CCAÇ 2589, o itinerário Mansoa - Infandre – Namedão (segurança e picagem).

Um aspecto do aquartelamento de Infandre

Vista parcial do aquartelamento de Infandre

Vista parcial da Parada de Infandre

Militares de Infandre numa pausa do quotidiano de guerra


O 12 de Outubro de 1970

7 horas da manhã. Militares do Pel Caç Nat 58 e da CCAÇ 2589, acantonados em Infandre (cerca de 10 Km a NW de Mansoa), partem deste aquartelamento em direcção a Mansoa, em 2 viaturas Unimog, a fim de efectuarem mais um reabastecimento da Unidade.

Para a detecção de minas, um grupo de militares segue à frente das viaturas, fazendo a habitual picagem da estrada (de terra batida). Duas horas depois a coluna chega a Mansoa.

As viaturas são colocadas nas posições de reabastecimento. Alguns dos militares, como sempre o fazem (sempre que se deslocam à vila), procuram de imediato o único estabelecimento de comidas onde poderão refrear todo o seu justificado apetite pelo esforço destas 2 horas de marcha.

Encaminham-se, como sempre, para a Casa Simões, ali mesmo ao lado da Igreja de Mansoa. O Simões havia também cumprido o seu serviço militar na PM em Bissau e resolveu continuar na Guiné, abrindo em Mansoa um pequeno restaurante, sobretudo para apoio à comunidade militar desta zona. Por aqui, ele estava na boca de quase todos. Os que vinham da periferia não hesitavam em fazer uma visita ao restaurante. Assim aconteceu com estes militares do aquartelamento de Infandre. Era como que reviver, por instantes, sabores e momentos da saudosa Metrópole.

Mansoa > Igreja onde estiveram as urnas, para as devidas honras e formalidades

Mansoa > Na Esplanada da Casa Simões, almoçam os furriéis César Dias e Caetano

Mansoa > O Fur Mil César Dias (à direita) e o 1º Cabo Brogueira

Reconfortados, estes militares lá voltaram ao espaço do reabastecimento. A operação de carga conclui-se. Eram cerca de 11 e meia. Ia começar a viagem de regresso a Infandre. Alguns civis, como de costume, acomodam-se nas viaturas, com as suas compras. A velocidade rondam os 50 - 60 Km/h. Por volta das 11,45h a coluna está à vista do aquartelamento de Braia. Resolvem parar para um cumprimento rápido aos seus vizinhos e camaradas amigos e tomarem uma bebida. Deixam as viaturas sobre a direita da picada e vão até ao interior do fortim. A visita é rápida, não mais que 10 minutos.

Braia > Um aspecto do aquartelamento

Efectivos de Braia > Parte do 3.º Pelotão da CCAÇ 2589 (Os Peras) mais quatro elementos do PEL CAÇ NAT 58 (um deles é o Fur A. Silva Gomes). Os restantes elementos destes dois Pelotões, juntamente com um Grupo de Milícia, constituiam o efectivo de Infandre.

Braia > Interior do aquartelamento (Messe)

Braia > Em posição de continência, o Fur A. Silva Gomes do PEL CAÇ NAT 58

É agora quase meio-dia. Vão retomar o caminho rumo a Infandre. Faltam apenas pouco mais que 4 Km.

Decorrem cerca de 5 minutos, após a partida. Os militares de Braia ouvem um intenso tiroteio para o lado do caminho que a coluna de Infandre seguia. Pressentiram, de imediato, que estava a ser atacada. A sua reacção foi instantânea. As duas viaturas do fortim, puseram-se estrada fora, a toda a velocidade. A estrada descreve uma curva à direita. Há um fardo de palha (talvez colmo) na estrada. Contornam-no. Cerca de trezentos metros depois da curva avistam-se as duas viaturas do aquartelamento de Infandre. Estão paradas na estrada. Em cima delas, nativos de armas apontadas ripostam à progressão dos homens de Braia. Estes saltam das viaturas e começam a progressão de forma mais cautelosa, pelas bermas da picada, junto ao capim. O Furriel António Gomes refere que teve necessidade de reposicionar-se para não ser atingido. Alguém lhe estava a chamar a atenção para isso. A nossa reacção foi determinada e eficaz. Os elementos do PAIGC começam a evadir-se no mato. Os militares socorristas aproximam-se. Junto às duas viaturas o ambiente é desolador, dramático...

Militares mortos e feridos, no chão, em redor das duas viaturas. Os feridos em estado desesperado. Começam a ouvir-se o estrondo das granadas dos obuses de Mansoa que caíam para o lado da fuga do inimigo. Alguém já tinha dado o alerta. Procura-se o socorro possível aos feridos e estabelece-se a comunicação para as necessárias evacuações. O cenário é dantesco e de profunda emoção e tristeza. Um pelotão inteiro está ali, naquele pequeno espaço, completamente abatido. Os olhos humedecidos são de tristeza e de raiva. O inimigo tinha atingido os seus desígnios de forma cruel e bárbara. Diz o Furriel António Gomes: - Deparámos depois que a cerca de 50 metros, para o lado contrário da emboscada, junto a um baga-baga, aí se haviam escondido 5 dos nossos militares, sobreviventes sem ferimentos, que de forma instantânea e algo feliz conseguiram evadir-se através do alto capim, para o outro lado da picada.

Entretanto chegavam também, em socorro, militares de Infandre. Estes demoraram mais porque tiveram que fazer a deslocação a pé (as duas únicas viaturas existentes eram as que tinham sido emboscadas).

Introduzo aqui um parêntesis para referir que tive, entretanto, conhecimento que o 1.º cabo enfermeiro António Oliveira, do Hospital Militar 241 de Bissau, chegou, exactamente ao local da emboscada, por volta das 12,30h. Ele era um dos elementos que integrava a equipa do helicóptero que procedeu à evacuação dos feridos de maior gravidade.

Por ironia do destino, o Oliveira também é da Mealhada e morava a pouco mais de 2 Km do José da Cruz Mamede. Este tinha estado a gozar férias em Bissau onde, conforme combinação prévia, deveria ter visitado o António Oliveira, no Hospital Militar. Por qualquer circunstância o José não esteve com ele e voltou a Infandre uns dias antes da fatídica emboscada.

O António Oliveira reconheceu, no capim, o seu amigo. Estava do lado esquerdo (conforme a orientação das viaturas), a cerca de 10/15 metros da berma da estrada. Já estava sem vida. À minha observação para a distância a que se situava em relação ao local exacto da emboscada, disse-me que, provavelmente, ainda se terá arrastado naquele espaço, enquanto as forças lho permitiram.

Quanto ao Serifo Djaló, que morreu em Bissau, 5 dias depois e o Natcha que morreu em 20 de Novembro, confirma que se tratavam de elementos apanhados nesta emboscada e que haviam sido evacuados para Bissau.

Dada a quantidade de feridos, deram instruções imediatas para que de Bissau, partissem 2 ambulâncias, por estrada. Os 3 ou 4 feridos de maior gravidade, foram, de imediato, evacuados de helicóptero.
Refere que, antes de procederem à descida, no local, um T6 procedeu a bombardeamentos no enfiamento de Morés e Canquebo.

O António Oliveira não põe de lado a hipótese da coluna ter parado entre o fortim de Braia e a zona da emboscada, para dar boleia a alguém da população. Continua, por isso, a haver alguma dúvida se terão parado, para esse efeito (**). A paragem poderia ser tácita com os elementos do PAIGC. Por ora, é ainda uma questão difícil de investigar ou concluir. Sobre esta questão, o ex-Furriel António Silva Gomes (um dos socorristas de Braia) afirma de forma quase peremptória que não houve qualquer paragem, dado que entre a saída de Braia e o momento da emboscada, apenas decorreu um intervalo de cinco minutos.
Quem sabe se algum daqueles 5 militares que estavam ilesos, atrás de um baga-baga, poderiam ajudar a esclarecer o assunto.

O problema é que ainda não se descobriu os seus nomes. Supõe-se que um deles terá sido o 1.º Cabo Costa (Laureano Augusto Costa ?) que esteve emigrado em França e que acaba de regressar à sua terra, em Mirandela. O seu depoimento seria de grande interesse, mas não foi ainda possível contactá-lo.

Segundo o António Oliveira, quem esteve também no local, nesse momento ou no dia seguinte, foi o Marcelino da Mata. O seu testemunho também poderia ajudar na pormenorização de uma ou outra questão sobre as quais pareça subsistir ainda alguma dúvida ou menor clarificação, como, por exemplo, esta: o ex-Furriel César Dias diz que só no dia seguinte (13 de Outubro) foram evacuados, de Mansoa, 6 elementos do Pel Caç Nat 58. O Cabo Enf António Oliveira diz que, de imediato (12 de Outubro), foram chamadas ambulâncias, de Bissau, para procederem à evacuação de todos os feridos que o transporte de helicóptero não pôde contemplar.

Falta saber, quanto ao atado de palha, deixado na estrada (logo após a curva, pouco mais de 1 Km à frente de Braia), se foi ou não aí colocado pelo IN e, em caso afirmativo, se o terá feito antes ou depois da passagem da coluna emboscada.

Os taipais das viaturas encontravam-se muito esburacados por força das rajadas, feitas quase à queima-roupa, já que a emboscada foi executada por elementos do PAIGC, camuflados no alto capim (lado N), a escassos 2 metros da borda da picada. Os nossos militares estimaram que seriam cerca de 100 guerrilheiros, com um relevante potencial de armamento.

O Furriel Dinis César de Castro, foi capturado, tendo-lhe sido exigido que tirasse a farda. Recusou-se, com grande determinação e enorme sentido de patriotismo. Foi cruelmente rasgado, de lado a lado, com rajada de metralhadora. Este incomensurável gesto de patriotismo haveria de ser reconhecido pelo Estado português, quando, na cerimónia do 10 de Junho de 1971, Dinis César de Castro foi condecorado, a título póstumo, com a Cruz de Guerra.

Introduzo aqui um testemunho, recente, de alguém que, na altura, seguiu e viveu este acontecimento:

"12-10-1970 é uma data que recordo com tristeza. Como muitas outras, era mais uma coluna a passar naquele itinerário, (Braia-Infandre), mas daquela vez havia à volta duma centena de guerrilheiros emboscados com morteiros, lança-granadas-foguete e armas automáticas. Chegaram mesmo a lutar corpo a corpo. Sofremos 10 mortos (entre os quais, do Pel Caç Nat 58, o 1.º cabo José Mamede, o 1.º cabo Joaquim Baná e os soldados Cumba, Seidi, Mundi, e Baldée da CCAÇ 2589 o meu amigo Furriel Mil de Op Esp Dinis Castro, e os soldados Joaquim M Silva, Joaquim J Silva, Duarte Gualdino, a quem presto sentida homenagem), 9 feridos graves, 8 feridos ligeiros e um soldado capturado. Recorri aos documentos que guardo com muito carinho, e mais uma vez fiquei emocionado" (Furriel Mil César Dias – CCS BCAÇ 2885, Mansoa)

Em 20 de Novembro de 1970, o Furriel Carlos Fortunato, da CCAÇ 13, que se dirigia para Bissau para participar na Operação Mar Verde, passou no local da emboscada e viu, espetada num tronco, uma granada de RPG-7, que não tinha explodido. Estimava em cerca de 3 Km a distância até Braia. E, de facto, esse cálculo não estava muito longe da realidade.

Mais duas informações, entretanto recolhidas:

- Às 18,35h do próprio dia 12 de Outubro de 1970, o IN flagelou Mansoa, com canhão sem recuo, a partir de Cussanja (junto ao Rio Geba) - 4,4 Km a SE de Mansoa, no entroncamento da estrada Mansoa-Cussaná-Cussanja com a estrada de Jugudul-Porto Gole. Cussanja, pela sua situação, junto à margem do Rio Geba, o IN tinha-a como um ponto privilegiado para flagelações de Mansoa. Tudo indica que esta flagelação terá surgido como retaliação aos bombardeamentos aéreos feitos pelas nossas tropas, logo a seguir à emboscada e teriam como objectivo surpreender os efectivos de Mansoa que estavam preocupados com a recolha dos mortos e feridos e com todas as acções inerentes ao desfecho da emboscada. Cussanja ficava precisamente do lado oposto de Braia/Infandre, a NW de Mansoa.

- As pesquisas levam-nos, por vezes, a resultados surpreendentes, como é este caso que me acaba de ser relatado pelo 1.º Cabo Luís Camões, à altura, em Mansoa: - O condutor de uma das duas viaturas emboscadas, quase dado como desaparecido, surgiu, à noite, em Mansoa (com a sua G3), depois de ter percorrido, pela mata, cerca de 9 km, previsivelmente em puro sofrimento (*). Falta averiguar o seu nome e se ainda permanece entre nós para, neste caso, procurar obter o seu testemunho e o porquê deste seu arriscado procedimento.

(*) Pertencia à C. Caç. 2589 e estava adstrito ao PEL CAÇ NAT 58, em Infandre.

O trajecto

A zona da ocorrência e o percurso para Bissau

No trajecto da emboscada

…e os momentos

7 horas – Saída (Infandre)
9 horas – Chegada a Mansoa
9,30 às 10 h – Alguns dos elementos da coluna fazem a habitual visita à Casa Simões
10 às 11,30 h – Carregamento do reabastecimento
11,50 h - Chegada a Braia
11,45 ás 11,55 h – Paragem em Braia
12,00 h – Emboscada
12,04 h - Ajuda de Braia (chegada a 300m do local da emboscada)
12,10 h – Termo dos confrontos – evasão dos guerrilheiros do PAIGC

Distâncias:

Braia ao local da emboscada: 2,26 Km (0,8 Km na parte recta)
Braia a Infandre: 4,69 Km
Local da emboscada a Infandre: 2,43 Km
Infandre – Mansoa: 9,56 Km
Infandre – Namedão: 8 Km

Recta de 800 metros, entre a estrada da emboscada e a entrada do aquartelamento de Infandre

Local: a cerca de 500 metros do cruzamento para Infandre.
Deslocação de uma das viaturas de Infandre, para apanhar lenha precisamente junto à estrada, a cerca de 1500 metros, onde, mais tarde, havia de acontecer a emboscada


Algures, após o Fortim de Braia

A coluna da CCAÇ 13 acaba de atravessar a bolanha e o Rio Braia e aproxima-se do aquartelamento de Braia

Uma coluna da CCAÇ 13 após atravessar a bolanha, junto ao Rio Braia

Notas:

Justificação do espaço de 5 minutos entre a saída da coluna de Braia e o momento da emboscada:

Saída do fortim, chegada às viaturas e pô-las em movimento: 2 minutos.
Percurso de 2,26 Km (à velocidade provável de 50 Km/h): 2,71 minutos.
(total: +/- 5 minutos).

Tem este cálculo o objectivo de comprovar (e confirmar testemunhos) de que neste espaço de 2,26 Km a coluna não fez qualquer paragem e que o molho de palha encontrado na estrada, pelos militares de Braia, terá, eventual e estrategicamente, ali sido colocado por algum dos guerrilheiros do PAIGC, logo após a passagem da coluna, talvez com o objectivo de confundir ou surpreender os homens de Braia ou moderar a passagem das suas viaturas.

- José da Cruz Mamede (n.º 17762169), desembarcou em Bissau em 21/11/69. Veio, em rendição individual, para substituir o 1.º Cabo Joaquim da Silva Magalhães (n.º 01779368), falecido em combate (PEL CAÇ NAT 58) em 30/8/69.

- O Pel Caç Nat 58 chegou a Infandre a 16/11/69, para substituir o Pel Caç Nat 62, que foi extinto.

- Durante a permanência em Infandre, o Pel Caç Nat 58 sofreu 16 confrontos, entre flagelações e emboscadas.

- À data da emboscada, era esta a distribuição dos efectivos militares, nestes 2 destacamentos:


Infandre: 2 SEC do Pel Caç Nat 58 + 1 SEC de um 1 Gr Comb da CCAÇ 2589 + Grupo de Milícia
Braia: 2 SEC de um PEL da CCAÇ 2589 + 1 SEC do Pel Caç Nat 58

- Henrique Martins de Brito – Furriel – mais tarde (20/11/70), viria a ser evacuado para a Metrópole, não se sabe se em consequência de ferimentos, nesta emboscada.

- Era comandante do PEL CAÇ NAT 58 o Alferes Eduardo Ribeiro Manuel Cardoso Guerra que não esteve envolvido neste acontecimento, visto não ter feito parte da coluna de reabastecimento. Consta-se que, posteriormente, foi evacuado para a Metrópole, não se sabe se por doença ou por ferimentos em combate.

- Em Mansoa estava sediado o BCAÇ 2885 (RI 15 – Tomar – Maio de 1969 a Fevereiro de 1971).

- Manuel João Mimoso Belo – (Sacavém) – Foi posteriormente para Infandre, para substituir o José da Cruz Mamede.

- Rendição do BCAÇ 2885 pelo BCAÇ 3832 (RI 2 – Abrantes - Janeiro de 1971 a Janeiro de 1973.

José da Cruz Mamede > Um quadro de saudade

Os mortos e feridos

A trágica ocorrência redundou em 10 mortos, 9 feridos, 8 feridos ligeiros e um soldado capturado. (6 mortos e 6 feridos(*) eram do Pel Caç Nat 58 e os restantes da CCAÇ 2589 e população) .

(*) Dois, vieram depois a falecer em Bissau, o que elevou o número de mortos, do Pel Caç Nat 58, para oito.

Listagem de mortos do PEL CAÇ NAT 58 e da CCAÇ 2589

As listas dos combatentes falecidos no Ultramar, que podem ser consultas no site da APAV, ou da Liga dos Combatentes, nem sempre são rigorosas, neste caso omitiram o falecimento do (Sold) Joaquim Manuel da Silva da CCAÇ 2589 - (12/10/1970).

Lista dos mortos do Pel Caç Nat 58

Bomboro Joaquim - 21-08-1969
Joaquim da Silva Magalhães, 1.º Cabo - 30-08-1969
José da Cruz Mamede, 1.º Cabo - 12-10-1970
Joaquim Banam, 1.º Cabo - 12-10-1970
Idrissa Seidi, Sold - 12-10-1970
Tangina Mute, Sold - 12-10-1970
Betaquete Cumbá, Sold - 12-10-1970
Gilberto Mamadú Baldé, Sold - 12-10-1970
Serifo Djaló, Sold - 17-10-1970
Natcha Quefique, Sold - 20-11-1970

Lista dos mortos da CCAÇ 2589/BCAÇ 2885

José Luciano Veríssimo Franco - 29-05-1969
António José Penhasco da Costa - 09-11-1969
Joaquim Moreira Marques - 09-11-1969
Dinis César de Castro, Fur Mil - 12-10-1970
Duarte Ribeiro Gualdino, Sold - 12-10-1970
Joaquim João da Silva, Sold - 12-10-1970

- Em 20-11-1970, o Fur Mil Henrique Martins de Brito, do Pel Caç Nat 58, foi evacuado para a Metrópole.

Feridos do Pel Caç Nat 58 evacuados de Mansoa, para o HM241 de Bissau, no dia seguinte ao da emboscada:

- Augusto Ali Jaló – 2.º Sarg Mil
- Jamba Seidi – 1.º Cabo
- Malam Dabó – Sold
- Serifo Djaló – Sold – (Viria a falecer 4 dias depois – 17-10-1970)
- Jorge Cantibar – Sold
- Samba Canté – Sold

Agradecimentos

A todos os que, de alguma forma, contribuíram com as suas informações ou testemunhos, para que se pudesse encontrar a clarificação possível sobre esta trágica ocorrência.

Entre esses, permito-me destacar:

- César Dias (1)
- António Silva Gomes (2)
- “Kimbas do Olossato” (3)
- Benjamim Durães (4)
- Manuel João Mimoso Belo (5)
- Dinis Pinto Silva (6)
- Manuel Simões (7)
- Carlos Fortunato (8)
- “Os Leões Negros” (9)
- Luís Graça (10)
- Paulo Raposo (11)
- Joaquim Mexia Alves (12)
- Jorge Cabral
- Augusto Ali Jaló
- Eduardo Ribeiro (13)
- Artur Conceição
- Paulo Reis (Inglaterra) (14)
- Aniceto Henrique Afonso (15)
- António Oliveira (16)
- Lucília da Cruz Mamede (17)

Nenhuma pesquisa deste género poderá dar-se por finalizada enquanto subsistirem dúvidas, omissões, imprecisões ou desencontro de informações.

Pese embora toda a boa vontade, interesse e persuasão, como esforço investigativo, a exactidão, pela exaustão e cruzamento dos relatos, o fundamento dos conceitos ou a isenção, são factores determinantes que conduzem à autêntica realidade. Enquanto não se atingir esse patamar, teremos sempre e apenas relatos próximos ou tendentes a essa certeza, por onde, eventualmente, perpassam ainda algumas interrogações.

Vem a propósito referir que o Carlos Fortunato conta voltar a Infandre (provavelmente ainda este ano de 2007) e propõe-se encontrar alguém que tenha estado envolvido nesta sinistra emboscada, que vitimou, praticamente, um pelotão. Será agora um repórter, quase quarenta anos depois de haver calcado aquelas paragens, envergando a farda do exército português. Ele irá à procura de outros eventuais pormenores, testemunhos e justificações e trará mais algumas imagens da realidade presente destas terras de Mansoa.

(**) Testemunho que acabo de obter de um dos feridos na emboscada :

-"Augusto Ali Jaló, então 2.º Sargento, era o Comandante desta coluna de reabastecimento. Acabo de localizá-lo na zona de Lisboa. Tive com ele uma agradável conversação, no sentido de tentar obter a clarificação de algumas destas questões. Nesta coluna, o Augusto seguia na viatura da frente, a mesma onde também seguia o José Mamede. Ao eclodir da emboscada, saltou da viatura. Não foi atingido mas sofreu um severo trautamatismo craneano e uma grave contusão no joelho esquerdo. O helicóptero que se apresentou no local, 20 minutos depois da emboscada, levou o Jaló para Bissau, juntamente com outros 3 dos feridos mais graves. Esteve 3 meses, com gesso, no Hospital de Bissau.

Quanto à sua condecoração, confirma-se. Na cerimónia do 10 de Junho de 1970, em Bissau, foi condecorado com a medalha de cobre de Serviços Distintos com Palma. Em Agosto, seguinte, foi promovido a 2.º Sargento.

Outras clarificações:

- O Furriel Henrique Martins de Brito, evacuado para a Metrópole 8 dias depois da emboscada, não participou nesta coluna de reabastecimento. A sua evacuação terá derivado de doença.

- O molho de palha (molho de "fundo", segundo o Jaló) que estava na estrada, após a curva, foi deixado por algum elemento da população, logo após ouvir a 1.ª detonação da emboscada. Não se tratou, por isso, de qualquer estratagema do PAIGC. Quando a coluna passou não estava lá.

- Confirma o Augusto Jaló que não pararam para dar qualquer boleia o que, de todo, dissipa algumas dúvidas que ainda existiam sobre esta questão.

E revela ainda: na zona da emboscada, os guerrilheiros haviam colocado uma mina anti-carro mas, à vista da coluna e à sua aproximação ao sítio da mina, os guerrilheiros anteciparam-se com uma roquetada. O condutor da 1.ª viatura (onde ia o Jaló), desviou-se ligeiramente para a direita e, por felicidade, contornou a mina, não a accionando. De contrário a tragédia teria sido ainda maior. O José Mamede ia do lado direito dessa 1.ª viatura (lado da emboscada e lado do Morés). Foi atingido e ainda encetou um movimento de refúgio para o lado esquerdo. Morreu a cerca de 15 metros da estrada. Foi aí que o seu conterrâneo e amigo António Oliveira (1.º Cabo Enf do HM241 de Bissau) o encontrou, após a descida do helicóptero que veio proceder à evacuação dos feridos de maior gravidade, entre eles o Jaló.

- Confirma também o Augusto que uma secção do PEL CAÇ NAT 58 fez a picagem entre Infandre e Mansoa e que alguns dos elementos da coluna estiveram a comer na Casa do Simões (a) e na Tasca da Emília de Sá.

O Jaló, como responsável da coluna, não pôde deslocar-se a estes estabelecimentos, de visita costumada, por estar envolvido na orientação do reabastecimento.

(a) hoje, gerente e proprietário de “O Painel – Restaurante Simões, Lda”, próximo da Curia.

- Sobre os 5 militares que se protegeram atrás de um baga-baga, não sabe dizer quem eram, dado que estava muito ferido e foi, de seguida, evacuado para Bissau. O mesmo e pelas mesmas circunstâncias, quanto ao condutor que, à noite, apareceu em Mansoa, apenas acompanhado da sua G3.

- Os militares mortos foram levados para Mansoa, onde estiveram na igreja local, para as habituais formalidades.

Outros testemunhos poderão, ainda, vir a ser obtidos, no sentido de chegar a um registo factual, tão exaustivo quanto possível, sobre este trágico acontecimento.

Fotos cedidas por gentileza de:

António Silva Gomes (Lisboa – ex-Fur Mil Pel Caç Nat 58
Joaquim Carlos Fortunato (Lisboa) - ex-F Mil CCAÇ 13
César V. Dias (Santiago do Cacém) - ex-Fur Mil - BCAÇ 2885 (Mansoa)
Lucília Cruz Mamede – (Casal Comba – Mealhada)- Irmã do falecido José da Cruz Mamede

Com o meu especial agradecimento.

Fotos:© António S.Gomes, J.Carlos Fortunato, César Dias e Lucília Cruz Mamede (2007). Direitos reservados.

“Recordar é manter a memória colectiva ao transmitir os factos do passado às novas gerações”.
Afonso M. Ferreira Sousa

(1) – Fur Mil – CCS BCAÇ 2885 (Mansoa) – Procedeu a um armadilhamento na zona Braia-Infandre (por estas alturas).
(2) – Fur Mil – Pel Caç Nat 58 – Braia
(3) – Onde coloquei esta 1.ª mensagem, em Setembro de 2005, questionando se alguém poderia informar onde estaria sediado o Pel Caç Nat 58, em Outubro de 1970.
(4) – Fur Mil - CCS/BART 2917 - Foi crucial para o seguimento da pesquisa. Foi ele que, após ter visto a minha mensagem (de 2005) no sítio Kimbas do Olossato, se me dirigiu, em 18/3/2007, para me fornecer o guião do Pel Caç Nat 58.
(5) – 1.º Cabo – Pel Caç Nat 58 - Infandre
(6) – 1.º Cabo – Pel Caç Nat 58 – Infandre (depois da comissão: professor em Infandre).
(7) – Restaurante Simões dos Leitões – Tamengos (junto à Curia, Anadia) - telefone 231202031
(8 ) - Fur Mil – CCAÇ 13 - jcfortunato@yahoo.com
(9) - Site da CCAÇ 13 (http://leoesnegros.com.sapo.pt/)
Na página da CCAÇ 13 existe uma sub-página dedicada a este tema, com o título Pel Caç Nat 58.
(10) – Editor do maior Blog sobre a Guerra na Guiné: Luís Graça & Camaradas da Guiné
(11) – Alf Mil - CCAÇ 2405/BCAÇ 2852)
(12) - Alf Mil - CART 3492 – Pel Caç Nat 52 – CCAÇ 15
(13) - CCS/BCAÇ 4612 (mais conhecido por Pira de Mansoa)
(14) - pcv_reis@yahoo.co.uk – jornalista em missão de pesquisa nos arquivos do CTIG.
(15) - Ten Cor – Director do Arquivo Histórico Militar (Exército) – ahm@exercito.pt
(16) - 1.º Cabo Enfermeiro do HM241 de Bissau – Fez parte da equipa heli-transportada que procedeu à evacuação de alguns dos feridos, a partir do local da emboscada.
(17) –Irmã do falecido José da Cruz Mamede.
__________________

Nota de CV:

(1) Vd. posts sobre a emboscada do Infandre de 3 de Abril de 2007:

Guiné 63/74 - P1641: A morte do 1º Cabo José da Cruz Mamede, do Pel Caç Nat 58 (1): Onde e em que circunstâncias ? (Afonso M. F. Sousa)

Guiné 63/74 - P1642: A morte do 1º Cabo José da Cruz Mamede, Pel Caç Nat 58 (2) : Em Infandre, a 13 km de Mansoa (Afonso M. F. Sousa)

Guiné 63/74 - P1643: A morte do 1º cabo José da Cruz Mamede, do Pel Cacç Nat 58 (3): 10 mortos em emboscada com luta corpo a corpo (César Dias)

2 comentários:

Anónimo disse...

... endereçar as mais abrangentes felicitações, a Afonso Sousa – extensivas aos editores desta entrada –, pelo trabalho apresentado e pela justeza dos seus comentários. Permita-me que subscreva, inteiramente, a sua perspectiva da história-em-construção, quando afirma que:
– «Nenhuma pesquisa deste género poderá dar-se por finalizada enquanto subsistirem dúvidas, omissões, imprecisões ou desencontro de informações.
Pese embora toda a boa vontade, interesse e persuasão, como esforço investigativo, a exactidão, pela exaustão e cruzamento dos relatos, o fundamento dos conceitos ou a isenção, são factores determinantes que conduzem à autêntica realidade. Enquanto não se atingir esse patamar, teremos sempre e apenas relatos próximos ou tendentes a essa certeza, por onde, eventualmente, perpassam ainda algumas interrogações.»

Anónimo disse...

... em complemento do anterior "comment" –, de entre os 10 nomes, acima referidos como "mortos em combate", em consequência da emboscada IN lançada cerca das 12:00 de 12Out70 no itinerário Braia>Infandre: Natcha Quefique (nat. circunscrição de Mansoa), soldado do PelCacNat68, morreu no HM241 em 20Nov70, vítima de "doença" (cf registos on-line da LC e da APVG); e Joaquim Manuel da Silva (nat. conc.Leiria), soldado de infantaria, morreu também no dia 12Out70 "em combate", mas estava integrado no PelMort2105 (cf registo on-line da APVG), então colocado em Nova Lamego.