Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
quarta-feira, 17 de dezembro de 2008
Guiné 63/74 - P3639: Blogues da Nossa Blogosfera (11): Do Cerro do Cão, em Peniche, ao Apocalipse Now (José Pedrosa / Luís Graça)
Cópia da folha de rosto do Blogue de José Pedrosa, Cerro do Cão ("Aqui só o vento muda, sem cumprir tempos ou vontades. Aqui só o mar bate: por ciúmes ou por vaidade !").
Imagem: © Luís Graça & Camaradas da Guiné (2008). Direitos reservados
1. O José Pedrosa já apareceu aqui no nosso blogue, no Nosso Livro de Visitas, em data recente (*). É, além disso, um dos actuais 17 seguidores do nosso blogue (**).
Ele foi Alf Mil Inf, com a especialidade de Minas e Armadilhas, na CCaç 4747. Esta companhia açoriana esteve na na Guiné em 1974: Cumeré, em Janeiro de 1974; Chugué/Bedanda, entre Fevereiro e Julho de 1974; e no Biombo, até Agosto de 1974.... "Depois, no mês de Setembro de 1974 andei a negociar com o Cap Eng Pires a entrega do campo de minas de Bissau ao PAIGC e regressei em 28 de Setembro de 1974. Foi por pouco tempo, mas deu para aprender muito daquilo que a guerra colonial ensinou às nossas gerações".
É bancário, aposentado, da Caixa Geral de Depósitos. Tem 56 anos e indica, no seu perfil, o Apocalipse Now, de Ford Coppola (1979), como um dos seus filmes favoritos.
[A propósito, a dantesca sequência do ataque da cavalaria helitransportadade, comandada pelo cow-boy do tenente-coronel Bill Kilgore, a uma aldeia vietcong, na bacia do Rio Nung , sob a inebriante música do Wagner, A Danças das Valquírias, está disponível no You Tube, num longo excerto de 18 minutos e 1 segundo; é uma das melhoras sequências de guerra de toda a história do cinema e uma das mais perturbadoras ilustrações, pela 7ª arte, da nossa pulsão assassina e da nossa condição de primatas predadores].
Este ano o José Pedrosa (Zé Pedrosa, para os amigos, penicheiros ou não, e que se autodefine como "ser humano, simplesmente") teve a felicidade de poder reunir todos camaradas, naturais de (ou residentes em) Peniche, que fizeram a guerra colonial / guerra do ultramar na Guiné. No seu blogue (que tem menos de um ano), escreveu um texto, singelo mas bonito, a marcar essa data, de 19 de Abril.
Espero, em breve, a sua companhia no seio da nossa Tabanca Grande. Espero também que ele nos possa relatar como foram os últimos meses da malta, no TO da Guiné, a seguir ao 25 de Abril. Gostaria, muito em particular, que nos ensinasse como é que se negoceia, com o inimigo de ontem, um campo de minas à volta de uma cidade...
Aqui fica um excerto do seu blogue, com a devida vénia... Devo acrescentar que não é um blogue centrado na experiência da Guiné, mas sim na sua condição de filho de Peniche, adoptado, e no exercício da sua cidadania.
Em troca deixo-lhe também, em roda pé, uma excerto de um poema (meu) sobre o meu pedaço de costa preferido, Paimogo, com as Berlengas, o Cabo Carvoeiro e Peniche à vista (***) (LG)
2. Blogue Cerro do Cão >José Pedrosa > Segunda-feira, 21 de Abril de 2008 > Memorial da Guiné
Reviver o passado é custoso. Dói-nos muito comparar o que somos e o que fazemos com o que fomos e o que fizemos. É uma dolorosa emoção: embarga a voz, humedece os olhos e faz com que a alma fique por ali, cataléptica, à espera de ordens do intelecto.
É sempre assim quando nos (re)encontramos com a história, a nossa história pessoal que, normalmente, tem episódios ou causas que nos ligam a outros como nós.
E depois dessa dor, do embaraço de rever dois, cinco, dez e mais companheiros duma causa comum - cruel e violenta, que involuntariamente fez parte da nossa vida - depois disso, vem a alegria contagiante com que cada um de nós quer partilhar o lembrar-se de si mesmo.
Foi assim, sábado passado (dia 19) no 1º Encontro dos Penicheiros Ex-Combatentes na Guiné; sem heroísmos nem falsos orgulhos, com humildade e respeitando tanto o passado como o presente.
Para a história de Peniche (se me é permitida a imodéstia) fica esta memória.
_______
Notas de L.G.:
(*) Vd. poste de 9 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3590: O Nosso Livro de Visitas (48): José Pedrosa, ex-Alf Mil da CCAÇ 4747 (Guiné, 1974)
(**) Vd. poste anterior desta série > 16 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3635: Blogues da Nossa Blogosfera (10): De Porto de Mós a Gandembel (Paulo Sousa / Luís Graça)
(***) Paimogo da minha infância
(...)
Quando eu era menino e moço,
No tempo em que ainda partiam soldados
Para a Índia, para Goa,
Havia uma princesa, moura, encantada,
Num das tuas grutas submarinas;
O corpo coberto de ágar-ágar,
Era fonte de água pura, quente e doce,
Donde bebiam os ofegantes cavalos alados,
Com as suas enormes narinas.
E o vento, a nortada,
Nas velas dos barcos e dos moinhos,
Falavam-me da tragédia antiga,
Mas ainda viva,
Da filha do teu capitão
Que se havia matado do alto da arriba,
Dizem que por amor e solidão.
No antigo reino mouro
E depois franco e fero da Lourinhã,
Também os búzios me diziam
Que à noite as luzinhas,
A sul das Ilhas Berlengas,
Eram as alminhas
Dos que morriam
No mar, sem sepultura cristã.
Pobres náufragos,
Marinheiros, pescadores,
Poetas loucos, errantes, noctívagos,
Imigrantes clandestinos,
Corsários, contrabandistas, pecadores,
À deriva, sem um ui nem um ai,
Agarrados às tábuas do barco Deus é Pai (****).
Hoje não acredito mais
Nessas lendas das alminhas
Que eu ouvia aos ceguinhos das feiras,
Vendedores de letras de fado
E do Borda-d’Água:
Afinal essas luzinhas,
Lá longe e ali tão perto,
São apenas as traineiras
Ao largo do Mar do Serro,
Atrás dos cardumes de sardinhas.
(****) O concelho da Lourinhã, donde eu sou natural, também tem a sua quota-parte na história trágico-marítima deste país. Há registo, entre 1968 a 2000, da ocorrência de pelo menos seis naufrágios de barcos de pesca onde morreram três dezenas de filhos da terra, com especial destaque para as gentes de Ribamar (fora outros acidentes de trabalho mortais, cujo número se desconhece).
Um desses naufrágios foi o do barco Deus é Pai, em 26 de Março de 1971, no Mar do Serro [ou Cerro, já vi as duas grafias), ao largo do Cabo Carvoeiro. Os restantes foram os do Certa (15 de Maio de 1968), Altar de Deus (6 de Novembro de 1982), Arca de Deus (17 de Fevereiro de 1993), Amor de Filhos (25 de Julho de 1994) e Orca II (antigo Porto Dinheiro) (19 de Julho de 2000).
Entre estes homens há parentes meus, da grande família Maçarico, de Ribamar, donde era oriunda a minha bisavó paterna (nascida em 1864).
Num comentário de boas vindas ao poste P3590, já tinha dito ao Zé Pedroso o seguinte:
Sei que fizeste de Peniche também a tua terra. Para além das relações de vizinhança, é o mar e a comunitária piscatória que me atraiem em Peniche e que dão o forte traço de personalidade a esta terra da costa estremenha. Ainda hoje, apesar das profundas mudanças do sector.
Parte dos meus antepassados, do meu lado paterno (os 'Maçaricos', de Ribamar), estão ligados de há séculos ao mar, à pesca e à marinhagem... Mais uma razão, para além da Guiné, um dia destes nos conhecermo-nos pessoalmente.
Vou quase todas as semanas à Lourinhã, onde tenho casa e de vez em quando dou um salto a Peniche, para almoçar e passear. Um Alfa Bravo (abraço) do Luís Graça
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3 comentários:
Lindas palavras, simples e comoventes! Continuem a encontrar-se "Penicheiros",ao fazê-lo não contribuem só para a história do vosso Peniche, honram também os outros "Peniches"espalhados por Portugal.Tive na minha Companhia, a C.Cav.8351 um penicheiro:
JOSÉ ARMANDO CORDEIRO VERÍSSIMO
Tanto quanto sei, faleceu em Portugal, vítima de doença. Honrem-no em futuros encontros, como nós, Os tigres do Cumbijã, o fazemos nas nossas reuniões anuais
Vasco da Gama
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