Caros camaradas Luís, Carlos, Magalhães, Briote e restante camaradas da Tabanca Grande
A malta que passou por Galomaro tem uma página no Facebook onde, independentemente da altura em que lá estiveram, há uma constante e salutar troca de impressões, conhecimento e recordações.
Algumas dúvidas aparecem sobre este ou aquele acontecimento, que são prontamente esclarecidas. Também as fotos quartel de Galomaro no inicio da sua construção, se cruzam com as mais recentes. Também as Companhias de Cancolim, Dulombi e Saltinho têm sido largamente faladas, pois nós não podemos esquecer esses sítios, uns com mais bons momentos que os outros, na verdade mas mesmo assim relembrados aqui e ali.
Ontem o nosso camarada Luís Dias membro do blogue, com o qual acabei por dividir a construção deste texto, postou uma foto sobre a árdua e perigosa tarefa da picagem, neste caso do grupo de combate que vinha do Dulombi ao encontro da coluna que progredia de Galomaro.
Ao ver as fotos, achei graça porque eu tenho as fotos das picagem desta feita pelo Pel Rec da CCS, pois lhes calhou nesse dia fazer esse ingrato trabalho para a nossa segurança. O fotógrafo foi o mesmo sem dúvida nenhuma, o ex Furriel Carvalho do Dulombi segundo a informação do Dias.
Quem duvidará da coragem dos homens, que sabiam que um passo em falso seria a morte ou o ferimento grave que estava ali? Ainda se tinham que preocupar com as artimanhas e os avanços tecnológicos na arte de matar, que houve na evolução desse perigosos engenhos e com a esperteza dos «semeadores» que usavam por vezes o rodado mais de dentro ou mais de fora. Apanhavam assim as viaturas mais pequenas, com o rodado mais estreito que as Berliet. Penso ter sido o caso da que apanhou o nosso camarada Falé a caminho do Dulombi.
Assim as varas com a ponta em ferro foram substituídas por pontas em osso, chifre, ou simples madeira, para que as minas, denominadas de papel, não explodissem ao toque da ponta de metal (a ponta de metal furava duas placas de papel de prata/alumínio fazendo a ignição da mina).
Quem já tinha passado pela dolorosa experiência de ver morrer um camarada ou ver outro voar com a viatura, pensaria duas vezes a cada passada e cada espetadela da vara no chão.
Era o caso destes camaradas que já tinham passado por isso, mas a cada nova coluna, lá voltavam eles a pegar nas varas e tentar assim, que houvesse segurança para quem seguia um pouco mais atrás.
Camaradas do Dulombi a fazer picagem em direcção a Galomaro
Picagem
Picagem para o Dulombi
Picada do Dulombi no lugar do condutor Furriel do Dulombi
A VIDA E MORTE NA PONTA DE UMA VARA
A morte estava ali a cada passo
Não se podia ignorar
Não se podia recusar nem voltar atrás
Mão firme pensamento presente
A cada passada o arrepio do toque lúgubre
Era uma pesca mortal
Ao pescador não se era permitido errar
Quando regressar pagará aquela promessa
De repente a ponta resvala em algo
Um misto de orgasmo e terror
Percorre o corpo do infante
Estava ali, desta vez descoberta a malvada
Vamos rebentar com ela!
E desta vez a vida derrotou a morte.
A todos os camaradas que passaram por esta horrível, mas tão necessária prática.
Um abraço a todos
JA
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Notas de CV:
(*) Vd. poste de 15 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8276: Estórias do Juvenal Amado (38): Nunca até li tinha visto tantas mamas ao léu e tão bonitas (Juvenal Amado)
Vd. último poste da série de 6 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8233: Blogpoesia (147): Senhora Aparecida, freguesia de Torno, concelho de Lousada (Manuel Sousa)
6 comentários:
Fui militar, em tempos que nem tão pouco se pode comparar com o vosso mas posso dizer que foram uns verdadeiros heróis, talvez uma guerra sem sentido, mas tiveram lá e defenderam a pátria como vossa obrigação. Esse poema é um verdadeiro hino à VIDA.
Juvenal,
E "a vida derotou a morte"...
Foi essa tenacidade na luta que a vida empreendeu que nos fez aguentar os milhentos escolhos que a comissao aportou.
Francamente gostei bastante.
abraço
manuelmaia
Caro Juvenal
É agora, quarenta anos depois, que nós sabemos o que foi aquele tempo.
Completamente ignorante,(sabia a penas que uma guerra é algo de muito mau).
Por isso, permaneço atenta às vossas referências ao TO, certa de que ganho um maior conhecimento, que me dá a possibilidade de compreender um pouco
o vosso esforço e a vossa luta,
para manter a vida.
Um abraço fraterno
Felismina Costa
Um passo mais ao lado... e o Alzira ficou sem uma perna, ao saltar da viatura, que conduzia, quando procurava refúgio no rebentar de uma emboscada.
Um tronco deitado no chão e uma "bailarina na extremidade... roubou uma perna ao Miguel.
Um espaço pequeno que fosse, mal picado...
Uma mina um pouco mais funda... ou mesmo à flor da terra, disfarçada debaixo de uma raiz...
Aquela que rebentou depois de deixar passar cinco viaturas em Sinchã Cherno, levou com ela mais uma vida.
Aquela outra bem escondida, colocada debaixo de um grosso ramo de uma árvore que levou com ela, salvo erro sete, a caminho de Fulacunda.
Tantas situações destas...
- Uma viatura que arrastava um, duas três ou mais vidas...
- Uma vida levada ou estropiada para todo o sempre...
Cenas do quotidiano desta maldita guerra, mas...
quando se ouvia o grito " está no ir" não se via ninguém a hesitar.
"Esta é para nós" ouvi eu algumas vezes dizer a camaradas,de que me orgulho de ter como irmãos.
Zé Teixeira
Caro camarigo Juvenal Amado
Começo por felicitar pelas fotos que ilustram o post pois são de uma 'leitura' impressionante.
Quem olhar com olhos de ver pode perceber como eram algumas das 'estradas' que se tinha que percorrer e as 'facilidades' que elas continham...
Depois quero-te dizer que todas as homenagens que forem feitas a esse trabalho 'miudinho', stressante (se bem que nessa altura a palavra ainda não tinha uso corrente), às vezes considerade 'menor', mas absolutamente imprescindível para que outros pudessem usufruir duma maior segurança (ainda que relativa), todas as homenagens, dizia, não são excessivas.
E esta tua intervenção é, sem dúvida, uma das boas que tenho visto.
Abraço
Hélder S.
Belo trabalho, camarada Juvenal. Belo, por si, e belo por ter motivado o comentário do Zé Teixeira, um singelo mas violento chamamento à memória que me "bateu" e emocionou.
Um abraço
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