terça-feira, 7 de junho de 2011

Guiné 83/74 - P8381: Notas fotocaligráficas de uma viagem de férias à Guiné-Bissau (João Graça, jovem médico e músico) (13): 16 de Dezembro de 2009, a caminho do Gabu, passando por Contuboel, outrora um eldorado














Guiné-Bissau >  Região de Bafatá > Contuboel > 16 de Dezembro de 2009 > c. 11h00 >  
Nas duas foto de cima, o dignitário  Braima Sissé, numa delas fotografado com o João Graça. 

Por cima do dignitário, a foto emoldurada de Fodé Irama Sissé, um importante letrado e membro da confraria quadriyya [, islamismo sunita, seguido pela maior parte dos mandingas da Guiné; tem o seu centro de influência em Jabicunda, a sul de Contuboel; a oputra confraria, tidjanya, é seguida pela maior parte dos fulas]. 

O Braima Sissé foi apresentado ao João Graça como sendo um estudioso corânico, filho de uma importante personalidade da região, amigo dos portugueses na época colonial [, presume-se que fosse o próprio Fodé Irama Sissé].  

O Braima Sissé foi identificado pelo seu, meu e nosso amigo  Eduardo Costa Dias, antropólogo,  professor e investigador do ISCTE, membro da nossa Tabanca Grande ... 

Nas restantes fotos, a ponte sobre o Rio Geba, que nos traz à memória sobretudo momentos de paz e tranquilidade... Foi também aqui que conheci o Renato Monteiro, o homem da piroga... Em Junho/Julho de 1969, Contuboel era um centro de instrução militar... Foi lá que se formou a futuras CCAÇ 11, CCAÇ 12 e CCAÇ 14. Foi o único eldorado que conheci na Guiné... 

(...) Até o humor do meu companheiro de viagem
é deslocado…
Viemos no mesmo camarote,
no T/T Niassa,
a tresandar a óleo e a vomitado…
Vou agora mais descontraído,
sem pena nem tema,
numa surpreendente estrada alcatroada,
entre Bambadinca e Bafatá…
Vais gozar as delícias do sistema,
meu safado:
- Contuboel - dizem-te - é um eldorado…


Fotos: © João Graça (2009) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservado.



Mapa actual da Guiné-Bissau > Escala 1/500 mil > Pormenor: Regiões de Bafatá e de Gabu > Posição relativa de Bambadinca, Bafatá, Contuboel e Gabu (localidades assinaladas por uma elipse, a azul)... As distâncias quilométricas entre estas quatro localidades da zona leste são, mais ou menos, as seguintes: Bambadinca-Bafatá: 30 km; Bafatá-Contuboel: 30 km; Bafatá-Gabu: 50 km...

(Mapa de 1981, desenhado e publicado pelo Instituto Nacional de França, Paris. Com a devida vénia... Clicar na imagem para ampliar). 


1. Continuação da publicação das notas do diário de viagem à Guiné, do João Graça, acompanhadas de um selecção de algumas das centenas fotos que ele fez, nas duas semanas que lá passou (*)... 

16/12/2009, 3ª feira, 12º  dia, visita rápida a Contuboel a caminho do Gabu

[Não há qualquer apontamento sobre a viagem de Tabatô a Gabu, na manhã de 16 de Dezembro de 2009. Apenas fotos, e algumas, poucas, sobre Contuboel].

(Continua)

[ Revisão / fixação de texto / selecção, edição e legendagem de fotos: L.G ]

________________

Nota do editor:

(*) Vd. último poste da série > 27 de Maio de 2011 > Guiné 83/74 - P8338: Notas fotocaligráficas de uma viagem de férias à Guiné-Bissau (João Graça, jovem médico e músico) (12): 16 de Dezembro de 2009, a despedida matinal de Tabatô, a caminho do Gabu


2 comentários:

Luís Graça disse...

"Capri, c’est fini!"...

Era o refrão da canção francesa que me ocorreu quando acabaram, em 18 de Julho de 1969, os dias tranquilos de Contuboel (a nossa Bolama da época, já que funcionava como "centro de instrução militar"... Foi lá que se formou a "minha CCAÇ 12", e outrasm, da chamada "nova força africana"...

Pois é, em 18 de Julho chegavam ao fim as férias de Contuboel, o "dolce far niente" da tropa tropical, como eu lhe chamei... A 24 estávamos a levar porrada em Madina Xaquili, no Cossé, com dose a dobrar a 28... (Madina Xaquili, palco da "novela" Na Kontra, Ka Kontra, do nosso querido camarigo Fernando Gouveia)...

Tinha chegado à Guiné há coisa de mês e meio...E ainda não vira, não sentira nem cheirara a guerra (a não ser talvez no percurso, em LDG, no Rio Geba, a 2 de Junho, a caminho do Xime e depois no troço Xime-Bambadinca, no dia da nossa partida de Bissau para Contuboel)...

Contuboel, não sei por quê, ficará sempre associada, no "disco rígido" da minha memória, a essa canção, romântica, então em voga, nos idos anos de 1965/66, do francês Hervé Villard (n. 1946), uma "garçon" da nossa geração...

Recordo-me que a letra era típica da época, delicodoce, inócua, pacífica, para consumo de adolescentes apaixonados, quando ainda se ouviam canções francesas românticas na nossa rádio e os "copains" e as "copines" da França do acordeão e do Charles de Gaulle se preparavam para incendiar Paris:

"Nous n'irons plus jamais,
Où tu m'as dit je t'aime,
Nous n'irons plus jamais,
Comme les autres années,
Nous n'irons plus jamais,
Ce soir c'est plus la peine,
Nous n'irons plus jamais,
Comme les autres années;

"Capri, c'est fini,
Et dire que c'était la ville
De mon premier amour,
Capri, c'est fini,
Je ne crois pas
Que j'y retournerai un jour" ...

Na minha última viagem à Itália, quando o João estava a fazer o Erasmus, em 2006 (se não erro), passei perto de Capri, mas não tive qualquer curiosidade de "dar uma espreitadela"... Em contrapartida, gostaria de rever Contuboel e as margens tranquilas do Geba...

Agradeço ao João estes fotos que me trazem boas lembranças:

"Capri c'est fini... Acabaram-se os passeios tranquilos pelo Rio Geba, de piroga. As conversas, ao fim da tarde, debaixo do poilão, com os djubis, as bajudas e as mulheres grandes e os homens grandes. As conversas intelectuais com o meu amigo [Renato] Monteiro. Os meus vizinhos aldeões com quem gostava de conversar. As pacatas idas às hortas das proximidades para comprar bananas e abacaxis...

"Capri, c'est fini... Vou ter saudades de Contuboel, das frondosas margens do Geba, da paisagem luxuriante, das amáveis lavadeiras mandingas, de mama firme, que encontrávamos pelo caminho. Mas, como diz a canção, é muito pouco provável cá um dia voltar. Em contrapartida não penso neste momento em Lisboa nem no meu regresso. Contuboel acabou: há agora muitos milhares de quilómetros para palmilhar, numa prova que é, para mim, para todos nós, o grande teste de resistência... e de sobrevivência" (In: Diário de um tuga, 15 de Julho de 1969. Manuscrito).

Torcato Mendonca disse...

Capri...o que eu perdi...e tu...

Mas tens Madina Xaquili terra de amores e desamores, terra de morteiros sem prato e de pratos por legionário (ex) confeccionados, terra de Na kontra ka kontra. Li hoje o resto e é outra Madina.
A tua Madina Xaquili é ou foi a que eu em Monte Real falei com o Humberto Reis e para lá vos levei...para trazer as viaturas de volta. Cheirava nos ares...a paigc's, cheiros sentidos por gentes com mais de ano e meio de rebuliço.Tempos de COP 7...bons.A porrada até era gira...

Gostava de ter uma vestimenta daquelas da foto,ampla,arejada e a dar para tudo.

Abraço T.