sábado, 17 de março de 2012

Guiné 63/74 - P9620: Os nossos últimos seis meses (de 25abr74 a 15out74) (7): Ainda a propósito do Acordo de Cacine, de 29 de julho de 1974 (Luís Gonçalves Vaz)

1. Ainda a propósito do poste P9602 (*)... Texto do nosso tabanqueiro Luís Gonçalves Vaz, com data de ontem:

Agora poderemos perceber o interesse de relatórios, como o primeiro que dei a conhecer, o do Sr. Major Tito Capela da 2ª Rep/CCFAG.


É claro que esse relatório fala nesta reunião na sua página 56, o denominado Acordo de Cacine de 29 de Julho, que,  juntamente com o Acordo do Cantanhez de 15,16 e 17 de Julho, segundo o mesmo relatório, "foram bastantes profícuos para o bom andamento de todo o processo de descolonização da Guiné".


(Excerto da pág. 56 do relatório)


Agora gostaria de chamar a atenção que este documento, em parte estará "autenticado", de acordo com dinâmica que os nossos "comissários" conseguiram imprimir na altura. Mas este documento (, acta de reunião, )  não foi de certeza "produzido" por nenhuma Repartição do QG/CCFAG [ Quartel General do Comando-Chefe das Forças Armadas da Guiné, criado mais tarde, em meados de agosto de 1974]...

Este tipo de documentos surgiram de negociações que decorreram entre o encarregado do Governo [, Carlos Fabião, aqui na foto, à esquerda, em 1973, major, comandante das novas milícias] , e a direção do PAIGC,  não entre o Comando do CTIG e do PAIGC! Entre estes últimos, houve apenas reuniões para tratar da entrega de aquartelamentos e do processo de retirada (Missões militares!!!).

Por coincidência, nesta província da Guiné, o Governador acumulava o cargo de Comandante Chefe... Entendem-me? Na parte de negociações políticas com o PAIGC, que foram em Argel e no Chão da Guiné também, mas aí o governador Carlos Fabião foi apenas acompanhado por oficiais do MFA (nossos "comissários políticos" na Zona).

Quanto a negociações no âmbito militar, o brigadeiro graduado Carlos Fabião, era acompanhado pelo brigadeiro Galvão de Figueiredo e pelo seu, único na altura (Comando Unificado), Chefe do Estado-Maior, coronel do Corpo do Estado-Maior, Henrique Gonçalves Vaz, nomeadamente nas reuniões para entrega dos aquartelamentos da Ilha de Bissau, com os comandantes Bobo Keita e Gazela.


Resumindo e "baralhando"... este documento que é aqui apresentado, tem todo o "aspecto" de ser verdadeiro, mas é de cariz cívil, e relativo a  acordos políticos, e não de reuniões de cariz militar. Neste aspeto, não misturamos as "águas": os dois processos foram distintos, e assim decorreram até ao final, pelo menos na Guiné Portuguesa.

Grande Abraço,

Luís Beleza Vaz (**)
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 13 de março de 2012 > Guiné 63/74 - P9602: Os nossos últimos seis meses (de 25abr74 a 15out74) (4): Documentação referente a negociações entre Portugal e o PAIGC com vista à desmobilização das tropas africanas que combateram por Portugal (Carlos Filipe)


(**) Último poste da série > 17 de março de 2012 > Guiné 63/74 - P9619: Os nossos últimos seis meses (de 25abr74 a 15out74 (6): A propósito da autenticidade da ata da reunião de Cacine, de 29 de julho de 1974, entre uma delegação das NT e um delegação do PAIGC, onde se decidiu da sorte dos nossos camaradas guineenses (António J. Pereira da Costa)

7 comentários:

Luís Gonçalves Vaz disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Luís Gonçalves Vaz disse...

Caros Tertulianos.

Este documento que nos apresenta o camarigo Carlos Filipe, deve ser um "facsímile" do original mas que se apresenta como uma reprodução exacta da edição original. É uma fonte documental, com grande valor histórico, pois como diz o camarigo António J. Pereira da Costa, nele se pode inferir que o "O PAICG assume realmente que alguns elementos do Batalhão eram socialmente irrecuperáveis. Para além do Marcelino da Mata...".
Eu posso testemunhar aqui, que numa bela noite, já do ano de 1974, fomos "incomodados" com uma serie de tiros à volta do Complexo Militar de STª Luzia! E num passeio após o jantar, juntamente com um irmão assistimos aos muitos tiros e aos movimentos das sentinelas, algumas até a colocarem bala na câmara, e a dizer-nos que nos afastássemos, pois o "Quartel de STª Luzia" estava cercado pelos Comandos... que usavam armas "que guardavam em casa, aquando dos espólio das suas operações". Acho que a "revolta" teria iniciado ao fim da tarde desse dia, com uns grupos da Policia Militar, que faziam ronda pelas tabancas locais... Tentaram deter, ou deteriam mesmo algum Comando Africano e o conflito instalou-se então nessa noite! No fundo, tratou-se de uma manifestação de força dos Comandos Africanos, e com esse tiroteio (não houve feridos que eu me lembre)para o ar, quereriam "resgatar" os seus camaradas detidos... Que eu me lembre o meu falecido pai, como CEM/CTIG, teria ido logo para o QG envidar esforços, para que a "Manifestação de força" dos nossos comandos Africanos se resolvesse, e penso que ele no dia seguinte, teria dito lá em casa,em conversa com alguém, que o "Almeida Bruno"(major na altura e 1º Comandante do Batalhão de Comandos), andou toda a Santa noite a convencê-los e a tentar que os Comandos entregassem as armas, bem como algumas granadas que possuíam em suas casas, como "lembranças", das suas operações militares, em que recorrentemente capturavam ao IN...
Em suma, conto esta História, que tive oportunidade de assistir, para ilustrar a REAL FORÇA, que o Batalhão de Comandos Africanos tinha efectivamente nesta nossa antiga Província, e se alguém a TEMIA ERA O PAIGC, daí que não estranho, o RECEIO revelado pelo PAIGC, estranho sim, foi o Nosso GOVERNO Não Ter acautelado esta "Situação de defesa dos nossos camaradas de armas, sim nossos camaradas! pois o IN da altura é que os considerava como "Colaboracionistas". A eles deixo aqui o meu respeito, admiração, pois Honraram a Nossa Bandeira, a nossa causa, ainda que ache que aquela Guerra Nunca devia ter existido.....

Forte Abraço

Luís Gonçalves Vaz

Anónimo disse...

Olá Camaradas
A dada altura (1973) os oficiais que controlavam a acção do BCmds "fumavam tranquilamente sentados num barril de pólvora". Compreende-se. Muitos deles tinham visto morrer e às vezes ficar inutilizados um número muito considerável de camaradas. Além disso,um grande número de Comandos (ex. Sayeg, Sisseco, Tomás Camará, etc.)combatiam há cerca de 10 anos (todos ou quase todos os dias), sem verem melhorias substanciais na situação. Ainda me recordo de, o batalhão ter sido lançado numa série de operações absolutamente irrelevantes, a partir de Mansabá. Quando perguntei ao Cor. Durão a razão desta actuação tão insólita, ele respondeu-me que era necessário tirar os Comandos de Bissau durante o Carnaval... sem os expor.
Enfim, o estado moral das tropas era bom e não havia indícios técnicos de insatisfação.
Um Ab. do
António J. P. Costa

João Carlos Abreu dos Santos disse...

... alvitre, destinado a eventual elucidação sobre este assunto, proposto a discussão pública:

A exemplo de outra diversa histórica documentação - "desaparecida" na origem e consequentemente omissa em arquivos castrenses (e não só) -, é muito provável que esta supra referida cópia "não autenticada", há dias apresentadada neste blogue (mas desde há meses em um outro disponível), faça parte de um vasto conjunto de doc's desviados-para-boas-mãos, logo após 11Mar75 e por todo o Verão Quente do PREC, por controleiros de CTSM's, SUV's e demais afectados por revolucionarite vermelha, infiltrados em inúmeros Serviços e Unidades das nossas FA's, designadamente no RCmds desde antes da cegada que redundou no célebre episódio do "Jaiminho"...
A indevida apropriação de tais documentos e disseminação das respectivas fotocópias, por locais suspeitos-do-costume, constituiu, à época, assim como uma espécie de... "documentos em boas mãos", para
futuros ajustes-de-contas. Aliás, como, apesar de decorridas quase quatro décadas, é legítimo percepcionar.
Note-se, também que, aquando daquele fabiano lavar-de-mãos, eram decorridas menos de 48 horas sobre a tergiversante discursata spinolista, resultante da palaciana golpada objectivada em decreto publicado no DR, sem assinatura do PR...
Quanto ao fatal destino dos Comandos Africanos, e demais militares portugueses de recrutamento local, ficou traçado a partir do momento em que alguns dos seus superiores hierárquicos integraram o comité revolucionário da "Tomada da Amura", sendo certo que logo após se soube na capital, daquela (ainda) Província Portuguesa, e naturalmente em Brá, que o governador e comadante-chefe fôra apeado por, entre outros oficiais, alguns em quem os Comandos Africanos mais e sempre confiaram.
Tudo isto é, obviamente, um "supônhamos".

Quanto à expressa menção a Marcelino da Mata, naquele documento, trata-se de evidente anacronismo, em vista de aquele militar português estar, àquela data - 29Jul74 -, internado no HMP-Estrela (desde 28Abr74), com ferimentos adquiridos por inopinada deflagração de dois RPG, no aquartelamento das NT em Bula, após regresso de uma Op.

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[este m/comentário foi escrito e enviado, antes de ter lido quaisquer outros relacionados com este tema]
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Anónimo disse...

Caros camaradas e amigos . É só uma pequena achega : o documento da acta da reunião de Cacine em 29 de Julho está no rol de anexos da obra de Aristides Pereira "O Meu Testemunho uma luta um partido dois paises ,versão documentada " e está aparentemente completo . Digo completo porque tem folha de rosto e pelo menos mais duas páginas do que aquele dado a conhecer aqui no nosso blog . Quanto ao facto de não estar assinado ,não é de estranhar , uma vez que aqueles encontros eram semi-oficiais para não dizer semi-clandestinos (refiro-me a uma certa rebelia relativamente aos desejos do Caco Baldé para o futuro do território . As verdadeiras negociações passavam-se a outro nível e noutros lugares sendo natural que ninguem se quisesse comprometer com assinaturas .
Um abraço
Fernando Abreu
fernandoabreu739@gmail.com

Luís Gonçalves Vaz disse...

Obrigado camarigo Abreu dos Santos:

Depois de postar o meu comentário deste episódio, que revelava que "com o Batalhão de Comandos" não se brincava, e a Polícia Militar(de metropolitanos) provocou na altura um "Problema"...
Mas esta "cena", de que lembro muito bem, pois eu tinha apenas 13 anos (feitos em Chão da Guiné) e impressionou-me muito na altura, deve-se ter passado em meados de Julho de 1973, pois tenho quase a certeza, que o meu falecido pai disse que "durante toda a noite o Almeida Bruno andou de um lado para outro a resolver a situação"... Não falou noutro oficial, e como os dados que apresenta são efectivamente dados biográficos do General (penso que será hoje o posto deste oficial)Almeida Bruno. Só há uma forma de "Autenticar" a data deste Episódio, perguntar-lhe pessoalmente, pois acho que ele ainda é vivo. Obrigado pelas informações, caro Abreu dos Santos.

Abraço:

Luís G. Vaz

João Carlos Abreu dos Santos disse...

Luís Vaz,
No s/comentário das 21:40 do pretérito 17, relacionou memórias do início da sua adolescência, em Bissau, com incidentes que ali teriam ocorrido «numa bela noite, já do ano de 1974».
Ora, não fôra a sua inicial e peremptória ligação de acontecimentos, por si presenciados, pretendendo associar o conteúdo de documentos aqui publicados - e sobretudo alguns dos sucedâneos comentários -, com algumas convulsões na disciplina militar no BCmdsAfr, por natural reflexo do destino que desde final de Mai74 indiciavam as ditas "negociações" (?!) MFA-PAIGC, e não lhe teria ontem à noite remetido um email,
fazendo notar, entre outras informações, o evidente anacronismo.
Aliás, tendo sido colocada à apreciação pública, neste blogue, uma interessante sucessão de sete postais, concisamente epigrafados «Os nossos últimos seis meses (de 25abr74 a 15out74)», com respectivos 'n' comentários, mal se entenderia que, além da sua explícita referência ao "ano de 1974", fosse outro o período em que ao BCmdsAfr fossem assacadas responsabilidades por arruaças na capital da Guiné.
Veio agora escrever que a tal "cena" «deve-se ter passado em meados de Julho de 1973». Tendo feito questão de me responder aqui, não por email, também por este meio concluo.
No que respeita a João de Almeida Bruno, general 'comando' na situação de reforma, está vivo e recomenda-se (e faz o favor de ser meu amigo), já por diversas ocasiões em conversa - e mais do que uma vez -, foi o próprio a agradecer-me "ajudas de memória" relativamente a alguns aspectos das suas múltiplas actividades militares no Ultramar.
Entendo dever não partilhar contactos (email, tlm, tlf) daquele senhor oficial. Acaso faça questão de desanuviar algumas memórias pessoais da sua vivência em Bissau - designadamente quanto à "cena" que referiu -, sugiro contacte a Direcção Nacional da Associação de Comandos.

Cpts,
JCAS
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