1. Mensagem do nosso camarada Armando Pires (ex-Fur Mil Enf.º da CCS/BCAÇ 2861, Bula e Bissorã, 1969/70), com data de 11 de Fevereiro de 2014:
Meu caro Luís Graça.
Camarada.
De baraço ao pescoço, quero pedir-te desculpa por só agora retomar a série "furriel enfermeiro, ribatejano e fadista".
Qualquer explicação poderia suar a falso, pelo que não a apresentarei. Mas para sossego de todos que sobre a ausência se interrogam, direi que nada de grave se passou, felizmente. Outras escritas por cumprir por mim chamaram.
Aqui tens o 13º episódio da saga. Depois do relato da saída do comandante César Cardoso da Silva, era inevitável falar do homem que o substituiu.
Um abraço para ti, para os nossos editores e todos os restantes camaradas.
Armando Pires
FURRIEL ENFERMEIRO, RIBATEJANO E FADISTA
12 - Chegou Polidoro, o terrível
(...) Estou a vê-lo, ao Polidoro, galões reluzentes sobre um camuflado acabadinho de sair do Casão Militar, olhos protegidos pelas lentes escuras de uns inevitáveis Ray-Ban, pingalim tremelicando na mão direita, voz forte e decidida advertindo a força em parada:
- Não me tomem por periquito, que de guerra venho eu farto.
“in armando pires, P4778”
Queiramos ou não, a primeira imagem, a primeira impressão que causamos, acompanha-nos vida fora, cola-se-nos à pele como lapa.
Podemos melhorá-la, ou piorá-la, “vê lá tu, pá, quem diria que aquele gajo se transformava no que é hoje”, mas a primeira impressão fica para sempre.
À primeira, eu vi o Polidoro assim.
Emproado, como um pavão.
Escreva-se, por ser verdade, ele fez tudo menos querer causar uma primeira boa impressão.
O tenente coronel João Polidoro Monteiro chegou a Bissorã nos primeiros dias de Outubro de 1969, para comandar o BCAÇ 2861 em substituição do tenente coronel César Cardoso da Silva.
Seguramente, pelas razões que, sucintamente, relato no meu P12333, alguém em Bissau deve ter dito a Polidoro Monteiro, “vá ali comandar aqueles gajos e meta-os na ordem".
Se foi esta a ordem, se era este o efeito pretendido, então não podiam ter escolhido melhor.
Como se diz na gíria do futebol, Polidoro fez uma entrada a pés juntos, uma entrada a matar.
Ao advertir-nos que vinha farto de guerra, fez-nos sorrir. Sabíamos da sua proveniência do comando da Guarda Fiscal, em Moçambique.
A frase seguinte do seu discurso de apresentação foi para avisar que não permitiria a nenhum militar que andasse mal uniformizado dentro do quartel e, em particular, pela vila de Bissorã. O aviso preocupou a todos. Mas o novo comandante não mandaria destroçar sem nos transmitir a informação que nos deixou incrédulos.
Iria mandar realizar um exercício de defesa de Bissorã.
Seria um simulacro de ataque inimigo, em que todos e cada um realizariam tarefas precisas e pelo comando pré-determinadas, por forma a garantir adequada protecção da população e das instalações militares.
Ainda mal refeitos da surpreendente determinação já o exercício se iniciava com um toque a rebate no sino da igreja, que teve como efeito, por entre sorrisos mal contidos, ver o padeiro correr em defesa da padaria, os artilheiros a mergulharem no espaldão de morteiros, eu na enfermaria, sentinela alerta, à espera do que desse e viesse, e, entre especialistas vários, até o pessoal das oficinas, de G3 na mão, em defesa, quiçá, das viaturas.
Ai Polidoro, Polidoro, o que tu foste arranjar. Acordaste o leão.
Três dias depois do divertido exercício, mais propriamente a 8 de Outubro, pelas 21h10, o IN flagelou a vila de Bissorã, com particular intensidade a tabanca da Outra Banda, habitada pela etnia balanta. Foram ali incendiadas várias moranças, roubaram gado, causaram vários feridos entre a população, e, mais grave do ponto de vista militar, tendo chegado ao perímetro do arame farpado, os guerrilheiros entraram num abrigo de onde tinham fugido os dois milícias ali em serviço, levando com eles a metralhadora Breda M37 que lá ficara.
O comandante Polidoro foi rápido na resposta a esta acção.
Chamou o cap. mil. João Abreu, comandante da companhia independente CCAÇ 2444, e ordenou-lhe que fosse colocado um pelotão em permanência no alto da Outra Banda, assim conhecida por ficar “do lado de lá” do Rio Armada. Era de lá que, preferencialmente, PAIGC flagelava Bissorã e assaltava as moranças.
Vila e tabanca apenas ficavam unidas por uma estreita ponte em madeira, que passava sobre o rio.
Numa tosca casa de piso térreo que lá havia, mesmo no lugar de onde partia a estrada para Binar, acomodaram-se os homens da 2444 que abriram extensas valas defensivas, em zig-zag, ao longo do arame farpado, a partir das quais reagiriam ao fogo inimigo.
Não demoraram muito as obras. Uns escassos cinco dias a partir da ordem dada pelo comandante.
Foi “inaugurado” aquele destacamento a 14 de Outubro, precisamente o dia escolhido pelo inimigo para voltar a flagelar Bissorã, mas desta vez vindo o fogo do lado da estrada do Barro.
Foto 1 - Bissorã, 1970 – O destacamento da Outra Banda. A protecção à casa já foi levada a cabo pelos homens da CCAÇ 13, à qual pertencia o fur. mil. Adriano, que se vê em primeiro plano.
Foto © cedida pelo Fur Mil Carlos Fortunato
O Comandante Polidoro Monteiro levou mais tempo a reagir ao ataque que o In levou a cabo a partir da estrada do Barro. Foi mesmo preciso que lá voltasse uma e outra vez, que a CCAÇ 2444 fosse rendida pela CCAÇ 13, que acabara de se formar, para tomar uma decisão.
Comandava a 13 o cap. mil. Aberto Durão.
Com este a seu lado, o comandante Polidoro chamou o Furriel Miliciano Carlos Fortunato, especialista de armas pesadas mas que em Bolama fez um curso suplementar de minas e armadilhas, por ser tido como um rapaz calmo e sereno, e incumbiu-o, num lugar que indiciava ser aquele onde os guerrilheiros instalavam as suas armas pesadas, de montar um dispositivo capaz de eliminar a ameaça.
O Fortunato (trato-o assim por ser aquele que preside à Associação Ajuda Amiga, da qual também faço parte), levou das oficinas auto meia dúzia de bidons do gasóleo, carregou-os com dinamite, acabou de os encher com tudo o que pudesse transformar-se em armas mortíferas, uniu-os por um fio condutor que vinha enterrado até à casa do gerador, onde foi ligado a um dínamo de manivela.
O In atacava, dava-se à manivela, os bidons explodiam e pronto.
Mas um mês depois de montada a armadilha, o furriel Fortunato voltou a ser chamado, desta vez para a “desarmadilhar”. Das razões da ordem ele não cuidou de saber. Mas, comentando o caso, é sua ideia que alguém, fosse em Bissau fosse na administração da vila, não terá gostado do plano, não terá gostado do local onde ele foi executado, por ser área agrícola, zona de cultivo das populações.
Resultado, depois de tomadas todas as providências, o furriel Fortunado deu à manivela e BUM!!! Naquele lugar não ficou terra firme para instalar morteiros inimigos, nem terra capaz de semear o que quer que fosse.
Foto 2 - Bissorã, 1970 – Em dia de festa popular, e chegado de uma deslocação ao sector, o ten. cor. Polidoro Monteiro , à direita, com o alf. capelão Augusto Baptista.
Um oficial de parada. Muitos o qualificaram assim.
Falta de jeito ou feitio, o certo é que o comandante tinha uma especial queda para “chatear” a malta. A farda era o seu alvo preferencial.
Por muito estranho que pareça, esse foi também o discurso de abertura que levou às três companhias operacionais do batalhão, a CCAÇ 2464, em Binar, a 2466, em Encheia, e a 2465, no Bissum, quando a elas se foi apresentar.
Em Bissorã, foi com particular mau estar que foi recebida punição do Furriel Miliciano do PelRec Aviz Pires, por andar sem boina.
E o voleibol, o seu desporto favorito?
Sete da manhã. Sem aviso mandava acordar um grupo de oficiais e sargentos por ele escolhido:
- O senhor comandante manda dizer que já está lá em cima no campo à espera.
E que ninguém chegasse depois das 7 e 30.
- Filipe, já aí veio o motorista dele acordar a malta.
- Que horas são?
- Sete.
- Ó Pires, não gozes, deixa-me dormir.
- Ok! Vou andando que não estou para aturar o gajo.
Pouco passava das 7h30 quando ao campo chegou o Filipe, levado pelo motorista do comandante, que o fora buscar ao quarto.
- Olhe lá, ó senhor furriel, julga que está nalguma colónia de férias?
Deixemos ficar no olvido o azar que o Dr. Oliveira lhe tinha quando, àquela hora da noite em que ele achava já não ser recomendável andar na rua, o comandante o chamava para a mesa do bridge.
E no entanto, este homem empertigado lá no alto dos seus galões, era, nas horas vagas, um tipo afável no trato, um bom conversador.
Foto 3 - Bissorã,1970 – Numa recepção oferecida pela comunidade local, eu à conversa com o ten. cor. Polidoro Monteiro. À esquerda, o comandante da CCAÇ13, cap. mil. Alberto Durão.
Carta ao tenente coronel João Polidoro Monteiro
Meu Comandante
Não sei se aí, no lugar onde se encontra, tem acesso à internet, e se, caso afirmativo, é seu hábito ler o blog do Luís Graça & Camaradas da Guiné.
O Luís é aquele rapaz furriel miliciano da CCAÇ 12, que o meu comandante conheceu em Bambadinca, quando para lá foi, depois de nos comandar a nós, comandar o BART 2917, onde, deixe-me que lhe diga, o senhor granjeou, entre aqueles que dele faziam parte, grande estima e consideração, como homem e como militar.
Eu escrevo no blog do Luís, acervo maior da nossa memória sobre a guerra e o nosso dia a dia na Guiné, e nele escrevi sobre si. Não quero, se se der o caso de me ler, que pense tratar-se de um qualquer ajuste de contas (cobardia de que não sou capaz) ou que fosse minha intenção beliscar a sua imagem de militar responsável e competente.
No local onde escrevo ninguém muda a sua condição humana depois de morto. Somos o que somos, escrevemos o que fomos, conscientes de que não escrevemos para nós, mas para assegurar que no futuro ninguém nos acusará de não termos dito ao que fomos, porque fomos e o que fizemos.
Interpretei na escrita o sentimento que o senhor deixou em nós, homens do BCAÇ 2861.
“O homem é o homem e as suas circunstâncias”, escreveu Ortega y Gasset.
Não me tomo de filósofo nem tão pouco de psicólogo capaz de ler o comportamento humano. Mas quero que saiba que muitos de nós (não posso dizer todos) sempre esteve presente, como se quiséssemos “desculpabilizá-lo”, o lugar de onde vinha e o que lá fazia, e o que de nós, e sobre nós, ainda que de forma injusta e deturpada, deve ter ouvido em Bissau.
Meu Comandante
O senhor não foi “pera doce”. Manteve as tropas em exagerado sentido.
Não granjeou particulares simpatias. Ouvindo um e todos, desculpe que lhe diga mas não deixou saudades.
Mas é certo que também ninguém esqueceu aqueles momentos em que, para defender os seus homens dos ataques “exteriores”, até os tomates lhe subiam à garganta.
E eu que o diga, quando em Bissau me que quiseram fazer a folha porque pedira uma evacuação urgente para o 1.º Cabo Catarré, na altura a fazer de barman no bar de sargentos, o qual ao meter cervejas no congelador deixou que uma garrafa caísse sobre as demais, provocando uma “explosão” de vidros, indo um deles, minúsculo, cravar-se-lhe na íris.
Ao vê-lo na enfermaria pensei, “eu aqui não toco, se isto não for tirado rapidamente ficas sem olho, vais para Bissau num fósforo”.
Ainda estou a ver o ar estupefacto da enfermeira paraquedista, ao ver
caminhar para o DO um militar com um enorme penso num olho e eu a dizerr, “é este”
Quando de Bissau chegou a ordem para averiguar os factos, saberá o meu comandante que todos ouviram os seus gritos lá dentro do gabinete.
- Se o vidro se espetasse no olho do cu dos gajos, já havia pressa.
Ainda hoje não sei com quem o meu comandante falou, ou o que falou, sei que dias depois me tranquilizou o Dr. Oliveira dizendo-me, “está tudo resolvido”.
Não podia haver maior ironia.
O meu comandante a evitar uma possível punição ao homem a quem, poucos dias depois de ter chegado a Bissorã, chamou ao seu gabinete para lhe dizer:
- Sei que andas aí armado em vivaço, mas olha que te dou uma porrada.
Coisas que lhe sopraram aos ouvidos mas que nós, eu e o senhor, por respeito a terceiros envolvidos, mantemos em silêncio.
Além de que o tempo se encarregou de dar outro e melhor rumo ao nosso relacionamento, não podendo eu esquecer o apreço que mostrou pelo trabalho da minha equipa, nem a conversa que comigo teve, no seu gabinete, pouco tempo antes de nos separarmos.
- “O primeiro sargento Portugal já tem indicações para tratar do processo da entrega da medalha de Comportamento Exemplar a que tens direito. (nota: Medalha de Cobre – A conceder aos sargentos e praças que completem 3 anos de serviço efectivo e que nunca tenham sofrido qualquer punição disciplinar ou criminal – mantendo-se na actualização feita pelo dec 566/71). Enquanto o processo não fica concluído, tens já aqui a barreta indicativa, juntamente com a barreta da Medalha das Campanhas, que passas desde já a usar no teu uniforme".
E usei, sim senhor, usei e com cagança, sendo elas bem visíveis na fotografia militar com que me identificam lá no blog do Luís Graça. Mas olhe, também deixe que lhe diga, ainda bem que o primeiro Portugal teve mais que fazer do que dar andamento ao processo e eu, chegado a Chaves, muita vontade de me meter a caminho de casa.
Aqui para nós, tendo em vista o que fui e fiz “fora das horas de serviço”, comportamento exemplar era um bocado exagerado.
Já vai longa esta carta.
Termino dizendo-lhe que lamentei não ter estado presente naquele nosso almoço de confraternização, realizado na Pateira de Fermentelos, em 1991, porque foi o único a que o meu comandante foi, e, depois disso, não mais o vi.
Tinha sido uma boa oportunidade para falarmos sobre o que agora lhe escrevo.
Mas quem sabe, ninguém sabe, se um dia não nos encontraremos “por aí”, com tempo e oportunidade para pôr a conversa em dia, e eu dizer-lhe, à minha maneira, “olhe que o senhor também foi um bom sacana”.
Um abraço do Armando Aires
ex-Furriel Miliciano Enfermeiro
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Nota do editor
Último poste da série de 23 DE NOVEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12333: Furriel enfermeiro, ribatejano e fadista (Armando Pires) (11): A decapitação do Comando
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014
Guiné 63/74 - P12742: Furriel Enfermeiro, ribatejano e fadista (Armando Pires) (12): Chegou Polidoro, "O Terrível"
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16 comentários:
Ganda furriel, ribatejano, enfermeiro, fadista e ... mais istas. (Aqui não se fala dos 3 FFF...).
Obrigado ao Carlos por teu editado o teu poste, nauma altura de grande atrapalhação para mim...
De resto, és sempre bem vindo... E tens sempre a porta aberta da caserna... Tu e o resto da malta nâo precisam, aliás, de "dispensa" para sair, dar umas curvas e entrar... De qualquer modo, a tua ausência fez-se notar...
E reentraste em grande com um poste que revela muita da sensibildidade, talento e sentido de humor... A carta que mandaste, sem código para o Polidoro, que deve ter lá no Olimpo dos combantentes, é de um elegãncia e ironia fina, merecendo figurar no teu próximo livro de crónicas ...
Como te dizia há diaz, gostava de saber mais sobre o Polidoro, o único ten cor que saiu, comigo e com os meus fulas para o mato, de G3 em punho. Não sendo militarista, tive que admirar o homem... Mas os nossos contactos foram breves. Ele chegou ao BART 2917, já no minha da comissão, um ou dois antes...
O que eu admiro no teu texto é a recusa da tentação de diabolizar e incriminasr os nossos comandantes, oficiais superiores... Há 10 anos que fazemos aqui esta pedagogia...nem sempre fácil de aplicar e respeitar... Todos teríamos contas a ajustar, do tempo da tropa e da guerra...
Hoje, à distância, e que o homem está morto, seria fácil. Mas não te honraria... E tu és um homem de honra e de valores, que nos honras e enobreces a todos.
Um abraço. Luis
Obrigado, Luís.
Obrigado, Luís.
(fui eu quem escreveu, não o "incógnito")
Caro Armando Pires:
Apreciei muito o recorte literário e a imensa piada do episódio(despertaste-me o apetite para ler tudo quanto escreveste anteriormente).
Não cheguei a conhecer a personagem em carne e osso, mas foi dos primeiros nomes que ouvi na Rep Info, escassos dias após a minha chegada, em 23/11/70, à Guiné (as razões pelas quais o comandante do BART foi chamado a/para Bissau conhece-as o Luís Graça melhor que eu).
Um abraço,
Mário Migueis
Camarada Armando Pires
O que sabia de ti, era o que tinha lido em alguns dos postes publicados no Blogue e a primeira impressão com que fiquei, foi a de que serias um talentoso artista na arte de cantar o fado, com alma e sentimento, mas também um competente enfermeiro, sensível e decidido. Interroguei-me então sobre o que estaria na origem desses dons que tão bem manifestavas. Tu o saberás.
Agora, depois de ler este poste,a primeira impressão foi muito ultrapassada. És muito mais do que sabia e serás muito mais do que fico a saber. Cada um de nós é único; Singular; Irrepetível.
Gostei muito dos teus textos. Parabéns.
Um abraço
JLFernandes
JLFernandes, muito obrigado, camarada, pela simpatia das tuas palavras.
Ganda fadista!
Não quero ser premonitório, mas cá para mim, quando "sacana" se encontrar contigo, ainda vais ficar a pão e água.
Agora a sério: este Polidoro não seria tão mau comandante quanto possamos deixar-nos induzir, é que tu és uma grande peça, e o Cmdt até privilegiou contigo, para além das manifestações de protecção aos seus homens.
Como de costume, escreves manga di bom, e recheado de humanismo.
Um abraço
JD
Polidoro Monteiro,já aqui falei dele tempos atrás.Conheci-o no Saltinho, num dia em que lá apareceu,integrando
uma coluna de reabastecimentos.Nunca
tal tinha acontecido,um Ten.Cor.
aparecer no Saltinho a "bordo" de um
Unimog.Quando apareciam,era de heli.
Voltei a encontrá-lo quando,em Out/71
fui para Bambadinca comandar a Cª de
Instrução de Milícias.Exceptuando uns dias pelo Natal e Ano Novo,em que
fui ao Saltinho,tive contacto
diário com o Ten-Cor Polidoro até meados de Março de 1972.Não sei a razão,tínhamos uma grande empatia um pelo outro.
Os dias,em Bambadinca,começavam pela formatura da Cª de Instrução,às 7.00 horas,e lá estava o Comandante,também o 2º,Major Anjos de Carvalho,para a respectiva apresentação.Uma noite,nunca tinha acontecido,o Major,apanhou uma grande bebedeira,dando-lhe asas para andar a cantar até altas horas.Claro que a ressaca foi violenta,e às sete horas,a Cª estava formada,faltava o 2º Comandante.O Polidoro Monteiro,pede-me para ir chamar o Major "estava tudo à espera dele".
O Major,esticado na cama,com a voz meio entramelada,diz "oh Santiago diga ao nosso Comandante que estou muito doente,vou levantar-me mais tarde" Vim com esta resposta,e "o caralho está doente,mas não estava doente para fazer barulho até altas horas.Leve ali os "caixas"e façam-no saltar da cama"A seguir à formatura,havia um desfile ao som de dois "caixas", estes naquele dia rejubilaram,a simpatia pelo Major era pouca,e ter a oportunidade de o acordar a toque de caixa,era um prazer.O Major,quando as "caixas" ribombaram no quarto,atrapalhado,caiu da cama.Cinco minutos passados,chegou à formatura.Levou uma tal piçada,cheguei a temer que o homem desatasse a chorar.Poucas vezes deve ter acontecido,um Ten-Cor. desancar um Major frente a uma formatura,e a mais uns quantos militares que se encontravam nas redondezas,ou que entretanto tinham chegado após o ribombar dos tambores nos quartos dos oficiais.
Cabe-me dizer,o Polidoro Monteiro,era um MILITAR de Infantaria,o Anjos de Carvalho,era um MILITARISTA de Artilharia.
Também não esqueço,passados poucos dias,após a ocupação do Mato Cão,fui lá, de sintex, com o Comandante.Regressei no mesmo dia a Bambadinca,ele ficou lá.Só lá existiam uns buracos onde cabiam os colchões,nada de abrigos,nada de valas.Tenho ideia que na manhã seguinte houve flagelação...
Paulo Santiago, meu camarada.
Antes mesmo de começar a escrever o meu Post sobre o Polidoro, foi em ti que pensei.
Sabia que esta "história" te iria interessar como poucas.
Um grande abraço para ti.
Caros Armando Pires e Paulo Santiago:
Acabei de ler o comentário do Paulo e fiquei algo confuso com os elementos de informação recolhidos. E isto porque, dizes tu, Pires, que o Polidoro chegou a Bissorã nos primeiros dias da Outubro de 1969 (vindo de Moçambique, penso), enquanto tu, Paulo, referes que estiveste com o Polidoro em Bambadinca no período compreendido entre Out71 e Mar72. Ora, tudo somado, já dá cerca de 30 meses. Que é que se passou com o Polidoro?!... Fez duas comissões consecutivas na Guiné?!... Pediu para fazer mais uns mesitos?!... Ou ficou lá de castigo?!... Se souberdes responder, agradeco-vos, porque começo a fazer uma grande confusão com esta história do Polidoro, que admitia não ter regressado mais a Bambadinca, após ter sido chamado a Bissau em Novembro70, se a memória não me engana. A este propósito, vou tentar apanhar nos meus canhenhos alguma informação mais precisa para te responder, Pires, à pergunta que me fizeste. A ti, Paulo, aproveito para te pedir que me facultes o endereço do teu "site", que gostaria de acompanhar.
Um abraço,
Mário Migueis
Ah grande Armando Pires, meu querido amigo e camarada!
Os teus relatos de guerra "dão cabo de mim"!
Objectividade, maestria estilística e descritiva, camaradagem, humanismo, respeito na crítica a acções e/ou opiniões alheias, tudo isto atravessado por uma fina ironia, fazem dos teus "pots" um HIT deste blogue.
A "Carta ao tenente coronel ...", é um espanto de "elegância e ironia fina" (como diz o Luís Graça) mas, para além disso comporta uma frase que penso poder figurar como um dos "items" identificativos do blogue:
"Somos o que somos, escrevemos o que fomos, conscientes de que não escrevemos para nós mas para assegurar que no futuro ninguém nos acusará de não termos dito ao que fomos, porque fomos e o que fizemos" É isto mesmo!
Um fraternal e afectuoso abraço, meu amigão.
Manuel Joaquim
Camarada Mário Migueis.
Sim, o Polidoro chegou a Bissorã, quando muito nos dois últimos dias de Setembro ou nos dois primeiros dias de Outubro de 1969. Foi, como já escrevi, substituir o comandante original do BCAÇ 2861. Manteve-se no comando até Dezembro de 1970, quando fomos rendidos pelo BCAÇ 2927. Só não te posso dizer se o Polidoro se deslocou, ou não, a Bissau no mês de Novembro desse ano. Já lá vão muitos anos.
armando pires
Amigo Armando Pires acabei de ler agora a tua história sobre o nosso Comandante Polidoro Monteiro.
É verdade ele entrou muito rude mas como tu o dizes mas a maior parte da nossa companhia gostava de e já agora aproveito para contar duas passagens passadas comigo uma negativa e outra muito positiva.
Eu não levei roupa civil para a Guiné mas deu-me na cabeça de pedir a minha irmã que me manda-se e la recebi umas calças e um camisola.
No primeiro Domingo depois de esse ataque a Outra Banda três camaradas resolve vestir-nos á civil estava-mos em direcção a pista de aviação quando o Conceição foi chamado ao major Lima fora do quartel enfrente a messe dos oficiais havia uma grande vidraça e o jipe parou precisamente enfrente fomos vistos pelos oficiais entre os quais o nosso comandante no que originou quatro reforços a Benfica a segunda e a positiva para o meu lado e o tala lado bom do comandante numa exploração de transmissões eu como posto director autorizei uma conversa que se tratava só de comida o Carlos Senra estava em Encheia e também o do Olossato essa exploração tinha sido escutada em Bissau o que veio logo com cinco dias de prisão para cada um eu e o Carlos fomos chamados ao gabinete do comandante para nos comunicar o castigo.
Agora palavras do comandante na era do mau vocês apanharam cinco dias de prisão eu e o alferes Moura ( de Transmissões ) podia-mos agravar isto mas não e se não viesse já de Bissau não apanhavam nada como sabem não existe prisão no quartel por isso não os quero ver la fora.
Quando saiu na ordem de serviço passados um dia ou dois era dia de cinema o que é que fizemos
á noite depois de as luxes do cinema se apagarem la entramos para vermos a sessão mas para azar
nosso no meio da sessão houve um ataque e na fugida vamos encontrar quem? O nosso comandante palavras dele Então aqui é que é a prisão pois no outro dia nem nos chamou ão
comando quando acabaram os cinco dias é que tocou no cinema mas nada de mal pelo contrário
deixai-la pelo motivo que foi vocês não teem problemas nas vossas vidas isto é que marca um Homem que veio com todas as exigências e depois ficou mais ao menos.
Pires um grande abraço pois com estas passagens á quarenta e cinco anos é bom voltar a ser jovem obrigado Alfredo Miranda soldado Rádio telegrafista da companhia CCS do Batalhão 2861 Guiné 1969 / 1970
Caro Mário Miguéis
Não sei responder à tua questão acerca do tempo de comissão do Ten-Cor.Polidoro Monteiro.Também não sei dizer quando foi colocado em Bambadinca,a substituir o comandante a quem o Spínola pôs os patins.
Só soube que ele tinha estado em Bissorã,através do Armando Pires.
Castigado,não foi.Admito,atendendo à personalidade do Polidoro Monteiro,que o General lhe tenha pedido para permanecer no comando do BART de Bambadinca até à substituição pelo batalhão que se seguiu.O Polidoro,regressou com o batalhão em Abril/72.Um outro dado, o TC Polidoro era viúvo,tinha um filho que frequentava o Colégio Militar e foi lá passar as férias de Natal/71.No dia de encerramento do Curso de Milicias,lá estava o "miúdo" fardado na tribuna ao lado do Gen.Spínola.
Abraço
Os meus agradecimentos ao Armando Pires e ao Paulo Santiago pelo esclarecimento possível, mas suficiente para admitir que tenha vindo a fazer alguma confusão entre o Polidoro e o comandante do Bart 2917, que, interinamente, o Anjos de Carvalho ficou a substituir. Por acaso, algum de vós sabe o nome do comandante substituído em Bambadinca?...
Um abraço,
Mário Migueis
Caro Armando
Embora me tenha apercebido deste teu trabalho só agora chego a ele.
Depois de o ler e de ler também todos os comentários pouco ou nada posso acrescentar a não ser reforçar a ideia de que se trata de uma leitura que se lê com muito agrado.
Está muito bem escrito, contém a ironia e a crítica nas doses certas e, através dele, ficamos com uma maior e melhor fundamentada ideia de quem e como era o famoso Polidoro....
Percebe-se que era um homem frontal, capaz de desencadear ódios e apoios mas, pelo que li, leal e defensor dos seus homens de ataques externos. Portanto, um Chefe!
Mais um vez, gostei.
Abraço
Hélder S.
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