Olá, amigos
É com muito gosto que estou a responder ao pedido feito pelo editor do nosso blogue, Luís Graça.
As fotos que insiro neste texto servem para ilustração do texto.
A máquina já foi comigo da metrópole para a Guiné, aliás, ela já tinha feito uma comissão por isso já era velhinha, assim como já conhecia os cantos da guerra, ela fez uma comissão para os lados de Bissum com um irmão meu que também esteve na Guiné entre 70-72 e depois foi comigo em 73-74.
Eu ainda ganhei uns trocos com a minha máquina, mas não trouxe dinheiro nenhum tudo foi dividido ainda na Guiné comigo e com os amigos mais chegados.
Eu comecei a fotografar logo no barco (Niassa), eu arranjei conhecimento com o funcionário do Niassa que num compartimento na ré do barco, tinha uma pequena oficina que imprimia as ementas do que ia ser as refeições dos oficiais e sargentos (um luxo para a época) e também fazia fotografia, e ele deixava-me ser eu a imprimir as minhas fotos e eu só pagava o papel e os banhos e pouco mais. Por isso durante o dia tirava as fotos e à noite muitas vezes estava a passar um filme a bordo e eu estava a fazer as minhas fotos para no dia seguinte as vender e tirava outras, mas tinha um colega que tomava a responsabilidade de as entregar e receber o respectivo pagamento (sem I.T. e sem NIF que ainda não existia), ainda juntei algum dinheirito.
Esse dinheiro veio a fazer muito jeitinho porque como devem saber, pelo menos com a nossa companhia foi assim, o primeiro dinheiro que recebemos foi ao fim de 3 meses, muito dos meus amigos já andavam nas lonas e quem pagava as contas da cerveja era o dinheiro das fotografias.
As minhas fotografias foram quase todas feitas na metrópole eu levei bobines de fita a P&B e depois cortava para fazer rolos de 36/37 fotos, e alguns rolos a cores (poucos) eram mais caros e tinham de ser impressos em Espanha, naquele tempo todo o serviço a cores ia para Espanha. Mas eu tinha o meu secretário que me ajudava no seguinte, eu tinha uns livrinhos (também trabalhei em artes gráficas e levei alguns comigo), que se usava e ainda hoje é usado pelos «rifeiros» e recebia primeiro o dinheiro e depois entregava as fotos mediante o respectivo talão, para salvaguardar, de depois não virem dizer que não tinham dinheiro e eu tinha de ficar com as fotos que não serviam para nada a não ser para o próprio.
Quando cheguei à Metrópole o meu pai (já falecido) ainda me perguntou se eu tinha dinheiro para pagar a despesa das fotos que eu fiz, e eu respondi, pai não fui para a guerra para ganhar dinheiro, o dinheiro que sobrou foram 4.000$00 que emprestei a dois colegas se eles me pagarem muito bem se não me pagarem paciência, um deles ainda me deu 2.000$00 o outro nunca mais apareceu.
A máquina depois de duas comissões não tirou mais fotografias, recolheu ao arquivo e ainda hoje lá se encontra junto de dezenas de máquinas do espolio que foi do meu pai e meu, e por lá vai continuar, mas ainda se for preciso faz o seu dever ainda funciona, porque de vez em quando vou dar uns disparos sem rolo para a manter activa.
Aproveito para desejar um feliz Natal e um próspero Ano Novo.
Um abraço
Albano Costa
Mala de protecção da máquina
Máquina de frente: Kodak Retinette IA (lançada no mercado em 1959)
Outro plano de frente da máquina
Costas da máquina
Arquivo de alguns de muitos rolos a P&B e cores
Arquivo em Digital para ficar para futuro. Já tem dado para fazer umas surpresas aos amigos.
Fotos © Albano Costa (2015). Todos os direitos reservados
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Nota do editor
Último poste da série de 31 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P14103: A minha máquina fotográfica (17): Comprei uma Canon no navio "Timor" e andei com ela muitas vezes no mato... Tirou centenas de fotos e "slides" (que mandava para a Alemanha, para revelar) (Abílio Duarte, ex-fur mil,CART 11, Nova Lamego, Paunca, 1969/1970)
2 comentários:
Caro Albano: faltava mesmo o teu testemunho...
1. Tanto quanto me lembro, e quanto sei, tu és o único membro da Tabanca Grande que é fotógrafo profissional. E, pelo que nos contas, herdaste o negócio do teu pai. E tens um filho, também nosso grã-tabanqueiro, com grande sensibilidade e talento para a fotografia e o vídeo. O "nosso" Hugo Costa.
Ambos fizeram uma notável reportagem da ida à Guiné, em novembro de 2000. Essas fotos (e outras, de 1973/74) podem ser vistas aqui:
http://www.ensp.unl.pt/luis.graca/guine_guerracolonial23_guidage.html
O Hugo voltaria à Guiné-Bissau em abril de 2006. E dele temos muitas fotos publicadas no blogue. E de grande qualidade.
Albano, sei que és um homem muito atarefado mas a atrevo-me a pedir-te uma seleção de fotos da Guiné do teu tempo, 1973/74. Tens muito material que ainda não é conhecido da malta da Tabanca Grande.
Outro pedido é do vídeo de novembro de 2000...Como é muito extenso (6 horas!, 4 CD), teria que ser dividido em videos mais pequenos por regiões...
Se me autorizares, posso pô-los "on line" na minha conta You Tube > Luís Graça, e incorporá-los depois no nosso blogue... Muitos camaradas, que nunca terão hipóteses de voltar à Guiné, "em turismo de saudade", iriam adorar...
Há um problema com a banda sonora e os direitos de autoria das músicas (guineenses)... Mas o Hugo poderia arranjar maneira de contornar esse problema...
2. Por outro lado, tu tiraste partido, na tua comissão na Guiné, dos teus conhecimentos profissionais, montaste o teu negócio (legítimo) e ajudaste muitos camaradas a terem as indispensáveis fotos que os mantiveram vivos e ligados à fam+ília e aos amigos...
Acho que a fotografia teve um papel muito importante no nosso tempo. Eu, pessoalmente, escrevia pouco, nessa época: para além do meu diário, esrevia algumas cartas e aerogramas, irregularmente... Mas nas cartas procurava mandavam fotos à família (pais e irmãs) para "fazer a prova de vida"...
Um bom ano para ti, em termos pessoais, familiares e profissionais.
Um abraço amigo, Luis
Caro Albano
Para além das fotos e artigos que vi e li aqui no Blogue, já nos conhecemos pessoalmente, uma vez que estivemos juntos em Lisboa e lembro-me bem da "artilharia" que tinhas contigo.
Foi portanto com agradado que vi este artigo, ainda por cima com fotos duma máquina "com história" (pelo que contas 'fez' duas comissões...).
Não enviei nada sobre 'máquinas fotográficas' porque estes 'posts' apareceram em altura atribulada e não tive oportunidade de tentar encontrar algo que me pudesse ajudar na recuperação da memória mas também comprei uma máquina de sistema 'reflex' uma "KOWA", tal como o Zé Dinis ( o dos pontapés...) já também aqui referiu. Esperava ganhar experiência e depois partir para uma "Pentax", mas a vida deu 'outras voltas'...
Quanto à tua "actividade paralela" (sem IT nem IVA, nem NIF) parece que foi relativamente corrente, pelo que li em artigos diversos, havendo quase sempre um 'revelador' em cada Batalhão.
Tendo em conta o pedido do Luís, fico também com expectativa à espera de mais algumas fotos que envies.
Abraço e Bom Ano
Hélder S.
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