Queridos amigos,
O essencial sobre o ativismo e a generosa militância do Pepito já foi plasmado em depoimentos aquando do seu desaparecimento.
Pepito tinha uma conceção muito particular sobre o funcionamento e a comunicação dos museus africanos, pretendia que os diferentes projetos museológicos se inserissem numa vasta envolvente ambiental, foi assim que sonhou a edificação dos projetos museológicos para Guileje junto ao Cantanhez, e o de Cacheu inserido num parque natural, ligando a comunicação da memória como uma cidadania ativa em prol da conservação da natureza.
É esta a essência dos trabalhos à volta de Pepito publicados no n.º 1 da revista Sumara, recentemente aparecida.
Um abraço do
Mário
Pepito a falar dos museus da Guiné
Beja Santos
Saiu recentemente o n.º 1 da revista Sumara, publicação da responsabilidade da Fundação João Lopes, Cabo Verde. Explica-se que a escolha do título Sumara adveio de um termo da língua cabo-verdiana, oriundo da filosofia popular, com o significado aproximado de meditar, refletir, examinar e avaliar. Sumara terá uma periodicidade anual. Carlos Schwarz, conhecido por Pepito aparece em dois textos da revista. O professor Henrique Coutinho Gouveia, também nosso camarada da Guiné, é responsável pela nota biográfica daquele que foi a cabeça, o coração e o estômago da “Ação para o Desenvolvimento”. O professor Gouveia tece considerações sobre a conceção museológica delineada por Carlos Schwarz, que aproximava o espaço de exibição de um dado património histórico de outro que compreende parques nacionais e naturais. Pepito trabalhou entusiasticamente nas matas do Cantanhez e deu alma ao projeto museológico de Guileje, vizinho de um centro de ambiente e cultura. Pepito falava em dois museus, um sobre a guerra da independência, intitulado “Memória de Guileje”, e outro centrado no ambiente e cultura, que passaria a ser designado pouco depois por “Centro de Interpretação Ambiental e Cultural”. Mas Pepito também animou o Memorial da Escravatura, um projeto que abarcaria toda a parte histórica de Cacheu e as tabancas vizinhas.
O artigo “Museus na Guiné, uma componente do desenvolvimento”, pode ser assumido como uma das últimas e mais significativas reflexões de quem tornou a ONG Ação para o Desenvolvimento uma das mais prestigiadas da Guiné-Bissau. No seu texto, ele conecta Guileje e o ambiente e o Caminho de Escravos, localizado em Cacheu ligado ao Parque Nacional dos Tarrafos de Cacheu. E escreve: “A breve história da Guiné-Bissau, enquanto país independente, mostra a força e a energia coletiva que se desenvolve a partir daquilo que nos uniu no passado, e que sendo referências das 32 etnias que constituem o povo guineense de mais de 1,5 milhões de habitantes, são também a sua força de coesão social. A luta pela independência, o processo da escravatura e do tráfico negreiro que marcaram profundamente o povo guineense, são factos históricos em que todas as gerações se reveem e que representam um cimento aglutinador”.
Lisboa > Campus da Escola Nacional de Saúde Pública da NOVA > 6 de setembro de 2007 > Engº Agrº Carlos Schwarz da Silva (Bissau, 1949-Lisboa, 2014). Pepito, para sempre!
Foto (e legenda): © Luís Graça (2007) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.
Espraia-se sobre o Cantanhez, as suas matas e a Memória de Guileje, e falando de o Caminho de Escravos refere que o memorial tinha a sua conclusão prevista para Novembro de 2015, seria nessa ocasião que teria lugar em Cacheu o Simpósio Internacional sobre a escravatura em Cacheu. E adianta: “Muito mais do que um simples museu, o Memorial pretende englobar toda a parte histórica de Cacheu, como o cemitério dos ingleses, a rua grande, o M’pernal, a Igreja de Nossa Senhora da Natividade, o porto de escravos, a fortaleza, bem como as tabancas vizinhas de Mata, Bolol e Cobiana”. Haverá uma particularidade no processo interativo do Memorial: “Será sempre o Memorial a ir ter com a comunidade e nunca a isolar-se dentro das suas paredes, devendo ser avaliado em função das dinâmicas que conseguir incutir nas comunidades locais, nas associações, nos governo local e central, nos historiadores nacionais e estrangeiros, nas instituições congéneres e nos financiadores”. Também foi pensado no elenco de atores: os grupos de mandjuandades, os homens grandes e régulos, os investigadores e historiadores, os centros negreiros da sub-região (como Gorée, Ribeira Grande, Boké e St. Jules. Ao sumariar estas iniciativas, Pepito não deixa de exaltar o sentido prático da função do museu, e volta a destacar que “Os Museus são locais vivos de transmissão de conhecimento, mas especialmente centros de produção de conhecimento, onde os jovens entram descontraidamente, até porque participaram em todas as fases da sua criação, estes museus mostrarão na prática a grande importância da componente cultural como fator mobilizador de vontades”.
Este artigo foi redigido em Bissau em Janeiro de 2014. Perdemos um ativista, um espírito superior, um humanista que tinha o associativismo na massa do sangue, e que amava profundamente a sua terra. A sua falta é irreparável.
____________
Nota do editor
Último poste da série de 5 de fevereiro de 2016 Guiné 63/74 - P15708: Notas de leitura (805): “Trabalhos e Dias de Um Soldado do Império”, por Carlos de Azeredo, Livraria Civilização, 2004 (2) (Mário Beja Santos)
Espraia-se sobre o Cantanhez, as suas matas e a Memória de Guileje, e falando de o Caminho de Escravos refere que o memorial tinha a sua conclusão prevista para Novembro de 2015, seria nessa ocasião que teria lugar em Cacheu o Simpósio Internacional sobre a escravatura em Cacheu. E adianta: “Muito mais do que um simples museu, o Memorial pretende englobar toda a parte histórica de Cacheu, como o cemitério dos ingleses, a rua grande, o M’pernal, a Igreja de Nossa Senhora da Natividade, o porto de escravos, a fortaleza, bem como as tabancas vizinhas de Mata, Bolol e Cobiana”. Haverá uma particularidade no processo interativo do Memorial: “Será sempre o Memorial a ir ter com a comunidade e nunca a isolar-se dentro das suas paredes, devendo ser avaliado em função das dinâmicas que conseguir incutir nas comunidades locais, nas associações, nos governo local e central, nos historiadores nacionais e estrangeiros, nas instituições congéneres e nos financiadores”. Também foi pensado no elenco de atores: os grupos de mandjuandades, os homens grandes e régulos, os investigadores e historiadores, os centros negreiros da sub-região (como Gorée, Ribeira Grande, Boké e St. Jules. Ao sumariar estas iniciativas, Pepito não deixa de exaltar o sentido prático da função do museu, e volta a destacar que “Os Museus são locais vivos de transmissão de conhecimento, mas especialmente centros de produção de conhecimento, onde os jovens entram descontraidamente, até porque participaram em todas as fases da sua criação, estes museus mostrarão na prática a grande importância da componente cultural como fator mobilizador de vontades”.
Este artigo foi redigido em Bissau em Janeiro de 2014. Perdemos um ativista, um espírito superior, um humanista que tinha o associativismo na massa do sangue, e que amava profundamente a sua terra. A sua falta é irreparável.
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Nota do editor
Último poste da série de 5 de fevereiro de 2016 Guiné 63/74 - P15708: Notas de leitura (805): “Trabalhos e Dias de Um Soldado do Império”, por Carlos de Azeredo, Livraria Civilização, 2004 (2) (Mário Beja Santos)
2 comentários:
Acabei de mandar à Isabel Levy (com conhecimento a vários endereços, incluindo o Mário Beja Santos) a seguinte mensagem:
Isabel:
Olá, bom dia!... Tens aqui uma "nota de leitura" do nosso crítico literário, Mário Beja Santos, que vais gostar de ler... (Não sei se o Pepito o chegou a conhecer, em vida, mas por mais de uma vez, em conversa, o Pepito manifestou-me o grande apreço e admiração que sentia pela colaboração do infatigável Mário Beja Santos, o meu camarada e amigo Mário, o homem a quem nada escapa do que se escreve sobre a Guiné e a nossa presença histórica - portuguesa - nessa terra!).
Entretanto, aproxima-se a data em que, há dois anos, morreu o nosso querido Pepito... Gostava de poder publicar, no blogue, alguns depoimentos e/ou fotos dele ou sobre ele e a sua história de vida, logo a seguir ao aniversário da mãe Clara, que é também a decana da Tabanca Grande!... Sei que o irmão João andava a preparar qualquer coisa sobre o mano Carlos... Mas não vejo nada de novo no blogue dele:
http://www.desgensinteressants.org/
Querida Isabel, concordas comigo que temos o dever de manter viva a memória desse homem de exceção que foi o teu e o nosso Pepito... Achas que tens tempo (e cabeça) para arranjar qualquer coisa para essa efeméride ?... Como sabes, ele deixou, entre nós, muitos amigos que o admiravam e o estimavam. Há outros, que não conhecemos (, nomeadamente em Portugal, Cabo Verde,Guiné-Bissau).
Da minha parte, lamento não ter ainda tido tempo para te mandar um apanhado das referências ao Pepito no nosso blogue: são quase duas centenas!...
O nosso blogue continua a ser a principal fonte de imagens sobre o Pepito + Carlos Schwarz, de acordo com a pesquisa no Google > Imagens:
https://www.google.pt/webhp?sourceid=chrome-instant&ion=1&espv=2&ie=UTF-8#q=Pepito+%2B+Carlos+Schwarz
Há 184 referências (!) a "Pepito", mas no Blogger só consegues apanhar umas tantas:
http://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/search/label/Pepito
Preciso de tempo para te mandar uma lista completa desses postes... Já vamos a caminho dos 16 mil postes e dos 8 milhões de visualizações...
Espero que a família (alargada) esteja toda bem, incluindo a tua mãe, sogra, filhas, filho e netas... Não tenho o email da tua filha Pepas...
Um beijinho fraterno do Luís (e da Alice, Joana e João).
No passado fim de semana, houve um torneio de futebol, entre as 4 escolas primarias da zona de Varela. Cassolole, Catão, Iale e Varela Madina. Foi atribuída pela Isabel a taça PIPITO, a equipa vencedora da escola de Varela Medina. As equipas estavam vestidas com camisolas com a foto de Pepito, estampadas no peito.
Foi neste local que ele passou as ferias desde menino, lá construiu escolas e Centros de Saúde, e mais mil e um projectos para a população.
Enviarei fotos mais tarde.
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