Infogravura: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2017).
Guiné-Bissau > Região de Quínara > Buba > Tabanca de Lisboa > 2005 > O Zé Teixeira com o chefe da tabanca e a sua lindíssima filha. A tabanca de Lisboa, a 5 Km de Buba, era um antigo centro de treino do IN, de nome Sare Tuto... Aqui ainda vivem vários antigos combatentes do PAIGC... Sadiu Camará, antigo paraquedista, casou aqui com uma guerrilheira... Foi ele que mudou o nome da aldeia e ajudou a população como caçador... Uma história com final (quase) feliz. A seguir à independência esteve preso e, algumas vezes, esteve prestes a ser executado sumariamente... (LG)
Foto (e legenda): © José Teixeira (2005). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
1. Nas suas andanças pela Guiné, em janeiro/fevereiro de 1947, o jornalista do “Diário de Lisboa”, Norberto Lopes, transmontano, admirador da obra e da política de outro transmontano, o governador geral Sarmento Rodrigues, veio de Bolama até Bafatá, passando por São João, Fulacunda, Buba, Xitole, Bambadinca… Na margem esquerda do Rio Corubal, ficava a tabanca de Portugal.
Na viagem até ao Xitole, o repórter, vindo de Buba, vai acompanhado pelo chefe de posto e pelo régulo dos fulas do Forreá, Baró Baldé “cujo regulado tem a sede em Missirá [entre Buba e Mampátá, abandonada no tempo da guerra] e que foi “um dos mais valiosos auxiliares indígenas na última guerra de Canhabaque [, nos Bijagós, em 1936]".
Descreve esta região de Quínara, o setor de Buba que ia té à margem esquerda do Corubal, como “desertificada”, abandonada pelos fulas devido, ao que parece, à “doença do sono” que dizimava o seu gado, mas também à queda brutal dos preços da borracha que eles extraíam da “hévea”, planta expontânea na Guiné.
Sede do pequeno reino do régulo Bacar Dikel, era a tabanca de Portugal que ficava a caminho do Corubal. O repórter faz a cambança do rio em canoa, já que a ponte de 1937, a ponte general (mais tarde, marechal) Carmona, estava em ruínas. Do outro lado esperava-o uma carrrinha que o levará até Bafatá, via Bambadinca.
"No caminho para o Chitole (sic), fica a tabanca de Portugal, escondida na espessura do mato onde o régulo Bacar Dikel, mau grado as dissidências que perturbam a 'reinança' , acaba tranquilamente os seus dias".
Algum camarada ou amigo ouvira já falar desta tabanca e deste régulo, Bacar Dikel ? Seria biafada ou fula ? E a que "dissidências" se queria referir o repórter do "Diário de Lisboa" ?
Não confundir esta tabanca com a de Lisboa (, antiga Sare Tuto) que fica a leste de Buba. Depois da independência, o chefe da tabanca passou a ser, por imposição da população, um antigo paraquedista guineense do BCP 12, o Sadiu Camará. (**)
___________
Notas do editor:
(*) Vd. poste de 21 de setembro de 2017 > Guiné 61/74 - P17785: Historiografia da presença portuguesa em África (92): quando a Guiné do tempo de Sarmento Rodrigues tinha uma "boa imprensa": Norberto Lopes, o grande repórter da "terra ardente"
(**) Último poste da série > 1 de julhio de 2017 > Guiné 61/74 - P17531: Memória dos lugares (362): A vibração dos espectros: Uma semana depois da calamidade, o regresso a Pedrógão Grande (Mário Beja Santos)
Sede do pequeno reino do régulo Bacar Dikel, era a tabanca de Portugal que ficava a caminho do Corubal. O repórter faz a cambança do rio em canoa, já que a ponte de 1937, a ponte general (mais tarde, marechal) Carmona, estava em ruínas. Do outro lado esperava-o uma carrrinha que o levará até Bafatá, via Bambadinca.
"No caminho para o Chitole (sic), fica a tabanca de Portugal, escondida na espessura do mato onde o régulo Bacar Dikel, mau grado as dissidências que perturbam a 'reinança' , acaba tranquilamente os seus dias".
Algum camarada ou amigo ouvira já falar desta tabanca e deste régulo, Bacar Dikel ? Seria biafada ou fula ? E a que "dissidências" se queria referir o repórter do "Diário de Lisboa" ?
Não confundir esta tabanca com a de Lisboa (, antiga Sare Tuto) que fica a leste de Buba. Depois da independência, o chefe da tabanca passou a ser, por imposição da população, um antigo paraquedista guineense do BCP 12, o Sadiu Camará. (**)
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Notas do editor:
(*) Vd. poste de 21 de setembro de 2017 > Guiné 61/74 - P17785: Historiografia da presença portuguesa em África (92): quando a Guiné do tempo de Sarmento Rodrigues tinha uma "boa imprensa": Norberto Lopes, o grande repórter da "terra ardente"
(**) Último poste da série > 1 de julhio de 2017 > Guiné 61/74 - P17531: Memória dos lugares (362): A vibração dos espectros: Uma semana depois da calamidade, o regresso a Pedrógão Grande (Mário Beja Santos)
14 comentários:
Camaradas e amigos:
Lembrei-me de alguns vocês porque andaram por lá, perto... Lembrei-me de vocês, haverá outros tantos que ficam de fora porque não consigo lembrar-me de todos os que passaram pela região... E são muitos... Outros voltaram lá, ou estão lá, têm um conhecimento da Guiné-Bissau, atual...
A pergunta é a seguinte: conhecem ou conheceram uma tabanca chamada Portugal ? Ficava a escassos quilómetros do Xitole, do outro lado do rio Corubal... Quem vinha de Buba, tinha que passar por lá, contornando a ponte Carmona, em ruínas (desde 1937, ano em que foi inaugurada)...
Em 1947 por lá passou, nessa tal tabanca de Portugal, o jornalista do "Diário de Lisboa", Norberto Lopes... Ninguém sabe como aparece este nome... Será que tem alguma relação com a construção da ponte Carmona em meados dos anos 30 ?
E quem seria este obscuro régulo Bacar Dikel ? Dikel será apelido biafada, pergunto ao nosso especialista, o dr. Cherno Baldé...
Se quiseram acrescentar algo, estejam à vontade...
Alguns dirão que andamos há anos a discutir o sexo dos anjos... Que importância tem, de facto, para a história e sobretudo para o futuro, o raio desta tabanca, que deve ter sido destruída ou abandonada no tempo da guerra ?..A verdade é que há 70 existia e houve um "tuga" que a referiu, num jornal de Lisboa... Eu estava a nascer quando o Norberto Lopes por lá passou...
Bom fim de semana. E continuem a "musculuar" os neurónios... pro causa da "doença do alemão"...de que Deus nos livre!... Luís
PS - Já agora, malta do BCP 12, quem se lembra do Sadiu Camará que escapou, depois do 25 de Abril, à sanha vingativa dos novos senhores de Bissau, e que em 2005 era o chefe da tabanca de Lisboa, a leste de Buba ? O Zé Teixeira conheceu-o em 2005. Espero que esteja bem de saúde.
Lembreei-me da malta do Xitole, do Saltinho, de Contabane, de Mampatá, de Aldeia Formosa, de Buba... mas esqueci-me de ti, António Murta, que eras de Nhala...
É pouco provável que tenhas ido alguma vez para aqueles lados, margem esquerda do Rio Corubal frente ao Xitole... Eu andei sempre pela margem direita do Rio Corubal, do Saltinho à Foz, e nunca o atravessei, metia muito respeitinho no meu tempo...
Mas se tiveres alguma informação sobre a "tabanca de Portugal", será bem vinda e partilhada...
Um abraço, Luís
Boa noite Luis,
A zona de Xitole assim como toda a regiao de Forrea era dominio Fula conquistada aos Biafadas no sec.XIX, assim, todos os Regulos ou sao Fulas ou de ascendencia Fula e o Bacar Dikel nao sera excepcao.
O nome que aparece como Sadiu devera ser lido Sadjo (Camara).
Com um abraco amigo,
Cherno AB
Obrigado, Cherno, tu és uma enciclopédia viva!...
Quanto ao nome (algo insólito) da tabanca, Portugal, não tens nenhuma pista ?...
Bom sábado, Luis
Luis Crespo
23 set 2017 07:26
Bom dia Camaradas e Amigos
Bem gostaria de ajudar, mas estive na margem direita do Corubal (1968/1970) e fui apenas duas vezes que me lembre junto da ponte Carmona e desconheço onde fica ou sequer tenha ouvido falar da tabanca Portugal a não ser agora.
Um grande abraço a todos
Luís Branquinho Crespo
Luis Marcelino
23 set 2017 08:46
Não conheci a referida tabanca.
Embora tenha estado no sul, mais concretamente em Mampatá, cerca de dois anos, não tive oportunidade de conhecer muito, para além do espaço à responsabilidade da companhia.
Um abraço
mario gualter rodrigues pinto Pinto
23 set 2017 12:48
Caro Luis Graça
Gostaria muito de poder contribuir para o solicitado, mas apesar de ter estado ma parte sul do Corubal, mais propriamente em Mampatá e uma vasta área do zona junto ao Corubal ser ZA da minha companhia, nunca ouvi nem dei pela existência dessa Tabanca.
Creio mesmo que os Mapas ou croquis que nos davam para a Zona fizessem alguma referência à Tabanca [de Portugal]
Nota: Envio-te uma carta da época onde nada consta da Tabanca.
Um abraço
Mário Pinto
Descobrimos,ao fim de alguns meses de insistência e persistência, o mistério do acrónimo "ASCO" que existia (e existe) na parede de um dos edifícios de Gadamael que as NT ocupavam... Pois haveremos de descobrir, com tempo e pachorra, o mistério da tabanca de Portugal... LG
A tabanca de Portugal, no regulado de Incassol, já existia em 1947... E consta da carta do Xitole, que é de 1955..
Recorde-se que esta e outras cartas da Guiné resultam do levantamento efectuado em 1955 pela missão geo-hidrográfica da Guiné – Comandante e oficiais do N.H. Mandovi. A fotografia aérea é da aviação naval (Março de 1953). Restituição dos Serviços Cartográficos do Exército. Fotolitografia e impressão: Arnaldo F. Silva. A edição é do da Junta das Missões Geográficas e de Investigações do Ultramar, do antigo Ministério do Ultramar, s/d. Digitalização efectuada pela Rank Xerox (2005). Oferta do nosso camarada Humberto Reis.
http://www.ensp.unl.pt/luis.graca/guine_guerracolonial16_mapa_Xitole.html
Caro Luis Graca,
Nao conheco o local nem nunca ouvi falar, mas tal como tenho dito num dos postes das minhas memorias sobre o nome dado a nossa aldeia (Luanda) do inicio da Guerra colonial, era normal e muito comum que Regulos, antigos Cipaios ou militares que fundavam novas aldeias quisessem honrar ou mostrar suas simpatias para com Portugal e aos Portugueses. O meu tio paterno, patriarca da nossa familia foi colaborador e policia da administ. colonial em Bolama durante muitos anos. Ha bem pouco tempo descobri que existia em Bolama um Bairro com esse nome e pensei que, talvez, houvesse alguma ligacao. Eh assim.
Cherno AB
Caro Luís Graça.
Sobre essa enigmática tabanca, devo dizer que nunca fui tão longe, mas, se fosse, confesso que tropeçaria nela de surpresa porque ignorava a sua existência. O mais longe que fui fica-se pela "Ponte interrompida" sobre o Corubal, e apenas estive sobre o tabuleiro uma vez, conforme descrevo num dos postes enviados ao Blogue há tempos. Era um lugar paradisíaco, fora do tempo, mas que causava uma impressão muito intensa. E de Nhala lá eram muitas horas por mata fechada quase sempre. Ora, essa tabanca, pelos vistos, ainda era mais afastada.
Grande abraço a todos.
António Murta.
António, obrigado pelo esforço de memória... Afinal, estiveste relativamente perto...em linha reta, mas longe, se fosses ao longo da margem direita do Rio Corubal... Dez quilómetros pelo mato, em floresta galeria podia levar 5 ou mais horas, tendo a sorte de encontrar nem bichos nem homens pelo caminho... Mesmo assim, vieste bem de longe, de Nhala, até á ponte Carmona... Esta nunca conheci nem me recordo de ter ouvido falar dela, e fiz operações no subsetor do Xitole... e colunas logísticas de Bambadinca ao Saltinho... Em ocntrapartida, estive por mais de uma vez na ponte Craveiro Lopes, no Saltinho, mas nunca passei para o lado de lá. Só o fiz em 2008, quando fui de Bissau a Iemberém, passando pro Bambadinca, Xitole, Mampatá, Quebo, Gandembel, Guileje e indo mesmo até Cacine...
No tempo da CCAÇ 12 (Bambadinca, julho de 1969/março de 1971), só fiz operações na margem direita do Rio Corubal, nunca na margem direita (nessa época, praticamente interdita, nem lá iam os fuzileiros... (A propósito, temos falado muito pouco aqui dos nossos camaradas fuzileiros).
Tenho muito gosto em ler os teus comentários, Aparece mais vezes. Ab, Luís
Alcídio Marinho
23 set 2017 15:33
A tabanca "Portugal", chamava-se " Gã Portugal" ficava na margem esquerda do rio Corubal,
mesmo em frente à tabanca da Ponte do Inglês.
Da Ponte do Inglês fazia-se a cambança para a Gã Portugal. Ficava no caminho do rio Corubal para Fulacunda
Em Maio/1963, pelos dias, 20 e poucos, fiz uma emboscada nesse local, onde apreendemos dois turras que transportavam numa piroga um rodado de metralhadora pesada.
Era na zona de Gã Portugal, que os aviôes faziam a descarga das bombas sobrantes das operações, pois dizia-se que não podiam regressar a Bissau com os aviões com as bombas
Abraços
Alcidio Marinho
Fur mil, CCaç 412
abri/1963-abril/1965
Meu caro Alicídio, obrigado pelo teu esforço de memória.. Mas receio que não estejamos a falar da mesma tabanca... Esta tabanca de Portugal vem assinalada no mapa do Xitole, e fica em frente ao Xitole, do outro lado (esquerdo) do rio Corubal... Vê aqui o mapa ou a carta /de 1955):
http://www.ensp.unl.pt/luis.graca/guine_guerracolonial16_mapa_Xitole.html
Devemos estar a falar de tabancas diferentes, em regiões diferentes, se bem que próximas... Dizes tu:
(...) A tabanca "Portugal", chamava-se " Gã Portugal" ficava na margem esquerda do rio Corubal, mesmo em frente à tabanca da Ponte do Inglês.
Da Ponte do Inglês fazia-se a cambança para a Gã Portugal. Ficava no caminho do rio Corubal para Fulacunda. (...)
Essa "Gá Portugal" devia cnstar do mapa ou carta de Fulacunda, também de 1955, mas eu não a encontro:
http://www.ensp.unl.pt/luis.graca/guine_guerracolonial15_mapa_Fulacunda.html
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