quinta-feira, 23 de novembro de 2017

Guiné 61/74 - P18006 José Matos: As negociações secretas do acordo dos Açores em 1974: o caso da central nuclear. "Revista Militar", nºs 2581/2582, fevereiro / março 2017

I. Mensagem do nosso amigo Jose Matos, com data de ontem:

Olá,  Luís

Pedia-te para divulgares no blogue o artigo que envio em anexo com link para a Revista Militar, pois tem uma parte sobre a Guiné.

https://www.revistamilitar.pt/artigo/1226

Ab

José Matos

[Investigador independente em História Militar. Tem feito investigação sobre as operações da Força Aérea na Guerra Colonial, principalmente na Guiné. É colaborador da Revista Mais Alto, da Força Aérea Portuguesa, e tem publicado também o seu trabalho em revistas europeias de aviação militar, em França, Inglaterra e Itália. É membro da nossa Tabanca Grande desde 7 de setembro de 2015. Tem cerca de 25 referências no nosso blogue]


II.  AS NEGOCIAÇÕES SECRETAS DO ACORDO DOS AÇORES EM 1974: O CASO DA CENTRAL NUCLEAR

por José Matos 

Revistas Militar, nºs 2581/2582 - Fevereiro/Março 2017


1. Introdução

Nas vésperas do 25 de Abril de 1974, o ministro português dos Negócios Estrangeiros português, Rui Patrício, estava muito próximo de negociar com o Departamento de Estado norte-americano um programa de cooperação na área da energia nuclear, que levaria no espaço de pouco anos à instalação da primeira central nuclear em território nacional. Dois dias antes da queda do regime, o ministro tinha já em mãos um plano português com uma previsão dos investimentos a realizar, a sua discriminação e o seu escalonamento no tempo. 

Patrício pretendia enviar este plano ao embaixador português nos EUA, João Hall Themido, com a indicação de que, nesta área, Themido devia começar por pedir o máximo possível nas negociações em curso, “isto é, a entrega gratuita de todo o equipamento de engineering e combustível que puder ser fornecido pelos americanos e o financiamento, nas melhores condições possíveis, na parte que puder ser produzida pela indústria portuguesa”  (1).

 O programa de execução apontava para 1981, como o ano previsto para a entrada em funcionamento da primeira central nuclear portuguesa. Porém, com o colapso do regime marcelista, o plano nunca chegaria ao seu destinatário e as negociações do acordo dos Açores tomariam um rumo completamente diferente nos anos seguintes.


2. Um país cada vez mais isolado

Antes de mais nada, importa contextualizar as negociações de 1974, que decorreram num clima difícil para Portugal, que estava principalmente interessado no fornecimento de equipamento militar para usar na Guiné, onde a situação militar era desfavorável para as forças portuguesas. Todavia, no contexto internacional, o regime português estava cada vez mais isolado e enfrentava dois problemas na aquisição de novos armamentos: (i) não tinha dinheiro para grandes aquisições de equipamento militar; (ii)  não tinha muitos aliados que pudessem fornecer o armamento necessário. 

Para resolver o problema do dinheiro, Portugal vai valer-se de Pretória, o seu grande aliado na África Austral, que não hesita em conceder-lhe um avultado empréstimo de 6 milhões de contos (150 milhões de rands) para suportar o esforço de guerra e permitir a aquisição de novas armas (2). 

Quanto ao problema dos fornecedores, vai valer-se principalmente das alianças que tem com os EUA e com a França para obter o que precisa. No caso americano, usa o acordo das Lajes como moeda de troca para obter armamento de forma encoberta. As negociações não são fáceis, mas, como veremos mais à frente, o Governo de Marcello Caetano consegue obter as armas mais desejadas (mísseis terra-ar) e ainda a possibilidade de uma central nuclear de oferta.


3. A ameaça aérea na Guiné

Há vários anos que pairava sobre a Guiné a ameaça de um ataque aéreo proveniente da Guiné-Conakry. O país vizinho, governado por Sékou Touré, tinha caças MiG no seu inventário e podia facilmente apoiar com meios aéreos acções da guerrilha contra as forças portuguesas (3). 

Na fase final da guerra, começam também a surgir rumores de que a guerrilha do PAIGC (Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde) está a treinar pilotos na União Soviética para usar aviões MiG a partir de Conakry. Um jornal que publica esta informação é o inglês Daily Telegraph que, a 2 de Agosto de 1973, traz um artigo da autoria do correspondente em Lisboa, o jornalista Bruce Loudon, em que diz que a guerrilha “está apenas a seis meses de atingir uma capacidade de ataque aéreo com caças MiG russos”. O jornalista escreve ainda que cerca de 40 guerrilheiros estão a receber cursos de pilotagem na Rússia (4). 

Começam, assim, a circular notícias sobre o possível uso de meios aéreos por parte da guerrilha ou do envolvimento da própria Força Aérea da Guiné-Conakry (FAG) em acções contra as tropas portuguesas. Do outro lado da fronteira, os MiG-17F da FAG estão praticamente inoperacionais, mas, com ajuda de militares cubanos, começam a aumentar o seu grau de operacionalidade. Pilotos e técnicos cubanos chegam a Conakry nos primeiros meses de 1973 e incrementam os voos de patrulha na zona de fronteira, de forma a precaver incursões portuguesas em território guineano, embora os caças da FAG nunca constituam qualquer ameaça para as forças portuguesas (5).

No entanto, preocupado com a situação militar na Guiné, Marcello Caetano dá ordens para que a pequena colónia seja dotada de novos meios de defesa aérea (6), usando para esse efeito o empréstimo sul-africano. 

Por essa altura, os militares portugueses já sabiam que o único país ocidental que tinha mísseis terra-ar portáteis à venda era os EUA. De facto, os americanos fabricavam um pequeno míssil portátil, o famoso FIM-43A Redeye, que podia ser disparado a partir do ombro, tal e qual como o Strela-2 (SA-7) soviético, que tinha aparecido, na Guiné, nas mãos dos guerrilheiros. 

Se o Exército Português nas colónias tivesse acesso ao míssil americano podia fazer face a qualquer ameaça aérea vinda dos países vizinhos. Só que, devido ao embargo de armas, Washington não podia vender o míssil directamente a Portugal, sendo preciso encontrar uma solução que contornasse o embargo, algo que o governo americano não mostrava grande interesse em fazer. É aqui que o regime de Caetano joga o seu maior trunfo: a base das Lajes.


4. As Lajes como moeda de troca

Durante a guerra do Yom Kippur, em Outubro de 1973, entre Israel e os seus vizinhos árabes, Portugal tinha sido o único país europeu a conceder facilidades a Washington no apoio a Telavive. Embora sob coacção americana, Lisboa tinha permitido que a base das Lajes, nos Açores, fosse utilizada intensamente pelos aviões americanos no apoio a Israel e Marcello Caetano esperava agora obter dividendos de tal cedência (7). 

O Governo Português tenta assim que a posição americana seja mais flexível em relação à política colonial portuguesa e que Washington autorize a venda de algum armamento a Portugal (8). A intenção portuguesa era comprar os famosos mísseis portáteis Redeye e também mísseis terra-ar Hawk, montando desta forma um sistema de defesa antiaérea na Guiné (9). 

O próprio Henry Kissinger, que estava à frente do Departamento de Estado, acompanha esta questão de perto e, a 9 de Dezembro de 1973, encontra-se com o ministro português dos Estrangeiros, Rui Patrício, em Bruxelas, à margem de uma reunião da OTAN. Kissinger agradece a ajuda portuguesa durante o conflito no Médio Oriente e refere também que os EUA continuam a precisar da base das Lajes e mostra-se compreensivo em relação às necessidades portuguesas de adquirir mísseis terra-ar para a defesa das colónias, mas salienta que o Congresso americano jamais aprovaria uma venda directa a Portugal, sendo necessário encontrar uma forma encoberta para fornecer os mísseis. 

Do lado português, Patrício declara que a situação militar na Guiné podia tornar-se crítica com a utilização de aviação por parte do inimigo e que poderia mesmo evoluir para ataques aéreos contra Bissau, não tendo as forças portuguesas meios eficazes para se defenderem deste tipo de ataques, daí a necessidade dos mísseis. Patrício explicou ainda que “um eventual desastre na Guiné poderia ter no plano interno consequências imprevisíveis”, podendo levar, inclusivamente, à queda do império colonial português e à substituição do Governo de Caetano por um governo esquerdista defensor de uma outra política ultramarina e da saída de Portugal da OTAN. 

Na opinião do governante português, uma derrota militar na Guiné não significaria apenas a perda para o Ocidente da Guiné e de Cabo Verde com o respectivo valor estratégico associado, “mas também dos próprios Açores” e da contribuição do continente português para a OTAN, o que seria negativo para os interesses americanos. Kissinger aludiu então a um encontro recente do embaixador português nos EUA, João Hall Themido, com o Presidente Nixon e às dificuldades em procurar encontrar-se uma fórmula de auxílio por intermédio de países terceiros, para evitar a oposição do Congresso.

A ideia de Kissinger era a de que os mísseis fossem fornecidos por um outro país de forma indirecta, sem envolver os EUA. Israel era uma possibilidade e o governante americano mostra estar a par dos contactos que o Departamento de Estado tinha feito em Washington, para o embaixador português João Hall Themido se encontrar com o seu homólogo israelita, daí a pouco tempo, de forma a discutir o assunto (10). Patrício termina a conversa dizendo que para Portugal “se tratava de uma questão de vida ou de morte e da maior urgência”, enquanto Kissinger replica “insistindo que o problema estava em como fazer os fornecimentos, pois havia a certeza de os fornecimentos directos serem proibidos”. 

Dois dias depois desta reunião, Themido encontra-se com o seu colega israelita na capital americana, seguindo uma indicação dada, alguns dias antes, por William Porter, subsecretário de Estado para Assuntos Políticos (11). O embaixador israelita, Simcha Dinitz, agradece a Themido a ajuda portuguesa prestada durante a guerra contra os árabes, mas é pouco esclarecedor quanto ao fornecimento de mísseis dizendo ao diplomata português que lhe parece que os únicos mísseis que Israel dispõe são os Hawk e que não sabe se Telavive os pode vender a Portugal, pois trata-se de material militar fornecido pelos americanos, mas que vai procurar saber junto do seu Governo (12). 

Pouco tempo depois deste encontro, Themido fala com o encarregado de negócios da embaixada israelita, que lhe confirma que Israel tem mísseis Redeye e Hawk, mas que os mesmos não podem ser fornecidos sem o consentimento americano e que a única coisa que Telavive pode fazer é vender material de origem israelita, caso isso seja considerado útil (13). Themido fica desapontado com a resposta israelita e da capital portuguesa recebe instruções para esclarecer o assunto junto de William Porter, que tinha sugerido o encontro (14).

 A 15 de Dezembro, o diplomata português dirige-se então ao Departamento de Estado para falar com Porter, que lhe diz que tinha apenas sugerido ao embaixador israelita que, em contacto com Themido, averiguasse da disponibilidade de material de guerra e da possibilidade de fornecimento, mas nada mais do que isso. Mais tarde, num telefonema para a embaixada portuguesa, Porter chega mesmo a dizer que nos contactos que tinha tido com Dinitz apenas lhe tinha dito que Portugal estava interessado em adquirir mísseis terra-ar, não admitindo que tivesse sugerido a entrega a Portugal de mísseis americanos, o que deixa Themido decepcionado com a atitude de Porter (15). A diplomacia portuguesa começa então a perceber o desinteresse americano em fornecer os mísseis.


5. A ameaça de ruptura da parte portuguesa

Este desinteresse vai atingir o seu ponto culminante a 8 de Fevereiro de 1974, quando o secretário de Estado Adjunto, Kenneth Rush, chama o embaixador português para lhe comunicar que os EUA não podiam fornecer os mísseis Redeye, por duas ordens de razão: em primeiro lugar, eram contra a proliferação desse tipo de armamento, estando mesmo em conversações com Moscovo para limitar a difusão de armas MANPADS (“Man-Portable Air Defense Systems”) e, em segundo lugar, os mísseis “seriam usados no plano interno na luta contra as guerrilhas, o que era inaceitável”. Em relação aos Hawk teriam de consultar o Congresso, caso Portugal concordasse com essa consulta (16). 

A posição de Rush leva o Ministério dos Negócios Estrangeiros em Lisboa a tomar uma medida drástica: Portugal rompe as negociações com os EUA para a renovação do acordo das Lajes, deixando Washington de usar a base açoriana. Esta tomada de posição é comunicada por Themido a Rush, a 18 de Março, deixando o governante americano estupefacto com tal intento! Apanhado de surpresa, Rush considera a decisão portuguesa extemporânea e promete ajudar Portugal fora do campo militar, pois se, “na parte militar, os auxílios dos Estados Unidos eram necessariamente limitados, na parte económica e técnica certamente haveria possibilidades ainda não exploradas” (17).

É neste encontro com Themido que surge a oferta de cooperação no domínio das centrais nucleares. Esta informação é transmitida a Lisboa, que rapidamente elabora um plano para a instalação de uma central nuclear em Portugal. O plano português previa uma central nuclear com uma potência na casa dos 2100-2300 Mwe brutos e com um valor de custo estimado em 6,75 milhões de contos (270 milhões de dólares) (18). O plano previa ainda a participação da indústria portuguesa na fabricação de uma “parte do equipamento do primeiro grupo nuclear e igualmente uma intervenção de gabinetes nacionais de engenharia no respectivo projecto executivo” (19). O combustível nuclear para os reactores seria enriquecido nos EUA e fornecido depois a Portugal.


6. As vias tortuosas de Kissinger

Como já foi dito, Rui Patrício deu grande prioridade a este projecto, embora não se tenha esquecido da questão dos mísseis, porém, a estratégia portuguesa de romper as negociações surte o seu efeito. A 11 de Abril, o próprio Kissinger escreve ao ministro português reforçando as palavras de Rush quanto a uma cooperação em áreas não militares e pedindo a Patrício sugestões a esse nível e mantendo o interesse americano em continuar a usar as Lajes, o que terá motivado certamente Patrício a dar primazia ao projecto da central nuclear (20).

Embora não faça qualquer referência na carta à questão dos mísseis Redeye, a verdade é que o Secretário de Estado americano cumpre o que prometeu e encontra uma forma de fornecer os mísseis por canais tortuosos. Em finais de Abril, um lote de 500 mísseis Redeye chega à Alemanha Ocidental com destino a Portugal (21).  Os mísseis são fornecidos por Israel através de um intermediário alemão e com a anuência americana (22).  O número de mísseis encomendado mostra que os Redeye não se destinavam apenas à Guiné, onde as forças portuguesas necessitavam de cerca de 200 mísseis, mas também a outros pontos das colónias portuguesas. 

Os mísseis custam 209 mil contos, mas não há qualquer informação de que este valor seja coberto pelo empréstimo sul-africano (23). Rui Patrício tem conhecimento deste desfecho, pois na carta que escreve a João Hall Themido, a 23 de Abril, dá conta dos contactos estabelecidos “por uma entidade privada com o Departamento de Defesa Nacional que se revestem da maior importância”, embora admita que “não temos ainda elementos suficientes para avaliar a origem verdadeira desta iniciativa e a sua efectiva possibilidade de concretização.”

Ainda que seja omisso quanto ao verdadeiro teor da dita iniciativa, tudo indica que se tratam dos mísseis, dado que o ministro dá instruções ao diplomata português para que retome as negociações do acordo das Lajes com o Departamento de Estado, um sinal de que as discordâncias que levaram à suspensão das negociações foram ultrapassadas, embora aconselhe Themido a não fazer qualquer referência aos mísseis nos contactos que venha a fazer. 

Para Patrício, o elemento fulcral das negociações deverá ser a central nuclear e o respectivo plano de investimento, dado não ser possível obter formalmente dos EUA equipamento militar que possa ser usado em África. Mesmo assim, o ministro português considera que Themido deve insistir no fornecimento de quatro aviões de transporte C-130, que devido ao seu raio de alcance podiam facilmente ser usados para transportar tropas e carga para África, embora nada garanta que os EUA concordem com tal pedido. 

Além dos C-130, é também referido o interesse português em quatro aviões de patrulhamento marítimo P-3 Orion, ainda que Patrício considere que os mesmos não são uma prioridade no contexto da guerra colonial (24). 

Dois dias depois desta carta, o regime marcelista desaparecia com a Revolução de Abril e a oferta da central nuclear não voltaria a ser mencionada em futuras negociações do acordo das Lajes.

José Matos

[Revisão / fixação de texto para edição no blogue: LG]
____________

Notas do autor:

(1) Carta do Ministério dos Negócios Estrangeiros para o Embaixador de Portugal em Washington, Lisboa, 23 de Abril de 1974, ADN/F3/14/29/4.

(2) Memorial sobre o acordo do empréstimo de 150 milhões de rands firmado com a República da África do Sul. Estado-Maior General das Forças Armadas (EMGFA), 18 de Setembro de 1975, ADN/F3/20/48/64.

(3) MATOS, José – “La Psychose des MiG dans la Guerre de Guinée”, in Airmagazine. Bagnolet. N.º 61, 2014, pp. 58-74.

(4) LOUDON, Bruce – “Portuguese rebels to get Russian MiGs”, in Daily Telegraph. Londres, 2 de Agosto de 1973, ADN, SGDN Cx. 3500.

(5) HERNÁNDEZ, Humberto Trujillo – El Grito del Baobab. 1ª Edição. Havana: Editorial de Ciencias Sociales, 2008, pp. 110-111.

(6) CAETANO, Marcello – Depoimento. 1ª Edição. Rio de Janeiro: Record, 1974, p. 180.

(7) THEMIDO, João Hall – “Dez anos em Washington 1971-1981”. 1ª Edição. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1995, pp. 100-102.

(8) THEMIDO, op. cit., pp. 128-129.

(9) Telegrama do Ministério dos Negócios Estrangeiros para Embaixada de Portugal em Washington, Secção de Cifra, 13 de Dezembro de 1973, ADN/F3/14/29/4.

(10) Apontamento do Ministério dos Negócios Estrangeiros sobre a conversa do Ministro com o Secretário de Estado Americano, Dr. Kissinger, em 9 de Dezembro de 1973, Lisboa, 10 de Dezembro de 1973, ADN/F3/14/29/4.

(11) Telegrama da Embaixada de Portugal em Washington para o Ministério dos Negócios Estrangeiros, Secção de Cifra do MNE, 4 de Dezembro de 1973, ADN/F3/14/29/4.

(12) Telegrama da Embaixada de Portugal em Washington para o Ministério dos Negócios Estrangeiros, Secção de Cifra do MNE, 11 de Dezembro de 1973, ADN/F3/14/29/4.

(13) Telegrama da Embaixada de Portugal em Washington para o Ministério dos Negócios Estrangeiros, Secção de Cifra do MNE, 13 de Dezembro de 1973, ADN/F3/14/29/4.

(14) Telegrama do Ministério dos Negócios Estrangeiros para Embaixada de Portugal em Washington, Secção de Cifra do MNE, 14 de Dezembro de 1973, ADN/F3/14/29/4.

(15) Telegrama da Embaixada de Portugal em Washington para o Ministério dos Negócios Estrangeiros, Secção de Cifra do MNE, 15 de Dezembro de 1973, ADN/F3/14/29/4.

(16) Telegrama nº 95 da Embaixada de Portugal em Washington para o Ministério dos Negócios Estrangeiros, Secção de Cifra do MNE, 8 de Fevereiro de 1974, ADN/F3/14/29/4.

(17) Nota secreta da Embaixada de Portugal em Washington sobre as negociações para a renovação do Acordo dos Açores, Sessão de 18 de Março de 1974, ADN/F3/14/29/4.

(18) Anexo à carta do Ministério dos Negócios Estrangeiros para o Embaixador de Portugal em Washington, Lisboa, 23 de Abril de 1974, ADN/F3/14/29/4.

(19) Ibidem.

(20) Carta de Henry Kissinger para o Ministro dos Negócios Estrangeiros português, 11 de Abril de 1974, ADN/F3/14/29/4.

(21) THEMIDO, op. cit., p. 164.

(22) THEMIDO, op. cit., p. 146.

(23) Nota nº 1229/AF/74 do Estado-Maior General das Forças Armadas para o Director-Geral da Contabilidade Pública, Assunto: Aquisição de conjuntos míssil-lançador “REDEYE”, 31 de Julho de 1974, ADN Fundo Geral Cx. 833/9.

(24) Carta do Ministério dos Negócios Estrangeiros para o Embaixador de Portugal em Washington, Lisboa, 23 de Abril de 1974, ADN/F3/14/29/4.

22 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Obrigado, José, pela atenção que tiveste, mais uma vez, para com o nosso blogue... O artigo é muito interessante, revelando o drama e a trama da nossa diplomacia de então, já com muito poucos graus de liberdade para poder manobrar...

Já agora, podias acrescentar que o custo estimado da central nuclear, em 1974 (c. de 6,75 milhões de contos) seria o equivalente, a precços de hoje, a c. de 1,1 mil milhões de euros...
Era muito "patacão"...

http://www.pordata.pt/Portugal

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Por outro lado, os 500 mísseis Redeye que deviam chegar a Portugal por um preço total de 209 mil contos (c. 34 milhões de euros, a preços de hoje) custavam cada um cerca de 68 mil euros... Isto também nos pode dar um ideia do custo (aproximado) do Strela... A guerra de guerrilha e de contra-guerrilha era cara de mais para os beligerantes... E pior ainda se entrasse em velocidade mach 1 ou mais, com MiG de um lado e Mirages do outro...

Felizmente que o PAIGC não tinha aviação nem MiG nem pilotos, em 1974... Mas nada garante que não pudesse vir a ter, em 1975 ou 1976, com a crescente "internacionalização" do conflito e, pior ainda, com o agravamento do isolamento internacional de Portugal... Felizmente que não há guerras eternas... Ou há ?

http://www.pordata.pt/Portugal

Juvenal Amado disse...

Quanto à central nuclear foi preciso lutar em Ferrel em 1975 (já com outros actores) para que ela não fosse aí instalada e por fim abandonado o projecto.

Quanto à possibilidade de o PAIGC vir a ter força aérea hoje sabemos que estavam ainda longe disso, mas quando colaram cartazes nas cantina a avisar para esse risco não fiquei nada sossegado.

Quanto à negociações com o regime antigo as democracias davam uma no cravo e outra na ferradura

antonio graça de abreu disse...

E a guerra na Guiné, em termos militares, estava perdida em 24 de Abril de 1974? Não me venham com mais histórias da carochinha.
Claro que também não estava ganha.

Abraço,

António Graça de Abreu

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Poucos de nós sabem que temos aqui, na Tabanca Grande, um dos pioneiros da luta contra o nuclear em Portugal!...

O nosso camarada Joaquim Jorge, de Ferrel, fou um dos l+ideres deese movimento de contestação à construção de uma central de energia nuclear, em Ferrel, concelho de Peniche!...


Veja -se aqui:

https://gazetacaldas.com/sociedade/os-36-anos-do-levantamento-de-ferrel-contra-o-nuclear-foram-assinalados-em-peniche/

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Os 36 anos do levantamento de Ferrel contra o Nuclear foram assinalados em Peniche
Gazeta das Caldas. 5 de abril de 2012

https://gazetacaldas.com/sociedade/os-36-anos-do-levantamento-de-ferrel-contra-o-nuclear-foram-assinalados-em-peniche/

Um dos pioneiros da luta anti-nuclear de Ferrel


No final os participantes recordaram memórias ligadas ao levantamento popular
Joaquim Jorge, 71 anos, é natural de Ferrel e foi um dos activistas desta luta, tendo também querido marcar presença nesta sessão comemorativa . “O meu pai tinha um terreno que confinava com aqueles terrenos baldios, designados do Moinho Velho”, contou explicando que era naquele local onde estavam a iniciar-se as pré-estruturas da construção da futura central nuclear, em 1976.

“Aqueles eram (e são) terrenos baldios”, esclareceu o activista que já na época era o contacto da Gazeta das Caldas e que descrevia para este semanário o que ia acontecendo naqueles dias quentes da década de setenta do século passado.

Joaquim Jorge recordou que as movimentações relacionadas com a instalação da energia nuclear em Portugal vinham desde a segunda parte da década de 60 e nessa época acompanhava o seu pai que tinha uns terrenos para aquela zona de Ferrel. “Eu via lá homens a trabalhar e perguntava-lhes para que era aquilo e tanto questionei que lá me disseram que era para produzir electricidade e que iria ser muito bom para a região”, relembrou Joaquim Jorge.
Posteriormente e depois do 25 de Abril foi-se informando com amigos de Ferrel que estavam a estudar em Lisboa, bem como com José Luís de Almeida Silva que já então dirigia a Gazeta das Caldas e que lhe mandavam literatura sobre energia nuclear.

“Comecei a ver que era algo que não nos interessava e fiz cartazes explicativos que deixava nas tabernas e nos cafés com o intuito de informar as pessoas que aquela opção não seria a melhor”, contou o participante que a partir de então se fez um activista anti-nuclear.
Recorda-se de interpelar o ministro Walter Rosa em 1976 sobre este tema num comício eleitoral e de ter até provocado algum alarido dado que a construção da futura central nuclear em Ferrel era o tema quente daqueles dias.

Joaquim Jorge considera que teve um papel importante nesta luta pois em 1976, antes da existência de grupos e associações organizados, andou sozinho a esclarecer a população de que aquela era uma má opção para a sua aldeia. E no dia do levantamento, 15 de Março de 1976, Joaquim Jorge volta a ter um papel de destaque pois foi ele que pediu à sua mãe, então encarregada da igreja da vila que tocasse a fogo (muito depressa) o que levou à reunião do povo de Ferrel que então se encaminhou para o Moinho Velho e não deixou que as obras avançassem. “Fomos todos, uns com forquilhas, outros com enxadas, uns a pé, outros de tractores ou de carroça…, aquilo parecia uma invasão!”, recordou. Só depois do levantamento é que foram constituídos vários grupos de luta anti-nuclear, como a CALCAN (Comissão de Apoio à Luta Contra a Ameaça Nuclear).

Joaquim Jorge lembra que foi de facto uma decisão acertada pois há várias alternativas limpas para a produção energética, sem prejuízo para as populações.

Os terrenos baldios onde o Estado queria iniciar a implementação de uma central nuclear estão hoje todos cultivados por quem quis ocupar naquela altura e hoje “são a principal fonte de receita com base nos hortícolas de Ferrel”, disse Joaquim Jorge.

(...)

Tabanca Grande Luís Graça disse...

António, o José Matos não faz nenhum afirmação dessas, que a guerra estava perdida no dia 24 de abril... Não vamos, pro favor, voltar à vaca fria... O que ele diz é diferente:


(...) "Antes de mais nada, importa contextualizar as negociações de 1974, que decorreram num clima difícil para Portugal, que estava principalmente interessado no fornecimento de equipamento militar para usar na Guiné, onde a situação militar era desfavorável para as forças portuguesas. Todavia, no contexto internacional, o regime português estava cada vez mais isolado e enfrentava dois problemas na aquisição de novos armamentos: (i) não tinha dinheiro para grandes aquisições de equipamento militar; (ii) não tinha muitos aliados que pudessem fornecer o armamento necessário. " (...)

Tu estvas lá, eu não estava, tens mais "autoridade" do que eu para falar do assunto, podias sentor o "clima"... O que eu também depreendo da leitura do teu "Diário da Guiné" é que o moral das nossas tropas não era famoso---É verdade que o da rapaziada do PAIGC também não era melhor... Nós e eles estávamos cansados da guerra...

Tabanca Grande Luís Graça disse...

A notícia do "Daily Telegraph" de 2 de Agosto de 1973, da autoria do correspondente em Lisboa, o jornalista Bruce Loudon (, segundo a qual a guerrilha estava "apenas a seis meses de atingir uma capacidade de ataque aéreo com caças MiG russos”) nunca a vi confirmada... Onde é que estavam esses 40 guerrilheiros do PAIGC a receber cursos de pilotagem na Rússia ? Quem foram eles ? Como se chamavam ? Como é que foram aproveitados depois da independência ? Por que é o Luís Cabral foi buscar um camarada nosso, o nosso saudos José Luís Pombo Rodrigues (1934-2017), para pilotar o seu "jacto" presidencial, oferta dos suecos (salvo erro...) ?

Recorde-se o que ele me confidenciou tempos antes de morrer:

(...) "O comandante Pombo privou com os dois, o Luís Cabral e o 'Nino' Vieira. Dos dois era incluive "amigo". Ao ‘Nino’ Vieira tratava-o mesmo por tu. E o Pombo continuou a ser o comandante Pombo, depois da independência da Guiné-Bissau. Terá havido um acordo entre as novas autoridades de Bissau e o governo português para que ele ficasse na Guiné... O PAIGC não tinha pilotos (muito menos MiG ou outros aviões). O comandante Pombo pilotava o pequeno Falcon que fora oferecido ao Luís Cabral, já não sei por quem. Este gostava muito dele, cmdt Pombo, e sempre que viajava com ele trazia-lhe uma garrafa de.. champagne. " (...)

O Luís Cabral se tivesse os 40 pilotos, acabados de treinar pelos russos, não precisava de nehum "tuga" para pilotar o seu Falcon!... A menos que não tivesse confiança nenhuma na competência desses e dos seus instrutores russos...

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/2017/09/guine-6174-p17734-tabanca-grande-445.html

Tabanca Grande Luís Graça disse...

O diplomata João Manuel Hall Themido, embaixador de Portugal em Washington (1971-1981), acaba de morrer há dias, em 7 de novembro. Nascera em 1924.

https://pt.wikipedia.org/wiki/Jo%C3%A3o_Hall_Themido

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Vdja-se também o seu outro livro:

Uma Autobiografia Disfarçada
João Hall Themido

Editora: MNE - ID
Tema: Ciências Sociais
Ano: 2008
Livro de capa mole
ISBN 9789898140012 | 216 págs.
€17.16 | €15.44

http://www.almedina.net/catalog/product_info.php?products_id=7677

SINOPSE
Índice

Introdução
Tânger e o Embaixador António de Faria
Tânger e Natália Correia
Nova Delhi e o Embaixador Vasco Vieira Garin
Londres e o Embaixador Pedro Theotónio Pereira
Londres e o Embaixador Adolfo Abranches Pinto
Estocolmo e o concurso para Conselheiro
Paulo Cunha e a defesa de Goa
O Ministério dos Negócios Estrangeiros dos anos sessenta
Reencontro com Alberto Franco Nogueira
As crises da Rodésia e do Biafra
A Missão que salvou Macau
Os americanos e a política colonial portuguesa
Salazar e o Ministério dos Negócios Estrangeiros
Roma e a compra da Vila Barberini
Amália e os Lunedi do Sistina
As Relações Transatlânticas e a situação portuguesa
A chegada a Washington
Washington - as primeiras impressões
O ultimato americano
A base das Lages
Os Estados Unidos e a revolução portuguesa
Os vultos da revolução
A mitificação de Aristides de Sousa Mendes
Regresso à Secretaria de Estado
Londres - a última etapa
Nota Final

Antº Rosinha disse...

A Central Nuclear era uma ideia encasquetada do Ministro da Indústria, Veiga Simão marcelista vira-casacas.

Com ele eram as celuloses, essa desgraça ecológica, Sines outro crime ecológico, que devia ter parado em 74 porque tinha sido concebida só para o petróleo de Cabinda.

So faltava o nuclear para deixarmos de ser o país dos coitadinhos, da sardinhinha, do vinhinho, do azeitinho, do atrazidinho do "Botas".

A respeito da guerra da Guiné, tínhamos "cinicamente" do nosso lado a`´Africa do Sul e a Rodésia, apoiadas sub-repticiamente pela Inglaterra, América e Judeus (Kissinger).

E o tampão eramos nós, Angola e Moçambique, e se nos aguentássemos, o apoio estava a ser cada vez mais nítido através desses dois vizinhos.

Os sul-africanos tinham "patenteados" todos os tipos de armamentos, viaturas e aviões e helicópteros, dispostos a fornecer tudo o que solicitássemos, mesmo apoio do próprio exército.

Nós é que titubeámos, e "roemos-lhe a corda".

Ficamos sempre a meio.

A respeito da obra monumental de Ferrel, a loucura chegou ao ponto de as Obras a sério e lógicas programadas na primavera marcelista, autoestradas da Brisa e Alqueva, foram as únicas que estupidamente pararam, só recomeçando do os Euros cavaquistas, anos 80 e 90.

Ainda há gente a sonhar com Nucleares.


Jose Matos disse...

Olá a todos

Sobre os pilotos guineenses é óbvio que a preparação deles acabaria por ser semelhante aos da Guiné-Conacri, ou seja, sabiam levantar e aterrar o MiG, pouco mais que isso. Portanto, nunca seriam grande ameaça para as forças portuguesas. Nem se sabe se teriam depois MiGs para pilotar, portanto, tudo isso foi inflacionado…
Quando se deu a independência os que estavam na URSS devem ter voltado sem acabar o curso de MiG e portanto não tinham qualquer competência para pilotar um Falcon. Não admira que tenham contratado o Pombo Rodrigues….

Ab

José Matos

Anónimo disse...

Vários mitos sobre os "mig"

1.º O PAIGC não tinha dinheiro para comprar e manter os ditos.
2.º A URSS não iria vender porque iria internacionalizar o conflito (não esquecer que a guiné estava sobre administração portuguesa, reconhecida pela ONU)
3.º O Sekou Touré não iria permitir que o PAIGC os tivesse, se não confiava no seu próprio exército muito menos confiava no PAIGC.
4.º Não era verdade que o PAIGC tivesse alguém a ter instrução para piloto.
5.º Onde ficaria a base aérea para operarem ?

AB

C.MARTINS

Carlos Vinhal disse...

Caro C. Martins, e não justificaria que, a serem ultrapassadas as suas fronteiras, Portugal não passasse a ter legitimidade para retaliar, violando o espaço aéreo da Guiné-Conakri? O chamado olho por olho.
Estranho é o facto de os nossos governantes, e cúpulas militares, admitirem a hipótese de o PAIGC recorrer aos tais meios aéreos. Denota uma desorientação total e uns "serviços secretos" completamente incompetentes. A guerra estava mesmo no fim, falta de estratégia, medo e acção ao sabor dos boatos.
Carlos Vinhal

Cherno AB disse...

Caros amigos,

Tudo isso que voces dizem eh pura verdade, por exemplo:

1.º O PAIGC não tinha dinheiro para comprar e manter os ditos.
2.º A URSS não iria vender porque iria internacionalizar o conflito (não esquecer que a guiné estava sobre administração portuguesa, reconhecida pela ONU)
3.º O Sekou Touré não iria permitir que o PAIGC os tivesse, se não confiava no seu próprio exército muito menos confiava no PAIGC.
4.º Não era verdade que o PAIGC tivesse alguém a ter instrução para piloto.
5.º Onde ficaria a base aérea para operarem ?

Mas, "n'empeche", o PAIGC ja tinha armas Anti-aereas das mais modernas (Strela) que limitavam seriamente as actividades operacionais dos avioes no CTIG;

Tinham conseguido colocar todas as guarnicoes (quarteis) situadas ao longo das duas fronteiras em situacao de perigo permanente e de quase sitiados;

No campo diplomatico, tinham conseguido colocar Portugal numa situacao insustentavel e de permanente pressao internacional;

E, ainda voces conseguem manter essa atitude de eterno menosprezo pelas suas capacidades de accao e de adaptacao as diferentes situacoes.

Sobre a operacao "Mar-verde", A. Cabral escreveu na sua mensagem de novo ano de 1971, sobre as causas do falhanco da operacao:

- "Primeiro, devido a pronta resposta do povo irmao da Guine e das suas forcas armadas";
- "Mas, tambem, eh preciso descobrir, no proprio seio da mentalidade portuguesa, a causa interna, que motivou a sua Aventura e, consequentement a sua derrota. Ela reside, profundamente, no desprezo secular que sempre manifestaram pelo Homem africano. Esse desprezo, que se traduziu eleoquentemente na celebre frase de Salazar - (a Africa nao existe)".

Com um abraco amigo,

Cherno AB


Carlos Vinhal disse...

Caríssimo Cherno, é próprio do ser humano desgostar ou ter medo do desconhecido. Naquele tempo, África era sinónimo de selva e bicharada perigosa.
Também os africanos, neste caso com razão, viam nos brancos (todos) potenciais inimigos, mas repara que eram os próprios pretos de África que "arrepanhavam" os seus semelhantes no interior da mata, entregando-os posteriormente aos brancos para o comércio da escravatura.
Tens razão, ao tempo, os "civilizados" brancos consideravam os africanos seres inferiores, até pela diferença da cor da pele. Obrigavam-nos a cristianizarem-se para lhes salvar a alma de infiéis. Mas até hoje não se mudou muito, olha para o Médio Oriente, sempre a religião ao serviço da guerra, com a agravante de que hoje há informação e já não se actua porque se desconhece, pelo contrário, porque se conhece bem.
Julgo que falar de mentalidade portuguesa é particularizar a luta na Guiné, Angola ou Moçambique. O que era a mentalidade portuguesa? Seria diferente da de outros povos europeus?
Também será errado vermos a história com os olhos de hoje, mas não quero com isto desculpar o passado.
Recebe um abraço
Gosto de te "ouvir", porque sendo nosso incondicional amigo, és justo nas tuas observações.
Carlos Vinhal

Anónimo disse...

Caro Cherno

Não posso deixar passar em claro o teu comentário,porque me citas e fazes um processo de intenção.
Tens toda a razão no que dizes excepto quando referes o "menosprezo"que supostamente eu sentia em relação aos "pretos".
Estás completamente errado.Os soldados que comandava eram todos guineenses de diferentes etnias e eram de um valor militar e humano extraordinário.Tinha um grande orgulho em todos eles e penso que esse sentimento era reciproco.
Como sabes a personalidade o carácter a forma de ser e estar e o comportamento social do ser humano está directamente relacionado com o meio e ambiente em que se foi criado,e que nada tem a ver com a cor da pele.Esta é a minha forma de pensar e estar.
Que há muitos idiotas "brancos" que pelo simples facto de o serem se julgam superiores aos "pretos" é verdade..
Um grande AB para ti e para toda a tua família.

C.Martins

Cherno Balde disse...

Caros amigos Carlos (os dois),
Como eh de vosso conhecimento, tambem eu (bem como toda a minha comunidade que se aliou e apostou em Portugal) perdi (perdemos) aquela guerra e nao adianta questionar se militar ou politicamente. Desde os meus 14/15 anos que jurei a mim mesmo que, custe o que custar, nunca faria parte do PAIGC. Detestei-o pelo que fez e pelo que representa na sua essencia.

Mas, atencao! O PAIGC por aquilo que foi capaz de fazer, nao deve ser memosprezado ou subestimado e, nisso, todos os grandes comandantes que passaram na Guine sao unanimes. Este eh aspecto particular, so relativo a nossa guerra colonial ou de libertacao.


Depois ha o aspecto geral, sobre a capacidade de um Guineense ser capaz ou nao de pilotar um aviao a jacto (MIG) ou um Falcon, como alguns sugerem de passagem, nas mesmas condicoes que um europeu qualquer, para nao dizer Portugues. Isto eh uma ofensa geral camuflada a todos os africanos, foi o aspecto que justificou a citacao do discurso de A. Cabral feito por ocasiao da celebracao do novo ano em 1971, incluido nas suas obras escolhidas.

Por opcao propria passei parte da infancia junto de tropas portuguesas e adulto, estudei em Universidades portuguesas, tenho e sempre tive grande estima e respeito por todos os portugueses, por aquilo que sao e representaram para a minha comunidade apesar da mutua desconfianca.

Amigo C. Martins, seja bem vindo de novo a sombra do Grande Poilao e da nossa TG. Todos fazem falta nem que seja para dar sinal de vida, como costuma dizer o nosso Editor principal e Mago dos tempos novos, o Amigo Luis Graca.

Aceitem um abraco amigo,

Cherno AB

Jose Matos disse...

Caro Cherno
A questão dos pilotos guineenses e mesmo outros africanos, nada tem a ver com ser africano. O problema tem a ver com a formação de pilotagem que era dada a estes candidatos a piloto na URSS e depois com a própria capacidade para sustentar as aeronaves. O caso que conheço bem era o da Guiné-Conacri que era uma desgraça e que eu faço referência neste artigo:
https://www.revistamilitar.pt/artigo/1017
Portanto, o problema era a curta formação que tinham na URSS que fazia com que as aptidões de pilotagem e a experiência de voo fossem muito baixas e não permitissem tirar grande rendimento das aeronaves. Além disso, os próprios MiGs estavam muitas vezes inoperacionais por deficiências de manutenção e falta de capacidade em sustentar a frota, o que piorava ainda mais as qualificações dos poucos pilotos para pilotar os aviões. Portanto, não vejo que fosse muito viável o PAIGC ter uma força aérea operacional na Guiné-Conacri e acho que toda essa questão foi inflacionada na época como estratégia de propaganda…

Ab

José Matos

Antº Rosinha disse...

Não queria entrar nisto, mas tem que ser, nesta dos pilotos e dos MIG.

Porque vi um piloto preto, bem "uscuro" também há pretos claros, os pretos não são todos iguais, em Bissau, entrar e sair de um dos dois MIG que os soviéticos mantinham em Bissau nos anos 1983 e 84.

Se o vi entrar, levantar vôo, aterrar passados uns minutos, a Guiné é pequenina, demora pouco tempo a chegar ao fim, posso provar que os pretos também "sabem voar" ió!

Agora quem era esse preto, é que ninguém sabia, porque socialmente não se via em lado nenhum de Bissau, os soviéticos viviam muito isolados.

Seria guineense? Eram coisas que talvez nem o Nino saberia quem ele era.

Sabemos que havia na altura uma pequena quesília com a Guiné Conakry, porque constava que tinha sido prospetado petróleo numa pequena ilhota dos Bijagós, que não estava bem definida na fronteira comum e que os aviões estavam a levantar mais vezes para impressionar militarmente...ninguém se meta connosco!

Mas como em Bissau é tudo uma intriguice pegada, até se podia imaginar que se houvesse azar com o avião, os soviéticos poderem dizer, que "não fomos nós, os russos, foi o preto".

Porque assisti a isso? já me repito, trabalhei no prolongamento da pista e melhoramento do aeroporto, durante dois anos pela Tecnil e Soares da Costa.

Mas na minha opinião, os russos dificilmente arriscavam aqueles MIG 19 ou 21, não sei, demasiado artesanais, manutenção caríssima e muito difícil em África, até o próprio abastecimento do simples combustível era, e ainda é hoje, para qualquer aeroporto africano, quanto mais naqueles anos.

Por causa do apoio militar a Bissau, os Russos chegaram a manter duas carreiras de Tupolev semanais, carregados sempre de gente e material, sem falar de navios periódicos, evidentemente que nesse tempo estava tudo ligado com a guerra de Angola, Africa do Sul, MPLA/UNITA/CUBA/URRSS.

Era só isso, vi um piloto, ou africano, ou afrodescendente, pilotar um MIG, no aeroporto de Bissalanca.

Anónimo disse...

Caros amigos, Rosinha e J. Matos,

Embora os dois tenham uma costela Guineense, estou mais a vontade com o Rosinha, pois como ex-rafeiro e Jubi de Quartel sempre me mantive a uma razoavel e prudente distancia dos Oficiais, pois no mato um Cap. Comandante de uma companhia de quadricula tinha mais poderes que um Coronel em Bissau, entenda-se.

O meu compatriota q trabalha no VOA (Herbert) deixou o blogue porque alguem lhe faltou ao respeito por ter afirmado q tinhamos Pilotos de MIG, no inicio dos anos 80. Toda a gente sabe isso em Bissau e o Rosinha acaba de o confirmar. Em 1998, um desses Pilotos levantou voo da Base Aerea com um daqueles MIGs, fez um voo rasante sobre a praca de Bissau e voltou a origem. Todos consideraram-no um gesto suicida, pois o aviao estava parado ha muito tempo e sem manutencao.

Outra coisa eh ter os recursos e as capacidades tecnicas para manter uma frota de avioes, como diz o Jose Matos, e nisso estamos de acordo. A Guine-Bissau nao esta ao nivel de Portugal(ai de Portugal se fosse assim), da mesma forma q Portugal nao esta ao nivel dos EUA ou da Russia.

Os poucos Pilotos preparados na altura, acabaram por se integrar em companhias civis, em Cabo-Verde e outros paises, inclusive o filho mais velho de Nino Vieira q acabou por morrer num acidente aereo.

Tudo eh questao de vontade, de meios e de preparacao.

Um grande abraco,

Cherno AB

Anónimo disse...

PS/ Na equipa preparada pelos Russos, havia Pilotos e Mecanicos/Tecnicos de manutencao.

Cherno