segunda-feira, 12 de fevereiro de 2024

Guiné 61/74 - P25163: Notas de leitura (1666): "Nas Três Frentes Durante Três Meses, Toda a Verdade da Guerra Contra o Terrorismo no Ultramar", por Martinho Simões; Empresa Nacional de Publicidade, 1966 (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 1 de Setembro de 2022:

Queridos amigos,
Já aqui estavam referenciados alguns apóstolos da hagiografia jornalística, caso de José Manuel Pintasilgo, Horácio Caio, Dutra Faria, Amândio César. Inesperadamente, surgiu-me este trabalho de Martinho Simões, era inevitável que o trouxesse ao vosso conhecimento. Andou muito de quartel em quartel, graças à DO. Nunca se fala em bombardeamentos, nos nossos mortos e feridos, não há descrição de um aquartelamento, as conversas ficam circunscritas aos oficiais, dá como inteiramente fidedignos os comentários de quem lhe faz os briefings; não há quartéis do PAIGC dentro do território, são sempre bandoleiros que batem e fogem para o Senegal ou República da Guiné; Amílcar Cabral é um fantoche do comunismo, um traidor e um renegado, tem sofrido tanta deceção e repúdio das populações que é cada vez mais difícil recrutar gente para o terrorismo. É mais uma relíquia para juntar às outras. E a sua proposta para a existência de correspondentes de guerra não foi levada a sério.

Um abraço do
Mário



Martinho Simões, enviado especial do DN na Guiné, 1965

Mário Beja Santos

Sob a forma de livro, com o título "Nas Três Frentes Durante Três Meses, Toda a Verdade da Guerra Contra o Terrorismo no Ultramar", por Martinho Simões, Empresa Nacional de Publicidade, 1966, temos agora acesso às reportagens do enviado especial do DN a Moçambique, Angola e Guiné, em 1965, todas elas publicadas no jornal Diário da Avenida da Liberdade.

 Naturalmente que é uma obra apologética, combatemos terroristas, bandidos que têm bases perto das fronteiras das nossas colónias, felizmente que eles têm pouquíssimo apoio das populações que preferem a soberania portuguesa. Desconhecia inteiramente esta obra, faz todo o sentido aqui se deixar do seu conteúdo as ideias principais. Tinham dito a Martinho Simões (e ele reconhece que não passava de boato malévolo) que as populações guineenses viviam apavoradas; que os nossos soldados não se atreviam a sair dos quartéis; que os terroristas se não eram os senhores da guerra, tomavam, contudo, iniciativas que traziam a marca da confiança que nasce da superioridade; e que uma parte da província caíra em poder do inimigo. Ora a verdade desfaz o boato e a verdade disseram-lhe oficiais com quem contatou logo à chegada, mesmo o general Arnaldo Schultz. Não teve quaisquer restrições no seu trabalho, e apresenta o leitor a Guiné, a superfície, as etnias, a quase total lealdade a Portugal. Seja como for, a luta era dura e cruel, estes comunistas às ordens de Moscovo procuravam metodicamente a subversão.

Alude à História da Guiné, não deixa de se assombrar com a mistura de povos, refere o portuguesismo dos comerciantes da Guiné depois de nos dizer que os nativos eram os donos de todo o território da Guiné. Não sei onde é que ele foi buscar a convicção de que Barbosas & Comandita foi a primeira firma a hastear a bandeira nacional em território guineense, em 1920 já António da Silva Gouveia tinha empresa; e refere as obras sociais de grande significado de Barbosas & Comandita, da Casa Gouveia e da Sociedade Comercial Ultramarina; Martinho Simões esteve no Ilhéu do Rei e pôde apreciar o centro industrial da Casa Gouveia. Tece louvores ao trabalho do Movimento Nacional Feminino na Guiné, à sua importante atividade de assistência à família, lembranças aos militares, o seu serviço de contencioso, a sua intensa atividade em apoio das subvenções e pensões.

Vai de DO até perto da fronteira, nunca ficaremos a saber qual e onde; acompanhado pelo Tenente-coronel Rebelo de Andrade percorreu toda a linha da fronteira, desde a ponta Norte ao extremo Sul – o Cantanhez e a ilha do Como incluídos. 

“Posso acrescentar que passei algumas horas num posto, a meia dúzia de metros de terras da República da Guiné. Ao longe, os pobres palhaços de Amílcar Cabral (não resisto a nomear, desde já, o traidor) mantêm uma expetativa ansiosa, hesitantes entre as ordens dos seus chefes e o amor à pele que, mau grado e promessas discursatas, constituem um bem que lhes custa perder.” 

E avalia o potencial inimigo: 

“Os bandoleiros são cobardes. Vêm pela calada da noite, lançam os engenhos de morte que os comunistas lhes oferecem em abundância e fogem para os seus acampamentos centralizados nos países vizinhos”.

Visita o Comando da Defesa Marítima da Guiné, visita pela mão do Comodoro Ferrer Caeiro, reunião elucidativa, ouviu relatórios e explicações, viu mapas, examinou provas concretas e fez perguntas, recebeu respostas objetivas. E visitou as oficinas navais, em franco desenvolvimento. Esteve na base aérea, pôde avaliar o trabalho extraordinário na recolha de feridos, no transporte e ligação de militares e civis, em reconhecimentos e em missões táticas. Estranhamente, nem uma palavra sobre os bombardeamentos. Visitou o Batalhão da Intendência na Fortaleza de São José da Amura, viu o seu trabalho ciclópico para que os alimentos e iguarias chegassem a todos os pontos da Guiné para os festejos do Natal. Ficou surpreendido com o funcionamento do hospital militar, dá conta das camas, das consultas, das intervenções cirúrgicas. Apreciou o programa radiofónico das Forças Armadas, emocionou-se a valer quando viu um artigo do dr. Augusto de Castro, então diretor do DN, lido aos microfones da emissora provincial, em português, em crioulo e fula. Encontrou-se em Bula com o Tenente-coronel Henrique Calado, glória do hipismo nacional.

E veio a história do chefe dos bandoleiros da Guiné, o traidor e ingrato Amílcar Lopes Cabral, conhecido na subversão como Abel Djassi. Quanto lhe pagará o movimento comunista. Faz uma curta digressão sobre a FLING e a UNGP (União dos Naturais da Guiné Portuguesa) e como o traidor se sobrepôs a todos. Pior do que tudo, Abel Djassi naturalizara-se cidadão da República da Guiné e trabalhara para o Ministério da Agricultura local. Como castigo, o renegado, agora, só dificilmente podia fazer o recompletamento dos seus grupos desfalcados, fez-se amigo dos vietcongs, visita Havana. E ficamos a saber que em Paris há um outro libertador, Fradique Castro, que promete a independência de Cabo Verde e condena o PAIGC. De novo em avião, segue para Cabedu, dá como inteiramente demonstrado que este posto, situado entre o Cantanhez e a Ilha de Como, rechaça as investidas dos bandoleiros. 

“Estive em Cabedu e em Beli. Nos dois postos, os militares não se confinam aos estreitos limites dos quartéis, não se escondem atrás do arame farpado, não vivem amedrontados. De Cabedu e de Beli as patrulhas continuam a sair regularmente, batendo os caminhos e os campos limítrofes, restabelecendo a ordem que a subversão perdurou. O inimigo só de longe em longe aparece, em rápidas e cobardes incursões, para logo regressar às bases de onde veio – na República da Guiné.”

Visita Bolama, sente que a cidade perdeu animação e fulgor. Increpa-se contra o que ele chama o terrorismo branco – os derrotistas, os fabricantes de mentiras, aqueles que, no doce viver da paz, se esquecem dos que estão em guerra, os que entendem ser preferível a renúncia à defesa do património nacional. Lança críticas também ao jornalismo, não percebeu o silêncio da imprensa moçambicana com a guerra feroz que se trava no Norte. Mostra-se favorável ao aparecimento de correspondentes de guerra. 

“Só eles sabem e podem desenvolver e esclarecer as indicações forçosamente sintéticas dos comunicados oficiais, que, aliás, também não são em número suficiente.” 

Agradece a colaboração recebida nas três frentes. E comenta: 

“Apercebi-me do autêntico significado de terrorismo, das implicações de uma luta de guerrilhas, em que o inimigo se dilui e foge ao contato com as forças da ordem, em que os bandidos recusam, sistematicamente, o combate em campo aberto, contentando-se com surtidas eventuais.
Torna-se inevitável, portanto, uma tenaz perseguição, que lhes crie o desassossego, que os desmoralize, que lhes roube a possibilidade de qualquer iniciativa. É uma guerra sem quartel, fluida, por isso mesmo mais demorada e difícil.”

Jornalista Martinho Simões, imagens dos arquivos da RTP
Em Pequim, a preparação do primeiro grupo de revolucionários, vemos de pé, entre outros, Osvaldo Vieira, Constantino Teixeira e Francisco Mendes e de joelhos Nino Vieira, Saturnino da Costa e Rui Djassi
O centro de Bissau em 1966
General Arnaldo Schulz a dirigir a mensagem de Natal de 1966, arquivos da RTP
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Nota do editor

Último poste da série de 9 DE FEVEREIRO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25153: Notas de leitura (1665): O Santuário Perdido: A Força Aérea na Guerra da Guiné, 1961-1974 - Volume II: Perto do abismo até ao impasse (1966-1972), por Matthew M. Hurley e José Augusto Matos, 2023 (11) (Mário Beja Santos)

1 comentário:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

O MNF....

(...) Publicou, sem grande sucesso, as revistas Presença e Guerrilha. A primeira era uma publicação mensal dirigida por Luíza Manoel de Vilhena, e a segunda uma revista mensal para militares, dirigida por Cecília Supico Pinto e tendo como chefe de redacção, primeiro, Martinho Simões e depois, Mário Matos Lemos. (...)

https://pt.wikipedia.org/wiki/Movimento_Nacional_Feminino

Lembro-me bem dele, da televisão "a preto e negro": falava "achim" e era chato para burro... Fez pela "vidinha" como todos os serventuários... "Jornalista" ? Tem que rimar com liberdade, independência, espírito crítico, pluralismo, irreverência (em relação ao poder, político, económico, etc.)... Havia gente boa no jornalismo, apesar da mordaça da censura e da PIDE...