domingo, 11 de fevereiro de 2024

Guiné 61/74 - P25157: Por onde andam os nossos fotógrafos? (19): António Murta, ex-alf mil inf MA, 2ª C/BCAÇ 4513 (Aldeia Formosa, Nhala e Buba, 1973/74) - Parte V: A visita da "Cilinha" a Nhala a um mês e meio do 25 de Abril de 1974


Foto nº 1


Foto nº 2

Foto nº 3

Foto nº 4

Foto nº 5

Foto nº 6

Foto nº 7

Foto nº 8 

Foto nº 9


Foto nº 10

Froto nº 11

Guiné > Região de Tombali > Nhala > 2.ª CCAÇ / BCAÇ 4513 (Aldeia Formosa, Nhala e Buba, 1973/74) >  Domingo, 10 de março de 1974 > A visita da Cecília Supinco Pinto ("Cilinha")

Legendas:

Fotos nº 1 >   Cilinha, à chegada, num momento de descontração. Boas vindas da companhia com os apertivis possíveis.

Foto nº 2 -  A Cilinha a dialogar com o cmdt do BCAÇ 4513 (Buba); em primeiro plano o cap João Brás Dias, comandante da 1.ª CCAÇ/ BCAÇ 4513 (Buba).

Foto nº- 3 >  Messe de oficiais de Nhala. O Comandante do Batalhão diz umas palavras de circunstância.

Foto nº 4 > Deois de ter falado para  um pequeno juntamento de militares e nativos, a Presidente do MNF prepara-se para partir para Aldeia Formosa.

Foto nº 5 > A  "Cilinha",  oten- cor Carlos Ramalheirao  e  cmdt da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (Nhala), cap Braga da Cruz. 

Foto nº 6 > A "Cilinha", com a ajuda do ten-cor Ramalheitra, sobe para a Berliet.

Foto nº  7 > A "Cilinha" e o  ten-cor Ramalheitra acomodam-se na  Berliet.,

Foto nº 8 > Beijo de despedida do cap Braga da Cruz.

Fotoo nº 9 > A "Cilinha" despede-se de um alferes náo identificado  
 
Foto nº 10 - Último adeus da "Cilinha" ao pessoal de Nhala. 

Foto nº  11 -  Partida +ara Mampatá, o aquartelamento seguinte. (A mim pareceu-me mal que a Cilinha e o Comandante de Batalhão tivessem seguido à cabeça da coluna numa Berliet rebenta-minas; ao lado direito; a escolta foi feita por  fuzileiros do destacamento de Cacine.)

Fotos (e legendas): © António Murta  (2015). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. A visita da Cilinha  (seu nome de guerra) era sempre motivo para algum alvoroço nos nossos aquartelamentos... Antes de mais, pela curiosidade de  ser uma das raríssimas  mulheres brancas que se podia ver no mato, em plena guerra, em carne e osso... E sempre bem vestida. Secundariamente,  por ser a histórica e carismática líder do MNF - Movimento Nacional Feminino que, para alguns  nossos soldados,  tinha sobretudo a função de "Pai Natal": com sorte, um pedido ao MNF, desde que não fosse exorbitante,  era atendido (livros, instrumentos musicais, equipamentos de futebol, etc.).

Cilinha tinha um carinho especial pela Guiné (a sua "Guinezinha")  e pelos militares que aí "defendiam a Pátria", a avaliar pelas diversas vezes (quatro)  que visitou o território, a última das quais já em março de 1974, a um escasso mês e meio do golpe de Estado do MFA. 

A melhor reportagem, documentada, por texto e fotos, que já aqui apresentada sobre uma visita da Cilinha ao mato, é a do nosso camarada António Murta,  ex-alf mil inf,  MA,   2.ª CCAÇ / BCAÇ 4513 (Aldeia Formosa, Nhala e Buba, 1973/74).

De uma lote de cerca de duas dezenas, selecionámos e  reeditámos onze fotos (*), Segue também um excerto do enquadramento feito pelo fotógrafo.


A visita da Cilinha a Nhala em 3 de março de 1974

Texto e fotos: António Murta (**)


(...) Este mês de Março ficou marcado por alguns acontecimentos empolgantes, para variar, como a ligação de Nhala à estrada nova Aldeia Formosa-Buba e a visita da Presidente do Movimento Nacional Feminino, Cecília Supico Pinto.

Sobretudo esta visita, trouxe uma animação inusitada às tropas de Nhala – e do Sector -, mas não se pode dizer que tivesse, também, quebrado a monotonia e a rotina, simplesmente porque naquela época, o que tínhamos menos era monotonia e rotina, tal era a actividade operacional.(...) 

10 de Março de 1974 – (domingo) – A visita da Cilinha 


Cecília Maria de Castro Pereira de Carvalho Supico Pinto [Lisboa. 1921 – Cascais, 2011],  Cilinha, como gostava de ser tratada, (diminutivo que lhe vinha da infância), era descendente de aristocratas e uma Senhora do Regime.

Não precisa de grandes apresentações porque sobre ela quase tudo já foi dito. Muito antes de a ter conhecido em Nhala, já tinha por ela uma elevada consideração e um grande respeito, pela sua coragem, tenacidade e coerência.

Durante treze anos, de 1961 a 1974, foi presidente do MNF que ela fundou, tendo em vista acções de sensibilização da sociedade portuguesa para a defesa das colónias ultramarinas, o seu Ultramar.  

Tudo fez nesse sentido, desdobrando-se em iniciativas na Metrópole e calcorreando as colónias, tentando dar alento a tropas desmotivadas e politicamente amorfas.

Era por ser assim, e não pelos seus objectivos, que a admirava e a minha consideração elevou-se depois de a ter conhecido. Porque, sendo coerente com as suas convicções, saiu do seu confortável cantinho e dos salões solenes e elegantes, e veio para o terreno com o seu camuflado pôr na prática aquilo em que acreditava, correndo riscos e sofrendo privações.

E via-se que gostava do que fazia, exibindo uma alegria contagiante e uma disponibilidade total, atributos que passavam para quem a via e ouvia, por a reconhecerem como “um deles”. Politicamente, eu estava nos antípodas. Para mim, a Cilinha, pelas suas ideias e acções e pela sua proximidade (intimidade) com o Regime, representava o Regime.

Politicamente, portanto, eu era contra a sua filosofia de manutenção das colónias, contra tudo o que dizia e fazia nesse sentido, que era, um pouco do que já fizera na sua juventude em prol da caridadezinha.

Paradoxo, incoerência da minha parte? Não. Repito que, como pessoa, tinha por ela o meu maior respeito e consideração. Aliás, soube já depois da sua morte que, nesse aspecto de respeitar o “outro” mesmo não concordando com “ele”, ela não era muito diferente de mim.

Dois exemplos: foi sempre amiga, desde a infância, da Sofia de Mello Breyner, mesmo estando em campos políticos opostos; uma vez disse, revelando nobreza de carácter: “Admiro Cunhal pela sua coerência”.

Para terminar, lamento que, após o 25 de Abril e até à sua morte, tenha sido desprezada pela esquerda e ostracizada pelos seus correligionários de direita. Tudo apanágios de gente de baixa índole. Sei que nunca foi hostilizada, ainda assim, merecera mais consideração.

À chegada a Nhala, a Cilinha foi alvo de calorosa recepção por parte da tropa e de alguma população, sobretudo crianças. Mais pelo inédito da situação e pela curiosidade por esta mulher branca que se aventurava no mato para chegar perto deles, com estímulos e uma palavra amiga.

Almoçou na messe de oficiais após uns descontraídos aperitivos, mais para pôr a conversa em dia. Vinha acompanhada pelo Comandante do Batalhão, Ten Cor Carlos Alberto Ramalheira e por um séquito de outros oficiais que foi arrastando por onde passou.

Após o almoço (ou antes?) houve tempo para falar aos soldados, cantar o fado e, até, dançar com alguns. Depois partiu rumo a Mampatá, após demoradas e sentidas despedidas. 

Admito que foi o acontecimento do mês, mas não poderia adivinhar que o mês seguinte traria acontecimentos muito mais importantes e marcantes do que este, efémero e superficial. (...)

[Seleção e reedição de fotos, revisão / fixação de texto para efeitos de edição neste blogue, itálicos e negritos: LG]

__________________

Notas do editor:

(*) Último poste da série > 25 de janeiroo de 2024 > Guiné 61/74 - P25109: Por onde andam os nossos fotógrafos? (18): António Murta, ex-alf mil inf MA, 2ª C/BCAÇ 4513 (Aldeia Formosa, Nhala e Buba, 1973/74) - Parte IV: Bem-vindos a Nhala!


Vd. tanbém poste de 15 de setembro de  2020 > Guiné 61/74 - P21361: (De)Caras (160): Cecília Supico Pinto (1921-2011)... "Cilinha, uma mulher que aprendi a admirar e a respeitar, mesmo discordando dos seus objetivos políticos" (António Murta, autor de uma belíssima reportagem fotográfica da visita da histórica líder do MNF a Nhala, em 10/3/1974, e que ela nunca viu em vida)

16 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...


Três dias depois, a "Cilinha" apanhou um susto...

Veja-se este excerto:

(...) "Em 06 de Março de 1974 (4.ª feira), durante a coluna a Canquelifá, rebentámos uma mina anticarro reforçada, onde morreu o meu muito grande amigo "Cunha" [José Martins da Cunha, sold apont metralhadora, natural da Trofa, distrito do Porto].

Tinha a minha especialidade, e a sua morte passou a ser a primeira do Esquadrão de Reconhecimento "FOX" 8840.

Para além desta baixa registou-se ainda a evacuação de mais quatro elementos: o furriel Rodrigues, Afonso, António Nunes Figueiredo "Estarreja" e o Hélder de Jesus Costa.

Nessa coluna, na 3.ª viatura, seguia a D. Cecília Supico Pinto (1921-2011), Presidente do Movimento Nacional Feminino, sendo que a primeira era uma Chaimite, a segunda uma White, a que accionou a mina, depois mais uma Chaimite, mais uma White e, finalmente, a coluna constituída por uma companhia operacional [n/n]." (...)

Depois de ter apanhado um "valente" susto (digo eu!), a caminho de Canquelifá, Cecília Supico Pinto viria a viver mais "emoções", desta feita, em Gadamael, quando aí, pela manhã do dia seguinte à sua chegada [Março de 1974], "aguentou estoicamente a primeira flagelação do dia". (C. Martins - P21349). (...) .

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2020/09/guine-6174-p21364-memorias-cruzadas-na.html

Tabanca Grande Luís Graça disse...

"Passionara" do regime ?.. Não, nunca ninguém lhe ouvi dizer: "Eles não passarão!,,,

Joaquim Luis Fernandes disse...

Na foto nº10 parece-me reconhecer o meu quase vizinho (de um lugar próximo da Vila da Batalha) o então Alf. Mil. Abílio Jordão Coelho.
Em 1973 cheguei a encontrar-me com ele no Cacheu, onde estava colocado na CCAÇ 3460, mas depois foi transferido para o Batalhão de Aldeia Formosa e colocado na 2ª CCAÇ em Nhala.

Em conversa com ele, há já algum tempo, vim a saber que os momentos mais difíceis que viveu em Nhala, aconteceram já depois dos acordos do cessar fogo. Contou-me, que quando foi necessário comunicar aos soldados africanos que iriam ser desmobilizados e que teriam que entregar as armas, o Capitão,(...) recente no comando da Companhia, argumentando esse fato, ordenou que fosse ele a fazer essa comunicação.

E não foi nada fácil o desempenho dessa missão: Suportou os vexames e ameaças dos soldados, que se manifestaram revoltados e furiosos pelas informações e ordens recebidas, que acabaram por cumprir com muita relutância.
E fico por aqui, pois o mais que me contou, penso dever deixar sob reserva.

Bom Domingo
JLFernandes

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Estaremos a falar da CCAÇ 18 aquartelada em Aldeia Formosa ? Outra africana como a minha CCAÇ 12 ou a CCAÇ 21 do Amadu Djaló.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Outra companhia com "antecedentes" disciplinares graves, a CCAÇ 18...

Nem tudo correu como nas histórias de fadas... E os nossos capitães de Abril pura e simplesmente esqueceram-se dos nossos camaradas guineenses...

Mas eles deviam fazer parte da equação e da sua resolução... Afinal aquela guerra era também uma guerra civil...

Quisemos acreditar, ingenuamente, na palavra dada pelos tipos do PAIGC... E não ficou ninguém no terreno, com autoridade internacional, a fiscalizar o cumprimento dos Acordos de Argel.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Fernandes, o teu vizinho e camarada talvez hoje, meio século passado (!), queira vir ao nosso "concessionário"....

Não podemos nem devemos levar para o outro mundo segredos da nossa guerra... Vai-nos fazer mal e perturbar o sono eterno, o sono dos justos. Ab, Luis.



Joaquim Luis Fernandes disse...

Caro Luís Graça, falei há pouco com o Abílio Coelho por TM. Confirmou-me que o episódio que referi foi com a CCAÇ 18, sediada em Aldeia Formosa, sendo ele o comandante de um Pelotão dessa Companhia. Mais adiantou que por vezes um ou outro pelotão ia reforçar outro destacamento.

Sobre a minha identificação da sua presença em Nhala, aquando da visita da "Cilinha", não sei se não errei. Disse-me que se recorda bem dessa visita e que nessa ocasião estava em Aldeia Formosa.

Já lhe tinha falado do Blogue Luís Graça... e da Tabanca Grande. Hoje voltei a falar-lhe. Disse-me que já o tem visitado e que o iria fazer para ver as fotografias do seu antigo camarada António Murta.

Combinámos um encontro em breve, para tomar um café e por-mos a conversa em dia. Nessa ocasião terei a oportunidade de abordar o convite a ingressar no Blogue.

Um abraço
JLFernandes

A. Murta disse...

Camarada Joaquim Luís, o único alferes que eu recordo como tendo vindo para a minha Companhia em Nhala, (não recordo o nome), aparece numa fotografia aqui recentemente republicada nesta série «Por onde andam os nossos fotógrafos?». Nessa foto eu estou sentado no capô da Berliet que nos foi buscar ao mato, e ele está logo atrás quase em pé, muito direito, com a G3 ao lado do corpo. Será o Jordão Coelho?

Tenho outras fotografias com ele, mas não estou certo se as enviei para o Blogue.

Tinha-mos um bom relacionamento, e tenho ideia de que ele gostava de sair com o meu pelotão para o mato. Não recordo quando saiu de Nhala.

Abraço do
António Murta.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Obrigado, Joaquim, eu queria dizer "confessionário", onde partilhamos os nossos "pequenos grabdes segredos"... O Abílio Coelho será rdcebido de abraços abertos... Bem precisamos de reforços, estamos "exautos"... e todos os os duas há más notícias...Vamos a ver se chegamos ao 20º aniversário do blogue, que é em 23 de abril de 2024. Dez "comissões na Guiné",de dois anos cada,é só para "doidos"...

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Para nossos camaradas guineenses (mais de 13 mil no final de 1973, segundo o cor inf ref Mario Arada Pinheiro, com quem ainda no sábado estive,num almoço, no nosso "Vigia", na Praia da Areia Branca), o 25 de Abril foi um pesadelo ou o início de um pesadelo. Para a malta, metropolitana, que queria voltar rapidamente a casa, foi uma gransw alegria!

Companhias como as "africanas"
não têm "história da unidade"... Há um "buraco negro" na nossa memória colectiva... Poucos ou raros são os graduados e especialistas metropolitanos dessas companhias e Pel Cac Nat que aqui aparecem a falar por eles que "não têm voz"...

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Eles, sim, foram verdadeiramente os vencidos daquela guerra... E nunca ninguém,entre nós, teve a coragem de o admitir, a não ser para diabolizar o 25 de Abril, incensado o regime derrubado e defender a "guerra dos 100 anos"..

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Já ninguém se lembra..., mas todos os conflitos, pequenos e grandes, têm um "rastilho", antecedentes próximos e longínquos...


26 DE NOVEMBRO DE 2022
Guiné 61/74 - P23817: In Memoriam (463): Rui Alexandrino Ferreira (1943-2022)... Um excerto do livro "Quebo" (2014): Recordando os tristes acontecimentos que ensombraram Aldeia Formosa, na noite de Consoada de 1971, "se não a pior, uma das mais trágicas da minha vida"

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2022/11/guine-6174-p23817-in-memoriam-463-rui.html

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Companhia de Caçadores nº 18
Identificação: CCaç 18

Cmdt: Cap Mil Inf Rui Fernando Alexandrino Ferreira
Cap Inf Artur Agnelo Coelho do Amaral
Cap Art Carlos Afonso Fonseca Alferes
Cap Inf António Herlânder Pereira Chumbinho
Cap Mil Grad Inf Narciso José Ferreira de Carvalho

Divisa: "Diabolikus"
Início: 01Dez70 | Extinção: 18Ago74

Síntese da Actividade Operacional

Foi organizada em 01Dez70, no CIM, em Bolama, com quadros e algum pessoal especialista metropolitano e o restante pessoal natural da Guiné, predominantemente
da etnia Fula e na sua grande maioria já integrante de companhias de milícias, tendo terminado a IAO em 10Jan71.

Em 14Jan71, seguiu para Aldeia Formosa, a fim de efectuar o treino operacional sob orientação do BCaç 2892, de 17Jan a 19Fev71.

Em 24Fev71, assumiu a função de subunidade de intervenção e reserva do sector, sendo especialmente orientada para a realização do esforço de contrapenetração no corredor de Missirã.

Por períodos variáveis destacou pelotões para reforço de outras guarnições do sector e tomou parte em acções
de segurança e protecção dos trabalhos de alcatroamento da estrada Mampatá-Cumbijã, em escoltas a colunas de reabastecimento e ainda em colaboração nos trabalhos do reordenamento de Afiá.

Em 18Ago74, foi desactivada e extinta.

Observações - Tem História da Unidade ao período de Dez70 a 30Abr73 (Caixa n." 117 - 2ª Div/4ª Sec, do AHM).

Fonte: Adapt de Portugal. Estado-Maior do Exército. Comissão para o Estudo das Campanhas de África, 1961-1974 [CECA] - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974). 7.º volume: fichas das unidades. Tomo II: Guiné. Lisboa: 2002, pág. 639.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Não transparece fadiga, stress, emoções negativas... no seu rosto. Ela comportava-se como uma atriz que tinha de fazer o seu papel... até ao fim!...

E, de facto, como o diz o Murta, acabou pro ser maltratada, ou pelo menos esquecida e ignorada, por toda a gente, à esquerda e à direita... Onde estão os seus admiradores hoje ? Temos, no blogue, é certo, alguns testemunhos de simpatia...

Mas, como é normal nestas histórias de vida, quando se mudam os tempos e as vontades, a "Cilinha" passou "de bestial a besta"...

Esta última visita à sua "Guinezinha" (a quarta), em março de 1974, deve ter sido um pesadelo: para ela, para a tropa que a tinha que a levar ao mato e prestar-lhe segurança, para as chefias militares que planeavam as visitas... Ir a Canquelifá (em 6 de março) foi obra!... Ou a Gadamael... Ou a Nhala. Netsa altura, já teve que ir em colunas terrestres, a apanhou pó e minas, deixou de haver a mesma disponibilidade de transporte aéreo... Em suma, deve-se ter tornado num grande empecilho para a tropa do fim do Império...

Tabanca Grande Luís Graça disse...

António Murta, falta-nos ainda o distanciamento histórico para perceber quem foram e donde vinham estas mulheres que "apoiaram" o esforço de guerra em África...

Vd. aqui um programa já antigo da RTP (em em RTP Arquivos):

2007-01-22 00:27:42

Programa apresentado pelo jornalista António Louçã sobre o Movimento Nacional Feminino, e o papel das mulheres no tempo da ditadura do Estado Novo, e durante a Guerra Colonial, com recurso a imagens de arquivo e entrevista em estúdio à historiadora Irene Pimentel.

https://arquivos.rtp.pt/conteudos/movimento-nacional-feminino/

Joaquim Luis Fernandes disse...

Devo à Tertúlia da Tabanca Grande e em particular ao camarada António Murta, uma explicação ( ou até um pedido de desculpas) por ter dado o Al.Mil. Abílio Jordão Coelho, como colocado na 2ª CCaç em Nhala em Março de 1974. Foi uma dedução que fiz, partindo do que me pareceu ele figurar na foto nº 10, do conjunto de fotos publicadas e anotadas como sendo de Nhala, onde estaria a 2ª CCAÇ. (?)

De facto, apenas sabia do amigo e camarada Abílio Coelho, que ele tinha ido do Cacheu para Aldeia Formosa e fora colocado numa Companhia Africana, onde ocorreu o episódio sumariamente referido, da desmobilização e entrega de armas dos soldados, após o cessar fogo. O nº de Companhia e Batalhão, não fazia a mínima ideia. Sou pouco ou nada versado na história das Unidades que passaram e atuaram no CTIG.

Durante quase 40 anos de enterro das minhas memórias da Guiné, até o nº da Companhia e Batalhão em que fui colocado, tinha esquecido. Foi preciso ir à gaveta onde tinha guardado a correspondência e outros documentos desse tempo, para relembrar esses nºs e avivar a memória dos episódios aí vividos.Já contei através dos postes publicados, um pouco do que foi o acordar dessas memórias.

Sobre as visitas da "Cilinha " ao pessoal na Guiné, com todo o respeito por quem sinta e pense de modo diferente, no meu caso, sempre as vi com repúdio. Felizmente nunca tive que suportar essas visitas. A consciência política que tinha, do que ela representava, colocavam-me nas antípodas da sua ação de representante do Movimento Nacional Feminino, que não passava de mais um instrumento do poder, que nos sujeitava àquela guerra e a tudo o mais que sofríamos em Portugal.

Sobre o tratamento a que foram votados os nossos camaradas guineenses, em particular, e as populações da Guiné que estiveram do "nosso lado", depois do 25 de Abril de 74, é um tema interessante para debate, mesmo sabendo da pouca utilidade para remediar o que de mal foi feito.
Não me adianto por agora nisso, mas deixo duas pistas para reflexão:

O que teria sido a descolonização da Guiné, se se tivesse dado crédito ao General Spínola e ao seu programa, apresentado 2 meses antes do 25 de abril, no seu livro "Portugal e o Futuro"?
Quem e porquê se empenhou para o ostracizar e optar pelo abandono, puro e simples, dos soldados guineenses e população em geral, nas mãos do PAIGC e do que ele representava?

Cordialmente
Abraços
JLFernandes