Data - terça, 9/07/2024, 22:06
Assunto - Fogo amigo
Boa noite, Luís
Se me permites, gostava de clarificar e acrescentar alguns pontos, sobre o relatado pelo Sousa Castro e outras observações feitas (*).
Se me permites, gostava de clarificar e acrescentar alguns pontos, sobre o relatado pelo Sousa Castro e outras observações feitas (*).
(i) tenho a certeza que, no dia 1 de dezembro de 1973, em Gampará estavam obuses 14 cm e, portanto, se refizeres as contas, à distância entre as duas localidades, vais constatar que as granadas podem cair dentro do quartel/tabanca do Xime;
(ii) não havia obuses em Mansambo, em 1 de dezembro de 1973;
(iii) no Xime estavam obuses de 10.5 cm, nessa data;
(ii) não havia obuses em Mansambo, em 1 de dezembro de 1973;
(iii) no Xime estavam obuses de 10.5 cm, nessa data;
(iv) os comandantes de companhia no Xime (Ccaç 12) e da companhia de Gampará, cuja identificação não me recordo, articulavam-se para bater a zona a partir de Gampará, para a zona de atuação da nossa Ccaç 12; penso que era para ensaiar alguma necessidade, em caso de ataque ao Xime,
(v) não foi a primeira vez que tal sucedeu, nunca tendo havido incidentes;
(vi) foram perfeitamente audíveis as saídas aquando dos disparos do 14 em Gampará; de seguida ouviram-se os rebentamentos, um na tabanca, com o resultado já conhecido, e um segundo junto à escola do Xime, relativamente perto do local onde rebentou a primeira, a qual ficou, pelo menos com um buraco grande na parede;
(vii) o nosso tabanqueiro, José Carlos Mussá Biai, menino à época, viveu esta tragédia de perto e sei que se recorda (**).
Um abraço a todos os camaradas,
António Duarte
Cart 3493 (Mansamno)
Um abraço a todos os camaradas,
António Duarte
Cart 3493 (Mansamno)
e Ccaç 12 (Bambadinca e Xime)
(dez 71 a jan de 74)
2. Comentário do editor LG:
Sabemos que nessa data o comandante da CCAÇ 12 era o cap mil inf José António de Campos Simão (médico ortopedista do SNS, em Évora, hoje seguranente reformado), e o comandante da CCAÇ 4142/72 (Ganjauará, set 72/ ago 74) era o cap mil cav Fernando da Costa Duarte.
O Sucena Rodrigues, infelizmente já falecido, deu uma informação errada: o nº de mortos foi de 7 e todos civis, de uma mesma família (segundo me confirmou, ao telefone, o António Duarte) (e já o sabíamos do depoimento do J. C. Mussá Biai) (**) .
Por outro lado, uma das granadas de obus 14 caiu na bolanha.
A informação fornecida pela CECA está errada: já havia de facto obus 14 em Gampará / Ganjauará (27º Pel Art), e Mansambo não tinha nenhuma artilharia nessa data (!) (*)
Notas do editor:
(*) Vd. poste de 5 de julho de 2024 > Guiné 61/74 - P25717: Casos: a verdade sobre... (44): fogo IN ou "fogo amigo" a causa das 7 mortes civis em 1/12/1973, no Xime ? A hipótese de ter sido a artilharia de Gampará, ao tempo da CCAÇ 4142/72, tem de ser descartada
(*) Vd. poste de 5 de julho de 2024 > Guiné 61/74 - P25717: Casos: a verdade sobre... (44): fogo IN ou "fogo amigo" a causa das 7 mortes civis em 1/12/1973, no Xime ? A hipótese de ter sido a artilharia de Gampará, ao tempo da CCAÇ 4142/72, tem de ser descartada
(...) Acabo de ler o relato do António Duarte sobre o trágico acontecimento que ocorreu em Xime (...)
Devo dizer que, apesar de ser criança à época, ainda me lembro porque afinal morreram sete pessoas nesse ataque, para além das mortes serem a menos de cinco metros da casa onde eu dormia.
Ainda por cima morreram lá duas pessoas (João Jorge e o irmão mais novo) com os quais eu e mais outras crianças à época estavamos a brincar. Só que a avó deles foi buscá-los para irem dormir e passados mais ou menos 30 minutos eu também fui dormir.
Antes de adormecer ouviu-se um estondo enorme de uma granada de canhão em cima da casa deles e eles começaram a gritar, passados talvez 2 ou 3 minutos caiu um segunda granada de canhão e foi o silêncio total. Passados mais uns 2 ou 3 minutos caiu uma terceira granada a talvez 50 - 100 metros para a frente.
Depois disso não se ouviu mais nada e mais ninguém dormiu. Daquela família, dos que estavam em Xime, só se salvaram três pessoas. O chefe de família que tinha pernoitado no mar (na pesca) e a filha mais velha e a filha desta, porque estavam de zanga e tinham-se mudado para a casa duma outra família.
Esse acontecimento foi dos que mais mais me marcaram pela negativa. Nessa altura já tinha consciência que havia uma gerra, as razões desconhecia-as.Talvez seja próprio da infância, o certo é que pereceram amigos de brincadeira e vizinhos...
As datas não sei, mas os factos ocorridos são esses (...)
Devo dizer que, apesar de ser criança à época, ainda me lembro porque afinal morreram sete pessoas nesse ataque, para além das mortes serem a menos de cinco metros da casa onde eu dormia.
Ainda por cima morreram lá duas pessoas (João Jorge e o irmão mais novo) com os quais eu e mais outras crianças à época estavamos a brincar. Só que a avó deles foi buscá-los para irem dormir e passados mais ou menos 30 minutos eu também fui dormir.
Antes de adormecer ouviu-se um estondo enorme de uma granada de canhão em cima da casa deles e eles começaram a gritar, passados talvez 2 ou 3 minutos caiu um segunda granada de canhão e foi o silêncio total. Passados mais uns 2 ou 3 minutos caiu uma terceira granada a talvez 50 - 100 metros para a frente.
Depois disso não se ouviu mais nada e mais ninguém dormiu. Daquela família, dos que estavam em Xime, só se salvaram três pessoas. O chefe de família que tinha pernoitado no mar (na pesca) e a filha mais velha e a filha desta, porque estavam de zanga e tinham-se mudado para a casa duma outra família.
Esse acontecimento foi dos que mais mais me marcaram pela negativa. Nessa altura já tinha consciência que havia uma gerra, as razões desconhecia-as.Talvez seja próprio da infância, o certo é que pereceram amigos de brincadeira e vizinhos...
As datas não sei, mas os factos ocorridos são esses (...)
2 comentários:
Olá Camaradas
Estive no Xime, sou oficial de artilharia e utilizei o Pel Art do Xime e sinceramente não vejo como é possível fazer fogo de Gâ-Pará para o Xime (e acertar!) sem coordenação. Nunca fiz - nem tive necessidade de fazer - fogo sobre a extremidade da península da margem oposta do Corobal. Há em artilharia uma coisa que se chama coordenação de apoio de fogos que, pelos vistos... não digo mais nada.
Pergunto: os dois comandantes envolvidos estavam loucos o com uma pinguinha a mais?
Porra! É nabice a mais.
Um Ab.
António J. P. Costa
Tó Zé, a verdade é que nenhum deles era de artilharia, o do Xime era d infantaria, o de Ganjauará, de cavalaria... Mas os capitães milicianos deviam ter ter pelo menos umas "luzes" (!) sobre o obus e o obusada...
Não vamos discutir a "qualidade" da formação dos nossos comandantes operacinais, e sobretudo dos micianos, cm trinta e tal anos, e enviados à pressa para preencge a falta de capitães do QP.
O António Duarte, em conversa ao telefone, disse-me que muito provavelmente terá havido erro nas "transmissões": bastava trocar a longitude pela latitude...
E o contou-me um caso que pôs a CCAÇ 12 em polvorosa... Um dia, talvez em finais de 1973 ou princípios de 1974, já na época seca, há um embrulhança com o IN (o que era nornal, quando se saía do Xime, e entrava-se naquele verdadeiro "fojo do lobo" ... A CCAÇ 12, no regresso, veio por Gundagué Beafada para evitar uma eventual emboscada em Madina Colhido... Só que um dos operadores de transmissões confundiu o "Eles" e o "Nós"... E pediu fogo para Gundagué Beafada...
Os soldados africanos da CCAÇ 12, a começar pelo "gigante" Abibo Jau mais tarde fuzilado pelo PAIGC, cm0 gadaudo da CCAÇ 21, do tenente Jamanca) quando chegaram ao quartel, sãos e salvos (mas sem terem ganho para o susto...) fizeram um escarcéu dos diabos... E com toda a razão...
Se calhar muitos destas "cenas de fogo amigo" resultaram de erros de comnunicação / transmissões...
Mas, hoje, cinquenta anos passados, não estamos aqui para "julgar" ninguém, e muito menos os nossos camaradas... Um abraço para todos eles que nos continuam a seguir. LG
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