
Certa vez, numa operação que efectuei para esses lados, dei com uma laranjeira carregada de frutos verdes e segui adiante. Era uma árvore de porte médio e estava cercada por mato. Era mesmo muito difícil a nossa aproximação. Segui adiante e não pensei mais no assunto.
Meses mais tarde fiz o mesmo percurso para repetir nova operação de qualquer coisa. De novo a laranjeira carregada de frutos de cor verde. Não me contive. Então, passados meses, ainda não tinham amadurecido?
Muito interessante o teu testemunho, Joaquim Caldeira! Pelo que tu descreves, não se trata de uma laranjeira comum (Citrus sinensis), mas sim de uma laranja de maturação “permanentemente verde”, muito típica das variedades cultivadas (e espontâneas) na Guiné-Bissau. E que encontravámos facilmente nos mercados locais no nosso tempo. Quem tinha preconceitos (etnocêntricos...) e pouca ou nenhuma curiosiodade, nunca a provou...e não sabe o que perdeu.
Digam-me lá quem é que tinha a curiosidade e a pachora do Joaquim Caldeira ? No meio de um patrulhamento ofensivo, quis ir ver que raio de árvore era aquela: "Mandei fazer o cerco de segurança e à catanada cortei o mato que me separava do tronco. Depois foi só puxar um ramo e colher uma laranja. Estava maduríssima e era de uma doçura sem igual".
Eis alguns pontos a ter em conta para uma melhor descrição deste citrino tropical:
(i) Frutos verdes mesmo quando maduros:
Nas regiões tropicais húmidas, como a Guiné-Bissau (a região de Quínara incluída), o citrino pode não adquirir a coloração alaranjada típica do nosso Algarve e do Mediterrâneo em geral.
Isso acontece porque nos trópicos, as noites não arrefecem o suficiente para quebrar a clorofila da casca; a mudança de cor exige noites abaixo de ~13–15 °C, coisa rara na região de Quínara. As noites são, portanto, quentes: não há o contraste de temperaturas (calor de dia / frio de noite) que desencadeia a degradação da clorofila e o aparecimento da cor laranja. Logo, a casca mantém-se verde ou verde-amarelada, mesmo estando o fruto já doce e pronto a comer.
(ii) Doçura excecional:
Muitos relatos coloniais (como este do nosso camarada Joaquim Caldeira) falam da “laranja da Guiné” ou “laranja de casca verde”, extremamente doce, sumarenta, e que amadurece sem mudar de cor. É um tipo de Citrus sinensis var. dulcis (ou var. tropical), muitas vezes chamado simplesmente sweet orange tropical ("laranja doce", em português do Brasil).
(iii) Ciclo de frutificação:
Nas condições tropicais, algumas laranjeiras dão fruto quase todo o ano, com várias florações. Isso explica o espanto do narrador: meses depois quando lá voltou a passar, mpo subsetor de Fulacunda na zona de Nova Sintra -Tite, a árvore parecia sempre “carregada de frutos de cor verde", quando na verdade já havia frutos maduros, apenas sem coloração visível. A laranja "estava maduríssima" e tinha "uma doçura sem igual".
Portanto, o que foi encontrado na zona de Nova Sintra-Tite em 1968/69. pelo narrador era muito provavelmente a “laranja verde da Guiné” (Citrus sinensis, var. tropical), um citrino comum no país, de porte médio, muito doce, e cuja maturação não se denuncia pela cor da casca.
Esta laranja doce, de baixa acidez, adaptada e cultivada em climas tropicais, é também conhecida no Brasil como laranja lima verde. Quem não conhece o livro do José Mauro de Vasconcelos, "O Meu Pé de Laranja Lima", uma verdadeira obra-prima da literatura infanto-juvenil, em língua portuguesa ?
O assistennte de IA / Perplexity também confirma que a Citrus sinensis var. dulcis corresponde à laranja lima verde encontrada e consumida no Brasil (o maior ptrodutor do mundo de laranjas...). É também conhecida popularmente como laranja-doce.
É uma fruta bastante apreciada por seu sabor suave, pouco ácido e adocicado, indicada especialmente para crianças e pessoas com sensibilidade gastrointestinal. De polpa doce, poucas sementes, casca fina e geralmente esverdeada ou levemente amarela quando madura.
A laranja lima verde é considerada uma variedade de maturação tardia, comum em algumas regiões do Brasil, e faz parte da ampla diversidade de laranjas doces cultivadas no país. Além dela, existem outras variações regionais, como a "laranja lima do céu". Todas pertencem à espécie Citrus sinensis, grupo das laranjas doces, e não devem ser confundidas com limas ácidas ou outros citros.
1 comentário:
Gostei deste texto.
Muitas mais "coisas" foram transportadas de outras terras longínquas para o Brasil. O coqueiro, p.ex..
Cpts.
Alberto Branquinho
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