Caro Luís:
Tudo de bom. Após ler o P1817 (1) e sobre as interrogações no teu comentário, tenho a acrescentar o seguinte:
Na verdade falta ali naquela foto, o Pinho Brandão, decerto terá sido convidado tal como outros comerciantes que também não aparecem na foto, caso dos Srs. Coelho, Adib e João, da casa Gouveia.
Poderão estar na foto Catió_Quartel-31 junto do edifício da direita, junto de outra população mas não dá para reconhecer quem é quem. De memória também não sei se estiveram ou não.
Contudo pela lembrança que tenho do Sr. Manuel Pinho Brandão (2), é muito provável que não tenha estado presente. Era pessoa bastante reservada, nunca o vi no quartel nem sequer na rua.
As falas dele com militares ou civis resumiam-se ao Bom dia ou boa tarde, entre dentes, quando ao passarmos à sua casa o cumprimentávamos.
A maioria dos seus dias passava-os na sala de sua casa de esquina frente ao mercado [foto Catió_Vila-26], de portas abertas, na sua cadeira de repouso, fumando.
A lembrança que tenho da família que com ele vivia em Catió é muito vaga, mas lembro-me perfeitamente de duas bonitas, mestiças, suas filhas, das quais não me lembro o nome, jovens na casa dos 20 anos, que confeccionavam bolos de aniversário por encomenda.
Relativamente ao pai do Dr. Leopoldo Amado, pese embora as muitas vezes que terei falado com ele quando ia aos Correios à Caixa Postal nº 24, buscar o meu correio ou comprar selos, não tenho memória do Sr. Mateus e por isso o não identifico na foto, só o Leopoldo Amado nos poderá ajudar.
Luís das tentativas que te disse ter feito, só ainda tive a informação do (meu) ex-cabo Camarinha, fez a diligência que me tinha prometido, mas não conseguiu chegar á fala com o senhor por questão de minutos, no entanto disse-me que se confirma que a pessoa em questão é efectivamente de Catió, vai no entanto proceder a nova tentativa de encontro.
E é tudo por agora, recebe um abraço.
Victor Condeço
2. A Gilda acaba de nos agradecer tudo o fizemos (e ainda estamos a fazer) por ela. São palavras singelas e sinceras, que merecem publicitação:
" Acabei de ler as suas palavras e, estou a tentar encontrar algumas para lhe agradecer, mas não consigo, por isso envio-lhe um abraço do tamanho do mundo e toda a minha gratidão.
"Para a semana vou estar de férias, pois ando em mudanças mas, assim que regressar, vou enviar uma foto minha tirada ainda na Guiné e outra mais recente, para que passe a pertencer a esta fantástica família. Um grande abraço com amizade. Gilda Brás".
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Nota de L.G.:
(1) Vd. post de 5 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1817: Catió: Em busca da família Pinho Brandão (Leopoldo Amado / Victor Condeço / Armindo Batata / Gilda Pinho Brandão)
(2) Que era, presumivelmente, tio ou até avô da nossa amiga Gilda Pinho Brandão (O seu pai, Afonso, morreu, ou foi morto, quando ela tinha tenra idade, possivelmente em 1963, no início da guerra; recorde- se que ela veio para Porugal, acolhida pela família do Pina, em Junho de 1970, com sete anos, vivendo até então com a avó materna).
Repare-se, por outro lado, que o Victor só faz referência ao comerciante Manuel Pinho Brandão, que ele conheceu em Catió (1967/69), e a duas filhas, mestiças, de cerca de 20 anos. O Victor não conheceu, nem poderia ter conhecido o Afonso, que seria mais novo que o Manuel: daí eu pensar que poderia ser seu filho ou seu irmão mais novo. A Gilda não tem a certeza sobre o grau de parentesco de ambos.
Por sua vez, o Mário Dias, quando descreve a Op Tridente (1964), refere-se ao Manuel Pinho Brandão como o dono da ilha do Como... O que terá acontecido ao Afonso ? Terá sido morto pelos guerrilheiros do PAIGC ? Terá morrido num acidente de caça ou de viação ? Foi assassinado por alguém da região, por causa de negócios ? Ou até por outras razões: ciúme, vingança, ajuste de contas... Com numerosos filhos de diferentes mulheres, poderá ter havido ajustes de contas entre famílias... A Gilda refere, por exemplo, a existência de meio-irmão, ainda hoje comerciante estabelecido na Guiné-Bissau, que usa o apelido da família e não reconhece, como Pinho Brandão, os filhos do Afonso...
Por outro aldo, o velho Brandão de Ganjola, natural de Arouca, desterrado para a Guiné possivelmente no final dos anos 20 ou princípíos dos anos 30, uma figura tão bem evocada pelo Mendes Gomes (que esteve no Como, Cachil e Catió, entre 1964 e 1966) - " O Sr. Brandão, agora, era um velhote, rodeado de filhos e netos que foi gerando, ao sabor das madrugadas de batuque e da liberdade de escolha, sem custos, entre as mais viçosas bajudas da tabanca" (3)…, esse Brandão de Ganjola, pergunto eu, seria o mesmo de Catió ? Quem era, afinal, o patriarca da família ?
Enfim, não vale a pena especular sobre isto, embora esta estória (trágica, a do Afonso) também possa ser reveladora do clima social que então se vivia em Catió, no início da década de 1960...
Pela casa que existia no centro de Catió, a família Pinto Brandão deveria ser (ou ter sido) poderosa, tendo entrado possivelmemte em decadência com o início da guerra... Mas o mesmo se poderia dizer de outros comerciantes locais, de origem portuguesa ou libanesa, citados pelo Victor e que compareciam a cerimónias públicas militares (como aquela que é referida no Post P1817).
Vd. posts de:
30 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1798: Região de Catió: Descendentes da família Pinho Brandão procuram-se (Gilda Pinho Brandão)
3 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1811: Vim para Portugal aos 7 anos, em 1969, e não tenho uma fotografia de meu pai, A. Pinho Brandão (Gilda Pinho Brandão, 44 anos)
6 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1819: De Catió a Lisboa, de menina a Mulher Grande ou uma história triste com final feliz (Gilda Pinho Brandão / Luís Graça)
(3) Vd. post de 22 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1455: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (7): O Sr. Brandão, de Ganjola, aliás, de Arouca, e a Sra. Sexta-Feira