terça-feira, 8 de junho de 2010

Guiné 63/74 - P6557: Elementos para a caracterização sociodemográfica e político-militar do Sector L1 (5): A zona de acção do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72) e os seus principais aglomerados populacionais (Benjamim Durães)




Guiné > Zona Leste > Sector L1 (Bambadinca) > BART 2917 (1970/72) > Forças da CCAÇ 12, a descansar na Ponte dos Fulas (sobre o Rio Pulom), por ocasião de uma coluna logística Bambadinca - Xitole (Xitole era a unidade de quadrícula, do Sector L1, mais a sul; era a sede da CART 2716).

Foto: © Arlindo T. Roda (2010). Direitos reservados



 Guíné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > BART 2917 (1970/72) > Brasão (à esquerda)

Fonte: História do Batalhão de Artilharia nº 2917 - De 15 de Novembro de 1969 a 15 de Março de 1972. (Versão em texto processado por Benjamim Durães)

[Continuação da publicação de excertos do Cap II da História do BART 2917, Bambadinca, 1970/72 - Documento classificado como "reservado" - , segundo versão policopiada gentilmente cedida ao nosso blogue pelo ex-Fur Mil Trms Inf, José Armando Ferreira de Almeida, CCS/ BART 2917, Bambadinca, 1970/72, membro da nossa Tabanca Grande; cotejada igualmente com a versão, em suporte digital, corrigida e melhorada pelo Benjamim Durães; é um excerto desta última versão que se publica aqui hoje] (*)


HISTÓRIA DO BART 2917 (Bambadinca, 1970/72) > CAP II > ACTIVIDADE NO TERRITÓRIO OPERACIONAL DA GUINÉ


SITUAÇÃO GERAL

1.a. - TERRENO

1) – DEFINIÇÃO DA ZONA DE ACÇÃO (Z.A.)

- MAMBONCÓ (9A8-35);             - MAMBONCÓ (9G0-55);                 - RIO MANCURRE;
- RIO GAMBIEL;                               - RIO GEBA;                                          - RIO ULUNGUALAON;
- RIO BIFI;                                         - RIO SANDOFARA;                             - RIO CAMPORE (até nascente);
- RIO CUSSONCONE;                      - RIO SUMPOI;                                      - RIO COLUFE;
- RIO XANCARA;                              - RIO SANAU;                                       - RIO BILANCA;
- RIO CAMPARA;                             - RIO NHANUMOIEL;                           - RIO CHANCA;
- RIO CARANGOLI;                          - RIO BANTANCUSSÁ;                        - RIO PULON (T);
- BISSAMALI;                                   - RIO CHACONA;                                  - RIO MANCHAU;
- RIO CANCANTE (T);                - MADINA TABAGE (T);                - TENDITO (T) ;
- NHANDOFÓ (T);                    - GUNTI;                                                 - XITOLE (8I2-47);
- RIO CORUBAL (até) FULACUNDA (9F5-72)                            - RIO BARA;
- DOULO;                                          - MAMBONCÓ (7C1-88);                 - MEREDIANO 50345;
- MAMBOCÓ (8C1-25) – Limite Administrativo;   - MAMBOCÓ (8G4-45) – Limite Administrativo; e,
- MAMBOCÓ (9A8-35).

2) – RELEVO E HIDROGRAFIA

- A característica geral da área do Batalhão é a planície, onde correm muitos rios cavados num planalto de 40 metros de altitude.
- A rede hidrográfica encontra-se orientada para os RIOS COLUFE, GEBA, e CORUBAL, verificando-se, na época das chuvas e nos baixos cursos destes dois últimos, o nivelamento das águas dos rios e das bolanhas, durante a preia-mar.
- Na época seca, com excepção dos RIOS GEBA, CORUBAL, COLUFE, GAMBIEL e UDUNDUMA, todos os restantes são transponíveis a vau.
- Na época das chuvas, todos os rios do sector são praticamente intransponíveis a vau.
- Os RIOS GEBA e CORUBAL, estão sujeitos à influência das marés. Na previsão de marés ao longo do canal do GEBA, são de admitir diferenças até cerca de 50 minutos em tempo e até meio metro, em alturas de água.
- O retardo do estofo da corrente da maré atinge, por vezes, uma hora e trinta minutos.
- Para montante de PORTE GOLE, no canal do RIO GEBA, forma-se o MACARÉU.
- No XITOLE (Rio Corubal) e em BAMBADINCA (Rio Geba) o MACARÉU ocorre, respectivamente, cerca de oito horas e trinta minutos e de sete horas e vinte minutos depois da hora da baixa-mar em CAIÓ.

3) - VEGETAÇÃO

- Nas bolanhas não cultivadas, o capim na época das chuvas atinge grande altura camuflando facilmente das vistas os possíveis movimentos do IN e dificultando os movimentos e a orientação das NT.
- Durante a época seca (a partir de Dezembro), as bolanhas apresentam-se queimadas não oferecendo qualquer protecção.
- Na área definida pelos RIO GEBA e RIO CORUBAL e a estrada BAMBADINCA / XITOLE, fora das bolanhas, o revestimento é de natureza florestal com palmares cerrados, nomeadamente nas nascentes dos rios. Na parte restante do SECTOR a vegetação é tipo savana com núcleos de floresta muito espalhada, dos quais o mais importante é o de CANDAMÃ.

4) – NATUREZA DO SOLO

- Nas bacias hidrográficas dos RIO GEBA e do RIO CORUBAL existem os solos das bolanhas e lalas, nem sempre propícios à agricultura.  Imediatamente a seguir a estes existem aqueles a que podemos chamar “ricos” onde é possível a cultura de quase toda a espécie de vegetais e fruta.
- No interior do SECTOR, o solo é argilo-arenoso tendo por baixo uma couraça de laterite que em certas zonas aparece à superfície.

5) - COMUNICAÇÕES

- Durante a época seca é possível a circulação de viaturas em todas as vias de comunicação do SECTOR.
- Na época das chuvas, com excepção das estradas BAMBADINCA-BAFATÁ e BAMBADINCA-XIME, a circulação em todas as outras, torna-se difícil, chegando mesmo a ser impossível em algumas delas.
- Dos rios do SECTOR só o RIO GEGA durante todo o seu percurso no SECTOR, e o RIO CORUBAL para jusante dos rápidos de CUSSELINTA, são navegáveis por barcos de médio calado, embora os barcos militares deste calado ”LDG” se desloquem apenas até ao XIME.
- No entanto como as margens do RIO CORUBAL são na sua quase total extensão dominadas pelo IN, só no RIO GEBA se verifica tal facto.
- As principais vias de comunicação terrestres são:
as ESTRADAS de
- BAMBADINCA / BAFATÁ;
- BAMBADINCA / MANSAMBO / XITOLE / SALTINHO, e,
- BAMBADINCA/XIME, encontrando-se presentemente, a primeira e a última alcatroadas.

6) – PISTAS DE ATERRAGEM E HELIPORTOS

- Existem duas pistas de aterragem, uma em BAMBADINCA e outra no XITOLE, ambas de terra batida, só permitindo a aterragem a aviões do tipo ”DO”.
- Estão em curso diligências para que a pista de BAMBADINCA seja adaptada para ”DAKOTA” e ”T-6”.
- Existem ainda heliportos em BAMBADINCA, MANSAMBO, XIME, XITOLE, PONTE DO RIO PULON, ENXALÉ, MISSIRÁ, FÁ e NHABIJÕES.

7) - PORTOS

-Os dois portos com importância para o SECTOR LESTE, são: o de BAMBADINCA e o do XIME.
- O Porto de BAMBADINCA é de extraordinária importância pois é através dele que é reabastecido todo o SECTOR LESTE.
- Ultimamente todo o tráfego pesado tem sido feito através do porto do XIME, embora este não esteja apetrechado com guindaste e rampa de abicagem, o que torna difícil as operações de carga e descarga.
- Com influência na manobra dentro do quadro do Batalhão situam-se ainda:
o porto de ENXALÉ (só utilizável na época seca), os portos de GÃ GEMEOS, o Porto Velho do ENXALÉ, FÁ PORTO e MATO CÃO.

b) – AGLOMERADOS POPULACIONAIS

1) – Povoações com valor no quadro económico da Província

- BAMBADINCA

- Sede do Posto Administrativo do mesmo nome e Sede do Comando de Batalhão.
Tem 1.440 habitantes recenseados, dispõe de um Porto que constitui ainda a principal fonte de escoamento dos produtos das circunscrições de BAFATÁ e GABU (mancara, madeira e coconote e artigos de artesanato) e de entrada de quase todos os reabastecimentos para as tropas do SECTOR LESTE.
Dispõe de sete lojas comerciais e tem tendências para aumentar o seu comércio e importância.

- XIME

- Sede da CART 2715, com uma população avaliada em 250 habitantes, dispondo de um Porto por onde é já manuseada toda a carga muito pesada de e para o SECTOR LESTE e que se prevê, quando apetrechado venha a absorver quase toda a carga hoje manuseada pelos Portos de BAMBADINCA e BAFATÁ.
- O desenvolvimento do Porto acarretará um surto de desenvolvimento e progresso para a População.

- XITOLE

- Sede do Posto Administrativo do mesmo nome, Sede da CART 2716, com uma população normal de 300 habitantes, dispõe de 3 lojas comerciais em funcionamento. Sofreu forte repressão na sua importância comercial (principais fontes de riqueza coconoto e madeira), com a guerra.
- A construir-se a Estrada AMEDALAI-XITOLE a sua importância será muito aumentada.

2) – POVOAÇÕES SOBRE CONTROLO DAS NOSSAS TROPAS (NT), COM VALOR NO
QUADRO DA MANOBRA DO SECTOR

a) Pela sua localização (armada em AUTO DEFESA (A/D) ou colaborantes na defesa) constituem a linha de contenção de subversão.

- MISSIRÁ
- Colaborante na defesa, Sede de Regulado do CUOR, dispõe de 165 habitantes recenseados.
- FINETE
- Colaborante na defesa, dispõe de 56 habitantes.
- ENXALÉ
- Colaborante na defesa dispõe de 300 habitantes e de uma loja comercial.
- AMEDALAI
- Colaborante na defesa, dispõe de 160 habitantes.
- TAIBATÁ
- Colaborante na defesa, Sede de Regulado do XIME, dispõe de 228 habitantes recenseados.
- DAMBA TACÓ
- Colaborante na defesa, dispõe de 234 habitantes.
- SAMBA JULI
- Em Auto Defesa, dispõe de 127 habitantes.
 - SINCHÃ MAMAJÃ
- Em Auto Defesa, dispõe de 119 habitantes.
- SANSANCUTÁ
- Em Auto Defesa, dispõe de 55 habitantes.
- DEMBATACOBÁ
- Em Auto Defesa, dispõe de 168 habitantes.
- AFIÁ
- Colaborante na defesa, dispõe de 195 habitantes.
- CANDAMÃ
- Colaborante na defesa, Sede do Regulado do CORUBAL, com 204 habitantes.
- CAMBESSÉ
- Em Auto Defesa, dispõe de 174 habitantes.
- SINCHÃ MADIU
- Em Auto Defesa, dispõe de 120 habitantes.
- TANGALI
- Em Auto Defesa, dispõe de 146 habitantes.
- MANSAMBO
- Sede da CART 2714, dispões apenas dos assalariados normais da Companhia e de seus familiares.

b)Por constituírem pólo de atracção da população

- REORDENAMENTO DE NHABIJÕES                 1.579 pessoas
- BANTAJÃ ASÁ                                                     222 pessoas
- BANTAJÃ MANDINGA                                           286 pessoas
- BIANA                                                                   166 pessoas
- BISSAQUE                                                           189 pessoas
- BRICAMA                                                              320 pessoas
- CANFATE                                                             150 pessoas
- GANHOMA                                                            242 pessoas
- IERO NHAPA                                                        194 pessoas
- JANA                                                                    436 pessoas
- MERO                                                                   456 pessoas
- META NHANCANI                                                152 pessoas
- QUEROANE                                                          156 pessoas
- SANTA HELENA                                                    571 pessoas
- SARÉ ADÉ                                                            166 pessoas
- SARÉ BAMBÉ                                                       183 pessoas
- SARÉ IERO                                                           302 pessoas
- SIBICROTO                                                           231 pessoas
- TENCNAN                                                             337 pessoas
- UAGE FULA                                                          194 pessoas

c)Com mais de 150 habitantes e não incluídas nas anteriores

- FÁ MANDINGA
- Centro de Instrução de Companhias de “COMANDOS AFRICANOS”, com 318 habitantes
- MADINA BONGO
- Sede do Regulado de BADORA, com 170 habitantes


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segunda-feira, 7 de junho de 2010

Guiné 63/74 - P6556: Parabéns a você (119): Agradecimento (Belarmino Sardinha)

1. Mensagem do nosso camarada Belarmino Sardinha (ex-1.º Cabo Radiotelegrafista STM, 1972/74, Mansoa, Bolama, Aldeia Formosa e Bissau), com data de 7 de Junho de 2010:

Começo por dizer de maneira simples, obrigado pelos parabéns que me chegaram através deste blogue ou Tabanca Grande.

Referi desde o meu primeiro comentário neste espaço que, sendo rendição individual e com um trabalho específico, não pertencendo a nenhum Batalhão, Companhia, Pelotão ou sequer Grupo, embora fazendo parte de um Agrupamento, Transmissões, sediado em Bissau, as minhas relações eram dispersas, mínimas e a lembrança, passados estes anos, vaga e por vezes confusa. É pois com agrado que, através deste espaço criado pelo Luís Graça e mantido pelos editores Carlos Vinhal, Magalhães Ribeiro e Virgínio Briote tenho vindo a alargar o meu círculo de conhecimento e amizade com camaradas de armas que passaram pela Guiné, antes ou depois de mim.

Não sendo um lamento ou uma queixa, mas apenas um facto o ter andado “sozinho” por aquelas paragens, não me impede de afirmar sentir-me agora integrado num batalhão, tantos aqueles que contribuem ou contribuíram já e dão o seu nome a esta causa que nos liga, une e também divide, mas não deve ser motivo de exclusão por não apagar o passado nem alterar o que somos ou quem fomos e poder ajudar a compreender e a passar o futuro, tal como as outras coisas da nossa vida e dos nossos dias.

Agradeço, a todos, os parabéns que recebi por e-mail, por telefone ou através do blogue.
BSardinha
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Nota de CV:

Vd. poste de 6 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6540: Parabéns a você (118): Belarmino Sardinha, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista do STM, Guiné, 1972/74 (Editores)

Guiné 63/74 - P6555: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (33): Diário da ida à Guiné - 15/03/2010 - Dia doze

1. Mensagem de Fernando Gouveia (ex-Alf Mil Rec e Inf, Bafatá, 1968/70), com data de 3 de Junho de 2010:

Caro Carlos:
Aí está o relato da minha segunda ida a Bafata e última, por agora. Tanta coisa ficou por rever. Penso tornar à Guiné e dessa vez montarei arraiais mesmo em Bafata, pois verifiquei haver lá condições para isso.

Um abraço.
Fernando Gouveia



A GUERRA VISTA DE BAFATÁ - 33

Diário da Ida à Guiné – Dia Doze (15- 03-2010)


Fui novamente a Bafatá. Da vez anterior tinha sido um êxito, pois tinha encontrado a bajuda Kadidja de há quarenta anos. Desta vez, pelo menos em número de reencontros, foi mais espectacular.

Fui ao antigo quartel do Comando de Agrupamento que ainda funciona como quartel. Tive que ir pedir autorização ao comandante (um Major) que morava na antiga casa do comandante do Esquadrão. Quer ele quer os outros militares foram extremamente simpáticos, deixaram-me percorrer todas as instalações e tirar as fotos que quisesse. Claro que estive no meu antigo quarto e sentei-me na que pode ter sido a minha cama. Os edifícios, pelo exterior, tinham sido pintados recentemente, mas pelo interior não. Num pequeno quarto que ocupei nos dois últimos meses da minha comissão e que eu tinha forrado integralmente com recortes de revistas, ainda se conseguiam ver restos da cola que tinha utilizado. Não pode deixar de ter sido emocionante.

O pavilhão dos quartos dos oficiais. A partir do fundo: Quarto do Comandante, quarto do Chefe do Estado Maior, quarto dos dois Majores, quarto dos três Alferes, quartinho que ocupei dois meses; a porta mais próxima era a do bar.

No meu antigo quarto, o que pode ter sido a minha cama. O colchão de espuma é que não podia durar os quarenta anos!!!

Fui à casa onde morei cerca de um ano, na tabanca da Rocha, em frente ao restaurante do Sr. Teófilo. Nunca mais foi pintada. Há quarenta anos o proprietário era o Sr. Humberto, agora pertence ao empreendimento do Capé e funciona lá uma qualquer empresa. Está muito degradada, assim como todas as imediações, até porque é em frente que agora se faz diariamente o mercado de rua. Mais uma vez, as pessoas que lá estavam foram uma simpatia e deixaram-me visitá-la. Sentei-me na varanda onde muitas vezes estive há quarenta anos.

1970 - A minha casa (pintada de verde) e o restaurante do Sr. Teófilo (junto da camioneta vermelha)

A actual zona da casa onde morei. Foram retirados os muros para alargamento da estrada. O quintal desapareceu e os mangueiros que lá existiam a ensombrar a casa foram cortados. O mercado de rua acaba por transfigurar todo o local de há quarenta anos.

Que me lembre nunca tinha entrado na Mesquita. Resolvi ir lá. Contrariamente ao que eu achava ser costume, encontrava-se fechada. Entabulei então uma conversa com dois homens que estavam sentados à sombra. Vim a saber que um deles tinha sido o mestre construtor da mesma, de nome Bacari Dabo. Referiu ainda que aprendeu a arte com o empreiteiro português Manuel Santos Nabais.

Perguntando se não podia ver a mesquita por dentro, disseram-me que quem tinha a chave era o Mamadu que morava logo ali nesse largo. Para lá me dirigi. O referido Mamadu estava a descansar na varanda e palavra puxa palavra, não era mais do que o Mamadu Kulabio Bá, soldado condutor do Agrupamento. Relembrámos todo o pessoal daquele tempo e foi pena não ter levado para lhe deixar, as fotos que tinha dele, do pai, da sua mulher e de um filho. Disse-me que era o actual Imami (chefe religioso) de Bafata e que tinha sucedido ao seu pai, Cherno Udi Bá que eu tinha conhecido muito bem e do qual tenho uma óptima foto. Ainda me levou a ver o seu filho que era professor na madrassa local. Possivelmente irá suceder como Imami ao seu pai, que já sucedeu ao seu avô.

O Imami de há quarenta anos, Cherno Udi Bá.

Com o actual Imami de Bafata, Mamadu Kulabio Bá

O filho do actual Imami, professor na Madrassa, e a sua classe.

Como tinha sido ali perto que, há quarenta anos, tinha tirado uma foto a uma jovem mãe com a sua filhinha de dois ou três meses, perguntei ao Mamadu se a conhecia. Mal a viu disse: - É a Bobo. Mora ali adiante, se quiser podemos ir lá. Num instante lá chegámos. À porta estava a Bobo que logo reconheci pois, de todas as africanas que vi, era a única com nariz arrebitado. Ao mostrar-lhe a foto imediatamente exclamou: - Ah, é a minha Maria. Fez questão que entrássemos para sua casa e conversámos algum tempo. A Maria não esteve presente pois encontrava-se a trabalhar no empreendimento do Capé, onde também a Bobo trabalha.

A Bobo e a sua filha Maria, há quarenta anos.

Com a Bobo em Março de 2010.

Antes de almoço ainda fomos ao Hospital entregar medicamentos que tinham ido num contentor. Almoçámos no restaurante da vez anterior, umas óptimas bentanas grandes, grelhadas, e depois ainda fui visitar vários locais. Mas ainda sobraram motivos para uma terceira visita…

Na entrega de medicamentos no Hospital de Bafata.

Não deixei de fazer uma reportagem fotográfica sobre o degradado edifício do cinema, a pedido de um jovem amigo cineasta. Estive com o antigo operador da máquina de cinema, o mandinga Kanjajá que, não recebendo nada, há cinco ou seis anos, continua a tomar conta das instalações. De seguida regressámos a Bula.

Junto à sede do PAIG (no antigo edifício do comando do Batalhão) com o vice presidente da Assembleia Geral do Sporting Clube de Bafata (de verde) e o mandinga Kanjajá, antigo operador da máquina de cinema, a observar com espanto o meu cartão de sócio de há quarenta anos.

Até amanhã camaradas.
Fernando Gouveia
__________

Nota de CV:

Vd. poste de 3 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6525: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (32): Diário da ida à Guiné - 14/03/2010 - Dia onze

Guiné 63/74 - P6554: Convívios (249): XVI Convívio da CCAV8350 “PIRATAS DE GUILEJE”, 5 de Junho de 2010 em Águeda (José Casimiro Carvalho)


1. O nosso Camarada José Casimiro Carvalho, ex-Fur Mil Op Esp / RANGER da CCAV 8350 “Piratas de Guileje”, (1972/74), enviou-nos a seguinte mensagem, com data de 6 de Junho de 2009:

XVI CONVÍVIO DA CCAV 8350 “PIRATAS DE GUILEJE”

Decorreu em 5 de Junho de 2010, no restaurante Zito dos Leitões, em Águeda, mais um alegre, animado e ruidoso encontro dos ex-Combatentes da CCAV 8350, que deambulou pelas matas da Guiné e que mantêm a tradição de relembrar os difíceis tempos idos da guerra, que nos marcaram indelevelmente para o resto das nossas vidas.

As fotos abaixo são os fieis testemunhos de alguns dos amigáveis momentos do convívio, sendo a primeira da família “piratada”, denotando-se a falta do “boss” deste magnífico corpo, o Capitão Quintas, que por motivos de graves problemas de saúde com familiares muito próximos, não pôde estar presente este ano.

Felizmente tivemos connosco o nosso carismático e bem disposto Cor Coutinho e Lima, que muito nos satisfez a todos.
Para o ano lá estaremos novamente, assim Deus o permita.
Um abraço,
José Casimiro Carvalho
Fur Mil Op Esp/RANGER da CCAV 8350
___________
Nota de M.R.:
Vd. último poste da série em:

5 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6539: Convívios (162): Almoço convívio C.Caç.2381 e 2382, 01 de Maio de 2010 em Mira Daire (Arménio Estorninho)

Guiné 63/74 - P6553: Os Nossos Seres, Saberes e Lazeres (21): Olhos negros, com arranjo para coro do nosso camarada Mário Roseira Dias (Luís Graça)




Concerto, em 5 do correntre, na Lourinhã,  na sede da AMAL - Associação Musical e Artística Lourinhanense, comemorativo do 6º aniversário do Coro Municipal da Lourinhã. (Com a devida vénia...).

Actuação do coro  (35 elementos), dirigido pelo maestro João Pereira. Canção tradicional dos Açores, "Olhos Negros". Arranjo coral: M[ário] Roseira Dias (Sargento Comando Reformado, membro do nosso blogue). Já agora, alguém sabe quem é o autor (anónimo) desta líndíssima e genial letra ? Curiosamente, há várias versões: nuns casos, fala-se em "olhos pretos", noutros em "ollhos negros"... mas sempre da Guiné! 


Vídeo: 2' 50'': © Luís Graça (2010). Alojado em You Tube > Nhabijoes


Olhos negros (Trad. dos Açores / Ilha Terceira)
Arranjo coral: M. Roseira Dias


Os teus olhos, negros negros,
São gentios, são gentios da Guiné.  (Bis)

Ai da Guiné,  por serem negros,
Da Guiné por serem negros,
Gentios por não terem fé.  (Bis)

Os teus olhos são brilhantes,
Semelhantes
Aos luzeiros que o céu tem.  (Bis)

Os olhos negros, que eu preferi
E que nunca vi
De côr mais linda a ninguém (Bis)

Os teus olhos, negros negros...


Recordam-se  há tempos de ter escrito  que "o mundo é pequeno e o nosso blogue...é grande" ?  A frase ficou, caiu no goto e hoje já é título de série... 

Falando com o Francisco Feio (CCAV 2484,  Jabadá, 1969/70), descobri que ele era vizinho e amigo do nosso camarada  Mário Dias, Mário Roseira Dias, sargento comando reformado... Ambos têm em comum, para além da Guiné, a paixão pela música, em geral, e a música coral, em particular.

O Francisco é um dos quatro ou cinco sobreviventes do grupo de fundadores do Grupo Coral Alius Vetus (nome latino do topónimo Alhos Vedros, concelho da Moita). 

Em 2011, o grupo celebra os seus 25 anos... O Sr. Mário (como é respeitosamente tratado pelo Feio) esteve mais de dez anos no Grupo Coral. Depois afastou-se e dedica-se à composição musical, (Há tempos, o próprio  confidenciou-me que está a acabar uma cantatata,) Há várias peças dele no reportório actual do grupo.

Com a sua modéstia habitual, o Mário  Dias (mais conhecido por M. Roseira Dias, no meio musical) confirmou-me por mail que "por acaso o arranjo para coro da canção açoriana 'Olhos Negros' é de facto da minha autoria". E acrescentou: "Tenho muitos outros arranjos que por aí circulam e são cantados, mais ainda no Brasil do que em Portugal. Santos da casa não fazem milagres"...

E, por ser verdade, eu confirmo-o, através de rápida consulta na Net. São dezenas e dezenas de arranjos para coro, saídos do talento musical do nosso camarada: por exemplo;


Não só arranjos como músicas orignais: por exemplo;


Quanto ao maestro João Pereira (n. 1947), meu amigo e conterrâneo, o Mário conhece-o bem, já que foi também maestro do Coro Mama Sume da Associação de Comandos,  "in illo tempore". 

O João Pereira da Costa fez igualmente a guerra colonial, em Angola. É sobrinho do Agnelo Ferreira, ex-1º Cabo Cripto, da CCS/BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70). Está reformado da Caixa Geral de Depósitos. 

Enfim, dois exemplos de gente talentosa, culta e generosa, que podemos encontrar entre os ex-combatentes da guerra colonial, em geral, e entre os amigos e camaradas da Guiné que fazem parte da nossa Tabanca Grande, muito em especial. 

Parabéns, Mário, parabéns, João! (*)

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Nota de L.G.:

(*) Vd. último poste da  série > 16 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6402: Os Nossos Seres, Saberes e Lazeres (20): O Nosso Veterano... do Rugby, Paulo Santiago, a jogar em casa, no dia 12 de Junho próximo


Guiné 63/74 - P6552: Convívios (248): Encontro do pessoal da CCAÇ 2368, ocorrido no dia 30 de Maio de 2010 (Albino Silva)

1. Mensagem de Albino Silva* (ex-Soldado Maqueiro da CCS/BCAÇ 2845, Teixeira Pinto, 1968/70), com data de 2 de Junho de 2010:

Olá Carlos, e todos os Chefes da Tabanca Grande.
Sou o Albino Silva, e de novo a dar mais um bocado de trabalho, mas nesta altura do ano até entendo que será normal, olhando aos Convívios que se fazem por todo este País, e é precisamente por isso que eu aqui venho mais uma vez, para apresentar este trabalho relacionado com uma Companhia de meu Batalhão, a CCaç 2368, Feras.

Aproveito para informar toda a Tabanca que no dia 10 de Junho vai ser realizado, aqui em Fão, o Dia do Ex-Combatente, Organizado pela Junta de Freguesia de Fão. Será servido almoço pelo preço de 5 Euros para os ex-Combatentes, sendo grátis para as esposas.

Os interessados devem contactar a Junta de Freguesia através do telefone 253 982 143.
Venham todos.

Um grande Abraço para todos os Tertulianos.
Albino Silva


GRANDE RONCO da CCaç 2368 "FERAS"

30 de Maio


Foi esta a data escolhida pela Companhia de Caçadores, 2368 Feras, para comemorar 0s 40 Anos de regresso da Guiné.

Em 1968 todos nós em Batalhão embarcámos no dia 1 de Maio no navio Niassa, e dias depois chegaríamos à Guiné para cumprir a nossa missão, que viria a terminar em Abril de 1970, já lá vão 40 anos.

Já habituados a fazer Ronco todos os anos, este seria especial para os Feras pela data acima mencionada.

Em anos diferentes e não distantes, os Feras se juntavam sempre em grande número pelo que este julgava-se que aumentasse, para comemorar os 40 anos de nosso regresso, mas afinal foram ainda muitos menos a comparecerem na formatura junto à Caserna, pois muitos não responderam à chamada e estão em falta.

De alguns conhecemos o motivo, porque fomos contactados, mas de outros nada sabemos, pois
nada disseram. Sabemos ainda que há camaradas que nunca vieram, daí pensarmos que estão no estrangeiro, até porque há dias recebi um mail de Toronto (Canadá), de um camarada que para lá emigrou após a vinda da Guiné, e nunca teve por isso contacto com mais nenhum camarada. Teve sim a felicidade para ele e graças à internet de encontrar o site onde o Albino Silva, eu, apresenta trabalhos relacionados com o Batalhão, e por isso ver todos os Camaradas da sua Companhia e do BCaç 2845, muito embora sem conhecer ninguém, segundo ele, porque já são 40 anos.

É claro que há Feras em todos os recantos do mundo e por isso ser dificil estarem presentes nestes Roncos, que por vezes até desconhecem que os organizamos ano após ano. Também há quem saiba e não queiram aparecer.

Cada vez é mais dificil ter camaradas presentes, porque a idade vai avançando e os efeitos da mesma vão surgindo, incapacitando alguns de fazerem a viagem , e outros que por motivo de saúde também não podem vir e isso se compreende, mas creio que em qualquer dos casos deviam informar a Organização.

Nós queremos ajudar-te se estiveres doente. Na presença de todos nós poderás até melhorar e te sentires outro para enfrentares as dificuldades da vida. Sei que infelizmente há muitos camaradas a necessitar de Psicólogos e do apoio de todos nós, que também pensamos em ti, e sabemos que a presença de Camaradas é uma espécie de medicamento que tanto bem faz e nos faz esquecer um pouco a rotina do dia a dia. Sim porque estes encontros são saudáveis e transmitem alegria a todos, mesmo aos traumatizados e stressados daquela guerra vivida há 42 anos, pois procuramos sempre um incentivo e uma forma de te dar coragem e moral de que tanto necessitas, dando-te ainda a felicidade de estares presente entre nós Feras, Fortes e Altivos.

Há baixas na Companhia sim, pois recentemente faleceu o Capitão Sampaio Cerveira.

Lembras-te que o ano passado esteve entre nós e tudo parecia bem, mas de repente perdeu também ele esta batalha da vida.

Como ele outros mais, somos ex-combatentes mas não somos eternos.

A estes camaradas desaparecidos do combate, nós os recordaremos sempre e lhes prestaremos sentida homenagem mantendo-os assim entre nós até que a Companhia ou Batalhão seja todo excluído deste mundo onde tanto sofremos a partir dos nossos vinte anos, ao ver e a derramar sangue naquelas terras da Guiné já de si também com uma cor vermelhada.

A estes camaradas que agora estão dispensados de formar, nós os recordamos sempre, e tal como eles já o fizeram por outros, nós lhes guardamos um minuto de profundo silêncio.

Aos camaradas que simplesmente não querem fazer parte destas formaturas e que nunca vieram, só quero que saibam que esquecidos não estarão, nem na Companhia nem no
Pelotão, porque todos os anos perguntamos por vós, embora teimeis em não querer conviver com os vossos camaradas. Sei que é assim, até porque quando os Convívios são realizados a escassos metros de casa, mesmo assim não compareceis, e é porque certamente esquecesteis aqueles camaradas que se calhar por vezes repartiu convosco daquilo que também pouco tinha, como a água de seu cantil e a própria Ração de Combate, e por vezes até o moral e coragem vos deu.

Para ti Camarada, lembra-te que estamos todos contigo e que esperamos um dia ver-te aqui bem disposto, trocando uns abraços e contando um pouco da tua própria história. Assim verás e dirás que os encontros de camaradas que são saudáveis, como saudável era há 40 anos atrás.


PALAVRAS BONITAS

Ao longo da festa, foram muitos os camaradas que de microfone em punho usaram a palavra, e foram impecáveis, em tudo aquilo que nos disseram, o que aliás, já estamos habituados.
O que apreciei, foi o que nos disse o Matos Almeida, ex-Alf e ainda Moutinho dos Santos, o ex-Capitão da CCaç 2366 que veio expressamente trazer um abraço desde os Periquitos Atrevidos, até ás Feras, dedicando uma boa parte da tarde a todos os camaradas.

Sinceramente foi lindo o gesto, e é caso para dizer um Periquito Atrevido entre Feras.


AOS FERAS

Especialmente àqueles que estão espalhados pelo mundo, o nosso abraço.


LOUVOR

Quero aqui louvar todos os organizadores dos Roncos dos Feras, pelo esforço e dedicação que têm prestado ao longo dos anos, pois todos os Convívios por eles realizados têm tido sucesso, para bem da Companhia. Continuem.


LINDO

Que lindo é ver jovens nos nossos Convívios, quando estes estão atentos ao que vamos dizendo sobre o nosso passado na Guiné.

Creio que cada um vai confirmando aquilo que os pais já lhes disseram, quando lhes contam histórias vividas naquela Guerra.

É claro que nós dizemos a verdade, mas sei que muitos jovens gostam de nos ouvir, pois do nosso passado só nós falamos, e somente nós sabemos falar dele, pois ainda hoje vivemos isso.

Assim tenho falado com alguns que me afirmam que seus pais virão aos Convívios, porque eles próprios fazem questão de os trazer e isso é realmente muito lindo.

Neste ronco (festa) tive realmente um jovem casal que me disse isso mesmo, ou seja, que eles mesmo fazem questão de os trazer até junto de todos os camaradas.

Há dias, ou seja no dia 1 de Maio no convívio da CCaç 2367 Vampiros, havia um Sargento com a bonita idade de 83 anos, Luís Rafael dos Santos, que mostrou todo o interesse em participar na festa de sua Companhia realizada em Buarcos, pois tinha saudades dos camaradas que já não via há 41 Anos, porque veio mais cedo que nós um ano.

É claro que se achou incapaz de realizar a viagem desde o Laranjeiro (Almada), devido a sua idade e consequentemente cansaço, mas disse-me que adoraria vir ter com os camaradas, mas na impossibilidade, me pediu para falar dele a todos, e dar um grande abraço.

No dia seguinte, de novo me ligou, e então feliz, a confirmar três pessoas, seja para ele, sua esposa e sua filha, esta que vendo a vontade de seu pai em nos querer ver, se ofereceu em trazer seu pai ao nosso encontro.

Que lindo seu gesto minha senhora, seu pai era o homem mais feliz naquele Convívio, onde muito falou comigo alegremente.

Que lindo seria todos os filhos e agora até netos procedessem assim, porque nós já velhos e cansados adoramos.

A todos vós bons filhos e jovens, obrigado pela alegria que dais ao vosso pai, avô ou familiar e guarda bem para ti, que ele foi um grande combatente e que soube honrar a bandeira de Portugal.

Obrigado
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Louvores à CCAÇ 2368

Por despacho de 8 de Novembro de 1968 do Exmo. Comandante do Batalhão de Caçadores N.º 2851 é citada a CCAÇ 2368:

Teve este Batalhão sob o seu Comando Operacional para a Operação “Vamos Ver“, a CCAÇ 2368.
A forma altamente consciente da responsabilidade da missão com que actuou e, que se manteve intacta apesar de ter sido a subunidade que deparou com o mais forte contacto com o IN, sofrendo baixas, tornam a CCAÇ 2368, credora do apreço que com muita satisfação, este Comando manifesta.

( O.S. N.º 86 do BCAÇ 2851, de 8 de Novembro de 1968)
__________


Lovor ao 3.º Grupo de Combate da CCAÇ 2368

Por despacho de 9 de Maio de 1969 de Sua Ex.ª o Comandante Militar do CTIG é Louvado o 3.º Grupo de Combate/CCaç 2368 destacado em Bachile :

Pelo alto espírito de camaradagem com que efectuaram a evacuação de um Soldado Milícia gravemente ferido por acidente naquele Destacamento, ao ser verificada a impossibilidade de se efectuar a evacuação por meios aéreos, por ter caído a noite e a impossibilidade de Transmissões com a Sede, conscientes do risco que iam correr, uma vez que não tinha sido feita a picagem do itinerário e dada a gravidade do ferido, com total desprezo pelo perigo, meteram-se a caminho dignificando a sua farda, a bandeira e a Unidade a que pertencem, resultando deste acto uma materialização da acção psicológica na população e de uma igualdade de soldado metropolitano e milícia.

( O.S. N.º 24 de Junho de 1969 do CTIG )
__________

Albino Silva
Sold Maq N.º 011004/67
Ao vosso dispôr e do Bat Caç 2845
Ver Blogue do Convívio dos Feras em : batcac2845guineteixeirapinto.blogspot.com

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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 11 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6370: Blogopoesia (72): Escondam-se que eles vêm aí (Albino Silva)

Vd. último poste da série de 5 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6539: Convívios (162): Almoço convívio C.Caç.2381 e 2382, 01 de Maio de 2010 em Mira Daire (Arménio Estorninho)

Guiné 63/74 - P6551: Notas de leitura (119): Uma Campanha na Guiné, 1965/67, de Manuel Domingues (2) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso Camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil At Inf, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 1 de Junho de 2010, com mais uma das suas recensões:

Queridos amigos,
Aqui se põe termo a um relato edificante e esclarecedor do que era o Leste da Guiné entre 1965 e 1967.

A ver se para a semana vou ao CIDAC para ver se descubro mais literatura avulsa, pouco mais coisas tenho para ler, os nossos camaradas estão na retranca, não abrem mão do que guardam nas suas bibliotecas.
Paciência, que também é uma virtude.

Um abraço do
Mário


Notícias do Leste da Guiné, entre 1965 e 1967:

Um relato singular sobre a história do BCaç 1856


por Beja Santos

Manuel Domingues foi comandante do Pelotão de Reconhecimento e Informação e desempenhou as funções de oficial de informações do BCaç 1856, que teve a sua sede no Gabu, entre 1965 e 1967. Escreveu um documento singular sobre a história do seu batalhão, desde a sua formação, quadrícula, operações, avaliação da missão e memórias dos protagonistas. Supera toda a linguagem convencional destes documentos habitualmente cinzentos onde não há espaço para entrelinhas. Não, Manuel Domingues não ilude o inferno de Madina do Boé e Béli e a tenaz que se foi apertando à volta do Senegal e da Guiné Conacri sobre os destacamentos desta região militarmente designada por L3. No seu relato refere inclusivamente um diário de um combatente, de autor desconhecido da CCaç 1417, que lhe terá sido entregue pelo comandante do batalhão, no final da comissão. É um documento de indiscutível importância, quem o escreveu tinha bases literárias, sensibilidade, era bom observador, combateu, registou canções, temos aqui uma fotografia do tempo e do evoluir da guerra. Esta CCaç 1417 andou em bolandas até chegar a Bajocunda, Canquelifá e Copá. Fizeram a instrução em Bula e Binar, na região de Bambadinca percorreram Ponta Varela, Ponta do Inglês, Poidom e o Burontoni, seguiram depois para o Xitole, seguiram para Galo Corubal. Já na região do Gabu, fizeram escoltas, estiveram em Bajocunda e arredores meses a fio.

Outro relato importante é do capitão miliciano Jorge Monteiro que esteve em Madina do Boé. Ele confessa, depois de ter vivido em Madina durante 11 meses, a completa inutilidade de estar numa posição que não servia para nada, era um acampamento subterrâneo protegido por arame farpado e seteiras, um alvo apetecido para os ataques diários das forças do PAIGC. Pega no seu diário e cita alguns dados: no dia 1 de Dezembro de 1966, às 18:15 mandaram-nos 6 granadas de morteiro 82; às 19:30 mais 6; no dia 3, logo às 6 da manhã, mais 6; na tarde do dia 4, 9 granadas; no dia 6 puseram 2 morteiros e 2 canhões sem recuo a trabalhar e no dia 7 pelas 3 da manhã atiram-nos 15 granadas; no dia 8 às 6 da tarde 5 granadas e logo a seguir, às 7:30, 2 granadas de canhão sem recuo. Respeitaram o dia de Natal, mas acordámos a 26 logo às 6 da manhã. Entrevistado mais tarde, o capitão Monteiro não percebia como é que Madina do Boé, um pântano, um chão inútil, no meio de dezenas e dezenas de quilómetros de área inundada, um charco imenso onde só as rãs se sentiam bem, podia vir a ser a capital do PAIGC.

Há depoimentos sobre os quais devíamos reflectir com muita profundidade, até às últimas consequências. Vejamos o que escreve António Araújo da CCaç 1416:

“Fomos os primeiros a ser destacados para o mato, oito dias após a nossa chegada a Bissau. Éramos a companhia mais antiga, logo a que tinha mais prática de guerra.

Ainda hoje não consegui entender como um indivíduo entrando no mesmo dia, à mesma hora, no mesmo quartel, só porque entrou um passo atrás passou a ser o mais novo. Tal como uma companhia, só porque lhe foi atribuído um número mais baixo passou a ser a mais antiga.

Ficámos mal aquartelados num celeiro em Nova Lamego, com uma zona de intervenção enorme: Canquelifá, Buruntuma, Piche, Bajocunda, Pirada, Paúnca, Cabuca e Madina do Boé.

Passaram poucos meses e depois de vários combates travados com o inimigo sofríamos a primeira baixa. Um alferes ferido às primeiras horas da manhã. A evacuação pedida com o grau máximo de urgência, só é deita depois das 15 horas. O alferes já tinha morrido depois de ter sido transportado muitos quilómetros aos ombros em maca improvisada”.

Até o capelão, de nome Mota Tavares, andou metido em sarilhos, viu camaradas a morrer ao seu lado, interrompeu a celebração do culto durante o bombardeamento dos quartéis, seguiu com o cálice na mão para dentro dos abrigos. Vale a pena escutá-lo: “Nunca usei uma arma. Não estava lá para lutar ou defender a guerra, mas para ajudar em nome de Cristo os meus irmãos militares. Levava o terço, os Santos Óleos e o canivete de escuteiro. Um dia, em Buruntuma, um capitão obrigou-me a levantar uma pistola para levar no dia seguinte para uma operação. Obedeci ao meu superior mas de madrugada, ao sair à porta de armas dei a pistola ao sentinela: Eh pá! Guarda-me esta treta até logo e não digas nada a ninguém. O percurso foi muito cansativo. Como tinha boa resistência física, cheguei a carregar duas G3 às costas para aliviar soldados mais cansados”.

No epílogo, Manuel Domingues refere Óscar Baldé, um menino que eles tinham conhecido em Copá, no Norte do Gabu. Estudante brilhante, obteve uma bolsa do Governo brasileiro e depois do Banco Mundial, tendo chegado a ministro das pescas e do mar, já no século XXI. Sentia-se desapontado com a falta de democratização do país e com a corrupção que graça por toda a parte. Mas os combatentes do batalhão 1856 lembravam com saudade aquele menino que alguém tinha ensinado a ler e a escrever e que ficara amigo inseparável do furriel miliciano Fernando Pereira da CCaç 1417.

Estamos perante um relato que justificava plenamente ser reajustado para uma edição mais divulgada, dada a plenitude das suas mensagens.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 6 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6542: Notas de leitura (118): Uma Campanha na Guiné, 1965/67, de Manuel Domingues (1) (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P6550: Patronos e Padroeiros (José Martins) (9): Força Aérea Portuguesa - Nossa Senhora do Ar

1. Mensagem de José Marcelino Martins (ex-Fur Mil, Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), com data de 3 de Junho de 2010:

Meus amigos
Como ultimamente se tem falado nas nossas meninas, lembrei-me da Nossa Senhora.

Aqui vai um texto que, penso, poderá merecer a vossa atenção

Um abraço
José Martins



Patronos e Padroeiros - IX

Força Aérea Portuguesa - Nossa Senhora do Ar


Nossa Senhora do Ar


Apesar de Nossa Senhora, a Mãe de Jesus, ser só uma, os crentes têm-lhe atribuído diversas designações, para assim, duma forma simples, a evocarem.

Dentro desta tradição, os aeronautas portugueses, passaram a utilizar a expressão “Nossa Senhora do Ar”, para assim designarem a mãe de Deus e a venerarem, prestar culto e invocarem.

Manda, também, a tradição de que em qualquer destacamento da Força Aérea exista, mesmo que pequena, uma imagem da devoção à Padroeira da Força Aérea Portuguesa.


Cântico a Nossa Senhora do Ar

Nossa Senhora do Ar
Guiai-nos, por Além Fora
Para que possamos voltar,
Ó minha Nossa Senhora.

Acalmai os elementos,
Fazendo por nos guardar
Do rude impulso do vento,
Nossa Senhora do Ar.

Para que revivam na história
Altas façanhas de outrora,
Facilitai-nos a glória:
Guiai-nos pelo além fora

Pela fé que nos trespassa,
Por quem nos espera e chora
Pela Pátria. Pela Raça.
Valei-nos, Nossa Senhora


(Cântico retirado do opúsculo “In Memória” , da Missa celebrada na Igreja de Nossa Senhora do Rosário – Templo da Força Aérea Portuguesa em 26 de Julho de 2008, aquando do regresso dos três Paraquedistas de Guidage.

Este texto, alem de ser mais um na Galeria dos NOSSOS PATRONOS, também pretende ser uma homenagem ás “Nossas Meninas do Ar – As Nossas Queridas Enfermeiras”, pois que nós nunca as esquecemos e podemos gritar bem alto:

Olhem bem, sintam respeito!
Elas usam asas ao peito!

José Martins
3 de Junho de 2010
__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 6 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6548: In memoriam (43): Faleceu Joaquim Cardoso Veríssimo da CCAÇ 5 (José Marcelino Martins)

Vd. último poste da série de 17 de Fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5831: Patronos e Padroeiros (José Martins) (8): Portugal - Tenente-Coronel Santo António

Guiné 63/74 - P6549: O Nosso Livro de Visitas (92): O Xitole que eu e os meus pais conhecemos até 1962 (Maria Augusta Antunes, filha de Henrique Martinho, antigo madeireiro)





Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Xitole > Janeiro de 2006 > Casa, em ruínas,  de Jamil Nasser, comerciante de origem libanesa. Fotos do Dr. Rui  Fernandes, médico.

Fotos: Cortesia de  © Rui Fernandes / Carlos Silva


1. Mensagem com data de 5 do corrente, enviada por Maria Augusta Antunes:


Olá, muito boa noite.

Começo por pedir desculpe da minha ousadia em lhe escrever, Sr. Luís Graça.

Sou Maria Augusta Antunes Martinho, e fui para a Guiné ainda bebé com a minha mãe e irmão ao encontro do meu pai, Henrique Martinho, madeireiro e colono então no Cumeré.

Mais tarde montaram a serração no Xitole, para onde nos mudamos. Com o meu pai estava também o sr. Pires. Fizeram ambos as suas casas de raíz e também a casa aonde guardavam o arroz e o sal, que faziam parte do pagamento do trabalho diário dos negros, trabalhadores da serração.

Pois a razão deste mail é exactamente o desejo que tenho de corrigir uma informação do seu blogue.
Na verdade, a casa do sr. Jamil (se a memória não me trai,  de seu nome completo Jamil Nene Nasser), compadre dos meus pais, (pois foi o padrinho de baptizado de um dos meus irmãos, nascidos naquela casa),  não era nenhuma daquelas mencionadas no álbum de fotografias do Xitole (*), mas sim uma casa que ficava no cruzamento da estrada que,  vinda de Bambadinca, passava pelas nossas e à entrada do Xitole virava para a estrada do Saltinho. Vi a verdadeira casa do sr. Jamil no blogue do sr.  Carlos Silva. Como eu a conheço bem!

Quando em 1962 o meu pai veio da Guiné, pediu ao compadre Jamil que olhasse pela casa na esperança de um dia voltar e para evitar ela ser ocupada pelos negros. Assim também sucedeu com a do Sr. Pires.

Vivi e cresci a ouvir falar da Guiné. Transmito isso aos meus filhos e neto. Os meus queridos pais faleceram sem lá poder voltar. Mas isso são outras histórias.....

Como deve calcular posso falar do sr. Jamil, pois que era visita constante de nossa casa.
Se estiver interessado dar-lhe-ei os pormenores que souber

A minha casa é a que tem os 2 anexos juntos,  um era a cozinha e a casa aonde o meu pai punha a caça quando vinha do mato, e o outro era a casa de banho.

Espero não o ter aborrecido e tomado o seu tempo.

Aceite os melhores cumprimentos

Maria Augusta Antunes Martinho


2. Comentário de L.G.:

Maria Augusta, não maça nada. Bem pelo contrário, todos os membros deste blogue (e são muitos) que passaram pelo Xitole (ou que conheceram o Xitole e muitos dos seus habitantes, incluindo não já o seu pai mas o seu compadre, Jamil Nasser) ficam-lhe gratos por este reavivar de memórias.  Esteja à vontade para escrever o que bem entender sobre as suas recordações da Guiné, incluindo o Xitole e o Cumeré, sítios a que esteve ligada a sua família. As memórias da Guiné não são monopólio de ninguém, e o objectivo deste blogue é justamente partilhá-lhas, entre portugueses e guineenses de várias gerações. Ainda há dois meses publicámos também aqui, nesta série O Nosso Livro de Visitas, uma mensagem de Maria Helena Carvalho, filha de um português, estabelecido até 1962, no Enxalé (**).

Recomendo-lhe também uma visita o blogue Xitole, criado e mantido por camaradas nossos que em diferentes períodos estiveram aquarteladas nessa bonita localidade da margem direita do Rio Corubal.

Sobre o Xitole temos, no nosso blogue, mais de oitenta referências (ou marcadores). De qualquer modo, os anos que antecederam o início da guerra colonial (que começou, oficialmente, em 23 de Janeiro de 1963, em Tite, segundo a historiografia do PAIGC) estão mal documentados no nosso blogue. Gostaríamos muito que nos contasse a história de vida da sua família e as razões (imperiosas) que levam o seu pai a abandonar a serração e a casa no Xitole, em 1962. Diferente foi a estratégia do sr. Jamil, comerciante, que decidiu ficar, e que conviveu com alguns de nós, incluinmdo o Alf Mil Capelão Arsénio Puim (CCS/ BART 2917, 1970/72) e o Joaquim Mexia Alves (que foi Alf Mil Op Esp, tendo passado entre 1971 e 1972 pela CART 3494). 

Maria Augusta, dou-lhe ainda os parabéns por se preocupar em transmitir aos seus filhos e netos as suas recordações de infância da Guiné.
______________

Notas de L.G.:

(*) Fotos de 2001, tiradas pelo nosso camarada David Guimarães (ex- Fur Mil At Inf MA, CART 2614, Xitole, 1970/72)

(**) Vd. poste de 6 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6116: O Nosso Livro de Visitas (85): Maria Helena Carvalho, filha do Pereira do Enxalé, localidade onde nasceu há 60 anos, hoje residente nas Caldas da Rainha (Luís Graça)

domingo, 6 de junho de 2010

Guiné 63/74 - P6548: In memoriam (43): Faleceu Joaquim Cardoso Veríssimo da CCAÇ 5 (José Marcelino Martins)

1. O nosso Camarada José Marcelino Martins (ex-Fur Mil, Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), enviou-nos a seguinte mensagem, com data de 5 Junho de 2010:




Director: Adriano Lucas
Sexta-Feira, 4 de Junho 2010
Escrito por: Manuela Ventura
Penela
Colisão no IC3 provoca um morto e um ferido grave

Condutor do ligeiro teve morte quase imediata e a esposa ficou encarcerada. Circulação na via só foi completamente restabelecida quatro horas depois.
Um homem de 61 anos morreu ontem ao princípio da manhã, vítima de um acidente de viação, no IC3. Um ligeiro de passageiros e um pesado de mercadorias, transportando um carregamento de papel, embateram de forma violenta, nas proximidades da localidade de Camarinha, na zona de Penela.
O alerta para o acidente foi dado às 6h35 e, quanto chegaram ao local, os Bombeiros de Penela já não detectaram sinais vitais no condutor do ligeiro de passageiros, cujo óbito foi posteriormente confirmado pela equipa médica. Ao lado do condutor, que se presume seja oriundo da zona de Sobral do Campo, Castelo Branco, seguia a esposa, de 58 anos, que sofreu ferimentos considerados graves. De acordo com fonte dos Bombeiros de Penela, que garantiram as operações de socorro, a senhora estava encarcerada na viatura e queixava-se com dores nos membros inferiores e também na zona do tórax. Foi transportada para o Centro Hospitalar de Coimbra (CHC).
O condutor do veículo pesado de mercadorias não sofreu quaisquer ferimentos. Os Bombeiros de Penela deslocaram para o local do acidente três ambulâncias, uma viatura de desencarceramento e um veículo destinado às operações de limpeza da via, bem como uma equipa de socorro constituída por 13 homens, à qual se juntaram, também, os elementos da viatura médica de emergência do CHC e os militares do posto da GNR de Penela.
O acidente, que poderá ter sido motivado pelo intenso nevoeiro que se fazia sentir naquela zona, obrigou ao corte da circulação naquele itinerário complementar, que só ficou completamente restabelecida por volta das 10h30. Todavia, de acordo com informação dos Bombeiros de Penela, por volta das 9h00 foi reaberta parcialmente a circulação, no sentido Tomar – Condeixa.
A notícia supra, que me recordo de ter ouvido na rádio ou na televisão era, infelizmente, mais uma notícia a juntar a tantas outras que nos chegam através dos mais diversos meios de comunicação social.
Através de telefonema de ontem, a noticia ganhou outros contornos:
“Um homem de 61 anos” tinha o nome de JOAQUIM CARDOSO VERÍSSIMO e a “esposa de 58 anos” chama-se MARIA CAROLINA. É “isto” que acontece quando as personagens de um facto se aproximam de nós, por qualquer razão.
O Joaquim Cardoso Veríssimo era/é um dos nossos. Fez parte da Companhia de Caçadores nº 5 do Comando Territorial Independente da Guiné, uma das muitas companhias formada por soldados africanos e enquadrada por militares metropolitanos.
Dos elementos que colhemos para elaborar a história da unidade, consta:
1º Cabo Atirador de Infantaria, número mecanográfico 12539370, natural da Guarda, prestava serviço no Regimento de Infantaria 3 quando foi mobilizado.
Foi aumentado ao efectivo da Companhia em 12 de Março de 1971, assumindo as funções de Comandante de Esquadra.
Não se encontra referida a data em que foi abatido ao efectivo da Companhia, presumindo-se que tenha ocorrido no primeiro trimestre de 1973.
Pouco tempo depois de ter sido “reencontrado” para a família dos Gatos Pretos, parte de vez, aumentando na lista que não deixa de crescer, e cuja leitura, nos provoca saudade.
À Esposa, nossa companheira Maria Carolina, apresentamos as nossa condolências e o nosso afecto, assim como a todos os familiares. Vocês são também, por direito próprio, GATOS PRETOS. Não deixem que a memória do Joaquim se esfume. Vejam nas suas recordações “daquele tempo de Justos e Valorosos”, a divisa dos Gatos Pretos, as fotos, os escritos e mandem-nos cópias, para que possamos reter dele, como no meu caso que não o conheci, a melhor recordação e memória.
JOAQUIM CARDOSO VERISSIMO, Presente!

Com um abraço,
José Marcelino Martins
Fur Mil Trms da CCAÇ 5
(Junho de 1969 a Junho de 1970)
___________
Nota de M.R.:
Vd. último poste da série em:

Guiné 63/74 - P6547: Controvérsias (84): O meu grande apreço por este blogue e pelos ex-militares portugueses que ficaram com a nossa terra e o nosso povo no seu coração (Pepito, AD, Bissau)

1. Comentário do nosso amigo Pepito (*) ao Poste P6538, a pedido do editor do blogue:

Luís: Não conheço, nem sabia que existia [, o arquitecto Mário Ansely Correia] (**)

Constato, para minha grande pena e perplexidade, o surgimento,  de um lado e de outro, de posições a roçar a irracionalidade. A nível interno, andamos nos últimos anos a amolar as facas para ajustar contas entre nós, acusando-nos mutuamente de termos sido servidores do colonialismo, porque alguns prestaram serviço militar no exército português.

Está-se a chegar ao ponto de acusar Mário Pinto de Andrade de, enquanto angolano,  ter sido Ministro de um Governo da Guiné-Bissau. Ele que combateu para que o nosso país fosse independente. Que noção rasca de nacionalismo. Sobretudo vindo de quem nunca nada fez pela libertação da Guiné-Bissau e da história apenas ouve comentários em becos onde se bebe vinho de palma ou em festas onde o vinho marca o ponto e a agressividade é testemunho de valentia e coragem politica.

A minha memória faz apenas uma grande divisão entre aqueles que serviram o colonialismo (dirigentes políticos miseráveis que oprimiram ao mesmo tempo o povo português e africano) e a inqualificável Pide,  constituída por seres menores que viveram sempre com um polícia na barriga e que tantos nacionalistas africanos e oposicionistas portugueses mataram, torturaram ou destruíram as suas vidas.

Sendo o meu pai advogado de combatentes do PAIGC e ainda eu,  pequeno, ouvia calado em nossa casa,  e com a raiva a crescer, os relatos que ele fazia à minha mãe sobre as selvajarias e matanças daquela escumalha. Desses a História não deverá esquecer-se, nem perdoar, nem limpar a imagem. Em memória do meu pai e dos pais e mães de tantos amigos meus, não me esquecerei, não perdoarei.

Do outro lado, estão os que sacrificaram toda uma vida para nós sermos independentes. Cabral na primeira linha, quantos anos esquecidos por nós,  guineenses,  e com que direito? Os que viveram nas matas de Cantanhez e de Morés em condições que poucos de nós aceitariam viver. Assim lutaram e assim foram passando o testemunho que hoje parecemos esquecer, tão ocupados estamos a desajustar contas que estavam certas.

A minha divisão é essa e unicamente essa.

Quando hoje lido e convivo com militares portugueses que fizeram a tropa na Guiné-Bissau, aprecio o amor em tempos de guerra que foram cultivando nos seus corações e que os levam hoje a regressar aos tempos de uma juventude perdida e com uma vontade de contribuir para empurrar a nossa terra para a frente: ele são escolas, campos hortícolas, poços de água, hospitais, amigos que precisam de uma mão, uma criança que é apadrinhada, um filho médico de um deles que vem com uma enorme dedicação salvar pessoas abandonadas nos confins de uma mata por onde há dezenas de anos não passa um médico.

Mas vejo,  também, sem conseguir encontrar explicação, a chegada frequente de uma nova vaga de jovens portugueses que desconsideram os guineenses, olham para nós de alto, com arrogância e superioridade, passeando a sua ignorância técnica e malformação humana sob pretexto de que trazem dinheiro, que até nem é deles na maior parte das vezes, e se acham no direito de nos enxovalhar e passar um atestado de menoridade. Qualquer dia, ainda se questionarão se os guineenses têm alma, como há 500 anos se debatia, quando os missionários cá chegaram.

O teu/nosso Blogue tem sido um marco notável do combate pelo resgate da história feita por iguais, sejam eles de que lado estiveram. 

As palavras do arquitecto atingem-me em cheio, em especial no orgulho de pertencer a uma grande tabanca, aberta, plural, respeitadora, amiga, como são as minhas tabancas da Guiné-Bissau onde me habituei a dormir e a ouvir as sábias palavras dos homens grandes quando, como agrónomo,  as percorro e as desfruto.

abraço aqui de longe do
pepito

[Revisão / fixação de texto / bold / título: L.G.]


  2. Comentário anterior, de L.G., ao poste P6538:


"Estamos num mundo, onde tudo se passa de uma forma tão estranha, porque ninguém até agora conseguiu detalhadamente explicar as nossas origens"... (Blogue de Mário Ansaly Correia, Ocante M'Buco > Poste de 24 de julho de 2009 > O mundo dos perdidos!

http://macgeny.blogspot.com/2009_07_01_archive.html


Mário, com a sua idade, a avaliar pela sua foto e pela pouca informação biográfica que consta do seu perfil no Blogger, seguramente que você não terá sido "camarada" dos soldados portugueses que fizeram a guerra colonial... Poderia acontecer, mas não me parece que seja o caso: em 1974, um em cada cinco militares do "exército colonial" era guineense... Nessa altura, você ainda não tinha nascido ou então seria muito "minino"... Nem sequer sei, de resto, se é guineense, a viver na diáspora...

Guineense ou não, estranho a "violência" da sua linguagem num blogue que pretende "construir pontes" entre a Guiné-Bissau e Portugal... Ou nós temo-nos explicado mal ou você decidamente não nos leu, de boa fé.

Nós, pela nossa parte, não temos problemas de identidade. Espero, em contrapartida, que você tenha encontrado, depois de 24 de Julho de 2009, resposta para a a sua pergunta, que é legítima, mas profundamente filosófica e fora das nossas preocupações, que são menos existenciais que as suas... A pergunta (isolada, solitária, única) mantêm-se no seu blogue. Sem resposta. Sem comentários. Sem posteriores desenvolvimentos.

Lembro as palavras de Amílcar Cabral que sempre fez questão de dizer que nunca lutou contra o povo português mas sim contra um regime político e um sistema económica de que ninguém aqui fez a defesa...

Tenho pena que tenha chegado até aqui com duas pedras na mão... E acenando com argumentos de puro primarismo ideológico...

Não quero entrar no seu jogo. Não lhe posso dar as vindas. Mas também não vou eliminar o seu comentário, que vem devidamente assinado... A menos, claro, que no próximo se confirmem eventuais suspeitas de provocação...

Há meses que não exerço o "doloroso e execrável direito" de eliminar comentários que infringem as boas regras de convívio... E, a propósito, elas estão publicadas na coluna do lado esquerdo, do nosso blogue; talvez seja útil relembrá-las aqui:

(i) respeito uns pelos outros, pelas vivências, valores, sentimentos, memórias e opiniões uns dos outros (hoje e ontem);

(ii) manifestação serena mas franca dos nossos pontos de vista, mesmo quando discordamos, saudavelmente, uns dos outros (o mesmo é dizer: que evitaremos as picardias, as polémicas acaloradas, os insultos, a insinuação, a maledicência, a violência verbal, a difamação, os juízos de intenção, etc.);

(iii) socialização/partilha da informação e do conhecimento sobre a história da guerra do Ultramar, guerra colonial ou luta de libertação (como cada um preferir);

(iv) carinho e amizade pelo nossos dois povos, o povo guineense e o povo português (sem esquecer o povo cabo-verdiano!);

(v) respeito pelo inimigo de ontem, o PAIGC, por um lado, e as Forças Armadas Portuguesas, por outro;

(vi) recusa da responsabilidade colectiva (dos portugueses, dos guineenses, dos fulas, dos balantas, etc.), mas também recusa da tentação de julgar (e muito menos de criminalizar) os comportamentos dos combatentes, de um lado e de outro;

(vii) não-intromissão, por parte dos portugueses, na vida política interna da actual República da Guiné-Bissau (um jovem país em construção), salvaguardando sempre o direito de opinião de cada um de nós, como seres livres e cidadãos (portugueses, europeus e do mundo);

(viii) respeito acima de tudo pela verdade dos factos;

(ix) liberdade de expressão (entre nós não há dogmas nem tabus); mas também direito ao bom nome;


(x) respeito pela propriedade intelectual, pelos direitos de autor... mas também pela língua (portuguesa) que nos serve de traço de união, a todos nós, lusófonos.
______________

Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 31 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3101: História de vida (13): Desistir é perder, recomeçar é vencer (Carlos Schwarz, 'Pepito', para os amigos)

Guiné 63/74 – P6546: Histórias do Eduardo Campos (14): Cantanhez: Do inferno ao Paraíso


1. O nosso camarada Eduardo Ferreira Campos, ex-1º Cabo Trms da CCAÇ 4540, Cumeré, Bigene, Cadique, Cufar e Nhacra, 1972/74, enviou-nos a 3ª estória da sua ainda fresquinha viagem à Guiné:

CAÇ 4540 – 72/74 – SOMOS UM CASO SÉRIO

CANTANHEZ: DEPOIS DO INFERNO - ENCONTREI UM PARAÍSO
Tenho de o dizer, porque calar-me seria trair o que me vai na alma, que na realidade tu, Luís Graça, és um dos responsáveis pelo meu regresso à Guiné e pela montanha de novos companheiros que também por lá passaram nos anos de guerra e que tenho tido o grato prazer de vir a conhecer nos últimos tempos. Tudo isso devo ao Blogue que criaste e mais digo, que o presente poste pretende apenas ser uma singela e reconhecida homenagem pessoal.

Luís Graça, Carlos Vinhal, Magalhães Ribeiro e todos os 417 Amigos & Camaradas da Guiné seguidores do Blogue, para vós vai toda a minha gratidão, porque conseguiram em 4 anos fazer o que o SNS não fez em trinta e muitos anos e ainda me permitiu usufruir do raro privilégio de ficar isento do inerente pagamento das irritantes e injustas taxas moderadoras.

Dito isto, vamos à narração da viagem:

Ficamos instalados no Capé (arredores de Bafatá), para assim nos podermos deslocar para norte, leste e sul. Outra alternativa poderia ser o Saltinho, mas a opção de ficar no Capé foi acertada, quer pela qualidade das instalações, da boa gastronomia e da afabilidade e simpatia dos proprietários.

Dia 12 de Abril 2010 > Capé – Bafatá > Saímos bem cedo e iniciamos a viagem que me iria levar até Cadique, tendo passado por Bambadinca, Xitole, Saltinho, Buba, Aldeia Formosa, Guileje, Iemberem e finalmente a terra que me foi “prometida”, pela tropa, em 1972.

Depois de entrarmos na mata do Cantanhez, tornou-se patente a difícil exequidade da viagem, já que a mobilidade se tornou impraticável, diria mesmo impiedosa e, se não fosse a boa vontade de alguns companheiros de viagem, eu não teria chegado a Cadique porque, desanimado e desmotivado, quis desistir.

Quem por lá andou na construção da estrada que liga a Cadique, sabe o quanto nos custou, em sofrimento e morte, essa obra. A partir de Iemberem comecei a sentir e a pensar algo que jamais conseguirei decifrar, mas que posso tentar definir como um misto de emoções, desilusões, euforia, tristeza… por ali fora ia dizendo: “Aqui estive emboscado!”, “Ali morreu o A, o Bê, o Cê..”, “Foi aqui que o Capitão Pára-quedista Terras Marques levantou 4 minas.”, etc, etc.

Mil imagens me surgiram na mente, à velocidade da luz, podem pensar que é um exagero, mas não consigo transmitir-vos melhor ideia do que se passou, naqueles momentos, pelo cérebro deste vosso amigo.

No entanto, não me foi possível identificar exactamente os locais dos acontecimentos, até porque a “estrada” está quase irreconhecível e a “distância” de 38 anos, também não me ajudou.

Permitiu-me, isso sim, sentir uma enorme sensação de liberdade (estranha), matando mesmo a minhas velhas dúvidas de que fosse verdade, algum dia, efectuar aquele percurso sem ouvir um tiro.

Quando finalmente pisei o solo de Cadique, não consegui esconder a minha emoção e a Carminda deve ter sido das poucas pessoas, que se apercebeu do que eu tentei esconder as lágrimas (é que eu ainda sou daqueles que pensa que os homens não choram).

Felizmente, não foi necessário efectuar trabalhos de arqueologia, para descobrir vestígios da presença da minha companhia no local, já que não sendo muitos eram no entanto visíveis.

Atravessar o Cantanhez e chegar as margens do rio Cumbijã, é algo que jamais esquecerei e, meus caros amigos, garanto-vos que ainda há poucos anos atrás nem sequer queria falar, ou ouvir alguém falar, da Guiné. A vida, por vezes, prega-nos partidas destas.

Gostaria de ter ido a Cufar onde estive algum tempo no COP 4, e que teria sido fácil se houvessem os meios necessários, bastando para isso atravessar o rio, assim só se o tivesse feito a nado.

Depois de distribuir umas guloseimas pelos miúdos voltamos a atravessar o Cantanhez, porque a viagem iria ser longa até Bafatá.

Passamos por Guileje e tive uma agradável surpresa, quanto ao museu e à área envolvente do mesmo, que ganhou nova vida e aspecto.

Até breve.

Foto 1 > Capé > Bafatá > Acampamento!

Foto 2 > Imberem (Antiga Jemberem) > Memorial da 1ª Cart/Bart 6521

Foto 3 > Auto > Estrada muito movimentada

Foto 4 > Cadique > Depois de muitas horas... chegamos! Foto 5 > Cadique > Sonho tornado realidade, voltar a pisar de novo este solo
Foto 6 > Cadique > Antigo bar
Foto 7 > Cadique > Memorial da CCaç 4540
Foto 8 > Cadique > Mastro onde a bandeira portuguesa era hasteada
Foto 9 > Algures na mata do Cantanhez > Os dez magníficos que me acompanharam. Da esquerda para a direita: Henriques, Fernandino, Carminda (esposa do Cancela e uma grande Senhora), Cancela, Petiz, eu, Zé Rodrigues (homem que organizou tudo e só não tomou as vacinas por nós), Laguela, Zé Carvalho, Jaime e o Vilar.
Um abraço Amigo,
Eduardo Campos
1º Cabo Telegrafista da CCAÇ 4540

Fotos: © Eduardo Campos (2009). Direitos reservados.
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Notas de M.R.:
Vd. último poste desta série em:

24 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 – P6461: Histórias do Eduardo Campos (13): Língua Portuguesa na Guiné: Em Perigo?