segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Guiné 63/74 - P7110: Parabéns a você (163): Eduardo Campos, ex-1.º Cabo TRMS da CCAÇ 4540 (Editores e Miguel & Giselda Pessoa)

Postal ilustrado:  Miguel Pessoa (2010).

Com direito a um lindíssmo e alusivo postal ilustrado que lhe foi dedicado pelos nossos Camaradas Miguel e Giselda Pessoa, completa hoje, dia 11 de Outubro de 2010, 60 anos o nosso camarada Eduardo Campos, que foi 1.º Cabo Trms da CCAÇ 4540, e andou pelo Cumeré, Bigene, Cadique, Cufar e Nhacra, entre 1972 e 1974.

Assim, ao Eduardo, que está connosco nesta Tabanca Grande desde 19 de Abril de 2008 e já nos demonstrou, em várias oportunidades, que é um bom e amigável Camarada, vimos apresentar neste blogue, os maiores e melhores votos de felicidades, alegria e muita saúde num dia que vai ser com certeza diferente e muito especial, junto da sua querida família e amigos.

Mais desejamos que esta data se repita por muitos e bons anos.

Eduardo Campos e o seu cunhado José Casimiro Carvalho (CCAV 8350,  “Piratas de Guileje”)
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Nota de M.R.:

domingo, 10 de outubro de 2010

Guiné 63/74 - P7109: Historiografia da presença portuguesa em África (38): António da Silva Gouveia, fundador da Casa Gouveia, republicano, representante da colónia na Câmara dos Deputados, na 1ª legislatura (1911-1915) (Parte II) (Carlos Cordeiro)




 A Província da Guiné foi criada em 1879, depois de separação administrativa de Cabo Verde. A capital foi instalada em Bolama, até 1941. Em 1903 o Banco Nacional Ultramarino inaugurava a sua agência em Bolama. A cidade começou a ter alguns belos edifícios de traça colonial, mas ainda em 1912 faltava um cais acostável... A falta de infra-estrtuturas portuárias (tanto em Bolama como em Bissau) é aqui evocada pelo deputado republicano António Silva Gouveia, um típico africanista do Séc. XIX que se instalou em Bolama justamente em 1879 e aqui criou a maior empresa daquela colónia africana, a Casa Gouveia (mais tarde, em 1921, adquirida pela CUF - Companhia União Fabril). 

De 1911 a 1915, António Silva Gouveia teve assento na Câmara dos Deputados, como representante da Província. Este homem, de que se desconhecem muitos aspectos da sua vida, e que antes de ser empresário e político, foi  "moço e marinheiro, piloto e capitão de navios", orgulhando-se de conhecer toda a África, ocidental e orienta, mereceria muito provavelmente uma boa história, uma boa biografia, um bom filme... Não sabemos onde nasceu nem onde morreu. Fazia gala de dizer que era "um homem que não tinha o exame de instrução primária" e que acreditava na "iniciativa privada", vociferando contra o estado (lastimável) em que se encontrava a província no início do Séc. XX.


Freixo de Espada à Cinta > 13 de Março de 2010 > Lápide assinalando o local do nascimento de Manuel Maria Sarmento Rodrigues (1899-1979), que foi Governador da Guiné na segunda metade na década de 1940.

Foto: © Luís Graça (2010). Todos os direitos reservados.

Ainda a propósito de Bolama, é bom recordar que a ilha era conhecida dos navegadores portugueses, desde 1460, mas só em 1753 foi ali colocada um padrão com as armas portuguesas.  Em Maio de 1792, foi estabelecida na ilha uma colónia inglesa, um comunidade  de menos de 300 pessoas, chefiadas por Philip Beaver (1766-1813),  depois de negociação com os régulos beafadas e bijagós que sempre disputaram o controlo daquele território...   Em 1794 os últimos colonos europeus abandonavam a ilha. A grande maioria tinha sucumbido às doenças e aos ataques dos  beafadas e dos bijagós... 

 Em 1823, os portugueses estabelecem um posto militar em Bolama, mas a posse do território passa a ser objecto de disputa com o Governo Inglês. Há inclusivamente ataques militares às instalações portuguesas por parte dos nossos velhos aliados. Em 1860 os ingleses anexam a ilha ao território da Serra Leoa. Finalmente, Portugal e a Inglaterra concordam em submeter o litígio à arbitragem do Presidente dos Estados Unidos, o Gen Ulysses Grant que, em 21 de Abril de 1870, toma uma decisão favorável à causa portuguesa. 

Em 1879 Bolama volta a ser a capital da Guiné. Bissau já existia desde 1687, como praça fortificada e centro de comércio, mas teve igualmente uma história atribulada (e trágica): basta referir que só em 1913 (!) a ilha de Bissau foi finalmente "pacificada", por Teixeira Pinto, o "capitão-diabo"... Em 1914 foi elevada á categoria de cidade, mas o seu desenvolvimento vai acontevcer sobretudo depois da II Guerra Mundial, graças à acção do Governador Manuel Maria Sarmento Rodrigues (Freixo de Espada à Cinta, 1899- Lisboa,1979). (L.G.).

Imagens: Do blogue BNU - Banco Nacional Ultramarino (2010) (Com a devida vénia...)











Lisboa > Diário da Câmara dos Deputados >  Intervenção,  antes da ordem do dia, do representante da Guiné, António Silva Gouveia,  fundador da  Casa Gouveia, com sede em Bolama >  Sessão nº 70, de 11 de Março de 1912.



1. Continuação da publicação de excertos de intervenções do deputado António Silva Gouveia, representante da Guiné na Câmara dos Deputados, na legislatura de 1911-1915. Pesquisa de  Carlos Cordeiro, membro da nossa Tabanca Grande, Professor de História Contemporânea na Universidade dos Açores, São Miguel, RAA (foto à esquerda). 
[Continua]

[ Revisão / fixação de texto / título / edição de imagens: L.G.]
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Nota de L.G.:

Guiné 63/74 - P7108: Lembrando Vicente Passarinho (Piu), Fur Mil da CCAÇ 3520 (Augusto Silva Santos)

1. Mensagem de Augusto Silva Santos*, ex-Fur Mil da CCAÇ 3306/BCAÇ 3833, Pelundo, Có e Jolmete, 1971/73, com data de 9 de Outubro de 2010:

Camarada Carlos Vinhal
Nas minhas deambulações pelo blogue (curiosidade de "periquito"), tomei infelizmente conhecimento através dos depoimentos do Daniel Matos, do falecimento de um amigo comum, mais propriamente do Vicente "Piu" (Fur Mil da CCAÇ 3520 / Cacine), que nos meus tempos de recruta / especialidade que passámos juntos, era mais conhecido pelo "Passarinho".

Também eu gostaria de prestar uma pequena mas merecida homenagem àquele que nos proporcionou, pela sua boa disposição permanente, tãos bons momentos de amizade e sã camaradagem. Aproveito também a oportunidade para me "reencontrar" com o Daniel Matos, a quem envio aquele abraço.
Deixo à v/consideração a possível publicação.

Um Abraço
Augusto D. Silva Santos


Pequena Homenagem ao Vicente Passarinho (Piu)

Por Augusto Silva Santos

Sendo um recente membro da Tabanca Grande (adesão em 29SET2010/CCAÇ 3306 - P7051) e, tendo agora mais algum tempo disponível, vou aproveitando, sempre que possível, para consultar vários depoimentos de ex-camaradas e, eis que dou de caras (como se costuma dizer), com algo que me sensibilizou bastante.

Primeiro porque fui “encontrar” um ex-camarada de recruta e especialidade, respectivamente em Santarém e Tavira, e agora grande colaborador deste blogue, mais precisamente o Daniel Matos, a quem desde já aproveito para enviar um grande e sentido abraço. Depois, porque vim a ter uma notícia menos agradável. Sei agora Daniel pelo teus depoimentos, que afinal acabámos por também estar os três (já vais perceber o que isto significa) ao mesmo tempo na Guiné, embora em regiões e situações diferentes.

Em Guiné 63/74 – P6211: In memoriam (40): Pequena Homenagem ao Piu, da CCAÇ 3520/Cacine (Daniel Matos), prestas homenagem ao ex-camarada e grande amigo, o Vicente, infelizmente já falecido (que descanse em paz). Em determinada parte desta tua homenagem revelas que já não te lembras bem onde o conheceste, pois eu recordo-te e confirmo que nos conhecemos precisamente no Destacamento (que já não existe) da Escola Prática de Cavalaria em Santarém, onde tirámos a recruta, conforme podes constatar pela foto em anexo (espero que gostes desta recordação).

Passados quase 40 anos não se torna fácil identificar a maioria do pessoal, mas lembro-me perfeitamente de ti, do Vicente “Passarinho” (era assim que na altura era conhecido o grande caçador do Entroncamento), e do Coelho, que embarcou para a Guiné no mesmo dia que eu (28Dez1971), em rendição individual. Pertencemos ao 1.º Turno 71 , 5.º Esquadrão / 5.º Pelotão. No verso da foto datada de Feverereiro 1971, e rubricada por todos os elementos, podes observar a tua rubrica / dedicatória e a do Vicente “Passarinho”, que mais tarde pelos vistos se tornou em “Piu”. É natural que assim tenha acontecido, pois recordo-me perfeitamente de quando ele emitava o piar de um pássaro e depois simulava um tiro. Mais tarde rumámos os três ao Sul, mais precisamente ao CISMI / Tavira, onde igualmente tirámos a especialidade. Aqui, eu e o Vicente fomos mesmo companheiros de camarata e de beliche lado a lado, pelo que podes imaginar as partidas e as situações mais insólitas que se nos deparavam através desse nosso grande amigo (junto igualmente foto desses tempos, Abril 1971).

Pelos vossos depoimentos (teu e do Juvenal Candeias), é fácil concluir que a situação felizmente se prolongou pelos tempos. Era de facto um “fenómeno” de companheirismo e boa disposição. Da vossa faceta musical recordo-me, mas vagamente, porque enquanto vocês “gastavam” o vosso tempo livre nessas andanças, eu aproveitava os fins-de-semana para vir a casa. Quis o destino que mais tarde rumássemos à Guiné, daí este reencontro.


Aqui fica também a minha simples mas sincera homenagem ao Vicente Passarinho (Piu).
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 4 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7079: Operação Vadiagem e Ventana, executada pela CCAÇ 3306/BCAÇ3833 (Augusto Silva Santos)

Guiné 63/74 - P7107: Historiografia da presença portuguesa em África (37): António da Silva Gouveia, fundador da Casa Gouveia, republicano, representante da colónia na Câmara dos Deputados, na 1ª legislatura (1911-1915) (Parte I) (Carlos Cordeiro)


Guiné-Bissau > Bissau > Agosto de 2004 > Ex-Casa Gouveia, com o Rio Geba ao fundo  > Foto do Rui, membro habitual da Expedição anual à Guiné-Bissau, organizada pela Associação Humanitária Memórias e Gentes, de Coimbra, e de que é presidente da direcção o nosso camarada  José Moreira (Ex-Fur Mil da CCaç 1565, 1966/68).


Fonte: Picasa > Galeria do Rui (2008). (Com a devida vénia...)













Lisboa > Câmara dos Deputados >  Excertos de um debate parlamentar em que intervem o representante da Guiné, o deputado António Silva Gouveia, fundador da  Casa Gouveia, com sede em Bolama >  Sessão nº 18, de 26 de Dezembro de 1911 > (...)

(...)O Orador: - O Sr. José Barbosa disse, e muito bem, que nós estamos num estado de atrasamento impossível em toda a costa de África. Eu tenho a felicidade de conhecer toda a África, ocidental e oriental, fui moço e marinheiro, piloto e capitão de navios; só não fui menino de coro. Em Conakri, em 1893 nem uma casa existia, hoje é uma cidade de 1.ª ordem. Bolama [, sede de concelho em 1871, elevada à categoria de cidade em 1913, capital da província até 1941,] 
está mais atrasada do que quando fui para lá em 1879. Do que lá há feito, não quero elogios, mas quero que a Câmara o fique sabendo, é feito por este seu criado. Não imaginam os ódios e rivalidades a que isto tem dado lugar, porque sou português.

Em Bolama não há um relógio que marque as horas oficiais. Sabem V. Exas. qual é o relógio? É uma barra de ferro, a essa barra de ferro chega o soldado e bate, pim, pim, pim; e são assim conhecidas as horas oficiais!

Mas eu não quero desviar-me da questão que desejo tratar. V. Exa. sabe qual é a despesa no orçamento da Guiné? 160:000$000 réis (#)  para o elemento militar, mas não tem soldados; tem mais oficiais do que soldados.

O Boletim Oficial que agora saiu traz posturas municipais que não existem nem em Paris, nem em Lisboa.

Eu quero mostrar à Câmara o seguinte: como disse aqui o Sr. José Barbosa, a Guiné é tão rica, tão produtiva, que o gentio da Guiné trabalha só o suficiente para se embebedar, porque ele tem tudo, tem a banana, a papaia, o caju, tudo o que a terra lhe dá; é um gentio que se faz dele o que se quer; mau só ali há o gentio papel, mas, mesmo esse, sabendo-o levar, com facilidade se amolda. (...).

1. Texto de Carlos Cordeiro, membro da nossa Tabanca, Professor de História Contemporânea na Universidade dos Açores, São Miguel, RAA (foto à direita)

Camaradas e amigos,

Em comentário ao P7083 sobre o ciclo de conferências “A República e as Colónias”, o Luís chamou a atenção para o facto de “a historiografia da nossa presença na Guiné-Bissau parece[r] passar muito ao lado d[aquele] ciclo de conferências”.

Como, por afazeres da minha vida profissional, sou habitual visitante do site da Assembleia da República para consulta dos debates parlamentares* do século XIX e primeira metade do XX, fui lá verificar o que havia sobre a Guiné no período da I República. 

Há muitos diários da Câmara dos Deputados (e também do Senado) em que aparece a palavra “Guiné”. Enviei, como curiosidade, alguns ao Luís, que – sempre persuasivo – me respondeu que seria interessante publicar algumas das intervenções, com pequenas notas de enquadramento. Acedi com gosto. É deste compromisso que estou a tentar desenvencilhar-me.

Algumas notas prévias:

(i) A história da Guiné nunca fez parte das minhas preocupações de investigação. Portanto, não poderei apresentar aqui o conveniente enquadramento histórico.

(ii) Não fiz investigação para o contextualizar as intervenções. Seria importante, por exemplo, pesquisar a documentação da AR [, Assembleia da República,] sobre as eleições de 1911 na Guiné, já que não encontrei nada publicado sobre o assunto (o que não quer dizer que não exista).

(iii) Alguns “panos de fundo” resultam da leitura e interpretação pessoal de diversos debates sobre questões da Guiné. Achei desnecessário apresentar a lista de todos os Diários consultados, até porque estão disponíveis online.

(iv) Para não dificultar a edição, optei por colocar entre parêntesis a data dos Diários da Câmara dos Deputados, (DCD) sempre que tal se justifique.

A 15 de Junho 1911 tiveram início os trabalhos da Assembleia Nacional Constituinte. Depois de intenso debate, a “Constituição Política da República Portuguesa” seria aprovada em 21 de Agosto do mesmo ano, dando-se por findos os trabalhos da Assembleia em 25 do mesmo mês.

Por dificuldades de comunicações e, por na Guiné se ter verificado um surto de febre-amarela (DCD 31/7/1911) (***), a Guiné não esteve representada na Constituinte, o que não deixaria de ser criticado por alguns deputados (DCD 5/7/1911; 24/7/1911; 31/7/1911; 1/8/1911).

Os deputados da Assembleia Nacional Constituinte dividiram-se em dois grupos: para o Senado transitaram 71 deputados; para a Câmara dos deputados, cerca de 160. Os trabalhos da Câmara dos deputados tiveram início logo a 26 de Agosto. O deputado pela Guiné iria, então, participar na Câmara dos Deputados, mas só a partir de 2 de Dezembro de 1911 (DCD 2/12/1911), ou seja, quase meio ano após o início dos trabalhos da Constituinte.
O deputado era, nem mais nem menos, António Silva Gouveia (**), o proprietário da famosa Casa Gouveia (##). 

Como se poderá ver pela sua intervenção (a primeira que fez no parlamento), terá sido uma espécie de aventureiro – só não foi “menino de coro” – com instrução rudimentar, e que enriqueceu não se sabe (não sei, melhor dizendo) bem como.

Sabe-se também, por outras intervenções que fez, que andava por África (e não só pela Guiné) havia mais de quarenta anos, que já em 1911 tinha negócios com a CUF, que foi um dos fundadores (1912) do Partido Republicano Evolucionista, de António José de Almeida, assumindo o lugar de tesoureiro da sua Comissão Directora (Ernesto Castro Leal, Partidos e Programas: o campo partidário republicano português 1910-1926, Coimbra, IUC, 2008, p. 52).

António Silva Gouveia já não integrará o Parlamento na legislatura seguinte, que teve início em Junho de 1915. Seria substituído por António da Costa Godinho do Amaral, que, contrariamente ao seu antecessor, fraquíssima participação teria nos debates. Coutinho do Amaral tomou assento na Câmara dos Deputados em meados de Janeiro do ano seguinte, ou seja, também cerca de meio ano após o início dos trabalhos (DCD 17/1/1916).

Uma nota final em pano de fundo: da leitura, ainda que em diagonal, das intervenções parlamentares sobre a Guiné transparece um ambiente nebuloso e às vezes crispado relativamente à política e administração locais. Há queixas contra as autoridades, boatos que circulam pela imprensa, críticas ao funcionamento da administração, acusações de nepotismo, etc. 

Pela intervenção do deputado Godinho do Amaral na Câmara dos Deputados, fica-se até com a ideia de que o governador da Guiné, Andrade Sequeira, não apreciava o modo como era exaltada, na imprensa portuguesa (e no próprio Parlamento), a figura do capitão Teixeira Pinto (DCD 22/2/1916).

[Continua]

[ Revisão / fixação de texto / título / edição de imagens: L.G.]

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Pode entrar-se pelo Google – “parlamento”. Nos links clicar em “Intervenções e debates”. Abre a página e clica-se em “debates parlamentares”. Depois é só escolher o regime e a câmara parlamentar. O separador “pesquisa avançada” é o mais prático. Entrei por “Guiné” e depois por “Silva Gouveia”.

(**) Nos Diários, às vezes aparece como António da Silva Gouveia

(***) Excerto:

(...) O Sr. Egas Moniz [, médico, futuro Prémio Nobel da Medicina, em 1949]:

- Desejo chamar a atenção do Sr. Ministro da Marinha para o caso das eleições do Ultramar.

Desde que se entende que as colónias devem ter representantes proprios aqui, nesta Assembleia, julgo que essas eleições se devem concluir de maneira a que os eleitos aqui compareçam.

Succede que algumas colónias já teem eleitos os seus representantes ; outras ainda os não elegeram.

É para este facto que chamo a attenção do Sr. Ministro da Marinha.

Numa das colonias - na Guiné - a eleição ainda não se fez, estando só marcada, parece-me, para o fim do mês que vem!

Peço, pois, a S. Exa. que apresse as eleições nas colónias, porquanto convem a todos que as colonias tenham aqui os seus representantes, a bem da Constituinte e da seriedade d'esta Camara.

O Sr. Ministro da Marinha (Azevedo Gomes):

- Sr. Presidente: concordo absolutamente com o exposto pelo Sr. Egas Moniz, mas o facto de não estarem hoje nesta Assembleia todos os representantes das colonias é consequencia de se ter posto logo em execução na metropole o decreto de 14 de março ultimo, com um periodo de revisão do recenseamento muito reduzido, por haver todo o empenho em convocar rapidamente as Constituintes.

O Governo já sabia que só muito mais tarde os Deputados pelas colonias podiam vir á Assembleia.

Devo dizer mais a V. Exa. e á Assembleia que o decreto de 14 de março saiu, com respeito ás colónias, muito incorrecto. Teve de fazer-se uma remodelação em 5 de abril, quer dizer, só depois de publicada a lei eleitoral. Para a Guiné foi em 17 de maio, devido á epidemia da febre amarella que ali grassava. Nestas circunstancias, não admira que seja aGuiné que mais tarde venha a ter representação no Parlamento.

Felizmente recebi hoje um telegramraa do governador da Guiné no qual se diz que o ultimo caso averiguado de febre amarella tinha sido no dia 8 d'este mês. A opinião do medico, que mandei para ali para dirigir os trabalhos de prophylaxia, é de que se pode considerar extincta a epidemia, mas que é necessario continuar os trabalhos de prevenção ainda por muito tempo.

Eram estas as explicações que tinha a dar ao illustre Deputado. (...)
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Nota de L.G.:

(#) Recorder-se aqui que , pelo decreto de 22-5-1911, a República "reformou profundamente, sob o ponto de vista técnico, o sistema monetário que vigorava em Portugal, alterando a denominação de todas as moedas, o material, o peso, e as dimensões das moedas de bronze e substituiu, pelo escudo de ouro, o real. 

"Dividido em 100 partes iguais, denominadas centavos, o escudo correspondia, quer no valor, quer no peso de ouro fino, à moeda de 1 000 réis" (...) . Fonte: Wikipédia.

(##) Elisée Turpin, um dos históricos do PAIGC, seu co-fundador, em 1956, foi empregado de 1958 a 1964, da Casa António Silva Gouveia (mais conhecida por Casa Gouveia), de 1958 a 1964. De 1964 a 1973, exerceu a função de Gerente da ANCAR. Contrariamente a outros nacionalistas guineenses, nunca terá sido descoberto (e importunado) pela PIDE/DGS...

No meu tempo (1969/71), fiz muitas vezes segurança, no Mato Cão, ao barco da Casa Gouveia, que fazia o trajecto Bissau-Xime-Bambadinca (e vice-versa; julgo que também chegava, naquele tempo, a Bafatá; este troço do Geba Estreito está hoje completamente intransitável devido ao assoreamento do rio; destas patrulhas ao Mato Cão, estão bem recordados outros camaradas nossos, que passaram pelo Sector L1 - Bambadinca, como o Beja Santos, o Jorge Cabral, o Humberto Reis, o António Marques, o Joaquim Mexia Alves, e tantos outros). E também viajei, pelo menos uma vez, até Bissau nesse barco. No Leste, a Casa Gouveia tinha estabelecimentos pelo menos em Bambadinca e Bafatá. Mas sei que também tinha em Farim, Fajonquito e noutros sítios...

Por acordo entre o Governo Português e o Governo Guineense, em 1976, a empresa António Silva Gouveia SARL foi integrada na estrutura empresarial denominada Armazéns do Povo da Guiné-Bissau, "mediante a atribuição de uma justa compensação, a estabelecer por uma Comissão Mista Paritária" (sic)

sábado, 9 de outubro de 2010

Guiné 63/74 - P7106: Patronos e Padroeiros (José Martins) (17): Curso 1962/1967 da Escola Naval - Jorge Manuel Catalão de Oliveira e Carmo


1. Mensagem de José Marcelino Martins* (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), com data de 7 de Outubro de 2010:

Caros amigos e Camaradas
Junto mais um texto sobre Patronos das nossas Forças Armadas.

Um abraço
José Martins




PATRONOS E PADROEIROS XVII

Patronos da Marinha Portuguesa

Patrono do Curso 1962/1967 da Escola Naval


Jorge Manuel Catalão de Oliveira e Carmo, nascido no ano de 1936 em Santo Estêvão no concelho de Alenquer.
Entrou para a Escola do Exército em Outubro de 1954, depois de ter concluído o estudo secundário, para se preparar para o acesso à Escola Naval.
Passados quatro anos, em 1 de Maio de 1958, é promovido a Guarda-Marinha e a Segundo-Tenente no dia 31 de Dezembro dessa mesmo ano.

Depois de servir nos Patrulhas “Boavista” e “Porto Santo” assim como na Fragata “Pedro Escobar”, foi nomeado para comandar a Lancha de Fiscalização “Vega” a prestar serviço em Diu, para onde se deslocou em meados de 1961.

Desde 1954, após a queda de Dadrá e Nagar Haveli, que pairava no ar um certo clima de “invasão”. Numa viagem de rotina a “Vega” fundeou pelas 22 horas em frente a Nagoá. Cerca da 1 hora e 40 minutos foram ouvidos tiros em terra, pelo que o Comandante mandou ocupar postos de combate e levantar ferro.

Dirigiu-se na direcção de um contacto não identificado, que se encontrava a cerca de 12 milhas. Cerca das 4 horas o contacto foi identificado como um cruzador, que lançou sobre o barco português, granadas iluminantes e fogo de metralhadora pesada, pelo que a “Vega” se retirou para Diu.

Pelas 7 horas da manhã, do dia 18 de Dezembro de 1961 são avistados aviões de combate que se dirigem para a fortaleza de Diu para a bombardear, tendo a “Vega” aberto fogo com a peça de 20mm, atingindo um dos aparelhos.

Os aviões indianos ripostaram ao fogo da lancha, ferindo quase a totalidade da guarnição e acabando por afunda a Lancha de Fiscalização “Vega”. Tinha terminado o último combate naval da história da Marinha de Guerra Portuguesa, enquanto em terra se consumava a invasão do Estado Português da Índia, por tropas da União Indiana.

Mantendo uma lúcida coragem, brilhante conduta que honra as tradições da nossa história, amor pátrio e desprezo pela vida, Oliveira e Costa foi condecorado com a Medalha de Valor Militar com Palma, agraciado com o grau de Comendador da Ordem Militar da Torre e Espada e promovido ao posto de Capitão-Tenente.

Pesquisa e fixação do texto por
José Marcelino Martins
07 de Outubro de 2010

[Organizado a partir do texto da díptico distribuído em 10 de Junho de 2010, aquando da Homenagem Nacional]
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 8 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7099: Patronos e Padroeiros (José Martins) (16): CCAÇ 3477 - Nossa Senhora dos Milagres

Guiné 63/74 - P7105: Notas de leitura (157): O P.A.I.G.C. e o futuro: um olhar transversal, de Ricardo Godinho Gomes (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 7 de Outubro de 2010:

Queridos amigos,
Aproveito para dar a notícia que no dia 17 de Novembro, pela noitinha, parto para a Guiné, onde estarei duas semanas. É uma viagem para abraçar todos os amigos do Cuor e arredores, para rever os meus inesquecíveis soldados e para fazer uso, o mais abusivo possível, dos meus apontamentos para encontrar o final do livro que estou a escrever intitulado “A Viagem do Tangomau”.
Fico em Santa Helena, ao pé de Fá, o meu amigo Fodé Dahaba cede-me viatura e condutor para todas as minhas peregrinações aos locais que conheci e até aos santuários da guerrilha, por onde passei de raspão.
Se alguém precisar de mensagens para a região de Bambadinca , Xime, Ponta do Inglês ou Ponta Varela, ou mesmo o Burontoni, onde nunca entrámos, é só pedir, estou disponível nesta romagem de camaradagem.

Um abraço do
Mário


O PAIGC e o futuro:

Uma proposta, uma utopia


Beja Santos

Ricardo Godinho Gomes, descendente de guineenses, finda a guerra civil e as eleições subsequentes que deram a vitória ao PRS – Partido para a Renovação Social e colocaram Cumba Yalá, na presidência, resolveu escrever um ensaio sobre o estado do PAIGC e avançar com propostas de regeneração, partidária e nacional. Pela força das coisas, é um manifesto datado; lido hoje, sente-se a generosidade e inocência das crenças; enxutos os argumentos usados, fica a utopia. Um documento de reflexão, ao fim e ao cabo, para ler com melancolia, já que (quase) tudo se agravou e a esperança não desfraldou (“O PAIGC e o futuro: um olhar transversal”, por Ricardo Godinho Gomes, AfroExpressão – Publicações, Lda, 2001).

O autor escreve consciente que a realidade ficou muito aquém do sonho “e as gerações que nos sucederam arriscam-se a ser as gerações do desespero”. Há que dar a voz àqueles a quem pertence o futuro, ajudá-los a analisar o passado recente, identificar os erros e dar nova vida aos sonhos.

Primeiro, a Guiné-Bissau que emergiu do conflito é um país ainda mais pobre. Se em 1997 a esperança de vida à nascença era de 45 anos, a taxa de mortalidade infantil de 132 por 1000, com uma taxa de escolarização em permanente regressão e com 90 por cento da população a viver com menos de um dólar, tudo piorou e a dependência da ajuda internacional intensificou-se. É a comunidade de doadores que ajuda ao acesso à água potável, à maioria dos programas de aceleração do desenvolvimento, do ensino, da investigação, da melhoria das infra-estruturas. Depender da cooperação internacional é insuficiente, é preciso despontar do estado debilitado e encontrar mensagens para revigorar a nação e refundar o Estado.

Segundo, compete ao PAIGC perceber o que aconteceu no acto eleitoral que atirou um partido prestigiado e confundido com a luta armada de libertação nacional para a terceira força política do país. Na óptica do autor, com este acto eleitoral corre-se o risco de surgirem partidos vincadamente étnicos ou tribais, sem substância política, totalmente dependentes do chauvinismo. O PAIGC tem de reflectir quais as escolhas ao populismo e demagogia que se anunciam com estas eleições que apostaram nas propostas tribais. Compete ao PAIGC repensar as teses de Amílcar Cabral em torno da unidade da nação num contexto multipartidário e apreciar que neste novo século nada se passa como no contexto histórico em que nasceu e vitoriou a luta de libertação.

Terceiro, é a reflexão sobre o pensamento de Cabral que pode dar novo fôlego aos militantes dos PAIGC, aos seus eleitores e um objectivo ao povo guineense. Reflectir sobre as vitórias do PAIGC e os seus desaires. Vitórias que assentam na conquista da libertação, na formação de quadros nacionais, na riqueza da vida participativa durante a luta com eloquentes resultados como foi a emancipação da mulher e novo sistema educativo, as práticas de justiça e a criação de um sistema sanitário bem como o reconhecimento do crioulo como língua veicular. Desaires como foram a derrota da unidade Guiné-Cabo Verde, o erro teórico do suicídio da burguesia, a supressão das chefias tradicionais e a calamitosa gestão do Estado. Tudo conjugado, o PAIGC foi incapaz de se enquadrar num verdadeiro Estado moderno, não soube adaptar-se a uma orientação do Estado numa atmosfera de todo o território, o que é bem diferente do sucesso maior ou menor alcançado durante a luta nos chamados territórios libertados. Tornou a linha do centralismo democrático uma pura arbitrariedade que serviu para aterrorizar populações e intimidar todos aqueles que mostravam a desgovernação do país, entregue a arrivistas dentro de um partido dividido por facções e coligações de interesses.

Quarto, encetada esta reflexão com desassombro, haverá que trabalhar em duas vertentes, a ideológica e a estrutural. Quanto a esta última, o autor propõe que é indispensável encontrar uma solução digna para os problemas dos antigos combatentes, eles são o símbolo das nacionalidades bissau-guineense e cabo-verdiana. É indispensável aprofundar a ideia de unidade e discutir o que passou a ser (ou deverá passar a ser) a “irmandade” com Cabo Verde. Do mesmo modo, haverá que reformular o quadro de actuação da juventude, das mulheres e do sindicalismo apoiados pelo PAIGC. Tendo chegado a hora de alternância política, perceber como é que o PAIGC descambou num quase total silêncio durante a campanha eleitoral que o atirou para a terceira força política. E saber tirar as devidas lições de como deixou para um novo Governo o aparelho de Estado desmembrado, a administração eficaz, a saúde ao seu mais baixo nível possível, a qualidade do ensino abaixo de qualquer objectivo depreciativo.

Quinto, encontrada uma linha de rumo para a acção, pôr em prática vários desafios mobilizadores de toda a população: à procura de auto-suficiência, de uma maior eficácia da exploração dos recursos marítimos, do saber encontrar os melhores traços de união para reabilitar a esperança junto de todos os guineenses.
Ricardo Godinho Gomes, insista-se, escreveu seguramente bem-intencionado; mas não soube pesar a carga dos erros praticados entre a independência e a guerra civil. Não vale a pena especular o que teria sido a Guiné-Bissau se mantivesse à sua frente um líder com o gabarito de Amílcar Cabral. O que interessa é que não aprofundou a matriz nacional, delapidou recursos, não criou imagem de seriedade perante os doadores, não deu força à esperança da jovem nação. Aceita-se que tenha escrito um manifesto para acordar um partido que se desmotivara e se entregara às rotinas do mando absoluto. Falhado o plano de unidade com Cabo Verde, havia de se saber sarar as feridas e entrar na tal “irmandade” sem complexos, o que não aconteceu. Continuou a faltar cultura política para fazer passar a própria mensagem de unidade, indispensável para o levantamento do Estado. O manifesto não foi ouvido, o que agora importa é registá-lo, como peça construtiva, a Guiné-Bissau precisa cada vez mais de peças construtivas para se levantar e consolidar a autonomia e auto-suficiência possíveis.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 8 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7100: Notas de leitura (156): O Ultramar secreto e confidencial, por José Filipe Pinto (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P7104: Ser solidário (90): Missão a Dulombi. Vila do Conde > Guiné-Bissau, Outubro de 2010 (Fernando Barata)


1. O nosso Camarada Fernando Barata, ex-Alf Mil da CCAÇ 2700 (Dulombi, 1970/72), enviou-nos uma mensagem em 7 de Outubro de 2010, dando-nos conta da evolução das actividades desenvolvidas pelos expedicionários da “Missão a Dulombi”:
Expedição a Dulombi

Camaradas,

Dois jovens que se metem à aventura numa "barcaça", quais Gil Eanes do século XXI, na tentativa de chegarem à Guiné e estar um deles (Gil Ramos, filho dum combatente da C. Caç. 2700) no local onde seu pai prestou serviço, disponibilizando bens de primeira necessidade à população dulombiana, merecem todo o nosso apoio, apreço e admiração.
A expedição pode ser acompanhada em: http://missaodulombi.blogspot.com/

Abraço,
Fernando Barata
Alf Mil da CCAÇ 2700
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Notas de M.R.:
Segundo o que se encontra descrito no blogue mencionado a “Missão a Dulombi”, a partida está prevista para o início de Outubro de 2010, e a viagem será efectuada em automóvel entre Vila do Conde e a Guiné-Bissau, tendo como grande objectivo levar bens essenciais para distribuir pelas crianças carenciadas daquele país.

Os bens serão abrangentes, tais como vestuário e calçado, brinquedos e material escolar que serão distribuídos na aldeia de Dulombi, esperando os expedicionários que, com este seu gesto, contribuam para melhorar a qualidade de vida destas crianças.

Ao mesmo tempo, pretendem os organizadores desta grande aventura, homenagear os ex-Combatentes Portugueses, pelo que, irão equipados com material audiovisual, a fim de realizarem um documentário sobre as memórias da presença dos portugueses no período da guerra, a Cultura Guineense e os Vestígios da Cultura Portuguesa no dia-a-dia junto do povo local.
Como não podia deixar de ser, a Tertúlia deste blogue deseja aos autores de mais esta formidável e louvável iniciativa, as maiores felicidades e a melhor e mais bem sucedida das concretizações, de todos os objectivos que se propõem alcançar.
Vd. último poste desta série em:

Guiné 63/74 - P7103: Agenda cultural (85): Espectáculo de dança por Sofia Fitas, no CCB - Lisboa, dia 16 de Outubro de 2010

1. Mensagem do nosso camarada Mário Fitas dando noticia da actuação de Sofia Fitas, sua filha, no CCB, conforme gravura que se publica.

Caro Luís, Carlos e Eduardo:  
Em anexo envio cópia da página 40 da programação do CCB [, Centro Cultural de Belém, Lisboa] com a actuação da minha filha Sofia Fitas no dia 16 Outubro às 19H00.

Se for de utilidade para o blogue, ficaria bastante grato pela publicação.

Um abraço,
Mário Fitas



BOXNOVA | SOFIA FITAS
EXPERIMENTO 2




Sofia Fitas define a sua pesquisa enquanto performer e coreógrafa com três palavras-chave: intuição, experimentação e devir.

Experimento 2 dá continuidade ao trabalho desenvolvido no solo Experimento 1 – 1.º Prémio no 13.º Festival Internacional de Dança Contemporânea das Canárias (2008). Continuando a questionar a percepção do corpo, Experimento 2, procura criar um corpo em devir contínuo, no qual não se define um território, mas onde se descobrem vários percursos reais e virtuais.
Após a apresentação do solo em Paris, o crítico Guy Degeorges escreveu: “[…] Reflicto primeiro sobre o que ela não faz: formas, narração, estetismo, glorificação do corpo, erotismo, discurso, contextualização. Do exposto, tomo consciência de que ela me conduz a um novo plano de emoções […]”

Criação\Interpretação SOFIA FITAS
Música SÉBASTIEN JACOBS
Luzes RUI GARCÍA

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Sofia Fitas
Performer e coreógrafa, licenciada em Dança pela FMH, em 1999. Desde 2007 que desenvolve o seu trabalho entre Lisboa e Paris.

Do seu trabalho coreográfico destaca a coreografia “Fora do Esquecimento” - 1.º Prémio no concurso Jovem Criadores e o solo “Experimento 1”- 1.º Prémio no 13.º Festival Internacional de Dança Contemporânea das Canárias - Outubro 2008, que tem sido apresentado em Portugal, França, Espanha, Bélgica e Holanda.

A convite de Madalena Vitorino concebeu o solo “Sós (Uma homenagem)”, estreado em Março 2010, e que integra o evento “Solos com Convicção”, para as Comemorações do Centenário da Implantação da República.
Em Junho passado estreou “Experimento 2”, em Paris, na estrutura Mains d’OEuvres.

O desenvolvimento do seu trabalho coreográfico e de toda a pesquisa conceptual e artística implicada, incitaram-na a seguir em 2004 o mestrado em Estética/ Filosofia na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas de Lisboa. Estes estudos foram completados e aprofundados, em Paris, na Universidade de Paris VIII - Saint Denis e no Centre National de la Danse, em 2006.

Intuição, experimentação e devir são palavras-chave na sua pesquisa.

O seu trabalho que parte de uma experimentação e desconstrução do corpo e seu movimento, põe em evidência uma interrogação sobre o indivíduo, os modos de ser reais e virtuais.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 5 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7083: Agenda cultural (84): A República e as colónias na Sociedade de Geografia de Lisboa

Guiné 63/74 - P7102: Parabéns a você (162): José Carmino Azevedo, ex-Soldado Condutor Auto da CCAV 2487/BCAV 2868 (Bula, 1969/71) (Tertúlia / Editores)

Neste dia 9 de Outubro de 2010, estamos a festejar pela primeira vez no nosso blogue o aniversário do nosso camarada José Carmino Videira Azevedo (*), ex-Soldado Condutor Auto Rodas da CCAV 2487/BCAV 2868 (Bula, 1969/71).

O nosso tertuliano Azevedo está connosco desde 17 de Fevereiro de 2009.
Recordemos algumas das suas palavras de apresentação:


Soldado Condutor Auto Rodas n.º 04580768. Estive em Bula integrado na CCAV 2487/BCAV 2868, "O Xicote"

Participei na Ostra Amarga, Operação onde estava presente a televisão Francesa, convivi de perto com os malogrados CAPELA e HENRIQUE e, presenciei a infeliz ideia do Spínola de mandar para a morte os Majores Passos Ramos, Pereira da Silva, Osório, Alferes Mosca e os nativos Mamadu Sisse e Carlos Patrão.

Fui incumbido de fazer o transporte de géneros para abastecer PCA do Batalhão. Fiz o percurso Bula/Bissau/Bula, atravessei varias vezes o rio Mansoa, onde caiu o helicóptero que transportava deputado à ex-Assembleia Nacional, Pinto Leite, se bem me lembro.
[...]

Bolanha de Biombo > José Carmino Azevedo

José Carmino Azevedo, de pé, durante o V Convívio da Tertúlia em Monte Real

Voltando ao assunto que aqui nos trouxe, em nome da tertúlia quero desejar ao José Carmino um dia de aniversário em grande, nessa terra transmontana de Frechoso, cheio de alegria, rodeado da família e dos amigos, com saúde para tirar proveito do bom vinho e de outras iguarias bebíveis e comestíveis.

Caro José, se não for antes, no próximo Encontro da tertúlia voltaremos a confraternizar contigo. Para já, recebe um abraço virtual em nome de todos os camaradas e amigos do nosso Blogue.
CV
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 17 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3908: Tabanca Grande (120): José Carmino Videira Azevedo, ex-Soldado Cond Auto Rodas da CCAV 2487/BCAV 2868 (Bula, 1969/71)

Vd. último poste da série de 7 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7092: Parabéns a você (161): Jorge Rosales, ex-Alf Mil da 1.ª CCAÇ (Guiné, 1964/66) Tertúlia / Editores)

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Guiné 63/74 - P7101: (Ex)citações (99): A FAP, o Strela e o Ilhéu de Rei ou... São mais as vozes duvidosas do que a certeza das boas nozes (Carlos Silva)



Guiné > Bissau > s/d > Vista aérea parcial de Bissau e o Ilhéu de Rei, ao fundo. Bilhete Postal, Colecção "Guiné Portuguesa, 142". (Edição Foto Serra, C.P. 239 Bissau. Impresso em Portugal,  Imprimarte -  Publicações e Artes Gráficas, SARL). 


Colecção: Agostinho Gaspar / Digitalização / edição: Luís Graça & Camaradas da Guiné (2010).

1. Comentário de Carlos Silva [, foto à direita], ao poste P7088 (*): 



Data: 7 de Outubro de 2010


Meu Caro Amigo Gil e Grande Piloto:


Gostei de ler o teu testemunho que corresponde ao que tenho ouvido de outros camaradas, incluindo o nosso camarada Cor Miguel Pessoa, então Ten Pilav quando foi abatido para os lados do Sul da Guiné,  e outros camaradas da Aviação.


Ainda no passado dia 2 na Tabanca da Linha ouvi pessoalmente,  da boca do nosso camarada Miguel Pessoa,  em resposta a outro nosso camarada do Exército, e outros arautos da verdade que botam faladura na Tabanca Grande,  [a contestação da tese da]  inoperância da FAP. 


Esses camaradas estavam em todo o território da Guiné como controladores aéreos e,  como tal,  são os senhores da verdade absoluta, até porque,  além de controlarem todo o território, também são especialistas da força aérea...


A rapaziada do PAIGC é que eram os valentes e,  enquanto possuidores de pouco mais de meia dúzia de mísseis, já controlavam a FAP, o território, enfim, ocupavam efectivamente toda a Guiné e nós, tropa-macaca,  estávamos encurralados no Ilhéu do Rei.


Não quero com isto dizer que a tal arma [, o Strela,] não teve influência no comportamento da FAP, mas daí até ficarmos encurralados no Ilhéu do Rei para a partir daí sermos evacuados para navios fundeados no alto mar,  vai muito longe.


Apesar de ter lido alguns testemunhos de camaradas da FAP no Blogue da Tabanca Grande, deveria haver mais, para ver se esses arautos da verdade e controladores de todo o território, de uma vez por todas,  se convencem do contrário. São dos tais que actualmente reivindicam uma enfermeira, um médico, um polícia e outros mais técnicos à sua porta de casa.


Só quem não quer ver a realidade, é que não quer compreender o que efectivamente estava em causa. Haveria mais para desenvolver, pois o tema ainda não está dissecado,  como tu dizes, porque são mais as vozes duvidosas do que a certeza das boas nozes.(**)


Gostei do teu Testemunho
Um abraço amigo


Carlos Silva 


2. Comentário de L.G.:


Obrigado, Carlos, vou pôr este provérbio na minha colecção... com direitos de autor, claro, atribuídos à tua pessoa. Conhecia aquele outro, menos filosófico, mais sociológico: "Na boda dos pobres, são mais as vozes do que as nozes"... Pudera, que as nozes estão caras e, além disso, diz o povo,  Deus dá nozes a quem não tem dentes... Com ou sem dentes, todos os tabanqueiros têm direito a botar faladura na Tabanca Grande, sem o receio de caírem... da nogueira abaixo. Ou melhor: do poilão... Gostei da metáfora do Ilhéu de Rei. Nunca lá fui. Nem tive curiosidade em lá ir. No meu (que foi também o teu) tempo (1969/71), ainda não havia o Strela, é verdade, mas nem por isso deixámos de contar, sempre, com a asa protectora dos nossos dos nossos aviões e dos nossos pilotos...


Ironia tua, à parte, viva o bom humor entre os tabanqueiros e viva sobretudo o bom senso e o bom gosto que fazem  parte da sua/nossa cultura de tolerância. Se há provérbio que aqui não tem direito de cidadania, é aquele outro, que também poderias ter citado: "Com papas e bolos se enganam os tolos" ou "Quem não tem cão, caça com gato ou... com strela".


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Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 – P7088: FAP (54): O papel da Força Aérea na Guiné nos anos de 1972 e 1973 (Gil Moutinho)



 (**) Último poste desta série > 
30 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7057: (Ex)citações (98): Ninguém ama a sua Pátria por ser grande / Mas sim por ser sua! (António Botto / José Martins)

Guiné 63/74 - P7100: Notas de leitura (156): O Ultramar secreto e confidencial, por José Filipe Pinto (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 6 de Outubro de 2010:

Queridos amigos,
Não acho uma investigação sensacional mas comporta investigação séria e digna da nossa atenção. São os arquivos desses telegramas trocados entre Salazar, os Ministros das Colónias ou do Ultramar e os Governadores do Império. Dão conta da limitação de poderes e de uma fidelidade irrestrita ao ditador.
Para que conste. Leitura recomendável para quem quer saber sobre administração colonial.

Um abraço do
Mário



De governador para ministro, de ministro para Salazar

O Ultramar secreto e confidencial

Beja Santos

O projecto de investigação tem todos os ingredientes para ser aliciante: estudar a forma como se administrou o Império, durante o regime de Salazar, apreciando, no essencial, os telegramas trocados entre Salazar, os Ministros das Colónia ou do Ultramar e os Governadores do Império (“O Ultramar Secreto e Confidencial” por José Filipe Pinto, Edições Almedina, 2010).

O relacionamento entre o regime de Salazar/Caetano e as parcelas do Império viveu, como é compreensível, a ritmos diferentes: uma estagnação durante a fase de arranque e consolidação do regime, em que o ponto alto foi o Acto Colonial, o Império era encarado como o património de gesta, terra de missionação e de civilização à luz dos valores ocidentais; segue-se a guerra e as medidas cautelares para contar com o Império num período de graves carências; depois a descolonização e as três frentes de guerra, as sucessivas ópticas de resolver o problema, desde a versão federal do início dos anos 60, passando pelo projecto de Franco Nogueira que sugeria a concentração de energias em três “pérolas” (Angola, Moçambique e Cabo Verde) entregando as outras parcelas aos “ventos da história”, até chegarmos ao 25 de Abril e a descolonização a todo o vapor.

O autor equaciona em primeiro lugar, o relacionamento dos Ministros das Colónias ou do Ultramar durante o Estado Novo. Os sucessivos ministros faziam parte de uma placa giratória não só do círculo mais restrito de Salazar (como Armindo Monteiro) como da administração ultramarina, passando para outros cargos, como foi o caso das empresas do Império, desde os diamantes aos caminhos-de-ferro. Ferreira Bossa, que se sucedeu a Armindo Monteiro, antes de ser Ministro das Colónias já fora Inspector-Geral da Administração Colonial e, depois de cessar funções como ministro, viria a ser Subsecretário de Estado das Colónias, Director-Geral da Administração Política e Civil do Ministério das Colónias e Governador de S. Tomé e Príncipe, de 1946 a 1947. O seu sucessor, Vieira Machado, já fora Subsecretário de Estado das Colónias e assumiu depois o cargo de Director do Banco Nacional Ultramarino. Marcello Caetano, seu sucessor, é um colaborador credenciado junto de Salazar, etc. Mas quem decide sempre não é o Ministro nem o Conselho Ultramarino, é o ditador, ele tudo centra, está permanentemente atento ao equilíbrio das forças dentro do regime: quando Adriano Moreira procura a inovação e levanta protestos dos grandes interesses, é rapidamente substituído. O autor, sumariamente, passa em revista, a actividade desenvolvida por estes ministros, deixa claro a sua subalternidade política e fidelidade a Salazar.

Segue-se a análise da Administração do Império, a sua organização territorial. Recorde que em Cabo Verde, ao contrário das demais colónias, a administração metropolitana era tida como modelo, pois existiam municípios e freguesias (chegou a admitir-se elevar Cabo Verde ao estatuto de ilhas adjacentes, Salazar reprovou). A participação das populações esteve sempre condicionada ao estatuto de civilizado. Na Guiné, possessão que nunca foi encarada como colónia de povoamento, o Governador era assistido por um decorativo Conselho de Governo, onde não entrava nenhum guinéu.

Com o Acto Colonial, a política centralizadora de Lisboa acentuou-se. O número de eleitores foi sempre diminuto. O que estudava de administração colonial no ensino superior era praticamente microscópico, até aos anos 60, havia sim estabelecimentos de ensino para preparar altos funcionários para as parcelas do Império.

Não é possível neste curto espaço apreciar a acção dos governadores do Ultramar nos Ministérios do Estado Novo. Escolha-se a título meramente exemplificativo a Guiné. Armindo Monteiro é Ministro de 1933 a 1935. Na Guiné está o major Carvalho Viegas, que irá permanecer em funções até 1940. Carvalho Viegas é altamente criticado na região, sobretudo pela campanha de pacificação dos Bijagós. Era acusado de aldrabão e troca-tintas. É com ele que a Guiné deixa de viver permanentemente em guerra. O Governador era acusado de praticar uma tirania oficial, praticando inúmeras arbitrariedades. Com Vieira Machado, Ministro das Colónias entre Fevereiro de 1936 e Setembro de 1944, foi Governador nos últimos anos Ricardo Vaz Monteiro. A Guiné, ao contrário de Cabo Verde, não esteve dentro das grandes preocupações estratégicas, se bem que a correspondência detecte alguns casos de espionagem envolvendo a Alemanha e a França. É neste período que se procedeu à reforma administrativa da colónia. Marcello Caetano será Ministro de Setembro de 1944 a Fevereiro de 1947. É o tempo das primeiras tentativas de absorção do Estado da Índia e em que se recupera a posse de Timor. Caetano tomou a medida de fixar missionários estrangeiros, o que vai levantar a oposição na Santa Sé. A Guiné continua primitiva. Quando Carmona pretendeu visitar a colónia, o Governador lembrou a carência de infra-estruturas. Em 1945, chega Sarmento Rodrigues, um nome incontornável como Governador que deixou obra: Bissau mudou de rosto, rasgam-se estradas, mexe-se na estrutura portuária, a cultura passa a ser uma prioridade, etc. Tão relevante é o seu desempenho que será nomeado Ministro das Colónias entre Agosto de 1950 e Julho de 1955. Como Governador, será substituído por um tecnocrata, Raimundo Rodrigues Serrão e mais tarde por Diogo Melo e Alvim. Limitaram-se praticamente a gerir a obra iniciada por Sarmento Rodrigues.

Raul Ventura irá substituir Sarmento Rodrigues, será Ministro entre Julho de 1955 e Agosto de 1958. Já não há ilusões sobre as ameaças ao Império, os movimentos nacionalistas estão na corrida. Álvaro da Silva Tavares é Governador de 1956 a 1958, é um nome cinzento a juntar aos seus dois predecessores. Lopes Alves, um conhecedor do Ultramar, é Ministro de Agosto de 1958 a Abril de 1961. Os grupos nacionalistas movimentam-se em Casablanca, Monróvia e Conacri. Estão prestes a chegar os estados independentes, será à sua volta que se irão abrigar alguns movimentos de libertação. Peixoto Correia é Governador da Guiné de Agosto de 1958 a Abril de 1961. O PAIGC está em franca progressão, outras organizações são apoiadas pelo Senegal. Em 1959, dá-se o massacre do Pidjiquiti. A PIDE entra em força em Bissau. As críticas dos civis, aqueles que escrevem as suas denúncias intitulando-se “bons portugueses” às prepotências chegam até ao Ministro. Chegou a hora das grandes decisões, Salazar nomeia Adriano Moreira, que vem com propósitos de reformas. Peixoto Correia não mede bem o que se está a passar na Guiné, nem no Senegal nem em Conacri. Senghor tenta ser mediador e fazer colocar uma força política em Bissau que prepara uma transição para a independência a prazo. Salazar começa por dizer que sim e depois recua.

José Filipe Pinto, não sei onde é que vai buscar mas põe o nome de Vasco Martínez Rodrigues como novo Governador até 1965. Iniciou-se a guerra. Os campos demarcam-se.

O que fica para dizer? Os governadores não tinham espaço de manobra e os ministros praticamente aguardavam a decisão do ditador sobre reformas, investimentos, ensino, cultura, etc. O Império teve uma gestão altamente centralizada. Casos como o do Spínola decorrem da angústia de tudo estar praticamente perdido. Foram excepções. Não se pode estudar os precedentes da descolonização sem ir a estas fontes, como fez José Filipe Pinto.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 7 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7094: Notas de leitura (155): Polón di Brá, de João Carlos Gomes (Mário Beja Santos)