Blogue coletivo, criado e editado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra col0onial, em geral, e da Guiné, em particular (1961/74). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que sáo, tratam-se por tu, e gostam de dizer: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande. Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
terça-feira, 30 de setembro de 2014
Guiné 63/74 - P13670: Os Últimos Anos da Guerra da Guiné Portuguesa (1959/1974) (José Martins) (3): Recenseamento, Inspecção e Distribuição de Pessoal; Os Tombados em Campanha e Os Que Foram Agraciados
1. Publicação da terceira parte do trabalho de pesquisa e compilação do nosso camarada José Marcelino Martins (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), que diz respeito aos últimos 5517 dias de luta pela independência da então Guiné Portuguesa.
(Continua)
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Nota do editor
Último poste da série de 29 de Setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13665: Os Últimos Anos da Guerra da Guiné Portuguesa (1959/1974) (José Martins) (2): 3 de Agosto de 1959
Guiné 63/74 - P13669: Selfies / autorretratos (3): Em 1966 o meu pai preparou tudo para que eu fosse a “salto”, seguindo assim o trilho de milhares de portugueses (Juvenal Amado)
Tropa a bordo do navio Angra do Heroísmo
Foto de: © Manuel Passos
1. Mensagem do nosso camarada Juvenal Amado (ex-1.º Cabo Condutor da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74), com data de 25 de Setembro de 2014:
Achando eu que o tema é merecedor do nosso melhor interesse e não querendo melindrar ninguém com as minhas opiniões sobre o assunto, deixo aqui a minha participação no tema aproveitando para saudar todos os camaradas e em especial o Vasco Pires e o Manuel Reis
Juvenal Amado
Um auto-retrato de soldado
Tinha eu saído da escola primária quando se deram os massacres da UPA sobre colonos e seus assalariados no Norte de Angola. Lembro-me bem do horror daquelas imagens que circularam meio à socapa e do medo que os jovens em idade militar, e alguns que já tinham o serviço obrigatório, de serem mobilizados, o que aconteceu a muitos.
Os acontecimentos provocaram uma onda de terror associada à ideia de vingança patriótica(*) que tais actos provocaram, porém não conheci ninguém que se tivesse sentido feliz por ir. Passados dez anos quando embarquei, também não conheci ninguém que não ficasse de boa vontade por cá a cumprir o serviço militar sem mais chatices, com férias e fins de semana em casa, mandando assim o espírito de missão ou mesmo de aventura, às urtigas.
Faço aqui um pequeno parênteses para mencionar as tropas especiais, que por serem voluntárias tinham outro espírito.
Ao contrário do que leio hoje, em especial nas redes sociais, faz-me querer que a vasta maioria escondeu na altura o seu patriotismo e seu fervoroso amor à Pátria e que passados 40/50 anos depois veio ao de cima, à medida que uns se calam ficamos com a ideia que a esmagadora maioria foi de bom grado e de livre vontade.
Lá diz no poema de Luís Vaz de Camões, “Mudam-se os Tempos, Mudam-se as Vontades”.
Embarque do BCAÇ 3872, em Lisboa, no navio Angra do Heroísmo
O portugueses não eram o povo próspero nem feliz e a ideia de ir dar o corpo ao manifesto por um Portugal Ultramarino, para o qual não havia bilhete da carreira nem de comboio, sendo mesmo necessário uma carta de chamada para se poder ir para lá, por muito portuguesas que fossem essas terras, era uma coisa que pouca felicidade nos trazia. Por outras palavras, a carta de chamada para ir para uma terra que diziam nossa, era o que havia em comum com a nossa saída para qualquer país, por exemplo do continente americano. Até a moeda não tinha o mesmo cunho nem o mesmo valor.
Estou plenamente de acordo com o que o Luís Graça escreve no seu comentário e cito:(1)
As motivações para a saída em massa e ilegal (, "a salto",) são fáceis de perceber: o círculo vicioso a da pobreza, em Portugal, não poderia ser mantido mais tempo, com o "milagre económico europeu" à nossa porta... (Os "trinta gloriosos", as décadas de excecional desenvolvimento económico e social que a Europa conheceu, desde o pós-guerra até 1973)... Já [não] era preciso ir para o Brasil: a França e a Alemanha estavam ali, à nossa porta, ou pelo menos, a partir dos Pirenéus.
Acrescento que foi essa riqueza e bem-estar europeu, que permitiu ao governo português manter aquela guerra por tanto tempo.
Conheço quem fugiu à tropa por motivos económicos, quem fugiu por motivos políticos, mas também quem regressou para cumprir o serviço militar. Considero todos os motivos válidos e tomados por homens conscientes, não cabendo no meu vocabulário o termo cobardia para os que fugiram, nem de coragem e patriotismo para os que ficaram ou regressaram, direi simplesmente que uns e outros assumiram a situação de forma diferente.
Mesmo os que regressaram do estrangeiro para serem incorporados salvo excepções, fizeram-no para poderem regressar às suas aldeias e vilas sem serem incomodados pelo regime, circularem a partir daí livremente até para se irem embora para o País que antes os tinha acolhido, desde que sua a política fosse futebol, fado e Fátima, convém sublinhar.
João Caramba a bordo do Angra do Heroísmo, ao larga da Ilha da Madeira
Alguns apresentaram-se já fora da idade de incorporação normal, a julgar pela idade que tinham quando fizeram as respectivas recrutas e nos apareceram como rendições individuais nos destacamentos no mato. Regressaram da outra Europa livre e próspera, após indultos para refractários e possivelmente também para desertores, concedido por Marcelo Caetano se não estou em erro. Em 1966 o meu pai preparou tudo para que eu fosse a “salto”, seguindo assim o trilho de milhares de portugueses, a caminho de uma situação sem volta à vista, pois quem é que podia dizer quando a guerra acabava. Se acabasse com uma vitória das nossas forças, a situação de quem tinha fugido podia eternizar-se até ao dia que houvesse uma amnistia do regime, que se tornaria “rancoroso” para quem não tinha dado o corpo ao manifesto.
De França veio mesmo uma pessoa para me levar, o que chegou ao meu conhecimento quando já estava na tropa. Não fui tido nem achado na resolução final, e hoje penso que foi melhor assim.
Nessa altura tinha o meu irmão embarcado para Moçambique. O meu pai não querendo arriscar outro filho em tal missão, agiu assim em conformidade com muito do que pensava. Não fora a minha mãe que após muitas suplicas tais como, “que nunca mais o vemos se ele fugir”, “que ele pode ir para tropa e ter a sorte de ficar cá", “que se Deus quiser nada de mal lhe acontecerá”, eu teria mesmo ido para França e de certeza, não regressaria para ser incorporado para combater em tal guerra.
Todas essas súplicas e razões deram à minha mãe, como resultado, muitas noites de insónia, em que me via morto ou sem pernas, e que isso me tinha acontecido por causa de ela não me ter deixado ir para França.
De certo fez muitas promessas para eu regressar vivo e inteiro.
Felizmente para mim, para ela, voltei sem problemas e foi com enorme alegria que vi a guerra acabar dali a muito pouco tempo.
Não foi uma guerra mas muitas guerras, pois as condições alteravam-se como areia movediça. Quem embarcou em 1961, encontrou uma situação que rapidamente se transformou, de ano para ano, à medida que os movimentos passaram de aceso ódio tribal para nacionalismos militantes e exércitos de guerrilha organizados. O armamento também se modificou em quantidade e qualidade, pelo menos o do inimigo.
Quando falo com camaradas que estiveram na Guiné muito tempo antes de mim, não são poucas as vezes que me dizem “no meu tempo é que era, vocês foram uns lordes”. Depois lembro-me daquele tempo, dos anseios, das saudades, das noites acordado, do que vi, lembro os mortos, a violência a que estiveram sujeitos muitos destacamentos nos 28 meses que lá estive e fico a pensar se estamos a falar da mesma guerra.
Um abraço
Juvenal Amado
(*) Que deu em repressão violentíssima na Baixa de Cassange sobre população confinada que cinquenta anos antes (1911) tinha convertido, pela força, guerreiros orgulhosos em agricultores de algodão, humilhando-os na sua condição, daí em diante.
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Notas do editor
(1) Vd. poste de 22 de Setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13634: Selfies / autorretratos (1): por que é que fomos à guerra... (Vasco Pires / Luís Graça / Francisco Baptista / José Manuel Matos Dinis)
Último poste da série de 22 de Setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13638: Selfies / autorretratos (2): filho único, com pai emigrado no Canadá, podia também ter saído do país, aos 17 anos... Passei pela universidade de Coimbra e lutas académicas, tendo decidido participar na guerra colonial, contrariado e sabendo ao que ia (Manuel Reis, ex-alf mil cav, CCAV 8350, Guileje, 1972/74)
segunda-feira, 29 de setembro de 2014
Guiné 63/74 - P13668: Efemérides (174): Os guineenses libertaram-se de Portugal mas não se libertaram da opressão (Manuel Luís Lomba)
1. A propósito de se completarem, neste mês de Setembro, os 40 anos da independência da Guiné-Bissau, recebemos do nosso camarada Manuel Luís Lomba (ex-Fur Mil da CCAV 703/BCAV 705, Bissau, Cufar e Buruntuma, 1964/66), este artigo, em mensagem do dia 26 do corrente:
Saudações ao Carlos Vinhal, formiga trabalhadora deste blogue colectivo, bem como ao Luís Graça, o ”homem grande” da nossa Tabanca Grande.
Setembro foi o mês de acontecimentos decisivos que atiraram para o caixote do lixo da História os sacrifícios que, enquanto combatentes, doamos à Guiné portuguesa. Escapou o denominador comum do respeito e empatia criada entre os ex-IN e a generalidade dos bissau-guineenses, nomeadamente com os da estirpe do profícuo Pepito, in memoriam, e do corajoso “menino de Fajonquito”.
Não deixei acabar este Setembro quarentão sem te enviar o texto seguinte, desalinhado do politicamente correcto, para lhe dares o tratamento que entenderes.
Manuel Luís Lomba
Os guineenses libertaram-se de Portugal mas não se libertaram da opressão
Saudamos os nossos irmãos bissau-guineenses que celebram o 40.º aniversário da sua independência política, em especial os grisalhos sobrevivos da geração dos turras, que nos infernizaram a vida durante o logo tempo que passámos no seu chão. A efeméride é oportunidade para abordar os acontecimentos ocorridos em Setembro de 1973, da fundação da nacionalidade, em Madina do Boé e em Setembro de 1974, com o MFA a outorgar a exclusividade do senhorio do povo da Guiné e a entregar as chaves da capital de Bissau ao PAIGC, até então com a cabeça em Conakry, Moscovo e Havana.
Havia séculos que os portugueses da Metrópole e da Guiné se compraziam com idêntico sentimento patriótico, do querer de uma nação e do seu próprio Estado. Para além da nostalgia, mas sem saudosismo, a geração grisalha dos seus ex-combatentes vai rezingar até à sua extinção em como o seu exército, que serviram com honra, fora o fundado por D. Afonso Henriques, no Castelo de Faria, em 1127 e ganhador da nossa independência, em Guimarães, em 1128, e não o que emergiu a abandonar o povo da Guiné e a causar o efeito sistémico do abandono do Ultramar – a mãe das catástrofes que desabaram sobre os nossos irmãos africanos.
Se é verdade que os fins não justificam os meios, o desencadear das guerras será ilícito imoral. Na da Guiné, os dois lados reclamavam-se da legitimidade subjacente às suas origens, mas o tempo e modo da independência política bissau-guineense evidenciaram que ela fora prematura, pela pressa de Amílcar Cabral e do seu PAIGC pela emancipação de Portugal e pela pressa da Comissão Coordenadora do Programa do MFA, em dar ouvidos e reconhecer apenas a voz das armas, num juízo em causa próxima. Sem pedir culpados à História, em causa estará o facto de haver outorgado o poder ao PAIGC, à revelia da consulta ao seu povo. Anunciava a autodeterminação e entregou o poder a um partido-estado e armado. Naquele tempo, pela multiplicidade das suas mais de 600.000 almas, apenas 12% dos guineenses teriam aderido ao ideário marxista e terceiro-mundista daquele partido único, enquanto 88% se mantinham vinculados à civilização ocidentalista, que as FA portuguesas veiculavam esforçadamente.
O MFA usou a camuflagem ideológica para se alcandorar ao poder político, o seu desempenho foi um misto de mediocridade e ingenuidade e teve a mesma pressa a complementar a derrota política sofrida na desértica Madina do Boé com a derrota pelas suas armas, existentes e imaginárias, como era o caso dos aviões MIG, ao capitular na mata de Morés, nos princípios de Julho de 1974.
Sendo velho de 500 anos, a derrota política do Ultramar tinha a mesma idade - vinha dos “velhos do Restelo” - e, ao longo desses séculos, os insofridos soldados e marinheiros de Portugal e colónias sempre esconjuraram a sua derrota militar. Os ex-combatentes da Guiné, que palmilharam as matas e bolanhas a expor-se como alvos nas emboscadas, a dar ao gatilho em batidas, cercos e assaltos, a levar com minas, bazucadas, mísseis e obuses, nas noites de insónia nos seus estacionamentos e a sacrificar-se graciosamente pela melhoria social e económica do seu povo, não compreendem como é que, no confronto entre os cerca de 4000 combatentes paigcistas, entremeados de internacionalistas, e os 45 000 militares e militarizados, metropolitanos e naturais, num espaço de dimensão geográfica inferior à do Alentejo, estes saíram derrotados. Fazem recordar que nem a Espanha, a maior potência do mundo de então, nem o imperialista Napoleão haviam conseguido derrotar os soldados portugueses no Alentejo, aquela nos 28 anos da guerra luso-espanhola da Restauração e o génio militar de Napoleão com as 5 Invasões Francesas. O MFA complexou os militares, os que baixaram a espada, não despiram as fardas e se alcandoraram a políticos foram muitos, entrando rapidamente nos jogos da mentira e da manipulação, como é apanágio destes.
Nos 11 anos da guerra que desencadeou e aguentou, o PAIGC apenas ganhou a vitória política que desembocou na fundação da nacionalidade bissau-guineense, em 24 de Setembro de 1973, na inóspita Madina do Boé e uma vitória militar indirecta, não decorrente dos cercos e bombardeamentos massivos com que martirizou as populações e as guarnições militares de Guileje, Gadamael, Guidaje e Buruntuma: a sobreposição do golpe do MFA da Metrópole, em 25 de Abril, pelo golpe militar da malta esquerdista do MFA da Guiné, na manhazinha de 26 de Abril, em Bissau, a culminar a ruptura das cadeias de comando e a decapitação dos altos comandos militares, em pleno teatro duma dura guerra. Por ironia do destino, a vitória política do PAIGC e a derrota militar de Portugal, decisórias da libertação da Guiné, aconteceram sem tiros…
Todo o mundo apoiou e reconheceu a fundação do seu Estado e todo o mundo conhece o estado a que a Guiné-Bissau chegou. Um Estado fraco descamba na violência - sequelas do seu parto prematuro, carente da incubadora -, criado pelo PAIGC e a sua pesporrência e pela “Descolonização exemplar”, segundo o MFA. Volvemos o olhar para os contextos da fundação da sua nacionalidade, em Madina do Boé, cujos contornos não têm sido bem contados pelos seus encenadores e actores.
Em 1972, Amílcar Cabral já havia convencido mais de meio mundo da sua vitória e da iminência da proclamação unilateral da independência, sem que o PAIGC houvesse conquistado qualquer posição, sem conseguir embargar o chão da Guiné aos soldados portugueses nem a sua presença junto da maioria do seu povo. Com garantias do seu reconhecimento e do voto diplomático dos países afro-asiáticos, comunistas e de alguns do Ocidente (40 em 112 na ONU), elegera a região de Cassacá/Quitafine para encenar o evento e marcara-o para 12 de Setembro de 1973, data do seu 49.º aniversário natalício. O útero de D. Iva Pinhal Évora, que conheci em 1965, a residir no bairro do Chão de Papel, constituíra-se em causa remota da libertação da Guiné: ao gerar o libertador gerara o embrião da libertação. O líder regressara de Moscovo em finais de 1972, sem os aviões de combate MIG, mas com a certeza da entrega do primeiro fornecimento de 44 mísseis terra-ar Strella, destinados a interditar os céus da Guiné às máquinas de guerra voadoras da Base Aérea n.º 12, em Bissalanca, que tão desequilibravam os pratos da balança da guerra que desencadeara. Veio perder a vida em Conakry, longe do teatro dessa guerra, em 20 de Janeiro de 1973, não em combate próprio da guerra, mas à mão de correligionários de longa data, no contexto da discordância pela união da Guiné e Cabo Verde, não obstante o Partido Comunista Português o haver prevenido da conjura, por escrito; a fonte dessa informação seria uma “toupeira” no Estado-Maior português. Álvaro Cunhal, o pragmático Secretário-geral do PCP, foi o único chefe oposicionista ao Estado Novo que sempre advogou e pugnou, no país e no estrangeiro, pela descolonização do Ultramar – à moda do MFA…
Os herdeiros cumpriram as instruções e respeitaram a agenda do líder defunto, preparando e desencadeando manobras militares de guerra clássica, vigorosas e simultâneas, de cerco e ataques massivos às povoações fronteiriças dos “3G´s” – Guidaje, Guileje e Gadamael -, durante mais de um mês, na procura de vitórias tangíveis, para ilustrar a próxima proclamação da independência. Em Guidaje, foram contidos pela valentia do comandante e forçados à retirada para o Senegal; em Guileje, o comandante fintou-os com a manobra da retirada para Gadamael, decisão inaudita, susceptível de ofuscar a boa imagem da guarnição e Nino Vieira desceu de Boké, precavendo-se num blindado para abordar o alvo abandonado há 2 dias.
O passamento de Amílcar Cabral trouxe a luta pelo poder ao interior do PAIGC. Nino Viera havia concorrido a seu sucessor, mas os seus pares (apenas um voto em 15) deram a liderança ao Luís Cabral, que era o controleiro do aparelho paigcista, no seu desígnio de transitar da presidência da Assembleia Nacional Popular para presidente do Conselho de Estado - a rampa de lançamento para futuro próximo presidente da Guiné-Bissau -, e Gadamael tornou-se o alvo das suas frustrações, deslocando a panóplia de armamento pesado para o interior da Guiné. Os defensores de Gadamael passaram a sujeitos de situações patéticas e a dramas de alta densidade. Os primeiros obuses puseram os seus dois capitães fora de combate e cerca de 300 elementos debandaram da guarnição, em fuga ao inferno em que o dilúvio de obuses transformara a povoação e o estacionamento militar. A defesa deste esteve reduzida a cerca de 30 elementos, por um período superior a 24 horas, que a aguentaram firmes e valentes, como homens e como soldados, à maneira dos portugueses de outras eras. Os pára-quedistas vieram de Guidaje e de Cufar, os fuzileiros e os comandos vieram de Bissau em seu socorro e obrigaram Nino Vieira a retirar para o conforto do território estrangeiro, tendo de recriar uma “grande marcha” à moda maoísta, com combatentes e carregadores a alombar com a panóplia desse armamento pesado por trilhos inóspitos, totalmente vulneráveis às previsíveis manobras de exploração do sucesso – que não foram desencadeadas. Os pilav já haviam superado os Strella e os T6 e Fiat G91 de Bissalanca surgiam sobre a copa das árvores e derretiam, sem oposição, as retaguardas e santuários do PAIGC, no Senegal e na Guiné-Conakri.
O general Spínola superou a crise dos 3 G´s e veio para Lisboa, de férias e para se demitir, quando no teatro da guerra da Guiné emerge o MOCAP, Movimento dos Capitães, corporativo, rapidamente metamorfoseado em MFA, Movimento das Forças Armadas, político e conspirativo. Depois do facto consumado ficou a saber-se que o PAIGC era posto ao corrente de tudo o que era essencial. O PAIGC não alcançará maiores êxitos militares do que os decorrentes da sua robusta luta de guerrilha e continuou o seu caminho rumo à vitória, pela declaração unilateral da independência política, com a proclamação prevista na aludida região do sul, tendo apenas alterado a data de 12 para 19 – acabou por ser fixada em 24 de Setembro. A Guiné estava para a Spinolândia como o Boé estava para a Cabralândia.
A data da proclamação da independência aproximava-se, a tropa de intervenção de Bissau começara a vigiar o Cantanhez e, nas antevésperas, um Fiat G91 afundou uma embarcação que fazia a cambança de pessoal da Guiné-Conakry com destino ao local do evento. Nino Vieira, responsável pela segurança, pela qualidade de chefe de operações, avaliou a situação e fez saber aos seus pares que não a poderia garantir.
A liderança do PAIGC à data divulgará que ultrapassou a expectativa do fiasco transportando, durante toda a noite da véspera, a tralha da sua logística para o Boé, considerada pelo Amílcar como a mais segura das “áreas libertadas”, correspondente à quadrícula de Madina e Beli, abandonada pela tropa, desde 1968. E Luís Cabral até foi mordaz quanto à competência de Nino Vieira, ao dizer, ao jeito de confidência, que ele levara os foguetões mas que se esquecera de levar o mecanismo do seu lançamento…
Ou as explicações são pouco cuidadas, mistificadas ou estaremos perante um milagre. O PAIGC andou toda a noite da véspera a mudar a tralha e o armamento do Cantanhez para o Boé mas, manhã manhãzinha, o cerimonial atingia o pleno, as centenas pessoas instaladas - deputados, dirigentes, convidados, diplomatas estrangeiros (o embaixador russo diz que não assistiu) e enviados da imprensa internacional, com Nino Vieira a ler o texto da proclamação, da autoria do dr. José Araújo, pelas 8H55 TMG. E a publicidade à volta desse evento fez elevar de 40 para 82 o número de países que lhe deram apoio e reconhecimento diplomático.
Do lado português, não compareceram nem a Força Aérea nem as tropas heliotransportadas. Eficiência da contra-informação?
Dizia-se que o Estado-Maior de Bissau estaria infiltrado de capitães e de oficiais superiores comunista.
Terão acontecido acções de traição à pátria, na guerra da Guiné? A seguir ao 25 de Abril, a amnistia dirigida a refractários e desertores não encontrou traidores à pátria. O PAIGC começou a fuzilar em 1964 e fuzilou muitas centenas de guineenses, pelo menos até 1980, sob essa acusação. Na I Grande Guerra, pela simples manifestação da intenção de um soldado condutor amalucado, natural da Foz do Douro, de entregar aos alemães duas cartas de itinerários para as posições portuguesa, foi julgado como traidor à pátria na forma tentada e sentenciado com o fuzilamento, presenciado por uma grande formação de camaradas.
Nino Vieira demorará 7 anos a anular Luís Cabral e a ascender a PR da Guiné-Bissau.
Passou de IN e grande vilão da guerra da Guiné a amigo de Portugal e o PR Jorge Sampaio condecorou-o com o Grande Colar da Ordem Militar de Santiago de Espada, cujo chanceler era … o general António de Spínola…
Manuel Luís Lomba
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Nota do editor
Último poste da série de 24 de Agosto de 2014 > Guiné 63/74 - P13530: Efemérides (173): Romagem anual ao Cemitério de Lavra / Matosinhos, de homenagem aos combatentes mortos na Guerra do Ultramar, levada a efeito no passado dia 8 de Agosto de 2014
Saudações ao Carlos Vinhal, formiga trabalhadora deste blogue colectivo, bem como ao Luís Graça, o ”homem grande” da nossa Tabanca Grande.
Setembro foi o mês de acontecimentos decisivos que atiraram para o caixote do lixo da História os sacrifícios que, enquanto combatentes, doamos à Guiné portuguesa. Escapou o denominador comum do respeito e empatia criada entre os ex-IN e a generalidade dos bissau-guineenses, nomeadamente com os da estirpe do profícuo Pepito, in memoriam, e do corajoso “menino de Fajonquito”.
Não deixei acabar este Setembro quarentão sem te enviar o texto seguinte, desalinhado do politicamente correcto, para lhe dares o tratamento que entenderes.
Manuel Luís Lomba
Os guineenses libertaram-se de Portugal mas não se libertaram da opressão
Saudamos os nossos irmãos bissau-guineenses que celebram o 40.º aniversário da sua independência política, em especial os grisalhos sobrevivos da geração dos turras, que nos infernizaram a vida durante o logo tempo que passámos no seu chão. A efeméride é oportunidade para abordar os acontecimentos ocorridos em Setembro de 1973, da fundação da nacionalidade, em Madina do Boé e em Setembro de 1974, com o MFA a outorgar a exclusividade do senhorio do povo da Guiné e a entregar as chaves da capital de Bissau ao PAIGC, até então com a cabeça em Conakry, Moscovo e Havana.
Havia séculos que os portugueses da Metrópole e da Guiné se compraziam com idêntico sentimento patriótico, do querer de uma nação e do seu próprio Estado. Para além da nostalgia, mas sem saudosismo, a geração grisalha dos seus ex-combatentes vai rezingar até à sua extinção em como o seu exército, que serviram com honra, fora o fundado por D. Afonso Henriques, no Castelo de Faria, em 1127 e ganhador da nossa independência, em Guimarães, em 1128, e não o que emergiu a abandonar o povo da Guiné e a causar o efeito sistémico do abandono do Ultramar – a mãe das catástrofes que desabaram sobre os nossos irmãos africanos.
Se é verdade que os fins não justificam os meios, o desencadear das guerras será ilícito imoral. Na da Guiné, os dois lados reclamavam-se da legitimidade subjacente às suas origens, mas o tempo e modo da independência política bissau-guineense evidenciaram que ela fora prematura, pela pressa de Amílcar Cabral e do seu PAIGC pela emancipação de Portugal e pela pressa da Comissão Coordenadora do Programa do MFA, em dar ouvidos e reconhecer apenas a voz das armas, num juízo em causa próxima. Sem pedir culpados à História, em causa estará o facto de haver outorgado o poder ao PAIGC, à revelia da consulta ao seu povo. Anunciava a autodeterminação e entregou o poder a um partido-estado e armado. Naquele tempo, pela multiplicidade das suas mais de 600.000 almas, apenas 12% dos guineenses teriam aderido ao ideário marxista e terceiro-mundista daquele partido único, enquanto 88% se mantinham vinculados à civilização ocidentalista, que as FA portuguesas veiculavam esforçadamente.
O MFA usou a camuflagem ideológica para se alcandorar ao poder político, o seu desempenho foi um misto de mediocridade e ingenuidade e teve a mesma pressa a complementar a derrota política sofrida na desértica Madina do Boé com a derrota pelas suas armas, existentes e imaginárias, como era o caso dos aviões MIG, ao capitular na mata de Morés, nos princípios de Julho de 1974.
Sendo velho de 500 anos, a derrota política do Ultramar tinha a mesma idade - vinha dos “velhos do Restelo” - e, ao longo desses séculos, os insofridos soldados e marinheiros de Portugal e colónias sempre esconjuraram a sua derrota militar. Os ex-combatentes da Guiné, que palmilharam as matas e bolanhas a expor-se como alvos nas emboscadas, a dar ao gatilho em batidas, cercos e assaltos, a levar com minas, bazucadas, mísseis e obuses, nas noites de insónia nos seus estacionamentos e a sacrificar-se graciosamente pela melhoria social e económica do seu povo, não compreendem como é que, no confronto entre os cerca de 4000 combatentes paigcistas, entremeados de internacionalistas, e os 45 000 militares e militarizados, metropolitanos e naturais, num espaço de dimensão geográfica inferior à do Alentejo, estes saíram derrotados. Fazem recordar que nem a Espanha, a maior potência do mundo de então, nem o imperialista Napoleão haviam conseguido derrotar os soldados portugueses no Alentejo, aquela nos 28 anos da guerra luso-espanhola da Restauração e o génio militar de Napoleão com as 5 Invasões Francesas. O MFA complexou os militares, os que baixaram a espada, não despiram as fardas e se alcandoraram a políticos foram muitos, entrando rapidamente nos jogos da mentira e da manipulação, como é apanágio destes.
Nos 11 anos da guerra que desencadeou e aguentou, o PAIGC apenas ganhou a vitória política que desembocou na fundação da nacionalidade bissau-guineense, em 24 de Setembro de 1973, na inóspita Madina do Boé e uma vitória militar indirecta, não decorrente dos cercos e bombardeamentos massivos com que martirizou as populações e as guarnições militares de Guileje, Gadamael, Guidaje e Buruntuma: a sobreposição do golpe do MFA da Metrópole, em 25 de Abril, pelo golpe militar da malta esquerdista do MFA da Guiné, na manhazinha de 26 de Abril, em Bissau, a culminar a ruptura das cadeias de comando e a decapitação dos altos comandos militares, em pleno teatro duma dura guerra. Por ironia do destino, a vitória política do PAIGC e a derrota militar de Portugal, decisórias da libertação da Guiné, aconteceram sem tiros…
Todo o mundo apoiou e reconheceu a fundação do seu Estado e todo o mundo conhece o estado a que a Guiné-Bissau chegou. Um Estado fraco descamba na violência - sequelas do seu parto prematuro, carente da incubadora -, criado pelo PAIGC e a sua pesporrência e pela “Descolonização exemplar”, segundo o MFA. Volvemos o olhar para os contextos da fundação da sua nacionalidade, em Madina do Boé, cujos contornos não têm sido bem contados pelos seus encenadores e actores.
Em 1972, Amílcar Cabral já havia convencido mais de meio mundo da sua vitória e da iminência da proclamação unilateral da independência, sem que o PAIGC houvesse conquistado qualquer posição, sem conseguir embargar o chão da Guiné aos soldados portugueses nem a sua presença junto da maioria do seu povo. Com garantias do seu reconhecimento e do voto diplomático dos países afro-asiáticos, comunistas e de alguns do Ocidente (40 em 112 na ONU), elegera a região de Cassacá/Quitafine para encenar o evento e marcara-o para 12 de Setembro de 1973, data do seu 49.º aniversário natalício. O útero de D. Iva Pinhal Évora, que conheci em 1965, a residir no bairro do Chão de Papel, constituíra-se em causa remota da libertação da Guiné: ao gerar o libertador gerara o embrião da libertação. O líder regressara de Moscovo em finais de 1972, sem os aviões de combate MIG, mas com a certeza da entrega do primeiro fornecimento de 44 mísseis terra-ar Strella, destinados a interditar os céus da Guiné às máquinas de guerra voadoras da Base Aérea n.º 12, em Bissalanca, que tão desequilibravam os pratos da balança da guerra que desencadeara. Veio perder a vida em Conakry, longe do teatro dessa guerra, em 20 de Janeiro de 1973, não em combate próprio da guerra, mas à mão de correligionários de longa data, no contexto da discordância pela união da Guiné e Cabo Verde, não obstante o Partido Comunista Português o haver prevenido da conjura, por escrito; a fonte dessa informação seria uma “toupeira” no Estado-Maior português. Álvaro Cunhal, o pragmático Secretário-geral do PCP, foi o único chefe oposicionista ao Estado Novo que sempre advogou e pugnou, no país e no estrangeiro, pela descolonização do Ultramar – à moda do MFA…
Os herdeiros cumpriram as instruções e respeitaram a agenda do líder defunto, preparando e desencadeando manobras militares de guerra clássica, vigorosas e simultâneas, de cerco e ataques massivos às povoações fronteiriças dos “3G´s” – Guidaje, Guileje e Gadamael -, durante mais de um mês, na procura de vitórias tangíveis, para ilustrar a próxima proclamação da independência. Em Guidaje, foram contidos pela valentia do comandante e forçados à retirada para o Senegal; em Guileje, o comandante fintou-os com a manobra da retirada para Gadamael, decisão inaudita, susceptível de ofuscar a boa imagem da guarnição e Nino Vieira desceu de Boké, precavendo-se num blindado para abordar o alvo abandonado há 2 dias.
O passamento de Amílcar Cabral trouxe a luta pelo poder ao interior do PAIGC. Nino Viera havia concorrido a seu sucessor, mas os seus pares (apenas um voto em 15) deram a liderança ao Luís Cabral, que era o controleiro do aparelho paigcista, no seu desígnio de transitar da presidência da Assembleia Nacional Popular para presidente do Conselho de Estado - a rampa de lançamento para futuro próximo presidente da Guiné-Bissau -, e Gadamael tornou-se o alvo das suas frustrações, deslocando a panóplia de armamento pesado para o interior da Guiné. Os defensores de Gadamael passaram a sujeitos de situações patéticas e a dramas de alta densidade. Os primeiros obuses puseram os seus dois capitães fora de combate e cerca de 300 elementos debandaram da guarnição, em fuga ao inferno em que o dilúvio de obuses transformara a povoação e o estacionamento militar. A defesa deste esteve reduzida a cerca de 30 elementos, por um período superior a 24 horas, que a aguentaram firmes e valentes, como homens e como soldados, à maneira dos portugueses de outras eras. Os pára-quedistas vieram de Guidaje e de Cufar, os fuzileiros e os comandos vieram de Bissau em seu socorro e obrigaram Nino Vieira a retirar para o conforto do território estrangeiro, tendo de recriar uma “grande marcha” à moda maoísta, com combatentes e carregadores a alombar com a panóplia desse armamento pesado por trilhos inóspitos, totalmente vulneráveis às previsíveis manobras de exploração do sucesso – que não foram desencadeadas. Os pilav já haviam superado os Strella e os T6 e Fiat G91 de Bissalanca surgiam sobre a copa das árvores e derretiam, sem oposição, as retaguardas e santuários do PAIGC, no Senegal e na Guiné-Conakri.
O general Spínola superou a crise dos 3 G´s e veio para Lisboa, de férias e para se demitir, quando no teatro da guerra da Guiné emerge o MOCAP, Movimento dos Capitães, corporativo, rapidamente metamorfoseado em MFA, Movimento das Forças Armadas, político e conspirativo. Depois do facto consumado ficou a saber-se que o PAIGC era posto ao corrente de tudo o que era essencial. O PAIGC não alcançará maiores êxitos militares do que os decorrentes da sua robusta luta de guerrilha e continuou o seu caminho rumo à vitória, pela declaração unilateral da independência política, com a proclamação prevista na aludida região do sul, tendo apenas alterado a data de 12 para 19 – acabou por ser fixada em 24 de Setembro. A Guiné estava para a Spinolândia como o Boé estava para a Cabralândia.
A data da proclamação da independência aproximava-se, a tropa de intervenção de Bissau começara a vigiar o Cantanhez e, nas antevésperas, um Fiat G91 afundou uma embarcação que fazia a cambança de pessoal da Guiné-Conakry com destino ao local do evento. Nino Vieira, responsável pela segurança, pela qualidade de chefe de operações, avaliou a situação e fez saber aos seus pares que não a poderia garantir.
A liderança do PAIGC à data divulgará que ultrapassou a expectativa do fiasco transportando, durante toda a noite da véspera, a tralha da sua logística para o Boé, considerada pelo Amílcar como a mais segura das “áreas libertadas”, correspondente à quadrícula de Madina e Beli, abandonada pela tropa, desde 1968. E Luís Cabral até foi mordaz quanto à competência de Nino Vieira, ao dizer, ao jeito de confidência, que ele levara os foguetões mas que se esquecera de levar o mecanismo do seu lançamento…
Ou as explicações são pouco cuidadas, mistificadas ou estaremos perante um milagre. O PAIGC andou toda a noite da véspera a mudar a tralha e o armamento do Cantanhez para o Boé mas, manhã manhãzinha, o cerimonial atingia o pleno, as centenas pessoas instaladas - deputados, dirigentes, convidados, diplomatas estrangeiros (o embaixador russo diz que não assistiu) e enviados da imprensa internacional, com Nino Vieira a ler o texto da proclamação, da autoria do dr. José Araújo, pelas 8H55 TMG. E a publicidade à volta desse evento fez elevar de 40 para 82 o número de países que lhe deram apoio e reconhecimento diplomático.
Do lado português, não compareceram nem a Força Aérea nem as tropas heliotransportadas. Eficiência da contra-informação?
Dizia-se que o Estado-Maior de Bissau estaria infiltrado de capitães e de oficiais superiores comunista.
Terão acontecido acções de traição à pátria, na guerra da Guiné? A seguir ao 25 de Abril, a amnistia dirigida a refractários e desertores não encontrou traidores à pátria. O PAIGC começou a fuzilar em 1964 e fuzilou muitas centenas de guineenses, pelo menos até 1980, sob essa acusação. Na I Grande Guerra, pela simples manifestação da intenção de um soldado condutor amalucado, natural da Foz do Douro, de entregar aos alemães duas cartas de itinerários para as posições portuguesa, foi julgado como traidor à pátria na forma tentada e sentenciado com o fuzilamento, presenciado por uma grande formação de camaradas.
Nino Vieira demorará 7 anos a anular Luís Cabral e a ascender a PR da Guiné-Bissau.
Passou de IN e grande vilão da guerra da Guiné a amigo de Portugal e o PR Jorge Sampaio condecorou-o com o Grande Colar da Ordem Militar de Santiago de Espada, cujo chanceler era … o general António de Spínola…
Manuel Luís Lomba
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Nota do editor
Último poste da série de 24 de Agosto de 2014 > Guiné 63/74 - P13530: Efemérides (173): Romagem anual ao Cemitério de Lavra / Matosinhos, de homenagem aos combatentes mortos na Guerra do Ultramar, levada a efeito no passado dia 8 de Agosto de 2014
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Guiné 63/74 - P13667: In Memoriam (196): Claúdia Sousa (1975-2014), estudiosa do dari (chimpanzé) do Cantanhez, morre aos 39 anos, de doença. O funeral é amanhã, na Figueira da Foz
Título e toto: Recorde do jornal Público, 29 de setembro de 2014. (Com a devida vénia...)
1. Foi o João Graça, amigo da Tabanca Grande, médico e músico, que esteve em dezembro de 2009, na Guiné-Bissau e teve o privilégio de ver, ao vivo, no seu habitat natural o chimpazé (ou dari) do Cantanhez, quem me deu a triste notícia: a professora e investigadora Cláudia Sousa morreu de cancro, esta segunda feira, aos 39 anos.
Não conhecia, pessoalmente, a Cláudia mas sabia que ela era uma jovem e promissora cientista portuguesa que se dedicava ao estudo dos chimpanzés. Era, de resto, minha colega, pertencendo, desde 2001, à Universidade Nova de Lisboa (NOVA), Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (FCSH), Departamento de Antropologia [Vd. aqui o seu currículo académico].
Segundo Teresa Firmino, jornalista do Público, que assina o artigo acima citado, "Cláudia Sousa doutorou-se em 2003 na Universidade de Quioto [, Japão,] sob orientação de Tetsuro Matsuzawa, uma autoridade mundial em primatologia. A sua tese de doutoramento versava sobre a capacidade cognitiva de os chimpanzés acumularem capital ou, por outras palavras, de fazerem um mealheiro. Para tal, em experiências no Instituto de Investigação de Primatas da Universidade de Quioto, a investigadora deu aos chimpanzés tokens (objectos que têm um valor simbólico) para pedirem frutas em troca – e que eles guardavam e só trocavam por alimentos quando queriam.
Segundo Teresa Firmino, jornalista do Público, que assina o artigo acima citado, "Cláudia Sousa doutorou-se em 2003 na Universidade de Quioto [, Japão,] sob orientação de Tetsuro Matsuzawa, uma autoridade mundial em primatologia. A sua tese de doutoramento versava sobre a capacidade cognitiva de os chimpanzés acumularem capital ou, por outras palavras, de fazerem um mealheiro. Para tal, em experiências no Instituto de Investigação de Primatas da Universidade de Quioto, a investigadora deu aos chimpanzés tokens (objectos que têm um valor simbólico) para pedirem frutas em troca – e que eles guardavam e só trocavam por alimentos quando queriam.
Cláudia Sousa (1975-2014). Foto: cortesia da FCSH/NOVA |
A notícia da sua morte entristece-nos a todos, aqueles de nós que são amigos da Guiné, e todos aqueles que amam a ciência que se faz em Portugal e nos demais paíes lusófonos. Ficamos todos mais pobres, a começar pela população (ameaçada) de daris da Guiné-Bissau e da Guiné-Conacri...
O corpo encontra-se em câmara ardente na Igreja Matriz da Figueira da Foz, donde a Cláudia era natural. O funeral realiza-se amanhã, terça-feira, à tarde.
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Nota do editor:
Útimo poste da série > 25 de setembro de 2014 > Guiné 53/74 - P13650: In Memoriam (195): Cap art Manuel Carlos da Conceição Guimarães (1938-1967), morto na estrada Geba-Banjara, região de Bafatá... As suas irmãs, Teresa e Ana descobrem agora, emocionadas, as referências sobre ele no nosso blogue e encontraram-se há dias, em Lisboa, com o A. Marques Lopes, seu amigo e companheiro de infortúnio
Guiné 63/74 - P13666: Fotos à procura de... uma legenda (35): 4º pelotão, CART 11, junho de 1970, Nova Lamego... Uma grande e enigmática foto (Valdemar Queiroz)
UMA GRANDE (E ENIGMÁTICA) FOTOGRAFIA
por Valdemar Queiroz
[, ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70]
Não sabemos e, se calhar, nunca saberemos quem foi o fotógrafo desta grande fotografia. O 4º. Pelotão, da CART11 (Contuboel, Nova Lamego 1969/ Paunca 1970).
Sabemos que máquina fotográfica era do ex-alf mil Pina Cabral, sabemos que foi ‘tirada’ em Junho de 1970, na Guiné, no Quartel de Baixo, em Nova Lamego, na parada e em cima duma GMC que tinha sido atingida por uma mina anti-carro, e que estamos numa zona de guerra no leste da Guiné, sabemos que não faltou ninguém do 4º. Pelotão, da CART 11, para posar para a fotografia.
Sabemos que uns vieram com o seu melhor fardamento, os 2ºs. da primeira fila da frente esquerda sabemos que outros, os últimos da dierita, da fila da frente, festejaram o evento como que uns ‘putos’ lá na sua escola, sabemos que o ex-alf mil Pina Cabral, à frente e ao centro, comandante do Pelotão, muito bem fardado, impõe respeito a toda agente, e também sabemos que não festejávamos coisíssima nenhuma.
Pode haver dezenas/centenas de fotos de Pelotões/Secções e outros em formatura, mas como esta (enigmática) fotografia do 4º. Pelotão da CART 11, não há nenhuma.
Ninguém tem o mínimo resquício de guerra, embora fardados e tenham feito dezenas de acções e estejam em plena zona de guerra, foi como se se juntassem todos para uma foto de fim de tarde num dia especial, mas que não se consegue adivinhar por qual foi o motivo.
Todas, ou em quase todas, as fotos deste tipo aparecem os homens com as G3 ou outras armas, dando a ideia de guerra, e com razão, mas nesta grande fotografia não, e nunca saberemos o porquê de toda esta calmaria, de toda esta pose com o seus quês enigmáticos. Não enigmáticos que não saibamos quem são os intervenientes, mas enigmáticos quanto á postura e pose para a fotografia.
Não sabemos e, se calhar, nunca saberemos quem foi o fotógrafo desta grande fotografia. O 4º. Pelotão, da CART11 (Contuboel, Nova Lamego 1969/ Paunca 1970).
Sabemos que máquina fotográfica era do ex-alf mil Pina Cabral, sabemos que foi ‘tirada’ em Junho de 1970, na Guiné, no Quartel de Baixo, em Nova Lamego, na parada e em cima duma GMC que tinha sido atingida por uma mina anti-carro, e que estamos numa zona de guerra no leste da Guiné, sabemos que não faltou ninguém do 4º. Pelotão, da CART 11, para posar para a fotografia.
Sabemos que uns vieram com o seu melhor fardamento, os 2ºs. da primeira fila da frente esquerda sabemos que outros, os últimos da dierita, da fila da frente, festejaram o evento como que uns ‘putos’ lá na sua escola, sabemos que o ex-alf mil Pina Cabral, à frente e ao centro, comandante do Pelotão, muito bem fardado, impõe respeito a toda agente, e também sabemos que não festejávamos coisíssima nenhuma.
Pode haver dezenas/centenas de fotos de Pelotões/Secções e outros em formatura, mas como esta (enigmática) fotografia do 4º. Pelotão da CART 11, não há nenhuma.
Ninguém tem o mínimo resquício de guerra, embora fardados e tenham feito dezenas de acções e estejam em plena zona de guerra, foi como se se juntassem todos para uma foto de fim de tarde num dia especial, mas que não se consegue adivinhar por qual foi o motivo.
Todas, ou em quase todas, as fotos deste tipo aparecem os homens com as G3 ou outras armas, dando a ideia de guerra, e com razão, mas nesta grande fotografia não, e nunca saberemos o porquê de toda esta calmaria, de toda esta pose com o seus quês enigmáticos. Não enigmáticos que não saibamos quem são os intervenientes, mas enigmáticos quanto á postura e pose para a fotografia.
Quem saberá qual a razão do Lobo Seidi, o primeiro, em baixo, do lado esquerdo á frente, ser o único de cabeça baixa, quem saberá qual a razão o Caró Seidi, o terceiro, do lado esquerdo á frente, estar a mostrar uma caixa de fósforos, quem saberá qual a razão o Adulo Jaló e o ex-1º. cabo Altino e até o ex-fur mil Pinto, na segunda posição, em cima, lado direito., estarem a olhar para o infinito, quem saberá qual a razão do ex-1º cabo Silva, a seguir , com a mão esquerda na cadela ‘Judi’ ser o mais ‘pensativo’ de todos, e até a pose de guarda-costas do Arfan Jau em cima à direita atrás do ex-fur mil Macias, quem saberá qual a razão de não haver grandes ‘expressões’ de alegria, exceptuando o caso, da pose excepcional, o hino entre os povos, o português no seu melhor de confraternizar com toda a gente, que é a pose do ex-1º cabo Rocha no lado direito, em baixo, com o braço sobre o ombro do Aliu Djaló, num quase abraço, numa comunhão entre os povos, mas desta vez, infelizmente, na guerra, mas contentes, como que se os dois tivessem acabado de ver um jogo vitorioso do Benfica. Julgo não haver muitas poses como esta, julgo mesmo que será a única.
Esta é uma GRANDE (E ENIGMÁTICA) FOTOGRAFIA em que cada observador pode fazer ou conjecturar muitos comentários, provavelmente perguntar se o Alseine, Saliu, Camará, Mutaro, Bácar, Arfan, Macias, Bonco, Tamaiana, Silva, a ‘Judy’, Adulo, Altino, Jarga, Pinto, Lobo, Tagundé, Boi, Pina Cabral, Queiroz, Mamadu, Ussumane, Fode, Aliu e Rocha estarão vivos. Não sabemos. O Macias, Silva, Altino, Pinto, Pina Cabral, Queiroz, Rocha e até o Boi Colubali estão vivos, os outros, agora com idades de mais de sessenta anos e até mais de setenta, não sabemos. A única coisa que sabemos é que esta fotografia existe e retrata vinte e nove jovens que estiveram na guerra da Guiné.
Valdemar Queiroz
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Esta é uma GRANDE (E ENIGMÁTICA) FOTOGRAFIA em que cada observador pode fazer ou conjecturar muitos comentários, provavelmente perguntar se o Alseine, Saliu, Camará, Mutaro, Bácar, Arfan, Macias, Bonco, Tamaiana, Silva, a ‘Judy’, Adulo, Altino, Jarga, Pinto, Lobo, Tagundé, Boi, Pina Cabral, Queiroz, Mamadu, Ussumane, Fode, Aliu e Rocha estarão vivos. Não sabemos. O Macias, Silva, Altino, Pinto, Pina Cabral, Queiroz, Rocha e até o Boi Colubali estão vivos, os outros, agora com idades de mais de sessenta anos e até mais de setenta, não sabemos. A única coisa que sabemos é que esta fotografia existe e retrata vinte e nove jovens que estiveram na guerra da Guiné.
Valdemar Queiroz
PS - O meu filho que vive na Holanda, e que é um estudioso de belas artes (em 2015 será prof), acha que esta fotografia é um hino. Um hino dos portugueses a darem-se bem com outros povos. Até arranjou uma legenda: 'Um enigma, quem são estes ?' Realmente, nesta fotografia não se sabe se o Silva é de Sinchã Abulai ou o Boi Colubali é de Penafiel, estão todos juntos. Que grande (e enigmática) fotografia.
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Nota do editor:
Último poste da série > 21 de setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13633: Fotos à procura de... uma legenda (34): Missas históricas no Império: do ilhéu de Coroa Vermelha, no litoral sul da Bahia, Brasil (26/4/1500) a Gandembel, Região deTombali, CTIG (25/12/1968)... (António Rosinha / Idálio Reis)
Último poste da série > 21 de setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13633: Fotos à procura de... uma legenda (34): Missas históricas no Império: do ilhéu de Coroa Vermelha, no litoral sul da Bahia, Brasil (26/4/1500) a Gandembel, Região deTombali, CTIG (25/12/1968)... (António Rosinha / Idálio Reis)
Guiné 63/74 - P13665: Os Últimos Anos da Guerra da Guiné Portuguesa (1959/1974) (José Martins) (2): 3 de Agosto de 1959
1. Publicação da segunda parte do trabalho de pesquisa e compilação do nosso camarada José Marcelino Martins (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), que diz respeito aos últimos 5517 dias de luta pela independência da então Guiné Portuguesa.
(Continua)
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Nota do editor
Primeiro poste da série de 28 de Setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13660: Os Últimos Anos da Guerra da Guiné Portuguesa (1959/1974) (José Martins) (1): Preâmbulo e O Início
Guiné 63/74 - P13664: Notas de leitura (636): “Adeus, Bissau!", A ternura de um conto à volta da guerra civil de 1998-1999 (Mário Beja Santos)
1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 25 de Setembro de 2014:
Queridos amigos,
Nada fazia supor, naquele fim de tarde chuviscoso a prenunciar Outono que iria encontrar numa publicação do Clube Militar Naval um conto tão pungente, tão tocante, evocativo da reconciliação luso-guineense, a propósito da guerra civil de 1998-1999.
Esta é a dimensão mais agradável que assiste ao andarilho que pesquisa assuntos, coisas de todo o tipo e objetos de toda a sorte que aponta para a Guiné, aquela que foi a primeira colónia moderna de um mundo que se chamou moderno e aonde se decidiu que Portugal não podia continuar a fechar os olhos ao imperativo da emancipação dos povos.
Desculpem o texto ser um pouco maior que é costume, mas este conto naval perderia se fosse cindido, as boas, genuínas emoções não se podem lotear.
Um abraço do
Mário
Adeus, Bissau!
A ternura de um conto à volta da guerra civil de 1998-1999
Beja Santos
Deve haver inúmeros métodos para pesquisar pepitas guineenses, ou seja, encontrar em alfarrábios, em estancos da Feira da Ladra, vendas na via pública e aparentados, o meu método deve ser o mais singelo: quem vê caras não vê corações, não frontispício que me demova, não é a primeira vez que sou engando pelas capas, tem que se ler sempre o índice das revistas, espiolhar, não esmorecer, vai-se à caça sem o propósito deliberado de trazer umas galinholas para casa – é este o princípio básico, está disponível para regressar de mãos vazias. Assim procedo quando, por exemplo, entro num alfarrabista na Rua das Portas de Santo Antão, contíguo ao Palácio da Independência, tem uma banca com publicações a 1€, há de tudo, desde o romance policial, literatura de viagens, catálogos de leilões, livros de relações internacionais e tudo aquilo que é esperável encontrar quando os herdeiros se desfazem de bibliotecas. Naquele fim de tarde, a sorte estava do meu lado, ao pegar num número de 1999 dos Anais do Clube Militar Naval era impensável ir encontrar, redigido por um oficial da Armada um conto enternecedor, sabe-se lá se este Primeiro-tenente Jorge Manuel Moreira Silva não presenciou tudo o que passou à ficção, e que ele chama conto naval. É uma bela achega para a literatura luso-guineense e é acima de tudo um comovente apelo à reconciliação entre todos aqueles que combateram na Guiné. Vamos aos factos, ao conto:
Adeus, Bissau!
Há vinte e quatro anos uma criança corria, desamparada, pelas ruas de Bissau. Desencontrada da mãe, buscava, em vão, amparo na multidão de rostos estranhos que a envolvia, no turbilhão dos acontecimentos. Se nalgumas apenas via medo, outros lhe surgiam, ameaçadores, pela frente, gritando “Vai para a tua terra! Vai para casa!”, só que não lhe diziam como. Ir para casa era o que mais desejava, porque não a deixavam, então fazê-lo como habitualmente, em sossego, na companhia da mãe? À sua volta tudo era gritos e correrias, pelo que nenhum apoio poderia, jamais, encontrar na debandada de gente que apenas buscava a sua própria segurança. Choviam pedras e insultos, ninguém sabia como tudo aquilo iria acabar…
Esbarrou em alguém… Um Negro alto, de camuflado, barrava-lhe a passagem. “Andas perdido, menino?”. Correspondia à descrição feita pelo pai dos temíveis turras que encontrava no mato, mas o seu aspeto era jovem e os seus olhos eram fundos, sinceros, cheio de compaixão.
- Não me faça mal, Senhor Turra! – Suplicou o petiz. – Eu só quero ir para casa.
O negro de camuflado permaneceu sério durante breves segundos, depois esbugalhou os olhos e a sua boca abriu-se numa gargalhada franca moldada por duas impecáveis fileiras de dentes.
- Senhor Turra, eh? – Exclamou. – Não tem medo, menino, que Senhor Turra não te faz mal.
O seu rosto retomou, então, a seriedade inicial e os seus olhos fixaram a linha do horizonte.
– Tua casa não é aqui, menino, fica longe. Estas casa e estas terra são de nós, mas Senhor Turra vai deixar-te a caminho…
Sentiu aquelas palavras como um soco dado no peito. Como podia aquele homem afirmar que não era a sua casa onde sempre vivera e que não passava, agora, de um estranho na única terra que jamais conhecera? Todo o seu pequeno mundo ruía na crueza demolidora daquelas frases.
Caminharam, por longos minutos, entre a multidão assustada, até à beira da estrada que seguia para Bissalanca.
- Vê aquele monte de branco? – Perguntou o guerrilheiro, apontando um grupo de refugiados a caminho do aeroporto. – Segue com eles, para ver tua mãe e voltar para casa. – E passando-lhe a mão pela cabeça, o rosto de novo aberto numa expressão de afeto: - Toma cuidado, menino.
Foi recolhido pelo grupo, nele reconhecendo, de imediato, alguns dos seus vizinhos. Já no aeroporto, foi entregue à mãe, que chorava. O pequeno não sabia se era a alegria do reencontro, os cuidados pelo pai, que ficava para trás, no mato, ou já a saudade de tudo aquilo a que chamara seu e que se via obrigada a virar costas.
Hoje o menino há muito que o não é. Esquecida que ficou, nas teias do tempo, a promessa de que jamais iria combater, orgulha-se, agora, do seu alvo uniforme de oficial de Marinha. Empenhado numa ação de representação junto de um navio estrangeiro, não se apercebe, na azáfama das comemorações do Dia de Portugal, de que na terra que o viu nascer as armas voltaram, uma vez mais, a falar. E só se inteira da gravidade da situação quando o telefonema urgente de um camarada o vem acordar para um novo pesadelo:
- Tens de te apresentar a bordo imediatamente. Houve um golpe militar na Guiné-Bissau e temos que lá ir evacuar os cidadãos portugueses que pretendam regressar.
As duas corvetas sulcam, agora, as águas lamacentas do Geba, rumo a Bissau. Nunca pudera imaginar que a situação fosse evoluir tão rapidamente. E agora? Como reagirá se, ao chegar, a força for acolhida com fogo de morteiro? Vacilará? Portar-se-á como o herói que sempre sonhou ser? Talvez tudo corra de um modo calmo mas a espera não deixa de ser angustiante. Arde a margem norte junto a Brá e Bissalanca e soa seco o matraquear das armas ligeiras, entrecortado pelo estrondo surdo da morteirada. Bissau está à vista e também a “Vasco da Gama” que, fundeada a uma distância segura da margem, se prepara para suspender e efetuar a aproximação. Parte, do Comandante da força, a ordem para os três navios se aproximarem em simultâneo. É o tudo ou nada… A tensão cresce, de súbito, e precipita-se num só instante, o instante em que o navio-chefe se cruza com os outros dois e as três guarnições se saúdam num grito entusiástico e emotivo que poderá bem ser o último… É chegado o momento. As posições são ocupadas a escassas centenas de jardas do cais e já os três ferros unham no fundo de areia lodosa. Tudo decorreu sem incidentes, apesar de um projétil isolado ter caído entre a “Vasco da Gama” e uma das corvetas.
Os botes largam e dirigem-se para o cais onde já se apinha uma considerável multidão. São cerca de setecentos, de acordo com os números fornecidos pela embaixada, mas os que ali se acotovelam são, de certeza, muitos mais. Os homens desembarcam e o jovem oficial dirige-se a um capitão do Exército Português que coordena as operações em terra, juntamente com um sargento senegalês.
- É melhor despacharem-se. – Aconselha o capitão. – A maior parte da população já sabe que vocês cá estão e vai querer ir também. Nós temo-los aguentado até agora, só não sei quanto mais tempo conseguiremos…
A um sinal do oficial, os fuzileiros tomam posição junto à navegação do cais que ameaça ceder face à pressão da multidão. É feita a primeira triagem, de acordo com as prioridades: Portugueses, cidadãos da União Europeia, Cabo-verdianos e, por fim, Guineenses com o visto da embaixada portuguesa. Os botes dão início às primeiras carreiras.
O silêncio é bruscamente interrompido por um estrondo: um projétil de artilharia caiu no centro da cidade e outros dois se seguem, desta vez na periferia do porto. As mulheres e as crianças gritam e os homens tentam, com mais insistência, forçar a vedação, levando os Senegaleses a distribuir bastonadas. Os fuzileiros colocam, instintivamente as armas em posição de fogo, mas a atenção do oficial é desviada por um homem de meia-idade, alto, de olhar profundo e triste que mantinha a serenidade no meio do pânico geral. De onde conhecia ele aquele olhar? Por breves instantes, e sem saber como, voltou a ser um menino desamparado entre uma multidão em debandada, buscando proteção naquele olhar.
- Tragam aquele homem. – Ordenou quando voltou a si. – Vejam se ele tem o visto.
- O senhor faz-me lembrar alguém que em tempos conheci por estas paragens…
Em pé, no convés de voo da corveta, o homem foi bruscamente arrancado às suas divagações, mas não pareceu demasiado surpreso com esta abordagem.
- Está a falar comigo, Senhor Oficial?
- Parece que sim, uma vez que o senhor é o único que não correu a abrigar-se do temporal que aí vem.
- Seu refeitório é muito apertado para toda esta gente. Prefiro dar lugar às mulher e criança, que eu já estou habituado a dormir no mato, debaixo de chuva.
- Isto confirma a minha suspeita. Já foi guerrilheiro?!
O homem suspirou profundamente.
- Naquele tempo era toda gente, unida na mesma causa. Nós lutava, nós morria, mas era feliz, por ser irmãos uns dos outros e acreditar na liberdade e união. Hoje, Camarada Amílcar Cabral ficaria triste, como eu, de ver seu sonho todo destruído.
- Ânimo, tudo se há de compor. Deixou lá família!
O homem baixou os olhos.
- Mulher e filha… Ficaram soterrada quando casa ruiu às três dia.
- Lamento… É por isso que parte, por não ter já nada que o prenda àquela terra?
Ergueu o rosto, de repente, e o seu olhar ganhou nova vivacidade.
- Não, senhor. Quero voltar. Aquela ainda é a minha terra, lutei muito por ela e não a vou largar. Fico triste de ver os meus irmão uns contra outros e vou embora para não ter de combater alguns deles, mas, se guerra acabar, hei de voltar, sim.
Respirou fiando, para recuperar o fôlego, e continuou, mais pausadamente:
- Sabe, Senhor Oficial, Guiné é muito pequena, mas tem gente muito diferente, tem Mandinga, Fula, Balanta, Bijagó, Papel, Felupe, e todos aprenderam a se dar bem. Foi isso que permitiu nossa liberdade contra potência mais forte e é isso que vai trazer paz de volta, não a interferência do estrangeiro. Paz será quando Povo quiser, percebe?
- Eu sei. O meu pai costumava dizer que vocês eram um inimigo terrível, por serem muito unidos…
O velho guerreiro pareceu interessado nestas últimas palavras.
- Seu pai combateu na Guiné?
- Sim, de 68 a 70. – Quando eu nasci, e de 73 a 74.
- Ah, é dessa altura que diz conhecer-me?
- Exatamente. O senhor é igualzinho a um guerrilheiro que me ajudou a sair de Bissau quando tivemos de vir embora. Não se lembra de ter encontrado um rapazinho perdido nas ruas?
O homem saltou uma saudável gargalhada, mostrando-se pela primeira vez bem-disposto.
- Por isso você me ajudou, mesmo sem eu ter o visto… Mas pode estar enganado. Já passou tanto tempo… Não lembro de menino nenhum. Tinha outra coisa importante para preocupar.
Já as primeiras gotas de chuva borrifavam os dois interlocutores.
- Pense nisso. – Pediu o oficial. – Quando vi o centro de Bissau a arder senti reavivar uma antiga ferida, como se me estivessem a expulsar novamente de casa. Então vi-o, a si, naquele cais e senti de novo a proteção do meu amigo turra.
E recolheu ao interior do navio. O homem deixou-se ficar à chuva, entregue aos seus pensamentos.
Ao tocar o cais da cidade da Praia, a multidão de refugiados precipitou-se para a tolda, atulhando-a de sacos e mochilas de várias cores. Aguardava-os uma equipa da Cruz Vermelha de Cabo Verde e um cordão policial controlava os movimentos na muralha, onde vários autocarros se alinhavam para os transportar ao aeroporto.
O antigo guerrilheiro veio despedir-se.
- Vai para Lisboa? – Perguntou o jovem oficial.
- Não, fico por cá, na companhia dos irmão cabo-verdiano, à espera que tudo se resolva.
- Não perca a esperança. Mantenha a fé no seu povo…
- Não perdi uma nem outra. Veja caso de nós dois: ontem combati seu pai, hoje você vem como amigo. Ontem você teve de fugir de sua casa, hoje tive eu, mas quando voltar minha casa será também sua porque sua já voltou a ser terra de Guiné. Como vê, nem tudo está mal… - E, após uns instantes de silêncio: - Obrigado ter-me ajudado.
- Obrigado por me ter encontrado mais uma vez. – E quando o homem já ia a virar costas: - Adeus, Senhor Turra.
Aquele voltou-se novamente e, rosto aberto numa expressão de afeto, colocou a mão no ombro do seu jovem amigo.
- Toma cuidado, menino.
Ao sair a prancha, o velho guerrilheiro levava marejados os olhos negros e profundos, mas sorria, pois acabava de se aperceber que, apesar dos percalços, ainda havia esperança para o grande sonho do Camarada Cabral.
Há vinte e quatro anos uma criança corria, desamparada, pelas ruas de Bissau. Hoje a criança não mais o é, mas voltou a ser feliz, porque quem antes a mandara para longe veio a tornar-se num amigo, um amigo necessitado que, longe de cobrar antigos favores, a ajudou, finalmente, a voltar para casa.
Aqui acaba o conto. Já o li duas vezes, sentado numa cadeira incómoda numa sala em penumbra, num fim de tarde que anuncia o Outono. Choraminguei, como alguém neste conto naval. Estou consolado por tanta surpresa. Até pelo facto da capa nada sugerir sobre a Guiné.
A fotografia deste número dos Anais do Clube Militar Naval mostra o primeiro-tenente Fernando Augusto Branco, imediato do primeiro submersível da Marinha portuguesa, o Espadarte, e avô materno do antigo Presidente da República Jorge Sampaio.
Mais outra surpresa.
____________
Nota do editor
Último poste da série de 26 de Setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13652: Notas de leitura (635): “Vamos", por Jacinto Lucas Pires (2) (Mário Beja Santos)
Queridos amigos,
Nada fazia supor, naquele fim de tarde chuviscoso a prenunciar Outono que iria encontrar numa publicação do Clube Militar Naval um conto tão pungente, tão tocante, evocativo da reconciliação luso-guineense, a propósito da guerra civil de 1998-1999.
Esta é a dimensão mais agradável que assiste ao andarilho que pesquisa assuntos, coisas de todo o tipo e objetos de toda a sorte que aponta para a Guiné, aquela que foi a primeira colónia moderna de um mundo que se chamou moderno e aonde se decidiu que Portugal não podia continuar a fechar os olhos ao imperativo da emancipação dos povos.
Desculpem o texto ser um pouco maior que é costume, mas este conto naval perderia se fosse cindido, as boas, genuínas emoções não se podem lotear.
Um abraço do
Mário
Adeus, Bissau!
A ternura de um conto à volta da guerra civil de 1998-1999
Beja Santos
Deve haver inúmeros métodos para pesquisar pepitas guineenses, ou seja, encontrar em alfarrábios, em estancos da Feira da Ladra, vendas na via pública e aparentados, o meu método deve ser o mais singelo: quem vê caras não vê corações, não frontispício que me demova, não é a primeira vez que sou engando pelas capas, tem que se ler sempre o índice das revistas, espiolhar, não esmorecer, vai-se à caça sem o propósito deliberado de trazer umas galinholas para casa – é este o princípio básico, está disponível para regressar de mãos vazias. Assim procedo quando, por exemplo, entro num alfarrabista na Rua das Portas de Santo Antão, contíguo ao Palácio da Independência, tem uma banca com publicações a 1€, há de tudo, desde o romance policial, literatura de viagens, catálogos de leilões, livros de relações internacionais e tudo aquilo que é esperável encontrar quando os herdeiros se desfazem de bibliotecas. Naquele fim de tarde, a sorte estava do meu lado, ao pegar num número de 1999 dos Anais do Clube Militar Naval era impensável ir encontrar, redigido por um oficial da Armada um conto enternecedor, sabe-se lá se este Primeiro-tenente Jorge Manuel Moreira Silva não presenciou tudo o que passou à ficção, e que ele chama conto naval. É uma bela achega para a literatura luso-guineense e é acima de tudo um comovente apelo à reconciliação entre todos aqueles que combateram na Guiné. Vamos aos factos, ao conto:
Adeus, Bissau!
Há vinte e quatro anos uma criança corria, desamparada, pelas ruas de Bissau. Desencontrada da mãe, buscava, em vão, amparo na multidão de rostos estranhos que a envolvia, no turbilhão dos acontecimentos. Se nalgumas apenas via medo, outros lhe surgiam, ameaçadores, pela frente, gritando “Vai para a tua terra! Vai para casa!”, só que não lhe diziam como. Ir para casa era o que mais desejava, porque não a deixavam, então fazê-lo como habitualmente, em sossego, na companhia da mãe? À sua volta tudo era gritos e correrias, pelo que nenhum apoio poderia, jamais, encontrar na debandada de gente que apenas buscava a sua própria segurança. Choviam pedras e insultos, ninguém sabia como tudo aquilo iria acabar…
Esbarrou em alguém… Um Negro alto, de camuflado, barrava-lhe a passagem. “Andas perdido, menino?”. Correspondia à descrição feita pelo pai dos temíveis turras que encontrava no mato, mas o seu aspeto era jovem e os seus olhos eram fundos, sinceros, cheio de compaixão.
- Não me faça mal, Senhor Turra! – Suplicou o petiz. – Eu só quero ir para casa.
O negro de camuflado permaneceu sério durante breves segundos, depois esbugalhou os olhos e a sua boca abriu-se numa gargalhada franca moldada por duas impecáveis fileiras de dentes.
- Senhor Turra, eh? – Exclamou. – Não tem medo, menino, que Senhor Turra não te faz mal.
O seu rosto retomou, então, a seriedade inicial e os seus olhos fixaram a linha do horizonte.
– Tua casa não é aqui, menino, fica longe. Estas casa e estas terra são de nós, mas Senhor Turra vai deixar-te a caminho…
Sentiu aquelas palavras como um soco dado no peito. Como podia aquele homem afirmar que não era a sua casa onde sempre vivera e que não passava, agora, de um estranho na única terra que jamais conhecera? Todo o seu pequeno mundo ruía na crueza demolidora daquelas frases.
Caminharam, por longos minutos, entre a multidão assustada, até à beira da estrada que seguia para Bissalanca.
- Vê aquele monte de branco? – Perguntou o guerrilheiro, apontando um grupo de refugiados a caminho do aeroporto. – Segue com eles, para ver tua mãe e voltar para casa. – E passando-lhe a mão pela cabeça, o rosto de novo aberto numa expressão de afeto: - Toma cuidado, menino.
Foi recolhido pelo grupo, nele reconhecendo, de imediato, alguns dos seus vizinhos. Já no aeroporto, foi entregue à mãe, que chorava. O pequeno não sabia se era a alegria do reencontro, os cuidados pelo pai, que ficava para trás, no mato, ou já a saudade de tudo aquilo a que chamara seu e que se via obrigada a virar costas.
************
Hoje o menino há muito que o não é. Esquecida que ficou, nas teias do tempo, a promessa de que jamais iria combater, orgulha-se, agora, do seu alvo uniforme de oficial de Marinha. Empenhado numa ação de representação junto de um navio estrangeiro, não se apercebe, na azáfama das comemorações do Dia de Portugal, de que na terra que o viu nascer as armas voltaram, uma vez mais, a falar. E só se inteira da gravidade da situação quando o telefonema urgente de um camarada o vem acordar para um novo pesadelo:
- Tens de te apresentar a bordo imediatamente. Houve um golpe militar na Guiné-Bissau e temos que lá ir evacuar os cidadãos portugueses que pretendam regressar.
************
As duas corvetas sulcam, agora, as águas lamacentas do Geba, rumo a Bissau. Nunca pudera imaginar que a situação fosse evoluir tão rapidamente. E agora? Como reagirá se, ao chegar, a força for acolhida com fogo de morteiro? Vacilará? Portar-se-á como o herói que sempre sonhou ser? Talvez tudo corra de um modo calmo mas a espera não deixa de ser angustiante. Arde a margem norte junto a Brá e Bissalanca e soa seco o matraquear das armas ligeiras, entrecortado pelo estrondo surdo da morteirada. Bissau está à vista e também a “Vasco da Gama” que, fundeada a uma distância segura da margem, se prepara para suspender e efetuar a aproximação. Parte, do Comandante da força, a ordem para os três navios se aproximarem em simultâneo. É o tudo ou nada… A tensão cresce, de súbito, e precipita-se num só instante, o instante em que o navio-chefe se cruza com os outros dois e as três guarnições se saúdam num grito entusiástico e emotivo que poderá bem ser o último… É chegado o momento. As posições são ocupadas a escassas centenas de jardas do cais e já os três ferros unham no fundo de areia lodosa. Tudo decorreu sem incidentes, apesar de um projétil isolado ter caído entre a “Vasco da Gama” e uma das corvetas.
Os botes largam e dirigem-se para o cais onde já se apinha uma considerável multidão. São cerca de setecentos, de acordo com os números fornecidos pela embaixada, mas os que ali se acotovelam são, de certeza, muitos mais. Os homens desembarcam e o jovem oficial dirige-se a um capitão do Exército Português que coordena as operações em terra, juntamente com um sargento senegalês.
- É melhor despacharem-se. – Aconselha o capitão. – A maior parte da população já sabe que vocês cá estão e vai querer ir também. Nós temo-los aguentado até agora, só não sei quanto mais tempo conseguiremos…
A um sinal do oficial, os fuzileiros tomam posição junto à navegação do cais que ameaça ceder face à pressão da multidão. É feita a primeira triagem, de acordo com as prioridades: Portugueses, cidadãos da União Europeia, Cabo-verdianos e, por fim, Guineenses com o visto da embaixada portuguesa. Os botes dão início às primeiras carreiras.
O silêncio é bruscamente interrompido por um estrondo: um projétil de artilharia caiu no centro da cidade e outros dois se seguem, desta vez na periferia do porto. As mulheres e as crianças gritam e os homens tentam, com mais insistência, forçar a vedação, levando os Senegaleses a distribuir bastonadas. Os fuzileiros colocam, instintivamente as armas em posição de fogo, mas a atenção do oficial é desviada por um homem de meia-idade, alto, de olhar profundo e triste que mantinha a serenidade no meio do pânico geral. De onde conhecia ele aquele olhar? Por breves instantes, e sem saber como, voltou a ser um menino desamparado entre uma multidão em debandada, buscando proteção naquele olhar.
- Tragam aquele homem. – Ordenou quando voltou a si. – Vejam se ele tem o visto.
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- O senhor faz-me lembrar alguém que em tempos conheci por estas paragens…
Em pé, no convés de voo da corveta, o homem foi bruscamente arrancado às suas divagações, mas não pareceu demasiado surpreso com esta abordagem.
- Está a falar comigo, Senhor Oficial?
- Parece que sim, uma vez que o senhor é o único que não correu a abrigar-se do temporal que aí vem.
- Seu refeitório é muito apertado para toda esta gente. Prefiro dar lugar às mulher e criança, que eu já estou habituado a dormir no mato, debaixo de chuva.
- Isto confirma a minha suspeita. Já foi guerrilheiro?!
O homem suspirou profundamente.
- Naquele tempo era toda gente, unida na mesma causa. Nós lutava, nós morria, mas era feliz, por ser irmãos uns dos outros e acreditar na liberdade e união. Hoje, Camarada Amílcar Cabral ficaria triste, como eu, de ver seu sonho todo destruído.
- Ânimo, tudo se há de compor. Deixou lá família!
O homem baixou os olhos.
- Mulher e filha… Ficaram soterrada quando casa ruiu às três dia.
- Lamento… É por isso que parte, por não ter já nada que o prenda àquela terra?
Ergueu o rosto, de repente, e o seu olhar ganhou nova vivacidade.
- Não, senhor. Quero voltar. Aquela ainda é a minha terra, lutei muito por ela e não a vou largar. Fico triste de ver os meus irmão uns contra outros e vou embora para não ter de combater alguns deles, mas, se guerra acabar, hei de voltar, sim.
Respirou fiando, para recuperar o fôlego, e continuou, mais pausadamente:
- Sabe, Senhor Oficial, Guiné é muito pequena, mas tem gente muito diferente, tem Mandinga, Fula, Balanta, Bijagó, Papel, Felupe, e todos aprenderam a se dar bem. Foi isso que permitiu nossa liberdade contra potência mais forte e é isso que vai trazer paz de volta, não a interferência do estrangeiro. Paz será quando Povo quiser, percebe?
- Eu sei. O meu pai costumava dizer que vocês eram um inimigo terrível, por serem muito unidos…
O velho guerreiro pareceu interessado nestas últimas palavras.
- Seu pai combateu na Guiné?
- Sim, de 68 a 70. – Quando eu nasci, e de 73 a 74.
- Ah, é dessa altura que diz conhecer-me?
- Exatamente. O senhor é igualzinho a um guerrilheiro que me ajudou a sair de Bissau quando tivemos de vir embora. Não se lembra de ter encontrado um rapazinho perdido nas ruas?
O homem saltou uma saudável gargalhada, mostrando-se pela primeira vez bem-disposto.
- Por isso você me ajudou, mesmo sem eu ter o visto… Mas pode estar enganado. Já passou tanto tempo… Não lembro de menino nenhum. Tinha outra coisa importante para preocupar.
Já as primeiras gotas de chuva borrifavam os dois interlocutores.
- Pense nisso. – Pediu o oficial. – Quando vi o centro de Bissau a arder senti reavivar uma antiga ferida, como se me estivessem a expulsar novamente de casa. Então vi-o, a si, naquele cais e senti de novo a proteção do meu amigo turra.
E recolheu ao interior do navio. O homem deixou-se ficar à chuva, entregue aos seus pensamentos.
************
Ao tocar o cais da cidade da Praia, a multidão de refugiados precipitou-se para a tolda, atulhando-a de sacos e mochilas de várias cores. Aguardava-os uma equipa da Cruz Vermelha de Cabo Verde e um cordão policial controlava os movimentos na muralha, onde vários autocarros se alinhavam para os transportar ao aeroporto.
O antigo guerrilheiro veio despedir-se.
- Vai para Lisboa? – Perguntou o jovem oficial.
- Não, fico por cá, na companhia dos irmão cabo-verdiano, à espera que tudo se resolva.
- Não perca a esperança. Mantenha a fé no seu povo…
- Não perdi uma nem outra. Veja caso de nós dois: ontem combati seu pai, hoje você vem como amigo. Ontem você teve de fugir de sua casa, hoje tive eu, mas quando voltar minha casa será também sua porque sua já voltou a ser terra de Guiné. Como vê, nem tudo está mal… - E, após uns instantes de silêncio: - Obrigado ter-me ajudado.
- Obrigado por me ter encontrado mais uma vez. – E quando o homem já ia a virar costas: - Adeus, Senhor Turra.
Aquele voltou-se novamente e, rosto aberto numa expressão de afeto, colocou a mão no ombro do seu jovem amigo.
- Toma cuidado, menino.
Ao sair a prancha, o velho guerrilheiro levava marejados os olhos negros e profundos, mas sorria, pois acabava de se aperceber que, apesar dos percalços, ainda havia esperança para o grande sonho do Camarada Cabral.
Há vinte e quatro anos uma criança corria, desamparada, pelas ruas de Bissau. Hoje a criança não mais o é, mas voltou a ser feliz, porque quem antes a mandara para longe veio a tornar-se num amigo, um amigo necessitado que, longe de cobrar antigos favores, a ajudou, finalmente, a voltar para casa.
************
Aqui acaba o conto. Já o li duas vezes, sentado numa cadeira incómoda numa sala em penumbra, num fim de tarde que anuncia o Outono. Choraminguei, como alguém neste conto naval. Estou consolado por tanta surpresa. Até pelo facto da capa nada sugerir sobre a Guiné.
A fotografia deste número dos Anais do Clube Militar Naval mostra o primeiro-tenente Fernando Augusto Branco, imediato do primeiro submersível da Marinha portuguesa, o Espadarte, e avô materno do antigo Presidente da República Jorge Sampaio.
Mais outra surpresa.
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Nota do editor
Último poste da série de 26 de Setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13652: Notas de leitura (635): “Vamos", por Jacinto Lucas Pires (2) (Mário Beja Santos)
Guiné 63/74 - P13663: Inquérito online: a arte lusitana do desenrascanço,,, na tropa e na guerra... Postes publicados no nosso blogue sobre este tópico
Guiné > Região de Cacheu > Bula > CCAÇ 2790 (1070/72) > Uma ilustração do famoso desenrascanço" dos tugas no CTIG: o Alferes mil minas e armadilhas António Matos aos comandos de um "blindado" da CCaç 2790.
Legenda (AM): "Ainda que o cockpit não estivesse a 100%, é nos pneus que se notava o cuidado em manter o veículo preparado para os mais altos desafios fossem quais fossem as situações; Slics à frente porque a estrada estava seca; com piso atrás para ter mais tracção; redondinhos mais atrás para o que desse e viesse"...
Foto: © António Garcia de Matos (2008). Todos os direitos reservados. Edição e legendas de L.G.
1. Alguns postes por nós publicados e que fazem referência ao tema do "desenrascanço" (*):
P3596: O famoso desenrascanço... - Luís Graça ...
10 Dez 2008
Guiné 63/74 - P3596: O famoso desenrascanço...(António Matos). Condições adversas de quem faz uma guerra com a premissa do desenrascanço. Tenho sido suficientemente crítico nos textos que já mandei para este ...
P1046: Estórias de Dulombi (Rui Felício, CCAÇ 2405) (4)
05 Set 2006
TRANSFERÊNCIA DE CARGA (ou a arte do desenrascanço que a tropa afinal nos ensinou)... Daí a poucos dias íamos finalmente embarcar em Bissau no Carvalho Araújo para o ansiado regresso… Tinhamos acabado de ...
P7538: O Mural do Pai Natal da Nossa Tabanca Grande (30)
31 Dez 2010
Não me estou a referir ao “desenrascanço” do dia a dia mas aquele “especial” quando cheirava a mobilização! Por ter cumprido os meus 4 anos de militar no Serviço de Saúde tenho algumas dessas “estórias” na cabeça, ...
Luís Graça & Camaradas da Guiné: Guiné 63/74 - P13032 ...
24 Abr 2014
Ou a "arte suprema do desenrascanço"...LG]. Fotos (e legendas): © Valdemar Queiroz (2014). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: L.G.]. 1. Continuação da publicação do álbum do Valdemar ...
Luís Graça & Camaradas da Guiné: Guiné 63/74 - P11399 ...
15 Abr 2013
Temos aqui operações bem mal sucedidas, momentos de tristeza, relatos de desenrascanço e não falta a gargalhada hilariante. Acaba-se o relato e fica a saber a pouco, já se sabe que a sinceridade toca aos combatentes ...
Luís Graça & Camaradas da Guiné: Guiné 63/74 - P11200 ...
06 Mar 2013
Só mesmo o desenrascanço como dizes. Falo por mim que nunca me ensinaram a saber fazer a chamada para saltar o plinto. Como é que o exército nos ia preparar se os oficiais estavam preparados apenas para desfiles?
Luís Graça & Camaradas da Guiné: Guiné 63/74 - P6614: A ...
18 Jun 2010
Expedientes de campanha ou o velho “desenrascanço dos portugueses” sempre presente aqui, ali ou em qualquer outro lado. Quem viesse de Cacine, ao chegar ao “Cruzamento”, virava à direita e seguia paralelamente a ...
Luís Graça & Camaradas da Guiné: Guiné 63/74 - P7165 ...
23 Out 2010
O seu desenfianço de Porto Gole e o desenrascanço em Bissau. Estando o Comando da CCaç 556, colocado em Enxalé, o Soldado Alfredo Ramos solicitara autorização ao Comandante da Companhia, Cap. Inf. Fernandes ...
P3091: Operação Macaréu à Vista - II Parte (Beja Santos)
24 Jul 2008
Era uma literatura típica dos tempos da recessão em que se exaltava o desenrascanço e o pícaro. (iv) Viva Hemingway! Li Paris é uma festa, um livro póstumo de Hemingway, de quem já lera Por quem os sinos dobram, ...
Luís Graça & Camaradas da Guiné: Guiné 63/74 – P7366 ...
01 Dez 2010
E de modo nenhum como um elogio ao nosso tão famigerado (e até elogiado pelos estrangeiros) "desenrascanço"... Parabéns, mais uma vez, pelo tyeu texto, com as ideias bem concatenadas, especulativo mas sem ...
Luís Graça & Camaradas da Guiné: Guiné 63/74 - P11694 ...
11 Jun 2013
... especialistas mais do que capazes....o nosso tradicional "desenrascanço" a tudo se sobrepôs.Os jovens que pagaram com a vida,ou graves consequëncias crónicas até hoje,mais não foram que a tal "Poeira dos Impérios".
Luís Graça & Camaradas da Guiné: Guiné 63/74 - P10722 ...
25 Nov 2012
E tive de me desenrascar mesmo na minha “arte” de guerra, afinal o que também aconteceu à generalidade das forças combatentes, aquilo era uma guerra de desenrascanço, de vitória em vitória até à previsível derrota final ...
Luís Graça & Camaradas da Guiné: Guiné 63/74 - P11447 ...
23 Abr 2013
5 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1046: Estórias de Dulombi (Rui Felício, CCAÇ 2405) (4): a portuguesíssima arte do desenrascanço (...) Daí a poucos dias íamos finalmente embarcar em Bissau no Carvalho Araújo ...
Luís Graça & Camaradas da Guiné: Guiné 63/74 - P4734 ...
24 Jul 2009
Como sempre, o eterno "desenrascanço" à portuguesa. Este assunto, dava para imensos posts, com imensos pontos de vista. Mas, estes "franceses", são tão caracteristicamente portugueses como os que foram para a ...
P4619: Viagem à volta das minhas memórias (Luís Faria)
01 Jul 2009
Afinal nós tinhamos uma capacidade de desenrascanço fantástica. A minha homenagem ao Mário Pinto da C.Caç 2317 - Gandembel, que em Buba preparava este petisco às 4 da tarde,para quando eu e mais três ou quatro ...
Luís Graça & Camaradas da Guiné: Guiné 63/74 - P3298: O ...
12 Out 2008
Eis senão quando, dou conta que me havia antecipado e num expedito desenrascanço gritei para o pelotão: "P'ra baixo"! Houve sorrisos e assobios no local, uma chamada de atenção superior, posteriormente, mas nada ...
Luís Graça & Camaradas da Guiné: Guiné 63/74 - P1541 ...
22 Fev 2007
5 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1046: Estórias de Dulombi (Rui Felício, CCAÇ 2405) (4): a portuguesíssima arte do desenrascanço 19 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCXL: Estórias de Dulombi (Rui Felício, ...
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Nota do editor:
(*) Vd. poste de 28 de setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13659: Sondagem: "Desenrascanço é uma qualidade nossa. Na Guiné demos boas provas disso"... Falso ou verdadeiro ? Totalmente falso ou totalmente verdadeiro ?
Foto: © António Garcia de Matos (2008). Todos os direitos reservados. Edição e legendas de L.G.
1. Alguns postes por nós publicados e que fazem referência ao tema do "desenrascanço" (*):
P3596: O famoso desenrascanço... - Luís Graça ...
10 Dez 2008
Guiné 63/74 - P3596: O famoso desenrascanço...(António Matos). Condições adversas de quem faz uma guerra com a premissa do desenrascanço. Tenho sido suficientemente crítico nos textos que já mandei para este ...
P1046: Estórias de Dulombi (Rui Felício, CCAÇ 2405) (4)
05 Set 2006
TRANSFERÊNCIA DE CARGA (ou a arte do desenrascanço que a tropa afinal nos ensinou)... Daí a poucos dias íamos finalmente embarcar em Bissau no Carvalho Araújo para o ansiado regresso… Tinhamos acabado de ...
P7538: O Mural do Pai Natal da Nossa Tabanca Grande (30)
31 Dez 2010
Não me estou a referir ao “desenrascanço” do dia a dia mas aquele “especial” quando cheirava a mobilização! Por ter cumprido os meus 4 anos de militar no Serviço de Saúde tenho algumas dessas “estórias” na cabeça, ...
Luís Graça & Camaradas da Guiné: Guiné 63/74 - P13032 ...
24 Abr 2014
Ou a "arte suprema do desenrascanço"...LG]. Fotos (e legendas): © Valdemar Queiroz (2014). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: L.G.]. 1. Continuação da publicação do álbum do Valdemar ...
Luís Graça & Camaradas da Guiné: Guiné 63/74 - P11399 ...
15 Abr 2013
Temos aqui operações bem mal sucedidas, momentos de tristeza, relatos de desenrascanço e não falta a gargalhada hilariante. Acaba-se o relato e fica a saber a pouco, já se sabe que a sinceridade toca aos combatentes ...
Luís Graça & Camaradas da Guiné: Guiné 63/74 - P11200 ...
06 Mar 2013
Só mesmo o desenrascanço como dizes. Falo por mim que nunca me ensinaram a saber fazer a chamada para saltar o plinto. Como é que o exército nos ia preparar se os oficiais estavam preparados apenas para desfiles?
Luís Graça & Camaradas da Guiné: Guiné 63/74 - P6614: A ...
18 Jun 2010
Expedientes de campanha ou o velho “desenrascanço dos portugueses” sempre presente aqui, ali ou em qualquer outro lado. Quem viesse de Cacine, ao chegar ao “Cruzamento”, virava à direita e seguia paralelamente a ...
Luís Graça & Camaradas da Guiné: Guiné 63/74 - P7165 ...
23 Out 2010
O seu desenfianço de Porto Gole e o desenrascanço em Bissau. Estando o Comando da CCaç 556, colocado em Enxalé, o Soldado Alfredo Ramos solicitara autorização ao Comandante da Companhia, Cap. Inf. Fernandes ...
P3091: Operação Macaréu à Vista - II Parte (Beja Santos)
24 Jul 2008
Era uma literatura típica dos tempos da recessão em que se exaltava o desenrascanço e o pícaro. (iv) Viva Hemingway! Li Paris é uma festa, um livro póstumo de Hemingway, de quem já lera Por quem os sinos dobram, ...
Luís Graça & Camaradas da Guiné: Guiné 63/74 – P7366 ...
01 Dez 2010
E de modo nenhum como um elogio ao nosso tão famigerado (e até elogiado pelos estrangeiros) "desenrascanço"... Parabéns, mais uma vez, pelo tyeu texto, com as ideias bem concatenadas, especulativo mas sem ...
Luís Graça & Camaradas da Guiné: Guiné 63/74 - P11694 ...
11 Jun 2013
... especialistas mais do que capazes....o nosso tradicional "desenrascanço" a tudo se sobrepôs.Os jovens que pagaram com a vida,ou graves consequëncias crónicas até hoje,mais não foram que a tal "Poeira dos Impérios".
Luís Graça & Camaradas da Guiné: Guiné 63/74 - P10722 ...
25 Nov 2012
E tive de me desenrascar mesmo na minha “arte” de guerra, afinal o que também aconteceu à generalidade das forças combatentes, aquilo era uma guerra de desenrascanço, de vitória em vitória até à previsível derrota final ...
Luís Graça & Camaradas da Guiné: Guiné 63/74 - P11447 ...
23 Abr 2013
5 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1046: Estórias de Dulombi (Rui Felício, CCAÇ 2405) (4): a portuguesíssima arte do desenrascanço (...) Daí a poucos dias íamos finalmente embarcar em Bissau no Carvalho Araújo ...
Luís Graça & Camaradas da Guiné: Guiné 63/74 - P4734 ...
24 Jul 2009
Como sempre, o eterno "desenrascanço" à portuguesa. Este assunto, dava para imensos posts, com imensos pontos de vista. Mas, estes "franceses", são tão caracteristicamente portugueses como os que foram para a ...
P4619: Viagem à volta das minhas memórias (Luís Faria)
01 Jul 2009
Afinal nós tinhamos uma capacidade de desenrascanço fantástica. A minha homenagem ao Mário Pinto da C.Caç 2317 - Gandembel, que em Buba preparava este petisco às 4 da tarde,para quando eu e mais três ou quatro ...
Luís Graça & Camaradas da Guiné: Guiné 63/74 - P3298: O ...
12 Out 2008
Eis senão quando, dou conta que me havia antecipado e num expedito desenrascanço gritei para o pelotão: "P'ra baixo"! Houve sorrisos e assobios no local, uma chamada de atenção superior, posteriormente, mas nada ...
Luís Graça & Camaradas da Guiné: Guiné 63/74 - P1541 ...
22 Fev 2007
5 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1046: Estórias de Dulombi (Rui Felício, CCAÇ 2405) (4): a portuguesíssima arte do desenrascanço 19 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCXL: Estórias de Dulombi (Rui Felício, ...
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Nota do editor:
(*) Vd. poste de 28 de setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13659: Sondagem: "Desenrascanço é uma qualidade nossa. Na Guiné demos boas provas disso"... Falso ou verdadeiro ? Totalmente falso ou totalmente verdadeiro ?
Guiné 63/74 - P13662: Parabéns a você (792): António Bastos, ex-1.º Cabo do Pel Caç Ind 953 (Guiné, 1964/66)
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Nota do editor
Último poste da série de 26 de Setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13651: Parabéns a você (791): António Medina, ex-Fur Mil da CART 527 (Guiné, 1963/65)
Nota do editor
Último poste da série de 26 de Setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13651: Parabéns a você (791): António Medina, ex-Fur Mil da CART 527 (Guiné, 1963/65)
domingo, 28 de setembro de 2014
Guiné 63/74 - P13661: Convívios (632): Encontro de 4 magníficos Especialistas das Transmissões em Grilo, Baião (Manuel Dias Pinheiro Gomes)
Vasconcelos, Carneiro, Gomes e Acipreste
1. Mensagem do nosso camarada Manuel Dias Pinheiro Gomes (ex-1.º Cabo Radiotelegrafista do STM / Agrupamento de Transmissões da Guiné, Catió e Bissau, 1970/72), com data de 24 de Setembro de 2014:
Camarigo Luís Graça As minhas saudações e os desejos de uma boa recuperação da tua anca.
Sou Manuel Dias Pinheiro Gomes, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista do Agrupamento de Transmissões do STM do CTIG de 07/1970 a 08/1972, Catió e Bissau.
Se achares conveniente, gostaria de publicar um grande encontro entre 4 ilustres das Transmissões. Há 42 anos, 1 Mês e 5 dias que não sabia nada do Fernando Lopes Acipreste e do Joaquim Fernandes Carneiro.
Todos tivemos o mesmo destino, Recruta no RI 8, Especialidade no Regimento de Transmissões do Porto. Terminamos a Especialidade e lá fizemos o Estágio de Radiotelegrafistas. Eu e o Acipreste embarcámos e regressámos no mesmo dia com mais 3 camaradas, o Tino, já falecido, o Correia e João Abreu.
Este grande acontecimento teve lugar na freguesia de Grilo, em Baião, através do grande amigo Vasconcelos e de sua Esposa Lourdes. Além deles, de mim e da minha esposa, estiveram presentes o Carneiro, o Acipreste e o Gomes.
Foi um dia muito Grande para todos, que nunca mais vamos esquecer. Ficou combinado que na minha próxima viagem a Portugal nos vamos encontrar novamente.
Fiz uma linda viagem da Régua a Mosteiro de comboio, durante a qual pude admirar as lindas paisagens do Douro, recordando os velhos tempos de quando andava na tropa.
Momento de diversão
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Nota do editor
Último poste da série de 25 de Setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13648: Convívios (631): Rescaldo do Encontro comemorativo dos 43 anos após o regresso da Guiné, do pessoal da CCAÇ 2615, realizado no passado dia 20 de Setembro de 2014, em Leiria (Manuel Amaro)
Guiné 63/74 - P13660: Os Últimos Anos da Guerra da Guiné Portuguesa (1959/1974) (José Martins) (1): Preâmbulo e O Início
1. Vamos começar hoje a apresentar mais um trabalho de pesquisa e compilação do
nosso camarada José Marcelino Martins (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos
Pretos, Canjadude, 1968/70), que reputamos de muito importante, por, como ele próprio refere, se reportar aos últimos 5517 dias de luta pela independência pela então Guiné Portuguesa.
Em princípio vão ser publicados 9 postes com uma média de 12 páginas de texto em formato JPG.
O editor
(Continua)
Em princípio vão ser publicados 9 postes com uma média de 12 páginas de texto em formato JPG.
O editor
(Continua)
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