terça-feira, 7 de julho de 2015

Guiné 63/74 - P14844: Caderno de Memórias de A. Murta, ex-Alf Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (10): De 20 a 22 de Maio de 1973

1. Em mensagem do dia 3 de Julho de 2015, o nosso camarada António Murta, ex-Alf Mil Inf.ª Minas e Armadilhas da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (Aldeia Formosa, Nhala e Buba, 1973/74), enviou-nos a 10.ª página do seu Caderno de Memórias.


CADERNO DE MEMÓRIAS
A. MURTA – GUINÉ, 1973-74 

10 - De 20 a 22 de Maio de 1973

20 de Maio de 1973 – Da História da Unidade BCAÇ 4513:

20 - A CCAÇ 18 e a CART 6250 patrulham e reconhecem uma das diversas tabancas de NHACOBÁ. Permanecem ali e cerca das 20h00 são flageladas com Morteiro 82, sem consequências.

- O Comandante interino do Batalhão deslocou-se a NHACOBÁ para apreciar a evolução dos trabalhos de estrada.


Do meu diário – notas curtas.

20 de Maio de 1973 – (domingo). Mampatá.

Mampatá. Serviço ao aquartelamento. O problema de se comandar uma Companhia (?). O camarada Esteves foi evacuado para Aldeia Formosa por suposta fractura no ombro, motivada por lançamento de dilagrama.
[Recordo uma manhã em que um alferes de Mampatá se levantou cedo para ir com o grupo para os lados de Cumbijã, tendo eu ficado na cama mais um bocado. Quando me levantei estava a passar para Aldeia Formosa uma evacuação e, na altura, disseram-me que se tratava do alferes saído há pouco para o mato e que dormia no mesmo “quarto” que eu. Não recordo o nome Esteves].

Dia sem incidentes (?) na “frente”, apesar do estado psíquico das NT. (Vários dias a dormir no mato e a comer ração de combate). Casos de insolação tratados em Aldeia Formosa. Pessoal excitado por longa permanência no mato não tem energia, mas quer por tudo entrar em Nhacobá. Soube-se que os “cabeças” pretendem que se entre lá de qualquer forma. Na retaguarda há expectativa, ansiedade e revolta muda. Grupos dos “velhinhos” com cerca de 18 dias além da comissão normal. Vão ter muito que esperar.

Recebi à noite directiva de Aldeia Formosa para avançar com o meu GC e com o GC “velhinho” da CCAÇ 3400, para Cumbijã. Um grupo de Colibuia passa a substituir o meu na segurança à retaguarda. Más perspectivas para amanhã.

Hoje, dia sem incidentes. Apenas à noite o rumor distante dos obuses.


21 de Maio de 1973 – Da História da Unidade BCAÇ 4513: 

21 - Forças da CCAÇ 18 estabelecem contacto IN armado de AAutm, RPG e MORT 60 tendo sofrido 1 morto, 1 ferido grave e 2 feridos ligeiros e causado 5 mortos ao inimigo.

- Às 21h15 a CCAV 8351 e a 3ª CCAÇ são flageladas em NHACOBÁ com MORT 60 e 82 e RPG da direcção (GUILEGE 3 D 5-36/3 E 4-34/2 E 7-38) sem consequências.

- O CMDT INTº do Batalhão deslocou-se a NHACOBÁ para apreciar a evolução dos trabalhos de estrada.


Do meu diário – notas curtas: 21 de Maio de 1973 – (segunda-feira). Cumbijã.

Cumbijã. Em princípio ainda não é desta vez que iremos para a frente (Nhacobá). O meu grupo ficou hoje aqui em Cumbijã de reserva e o grupo “velhinho” da CCAÇ 3400 de Nhala ficou de serviço.

Hoje os grupos na frente entraram em Nhacobá e houve recontro grave: morreu um soldado da 18 (Aldeia Formosa) e houve vários feridos graves, entre eles, um alferes com estilhaços na garganta.

O dia foi cansativo e aqui as condições são más: esta base, erguida a punho pela 51, não estava preparada para tanta tropa. Penaliza os que estão de passagem e, mais ainda, os que nos hospedam e tiveram de a construir. Contamos passar cá mais um dia. À noite Guilege foi atacada bem como Nhacobá, onde ainda não temos tropas fixas. Pela primeira vez ouvi tão perto um ataque de canhão e morteiro. Durou uns quinze minutos, tendo entrado em acção, como resposta, os obuses de Cumbijã, assim como o 14 de Colibuia.

Foto 1: 1973 - Cumbijã: Eu, acabado de chegar com o meu grupo de um patrulhamento onde cacei uma galinha-do-mato. E deixei fugir o seu par... Esse camuflado tresandava e, se me rio, deve ser a pensar no jantar melhorado.

Foto 2: 1973 - Cumbijã: Após um temporal, soldados da minha Companhia (2.ª CCAÇ) junto de coisas pessoais destruídas.

Foto 3: 1973 - Cumbijã: O alferes A. C. P. observa os estragos com o pessoal.

Foto 4: O alferes A. C. P. (e o alferes T. B. por trás dele), tentam animar o pessoal.

[Quando entrei em Cumbijã pela primeira vez, em data anterior a esta, foi-me explicado no terreno por um camarada da CCAV 8351, como foi erguer e ocupar aquele espaço agreste, traiçoeiro e minado, quase encavalitado nos terrenos do PAIGC: ia ser, e foi, o aquartelamento mais próximo de Nhacobá, e essa proximidade conferiu-lhe um alto risco de confrontos e flagelações. Isso teve custos altos, inclusive de vidas humanas, mas não afectou o ânimo dos que esticaram o arame farpado, abriram valas, ergueram postos de vigia e acomodações, estando sempre prontos para a sua defesa e para as incursões a que eram obrigados um pouco por toda a zona. Daí que, desde o primeiro dia, tivesse ganho um sentimento de admiração e respeito pelos Tigres de Cumbijã e em especial pelo seu comandante, Cap. Vasco da Gama que, soube eu na altura, tanto era capaz de dizer “não” aos seus superiores na defesa da sua Companhia, como era capaz de a galvanizar para a realização daquilo que, de facto, tinha de ser feito. Perturbava-me reparar que, apesar disto tudo, a “51” – como nós a chamávamos – não era poupada nas missões conturbadas daquela época. Às vezes parecia-me que era bem ao contrário. Aliás, é justo referir que de igual modo aconteceu com os “Unidos de Mampatá” (CART 6250) e com a CCAÇ 18 de Aldeia Formosa com quem, mais de uma vez, partilhei o chão de Nhacobá sob a inclemência das flagelações. Não digo isto, hoje, para ser agradável a quem quer que seja, mas porque é de toda a justiça que o diga, e por ter sabido sempre que o acolhimento que me dispensaram e aos demais grupos de reforço, quer em Mampatá quer em Cumbijã, foi o melhor possível para aquelas circunstâncias.

Esta época difícil marcou-me para sempre. Na qualidade de “periquito” e posto pela primeira vez perante tropa com esta tarimba, - experimentada e sacrificada -, (devo referir que a CCAÇ 3400 de Nhala nos confessou que tinha passado toda a comissão sem problemas), comecei a pôr-me “em guarda”, endurecendo e preparando-me para tudo. Foi por estas alturas e nos tempos que se seguiram que comecei também a conhecer-me melhor. [Grande confissão!]. Fui descobrindo, aos poucos, coragens ignoradas - daquelas que, devido às situações, não dá para confundir com fanfarronices ou bravatas -, maior sentido de responsabilidade e, até, maluqueiras de que não sabia ser capaz. Muita dessa “renovação” da personalidade e amadurecimento, ficou-me até hoje. Para o bem e para o mal].


22 de Maio de 1973 – (terça-feira) – Cumbijã

Hoje o meu grupo de combate ficou de serviço ao aquartelamento mas, por falta de pessoal, teve que fazer também de reserva. O pessoal está a ficar esgotado e desmoralizado: refeições fora de horas, excesso de trabalho, excesso de calor e falta de higiene. Ninguém tem outra roupa para vestir, nem um simples sabonete e uma toalha. Nem dinheiro: do que trouxe, já emprestei ao meu pessoal mais 1.500$00.

Hoje entrámos em Nhacobá para trazer o pessoal da Engenharia e as tropas que lá se encontravam. Aquilo é pequeno [? A base militar e a tabanca não era um conjunto pequeno], e bem no interior da floresta, com uma enorme bolanha do outro lado (oposto ao da nossa entrada). A orla da mata do outro lado da bolanha e na nossa frente, não controlamos. É daí que flagelam as tropas em Nhacobá.
Agora está tudo calmo, embora inspire respeito e recomende precauções. Os soldados já trouxeram de lá recordações (roncos), galinhas, cabras e fruta, só falta trazer o arroz que se encontra em grande quantidade em recipientes toscos.

Meteu-me bastante pena [!] ver a maquinaria revolver aquelas terras, destruir as galerias, abrigos e instalações subterrâneas na parte militar. Para ali se fazer mais um destacamento nosso. É evidente que o interesse é só estratégico e talvez estejam a pensar prosseguir com a estrada que ali chegou, para destinos mais ousados: talvez o Unal ou mais além, tudo controlado pelo PAIGC.

À noite, mas desta vez mais cedo, houve novo ataque IN com canhões aos locais de ontem. Mais uma vez, as nossas peças a responder.

Foto 5: 1973 - Nhacobá: Um aspecto da tabanca bem no interior da floresta e o alferes A. C. P.

Foto 6: 1973 - Nhacobá: Aspecto da tabanca vendo-se alguns recipientes onde guardavam o arroz.

Foto 7: 1973 - Nhacobá: Abrigo antiaéreo subterrâneo camuflado por um “telhado” de palhota.


 Fotos 8 e 9: 1973 - Nhacobá: Entrada de abrigos pouco antes de serem destruídos pelas máquinas da Engenharia.

Foto 10: 1973 - Nhacobá: Orla da mata junto à grande bolanha. À esquerda o Furriel J. C. a comer com o Furriel M. C.


Fotos 11 e 12: 1973 – Nhacobá: Vista da grande bolanha a partir da orla da mata. Era do outro lado, na orla que se vê ao fundo, que os guerrilheiros nos atacavam, sobretudo com canhões e morteiros, sempre que nos pressentia em Nhacobá.

(Continua)

Texto e fotos: © António Murta
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Nota do editor

Último poste da série de 30 de junho de 2015 > Guiné 63/74 - P14813: Caderno de Memórias de A. Murta, ex-Alf Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (9): 16 a 19 de Maio de 1973

Guiné 63/74 - P14843: Memória dos lugares (303): Regulado, rio e tabanca de Caboiana (ou Coboiana ?) no Cacheu, em outubro de 1964 ( António Bastos, ex-1.º cabo do Pel Caç Ind 953, Cacheu, Farim, Canjambari, Jumbembem, 1964/66)





Guiné > Região do Cacheu >  Outubro de 1964 > Tabanca de Coboiana [ou Caboiana ?] > O chefe de posto do Cacheu, mais duas senhoras: (i) a esposa do chefe de posto; e (ii) a esposa do tenente [que o autor não diz quem é; seria o comandante do Pel Caç Ind 953 ?]

Foto (e legenda): © António Bastos (2015). Todos os direitios reservados [Edição: LG]



1. Mensagem, de 2 do corrente, do António Paulo Bastos (ex-1.º cabo do Pel Caç Ind 953, Teixeira Pinto e Farim, 1964/66):

Companheiro Luís,  boa tarde.

O nome do rio é mesmo o de Coboiana, aliás na carta de S.Domingos-Cacheu está lá.

Eu fazia esse rio muitas vezes sempre em Psico, a foto que aqui esta é mesmo na tabanca de Coboiana e o régulo da altura era o João.

Nós,   ao sairmos de Cacheu,  o primeiro  rio era o Coboy que ficava mesmo em frente ao Rio Pequeno de S. Domingos, depois tinha um rio pequeno, e era logo a seguir o rio Coboiana.

A foto que está aqui foi tirada em Outubro de 1964.  Nesse dia foi o enfermeiro para dar os comprimidos LM [, Laboratório Militar,] e comprarmos galinhas e um porco para o rancho. O  chefe de posto foi comprar uma vaca para o mercado.

Nóa algumas vezes íamos no Pecixe e outras vezes íamos no sintex da Engenharia. Também íamos de viaturas [estarada São Domingos - Sedengal] com paragem no Churro,  aí havia uma picada que dava para Catão,  Catel,   Caguepe e ia até Coboiana onde aproveitava-se e traziamos lenha.

Um abraço

António Paulo Bastos

2. Comentário de L.G.:

António, tens razão o rio existe mesmo, é preciso ver o mapa com lupa... Permite-me, no entanto,  insistir na grafia correta (de acordo com o que vem no mapa de São Domingos): a região (ou regulado) é Caboiana (e não Coboiana), os rios que assinalas são Caboi (e não Coboy) e Caboiana (e não Coboiana). A tabanca de Caboiana é que não consegui identificar... nem chegar lá... a penantes, seguindo as tuas instruções (seguir a picada do Churro; em Catel perdi-me...)...

A carta de São Domingos é de 1953, pode ter havido, com o início da guerra, deslocações de população: entre os rios Caboi e Caboiana, na orla da bolanha, identifico várias pequenas tabancas: Chamei (?), Peche, Balimbem (?), Benjá, e mais duas ou três, dificilmente legíveis... Pode ser que tenham sido reagrupadas, e tenha nascido a tal tabanca de Caboiana cujo régulo era o tal João de que falas... E se  era régulo era régulo do regulado de Caboiana... Ou não ?

Alguns dirão de que estamos para aqui a discutir o sexo dos anjos, bizantinices... Quem andou e conheceu a região, é que deve botar faladura... Eu limito-me a respeitar,  até prova em contrário, o trabalho meticuloso dos nossos competentes e valentes cartógrafos... Acho que temos essa obrigação. e não só para com eles (ou à sua memória), mas também para com todos os nossos leitores... É um questão de rigor. De resto, no noosso blogue o descritor é Caboiana e não Coboiana.

Um abraço e obrigado pelo teu pronto esclarecimento. LG



Guiné > Região de Cacheu > Carta de Cacheu / São Domingos (1953) > Escala 1/50 mil > Pormenor dos rios Cacheu e seus afluentes: Pequeno de São Domingos (margem norte); Caboi, Caboiana  e Churro (margem sul), a montante da vila de Cacheu.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2015).


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(**) Último poste da série Z 3 de julho de 2015 > Guiné 63/74 - P14831: Memória dos lugares (300): os meus dois rios, o Cagopère (Cachil, no sul) e o Geba (Bafatá, no leste) (José Colaço, ex-sold trms, CCAÇ 557, Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65)

Guiné 63/74 - P14842: Agenda cultural (415): Vimeiro, Lourinhã, 17 a 19 de julho: recriação histórica da batalha do Vimeiro (1808) e mercado oitocentista... Com apoio da, entre outros parceiros, Associação para a Memória da Batalha do Vimeiro (AMBV) (Eduardo Jorge Ferreira, ex-alf mil, PA, BA 12, Bissalanca, 1973/74)





Lourinhã, Vimeiro > 17-19 de julho de 2015 > Recriação histórica da batalha do Vimeiro (1808) e mercado oitocentista > "Flyer" do evento





1. Mensagem, de 3 do corrente, do Eduardo Jorge Ferreira, nosso grã-tabanqueiro, ex-alf mil, Polícia Aérea, BA 12, Bissalanca, 1973/74 [. foto atual à direita]:


A todos os meus/minhas  amigos/as:

Envio-vos o programa da Recriação Histórica da Batalha do Vimeiro e Mercado Oitocentista, eventos que vão ter lugar no fim de semana de 17, 18 e 19 deste mês, portanto daqui a 15 dias.(*)

Estamos a dar o nosso melhor para que este programa entusiasme os nossos visitantes e não desmereça do sucesso alcançado em 2008 e 2013.  

Acrescento que o grupo de recriadores históricos - nome pomposo, não é? - do Vimeiro, de que faço parte (**), vai ter o seu batismo de fogo nestes dias. Razões de sobra para darem um pulinho até cá, não acham? E tragam as vossas bajudas e os  vossos netos!

Podem repassar s.f.f. aos vossos contactos, o que desde já agradeço.

Abraço
Eduardo Jorge

 2. Informação adicional da página da CM Lourinhã:

Trata-se de uma iniciativa no âmbito das comemorações da Batalha do Vimeiro:


(ii) população local e cerca de 60 recriadores militares de várias nacionalidades participam nestas recriações históricas da Batalha do Vimeiro e do mercado oitocentista:

(iii) de sexta (17)  a domingo (19) do mês corrente, irão decorrer várias encenações e recriações, workshops e visitas guiadas ao Centro de Interpretação da Batalha do Vimeiro (, sito no Vimeiro, junto ao monumento comemorativo do 1º centenário, inaugurado em 1908 pelo rei Dom Manuel II;

 (iv) a programação tem início às 19h00 de dia 17, sexta-feira, com a abertura do Mercado Oitocentista (mostra e venda de produtos, animações de rua, circuito de jogos tradicionais à época e recriação de ofícios oitocentistas);

(v) às 20h30 segue-se a visita “À noite no Centro de Interpretação da Batalha do Vimeiro”;

(vi)  às 22h00 realiza-se a encenação “A corte que parte e o invasor que chega” – referente à partida da corte para o Brasil em 1807;

(vii) das 23h00 às 00h30 haverá um concerto pelo grupo Mysticas - Danças Medievais, de Arraiolos;

(viii) no dia 18, sábado, destaca-se a caminhada "Pelos Caminhos da Batalha do Vimeiro" (com partida às 10h00), bem como duas atividades dirigidas aos mais pequenos (Visita temática ao Centro de Interpretação da Batalha do Vimeiro “Soldado por um dia”,  às 10h30;  e workshop “Faz a tua farda”, às 14h00);

(ix) às 16h00 irá decorrer a cerimónia de homenagem aos combatentes junto ao Padrão Comemorativo da Batalha do Vimeiro;

(x)  às 22h00 irá efetuar-se a recriação histórica da Batalha do Vimeiro “O Assalto à Igreja”, seguida do concerto acústico pelos Cavaquinhos da Freiria, Torres Vedras;

(xi) no domingo, 19, o dia começa às 10h00 com o peddy paper "Descobrir a Batalha do Vimeiro", seguido da a recriação histórica da Batalha da Vimeiro,  “O campo de Batalha”, às 12h00;

(xii) às 14h00 haverá  uma visita guiada ao Centro de Interpretação da Batalha do Vimeiro.

As comemorações oficiais da Batalha do Vimeiro irão realizar-se no dia 21 de agosto, data em que foi travada, no ano de 1808.




Lourinhã > Vimeiro > Imagem de uma recriação histórica da batalha do Vimeiuro (21 de agosto de 1808), realizada há uns anos atrás (2008 ou 2013)  (*)


Foto: © Eduardo Jorge Ferreira (2015). Todos os direitos reservados.
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 23 de abril de  2015 > Guiné 63/74 - P14505: Os nossos seres, saberes e lazeres (89): Criada, na Lourinhã, a Associação para a Memória da Batalha do Vimeiro ( Eduardo Jorge Ferreira, ex-alf mil, Polícia Aérea, Bissalanca, BA 12, 1973/74)

(**) Último poste da série > 30 de junho de  2015 > Guiné 63/74 - P14816: Agenda cultural (412): Apresentação do livro, da autoria do nosso camarada António Marques Lopes, "Cabra Cega - Do Seminário para a Guerra Colonial", dia 3 de Julho, pelas 17h30, na Biblioteca Municipal do Marco de Canaveses

segunda-feira, 6 de julho de 2015

Guiné 63/74 - P14841: Fotos à procura de... uma legenda (58): Varela, 1955: o arquiteto Luís Possolo [1924-1999], o felupe e o "teco-teco"...


Guiné > Região do Cacheu > Varela > 1955 > O arquiteto Luís Possolo [19924-1999], o felupe e o "teco-teco"... [Cortesia de José Luís Possolo de Saldanha, 2012]. 


1. Foto enviada pelo Mário Beja Santos, com data de hoje, e a seguinte legenda:

"Arquiteto Luís Possolo em Varela,1955, para mim,  a mais espantosa imagem luso-guineense, Um Felupe exigiu entrar na fotografia, pôs 2 mundos em presença, há para ali fulgor, pujança e futuro".

O Mário não indica a origem da foto, nem diz se tem créditos... Mas sabemos que se trata da foto da capa do livro “Luís Possolo, um arquiteto do Gabinete de Urbanização do Ultramar”, de autoria de José Luís Possolo de Saldanha (Lisboa: Centro de Investigação em Arquitectura e Áreas Metropolitanas, 2012). O Beja Santos já a tinha reproduzida, há dois anos, quando fez, do livro,  uma nota de leitura (*)

O autor do livro é neto do Luís Possolo. Voltamos voltar a reproduzir a foto, com a devida vénia. O arquiteto Luís Possolo, de seu nome completo, Luís Gonzaga Pimentel Pedroso Possolo, nasceu em Lisboa, a 7 de julho de 1924, e morreu a 20 de abril de 1999, também em Lisboa.

O seu nome também já tinha sido referido por nós, em poste de há um ano atrás, a propósito da recensão do livro de Ana Vaz Milheiro: "2011: Guiné-Bissau. Lisboa, Circo de ideias, 2012, 52 pp. (Viagens, 5).

Fica o desafio, aos nossos leitores, para acrescentar uma legenda ou melhorar a que é proposta por Beja Santos. (**)
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 11 de março de 2013 > Guiné 63/74 - P11238: Notas de leitura (464): O arquiteto Luís Possolo na Guiné, pelos anos 50 (Mário Beja Santos)

(**) Último poste da série > 2 de julho de 2015 > Guiné 63/74 - P14824: Fotos à procura de... uma legenda (57): Evacuação do Uam Sambu, soldado do Pel Caç Nat 52, gravemente ferido em 1/1/1970: quem era a tripulação da DO 27 ? (Miguel e Giselda Pessoa / Rosa Serra)

Guiné 63/74 - P14840: Notas de leitura (734): A Guiné Portuguesa em 1928: Segundo o anuário da Escola Superior Colonial de 1929 (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 28 de Julho de 2014:

Queridos amigos,
A historiografia da Guiné não se pode cingir às chamadas obras de referência e aos documentos dos arquivos, identificados ou por espiolhar.
Ao longo dos dois últimos séculos, como a Biblioteca da Sociedade de Geografia de Lisboa atesta, há monografias, livros institucionais, brochuras, panfletos, publicações espúrias que necessitam de atenta vistoria.
No caso em apreço, desconhecia por inteiro a importância dos anuários da Escola Superior Colonial, são alfobre de informações por vezes de extrema utilidade. Confesso que desconhecia haver apologistas do caminho-de-ferro na Guiné no início do século XX. Estamos sempre a aprender, a aguçar a curiosidade.
A Guiné merece e agradece.

Um abraço do
Mário


A Guiné Portuguesa em 1928
Segundo o anuário da Escola Superior Colonial de 1929

Beja Santos

A Escola Superior Colonial sucedeu à Escola Colonial, em 1926, a instituição funcionou com este título até 1961, o leitor interessado encontrará todos estes dados no Google. O interessante é que a Escola caprichava pelos seus anuários dirigidos, como é óbvio à sua clientela: alunos destinados à administração colonial e respetivos docentes. Publicava números temáticos e o de 1929 centrou-se nas comunicações, transportes e infraestruturas afins. Vê-se que os seus autores conheciam com alguma profundidade a situação da Guiné como se descreverá. Fazia parte do espírito da época apoiar a construção de caminhos-de-ferro como o meio mais eficaz e menos caro para uma nação colonizadora estabelecer solidamente o seu domínio, cita-se mesmo Cecil Rhodes que terá observado que o carril era mais barato e tinha maior alcance do que o canhão. E escreve-se textualmente:
“No espírito dos indígenas, os caminhos-de-ferro produzem forte impressão, convencendo-os do caráter definito do domínio, e como ao mesmo tempo lhes acarretam benefícios são o mais poderoso de todos os elementos de pacificação”.
Estamos pois no tempo em que a civilização para África anda de mãos dadas com a locomotiva.

Os autores do anuário começam por dizer que a Guiné é colónia de grandes recursos naturais e largo futuro, mas o problema das comunicações condiciona o desenvolvimento económico e está a agudizar-se de ano para ano. As matérias-primas exportáveis, então, eram a mancarra, o coconote e a borracha. A drenagem destes produtos era facilitada pela rede fluvial. Mas logo adiante estes autores condicionam o desenvolvimento da colónia aos propósitos da África Ocidental Francesa e refere empreendimentos com grande importância: a linha Conacri-Kankan, a aproximar-se dos centros produtores do Futa-Djalon que drena para o porto de Conacri as riquezas da região; prosseguiam na época os estudos da linha férrea de Casamansa que, previa-se, iria drenar os produtos da bacia hidrográfica do rio do mesmo nome. Referindo ainda que a África Ocidental Francesa possuía em 1923 cerca de 15.000 quilómetros de pistas para automóveis, na estação seca, os autores estão conscientes que o Estado português não pode abalançar-se num plano de viação para transportes pesados e põe a hipótese de adotar projetos com capitais estrangeiros, uma concessão do género da Companhia de Ferro de Benguela. E concluído o texto introdutório, lançam-se nas informações.

No que toca a comunicações marítimas, havia mensalmente um vapor de cada uma das companhias Nacional de Navegação e Colonial de Navegação. Além destas, havia uma companhia holandesa e uma companhia alemã com uma carreira bimensal.

Havia o cabo submarino da Western Telegraph Company. A Guiné possuía 668 km de linhas telegráficas ligando as principais localidades da colónia e permitindo a comunicação com Dakar por Farim-Koldá. E referem a navegabilidade dos rios: O Cacheu é navegável até à ilha de Bafatá; o rio Mansoa, num total de cerca de 200 km, tinha 120 navegáveis; o rio Geba em território português tinha aproveitáveis para transporte 170 quilómetros; o rio Corubal era apenas navegável cerca de 50 km; o rio Grande de Guinala ou de Bolola era navegável até próximo de Buba; o rio Tombali (designação imprópria dada a uma braço de mar) era navegável cerca de 60 km; o rio Cumbidjan, com um percurso de 90 km, era em grande parte navegável; e o rio Cacine, com um percurso de cerca de 50 km tinha cerca de 40 km navegáveis.

Canhambaque – Monumento à pacificação desta região dos Bijagós

A ideia dos caminhos-de-ferro era enorme ao tempo, falava-se na construção de duas linhas férreas pondo Bissau em ligação com a fronteira leste, por Bafatá e Cadé, e com a fronteira norte por Farim e Koldá. Mas o realismo justificava que se dissesse que havia grandes limites para os sonhos, em terrenos como os da Guiné, iriam exigir-se obras de arte muito honrosas, pelo que não se aconselhava, nas condições atuais, que o Estado se lançasse na construção de linhas férreas, tinha pouca lógica, e tudo se agravando pelo fato da colónia estar recortada por todos os lados, por estradas, rios, canais e braços de mar navegáveis. Mas o assunto linha férrea na Guiné tinha história, como os autores do anuário relevam:

“A primeira ideia de um caminho-de-ferro na Guiné pertence ao falecido colonial Loureiro da Fonseca que a apresentou numa memória, em 1907, à Escola Colonial, da qual era aluno.
Anos depois, o senador Nunes da Mata apresentava na sua Câmara uma proposta de lei autorizando o Governo a mandar proceder aos estudos de uma linha férrea desde o Xime até à fronteira leste da Guiné”.
Os críticos a estas propostas eram muitos: dizia-se que um tal caminho-de-ferro só favoreceria os interesses da colónia francesa e replicava-se que a querer-se provocar a drenagem dos produtos do território interior, francês, seria preferível aproveitar-se o Geba; e também se criticava tal iniciativa porque o comércio da Guiné estava essencialmente nas mãos de alemães e franceses. Contrapunha-se com a construção de estradas e portos mas igualmente se punha em dúvida as vantagens do empreendimento:
“Chegará um tráfego exclusivamente agrícola, embora rico, mas certamente limitado, num futuro próximo, para cobrir os encargos honrosos de uma tal empresa, em concorrência com os outros meios de transporte?"

Edifício do Banco Nacional Ultramarino em Bolama

Encerrado este capítulo, os autores passaram para as estradas: uma vasta rede de 2800 km: de Bambadinca a Bafatá, de Farim a Jumbemben, de Buba a Cacine, de Buba a Bambadinca por Xitole. Mas não deixavam de observar:

“Convém acentuar que muitas das estradas, construídas através das regiões lodacentas representam um trabalho formidável, pois que o sistema é verdadeiramente primitivo”.

Quanto aos portos, os principais eram Bissau, Bolama e Bubaque. E são úteis as informações subsequentes:
“Cacheu, que outrora teve contato com a navegação de longo curso, desapareceu da lista dos portos de escala, passando a uma categoria secundária em que não conserva um lugar proporcional à sua importância no passado, mercê das novas vias de comunicação terrestre e fluviais que, evitando a passagem da barra do mesmo nome, drenam diretamente para Bissau uma grande parte dos produtos que antes ali afluíam.
Os outros portos secundários pelos quais se efetuam o tráfego de grande e pequena capotagem são os de: Farim, Bafatá, Buba e Cacine, no primeiro plano; S. Domingos, Biombo, Geba e Xitole no segundo”.
Curioso é também notar que em termos de tonelagem, até à I Guerra Mundial, os alemães vinham à frente; em termos de carga embarcada e desembarcada, em 1913, os portos mais importantes eram Bissau, Bolama e Bafatá. A seguir à guerra, tudo mudou.
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Nota do editor

Último poste da série de 3 de julho de 2015 > Guiné 63/74 - P14830: Notas de leitura (733): “Sagal, um herói em África”, de António Brito, Porto Editora, 2012 (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P14839: Efemérides (193): Lourinhã, 28 de junho de 2015: comemoração dos 10 anos do monumento aos combatentes do ultramar - Parte II: alocução do ten gen inf ref, lourinhanense, Jorge Silvério





Lourinhã > Largo António Granjo > Monumento aos mortos do Ultramar >  Comemoração dos 10 anos, organizada pela AVECO - Associação dos Veteranos Combatentes do Oeste e pela CM Lourinhã > 28 de junho de 2015 > Alocução, de improviso,  do  ten gen ref, lourinhanense, Jorge Silvério...

 [ Nasceu em Ribamar,  Lourinhã, em 1945...  Estudou no Colégio Luís Ataíde, colégio privado fundado e dirigido pelo dr. Virgílio Pissarra, antes de ir para a Academia Militar (soube agora, pelo Virgínio Briote, foram condiscípulos, na Academia Militar, entre 1962 e 1964)... Fez comissões em Moçambique e Angola. Disse-me que gosta de visitar o nosso blogue, mesmo não tendo passado pela Guiné.  Só o conhecia de vista, disse-lhe que temos algumas afinidades, e entre elas o facto de minha bisavó do lado paterno, do clã Maçarico, ter nascido em 1864, em Ribamar, terra onde tenho muitos parentes, diversos camaradas de armas, antigos combatentes,  e alguns bons amigos; no colégio do dr. Pissarra, também estudaram alguns dos meus amigos como o dr. Luís Venâncio Ferreira Rei, médico, natural do Seixal, de saudosa memória;   a este colégio sucedeu, em 1959 o Externato D. Lourenço,  propriedade da igreja católica, enter 1958 e 1972]








Lourinhã > Largo António Granjo > Monumento aos mortos do ultramar > 28 de junho de 201Comemoração dos 10 anos, organizada pela AVECO - Associação dos Veteranos Combatentes do Oeste e pela CM Lourinhã. Evocação dos 20 lourinhanenses. mortos na guerra colonial  nos TO de Angola (nove), Guiné (seis)  e Moçambique (cinco),  feita pelo ex-ur mil J. Picão Oliveira (Guiné, zona leste, 1973/74), e membro da comissão organizadora que há 10 anos inaugurou este monumento.

Destaque para a Associação de Paraquedistas Tejo Norte, com sede em Oeiras, que mais uma vez dignificou e abrilhantou esta festa, com a sua presença ativa,

A lista, alfabética e detalhada.  dos 20 bravos da Lourinhã que morreram na guerra do ultramar/guerra colonial, está publicada no portal Ultramar Terraweb, num excecional serviço prestado a todos nós e ao país pelo nosso camarada António Pires e a sua equipa.



Lourinhã > Largo António Granjo > Monumento aos mortos do ultramar > 28 de junho de 2015 > Comemoração dos 10 anos, organizada pela AVECO - Associação dos Veteranos Combatentes do Oeste e   pela CM Lourinhã > Da esquerda para a direita, o vice-presidente da município locaol, Fernando Oliveira (ele próprio um ex-combatente, "ranger", que fez comissão de serviço em Moçambique, em 1973/74); Pedro Maragarida, presidente da união das freguesias de Lourinhã e Atalaia, e  Jaime Bonifácio Marques da Silba, nosso grºã-tabanqueiro, membro da comissão organizadora que, há 10 atrás, materializou este projeto.



Lourinhã > Largo António Granjo > Monumento aos mortos do ultramar > 28 de junho de 2015 > Comemoração dos 10 anos, organizada pela AVECO - Associação dos Veteranos Combatentes do Oeste  e pela CM Lourinhã > Representantes da Associação de Paraquedistas Tejo Norte, com sede em Oeiras


Lourinhã > Largo António Granjo > Monumento aos mortos do ultramar > 28 de junho de 2015 > Comemoração dos 10 anos, organizada pela AVECO -Associação dos Veteranos Combatentes do Oeste  e pela CM Lourinhã > Da direita para a esquerda, o ten gen Jorge Silvério, os irmãos Tourita e o presidente da CM Lourinhã, engº João Duarte.


Lourinhã > Largo António Granjo > Monumento aos mortos do ultramar > 28 de junho de 2015 > Comemoração dos 10 anos, organizada pela AVECO - Associação dos Veteranos Combatentes do Oeste   e pela CM Lourinhã > Antigos fuzileiros e outro pessal da Marinha pousam junto ao monumento, na presença do presidente da CML.

Ao fundo. Escultura em bronze do combatente da Guerra do Ultramar. O monumento é da autoria do arquitecto A. Silva e da escultora A. Couto

Fotos (e legendas) : © Luís Graça (2015). Todos os direitos reservados. [Edição: LG]


1. Foi há 10 anos, em 26 de junho de 2005, que foi inaugurado, na Lourinhã, o monumento aos combatentes do Ultramar.  Na altura, a cerimónia contou com a presença do presidente da Liga Portuguesa de Combatentes, ´ten gen ref Chito Rodrigues  e o ten gen., lourinhanense,  responsável pelo pessoal do exército, Jorge Silvério, além do presidente da edililidade local, José Manuel Custódio. Estiveram ainda presentes os presidentes da ADFA - Associação Portuguesa dos Deficientes das Forças Armadas (, na altura,  o bombarrralense e meu amigo Manuel Patuleia Mendes), da APVG - Associação Portuguesa de Veteranos de Guerra (que era o António Basto, hoje fundador e vice-presidente da AVECO, que ansceu de um cisão da APVG)  e o comandante da EPI - Escola Prática de Infantaria. (*).

Para celebrar esta  efeméride, os 10 anos do monumento,  a AVECO - Associação dos Veteranos Combatentes do Oeste, que tem sede na vila da Lourinhã, a Câmara Muncipal da Lourinhã e a União das freguesias de Lourinhã e Atalaia,  quiseram homenagear os cinco lourinhanenses, felizmente ainda vivos, antigos combatentes, que formaram a comissão organizadora original. (**)

Recorde-se, mais uma vez, os seus nomes,  por ordem alfabética:

 (i) Adílio Braz F. Fonseca (natural de Ribamar - Lourinhã);

 (ii) Jaime Bonifácio Marques da Silva (natural de Seixal - Lourinhã);

(iii) João M. Rodrigues Delgado (natural da vila da Lourinhã);

 (iv) José F. Picão Oliveira (natural da vila de Lourinhã); e

 (v) José M. Bonifácio da Silva (natural de Seixal - Lourinhã). (*)

O encontro, no passado dia 28 de junho,  contou com a presença de largas dezenas  de antigos combatentes, dos três ramos das forças armadas, e de diversas associações, oriundos de diferentes partes do país. Esteve também representada a ADFA - Associação Portuguesa dos Deficientes das Forças Armadas, através de um  dos seus dirigentes.

 Desse encontro apresentamos dois  vídeos e mais algumas fotos.

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domingo, 5 de julho de 2015

Guiné 63/74 - P14838: Filhos do vento (40): abaixo-assinado dos "Fidju di Tuga" à Assembleia da República Portuguesa: "Somos atualmente cerca de meia centena de membros, apenas em Bissau, estimamos que existam pelo menos meio milhar de 'filhos de tuga' espalhados pelo país... Vimos pedir o reconhecimento do legítimo direito à nacionalidade portuguesa"... Entretanto, o 1º ministro Passos Coelho faz amanhã, 2ª feira, a sua primeira visita oficial à Guiné-Bissau.

1. Mensagem de Catarina Gomes, jornalista do Público,  autora (texto) da reportagem sobre os "Filhos do Vento" e "O Meu Filho Ficou lá";  filha de ex-combatente da guerra colonial (em Angola), escreveu o livro "Pai, tiveste medo ?" (Lisboa, Matéria Prima Edições, 2014):

[foto à esquerda: membros fundadores da Associação Fidju di Tuga, com sede em Bissau; cortesia da sua página na Net]
Data: 3 de julho de 2015 às 14:35
Assunto: abaixo-assinado

 Professor,

Aqui lhe envio o texto do abaixo-assinado da associação de que lhe tinha falado :

A Associação Fidju di Tuga/Filho de Tuga-Associação da Solidariedade dos Filhos e Amigos dos Ex-Combatentes na Guiné-Bissau foi criada em 2013 para representar os chamados Fidju di Tuga, expressão que traduzida do crioulo significa Filho de Tuga, e que durante todas as nossas vidas foi usada para nos designar/ insultar na Guiné-Bissau.

Somos filhos de ex-combatentes portugueses que estiveram na Guiné-Bissau durante a guerra colonial/guerra da libertação e que tiveram filhos com mulheres guineenses e os deixaram para trás. Muitos de nós até hoje apenas sabem os apelidos e patentes dos nossos pais, dados incompletos que não nos permitiram saber quem é nosso pai português e tentar entrar em contacto com ele.

Criámos esta associação para representar todos estes filhos que ficaram. Somos actualmente cerca de meia centena de membros, apenas em Bissau. Estimamos que existam pelo menos meio milhar de "filhos de tuga" espalhados pelo país, todos nascidos durante os anos da guerra ou no ano imediatamente a seguir ao regresso definitivo das tropas portuguesas.

Os nossos pais estiveram na Guiné-Bissau ao serviço do Estado Português. Os abaixo-assinados vêm por este meio pedir o reconhecimento do seu legítimo direito à nacionalidade portuguesa como filhos de pais portugueses, solicitando que a sua causa seja debatida no Parlamento português.

Entretanto, soube que o 1º ministro Passos Coelho vai à Guiné dia 6 de Julho.

Abraço e boas férias, se for caso disso.

Catarina
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Nota do editor:

Último poste da série > 24 de junho de 2015 > Guiné 63/74 - P14792: Filhos do vento (39): Será que tudo o que por aí se vai dizendo, da nossa vida sexual em zona de guerra, não será também, em alguns casos, uma grande mentira? (Tony Borié)

Guiné 63/74 - P14837: Libertando-me (Tony Borié) (24): Glória, a quem chamavam Lola e às vezes Ruça (5)

Vigésimo quarto episódio da série "Libertando-me" do nosso camarada Tony Borié, ex-1.º Cabo Operador Cripto do CMD AGR 16, Mansoa, 1964/66.



Glória, Lola, a Ruça (5)

Hoje fomos à praia só para caminhar na areia, dizem que faz massagens nos pés, o que na nossa idade é muito bom para a saúde, não vimos a Glória, mas vamos continuar com a sua história.
Cá vai.

A Glória e o Jorge, já com algum dinheiro economizado, decidiram comprar uma oficina de gradeamentos em ferro, que estava à venda, portanto, acertaram o preço e compraram.

Passado um tempo, a Glória encarregava-se do trabalho de fora, o Jorge, da contabilidade, contacto com os clientes e da oficina, às vezes ajudava e orientava a Glória, que entretanto frequentou uma escola de vocação, onde aprendeu a usar o maçarico a gás de cortar ferro, a soldar com diferentes máquinas e diversos materiais, com alguma segurança, carregava com os portões e gradeamentos, com a ajuda de alguém que entretanto contratara, instalava esses portões e gradeamentos. Os clientes gostavam, era uma coisa nova, portões e gradeamentos em ferro forjado, com feitios lindos. O negócio, num abrir e fechar de olhos, estava a progredir, era uma região de muitas casas grandes, tipo mansões.


Entretanto a Glória fica grávida e nasce um rapaz. Só tirou tempo fora do trabalho, praticamente para ir ao hospital por altura do parto, continuava com a mesma vontade no trabalho, o bebé cresceu, começou a andar e a falar na oficina, primeiro num berço, num compartimento ao lado, a que chamavam escritório, depois por tudo o que era espaço, acompanhando o pai e a mãe. Fica grávida de novo, segue o mesmo regime do primeiro, nasce uma menina, que tal como o menino é criada praticamente no trabalho.

Todo o trabalho que executavam na oficina era apreciado, pois era uma novidade, as pessoas para quem executavam esse trabalho, foram falando, algumas eram importantes e com alguma influência, cada vez tinham mais encomendas. Foram crescendoe o espaço tornou-se pequeno, nos arrabaldes de outra cidade, mais para norte, nuns terrenos que lhe foram cedidos com um contrato de 99 anos, onde se comprometeram a não modificar o ambiente, respeitando os cursos de água e algumas árvores, fizeram uma grande oficina, com parque para estaleiro de materiais, onde os camiões podiam carregar e descarregar.

Os filhos foram estudar. O rapaz, engenheiro, com a experiência que adquiriu ao longo dos anos, principalmente com a mãe, começou a trabalhar lá fora, dirigindo pessoal, fazendo projectos, na instalação dos portões e gradeamentos. A filha, contabilista, trabalha com o pai na oficina. Todas as novas urbanizações, que se faziam nas cidades próximas, já obedeciam à nova configuração dos seus portões e gradeamentos, que entretanto tinham formas representando figuras de palmeiras, animais ou outros motivos, alguns importados do México. Estavam na moda. O negócio continuava a crescer, já tinham encomendas de fora do estado, tinham algumas dezenas de colaboradores, os dois brasileiros, companheiros de viagem, eram encarregados na nova oficina. E ela dizia:
- Isto também é vosso, bendita a hora em que nos encontrámos!

O Jorge faleceu antes dos cinquenta anos de vida, teve uma doença que na época não tinha cura. A Glória ficou viúva, dedicou-se aos filhos que entretanto tomaram conta do negócio. Casaram, o filho deu-lhe dois netos e a filha deu-lhe um.

Como em criança, não teve oportunidade de brincar, agora cuida e brinca com os netos, na sua casa na praia, próximo de onde vivemos. Os filhos, sabendo a mãe que têm, confiam-lhe as crianças por bastante tempo e a Glória, a “Lola”, a que alguns chamavam “Ruça”, anda feliz pela praia com o mais novo ao colo, os outros pela mão um do outro e, sempre que passa um cão, ou algo de estranho, vêm a fugir, esconder-se e encostarem-se às pernas da avó, tal como faziam os seus irmãos quando vivia na aldeia em Portugal.

Que viva por longos anos.

Tony Borie, Julho de 2015. 
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Nota do editor

Postes anteriores de:

7 de junho de 2015 > Guiné 63/74 - P14710: Libertando-me (Tony Borié) (20): Glória, a quem chamavam Lola e às vezes Ruça (1)

14 de junho de 2015 > Guiné 63/74 - P14744: Libertando-me (Tony Borié) (21): Glória, a quem chamavam Lola e às vezes Ruça (2)

21 de junho de 2015 > Guiné 63/74 - P14776: Libertando-me (Tony Borié) (22): Glória, a quem chamavam Lola e às vezes Ruça (3)
e
28 de junho de 2015 > Guiné 63/74 - P14804: Libertando-me (Tony Borié) (23): Glória, a quem chamavam Lola e às vezes Ruça (4)

Guiné 63/74 - P14836: Manuscrito(s) (Luís Graça) (60): Se todos os pescadores do mundo...

Se todos os pescadores do mundo...

por Luís Graça


Se todos os pescadores do mundo,
Ao longo de todas as costas,
De todas as linhas do horizonte,
De todas as praias,
De todos os mares,
De todos os bancos de pesca,
De todos os icebergs,
De todas as fossas submarinas
E plataformas continentais,
De todas as ilhas,
De todas as pontes,
De todas as dunas,
De todas as falésias,
De todos os recifes de corais,
De todos os cabos e promontórios,
De todos os lagos e albufeiras,
De todos os rios 
De todas as rias,
De todos os cais…

Se todos os pescadores do mundo
Se dessem as mãos,
As canas de pesca,
Os fios, 
Os anzóis,
As redes, 
Os covos,
O mapa das marés,
Os arpões,
Os barcos, 
As barcas,
As canoas,
As pirogas,
As traineiras,
Os arrastões,
A bússola,
O radar,
O isco,
O GPS, 
O sextante, 
O sonar,
Os remos e as velas,
mais as artes antigas e modernas,
do cerco,  da xávega e da sombreira,
do arrasto e da ganchorra,
das redes de emalhar e de tresmalho,
da linha, dos alcatruzes e das gaiolas...

Se todos nós, no fundo, 
Partilhássemos o peixe pescado,
O peixe por haver,
Fresco, cru, seco,
Frito, cozido, guisado,
Assado, grelhado, fumado,
Salgado, congelado,
Sem esquecer as batatas e o pão...

Talvez pudéssemos reencontrar
Elos perdidos da cadeia da vida…
Talvez o mar fosse mais chão,
Talvez o mar fosse mais mulher,
Talvez o mundo fosse mais
Pequeno, 
Aconchegado,
Caloroso, 
Maneirinho,
Habitável…
Talvez o mundo fosse mais…
Amigável.

Luís Graça
Lourinhã, Praia de Porto Dinheiro | 11/8/2007 (versão original: "A friendly world")

Lourinhã, Porto das Barcas, revisto | v4, 27/6/2015
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Nota do editor:

Último poste da série > 23 de junho de 2015 > Guiné 63/74 - P14787: Manuscrito(s) (Luís Graça) (59): Lisboa, Mouraria, Rua do Benformoso

sábado, 4 de julho de 2015

Guiné 63/74 - P14835: Jornal "O Soquete - BAC 1" (José Diniz de Sousa e Faro, ex-Fur Mil Art.ª do 7.º Pel Art)

1. Mensagem do nosso camarada José Diniz de Souza e Faro, ex-Fur Mil Art do 7.º Pel Art (CamecondePichePelundo e Binar, 1968/70), com data de 25 de Junho de 2015:

Bom dia caros Luís/Carlos,
Para os devidos efeitos, anexo alguns excertos do nosso jornal em assunto editado em Junho de 1970.
O artigo principal é a extinção da Bataria de Artilharia de Campanha n.º 1 e o nascer do Grupo de Artilharia de Campanha n.º 7.
Depois temos a chegada dos nossos substitutos, a praxe da ordem e a nossa partida (oficias e furriéis), para a Metrópole.
Uma homenagem aos que tombaram em combate.
E por último os aniversariantes e a reportagem do Fogo real.
Espero que seja do vosso agrado a minha modesta contribuição e que a mesma seja publicada.
Em breve mandarei um estudo em torno da mobilização das unidades de Artilharia na guerra de África em particular na Guiné.

Grato pela atenção dispensada,
Abraço,
J.D.S. C. FARO
Ex-Fur. Milº Artª
Guiné 68/70



OBS: - Clicar nas imagens para ampliar para tamanho que permite leitura sem esforço
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Guiné 63/74 - P14834: Tabanca Grande (468): José Jorge de Melo, ex-Alf Mil da CCAÇ 1498/BCAÇ 1876 (Có, Jolmete, Ponate, Bula e Minar, 1966/67)

1. Mensagem do nosso camarada e novo amigo José Jorge de Melo, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 1498/BCAÇ 1876, Có, Jolmete, Ponate, Bula e Binar, 1966/67, com data de 22 de Junho de 2015:

Caro camarada de armas,
Há cerca de um ano, o Armando Teixeira falou-me no seu “blog” e tentou entusiasmar-me para que eu viesse a participar no mesmo. Porém, os meus afazeres diários fizeram-me esquecer o assunto. Ontem ele enviou-me três textos que foram publicados no seu “blog” que tiveram o condão de me entusiasmar a fazer esta minha apresentação.


Respeitando as regras:

1 – Envio de uma foto antiga



2 . Envio de uma foto actual



3 - Texto de apresentação

Posto: alferes miliciano
Especialidade: atirador de infantaria
Unidades e locais:
Recruta em Tavira (aproximadamente 3 meses);
Especialidade em Mafra (aproximadamente 3 meses);
RI 18 nos Arrifes, Ponta Delgada, São Miguel, Açores (10 meses);
mobilizado para a Guiné pelo Regimento de Abrantes; Santa Margarida (1 mês);
Guiné-Bissau (21 meses), locais de permanência: Ponate, Có, Bula, Binar e ... “já consigo dizer que” fui condecorado com uma Cruz de Guerra de 3.ª classe. A seu tempo esclarecerei a razão porque escrevo “já consigo dizer que”

Onde vivo: Parede, concelho e distrito de Cascais;

Outros assuntos:

Esclarecimento do “já consigo dizer que...”

Quando terminei as ações de desmobilização em Novembro de 1967, decidi regressar a São Miguel, minha terra natal, para descansar, esquecer a guerra, e levei comigo um Manual de Geometria Descritiva, para ir lendo quando me apetecesse, porque tencionava regressar a Lisboa para me licenciar em Engenharia, no Instituto Superior Técnico (IST).

Regressei a Lisboa a 4 de Janeiro de 1968 e comecei os estudos imediatamente. Não tinha família em Portugal continental e convivia com um grupo de estudantes, seis anos mais novos do que eu, que frequentavam diversas universidades em Lisboa.

A minha educação era altamente religiosa e o meu pensamento estava imbuído de conceitos de disciplina, obediência, contenção e paz. Porém fui-me apercebendo, tanto no IST como nas outras faculdades, da existência de um forte movimento de contestação contra o governo de Salazar a que não pude ficar alheio. As reuniões de estudantes na Associação Académica que eu não deixava escapar e as discussões pela noite dentro sobre política, foram modificando a minha maneira de pensar. Mas... foram as discussões religiosas que mais me abalaram. Discutiram-se todas as provas da existência de Deus e foi-me mil vezes demonstrado a não existência de um Deus, sobretudo devido às enormes insistências de meu irmão Carlos, que frequentava Filosofia e me impingia os tratados de fenomenologia.

Posso dizer que quase fui obrigado a ler o Capital de Karl Max, A Vida e Morte de Che Guevara; e os mais marcantes, não sei precisar as datas em que os li, foram “Crimes de Guerra no Vietnam”, “Porque não sou Cristão”, “A minha concepção do Mundo” de Bertrand Russell, bem como “ O Macaco Nu” e ” O Zoo Humano” de Desmond Morris.

Depressa chegaram a Lisboa as notícias sobre a Revolta estudantil do Quartier Latin iniciada a 10 de Maio de 1968. Estavam refugiados em Paris muitos jovens açorianos e portugueses, que tinham fugido para França, para escapar a serem incorporados no exército português e arrastados para a Guerra colonial. E mandavam jornais livros, propaganda em favor do comunismo e do existencialismo. Recomendavam a leitura de Simone de Beauvoir e de Jean Paul Sartre e de facto senti uma certa revolta ao ler “A Idade da Razão” que foi um livro muito discutido.

A 27 de Setembro de 1968, a tomada de posse de Chefe do Governo de Portugal por Marcelo Caetano foi uma lufada de esperança que desapareceu rapidamente, por se tornar evidente desde muito cedo, que ele seguia os passos do seu antecessor. A guerra colonial era para continuar e os mandantes e influentes na condução do país continuavam a ser os mesmos.

Encurtando razões tornei-me ateu e contestatário político e em Janeiro de 1969 assinei o documento “Liberdade e Coerência Cívica” uma Candidatura Independente às eleições para Deputados em 1969.
"Declaração de Ponta Delgada" que está inserido nos arquivos do “Pensamento de Melo Antunes”.

Embora a minha mudança de pensamento politico me tenha agitado, o tornar-me ateu deixou-me vazio, por perder o ideal da perfeição mística. Senti uma premente necessidade de substituir esse ideal perdido por um outro, um outro de minha escolha, que me animasse, me guiasse na continuação da minha existência. Não escolhi a política, não escolhi a humanidade. A minha escolha recaiu sobre a beleza, a arte, a música, a liberdade, isto é, tudo aquilo que me proporciona prazer.

No primeiro trimestre de 1968 recebi o primeiro convite para receber a condecoração que me havia sido atribuída e declinei o convite. Estava abalada a minha estrutura mental nos campos religioso e politico. Deixei de falar sobre a minha vida militar, melhor dizer que procurei ocultar esse meu tempo de vida. Heróis eram os que tinham fugido para França e não pactuaram com um regime opressivo, os que estavam proibidos de regressar a Portugal por serem refractários e iam mandando notícias sobre as novas ideias e o progresso da humanidade.

No ano seguinte recebi novamente o convite para ir a Tomar receber a minha condecoração e, desta vez, pagavam as passagens de avião para os meus pais se deslocarem de Ponta Delgada a Tomar, a fim de assistirem à cerimónia. Meus pais nunca tinham saído de São Miguel, eu tinha casado, era estudante universitário e o dinheiro não abundava. Não podia perder a oportunidade de oferecer aos meus pais uma viagem a Lisboa que os deslumbrou. Sem dizer nada aos meus amigos universitários, aceitei o convite, e fui a Tomar, sentindo que estava a cometer uma ação incongruente para com o meu novo pensamento, pactuando com o regime.

Recusei os vários convites que recebi para me associar à Liga dos Combatentes e durante quarenta anos tentei ignorar e esquecer a minha vida militar. Nos dias de hoje já consigo dizer que fui combatente na Guiné Bissau.

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Memórias do serviço militar obrigatório

O Armando Teixeira teve e tem o mérito de há dez anos dedicar uma parte da sua vida a descobrir o paradeiro de cada um dos militares do nosso pelotão, com o intuito de promover um almoço anual e que este ano vai ter a décima repetição.
Nesses convívios, tendo eles conhecimento das minha aptidão para a escrita, recebi vários pedidos para que escrevesse as aventuras vividas na Guiné Bissau. Eu porém fui adiando o início desse trabalho e agora venho propor-me a ir escrevendo no seu blog algumas das peripécias por que passámos, se tanto me for permitido.

Quando cheguei a Santa Margarida espantei-me pela falta de disciplina e desorganização que reinava na Unidade, no Batalhão e na Companhia a que estava adstrito. Na minha Companhia, a 1498, o capitão ainda não se apresentara na Unidade, sendo o sargento ajudante, administrativo, que a governava a seu belo prazer. Este sargento ajudante nomeou-me “oficial de dia”, em tom de pessoa de patente superior à minha, aspirante miliciano. Acatei a ordem e resolvi não iniciar um litígio logo no primeiro dia, mas confesso que a sua atitude não me agradou. Perguntei-lhe, no entanto, o que esperava de mim, na qualidade de “oficial de dia”? Estava a ser nomeado “oficial de dia” da Unidade ou do Batalhão?
O homem esboçou um sorriso de troça e esclareceu que se tratava somente de obrigações para com a companhia 1498; e que se resumiam unicamente em acompanhar os soldados que já se tinham apresentado até ao refeitório e coordenar a refeição.

Tinha levado comigo uma série de livros para através da leitura poder matar os tempos mortos. Chegada a hora do almoço dirigi-me para a camarata da 1498 e verifiquei que os soldados, de moto próprio, seguiam para o refeitório sem me dar cavaco.
- Hei! Militares! Vamos formar!
- Formar?! Os outros oficiais não mandam formar!
- Eu mando! Quem não formar não entra no refeitório! E tu aí, como te chamas?
- Eu sou o Cascais.
- Vai ao refeitório avisar os que já lá estão que têm de vir para a forma.

O primeiro que terminou a refeição, levantou-se e preparava-se para abandonar o recinto:
- Hei! Espera que todos acabem!

Quando todos terminaram, mandei porem-se de pé e destroçarem.
Foi o primeiro choque entre mim e os soldados da 1498.

Vinham para a formatura, uns fardados, outros em pijama, de chinelas. Eu não quis ser muito duro. A única exigência era que formassem e esperassem a minha ordem para destroçarem.
O capitão, na altura ainda tenente, acabado de sair da academia militar, era progressista e resolveu aplicar técnicas democráticas para a divisão dos soldados em pelotões. Reuniu todos os soldados num grupo e colocou os aspirantes em fila bastante separados uns dos outros, e perguntou:
- Quem quiser ir para o aspirante Branco desloque-se para o pé dele.
E moveu-se uma leva de soldados. Quando terminou o movimento, veio a segunda pergunta:
- Quem quer ir para o aspirante Pinto?
Nova leva de soldados.
- Quem quer ir para o aspirante Melo?
Nem sequer um mostrou o desejo de integrar o meu pelotão.
- Quem quer ir para o aspirante Travassos?
Moveu-se uma grande leva de soldados.

Um grupo, de uma a duas dezenas de soldados, ficaram sem se ter candidatado a nenhum dos pelotões. Conversaram entre si e depois um deles levantou o dedo:
- Meu tenente! Ainda podemos escolher?
- Claro que podem!
- Queremos ficar com o aspirante Melo.

Eram naturais de terras do norte, Braga, Barcelos e arredores; e foram os melhores soldados do meu pelotão. Os restantes foram arrebanhados dos pelotões que tinham gente a mais.

Todos aqueles soldados pareciam estarem condenados à morte. Desejavam portar-se mal, por revolta, por contestação. Excediam-se no álcool, jogavam até tarde. Eu, embora sabendo que na Guiné iria correr riscos de perda da minha vida, não me sentia um condenado à morte, e pensava que a minha vida dependia da atitude dos meus soldados e da disciplina que eu conseguisse impor por forma a conseguir deles rápidas e prontas respostas contra os imprevistos da guerra. Assim, imediatamente após saber quem eram os meus soldados, furriéis e sargentos, passei a ocupar-lhes as manhãs com sessões de esclarecimento e motivação, exercícios físicos e revisão do estudo do armamento, prometendo-lhes que, se fossem disciplinados e cumprissem as regras, haveríamos de voltar todos com vida.

Na dúvida, acataram as minhas sugestões e, embora em toda a Unidade o meu pelotão fosse o único a preencher as manhãs daquela maneira, não tive da parte deles qualquer contestação, porém não me livrei da fama de ser militarista.
Na Guiné continuei a ser extremamente duro no respeitante à disciplina e na primeira semana castiguei um motorista por não ter verificado o nível do óleo da sua viatura.

Nasci na ilha de São Miguel onde permaneci até aos 21 anos. Não tinha grande experiência e vivência social. Sentia-me diminuído pelo facto do meu falar ser bastante diferente do falar continental, o que em muitas situações era motivo para troça. A minha puberdade fora extremamente tardia. Aos 15 anos tinha o tamanho de uma criança de doze anos e, como dizia o meu pai, somente aos 17 anos comecei a espigar. Embora fosse um ano mais velho do que todos os meus soldados, porque tive um ano de adiamento por estar matriculado na Universidade, a minha aparência era acriançada enquanto eles, alguns já casados, tinham aspecto de serem mais maduros. Esta diferença de aparência obrigou-me a manter uma maior distância para com eles e um maior rigor na imposição da minha autoridade.
Tive de me manter inflexível para compensar o que o peso, a carranca e o tamanho do corpo me diminuíam.
Fui duro muitas vezes injustamente e, quando eu passava, ouvia-os murmurar entre dentes: “Deus não dorme!”
Porém, por sorte, consegui cumprir a minha promessa porque, embora o meu pelotão tivesse sido castigado com bastantes feridos graves, nenhum dos meus homens faleceu e disso sento orgulho; e ainda hoje não me arrependo da dureza e distância que mantive naquela altura da minha vida, que psicologicamente me doeu, principalmente nos primeiros tempos, no quartel de Ponate, porque não tinha com quem desabafar. Enquanto eles conversavam entre si sobre as suas vidas e sobre as notícias que recebiam por carta dos familiares, eu sentia uma certa solidão e tinha de remoer sozinho, entre as quatro paredes do meu dormitório, os meus receios, os medos e as responsabilidades.

A disciplina que implementei, permitiu que me pudesse dar ao luxo de poder dormir até quinze minutos antes da hora marcada para uma saída; e ter o prazer de ver o meu pelotão devidamente formado, municiado e pronto para avançar enquanto outros sofriam para conseguirem estarem preparados mesmo contando com atrasos.

Dez anos depois, em 1978, desloquei-me em serviço a Macau, na sequência de negociações de um contrato de fornecimento de material de telecomunicações para aquele território. A última reunião, a decisiva, teve lugar no palácio do Governador, com a presença do mesmo. Estavam as negociações em marcha quando o Governador, numa atitude completamente fora do contexto me pergunta:
- Você não se lembra de mim?
- Sinceramente não tenho ideia de alguma vez me ter cruzado com V. Exa.
- Mas eu lembro-me perfeitamente de si! Não se lembra de uma operação que saiu de Binar em que veio uma companhia de intervenção de Bissau para se integrar com as vossas forças.
- Lembro-me perfeitamente.
- Eu era o comandante dessa companhia e fixei a sua fisionomia porque você foi o único que tinha o pelotão pronto para sair à hora que tinha sido determinada. Invejei o comportamento do seu pelotão.

Tratava-se de José Eduardo Martinho Garcia Leandro, promovido a coronel quando, em 1974, foi nomeado Governador de Macau.

José Jorge de Melo

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2. Comentário do editor:

Caro camarada de armas José de Melo
Bem-vindo ao Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.
Não vais estranhar o tratamento por tu, que torna mais próxima a comunicação entre camaradas que em comum têm o ter pisado o chão da Guiné naquela situação de guerra. Tentamos que a idade, o actual (ou antigo) posto militar, as habilitações académicas e profissão sejam o impedimento de proximidade entre quem partilha este espaço de memórias.

Muito obrigado por te decidires juntar à nossa tertúlia, onde poderás deixar escritas (e em imagem) as recordações dum tempo que jamais esqueceremos. Terás também de nos dizer porque foste agraciado com a Cruz de Guerra de 3.ª Classe. Independentemente das nossas convicções políticas de então, não temos que nos envergonhar, hoje, por termos participado na guerra de África, a esmagadora maioria de nós foi para lá por imposição, cumprindo a lei vigente.

Se reparares, há parte da tua mensagem que foi omitida. Aquela que dedicas à tua faceta de artista enquanto escritor e pintor. Foi de propósito, já que na nossa série "Os nossos seres saberes e lazeres" irás ter, em breve, o destaque que mereces.

Não consegui fazer da tua foto antiga uma tipo passe para encimar os teus futuros postes. Se tiveres por aí uma onde estejas fardado, por exemplo a do BI militar, manda para os nossos arquivos. Se quiseres que faça outra actual onde apareças mais de frente, manda também.

Depois desta tua tão bem elaborada apresentação, resta-me deixar aqui um abraço de boas vindas em nome da tertúlia e dos editores.
Estaremos sempre ao teu dispor

Pela tertúlia
Carlos Vinhal
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Nota do editor

Último poste da série de 10 de junho de 2015 > Guiné 63/74 - P14727: Tabanca Grande (467): José João Braga Domingos, ex-Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4516/73 (Colibuia, Ilondé e Canquelifá, 1973/74), 691.º Grã-Tabanqueiro