quarta-feira, 6 de abril de 2016

Guiné 63/74 - P15944: Efemérides (218): Conheci o Cap. Alves no BII 17, em Setembro de 1970, mas foi na Guiné, na Mata dos Madeiros, aonde a CCaç 3327 chegaria no dia 6 de Abril de 1971, que comecei a conhecer o homem, o coração de ouro que a sua farda encobria (José Câmara)

1. Mensagem do nosso camarada José da Câmara (ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 3327 e Pel Caç Nat 56, Brá, Bachile e Teixeira Pinto, 1971/73), com data de 5 de Abril de 2016, homenageando o Comandante da CCAÇ 3327, Capitão Miliciano Rogério Rebocho Alves:


A minha homenagem ao Homem e ao Comandante, Senhor Capitão Rogério Rebocho Alves(*)

Amigos e camaradas,
Ao longo da minha vida, para além dos meus pais, encontrei pessoas e situações que me deram lições ímpares de civismo, carácter, humanismo, entre outras. Na sua maioria, porque apenas perceptíveis na leitura que delas se pode fazer, é difícil descrevê-las. Aqui, mais que uma vez, relatei a admiração que senti pelo Cap Mil Art Rogério Rebocho Alves, Comandante que foi da CCaç 3327 e a influência que ele teve na minha vida de militar e que transportei de alguma forma para a minha actividade civil, de homem casado, de cidadão de Portugal e dos EUA, que me acolheu de braços abertos quando imigrei para este País.

Conheci o Cap. Alves no BII 17, em Setembro de 1970, mas foi na Guiné, mais propriamente na Mata dos Madeiros, aonde a CCaç 3327 chegaria no dia 6 de Abril de 1971, que comecei a conhecer o homem, o coração de ouro que a sua farda encobria.

Eram os pormenores de que muitas vezes nos alheamos que me chamavam a atenção. O Cap. Alves tinha uma missão militar a cumprir. Fê-lo sempre com classe e a responsabilidade própria de quem tem que tomar decisões. Respeitava e era respeitado.

Ele adorava os seus comandados como se seus filhos fossem. Para nós, seus subalternos, o Cap. Alves foi e será sempre um Homem Bom. Nesta minha centésima intervenção, pretendo homenagear o militar, o homem, o amigo, o pai que foi o Cap. Alves. Por que é da mais elementar justiça descrever e enaltecer os sentimentos humanos daqueles que tiveram sobre os seus ombros a responsabilidade de comandar jovens em tempo de guerra. Mas ninguém melhor que ele, pelas suas próprias palavras, para descrever o que lhe ia na alma enquanto comandante da CCaç 3327.

Na hora da despedida no Roteiro da Saudade, um pequeno livrete com os nomes e endereços de todos nós, estas foram as suas palavras que dia após dia de serviço militar foi escrevendo no seu coração.


O Capitão Alves partiu o ano passado do meio dos seus familiares e de nós, os seus Nómadas. Connosco deixou o vazio da sua presença, mas a certeza de que fomos comandados por um grande Homem. Em sua memória, se me é permitido, deixem-me usar as suas palavras.

 Até logo meu Comandante.

Setembro de 2012 - Tropa especial na Mealhada: Cap. Rogério Alves, Furs. J. Cruz, L. Pinto, J. Câmara, Alf. Almeida e na frente o Cabo Isolino Picanço.

26 de Julho de 2014 - Quinta do Paúl em Ortigosa - Fernanda Cruz e o Cap. Rogério Alves.
 
26 de Julho de 2014 - Quinta do Paúl em Ortigosa - O Cap Mil Art.ª Rogério Rebocho Alves no uso da palavra. Na mesa, da esquerda para a direita, são reconhecidos o Alf. Mil Almeida, os Furriéis Leite e Caseiro e ainda o Alf. Mil Agostinho Neves. Encoberto, o Alf. Francisco Magalhães.
 
26 de Julho de 2014 - Quinta do Paúl em Ortigosa - O Fur Mil José Leite, o Cap. Rogério Alves e o Sold Cozinheiro Joaquim Rodrigues que veio de França.

José Câmara
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Nota do editor

Vd. poste de 2 de junho de 2015 Guiné 63/74 - P14689: In memoriam (221): Ex-Cap Mil Art Rogério Rebocho Alves, CMDT da CCAÇ 3327 (Brá, Bachile e Teixeira Pinto, 1971/73) (José Câmara)

Último poste da série de 30 de março de 2016 Guiné 63/74 - P15914: Efemérides (217): Cerimónia de homenagem aos combatentes da guerra do ultramar, amanhã, 5.ª feira, 31/3/2016, em Cascais, às 10h00, na Av Dom Carlos I: Convite do Povo e do Município de Cascais

Guiné 63/74 - P15943: Memória dos lugares (339): Cuntima, no meu tempo (ex-1º cabo Vitor Silva, CART 3331, "Os Tigres de Cuntima", 1970/72) - Parte II


Guiné > Região do Oio > Setor de Farim > Cuntima > CART 3331 (1970/72) > Foto nº 1 > O poilão, o ex-libris da vila de Cuntima...



Guiné > Região do Oio > Setor de Farim > Cuntima > CART 3331 (1970/72) > Foto nº 1 A > O poilão, o ex-libris da vila de Cuntima...  No grupo, o Vitor é o primeiro da direita




Guiné > Região do Oio > Setor de Farim > Cuntima > CART 3331 (1970/72) > Foto nº 2 >  "O poilão e a escola primária"



Guiné > Região do Oio > Setor de Farim > Cuntima > CART 3331 (1970/72) > Foto nº 3 > "Militar à porta de entrada de quem vinha do Senegal."



Guiné > Região do Oio > Setor de Farim > Cuntima > CART 3331 (1970/72) > Foto nº 4 >  O 'burrinho' (Unimog 411), atravessando a avenida Central (também conhecida por av do Senegal).


Guiné > Região do Oio > Setor de Farim > Cuntima > CART 3331 (1970/72) > Foto nº 5 > "Vendedores ambulantes (djilas) e a curiosidade da população e dos militares. O Vítor com um menino ao colo."



Guiné > Região do Oio > Setor de Farim > Cuntima > CART 3331 (1970/72) > Foto nº 6 > " O Vítor, de bigode, um Camarada, a bajuda e o pilão. Para a fotografia".

 

Guiné > Região do Oio > Setor de Farim > Cuntima > CART 3331 (1970/72) > Foto nº 7 > "O Vítor e o Hélder na Secretaria da Companhia."


Fotos e legendas: © Vitor Silva (2008). Todos os direitos reservados



1. Recorde-se alguns dados sobre a CART 3331, segundo síntese feita pelo ex-1º cabo Vitor Silva, nosso grã-tabanqueiro:


(i) A CART 3331 foi mobilizada para a Guiné pelo RAP 2, Vila Nova de Gaia;

(ii) era composta por 158 militares, sendo comandada pelo cap mil art Manuel Sena Boléo; a formação era chefiada pelo 1º srgt art Manuel Joaquim Moreira Dias.

(iii) a formação dividia-se nas seguintes secções: comando; alimentação; manutenção auto; sanitária; reabastecimento;  e manutenção de armamento.

(iv)  a primeira  parte da Instrução de Aperfeiçoamento Operacional (IAO) foi feita no RAP 2;

(v) a Companhia embarcou no Cais da Rocha do Conde de Óbidos para a Guiné no dia 14 de 
dezembro de 1970, a bordo do navio Uíge:

(vi) a 20 de fevereiro a CART 3331 deslocou-se em coluna auto, rumo a Cuntima, dependente do BCAÇ 2879, onde rendeu a CCAÇ 14, durante a qual tomou conhecimento directo com a Zona de Acção (ZA);

(vii)  o terreno, aliás como de uma maneira geral em toda a Guiné, é plano; cnvém no entanto referir que Cuntima é ligeiramente mais elevada que o restante terreno da ZA; daí, talvez o antigo nome de Colina do Norte (?); 

(viii) o sector era servido pela estrada Farim-Cuntima, por onde eram feitos os reabastecimentos;

(ix) o IN não se encontrava instalado nem tinha bases dentro da nossa ZA; irradiava sempre do Senegal, pelo tradicional corredor de Sitató; de uma maneira geral evitava os contactos; as suas acções contra as NT manifestaram-se especialmente por ataques ao aquartelamento, implantação de minas na estrada Farim-Cuntima e, esporadicamente às colunas de reabastecimentos;

(x) a população, na sua maioria era de etnia Fula, de religião muçulmana; apenas uma pequena parte era Mandinga;
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Guiné 63/74 - P15942: Parabéns a você (1059): Joaquim Mexia Alves, ex-Alf Mil Op Esp, CMDT do Pel Caç Nat 52 (Guiné, 1971/73)

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Nota do editor

Último poste da série de 4 de Abril de 2016 Guiné 63/74 - P15934: Parabéns a você (1057): António Dias, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2406 (Guiné, 1968/70); Agostinho Gaspar, ex-1.º Cabo Mec Auto do BCAÇ 4612/72 (Guiné, 1972/74); Hernâni Acácio Figueiredo, ex-Alf Mil TRMS do BCAÇ 2851 (Guiné, 1968/70) e José Eduardo Reis Oliveira, ex-Fur Mil Enf da CCAÇ 675 (Guiné, 1963/65)

terça-feira, 5 de abril de 2016

Guiné 63/74 - P15941: Atribulações de Soldado de há 50 anos. Esforço de Memória da Semana Santa e do Domingo de Páscoa de 1966, em Camajabá (Manuel Luís Lomba, ex-Fur Mil)

1. Mensagem do nosso camarada Manuel Luís Lomba (ex-Fur Mil da CCAV 703/BCAV 705,  Bissau, Cufar e Buruntuma, 1964/66), com data de 28 de Março de 2016 com uma memória da Páscoa de 1966:


ATRIBULAÇÕES DE SOLDADO DE HÁ 50 ANOS

Esforço de Memória da Semana Santa e do Domingo de Páscoa de 1966, em Camajabá (Leste da Guiné)…

Narrativa dedicada aos camaradas que tarimbaram em Camajabá e Buruntuma, nomeadamente ao Abel Santos, José Fernando Estima, Abreu dos Santos, Eduardo Ferreira Campos, Jorge Gabriel, Ricardo Costa, Carlos Costa, José Campos Pontinha … que partilharam as suas vivências através deste blogue.

Naquele tempo, Buruntuma era uma tabanca de fulas e mandingas, um triângulo de território encravado na República da Guiné, domínio do régulo de Canquelifá, que aparecia à moda de cavaleiro, montado num belo cavalo, escoltado por escudeiros armados de G3, em visita de cortesia sentimental à formosa, escultural, evoluída e descontraída fula, uma das suas mulheres legítimas, segundo o Corão.

O Comandante Domingos Ramos fora encarregado de reactivar a Frente Leste, que Vitorino Costa falhara, antes de ir morrer a Fulacunda, com práticas de puro terrorismo contra as populações fulas, e a nossa CCav 703 foi transferida de emergência para lá, em finais de Maio de 1965, directamente da “Operação Razia” à mata de Cufar Nalu, na qual participava como força de intervenção às ordens do Comando-Chefe, para reforço e, depois, em rendição da sua guarnição, um pelotão de malta rija e valente, comandado pelo Alferes Vinhas, sou ignorante quanto a mais dados.

Buruntuma era cortada a meio por uma “estrada internacional” de terra batida Bissau-Nova Lamego-República da Guiné, a servir de divisória às comunidades fula e mandinga, ladeada de casas de arquitectura colonial, frontais às tradicionais moranças circulares cobertas a colmo, destacando-se a casa da PIDE e a vivendazinha de planta quadrada e de cor amarelada da Guarda Fiscal, idêntica à que depois vi implantada na praia de Leça, a tradicional barreira tubular e, na margem do pequeno rio Piai, campeava uma placa de betão: do nosso lado avisava Republique de Guineé; do lado oposto avisava República Portuguesa /Província da Guiné, emendando na estrada alcatroada, para Kandica, Saraboido e Koudara com derivação para Conacri.

Estrada internacional Bissau-Nova Lamego-Piche-Camajabá-Buruntuma-República da Guiné

Estávamos na época das chuvas, subiu-se ao cume do telhado mais alto para observar a vizinhança, reconheceu-se a ameaça de um par blindados Panhard ou parecidos, o Shirley, furriel sapador, afadigou-se na confecção de um potente fornilho e escolheu-se o melhor sítio onde escavar o buraco do seu enterro. Toda a gente em alerta, bazuqueiros e as suas “granadas de efeito dirigido” em prontidão, o capitão tornou-se guardião do explosor de accionamento eléctrico do fornilho – seria mais uma, das já muitas noites sem sono. O céu começou a descarregar água aos cântaros sobre estes pobres de Cristo, os raios e coriscos da tempestade tropical a incendiarem-no, um dos ditos percorreu o curso do cabo condutor até ao fornilho – e que tremenda explosão! Veio o dia e duas constatações: uma grande cratera e horizonte livre de blindados.

Camajabá situava-se nessa “estrada internacional”, a meio caminho entre Ponte Caium e Buruntuma, um deserto de apenas três moranças e um pontão de betão sobre o rio do mesmo nome, a sua valia estratégica, uma espécie de apólice de seguro para a subsistência da guarnição de Buruntuma. A guarnição de Camajabá, assim como a da Ponte Caium era destacada da CCaç 727 e das milícias de Canquelifá, malta tão fixe quanto azarenta – cada tiro cada morto sofrido – cujo comandante se distinguia como poeta, o então Capitão Miliciano Evóneo de Vasconcelos, recentemente falecido.

A duração máxima do destacamento de Camajabá não ultrapassava as três semanas e passara a rotativo da CCS do Batalhão de Nova Lamego, da CCaç de Canquelifá e da CCav de Buruntuma. Não obstante as ameaças, ainda não fora atacado, enquanto a sua milícia se distinguia a infernizar a vida aos militares europeus. A sua pequena guarnição averbava o suicídio de um alferes e o enlouquecimento de um segundo sargento. Chegara-me ao conhecimento de que os comissários do PAIGC em missão de doutrinação, procuravam abastecer-se do nosso tabaco e cerveja junto de milícias de Camajabá.

Pelas minhas funções de “apsico” e comandante de dois pelotões de milícia, em permanência às suas actividades específicas, estava excluído da escala para esse destacamento. O último da CCav 703 caberia ao Furriel António Moreira, a regressar de férias; mas ele encalhara em Bissau, de baixa ao Hospital Militar, com os intestinos infestados de bicharada, doença de nome difícil, quiçá uma amebíase (está correcto, Luís Graça?). Entramos na Semana Santa, o Furriel Simas foi escalado para o meu lugar, fui escalado para secção do Moreira e mais uns reforços, subimos para a caixa de carga de uma Mercedes, e fizemo-nos ao caminho da descida ao inferno de Camajabá.

A manhã findava e a rendição foi expedita, sob o impacto do alívio dos rendidos, alvos do escarnecimento por parte de alguns graduados da milícia, que a seguir reagiram refractários ao escalamento de segurança, da ida à água, à lenha ou a jornadas de capinação.

Chegávamos ao fim da comissão num estado de fraqueza geral, eu sair de uma crise palúdica com o peso de 39 kg, e ante aquele desafio. Passei a mensagem de um “olho no cigano e outro no burro” e a malta soube descodifica-lo. Seguiu-se uma tentativa de sublevação, que não terá redundado em carnificina por estarmos bem armados e melhor capacitados para passar ao seu o melhor uso (a milícia era dotada de Mauser) e tive de prender literalmente 7 deles e despachá-los para Nova Lamego.

Chegamos à sexta-feira santa, o ambiente serenara, a disciplina regressara, acabara com a discriminação, instituindo rancho igual para todos, reciclando o meio bidão para a sua “bianda” em caldeirão da cozinha comum; tínhamos acabado de almoçar uma caldeirada de peixe bem picante, que mandara recolher no rio, efeito de lançar uma granada ofensiva no troço que me pareceu mais fundo, (ignorava a ecologia), o cabo que acumulava a metralhadora Breda com a cozinha, acabava de nos fazer rir, ao dizer que se lhe arranjássemos um cabrito, cabra ou cabrão, algumas cebolas e alhos, nos faria um estupendo pitéu para o domingo de Páscoa e aproxima-se um ciclista fardado de cipaio, vindo dos lados da Ponte Caium, que declarou arranjar tudo ao mesmo tempo que me dava um discreto sinal para um aparte.
- Ensina-me a andar de bicicleta – disse-lhe.
Montei o selim, com ele a segurá-lo, percorremos um bocado da estrada e ele disse-me:
- Bandido vem atacar na noite de sábado, para vos apanhar à mão.
- Como soubeste?
- Estão em Koundara (base-mãe do PAIGC), soube agora e não disse nada a ninguém.
- Então não digas; eu digo.

Reunidos aos outros dei-lhe 50 pesos por conta desse material, que protestou entregar no dia a seguir, Sábado de Páscoa.
Eu e outros dois fomos dar uma volta de reconhecimento a todo descampado em volta do destacamento. Como a fronteira distava menos de 20 km, calculei a montagem do cerco para a meia-noite de sábado. Os calafrios perseguiam-me; a duas semanas de ir embora teria o azar de defrontar sozinho o experiente ex-camarada Domingos Ramos? Topamos um rolo de arame de tropeçar intacto junto a uns montes de formiga baga-baga e aproveitamos para implantar duas granadas. O arame de tropeçar servirá para armadilharmos um bosque de cajueiros, fronteiro ao estacionamento. Uma dessas granadas rebentou logo ao anoitecer.

Ao fim da manhã do dia seguinte, surgiu-nos o ciclista, então desfardado de cipaio, com uma cabrita, cebolas e alhos, embolsou mais 120 pesos e desandou, e eu pedi-lhe para me deixar uma manga de câmara de ar de bicicleta. Só então decidi comunicar a notícia ao comando.

Na madrugada daquele domingo de Páscoa, os nossos cerca de 20 milícias islamizados começaram a alarmar-se ante visão de “irãos”, quais pirilampos, observados da caixa de carga de uma Mercedes cujo motor fora destruído por uma mina, a servir-nos de posto de observação e de espaldão elevado. E umas morteiradas devidamente calculadas foram suficientes para afugentar esses “irãos”.

Ironias que a vida e as suas circunstâncias tecem. Naquele domingo de Páscoa de 1966, a tropa europeia e os milicianos nativos da guarnição de Camajabá, ao partilhar o almoço de um aprimorado estufado de cabra, não lhes terá passado pela cabeça que a oportunidade fora-lhes propiciada pelo comandante da guerra na Frente Leste – o ex-Furriel Miliciano Domingos Ramos.
E para a malta da CCaç 1418, que nos rendeu em Camajabá. Para que nos terá servido aquele troço da câmara de ar, cedido pelo ciclista? Para herdarem de nós a bateria de chuveiros de banho, que encontraram a funcionar plenamente…

Anos depois, o Moreira contou-me que não regressara a Buruntuma (para não ir para Camajabá), não se tratar da bicharada intestinal, mas porque alguém lhe conseguira para a análise a amostra da merda de um doente verdadeiro e a fizera passar por sua…
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Guiné 63/74 - P15940: Memória dos lugares (338): Cuntima, no meu tempo (ex-1º cabo Vitor Silva, CART 3331, "Os Tigres de Cuntima", 1970/72) - Parte I


Guiné > Região do Oio > Setor de Farim > Cuntima > CART 3331 (1970/72) >"Um dos três obuses [14 cm] que existiam em Cuntima". [Um dos artilheiros que por lá passou foi o Humberto Nunes, ex-alf mil art, 23.º Pel Art, Gadamael e Cuntima, 1972/74; ver aqui o seu álbum de Cuntima]



Guiné > Região do Oio > Setor de Farim > Cuntima > CART 3331 (1970/72) >"Vista panorâmica de Cuntima. Uma povoação com gentes de várias origens (não faltavam os comerciantes libaneses e os gilas)". [Outro camarada nosso que esteve em Cuntima foi o ex-fur mil António Bartolomeu, da CCAÇ  2592 / CCAÇ 14, Cobtuboel, Aldeia Fomosa e Cuntima, 1969/71; diz ele, "em Cuntima éramos um misto de guarda-fiscal e de polícia de fronteiras... Por ali passava um dos corredores do Oio"; a CCAÇ 14 foi rendida pela CART 3331].


Guiné > Região do Oio > Setor de Farim >  Cuntima > CART 3331 (1970/72) > "Posto avançado nº 9. Estive lá de serviço no dia 31 de maio de 1971, no que foi considerado o maior flagelamento IN a Cuntima. As tropas do IN vieram mesmo ao arame farpado".



Guiné > Região do Oio > Setor de Farim > Cuntima > CART 3331 (1970/72) >"Cuntima: reservatórios de água, as duas professoras ao fundo e a casa do agente da PIDE/DGS" [Vd. fotos de 2016, do Patrício Ribeiro (*)]


Guiné > Região do Oio > Setor de Farim > Cuntima > CART 3331 (1970/72) > "Instalações civis ocupadas pela tropa".




Guiné > Região do Oio > Setor de Farim > Cuntima > CART 3331 (1970/72) > "Todas as manhãs,  bem cedo, Cuntima tinha visitantes do Senegal. Uns para fazerem comércio, outros para partir mantenhas com familiares e amigos e muitos outros para serem assistidos no Posto de Socorros pelo Médico e Enfermeiros da Companhia. Estas duas bajudas senegalesas prestaram-se para a fotografia,  à distância conveniente, da máquina e dos militares".



Guiné > Região do Oio > Setor de Farim > Cuntima > CART 3331 (1970/72) > "À hora do petisco"... [Outro camarada desta companhia, e que esteve também em Cuntima,  é o Gumerzindo Silva, ex-soldado condutor auto, hoje a viver na Alemanha]

Fotos e legendas: © Vitor Silva (2008). Todos os direitos reservados.


Vitor Silva, ex-1º cabo, membro da nossa
Tabanca Grande (desde 2007)
Breve historial da CART 3331 (Os Tigres de Cuntima, Cuntima, 1970/72):

(i) Mobilizada pelo RAP 2 (Vila Nova de Gaia);

(ii) chega à Guiné a 19 de dezembro de 1970;

(iii) no dia 21 de dezembro embarca na LDG Alfange com destino ao Centro de Instrução Militar de Bolama, para treino de adaptação ao mato e 2.ª parte da Instrução de Aperfeiçoamento Operacional (IAO);

(iv) a 25 de janeiro de 1971, de novo na Alfange, ruma para Farim onde chega no dia 28 de janeiro;

(v) em Farim participa em algumas ações no mato e na estrada Farim-Jumbembem;

(vi) a 20 de fevereiro, desloca-se em coluna auto, rumo a Cuntima, dependente do BCAÇ 2879, onde vai render a CCAÇ 14;

(vii) a ZA do subsector de Cuntima é extensa: delimitada a norte, numa extensão de aproximadamente 30 km, pela República do Senegal, a este pelo rio Corlá (Sare Dambé Badoral, Sitató, Sinchã Fogã e Sare Tombom), a oeste pela bolanha de Sinchã Massa e a sul pela bolanha de Sinchã Massa e bolanha do rio Norobanta e pelo marco 107;

(viii) na sua maioria a população é de etnia Fula, de religião muçulmana; havia uma pequena minoria Mandinga;

(ix) as acções do IN  irradiam sempre do Senegal, pelo tradicional corredor de Sitató;

(x) as acções contra as NT manifestam-se especialmente por ataques ou flagelações ao aquartelamento, implantação de minas na estrada Farim-Cuntima e, esporadicamente, às colunas de reabastecimentos;

(x) há duas unidades de quadrícula no sector, a CART 3331 e a CCAÇ 2547, ambas instaladas em Cuntima:

(xi) para além da ocupação e defesa do Sector, a sua missão principal é evitar a infiltração do IN para dentro do TO da Guiné;

(xii) a CART 3331 regressa, num avião dos TAM,  à Metrópole no dia 25 de novembro de 1972, com orgulho do dever cumprido;

(xiii) vai ter três comandantes: cap mil Art Manuel Sena Boleo, cap inf Mário José Fernandes Jorge Rodrigues, e cap mil art Armando Pimenta Cristóvão.
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Nota do editor:

Guiné 63/74 - P15939: Inquérito 'on line' (52): XI Encontro Nacional da Tabanca Grande: em 54 respostas, metade (27) diz que já se increveu... 20 não podem ir por razões de saúde, monetárias ou outras... Prazo de resposta ao inquérito termina amanhã, às 7h00

Guiné-Bissau > Cantanhez > Poilão.
Foto: © José Teixeira (2013)
INQUÉRITO: 

XI ENCONTRO NACIONAL DA TABANCA GRANDE, 16/4/2016: EU VOU...


Total de respostas (até hoje) (N=54)

1. Eu vou e já me inscrevi > 27 (50,0%) 

2. Eu vou mas ainda não me inscrevi > 2 (3,7%) 

3. Ainda não sei se posso ir > 3 (5,6%) 

4. Infelizmente não posso ir por razões de saúde > 6 (11,1%) 

5. Infelizmente não posso ir por razões monetárias > 1 (1,8%) 

6. Infelizmente não posso ir por outras razões > 13 (24,1%) 

7. Não estou interessado em ir > 2 (3,7%)

Prazo de resposta ao inquérito: 4ª feira, 6/4/2016, 7h07
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Nota do editor:

Último poste da série > 2 de abril de 2016 > Guiné 63/74 - P15929: Inquérito 'on line' (51): É grande o entusiasmo pelo XI Encontro Nacional da Tabanca Grande, sábado, dia 16, em Monte Real... Estamos à beira de esgotar a lotação da sala... Mas interessa-nos saber a opinião dos que não podem ir, por razões de saúde, monetárias ou outras... Camarada, amigo/a: podes dar a tua opinião até 4ª feira, dia 6, de manhã, respondendo ao nosso inquérito

segunda-feira, 4 de abril de 2016

Guiné 63/74 - P15938: XI Encontro Nacional da Tabanca Grande, Palace Hotel de Monte Real, 16 de Abril de 2016 (3): Actualização das informações e listagem dos 180 inscritos até ao momento



XI CONVÍVIO DA TERTÚLIA DO NOSSO BLOGUE

DIA 16 DE ABRIL DE 2016

PALACE HOTEL DE MONTE REAL

INFORMAÇÃO - ACTUALIZAÇÃO

Chegámos às 180 inscrições, 20 das quais são reservas para a Tabanca de Matosinhos que vai deslocar um grupo de Combatentes daquela cidade.

Porque a Sala de Jantar do Palace Hotel de Monte Real só tem lotação para 200 lugares, lembramos os mais retardatários para a necessidade que têm de se inscreverem com urgência sob pena de não poderem participar no nosso Encontro. Reparamos que alguns dos habituais ainda não têm o seu nome na lista abaixo descriminada. Se algum camarada julga estar devidamente inscrito e não vê o seu nome, é favor reclamar ou mandar a sua inscrição para carlos.vinhal@gmail.com.

Em relação ao último poste, temos a acrescentar a hora da Missa de Sufrágio pelos nossos camaradas e amigos já falecidos, que será às 11h30 de manhã e, muito importante, o prazo para as inscrições, a pedido do Hotel, termina no próximo domingo, dia 10 pelas 12,00 horas.

Pedimos a quem por motivo de força maior não possa comparecer, o favor de nos avisar com a maior brevidade possível para evitar suportar custos ou causá-los aos organizadores do Encontro.


LISTAGEM DOS 180 INSCRITOS

Abel Santos e Maria Júlia - Leça da Palmeira / Matosinhos
Agnelo Macedo e Delfina - Lisboa
Agostinho Gaspar - Leiria
Albano Costa e Maria Eduarda - Guifões / Matosinhos
Almiro Gonçalves e Amélia - Vieira de Leiria / Marinha Grande
Anibal Tavares e Fátima - Santarém
António Dias Pereira e Teresa - Tomar
António Estácio - Algueirão / Sintra
António Faneco e Tina - Montijo
António Fernando Marques e Gina - Cascais
António Garcez Costa - Lisboa
António José Pereira da Costa e Isabel - Mem Martins / Sintra
António João Sampaio e Clara - Leça da Palmeira / Matosinhos
António Luís e Maria Luís - Lisboa
António Manuel S. Rodrigues e Rosa Maria - Oliveira do Bairro
António Maria Silva e Maria de Lurdes - Lisboa
António Martins de Matos - Lisboa
António Santos, Graciela, Sandra, Rui, Catarina e Raquel - Caneças / Odivelas
António Silveira Castro e Maria Domingas - Lisboa
António Sousa Bonito - Carapinheira / Montemor-o-Velho
António Souto Mouro - Paço de Arcos / Oeiras
António Sá Carneiro e Maria de Fátima - Lisboa
António Vieira - Vagos
Armando Nunes Carvalho e Maria Deolinda - Sintra
Armando Pires - Algés / Oeiras

Belarmino Sardinha, Antonieta, Ana e Pedro - Odivelas

C. Martins - Penamacor
Carlos Alberto Cruz, Irene e Paulo - Paço de Arcos / Oeiras
Carlos Cabral e Judite - Mealhada
Carlos Vinhal e Dina - Leça da Palmeira / Matosinhos
Cílio de Jesus Silva - Oliveira do Bairro

David Guimarães e Lígia - Espinho
Delfim Rodrigues - Coimbra

Eduardo Campos - Maia
Ernestino Caniço - Tomar

Fernando de Jesus Sousa e Emília Sérgio - Lisboa
Fernando Sousa e Maria Barros - Trofa
Francisco Baptista - Porto
Francisco Mendes de Almeida - Paço de Arcos / Oeiras
Francisco Oliveira - Lisboa
Francisco Palma - Cascais
Francisco Vilas Boas - Lisboa

Grupo da Tabanca de Matosinhos (20)

Hélder Valério Sousa - Setúbal
Hernâni Torres Alves da Silva e esposa - Lisboa

Idálio Reis - Sete-Fontes / Cantanhede
Isolino Silva Gomes e Júlia - Porto

Joao Sacôto e Aida - Lisboa
Joaquim Carlos Peixoto e Margarida - Penafiel
Joaquim Gomes Soares e Maria Laura - Porto
Joaquim Mexia Alves, Catarina e André - Monte Real / Leiria
Jorge Araújo e Maria João - Almada
Jorge Canhão e Maria de Lurdes - Oeiras
Jorge Loureiro Pinto e Ana Maria - Lisboa
Jorge Rosales - Estoril / Cascais
José António F. Chaves - Paço de Arcos / Oeiras
José António Simões - Montemor-o-Velho
José Armando Almeida - Albergaria-a-Velha
José Barros Rocha - Penafiel
José Casimiro Carvalho - Maia
José Diniz Sousa e Faro - Paço de Arcos / Oeiras
José Fernando Almeida e Suzel - Óbidos
José Leite e Ana Maria - Lisboa
José Macedo e Goretti - Estados Unidos da América
José Manuel Alves e Adelaide- Sintra
José Manuel Cancela e Carminda - Penafiel
José Manuel Lopes e Luísa - Régua
José Manuel Matos Dinis - Cascais
José Maria Nunes Ribeiro e Maria da Glória - Ermesinde
José Miguel Louro e Maria do Carmo - Lisboa
José Rodrigues - Belas / Sintra
Juvenal Amado - Fátima / Ourém

Lucinda Aranha e José António - Torres Vedras
Luís Graça e Alice Carneiro - Alfragide / Amadora
Luís Paulino e Maria da Cruz - Algés / Oeiras
Luís R. Moreira e Irene - Lisboa

Manuel Augusto Reis - Aveiro
Manuel Domingos Santos e Maria Isabel - Leiria
Manuel Gonçalves e Maria de Fátima - Lisboa
Manuel Joaquim - Lisboa
Manuel Lema Santos e Maria João - Massamá
Manuel Lima Santos e Maria de Fátima - Viseu
Manuel Lopes e Hortense Mateus - Monte Real / Leiria
Manuel Resende e Isaura - S. Domingos de Rana / Cascais
Mario Fitas e Helena - Estoril / Cascais
Mario Vitorino Gaspar - Lisboa
Miguel e Giselda Pessoa - Lisboa

Noel Natário - Monte Real / Leiria

Paulo Santiago - Aguada de Cima / Águeda

Ribeiro Agostinho e Elisabete - Leça da Palmeira / Matosinhos
Rogé Guerreiro - Cascais
Rui Gouveia e Eulália - Leiria
Rui Guerra Ribeiro - Rio de Mouro / Sintra
Rui Pedro Silva - Lisboa

Victor Tavares - Recardães - Águeda
Virgínio Briote e Maria Irene - Lisboa
Vítor Manuel Sousa Neto - Figueira da Foz

Mais informações no Poste Guiné 63/74 - P15770: XI Encontro Nacional da Tabanca Grande, Palace Hotel de Monte Real, 16 de Abril de 2016 (1): Primeiras informações e abertura de inscrições
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Nota do editor

Último poste da série de 1 de março de 2016 Guiné 63/74 - P15815: XI Encontro Nacional da Tabanca Grande, Palace Hotel de Monte Real, 16 de Abril de 2016 (2): Lista provisória com os 68 primeiros inscritos

Guiné 63/74 - P15937: Agenda cultura (474): Em Fafe, "terra justa", 4ª feira, dia 6 de abril de 2016: homenagem às nossas camaradas enfermeiras paraquedistas, representadas ao vivo pela Rosa Serra, no âmbito da edição de 2016 do "Terra Justa - Encontro Internacional de Causas e Valores da Humanidade"






Programa do dia 6 de abril de 2016: homenagem às nossas camaradas enfermeiras paraquedistas, representada pela Rosa Serra, nossa grã-tabanqueira, no âmbito da edição de 2016 do "Terra Justa - Encontro Internacional de Causas e Valores da Humanidade". Estava prevista também a presença da da nossa camarada Maria Arminda, tendo sido entretanto cancelada por razões que desconhecemos.

Nesse dia, às 16h00, no Café Shake,  haverá também uma conversa sobre os refugiados, com a presença de Teresa Tito de Morais, cofundadora em 1991 (e hoje presidente) do CPR - Conselho Português para os Refugiados, e ainda de Eugénio Fonseca, presidente da Caritas Portuguesa.

Fonte: Câmara Municipal de Fafe. O programa mais detalhado, em pdf, foi-nos enviado pelo nosso grã-tabanqueiro, amigo e camarada, Jaime Bonifácio Marques da Silva, ex-alf mil para, BCP 21, Angola, 1970/72.

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Nota do editor:

Últimos postes da série > 

1 de abril de 2016 > Guiné 63/74 - P15924: Agenda cultural (471): O Corpo de Enfermeiras Paraquedistas (1961-1974) vai ser homenageado em Fafe, no dia 6 de abril de 2016, 4ª feira, no decurso do evento "Terra Justa 2016" ("II Encontro Internacional de Causas e Valores da Humanidade"). Intervenções (entre outras) das nossas camaradas Maria Arminda e Rosa Serra (Jaime Silva, ex-alf mil para, 1ª CCP / BCP 21, Angola, 1970/72)

Guiné 63/74 - P15936: Notas de leitura (824): “A Guerra na Picada, Moçambique 1970”, por Rodrigues Soares, Chiado Editora, 2014 (1) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 21 de Maio de 2015:

Queridos amigos,
Ocorre-me esporadicamente comparar as diferentes literaturas dos três teatros de operações, encontrar convergências, procurar tocar no fundo nas singularidades de cada uma.
Parti reticente para a leitura de "A Guerra na Picada", um título chocho, incaraterístico, todos nós combatemos em picadas. Aguentei uma toada de enorme sensaboria até chegar ao Cabo Delgado. Aqui as coisas mudaram de figura, as minas, homens e máquinas a explodir tomam conta da nossa respiração.
Admito que se tenha sofrido assim de Madina do Boé até ao Che-Che, na região de Aldeia Formosa, de Guileje a Mejo, mas havia também as emboscadas, aqui não, são minas em cadeia, montadas para que o inferno seja surpreendente. E lembrei-me de Mocímboa da Praia, onde perdi o mais querido dos amigo, o Carlos Sampaio, em 2 de Fevereiro de 1970.

Um abraço do
Mário


Parece que todas as minas do mundo se juntaram no Cabo Delgado (1)

Beja Santos

Sinto a necessidade, com alguma frequência, de comparar o que se escreveu e escreve sobre a guerra da Guiné com os teatros de Angola e Moçambique. Podem os acontecimentos provocar as mesmas emoções, há a similitude e analogias no mau comer, nas tempestades africanas, nos sofrimentos por quem vemos sofrer e morrer, os sentimentos de solidão e de abandono, os mesmos nós na garganta durante os patrulhamentos ou flagelações. Mas há a vastidão dos territórios de Angola e Moçambique, a despeito das selvas luxuriantes da Guiné das rias e dos braços de rios, uma vastidão que é explícita nas longas colunas no Planalto dos Macondes, nos Dembos, nas colinas que se têm que subir a custo, por exemplo.

“A Guerra na Picada, Moçambique 1970”, por Rodrigues Soares, Chiado Editora, 2014: confesso que inicialmente não me empolgou, acho o título inócuo, quem combateu fez a guerra na picada, e grande parte da descrição na fase dos preparativos, me recordou muitos e muitos outros livros de memórias. António Rodrigues Soares nasceu em Penacova, os pais partiram cedo para Moçambique, estudou e viveu em Coimbra, fez a recruta em Santarém e seguiu para o CISMI, em Tavira. Deram-lhe depois guia de marcha para Tancos, vai ser furriel sapador, e depois Bragança. O centro da sua vida é uma moçoila de Coimbra, Olinda. Está a embarcar, pertence ao BART 2901, ruma para Mocímboa da Praia do paquete Império. O seu destino é Nangololo, para os lados de Mueda. Sabemos que os seus pais estão em Moçambique, ainda não sabemos onde.

Desembarcaram em Mocímboa, delineia-se o mapa da guerra: “Só os homens da CART 2647, uns 40 quilómetros mais adiante, num cruzamento referenciado como sendo Oasse, abandonavam a coluna. Seguiam para o aquartelamento de Antadora, uns quilómetros mais adiante, por uma picada que atravessava o rio Lúrio, ligava o Chai a Macomia e continuava para Sul. As restantes companhias do batalhão prosseguiam em frente até Diaca”. Uma viagem que parece interminável, ouve-se também falar em Miteda e Sagal. E nas picadas usam-se laboriosamente ancinhos e picas. Ancinhos que tinham um pente com uns 50 centímetros de largura e um cabo com cerca de 3 metros de comprimentos, totalmente construídos em madeira. Já estamos num cenário bélico: “Aquela picada, a única que atravessava o planalto até Mueda, tinha uma única via. Por ali só transitavam veículos militares. Os rodados eram formados por dois sulcos que a tonelagem das viaturas moldara ao longo de anos. Rodados que era penteados e picados, na tentativa de detetar as minas que os guerrilheiros, dia após dia neles colocavam”. Procuram-se minas anticarro e minas antipessoais. As horas passam, os nervos são tensos, segue-se na orla do planalto e depois há uma descida, chegados ao fundo do declive iniciam a travessia do estreito, sobem para Sagal, veem-se crateras por todo o lado de minas que foram feitas explodir. Assim se percorreram 20 quilómetros até chegar a Sagal. Daqui segue-se para Diaca, vão se ouvindo rebentamentos ao longe, todos anseiam atingir rapidamente Nangololo: “Com muito trabalho e sacrifícios por parte dos militares de Sagal e de Mueda, acabámos por chegar ao nosso destino. No espaço de três quilómetros foram detetadas e neutralizadas 36 minas anticarro”.

O autor apresenta-nos Mueda, a capital da guerra, o melhor aquartelamento de Cabo Delgado, com um efetivo permanente de mais de um milhar de militares de vários ramos, uma boa pista de aviação e hospital.

O leitor prepare-se, porque iremos ouvir muito poucas referências a tiroteio, a emboscadas, a flagelações. É a mina quem está no altar da guerra, a FRELIMO semeia o pânico pondo toda a sorte de explosivos na picada, aquela viagem inicial deu para perceber que explodem viaturas, que se põem 11 minas ligadas em série por cordão detonante, com a sua dimensão trágica: “Quando fosse detetada a última mina da série, a única posicionada nos rodados, e fosse posteriormente neutralizada, esta faria explodir as restantes, colocadas no centro ou na berma da picada, apanhando todo o grupo desprevenido”. Demoraram quatro dias de Mocímboa até Mueda. Há imensa desolação na paisagem de Mueda até Nangololo seriam 40 quilómetros, pernoitaram em Miteda a cerca de 20 e poucos quilómetros de Mueda. Em Miteda são informados de que a guerrilha está assanhada, ali entre os postos 13 e 14, além de minas há emboscadas, ali se cruzam o trilho que passava na zona do Chindorilho e se estendia para Sul, vindo do Rovuma, rio que faz fronteira com a Tanzânia. E entre Miteda e Nangololo veio o batismo de fogo. Em Nangololo há mais gente a partir, os homens da CART 2648 vão para Muidumbe, do lado oposto a Mueda.

É um relato terrível, concentrado em picadas onde ancinhos e picas farejam minas. Os da 2648 começaram mal, cedo tiveram mortos e feridos. O autor descreve o eixo Mueda/Miteda/Nangololo/Muidumbe, estamos em território Maconde e percebemos a relação entre a geografia e a posição militar: “Nangololo, com Muidumbe a nascente e Miteda a poente, era um dos aquartelamentos situados mais a Sul no planalto Central. Do ponto de vista militar, estas três bases estariam por ali sobretudo para entreter a guerrilha”. Porque para o autor a luta era desigual, não havia ali homens suficientes para se fazerem patrulhamentos sistemáticos naquele planalto imenso. E se até agora todas as atenções convergem para as minas, chegou a vez de entrarem em cena as armadilhas. A unidade militar que foram render teria levantado as armadilhas que montara. Entretanto, o capim crescera desmesuradamente, havia novamente que desmatar e colocar novas armadilhas e registá-las. E começam os reabastecimentos, entram em ação os ancinhos e picas. Julga-se ter encontrado um engenho temível, o autor deixa-nos uma descrição singela, podemos senti-lo a suar em bica:
“Aparentava calma, mas todo eu era uma pilha de nervos. Aproximei-me da mina com a ponta de uma pica a zurrar pelo chão. Quando senti bater, debrucei-me para examinar melhor. O meu coração pulsava como o motor de explosão no limite das rotações. Ao de leve, com gestos poucos firmes, foi removendo a areia. Estremeci quando a ponta do dedo tocou numa superfície compacta. Aqui está ela, pensei. Fiz uma pausa. Aproveitei para limpar o suor com a manga do casaco camuflado e respirar fundo. Retomei a remoção da areia, redobrando cuidados, e uma pequena mancha acastanhada começou a aparecer. Era madeira, sem dúvida, tal como o invólucro das PMD 6, russas, que a guerrilha usava. Devia então, com um petardo, fazê-la explodir por simpatia. No entanto, qualquer coisa me dizia que rapasse um pouco mais: ao contrário das minas, a superfície que tateei pareceu-me curva. Assim fiz. A pequena mancha alastrou e surgiu uma figura escura e escamosa. Resultado: a mina pariu uma raiz”.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 1 de abril de 2016 Guiné 63/74 - P15926: Notas de leitura (823): “Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África”, publicação do Estado-Maior do Exército, 1989 (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P15935: (Ex)citações (307): A descolonização da Guiné-Bissau tinha tudo para correr mal (Jorge Sales Golias)


Capa do livro  de  Jorge Sales Golias, "A descolonização da Guiné-Bissau e o movimento dos capitães" (Lisboa, Edições Colibri, 2016)] (*). Reproduzida, com a devida vénia ...





Jorge Sales Golias [ nascido em Mirandela, em 1941, ex-cap eng trms, licenciado em engenhria electrónica pelo IST, membro do MFA, Bissau, adjunto do CEME, gen Carlos Fabião em 1974/75, cor trms ref, administrador de empresas; vai lançar, no próximo dia 14, o seu livro "A descolonização da Guiné-Bissau e o movimento dos capitães" (Lisboa, Edições Colibri, 2016)] (**)

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Notas do editor:

(*) Vd, poste de 3 de abril de 2016 > Guiné 63/74 - P15932: Agenda cultural (472): sessão de lançamento do livro de Jorge Sales Golias, "A descolonização da Guiné-Bissau e o movimento dos capitães" (Lisboa, Edições Colibri, 2016, 385 pp.), dia 14 de abril de 2016, 5ª feira, às 18h, na Comissão Portuguesa de História Militar, Palácio da Independência, largo de São Domingos, 11, Lisboa. Prefácio: cor Carlos Matos Gomes; apresentação: cor Aniceto Afonso

(**) Último poste da série > 29 de março de 2016 >  Guiné 63/74 - P15911: (Ex)citações (306): A propósito da última troca de prisioneiros, em Aldeia Formosa, no dia 14 de setembro de 1974....Prisioneiros, não, "retidos pelo IN"...

Guiné 63/74 - P15934: Parabéns a você (1058): António Dias, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2406 (Guiné, 1968/70); Agostinho Gaspar, ex-1.º Cabo Mec Auto do BCAÇ 4612/72 (Guiné, 1972/74); Hernâni Acácio Figueiredo, ex-Alf Mil TRMS do BCAÇ 2851 (Guiné, 1968/70) e José Eduardo Reis Oliveira, ex-Fur Mil Enf da CCAÇ 675 (Guiné, 1963/65)




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Nota do editor

Último poste da série de 3 de Abril de 2016 Guiné 63/74 - P15930: Parabéns a você (1056): Álvaro Vasconcelos, ex-1.º Cabo Transmissões do STM/CTIG (Guiné, 1972/74)

domingo, 3 de abril de 2016

Guiné 63/74 - P15933: Agenda cultural (473): Integrada no 15.º Ciclo das Tertúlias Fim do Império, dia 7 de Abril de 2016, pelas 18 horas, apresentação do livro "Ten. General Tomé Pinto - O Capitão Quadrado", no Palácio da Independência, em Lisboa (Manuel Barão da Cunha)



 


Em mensagem do dia 30 de Março de 2016, o nosso camarada Manuel Barão da Cunha, Coronel de Cav Ref, que foi CMDT da CCAV 704 / BCAV 705, Guiné, 1964/66, dá-nos notícia da apresentação do livro "Ten. General Tomé Pinto - O Capitão Quadrado", integrada no 15.º Ciclo de Tertúlia Fim do Império.




15.º CICLO DE TERTÚLIAS FIM DO IMPÉRIO 
LISBOA

PALÁCIO DA INDEPENDÊNCIA
07 DE ABRIL DE 2016
18,00 HORAS

Apresentação do livro "Ten. General Tomé Pinto - O Capitão Quadrado".
Estarão presentes: o biografado, a escritora Sarah Adamopoulos e o General António Ramalho Eanes que prefaciou o livro.
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Nota do editor

Último poste da série de 3 de abril de 2016 Guiné 63/74 - P15932: Agenda cultural (472): sessão de lançamento do livro de Jorge Sales Golias, "A descolonização da Guiné-Bissau e o movimento dos capitães" (Lisboa, Edições Colibri, 2016, 385 pp.), dia 14 de abril de 2016, 5ª feira, às 18h, na Comissão Portuguesa de História Militar, Palácio da Independência, largo de São Domingos, 11, Lisboa. Prefácio: cor Carlos Matos Gomes; apresentação: cor Aniceto Afonso

Guiné 63/74 - P15932: Agenda cultural (472): sessão de lançamento do livro de Jorge Sales Golias, "A descolonização da Guiné-Bissau e o movimento dos capitães" (Lisboa, Edições Colibri, 2016, 385 pp.), dia 14 de abril de 2016, 5ª feira, às 18h, na Comissão Portuguesa de História Militar, Palácio da Independência, largo de São Domingos, 11, Lisboa. Prefácio: cor Carlos Matos Gomes; apresentação: cor Aniceto Afonso




Convite para a sessão de lançamento do livro de Jorge Sales Golias, "A descolonização da Guiné-Bissau e o movimento dos capitães" (Lisboa, Ed Colibri, 2016, 385 pp.),, dia 14 de abril de 2016, 5ª feira, às 18h, na CPHM - Comissão Portuguesa de História Militar, Palácio da Independência, Largo de São Domingos, 11, Lisboa.

Prefácio: cor Carlos Matos Gomes; apresentação: cor Aniceto Afonso; sessão presidida por gen Alexandre Sousa Pinto (presidente da CPHM)


1. Mensagem do nosso leitor (e camarada)  Jorge Sales Golias [ ex-cap, eng trms, membro do MFA, Bissau, adjunto do CEME, Gen Carlos Fabião - 1974/75, cor trms ref, administrador de empresas]

Data: sábado, 2 de Abril de 2016 19:29

 Assunto: A Descolonização da Guiné-Bissau


Exmo Senhor Dr. Luís da Graça,

Na qualidade de autor do melhor blogue sobre a guerra colonial, venho convidá-lo a assistir ao lançamento do livro "A Descolonização da Guiné-Bissau", da minha autoria e pedir-lhe que divulgue o evento e o livro no seu blogue.

O livro tem 385 páginas, das quais 100 de documentos, fotos e imagens (com desenhos do António Carmo, feitos para o efeito), cita cerca de 400 nomes (dos quais cerca de 70 da Guiné) e tem 275 notas de rodapé. O prefácio, de Carlos de Matos Gomes, é uma magnífica peça de contextualização histórica.

Na circunstância, apresento-lhe os meus melhores cumprimentos,

Jorge Sales Golias





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Nota do editor:

Guiné 63/74 - P15931: Manuscrito(s) (Luís Graça) (81): Se de amor fosse essa pena, / P’la minha pátria encantada, /Teria valido a pena / De tanto penar por nada.

Glosando o tema 
"Castelo da Pena" (*)


por Luís Graça (**)








Que crime para tantas penas ?
Degredado, fui à guerra,
Eu e muitos, às centenas,
Soldados da minha terra.

A Guiné foi o nosso degredo,
Só bolanhas e picadas,
Muita dor, tudo em segredo,
Nas almas armadilhadas.

Se de amor fosse essa pena,
P’la minha pátria encantada,
Teria valido a pena
De tanto penar por nada. 

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 2 de abril de 2016 > Guiné 63/74 - P15927: Blogpoesia (442): "Castelo da Pena", de J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

Valdemar Silva disse...

Com as minhas penas
voei, até à Pena.
Da Pena do D. Fernando
voei à pena do castelo dos mouros.
E fui voando, pra outras Penas.
Penaferrim, Penafiel, Penamacor,
Penalva, 

e voei até penhas e penhascos.
Penha Garcia, Penhascoso e cheguei.
Cheguei à Penha, em Guimarães,
terra do meu pai.
Há mais de sessenta anos que lá não ia.

Só os poemas (e as penas)
nos fazem voar.

Obrigado, J. L. Mendes Gomes.

Guiné 63/74 - P15930: Parabéns a você (1057): Álvaro Vasconcelos, ex-1.º Cabo Transmissões do STM/CTIG (Guiné, 1972/74)

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Nota do editor

Último poste da série de 1 de Abril de 2016 Guiné 63/74 - P15923: Parabéns a você (1055): Carlos Pedreño Ferreira, ex-Fur Mil Op Especiais do COMBIS e COP 8 (Guiné, 1971/73)