quarta-feira, 4 de maio de 2016

Guiné 63/74 - P16047: Historiografia da presença portuguesa em África (71): Com as duas grandes crises demográficas, provocadas pela seca e a fome, de 1941-43, e de 1947-1949, Cabo Verde perdeu cerca de 1/4 da sua população (que baixa de 181 mil em 1940, para c. 139 mil em 1949)



 
MEDINA, Lia - Evolução demográfica da Ilha de São Vicente: do descobrimento a 1950 [Em linha]. Lisboa: ISCTE, 2009. Dissertação de mestrado. [Consult. 2 de maio de 2016] Disponível em www:.




Excerto, com a devida vénia, das pp. 20-21. Informação adicional poste P16045 (*). 

Lia Medina pertence à nossa Tabanca Grande desde 27/972009. É cabo-verdiana, filha de mãe portuguesa, socióloga, e professora do ensino superior no Mindelo. Ainda não lhe tínhamos dado os parabéns pela conclusão do mestrado em Demografia e Sociologia da População, pelo ISCTE-IUL, Instituto Universitário de Lisboa. Aproveitamos também para saudar o nosso grã-tabanqueiro Adriano Lima, cor inf ref,  que se tem interessado pela historiografia das tropas expedicionárias portuguesas em Cabo Verde durante a II Guerra Mundial.



Foto nº 1


Foto nº 2

Cabo Verde >Ilha de São Vicente > 2006 > Ponta João Ribeiro >  Restos da baterias de artilharia de costa que, a par da instalada no Morro Branco, defendia o Mindelo, de acordo com o Plano de Defesa do Porto Grande de S. Vicente, ao tempo da II Guerra Mundial (**). A Ponta João Ribeiro fica hoje a 3 km da cidade do Mindelo, na parte da ilha, dividindo o canal de São Vicente e a Baía do Porto Grande  (Foto nº 1). Em frente, a menos de 1km, situa-se o ilhéu dos Pássaros (Foto nº 2).

Fotos: © Lia Medina (2009) / Blogue Luís Graça & Caranaras da Guine. Todos os direitos reservados

___________________

Notas do editor:

(*) Último poste da série > 3 de maio de 2016 > Guiné 63/74 - P16045: Historiografia da presença portuguesa em África (70): Vozes do império que não chegavam ao céu: António de Almeida, antropólogo e deputado à Assembelia Nacional: intervenção, antes da ordem do dia, por mor de Cabo Verde, em 24 de fevereiro de 1944

Guiné 63/74 - P16046: Parabéns a você (1074): José Martins Rodrigues, ex-1.º Cabo Aux Enfermeiro da CART 2716 (Guiné, 1970/72)

____________

Nota do editor

Último poste da série de 3 de maio de 2016 Guiné 63/74 - P16043: Parabéns a você (1071): António Estácio, escritor guineense, Amigo Grã-Tabanqueiro e Delfim Rodrigues, ex-1.º Cabo Aux Enfermeiro da CCAV 3366 (Guiné, 1971/73)

terça-feira, 3 de maio de 2016

Guiné 63/74 - P16045: Historiografia da presença portuguesa em África (70): Vozes do império que não chegavam ao céu: António de Almeida, antropólogo e deputado à Assembelia Nacional: intervenção, antes da ordem do dia, por mor de Cabo Verde, em 24 de fevereiro de 1944




Folha de rosto do Diário das Sessões, nº 48, de 25 de fevereiro de 1944, 


1. António de Almeida (Penalva do Castelo, 1900 - Lisboa, 1984)

(i) professor, antropólogo e político português: foi, entre 1938 e 1957, deputado à Assembleia Nacional,pela União Nacional, o partido (único) do Estado Novo;

(ii) nasceu a 21 de agosto de 1900, em Sezures, em Penalva do Castelo, no distrito de Viseu;

(iii) formado em Medicina, exerceu medicina escolar e foi professor na Universidade de Lisboa e no Liceu Normal (Pedro Nunes);

(iv)  fez um pós-graduação na Escola de Medicina Tropical e na Escola Superior Colonial; doutorou-se em medicina pelo Instituto de Medicina Tropical (IMT);

(v) beneficiou, em 1934, de uma bolsa da Junta de Educação Nacional;

(vi)  dois anois depois, realizou trabalhos antropológicos em Angola e, a partir de 1935, foi lecionar Quimbundo e também Etnologia e Etnografia Colonial, na Escola Superior Colonial;

(vii) dirigiu o Centro de Estudos de Etnologia do Ultramar:

(viii)  participou em várias expedições antropológicas e etnológicas nas colónias portuguesas;

(ix) a partir de 1953 até 1954, chefiou a missão antropológica de Timor, acompanhado, entre outros, do antropólogo Mendes Correia e do poeta e investigador Ruy Cinatti;

(x) como antropólogo salientou, "com muita minúcia, nos seus estudos, a diversidade étnica dos povos, a vida cultural e social e a fisiologia e carácter dos indígenas";

(xi) "as suas publicações, escritas para um grande público ou para congressos internacionais, serviram para criar e fortalecer a imagem do trabalho científico dos portugueses nas colónias";

(xii) em 1970, foi jubilado do Instituto Superior de Ciências Sociais e Política Ultramarina (ISCSPU), onde lecionou as matérias de Etnologia do Ultramar Português e de Antropobiologia;

(xiii) enquanto professor, "preocupou-se com o ensino colonial, tanto no estrangeiro, como em Portugal, e expôs várias medidas que permitiriam reformar a instrução ultramarina";

(xiv) faleceu a 16 de novembro de 1984, em Lisboa.

Fonte. Adapt de António de Almeida. In Língua Portuguesa com Acordo Ortográfico [em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2016. [consult. 2016-05-03 10:37:58]. Disponível na Internet: http://www.infopedia.pt/$antonio-de-almeida,4



Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Baía do Mindelo > c. 1943/44 > A foto não tem referências a datas mas é visível tratar-se do [navio] Colonial [, ainda a navegar no final dos anos 40]. Foto do álbum do Hélder Sousa (*)

Foto: © Hélder Sousa (2009). Todos os direitos reservados.

_______________


III legislatura (1942-1945) > 2ª sessão legislativa (1943-44)

Castilho, J. M. Tavares – Almeida, António de. In: Os deputados à Assembleia Nacional: biografia e carreira parlamentar. [Em linha] Lisboa: Assembleia da República. [Consult em 2 de maio de 2016],. Disponível em http://app.parlamento.pt/PublicacoesOnLine/DeputadosAN_1935-1974/html/pdf/a/almeida_antonio_de.pdf

Excerto de intervenão, antes da ordem do dia, em 24 de fevereiro de 1944, do depuitado António de Almeida,  referindo-se ao decreto-lei nº 33.508 que autorizava o governo a enviar a Cabo Verde uma missão técnica  "com o propósito de estudar e resolver os problemas relativos à construção e melhoramento das estradas, ao aproveitamento de recursos hidráulicos e ao revestimento florestal". Diário da Sessões, nº 48, pp. 65-66. Reproduzido com a devida vénia. Revisão e fixação de texto., (ª*) LG.


65 DIÁRIO DAS SESSÕES - N.º 48

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado António de Almeida.

O Sr. António de Almeida: - Sr. Presidente: durante a interrupção dos trabalhos da Assembleia Nacional o Governo publicou, pelo Ministério das Colónias, um importantíssimo diploma, cuja futura e benéfica repercussão económica e social consideravelmente se há-de fazer sentir no Arquipélago de Cabo Verde, ao qual se destina tão oportuna disposição legislativa. Refiro-me ao decreto-lei n.° 33.508, que autoriza o Governo a organizar e a enviar às terras crioulas uma missão técnica com o propósito de estudar e resolver os problemas relativos à construção e melhoramento das estradas, ao aproveitamento de recursos hidráulicos e ao revestimento florestal.

Sr. Presidente: descobertas há cerca de quinhentos anos pelos nossos navegadores, as desabitadas ilhas de então cedo constituíram objeto da nossa intensiva ação colonizadora; porém, a partir do domínio castelhano inicia-se a via dolorosa da população caboverdeana - ainda hoje não terminada -, parecendo que os agentes adversos, humanos e meteorológicos, se têm conluiado para molestar esta valiosa parcela do nosso Império de além-mar.

66 DIÁRIO DAS SESSÕES - N.º 48

Assim, até ao final do século XVIII, as ilhas não mais deixaram de ser alvo de persistentes assaltos dos corsários estrangeiros; algumas erupções do fumegante vulcão do Fogo projetaram suas lavas devastadoras a grandes distâncias; uma pavorosa inundação arrastou para o mar um quarteirão completo da vila da Ribeira Grande, a capital de outrora; e, por seu lado, no século XIX, os governos da metrópole alhearam-se dos assuntos cabo-verdianos, em virtude de, primeiramente, andarem empenhados em expulsar os franceses e depois por serem possuídos pela preocupação obsessiva de implantar entre nós as recém-importadas ideias liberais.

Para cúmulo da desventura surgem, temporariamente, as horrorosas crises alimentares, que, persistindo até aos nossos dias, irão vitimar muitas dezenas de milhar de pessoas e de animais: três grandes períodos de fome no século passado e já outros tantos no atual - em 1903, em 1921 e o último há três anos apenas; e para ensombrar mais este quadro de infortúnio, em 1856, uma mortífera epidemia de cholera morbus dizima famílias inteiras, ficando desertas muitas aldeias da Ilha de S. Nicolau.

Sr. Presidente: a ação erosiva dos homens e dos animais - especialmente os milhares de cabras domésticas e selvagens que, na maior liberdade, vagueiam pelo Arquipélago - tem auxiliado enormemente a repetição das vagas de miséria, motivando profundas alterações meteorológicas, derivadas da destruição contínua e desorientada das espécies botânicas que cobriam as ilhas até à data do seu descobrimento; e haveremos apontado as principais origens das calamidades cabo-verdianas se acrescentarmos as violentas lestadas, que, acelerando a desarborização, comprometem a pluviosidade e, por conseguinte, condicionam a escassez de água, com prejuízo grave para o clima e para a vida e bem-estar da gente crioula.

Frequentemente, também, se tem imputado à imperfeita divisão da propriedade, ao primitivismo de processos agronómicos utilizados pelos naturais e à sua indolência uma cota parte das causas dos males que afetam o Arquipélago. Se, com efeito, o cabo-verdiano não sabe ainda tirar da terra tudo o que esta lhe pode oferecer, no entanto numerosas pessoas, no tempo das lavouras, mourejam nos campos ingratos e ressequidos, desenvolvendo esforços pertinazes e admiráveis; outras dedicam-se afanosamente às labutas da pesca marítima, laboram nos trapiches ou engenhos do açúcar, nas fábricas de conservas de peixe e de manipulação de tabaco e na indústria salineira, quando não se ocupam no transporte de pesados fardos, à cabeça e a pau e corda, por carreiros alcantilados, pedregosos e difíceis, tão característicos destas acidentadas ilhas.

E se seus habitantes não conseguem empregar-se na terra-mãe e arranjam possibilidades de emigrar, fazem-no de preferência para as colónias portuguesas de África, Américas e ilhas de Sandwich, territórios onde são apreciados condignamente, tanto pelo seu amor ao trabalho como pelas qualidades morais e intelectual que possuem.

Ultimamente, e por causa da guerra, as dificuldades dos caboverdeanos aumentaram extraordinariamente; a falta de navios mercantes estrangeiros que, antes do conflito e não obstante a temerosa competição das Canárias e de Dakar, se serviam dos seus portos a fim de se abastecerem de alimentos frescos e de combustíveis, junta a outros fatores de esmorecimento comercial, concorre bastante para o estado de depressão económica em que o Arquipélago se encontra.

Sr. Presidente: o Governo, após a elaboração de demorado e indispensável plano de obras - para o qual preponderantemente contribuiu a visita a Cabo Verde do ilustre Ministro das Colónias, realizada em 1942 -, conhecendo minuciosa e perfeitamente todas as circunstâncias, propõe-se enfrentar satisfazer as mais instantes necessidades da colónia e estimular o seu progresso, promovendo, tanto quanto humanamente for possível, a extinção ou a neutralização das crises de fome que, de onde em onde, apoquentam os naturais.

No notabilíssimo relatório que acompanha o decreto-lei n.° 33.508, em síntese magistral, focam-se as múltiplas facetas dos problemas postos em equação: construção de estradas e caminhos de montanha e beneficiamento das vias existentes, poucas e mal conservadas; aproveitamento da água das ribeiras, das nascentes e do subsolo, quer para abastecimento de água potável às povoações e para os serviços de salubridade pública, quer para regas, favorecendo a fertilidade dos terrenos e melhoria da produção; e, finalmente, a intensificação do repovoamento florestal, tarefa basilar, sem a qual não se obterão regularidade de chuvas, abundância de água e benefício do clima.

É a primeira vez, Sr. Presidente, que as ilhas crioulas veem as suas questões vitais tratadas em conjunto pela metrópole, com o carinho, inteligência e bom senso que há tanto tempo reclamavam o portuguesismo dos cabo-verdianos e o excecional valor político e estratégico da posição do Arquipélago no Atlântico. (Ao fazer esta afirmação não pretendo esquecer as diferentes tentativas parcelares, e que por isso resultaram infrutíferas, ensaiadas em favor de Cabo Verde).

A par das indicações de carácter administrativo e técnico e dos patrióticos fins a atingir pela missão, e com a maior brevidade - no diploma declara-se que as obras começarão a executar-se imediatamente após a conclusão dos trabalhos de gabinete e dentro de um prazo que nunca excederá dezoito meses -, a presente medida legislativa contém nova e excelente doutrina que enche de contentamento não só os cabo-verdianos como ainda todos quantos se entregam ao estudo dos seus problemas.

Sr. Presidente: a demonstrar, por forma objetiva e insofismável, que «ali também é Portugal», o Governo da Nação, depois de haver preparado, convenientemente, um plano de trabalhos, vai ordenar o respetivo estudo in loco, em condições análogas às que, em matéria de obras públicas, se estão pondo em prática nas ilhas adjacentes, o que equivale a dizer que os encargos da missão correm por conta da Mãe-Pátria, talqualmente o que acontece com as missões técnicas enviadas à Madeira e aos Açores.

Contudo, não é a liberalidade financeira do Governo central que deve impressionar, mais em especial esta nobilíssima atitude, de incalculável significado político, nacional e internacional, no momento presente, traduz absoluta garantia e certeza indubitável da dedicação e interesse que a Nação vota às ilhas, de Cabo Verde, aproximando-as espiritualmente cada vez mais da metrópole, colocando-as em situação moral semelhante à das ilhas adjacentes - o caminho natural para a respetiva identidade de regimes administrativos, a aspiração máxima dos portugueses de lei que são todos os filhos do Arquipélago, completamente integrados na civilização ocidental e cristã, inteiramente assimilados ao nosso espírito, à cultura lusitana.

Tenho dito.

2. Comentário do editor LG:

É um texto de um grande cinismo ou de uma grande ingenuidade. O médico e professor de antropologia colonial António de Almeida fala-nos da grande tragédia que foi, afinal,  a sociedade esclavagista de Cabo Verde, e das grandes secas e fomes que dizimaram a sua população ao longo dos séculos.  Mas é incapaz de dar conta do germes do nacionalismo que começam a despontar, no início dos anos 30 do séc. XX, muito antes de Amílcar Cabral, guinéu de origem caboverdiana. É verdade que, com a I República, as gentes de Cabo Verde foram os primeiros, de entre as populações africanas, a aceder ao estatuto de cidadania portuguesa. Mas como é que se podia, em 1944,evocar genuíno e arreigado o portugesismo dos cabo-verdianos. e "demonstrar de forma objetiva e insofismável", que 'ali também é (era) Portugal', quando o auxílio de Salazar chegava tarde e a mais horas ? Mais fizeram, isso sim,  os "expedicionários" que, como o meu pai, Luís Henriques (1920-2012)  ou o pai do Hélder Sousa, Ângelo Ferreira de Sousa (1921-2001), ou o pai do Luís Dias, Porfírio Dias (1919-1988),  ou o capitão médico José Baptista de Sousa (1904-1967), Chefe dos Serviços Cirúrgicos das Forças Expedicionárias de Cabo Verde, organizaram, livre e espontaneamente, campanhas de socorro à população das ilhas (, nomeadamente da ilha de São Vicente onde se concentrou o grosso das NT durante a II Guerra Mundial).
______________

Notas de leitura:

Guiné 63/74 - P16044: Caderno de Notas de um Mais Velho (Antº Rosinha) (44): Os desentendimentos constantes entre alguns PALOP e Portugal... A luta continua.!...

1. Mensagem de António Rosinha;

[um dos nossos 'mais velhos', que andou por Angola, nas décadas de 50/60/70, do século passado... Fez o serviço militar em Angola, foi fur mil, em 1961/62, diz que foi 'colon' até 1974... 'Retornado', andou por aí (, com passagem pelo Brasil), até ir conhecer a 'pátria de Cabral', a Guiné-Bissau, onde foi 'cooperante', tendo trabalhado largos anos (1987/93) como topógrafo da TECNIL, a empresa que abriu todas ou quase todas as estradas que conhecemos na Guiné, antes e depois da 'independência'; é colunista do nosso blogue com a série 'Caderno de notas de um mais velho']

Data: 22 de abril de 2016 às 22:32

Assunto: Os desentendimentos constantes entre alguns PALOP e Portugal... A luta continua!


Lembramo-nos há uns anos no Estádio do Sporting do encontro "amigável" da Selecção Portuguesa e da Angolana com as canelas do Figo e do João Pinto e Cia, de um lado e do outro, Mantorras e as canelas dos "Meninos do Huambo".

Aquilo deu para o torto, e já não havia mais bola, só havia canelas.

Isto é um exemplo para se  tentar compreender  porquê, tantos desentendimentos entre nós e eles/eles e nós.

Podemos afirmar à partida, que é difícil vencer  complexos  e  melindres.

E os piores complexos, são provocados pelo facto de os políticos portugueses só falarem português, não sabem falar nem quimbundo, nem balanta nem landim, daí não entenderem nada de nada, mesmo com 500 anos  a ir e a vir.

E  os políticos desses países africanos, todos falam português mais os próprios idiomas, portanto têm  muito mais acuidade para dar a volta aos acontecimentos e defender e usar qualquer tipo de verdades  que entenderem, mesmo que sejam demagogias puras.

Já houve atritos e dificuldades de entendimento diplomático com Angola, com a Guiné e com Moçambique por várias vezes, desde as independências até hoje.

Aparecem os casos mais incríveis, que até parece  que nos damos todos "irmamente como inimigos"

Sendo que o relacionamento com Angola, o mais intenso com Portugal, é o mais notório.

Exemplos imensos, foram casos para resolver a devolução da Barragem Cabora Bassa aos Moçambicanos, vários anos e vários governos com avanços e recuos  intermináveis e montes de prejuízo para quem tinha os custos da manutenção da barragem (Portugal)

Com a Guiné também problemas múltiplos (Por amor a L. Cabral, contra Nino, zanga por M. Soares reclamar contra os fuzilamentos, tensões com a Guiiné/ Senegal em 1998,  e ainda há dois ou três anos, por causa de Cadogo, quase de relações cortadas).

Com Angola, é um caso mais bicudo, porque quanto maior a nau, maior a tormenta. Se durante a guerra angolana, algum político português apoiava um dos  lados, o outro reclamava que os portugueses ainda se " julgam"  imperialistas, racistas e colonialistas, e vice-versa, vira  o disco e toca a mesma.

Veio a paz, e agora, se não é o BESA  é outro banco qualquer, e se não é o Bloco é o Luaty, e se não é a Isabel  são os Espanhóis,  e se não houver mais nada para  discutir, põe-se em cima da mesa o racismo tuga, se este seria melhor ou pior que o apartheid dos outros colonialistas.

Este eterno complexo da " incipiente" colonização/exploração portuguesa que deixa complexados colonialistas e colonizadores, que nalguns casos nem  sabemos bem quem é que esteve de um lado ou do outro, quem é que explorou quem,  se   o preto ou o branco em África se o brasuca ou o portuga no Brasil, e é tal o complexo, que no fim de cada melindre diplomático fica-se sempre naquela do "pergunta o roto ao nu" porque não te vestes tu?

É muito difícil aos governos portugueses, uns a traz dos outros, evitares estes e outros constantes atritos com os governos do MPLA, PAIGC, e FRELIMO,  e ninguém se questiona porquê.

Quando as respostas seriam simples, muito simples, sendo que a principal é a falta de saber falar de igual para igual, quer de um lado quer do outro.

Mas a maior dificuldade está do lado português porque a maioria dos políticos portugueses, sem sentirem, estão muito virados para a Europa e de costas para os nossos 500 anos de Ultramar.

Esta minha conversa é conversa de RETORNADO, que voltarei ao tema , se interessar ao blogue, pois há muitas desmistificações a fazer com as demagogias dos anti-colonialismos demagógicos que baralharam todas as partes.

Até à próxima se o assunto interessar para a história da guerra da Guiné, porque "a luta continua" e está para durar.

Cumprimentos

Antº Rosinha

__________________

Guiné 63/74 - P16043: Parabéns a você (1073): António Estácio, escritor guineense, Amigo Grã-Tabanqueiro e Delfim Rodrigues, ex-1.º Cabo Aux Enfermeiro da CCAV 3366 (Guiné, 1971/73)


____________

Nota do editor

Último poste da série de 1 de maio de 2016 Guiné 63/74 - P16035: Parabéns a você (1070): José Carlos Neves, ex-Soldado TRMS do STM/CTIG (Guiné, 1974) e Manuel Luís Lomba, ex-Fur Mil Cav da CCAV 703 (Guiné, 1964/66)

segunda-feira, 2 de maio de 2016

Guiné 63/74 - P16042: Nota de leitura (835): Os navegadores que antecederam a nossa chegada à Guiné (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 16 de Junho de 2015:

Queridos amigos,
É preciso saber muitíssimo da historiografia dos Descobrimentos e ter um raro talento de comunicar para o leigo e Luís de Albuquerque recebeu o prémio de consolação com esta edição extraordinária, injustamente esquecida. Faz parte, este empreendimento, dessa década saudosa em que o Círculo de Leitores se transformara na mais importante oficina editorial da cultura portuguesa. Cingimos a recensão às navegações que levam, em concreto, ao conhecimento das terras da Guiné, Diogo Gomes fala no Rio de S. Domingos, o relato é inequívoco sobre a nossa presença, pela primeira vez chegava-se por barco a um território que irá ser conhecido como a Grande Senegâmbia.

Um abraço do
Mário


Os navegadores que antecederam a nossa chegada à Guiné

Beja Santos

“Navegadores, Viajantes e Aventureiros Portugueses, Séc. XV e XVI”, pelo historiador Luís de Albuquerque, foi um dos grandes acontecimentos editoriais de 1987, empreendimento do Círculo de Leitores, edição comemorativa do V Centenário dos Descobrimentos Portugueses. Raras vezes se editou com tantíssima qualidade, com tanto rigor e acerto gráfico, numa comunicação científica bem acessível ao leitor indocumentado. Neste primeiro volume, Luís de Albuquerque convida-nos a conhecer o Infante D. Pedro, o das Sete Partidas do Mundo, Gil Eanes, João Fernandes, Nuno Tristão, Diogo da Azambuja, Diogo Gomes, Diogo Cão, Pêro da Covilhã, Bartolomeu Dias, Vasco da Gama, Martim Lopes, Pedro Álvares Cabral, Gaspar Corte-Real, Duarte Pacheco Pereira, D. Francisco de Almeida e António Fernandes. E o autor começa por perguntar: “Por onde andaram os portugueses dos séculos XV e XVI? Que caminhos seguiram e que dificuldades encontraram? Que novidades trouxeram ao conhecimento de uma Europa inquieta mas interessada?”.

Gil Eanes, natural de Lagos, foi o primeiro que passou o Cabo Bojador e lá tornou outra vez, com Afonso Gonçalves de Baldaia, escreve Azurara na Crónica da Guiné. Gil Eanes era escudeiro do Infante D. Henrique e em 1433 segue numa barca com a incumbência de dobrar o Bojador, o que não aconteceu, não chegou mais que às ilhas de Canária. Temos nova tentativa e Gil Eanes, como disse uma vez o poeta João José Cochofel “abriu a porta ao mistério”, em 1434. As caravelas vão continuar a partir de Lagos, uma dessas viagens tem como Capitão Lançarote, cavaleiro e almoxarife de Lagos, a exploração da costa africana sistematiza-se. Azurara, na sua Crónica encontra três razões para estas armadas: eram viagens exclusivamente de reconhecimento, em que se procurava navegar além do ponto antes atingido; viagens em que por ordem expressa de D. Henrique, ou do seu irmão D. Pedro, os navegadores eram obrigados a cumprir determinadas missões de reconhecimento; eram viagens que tinham por único objetivo o comércio, o assalto a populações ribeirinhas e a captura de escravos. Gil Eanes deu o primeiro passo para essa grande aventura do saber geográfico.

O que sabemos de Nuno Tristão é o que sobre ele escreveu Azurara. Iniciou-se nas navegações em 1441 ou 1442. A Nuno Tristão foi entregue uma caravela armada com um mandado do infante de passar além da Pedra da Galé o mais longe que pudesse, assim se continuava a exploração da costa ocidental africana e a captura de mouros ou de negros. Nuno Tristão encontrou-se com Antão Gonçalves, no Rio do Ouro. O facto foi assinalado na cartografia com o topónimo Porto do Cavaleiro, pois Antão Gonçalves foi aqui armado cavaleiro por Nuno Tristão.

Em 1443, Tristão parte com a incumbência de navegar para Sul do Cabo Branco, regressa sem ter alcançado a tal missão, e em 1445 ou 1446 dirigiu-se numa caravela para a Ilha das Garças, não longe de Arguim. Azurara informa-nos que a sua caravela chegou até uma terra que “viram acompanhada de muitas palmeiras e outras árvores grandes e formosas”. À procura de presas em terra, desembarcaram dispostos a assaltar uma povoação, tudo irá correr mal, muitos irão morrer envenenados por flechas. Esta é a primeira viagem de que há notícia segura do regresso ter sido feito pelo largo do Atlântico, para contornar ventos e correntes, nas carreiras da Guiné, da Mina e da Índia. Assim se descobria a “volta pelo largo”, fundamental para o domínio do Atlântico.

Observa Luís de Albuquerque que Diogo Gomes representa o caso típico do navegador, mercador e aventureiro português do século XV que andou pelo mar desde os tempos do Infante até os de D. João II, e que teve a boa sina de contar as suas aventuras ao alemão Martinho da Boémia, que as registou para a posteridade, designada por Relação. D. Henrique deu-lhe o comando da armada, era uma frota constituída por várias caravelas, mais uma vez com a missão de perlustrar a costa até o mais a Sul que lhes fosse possível. Passaram para além do rio de S. Domingos (identificado como o rio Cacheu por Teixeira da Mota) o Rio Francaso, “para lá do Rio Grande”, onde sofreram grandes correntes em consequência do macaréu, temos aqui descrições de enorme vivacidade. Procurou o local onde fora chacinado Nuno Tristão e subiu o rio até Cantor, e aí procurou informações sobre Tombuctu, o importante nó das caravanas de mercadores que por terra se aventuravam até ao interior de África. E recolheu dados com interesse para o conhecimento geográfico. Contudo, o texto da Relação presta-se em inúmeras especulações, Gomes acompanhava-se de um guia que falava as línguas da Senegâmbia, o que era de estranhar. Nas suas incursões encontrou-se com o chefe Batimansa e fala-se no batismo, no cristianismo e outros aspetos que os historiadores classificam como insólitos, tomam como altamente problemática estas súbitas conversões ao catolicismo. Datará de 1458 a primeira tentativa de cristianização dos povos africanos.


A segunda viagem de Diogo Gomes data de 1462 ou 1463. Em 12 dias chegou à Terra dos Barbacins, encontrou duas caravelas saídas de Portugal, eram mercadores que transportavam cavalos, animais muitos apetecidos dos negros. Diogo Gomes regressa a Portugal na companhia de um genovês, António da Noli. Pelo caminho descobrem a ilha de Santiago, aqui também os historiadores se dividem. Pela Relação descobre-se um dado importante quando se escreve: “E eu tinha um quadrante, quando foi a estes países, e escrevi na tábua do quadrante altura do polo ártico, e achei aí melhor do que na carta. É certo que na carta aparece o caminho de navegar, a rota do navio, mas muitos erros juntos nunca levam ao propósito principal”. Fica-se a saber que Diogo Gomes dispunha de um instrumento para medir alturas de estrelas mas também de uma carta náutica. No regresso, Diogo Gomes vai subindo na escala social, torna-se escudeiro real e depois Juiz dos Feitos das Coutadas e Caças da Serra de Sintra, mais tarde Juiz de Sisas de Colares e por último Cavaleiro da Casa Real. Pelos seus registos de aventuras, embora redigidos por outrem, passou a ser um caso único entre os seus companheiros do século XV. E certo e seguro viu a Guiné tal como nós a conhecemos.
____________

Nota do editor

Último poste da série de 29 de abril de 2016 Guiné 63/74 - P16033: Nota de leitura (834): Panos de Cabo Verde e Guiné-Bissau (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P16041: Convívios (737): Em 16 de abril útimo realizou-se o 1º encontro de ex-combatentes de Faro, que estiveram no TO da Guiné... Nasceu, finalmente, a tão desejada, e já aqui falada, Tabanca do Algarve, com próximo encontro já marcado para 14/4/2017 (José Viegas, ex-fur mil, Pel Caç Nat 54, Enxalé e Ilha das Galinhas, 1966/68)



Foto nº 1  > Faro: Monumento aos combatentes (junto ao RI 4)



Foto nº 2 > Himenangem aos combatentes de Faro


Foto nº 3 >  Mortos do concelho de Faro no TO da Guiné


Foto nº 4 > Aspecto (parcial) do convívio (1): à esquerda, em primeiro plano, o José António Viegas, algarvio, foi fur mil do Pel Caç Nat 54 (Enxalé e Ilha das Galinhas, 1966/68).


Fotop nº 5 > Aspecto (parcial) do convívio (2): em, primeiro plano, à esquerda, o Henrique Matos, nosso grã-tabanqueiro, açoriano a viver há muito no Algarve (ex-alf mil, cmdt do Pel Caç Nat 52, Enxalé, 1966/68).



Foto nº 6 > Aspecto (parcial) do convívio (3)


Foto nº 7 > Aspecto (parcial) do convívio (4)


Fotos : © José António Viegas (2016). Todos os direitos reservados.


1. Mensagem do José António Viegas, algarvio, foi fur mil do Pel Caç Nat 54 (Enxalé e Ilha das Galinhas, 1966/68).

Data: 21 de abril de 2016 às 16:39
Assunto: 1º Encontro de Ex-Combatentes da Guiné de Faro,  Algarve


Realizou-se do dia 16 de Abril o 1º encontro de ex-Combatente da Guiné de Faro.

Com o empenho de alguns carolas que já vinham com esta idéia faz algum tempo, conseguiram juntar 72 camaradas e alguns por saberem na última hora tiveram que ficar de fora.

Foi um belo convívio de camaradas de Faro que se conhecem há muito,  de gerações diferentes, dos quais não se sabia que tinham passado pelo mesmo teatro de guerra, a Guiné.

Dos nossos grã- tabanqueiros estavam o Henrique Matos e José Viegas que já estão pensando chamar Tabanca do Algarve a esta tertúlia de camaradas da Guiné.

Ficou estipulado que todos os anos em Abril se deverá fazer um encontro destes jovens. O próximo será a 14 de Abril de 2017.

Depois de uma singela homenagem ao monumento dos Combatentes junto ao antigo R.I. 4, foi feito um almoço de confraternização na Frangaria.

Guiné 63/74 - P16040: Na festa dos 12 anos, "manga de tempo", do nosso blogue (7): A capela do Xime (set 1972) e o nicho de Mansambo (dez 1973)... A devoção mariana e a "canibalização" dos nichos... (Sousa de Castro, 1.º cabo radiotelegrafista, CART 3494 / BART 3873, Xime e Mansambo, 1971/74)



Fotio nº 1 A  > Mansambo > 19 de dezdembro de 1973 > O Sousa de Castro junto ao nicho, originalmente construído pela CCAÇ 2404 (novembro de 1969/maio de 1970), e que a CART 2714 (1970/72), que veio a seguir, "adaptou"..."Senhora, protege a CART 2714"




Fotoº 1  >  O Sousa de Castro, em Mansambo, em 19 de dezembro de 1973 (data que vem na legenda da foto). 


Foto nº 2 > O Sousa de Castro na capela do Xime, em 17 de setembro de 1972... Pareceque a capela era já pouco usada pela rapaziada da CART 3494 que em março de 1973 foi substituída pela CCAÇ 12, cujos militares, quase todos do recrutamento local, eram fulas e muçulmanos... Havia tamb+em uma pequena mesquita no Xime. A capela cristã, no final, também servia de depósito de caixões com restos mortais de militares portugueses que aguardavam, o transporte fluvial para Bissau.


Fotos: © Sousa de Castro (2016). Todos os direitos reservados




Foto nº 3 >  Nicho construído em Mansambo pela CCAÇ 2404 (Binar e Mansambo, 1968/70). A CCAÇ 2404/BCAÇ 2852 substituiu a CART 2339, "Os Viriatos" (Mansambo) entre novembro de 1969 e maio de 1970... Foi, por sua vez, rendida pela CART 2714 ("Bravos e Leais"), pertencente ao BART 2917 (1970/1972).   A CART 2714 foi rendida pela CART 3493 (que em março de 1963 foi para Cobumba, na região de Tombali), sendo substituída pela  CART 3494, do mesmo batalhão (BART trocou o Xime por Mansambo... O nicho mariano diz: "Senhora protege a CCAÇ 2404"...

Foto: © Arlindo Roda (2010). Todos os direitos reservados



Foto nº 4 > Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Mansambo > 1996 > Monumento erigido pela CART 2714  ("Bravos e Leais"), pertencente ao BART 2917 (1970/1972). Era o único que restava de pé quando o Humberto Reis (ex-fur mil op esp, CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71) voltou à Guiné, quinze anos depois.

Foto: © Humberto Reis (2005). Todos os direitos reservados


1. Mensagem, com data de 30 de zbril, que nos envou o Sousa de Castro [ex-1º cabo radiotelegrafista, CART 3494, Xime e Mansmabo, 1971/74; vive em Viana do Castelo; é o nosso grã-tabanqueiro nº 2]

Duas fotos para completar post em apreço (*)

Ter em conta a legenda do nicho em Mansambo [, comparando com a foto nº 3: a CART 2714 / BART 2917, Mansambo,. 1970/72, "canibalizou" o nicho original que era da CAÇ 2404, BCAÇ 2852, 1968/70]

Cumprimentos,

SdC

2. Comentário do editor:

Obrigado, António, pelo teu "olho clínico". Nunca tinha dado conta deste fenómeno a que se pode chamar, sem ofensa, e com toda a propriedade,  "canibalização": canibalizar, segundo o dicionário, também significa "reaproveitar peças de aparelhos, viaturas, armas, etc., em outros mecanismos semelhantes".

O "desenrascanço" do português, na tropa e na guerra, levava-nos muitos vezes a isso, nomeadamente no caso da manutenção e reparação das viaturas... Mas com monumentos e nichos religiosos ainda não me tinha dado conta... Minto: há pelo menos um caso, aqui já relatado, de aproveitamento de um memorial nosso por parte dos "camaradas do PAIGC" (**)... E putro, muito mais espantoso, de "canibalização" praticada pela naturação: neste caso, trata-se de uma "reapropriação: na natureza nada se perde tudo de transforma, até a carcassa de uma antiga vitura militar das NT, em Guileje (***).

A malta da CART 2714  quando foi para Mansambo aproveitou o nicho constrruído pelos rapazes da CCAÇ 2404 (que lá estiverm uns meses, até acabar a comissão)... E fizeram bem, em procurar a proteção da "santa das santas" Afinal, para a CCAÇ 2404 a guerra já tinha acabado.

De resto, a canibalização é uma prática corrente entre os "povos", a nossa civilização (, as nossas cidades; Lisboa, por exemplo)  é composta de "sucessivas camadas" dos povos conquistados e conquistadores: os lusitanos foram romanizados, cristianizados, islamizados, recristianizados... Das antas fizemos capelas como a Anta de Pavia, hoje monumento nacional!... Das mesquitas (como a de Mértola) fizemos igrejas... E há-se ser assim pelos séculos pelos séculos ("secula seculorum")... LG



Guiné- Bissau > Região de Bafatá > Gabu (antiga Nova Lamega) > Fevereiro de 2005 > O José Couto entre dois militares das Forças Armadas, no centro da parada do antigo quartel das NT, junto ao monumento de homenagem a Amílcar Cabral (que, por sua vez, é uma canibalização do memorial aos mortos do BCAÇ 2893, que esteve ali sediado entre 1969/71).

Foto: © José Couto / Tino Neves (2006). Foto gentilmente cedida por José Couto (ex-furriel miliciano de transmissões, CCS/BCAÇ 2893, Nova Lamego, 1969/71), camarada do nosso grã-tabanqueiro Constantino Neves.



Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > 2005 >  Foto  de uma carcaça de um viatura militar das NT que a natureza "canibalizou" (***)... Foto enviada, como prenda do Nata de 2005 pelo nosso saudoso amigo Pepito (1949-2014).

Foto: © Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2005). Todos os direitos reservados

.______________

30 de abril de 2016 > Guiné 63/74 - P16034: Na festa dos 12 anos, "manga de tempo", do nosso blogue (5): Capelas, igrejas e nichos religiosos no mato: fotos de António Santos, Arlindo Roda, Benjamim Durães, Carlos Silva, Jorge Pinto, Mota Tavares, Zé Neto (1929-2007)

(**) Vd. lposte de 7 de dezembro de 2006 >  Guiné 63/74 - P1349: Quartel Novo de Nova Lamego: paredes finas e chapa de zinco (Tino Neves)

(***) Vd. poste de 14 de dezembro de  2005 > Guiné 63/74 - P348: A Nossa Foto de Natal 2005

(...) "Olá, Luís: Há dias falava-te de apropriação da língua portuguesa (...). Depois de vir ontem de Guiledje, onde tirei esta fotografia, posso-te falar de apropriação pela natureza: uma carcaça de camião com mais de 30 anos, envolvida por uma árvore que entretanto por lá nasceu. Nem que se queira, não se pode tirar o esqueleto de lá.... Abraços, Pepito" (...)

domingo, 1 de maio de 2016

Guiné 63/74 - P16039: Atlanticando-me (Tony Borié) (13): O que não te mata, faz-te andar como um coxo

Décimo terceiro episódio da nova série "Atlanticando-me" do nosso camarada Tony Borié (ex-1.º Cabo Operador Cripto do CMD AGR 16, Mansoa, 1964/66).




O que não te mata, faz-te andar como um coxo

Companheiros, hoje queríamos falar de coisas alegres, coisas que coloquem no nosso pensamento alguma diversão, que nos façam viver com alguma esperança, que nos façam esquecer a maldita guerra que lá vivemos, coisas que envolvam bom tempo com família e amigos, viagens, antigas paixões, amores, alguns de ocasião, recordações e exageros de juventude, mas... mas, ainda não vai ser hoje, talvez na próxima.

Falamos um pouco da guerra que lá vivemos, no nosso caso, e talvez muitos de vocês, talvez seja, “andar pela tabanca”.

A nossa geração fez a diferença, mas pagando um preço exorbitante, por exemplo, nesta última semana, ao abrir o computador, havia mensagens comunicando-me a hospitalização de dois “irmãos de guerra”, um aí em Portugal, o Alexandre, que foi “o nosso Alferes” no aquartelamento de Mansoa, outro aqui na Florida, o Jorge, de quem já escrevi a sua história de guerra, que serviu em Bissau, claro, além de nós que temos um pequeno problema de movimentação, mas é uma “avaria” que está a ser reparada, oxalá a “avaria” dos nossos “irmãos de guerra”, entre os quais se encontram os que já mencionámos, também possa ser reparada.

Este tempo em que temos estado “inactivos”, passamos o tempo, entre outras coisas, vendo fotos a preto branco, tiradas na então nossa Guiné, estão lá companheiros, quase todos, lá foram parar sem estarem minimamente preparados tanto física como mentalmente, aliás, ninguém pode estar preparado, pelo menos mentalmente para viver numa zona de combate, as privatizações eram tantas, os resultados eram devastadores, alguns de nós foram empurrados para as piores áreas, pensando muitas vezes que aquele momento, era o seu último, passando dias sem dormir, semanas sem tomar banho e, meses e meses pensando que não mais retornavam à sua aldeia, em Portugal, mas nós fomos treinados e mentalizados que estávamos a fazer a diferença, a libertar o povo da tirania, fazendo uma coisa boa para os outros. Nesta altura da nossa vida, esperamos sinceramente que fique provado, para as gerações vindouras, que estávamos errados, e que o povo da então nossa Guiné, encontre o seu rumo, possa finalmente viver independente, em paz e progresso, construindo uma nação onde os guinéus possam ter um futuro risonho, pelo menos sem fome e livres de guerra.


Quando voltámos para a Europa, voltando à vida civil, foi um desafio, para dizer no mínimo, porque quem vinha duma zona de combate, servindo o seu País, continuar a ser “desprezado” pela sociedade de então, pois emprego era para as pessoas e amigos do regime, nós andávamos vestidos conforme ganhávamos, por tal tal motivo, andávamos sempre com roupa velha, já coçada, alguma dada por amigos, foi difícil acostumar a não ver as pessoas nativas da Guiné, não ver as savanas e pântanos, a não se assustar quando se ouvia o barulho dos foguetes em qualquer romaria, pois o trauma do pensamento estava lá, causado pelas explosões, que alterou a forma como o cérebro funciona, pensando nós, que era a explosão de uma qualquer mina, fornilho, ou mesmo um ataque ao aquartelamento. Tudo isto companheiros, sem falar quando se estava num espaço público ou mesmo na taverna da nossa aldeia, ficávamos sempre a um canto com as costas para a parede, considerando todos, como um possível inimigo.

Mas nem tudo foi mau, também havia os momentos da chegada da coluna de alimentos, que trazia cigarros e álcool, da avioneta do correio, convívios forçados que criaram verdadeiras amizades de “irmãos de guerra” e, pelo menos para nós, felizardos que sobrevivemos, produziu no nosso pensamento efeitos prolongados, uma força interior, bastante forte, que não nos vai deter ou impedir de realizar qualquer coisa, mas as marcas, os resultados dessa vivência, desse tempo, de angústia e stress, estão a aparecer, pois a idade já é um pouco avançada e, nós dizemos algumas vezes:
"O que não te mata, faz-te andar como um coxo"

Tony Borie, Abril de 2016.
____________

Nota do editor

Poste anterior da série de 10 de abril de 2016 Guiné 63/74 - P15957: Atlanticando-me (Tony Borié) (12): Um mau dia

Guiné 63/74 - P16038: Blogpoesia (445): "Roseira da minha porta...", por J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

1. Em mensagem do dia 30 de Abril de 2016, o nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66), enviou-nos este poema intitulado "Roseira da minha porta:


Roseira da minha porta...



Como ficou bonita a roseira da minha porta 
ao raiar da primavera.
Dá-lhe o sol de manhã à noite.
Cada dia é uma festa.

Ainda me lembro do meu avô José,
de sacho na mão,
a ter plantado,
plantinha tenra.

Cresceu comigo.
Me venceu no porte.
Era um regalo chegar a casa
e receber dela as boas vindas.

Eram vermelhas as suas flores.
Se impertigavam quando passava.
Pareciam dizer:
- Quero ir contigo.

Pegava em seis.
E minha jarrra verde
punha em festa
a mesa da sala,
de portas abertas.

E, toda a casa,
durante uns dias,
ficava alegre...
Uma alegria!

lindo dia de sol

Berlim, 29 de Abril de 2016
9h31m

Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes
____________

Nota do editor

Último poste da série de 25 de abril de 2016 Guiné 63/74 - P16016: Blogpoesia (444): "Um ritual...", por J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

Guiné 63/74 - P16037: In Memoriam (256): José Eduardo Alves (1950-2016), ex-Soldado Condutor Auto da CART 6250, Mampatá, 1972/74), falecido ontem, dia 30 de Abril de 2016. O funeral é amanhã, segunda-feira, pelas 10 horas, na Capela do Corpo Santo, em Leça da Palmeira

 IN MEMORIAM

José Eduardo Alves (1950-2016),
ex- soldado condutor auto da CART 6250, "Os Unidos de Mampatá" (1972/74), natural de Leça da Palmeira... O funeral é 2ª feira, dia 2, às 10h00

A notícia chegou ontem ao nosso conhecimento através do Ribeiro Agostinho, que estava a acompanhar mais de perto o estado de saúde do nosso malogrado camarada José Eduardo.
Mal chegados do convívio comemorativo do Dia do Combatente de Matosinhos, no Núcleo de Matosinhos da Liga dos Combatentes, já a esposa do José Eduardo, a D. Conceição, comunicava ao Agostinho o falecimento de seu marido.

Desde há algum tempo que o José Eduardo [foto actual à direita] lutava contra a doença que o apoquentava. Ainda chegou, mais a esposa que sempre o acompanhava, a inscrever-se no X Almoço/Convívio dos Combatentes do Ultramar do Concelho de Matosinhos e no XI Encontro da Tabanca Grande, mas em nenhum deles participou, infelizmente.

O José Eduardo e a D. Conceição eram muito amigos, principalmente das crianças, da Guiné-Bissau, onde se deslocaram várias vezes a partir de 2009, no seu automóvel, com fins humanitários(1).
Estava inclusive prevista uma ida à Guiné-Bissau, ainda este ano, para levar mais donativos, contributos variados que fazem imensa falta à população daquele país irmão.
  
A D. Conceição chegou a confidenciar que quando encontrava roupa de criança abandonada, ainda em bom estado, levava para casa, lavava, consertava, passava a ferro, e guardava para um dia levar, ou mandar, aos meninos da Guiné-Bissau. 

Duas boa almas, uma, o José Eduardo que nos deixa, e outra, a D. Conceição, que vai ter de enfrentar a saudade do seu marido. O filho de ambos, a trabalhar na Suíça, estará já junto de seu pai para a derradeira despedida e para confortar a sua mãe, no dia de todas as Mães.

Quem quiser e puder prestar uma última homenagem ao nosso camarada José Eduardo, um homem simples, mas de grande estofo moral, altruísta, trabalhador incansável(2) e amigo verdadeiro de quem pela sua vida passou, pode fazê-lo a partir de hoje, domingo, na Capela do Corpo Santo, em Leça da Palmeira, onde o seu corpo já se encontra em Câmara Ardente.

O funeral sai da mesma Capela às 10 horas da manhã(3), de amanhã segunda-feira, para a Igreja Matriz, onde será celebrada Missa de Corpo Presente, seguindo depois para o Cemitério n.º 2 da mesma freguesia, onde o corpo será sepultado.

Em especial, à D. Conceição e ao filho de ambos, a tertúlia do nosso blogue envia as mais sentidas condolências, com a certeza de que o José Eduardo jamais será esquecido por nós.


Guiné-Bissau - Numa das sua visitas àquele país, o José Eduardo, à esquerda e o António Carvalho, à direita.


Guiné-Bissau - A D. Conceição rodeada de meninos
____________

Notas do editor

(1) Vd. poste de 23 de maio de 2010 Guiné 63/74 - P6459: Ser solidário (72): Viajar (e sentir) pela Guiné (José Eduardo Alves, ex-Condutor da CART 6250/72)

(2) Vd. poste de 22 de maio de 2009 Guiné 63/74 - P4400: História de Vida (22): Refazendo a vida correndo o mundo (José Eduardo Alves)

(3) - Horário alterado posteriormente ao lançamento do poste, depois de o editor falar com a D. Conceição.

Último poste da série de 21 de abril de 2016 Guiné 63/74 - P15999: In Memoriam (254): Nina Amado (1932-2016), Mãe do nosso camarada e amigo Juvenal Amado, falecida no passado dia 13 de Abril

Guiné 63/74 - P16036: Na festa dos 12 anos, "manga de tempo", do nosso blogue (6): A capela do Xime (Jorge Araújo, ex-fur mil op esp, CART 3494, Xime e Mansambo, 1972/74)










1. Mensagem do Jorge Araújo, com data de 28 de abril

Caro Camarada Luís,
Boa Noite!
Os teus comentários expressos no meu último poste (*) , dos quais emergem um montão de memórias, levaram-me a elaborar uma resposta em nova narrativa histórica que anexo. Ela não esgota este tema, pelo que sugiro a quem pelo Xime passou e tenha fotos melhores que as minhas o favor de as publicar (**).

Com um forte abraço de amizade.
Jorge Araújo. (***)

ABR 2016
_____________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 28 de abril de 2016 > Guiné 63/74 - P16026: Na festa dos 12 anos, "manga de tempo", do nosso blogue (3): Imagens com história... separadas por 44 anos: Xime (1972) e Monte Real (2016) (Jorge Araújo, ex-fur mil op esp, CART 3494, Xime e Mansambo, 1972/74)

(...) Tabanca Grande disse...

Jorge, é incrível, fui tantas vezes ao Xime, em geral em operações, mas reconheço que nunca andei a explorar a tabanca e o antigo posto administrativo... Desconhecia por completo a existência de uma capela!... Um gajo quando lá ia, ia sempre com os "cornos enfiados" no Poindom / Ponta do Inglês e na porrada que ia dar e levar.... Como já aqui escrevi o asubsetor do Xime era uma autêntica ratoeira, sempre que saía do arame farpado, a partir de Madina Colhido sentia-me "encurralado"... E algumas vezes tivemos que regressar a toque de caixa, com o apoio da artilharia, as granadas de obus 10.5, a silvarem por cima das nossas cabeças... Arrepiante!... Ninguém como a CCAÇ 12 foi tantas vezes ao Poindom / Ponta do Inglês... A CCAÇ 12 esteve 5 anos na guerra... de julho de 1969 a agosto de 1974!... Houve 3 "gerações" de quadros e especialistas, de origem metropolitana... Eu sou "sócio fundador"... Apanharam 4 batalhões diferentes em Bambadinca!... Os meus pobres camaradas guineenses deveriam ter ido ser todos condecorados no 10 de junho de 1974! Esses,sim, foram uns heróis e defenderam o seu "chão" (...) 

Guiné 63/74 - P16035: Parabéns a você (1072): José Carlos Neves, ex-Soldado TRMS do STM/CTIG (Guiné, 1974) e Manuel Luís Lomba, ex-Fur Mil Cav da CCAV 703 (Guiné, 1964/66)


____________

Nota do editor

Último poste da série de 29 de abril de 2016 Guiné 63/74 - P16029: Parabéns a você (1069): Giselda Pessoa, ex-2.º Sarg Enfermeira Paraquedista da BA 12 (Guiné, 1072/74)