sexta-feira, 15 de julho de 2016

Guiné 63/74 - P16306: (In)citações (97): Nova Lamego, 15 de novembro de 1970, uma das noites mais longas das nossas vidas... Nós, miúdos, achamos que os nossos pais não choram, mas eu sei que também se chora em silêncio e sem lágrimas.... (Adelaide Barata Carrêlo, filha do ten SGE Barata, CCS/BCAÇ 2893, 1969/71)

De: Adelaide Barata Carrêlo, 
membro nº 721 da nossa Tabanca Grande,
filha do tenente SGE Barata, 
CCS/BCAÇ 2893 (Nova Lamego, 1969/71) (*)

Data: 13 de julho de 2016 às 17:19

Assunto: 15 Novembro 1970 (**)



15 de Novembro de 1970, 
uma das noites mais longas das nossas vidas.

O ambiente era de festa e no quartel 

tudo parecia desenrolar-se dentro  da normalidade.

Além de ser o dia em que se comemorava um ano de comissão, 

também os  meus pais celebravam aniversário do seu casamento.

Chegámos a casa já tarde.

Quando nos preparávamos para dormir, 

lembro-me de ouvir uma espécie de  assobio 
e, segundos depois.  uma explosão. 
Tenente SGE Barata, CCS/BCAÇ 2893
(Nova Lamego, 1969/71).
Faleceu em 15/1/1979,
como capitão,
estava colocado na altura
no Ministério de Exército,
 na Praça do Comércio.,

A luz apagou-se 
e, tal como o  meu pai nos ensinou, 
corremos para o canto de sala, 
onde as paredes  eram mais fortes.

O zinco do telhado crepitava.

O meu pai decidiu 

que não podíamos ficar ali 
nem mais um minuto,  
segurou-nos ao colo como pôde 
e abriu a porta em silêncio.
Eu não queria acreditar, 
a rua estava cheia de chinelos,  "descalços"...
para onde teriam corrido os pés daquela gente ?

No trajecto para o quartel, 

três paraquedistas prontificaram-se a  ajudar os meus pais, 
levando-nos ao colo com passo apressado. 
Eles  traziam um cachorro que cheirava a after-shave.

À chegada, o meu pai soube 

que o seu amigo e camarada Cipriano Mendes  Pereira,
2º  sargento miliciano enfermeiro, 
tinha falecido, 
as marcas  estavam na parede da casa 
e na árvore junto à janela.

Também o soldado Seixas nos deixou nesse dia.  

(Lembro-me que era ele 
que enchia o bidão da água que tínhamos em casa).

Nós, miúdos, achamos que os nossos pais não choram, 

mas eu sei que  também se chora em silêncio 
e sem lágrimas.

Obrigada 

Adelaide Barata (***)



Guiné > Zona Leste > Nova Lamego > 1970 > Emblema do BCAÇ 2893 (1969/71), unidade de que faziam parte as CCAÇ 2617 ("Magriços de Guileje", Pirada, Paunca, Guileje, 1969/71), CCAÇ 2618 (Nova Lamego, 1969/71)   e 2619 (Madina Mandinga, 1969/71), além da CCS, a que pertencia o nosso camarada Constantivo Neves, ex-1º Cabo Escriturário, mais conhecido por Tino Neves.

Foto: © Tino Neves (2006). Todos os direitos reservados.



Guiné > Região de Gabu> Nova Lamgo (Gabu Sara) > Carta  dos Serviços Cartográficos do Exercito (1961) > Escala 1/50 mil >  Detalhe

Infogravura: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2016)
 _____________________

Notas do editor CV:

(*) Vd. postes de:

11 de julho de 2016 > Guiné 63/74 - P16294: Tabanca Grande (490): Adelaide Barata Carrêlo, filha do ten SGE Barata, CCS/BCAÇ 2893 (Nova Lamego, 1969/71)... Com sete anos apenas, sofreu a brutal flagelação do IN ao quartel e vila do Gabu, em 15/11/1970, que causou 3 mortos e 4 feridos graves entre as NT e 8 mortos e 80 feridos (graves e ligeiros) entre a população... Passou a ser a nossa grã-tabanqueira nº 721


(***) Último poste da série > 9 de julho de 2016 > Guiné 63/74 - P16288: (In)citações (95): "Terra vermelha quente e de paz, / lugar onde tive medo, fui feliz e vivi, / amar-te-ei sempre, / minha Guiné menina velha encantada"... (Adelaide Barata Carrêlo, filha do tenente Barata, que viveu em Nova Lamego, no início dos anos 70, durante a comissão do pai, e aonde regressou, maravilhada, quarenta e tal anos depois)

(...) Em 1970 aterrámos em Bissau onde o meu pai nos esperava ansiosamente, seguimos alguns dias depois para Nova Lamego onde ele estava colocado.

Eu tinha 7 anos, sou gémea com uma irmã e tenho um irmão mais velho 1 ano. Somos a família Barata. Quando chegou a hora dos meus pais decidirem juntar-se naquela terra, não conseguiram convencer-nos de que poderíamos separar-nos, não, fomos também. E até hoje agradeço por ter conhecido gente tão bonit, , tão pura.

As primeiras letras da cartilha, foram-me desenhadas pelo Prof. José Gomes, na Escola que hoje se chama Caetano Semedo.

Aquele cheiro, a natureza comandada pelo calor húmido que sufoca e a chuva que cai como uma cascata sobre a pele e o cabelo que teima em não se infiltrar...cheguei a pedir à minha mãe para me deixar correr como aqueles meninos que se ensaboavam no meio da rua e com um chuveiro gigante que deitava tanta água de pingos grossos e doces.

Também me lembro de quem lá ficou para sempre, não éramos muitos. (...) 

Guiné 63/74 - P16305: Efemérides (233): 15 de novembro de 1970, às 11 da noite, o quartel e a vila de Nova Lamego são violentamente flagelados com fogo de 4 morteiros 82, durante 35 minutos... 3 mortos entre as NT, 4 feridos graves, 8 ligeiros; 8 mortos entre a população, 50 feridos graves, 30 ligeiros... Valeram-nos os Fiat G-91 estacionados em Bafatá... Spínola mandou construir um quartel novo, fora da vila, inaugurado em 31/1/1971 (Tino Neves, ex-1º cabo escriturário, CCS/BCAÇ 2893, 1969/71)



Guiné- Bissau > Região de Bafatá > Gabu (antiga Nova Lamega) > Fevereiro de 2005 > O José Couto entre dois militares das Forças Armadas da Guiné-Bissau, no centro da parada do antigo quartel das NT, junto ao monumento de homenagem a Amílcar Cabral (que, por sua vez, é uma canibalização do memorial aos mortos do BCAÇ 2893, que esteve ali sediado, o comando e a CSS,  entre 1969/71).

Foto: © José Couto / Tino Neves (2006). Foto gentilmente cedida por José Couto (ex-fur mil trms, CCS/BCAÇ 2893, Nova Lamego, 1969/71), camarada do nosso grã-tabanqueiro Constantino Neves.



Guiné > Região de Gabu > Gabu (Nova Lamego) > Memorial aos mortos do BCAÇ 2893 (1969/71)... A mesma pedra, virada ao contrário, irá servir - depois da independência - para lavrar uma homenagem ao "pai da Pátria", Amílcar Cabral (foto acima)...Sempre foi assim com todos os "conquistadores": os romanos construiram  sobre as ruinas gregas, os visigodos sobre as ruínas romanas, os mouros sobre as ruínas cristãs, os cristãos da reconquista sobre as ruínas do Al-Andalus, e por aí fora...

Os mortos do batalhão foram os seguintes: (i) Sold J. Rodrigues e Sold A. Seixas (CCS) [, mortos o ataque ao quartel e povoação em 15/11/1970, 1º aniversário do batalhão]; (ii) Sold J.Cavalheiro e Sold J. Paiva (CCAÇ 2618); (iii) Sold J. Conde (CCAÇ 2617); e (iv) Sold S. Fernandes e Sold A. Dias (CCAÇ 2619).

Foto : © Tino Neves (2012). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné > Zona leste > Região do Gabu > Nova Lamego > CCS do BCAÇ 2893 (1969/71) > Cerimónia de Inauguração do Quartel Novo em 31 de Janeiro de 1971.

Fotos do Constantino (ou Tino) Neves, ex-1º Cabo Escriturário, CCS/BCAÇ 2893, membro da nossa Tabanca Grande desde 2006.

Foto: © Tino Neves (2007). Todos os direitos reservados.


Guiné > Zona leste > Região do Gabu > Nova Lamego > CCS do BCAÇ 2893 (1969/71)  > 1970 > Povoação e quartel velho de Nova Lamego (hoje Gabu). Principais edifícios civis e militares.


 Guiné > Zona leste > Região do Gabu > Nova Lamego > CCS do BCAÇ 2893 (1969/71)  > 1970 > Povoação e quartel velho de Nova Lamego (hoje Gabu). Principais edifícios civis e militares. (Lado esquerdo da foto de conjunto).


Guiné > Zona leste > Região do Gabu > Nova Lamego > CCS do BCAÇ 2893 (1969/71) 1970 > Povoação e quartel velho de Nova Lamego (Gabú) > Principais edifícios civis e militares. (Lado direito da foto de conjunto).

Imagem aérea do quartel antigo e da vila.O quartel estava situado no centro da vila, formando um rectângulo e ocupando alguns edifícios civis. A foto, cedida por Roseira Coelho (,que o Tino Neves presume que fosse ten pilav), já vinha com as marcas sem a respectiva legenda. O Tino Neves completou a legenda:

(1) Caserna das Praças;
(2) Casas civis (para alugar);
(3) Loja dos irmãos Libaneses;
(4) Depósito de géneros;
(5) Estação dos CTT (civil);
(6) Destacamento de Engenharia;
(7) Messe de Oficiais;
(8) Messe de Sargentos;
(9) Parque e Oficinas Auto;
(10) Refeitório;
(11) Dormitório de alguns Sargentos;
(12) Sala do Soldado;
(13) Parque de Jogos.

Foto (e legenda): © Roseira Coelho / Tino Neves (2007). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Lembranças de Nova Lamego: a  flagelação ao quartel e vila  em 15/11/1970 (*)

por Constantino Neves (ex-1º cabo escriturário, CCS/BCAÇ 2893, Nova Lamego, 1969/71) [, foto à direita]

O Batalhão de Caçadores 2893 foi formado em Chaves no ano de 1969. Era empregado de escritório e usaram os meus conhecimentos como primeiro cabo escriturário na CCS (Companhia de Comandos e Serviços).

A 15 de novembro de 1969 embarcámos para a Guiné, na Lisboa, no cais da  Rocha Conde de Óbidos, no T/T Uíge, regressando mais tarde no T/T Niassa.

Chegado a Nova Lamego (, hoje Gabu), eu não saía para o mato em missões,  durante o dia estava com  máquina de escrever mas à noite andava de G3.

O primeiro aniversário da nosso batalhão, a 15 de novembro de 1970, era para ser um dia de festa, mas foi um  dia fatídico. Fazíamos um ano que tínhamos embarcado. O nosso Comandante resolveu fazer uma festa, em comemoração desse dia, convidando um Oficial, um Sargento e um Praça em representação dos aquartelamentos mais próximos, pois, para além dum jantar melhorado para todos os presentes, também foi organizada uma festa de variedades no edifício do cinema da vila.

Como é natural, festa que se preze, não pode prescindir de um momento de "fogo de artifício"... Apesar de ninguém ter pensado e esperado que isso acontecesse, tivemos uma visita inesperada: sem que fosse convidado, o pessoal do PAIGC  veio  contribuir com a sua parte para "abrilhantar" a festa.

Às onze e tal da noite, quando a malta já estava toda deitada, começou a morteirada. Quando caiu a primeira já vinham 30 no ar. Fomos ver no final e eles atiraram 122.

Dois camaradas da minha CCS, foram atingidos pela única granada de morteiro que arrebentou dentro do quartel, quando ambos estavam escondidos debaixo de uma viatura GMC - que estava estacionada junto ao dormitório de alguns Sargentos [vd foto acima, ponto (11)], quando a mesma caiu a 1 metro deles. Foram eles o Soldado Básico Seixas e o Soldado Maqueiro Joaquim Rodrigues.

O sargento morto era um ex-militar da CCAÇ 5, "Os Gatos Pretos" (sedeados em Canjadude),  o 2º sargento mil enfermeiro, Cipriano Mendes Pereira, guineense, de etnia manjaca: estava mais a esposa,  de passagem para Bissau, de férias, mas resolveu ficar mais um dia para participar na festa do aniversário do Batalhão. Morreu, junto a sua esposa, no quintal de sua casa. Deixaram órfãs 2 crianças (um casal),  de tenra idade. Tinha sido colocado no HM 241, em Bissau, tendo deixado de pertencer à CCAÇ 5 em 10/10/1970.

Houve mortos e feridos, graves e ligeiros, também na população. Caiu uma granada de morteiro numa palhota, morreram todas as pessoas que lá estavam. No quartel só caiu uma mas bastou para matou dois camaradas da minha companhia. Fui-me esconder num posto de rádio que era blindado. Já estava quase cheio mas consegui enfiar-me lá dentro enquanto outro camarada ficou à porta e ainda apanhou com estilhaços nas pernas.

O ten SGE Barata, da CCS,  também estava com a família, em Nova Lamego: esposa e 3 filhos menores (1 rapaz e duas gémeas). Adelaide Barata Carrêlo, então com 7 anos, era uma das duas meninas. Num depoimento emocionado que iremos publicar, noutro poste, recorda os seus medos dessa noite. É a nossa mais recente grã-tabanqueira, com o nº 721.(**)


Guiné > Zona Leste > Gabu > Canjadude > 1969 > CCAÇ 5 - Os Gatos Pretos (1968/70) > O Fur Mil Transmissões José Marcelino Martins com o seu amigo e camarada Cipriano Mendes Pereira (srgt mil enf) [Foto à direita] (***)

Foto: © José Martins (2006) . Todos os direitos reservados.

Por causa desse episódio, o Spínola decidiu mandar construir um quartel novo, a um quilómetro da povoação, para evitar baixas colaterais. Irá ser inaugurado em 31/1/1971.

Este acontecimento foi notícia na Metrópole como Chacina em Nova Lamego.

A nossa sorte foi os FIAT estarem na zona de Bafatá, e estarem em contacto com o comando de Bafatá e por sua vez o comando de Bafatá em contacto connosco. Ao aperceber-se do acontecimento, deu ordem aos FIAT para virem em nosso socorro, se não as morteiradas não teriam sido somente 122.

Eis o  que ficou seca e telegraficamente escrito, para a História, na brochura da História da Unidade (****):

"Dia 15/11/70:

BCAÇ 2893 comemorou o aniversário de comissão nesta província. Foi convidado de honra o Exmo. Cmdt CAOP 2.

Grupo Inimigo, constituído aproximadamente por 150 elementos, flagelou Nova Lamego durante 35 minutos, com fogo de 4 morteiros 82 (cerca de 122 granadas) e armas ligeiras, causando às NT 3 mortos (1 sargento), 4 feridos graves (1 milícia) e 8 ligeiros. A população sofreu 8 mortos, 50 feridos graves e 30 ligeiros.

As NT reagiram com fogo de morteiro 81 e de canhão s/r, manobra de envolvimento e perseguição , apoiada pela FAP [Força Aérea Portuguesa], causando ao IN baixas prováveis. Artilharia de Cabuca e Piche bate[u] com fogo de obus prováveis itinerários de retirada do IN".
____________

Notas do editor:

quinta-feira, 14 de julho de 2016

Guiné 63/74 - P16304: Notas de leitura (858): (D)o outro lado do combate: memórias de médicos cubanos: o caso do cirurgião Domingo Diaz Delgado, 1966-68, segundo o livro de H. L. Blanch (2005) - Parte IV: depois de 3 meses em tratamento do paludismo, em Conacri, o médico vai para a frente leste, em junho de 1967, regressando a casa em janeiro de 1968


Guiné > 1970 > s/l > Algures, numa enfermaria do mato, um "médico guerrilheiro" do PAIGC, seguramente cubano, faz um parto.  Uma das célebres fotos de Bara István o fotojornalista húngaro, nascido em Budapeste. 1942, que esteve 'embebed' com forças do PAIGC, no mato, em 1969/70. Ocorre-nos perguntar se médico. parturiente e criança (do sexo masculino) ainda estarão vivos. Oxalá /inshalla / enxalé!

Título da imagem em húngaro: "0084_Bara Istvan_Szules a dzsungelben 5, Guinea Bissau_1970.jpg [Em português, um nascimento no mato],

Fonte / Source: Foto Bara > Fotogaleria > Guiné-Bissau (com a devida vénia / with our best wishes...)

Estamos gratos a este conhecido fotojornalista magiar pelas imagens sobre a guerra colonial / guerra de libertação na Guiné-Bissau que disponibilizou na sua página. Isttvàn Bara continua manter, na sua página na Net, na sua galeria, esta e outras fotos que documentam bem a dura realidade da vida dos guerrilheiros do PAIGC e da população sob o seu controlo.  artimos do princípio que estas imagens são do domínio público.

Tentámos em tempos contactá-lo por e-mail, mas nunca recebemos resposta, para obtermos autorização para divulgação de mais fotos da sua fotogaleria. A Hungria, como se sabe,  é hoje um membro da União Europeia, e da NATO,  mas 1989 tinha um regime de partido único, e estava integrada no Pacto de Varsóvia. Penso que o fotojornalista de ontem se adaptou, com sucesso,  aos novos tempos e à economia de mercado. Na qualidade de diretor do MIT, e de fotojornalista com prestígio internacional, integrou em 1985 o júri do famoso prémio World Press Photo (mas ambém em 1986). Recorde-se que ainda estávamos em plena guerra fria.

Há apenas duas fotos, tiradas por ele, no Arquivo Amílcar Cabral / Casa Comum.


Quarta parte, enviada a 13 de julho último,  das "notas de leitura" coligidas pelo nosso camarada e grã-tabanqueiro, Jorge Alves Araújo. Trata-se de um extenso documento, que está a ser publicado em diversas partes (*), tendo em conta o formato e as limitações do blogue.  



Foto à esquerda:

O nosso grã-tabanqueiro Jorge Araújo: (i) nasceu em 1950, em Lisboa; (ii) foi fur mil op esp / ranger, CART 3494 / BART 3873 (Xime e Mansambo, 1972/1974); (iii) fez o doutoramento pela Universidade de León (Espanha), em 2009, em Ciências da Actividade Física e do Desporto, com a tese: «A prática Desportiva em Idade Escolar em Portugal – análise das influências nos itinerários entre a Escola e a Comunidade em Jovens até aos 11 anos»; (iv) é professor universitário, no ISMAT (Instituto Superior Manuel Teixeira Gomes), Portimão, Grupo Lusófona; (v) para além de lecionar diversas Unidades Curriculares, coordena o ramo de Educação Física e Desporto, da Licenciatura em Educação Física e Desporto].


1. INTRODUÇÃO

Caros tertulianos; eis a última de quatro partes em que foi dividida a publicação, no nosso blogue, da entrevista realizada pelo jornalista e investigador cubano Hedelberto López Blanch ao cirurgião Domingo Diaz Delgado, médico do primeiro grupo de clínicos cubanos chegados em junho de 1966 à Guiné Portuguesa [hoje Guiné-Bissau] para apoiarem o PAIGC na sua luta pela Independência.

Trata-se da primeira de três entrevistas organizadas pelo autor e que constam no seu livro, escrito em castelhano, com o título «Historias Secretas de Médicos Cubanos» [La Habana: Centro Cultural Pablo de la Torriente Brau, 2005, 248 pp.]. [Disponível "on line"em formato pdf, ].

Seguir-se-ão os depoimentos de Amado Alfonso Delgado (médico de clínica-geral, com experiência em cirurgia) e Virgílio Camacho Duverger (médico militar, especialista em cirurgia geral), onde cada um deles relata algumas das suas histórias de vida  passadas naquele contexto durante as suas missões,  de acordo o guião de entrevista utilizado pelo investigador. "(D)o outro lado do combate" é o título escolhido  por mim para explicitar o propósito da publicação deste meu trabalho neste espaço de partilha.

O livro merece uma leitura integral: o autor conseguiu localizar e entrevistar 15 médicos cubanos que estiveram, como "voluntários" em missões no estrangeiro, de "ajuda humanitária" e "solidariedade internacionalista", de 1963 a 1976, em diversos contextos africanos: Argélia, Guiné-Bissau, Congo Leopoldville, Congo Brazzaville  e Angola.

A primera brigada sanitária cubana chegou à  Argélia en maio de 1963: tinha 55 membros. incluindo 29 médicos- Por  tszões de "segurança de Estado", estas "histórias" tiveram que se manter "secretas".

Só a partir de 2001 é que o jornalista, investigador e escritor  H. L. Blanch [, foto à esquerda,] pode começar a trabalhar este tema. Doze dos entrevistados são apresentados como "médicos guerrilheiros"; os outros 3 (incluindo uma mulher) integraram a missão da Argélia, que não  era militar (nem, portanto, secreta).  Recorde-se que a Argélia tornou-se independente em 1962, depois de uma longa e sangrenta guerra contra a França.

Porque se trata de uma tradução (com adaptação livre e fixação do texto em português, da minha responsabilidade),  não farei juízos de valor sobre os diferentes depoimentos:  apenas coloquei  entre parênteses rectos algumas notas avulsas de enquadramento socio-histórico ao que foi transmitido,  com recurso a imagens desse contexto retiradas da Net e dos arquivos deste blogue.

2. O CASO DO CIRURGIÃO DOMINGO DIAZ DELGADO [IV]

Para melhor compreensão da contextualização deste último fragmento sobre o médico em título, sugere-se a leitura dos P16224, P16234 e P16285, primeira, segunda e terceira parte destas "notas de leitura" (*).

O primeiro poste está relacionado com a preparação para a missão africana, a viagem (secretíma) de barco até à Guiné-Conacri e os primeiros contactos com a estrtutura do PAIGC noterreno. O segundo tem a ver com a  explicação/caracterização do leque de actividades clínicas presentes no quotidiano de um médico naquela guerra de guerrilha, das duríssimas condições logísticas vividas em bases improvisadas, provisórias e de parcos recursos, ora socorrendo os guerrilheiros feridos nos combates, ora cuidando das maleitas apresentadas pela população sob o seu controlo. Por fim,  no terceiro poste,  o entrevistado fala das actividades operacionais em contexto de bigrupo durante os primeiros três meses de 1967 na região [frente] Norte [Sambuiá] até ao momento em que começou a ter vários problemas de saúde que o obrigaram a fazer uma viagem, já em março de 1967.  até Conacri para recuperação/restabelecimento. e onde ficou 3 meses.

Utilizando o mesmo instrumento já apresentado no P16234 [Suprintrep n.º 31, de 13 de fevereiro de 1971 - P2787] dá-se conta na linha azul (mapa abaixo) da geografia dos itinerários percorridos pelo médico Domingo Diaz, também designados por “corredores”, ligando as diferentes bases do PAIGC, durante os primeiros oito meses da sua missão [julho de 1966 a março de 1967].

A estrela verde corresponde aos itinerários utilizados durante o segundo período na região [frente] Leste, entre junho e dezembro de 1967, com destaque para as actividades desenvolvidas em Madina do Boé e Beli.


Mapa das regiões [frentes e bases do PAIGC]. A linha azul corresponde ao primeiro período da missão de Diaz Delgado  (de julho de 1966 a março de 1967), na Frente São Domingos / Sambuiá. A estrela verde corresponde ao segundo período (de junho a dezembro de 1967), na Frente Bafatá  / Gabu (Sul). Infogravura adapt. de Supintrep nº 31, fevereiro de 1971.

Se em junho de 1967 Diaz Delgado  vem de Conacri, onde esteve a ser tratado de uma crise de paludismo, para a região do Boé, não faz sentido a nossa referência, no poste anterior [P16285],  à Op Cacau, realizada em  4/6/1967, e em que morreu o cap inf José Jerónimo da Silva Cravidão, cmdt da CCAÇ 1585, na região de Bricama (Farim), justamente no dia em que fazia 25 anos... 

O médico cubano refere uma data anterior,  março de 1967, para o ataque das NT a Sambuiá,  na véspera de ser  evacuado para Conacri com paludismo, regressando ao fim de 3 meses... No período em que o Diaz Delgado esteve na Guiné, na frente norte, entre agosto de 1966 e março de 1967 e depois na frente leste, entre junho de 1967 e janeiro de 1968, não temos informação de mais nenhum comandante de companhia das NT morto em combate numa operação. O Diaz Delgado pode estar a querer referir-se a um alferes, substituto do comandante de companhia. Quem poderá ter morrido em março de 1967 no ataque à base de Sambuiá ?









Indice da obra. A versão em pdf não está paginada,  Hedelberto López Blanch: «Historias Secretas de Médicos Cubanos» [La Habana: Centro Cultural Pablo de la Torriente Brau, 2005, 248 pp. [Consulta em 30 de maio de 2016]. Disponível em: http://www.centropablo.cult.cu/libros_descargar/historiamedicos_cubanos.pdf. [A versão disponível em pdf,. embora integral, não está paginada; em papel a obra tem 248 pp, em versão digiral 147 pp.]


Capítulo 10 - Onde o tempo não se mede pelo relógio” (continuação). Transcrição da entrevista de Diaz Delgado, com as seis últimas questões [da 23ª à 28ª, identificadas por nós em numeração romana] (**)


(xxiii) Depois da recuperação em Conacri, 
aonde o colocaram?


Após um forte tratamento médico e com uma recuperação quase total, enviaram-me para a zona [frente] Leste. Esta região era um pouco mais tranquila do ponto de vista militar, embora se realizassem várias operações. Por exemplo Víctor Dreke [, o chefe da missão cubana, em Conacri] dirigiu um dos ataques a um quartel. Anteriormente [novembro de 1966] tinha-se verificado ali um combate importante onde mataram um dirigente do PAIGC, o comandante Domingos Ramos.

[Domingos Ramos foi morto em Madina do Boé, em 10 de novembro de 1966 (curiosamente o dia do meu 16.º aniversário), sendo considerado, por esse facto, um herói da Guiné-Bissau, uma vez que fez parte do grupo de pioneiros da luta de libertação, sob a liderança de Amílcar Cabral (1924-1973). Morreu ao lado do cubano Ulisses Estrada.Tem o seu nome ligado à toponímia e a instituições de ensino do país. O seu rosto figura em notas do Banco Central da Guiné-Bissau – exemplo da nota de cem pesos de 1983 e 1990. Tinha também um irmão na guerrilha, o Pedro Ramos – P16123].


[Imagem à esquerda: Efígie de Domingos Ramos, em nota de 100 pesos do Banco Central da Guiné-Bissau, emitida em 1990].


Para Domingo Diaz, a frente Leste era uma região onde se combatia, mas não com as mesmas características das do Norte. No Leste era uma zona mais isolada, com uma fronteira amiga, ou seja, a Guiné-Conacri.

Na zona de Madina do Boé morreu um companheiro cubano por uma úlcera perfurada ao comer umas folhas muito ácidas daquele lugar, que se chamam "foli" [também se diz "fole", com o fruto faz-se sumo]. Os nativos comem-nas para ter mais força e reanimarem-se, pois é muito ácida. 

A este companheiro se lhe perfurou o estômago e quando chega às minhas mãos está em agonia. Fiz tudo o que estava ao meu alcance para lhe conter a hemorragia, e,  como carecíamos de instrumentos cirúrgicos, tentámos transferi-lo para o pequeno hospital de Boké, na Guiné-Conacri, mas faleceu durante a viagem. Este companheiro foi sepultado ao lado da base aonde nos encontrávamos [no Boé].

[A morte deste cubano – o tenente Radamés Sánchez Bejerano – ocorreu em 19 de julho de 1967, cinco dias depois de um ataque de artilharia efectuado pelos guerrilheiros do PAIGC ao quartel de Madina do Boé, conforme depoimento do médico Domingo Diaz publicado no livro «La Historia Cubana en África – 1963-1991», de Ramón Pérez Cabrera, 2011, p. 152. (Imagem da capa, à direita),

[ Aí se refere que após concluído o ataque, e na sequência da retirada, o tenente Radamés Sánchez perdeu-se na mata durante dois dias e por efeito de ter fome comeu umas folhas muito ácidas que lhe provocaram lesões no estômago. Tinha vinte e nove anos. (…) Esta foi a segunda baixa no contingente cubano em missão na Guiné-Bissau, sendo a primeira a de Félix Barriento Laporté, ocorrida duas semanas antes, em 3 de julho de 1967, durante o ataque ao quartel de Mejo. Na retirada, o artilheiro cubano morreu ao ser atingido por uma granada de obus. Tinha vinte e cinco anos. (op.cit. p.152)].


(xxiv) Que características tinham 
os guineenses?

Recordo muitos nomes valiosos, de chefes e soldados muito valentes que estavam dispostos a morrer antes de um cubano cair nas mãos do inimigo. Às vezes ouve-se falar de pessoas que são mais ou menos combativas. Creio que a guerrilha mais combativa, decidida e valente que havia em África naquela época, era a integrada pelos homens dirigidos por Amílcar Cabral [1924-1973].


(xxv) Nas caminhas pelas matas 
teve experiências com serpentes?


Claro que sim. Atendi vários com mordidelas de serpentes e também vi morrer à minha volta seis nativos por esse motivo. Eram principalmente da população civil. 

Recordo um caso na Zona Leste, um homem que chegou em muitas más condições e lhe tinham feito um garrote na perna, a qual estava em muito mau estado, com muitas borbulhas e praticamente preta. Comecei a tratá-lo e eu tinha uma ferida no pé. Usava  uns chinelos de plástico [hoje, havaianas] que os naturais utilizavam muito e a que me acostumei,  a esse tipo de calçado. Não me lembrei que tinha essa ferida no pé e já havia visto morrer gente à minha volta por picadelas de serpente.

Para esse tratamento fazíamos um corte em cruz no lugar da picada, levantávamos a pele nessa zona e começávamos a drenar para que saísse o sangue. Todo esse líquido me ia caindo na ferida que eu tinha no pé. Não sabia se isso me podia fazer mal ou não. Tomei a decisão de colocar um garrote na perna e fazer-me uma ferida. Não tinha bisturi, senão um canivete, que não estava esterilizado, mas era tanta a adrenalina que não senti o corte, e comecei a drenar. Um companheiro cubano controlava o garrote. Não tínhamos soro antiveneno para aplicar nessa zona. Em cada quarenta e cinco minutos aliviava dez minutos o garrote para que o sangue fluisse.

Passaram as horas e não senti nenhum sintoma. Provavelmente tomei esta decisão muito apressada, mas como tinha visto morrer cinco pessoas não quis arriscar a ser mais a sexta. Os companheiros que estavam comigo eram gente competente, um grupo de tropas especiais de dez guerrilheiros, embora não estivessem acostumados às lides  médicas. Dois deles desmaiaram, mas depois outro ficou a ajudar-me até ao fim.




Um curioso mapa da Guiné, sem data nem origem... Veja-se como os cubanos viam o território. Os únicos rios sinalizados são o Farim e o Corubal, Madina (do Boé) tem a mesma importância que as outras povoações donde faltam topónimos importanets como Nova Lamego (Gabu), Teixeira Pinto (Canchungo), Mansoa, Xime, Bambadinca, Catio, Cacine... Ziguinchor (no mapa, grafado como Zinguinchor), no Senegal, e Boké e Conacri na repúblcia da Guiné são as três únicas referências, nos países vizinhos,  que convinha ficar... Fonte: H. L. Blanch (2005).



(xxvi) Quando e como regressou 
da Guiné-Bissau?


Regresso em janeiro de 1968, ou seja, estive nesta missão durante vinte meses e em zonas de combate cerca de dezasseis. Regressei em más condições. Quando parti tinha 80 quilos e saí da Guiné-Bissau só com cinquenta. Com o objectivo de me recuperar, levaram-me a Conacri onde embarquei no navio cubano Pinar del Rio, que ia com destino ao Congo Brazzaville. Esses sete dias de viagem, mais uma semana no Congo, carregando troncos de árvores, e outra semana para regressar à Guiné-Conacri para recolher os restantes companheiros, serviram para me restabelecer um pouco.

O meu grupo regressa com o que pensámos ser aquele que nos iria substituir, uma vez que quando tínhamos oito meses de actividade em território da Guiné-Bissau, chega o segundo grupo cujo objectivo era reforçar a missão. No final regressamos todos juntos.

Desse segundo grupo quero fazer menção ao doutor Raúl Currás Regalado, que esteve todo o tempo na Zona Sul da Guiné-Bissau. Posteriormente foi cumprir uma missão internacionalista em Angola, aonde participou na companhia do clínico cubano Martin Chang Puga em várias acções de guerra. Durante uma deslocação, o veículo aonde seguiam voltou-se e perderam a vida. Currás tinha características excepcionais e deixou dois filhos e a esposa. E Chang, que não esteve na Guiné-Bissau, era epidemiologista, e também deixou filhos e esposa. [Os dois são considerados "mártires" pelo reime cubano].


(xxvii) Como foi a chegada do grupo 
a Cuba?


Em Cuba fomos recebidos pelo então capitão Guillermo Rodriguez del Pozo, chefe dos Serviços Médicos das FAR [, Forças Armadas Revolucionárias], e seu adjunto, Ángel Fernández Vila. Chegámos a Mariel e fomos para um acampamento aonde durante dois dias nos fizeram exames médicos. Ali nos foram visitar o comandante Pedro Miret, designado por ministro das FAR  Raúl Castro [n. 1931, atual presidente de Cuba]. 

Sentimo-nos muito orgulhosos e reconhecidos pelas palavras que nos dirigiram, e a todos os companheiros que participaram nesta missão nos entregou uma pistola «Makarov», a qual guardo ainda. [Pistola semiautomática, de 9 mm, que entrou em 1951 ao serviço das forças armadas e políciais da antiga União Soviética, substituindo a obsoleta Tokarev].


(xxviii) Que fez ao regressar 
a Cuba?

Conclui a especialidade de neurocirurgia. Já tinha experiência desde quando era estudante de medicina ao prestar apoio nos Centros. Nesse tempo existiam somente três mil médicos em Cuba e os cirurgiões eram muito poucos. Antes de partir para a Guiné-Bissau fiz o internato com o sistema do Instituto Nacional de Cirurgia e Anestesiologia (INCA), criado pelo comandante René Vallejo para formar no imediato cirurgiões e anestesistas. Nesse ano de internato realizei operações de cirurgia superior e quando regressei da missão queria fazer neurocirurgia. 

Estive três anos e meio no Instituto de Neurologia e Neurocirurgia e graduei-me como especialista de primeiro grau nessa área. Depois estive oito meses no Hospital Joaquin Castillo Duany, no Oriente, como chefe dos Serviços de Neurocirurgia, e mais tarde transferi-me para o Hospital Naval como chefe da mesma especialidade, até 1979. Daí passei para o Ministério do Interior com a perspectiva da fundação do CIMEC [Centro de Investigaciones Médico-Quirúrgicas] em 1982, aonde trabalho desde o seu início como vice-director para a docência e a investigação.




Guiné > c. 1966//67 > s/l > Provavelmente base de Sambuia, em 1967... Da direita para a esquerda, os médicos Pedro Labarrere (falecido),  Domingo Díaz Delgado e Teudy Ojeda... O primeiro da direita era o chefe do grupo cubano da Frente Norte, o tenente Alfonso Pérez Morales (Pina). Fo anexa ao livro de H.L. Blanch (205). Reproduzida com a devida vénia...



Domingo Diaz Delgado - Nota biográfica (adapt por JA):

(i)  nasceu em 1936, numa povoação chamada Florencia, na província de Camaguey, mas foi registado em Arroyo.  Arenas, na província da cidade de Havana;

(ii) terminou o bacharelato no Instituto de Marianao,  em 1957;

(iii) começou a estudar medicina em 1959, devido a estar fechada a Universidade desde 1956, quando se agudizou a luta contra o ditador Fulgêncio Batista Zaldivar (1901-1973);

(iv)  em meados de 1958 foi detido pela ditadura e levado à Décima Estação de Polícia situada no El Cerro, em Havana; ali foi torturado durante vários dias, mas, por alguns esforços que foram desenvolvidos, foi libertado e saiu para o México;

(v) regressou ao país em janeiro de 1959, depois do triunfo da revolução castrista;  decidiu retomar os seus estudos, matriculando-se na Escola de Medicina.

(vi) em 1961, quando se funda a Associação de Jovens Rebeldes, passou a ocupar o cargo de secretário organizador na Escola de Medicina;

(vii) mais tarde, em 1962, aderiu à União de Jovens Comunistas;

(viii) desde os primeiros anos, trabalhou como interno  de cirurgia no Hospital Militar Carlos J. Finlay;

(ix) terminou o internato de cirurgia em 1965;

(x)  pertenceu ao grupo de médicos que subiu, em 14 de novembro de 1965,  ao Pico Cuba Turquino, a cuja graduação presidiu o Comandante-chefe Fidel de Castro (n. 1926) [tratou-se da primeira geração de médicos formados pelo regime: 400 médicos e 26 estomatologistas]

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Notas do editor:

(*) Postes a nteriores:

22 de junho de 2016 > Guiné 63/74 - P16224: Notas de leitura (850): (D)o outro lado do combate: memórias de médicos cubanos: o caso do cirurgião Domingo Diaz Delgado, 1966-68, segundo o livro de H. L. Blanch (2005) - Parte I: a partida de La Habana e os primeiros contactos com o PAIGC (Jorge Araújo, ex-fur mil op esp / ranger, CART 3494, Xime-Mansambo, 1972/1974)

24 de junho de 2016 > Guiné 63/74 - P16234: Notas de leitura (851): (D)o outro lado do combate: memórias de médicos cubanos: o caso do cirurgião Domingo Diaz Delgado, 1966-68, segundo o livro de H. L. Blanch (2005) - Parte II: a vida dura nas base de Sara, na região do Oio (Jorge Araújo, ex-fur mil op esp / ranger, CART 3494, Xime-Mansambo, 1972/1974)

Guiné 63/74 - P16303: Efemérides (232): Romagem ao cemitério de Lavra de Homenagem aos Combatentes mortos na Guerra do Ultramar, levada a efeito no passado dia 2 de Julho de 2016 (Carlos Vinhal)

Panteão aos lavrenses caídos em campanha na Guerra do Ultramar
Foto: © Dina Vinhal (2016)


ROMAGEM AO CEMITÉRIO DE LAVRA DE HOMENAGEM AOS COMBATENTES MORTOS NA GUERRA DO ULTRAMAR

Realizou-se em Matosinhos, Lavra, no dia 2 de Julho de 2016, a tradicional romagem anual ao cemitério em homenagem aos combatentes mortos na Guerra do Ultramar.

A cerimónia foi promovida pelo Núcleo, em colaboração com a Junta da União das Freguesias de Perafita, Lavra e Santa Cruz do Bispo – Pólo de Lavra.

Pelas 10H30 iniciou-se a comemoração com a concentração dos participantes em frente ao edifício da Junta, sendo de seguida içada a Bandeira Nacional pelo Presidente da Direção do Núcleo ao mesmo tempo que o Grupo Coral do Núcleo entoava o Hino Nacional e a força militar solicitada para o efeito, constituída por um Clarim da Brigada Ligeira de Intervenção – Coimbra e por uma Secção do Regimento de Transmissões do Porto, prestava as honras militares à Bandeira Nacional.

Início das cerimónias com o hastear da Bandeira Nacional, ladeada pelas bandeiras do Município e da União de Freguesias

Procedeu-se à deposição de uma coroa de flores no memorial em frente ao edifício daquela Junta pelo Presidente da Junta, Presidente da Direção do Núcleo e 1.º Secretário da Mesa da Assembleia Geral do Núcleo.

Deposição de uma coroa de flores no Memorial junto do edifício da Junta de Freguesia

Posteriormente, os participantes seguiram em romagem ao cemitério local, acompanhando o porta guião do Núcleo e a força militar.

Deslocação para o cemitério. Porta-estandarte, o combatente José Trindade

Pelas 10H45, já no cemitério junto ao Panteão onde se encontram os lavrenses que tombaram pela Pátria, realizou-se a cerimónia militar onde o Presidente da Junta começou por fazer a chamada de todos os combatentes mortos na Guerra do Ultramar da União das Freguesias de Perafita, Lavra e Santa Cruz do Bispo, seguindo-se a deposição de uma coroa de flores, no referido Panteão, pelo Presidente da Junta, Presidente da Direção do Núcleo e 1.º Secretário da Mesa da Assembleia Geral do Núcleo.

Momento da deposição da coroa de flores no Panteão

A cerimónia prosseguiu com os respetivos toques de homenagem aos mortos e, na altura do minuto de silêncio, foi cantado um salmo pelo Grupo Coral do Núcleo e lida a prece do Exército pelo sócio combatente Manuel Monteiro.
 
Momento da homenagem aos combatentes de Lavra, Perafita e Santa Cruz do Bispo caídos em campanha

O Combatente Manuel Monteiro durante a leitura da Prece do Exército

Dando continuidade ao programa traçado, foram proferidas alocuções alusivas ao ato pelo Presidente da Direção do Núcleo, Tenente Coronel Armando Costa e pelo Presidente da Junta da União das Freguesias de Perafita, Lavra e Santa Cruz do Bispo, Sr. Rodolfo Mesquita.
Por último, o Grupo Coral do Núcleo cantou o Hino da Liga dos Combatentes.

O senhor Tenente Coronel Armando Costa, Presidente do Núcleo de Matosinhos da LC, no uso da palavra

Momento em que o Presidente da Junta da União das Freguesias de Perafita, Lavra e Santa Cruz do Bispo, senhor Rodolfo Mesquita, usava da palavra na qualidade de combatente.

Momento em que os presentes cantavam o Hino da Liga dos Combatentes

Terminada a cerimónia, e na Sede da União de Freguesias, o Grupo Coral do Núcleo fez a sua primeira atuação em Lavra, perante dezenas de combatentes, familiares e amigos, cantando três temas populares. A finalizar, foi servido um porto de honra a todos os participantes que, num ambiente de franco convívio e camaradagem, fortaleceram o ideal patriótico e humanista que a Liga dos Combatentes proclama como um dos seus grandes objetivos, aproveitando-se ainda este momento para cimentar a excelente parceria entre as duas instituições.

O Grupo Coral do Núcleo de Matosinhos numa das suas actuações

Parte dos presentes no Salão Nobre do Polo de Lavra quando assistiam à actuação do Grupo Coral

Foto de família com alguns dos combatentes presentes e o Grupo Coral

Texto e fotos: © Núcleo de Matosinhos da LC
Fotos editadas e legendadas por CV
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Nota do editor

Último poste da série de 16 de junho de 2016 > Guiné 63/74 - P16207: Efemérides (231): Leça da Palmeira homenageia os seus Combatentes no Dia de Portugal (Carlos Vinhal)

quarta-feira, 13 de julho de 2016

Guiné 63/74 - P16302: Em busca de... (268): Alferes mil Serra, que esteve no Quartel General (Santa Luzia) em 1972/73, e que se reunia, no Café Império, com um grupo de jovens amigos guineenses, incluindo eu, Camilo Camussa, hoje com 62 anos, cofundador de várias ONGD, consultor independente, a viver em Bissau, amigo do Pepito e do Leopoldo Amado


Guiné > Bissau > Foto de grupo > O alf mil Serra, o único branco do grupo, com os seus amigos guineenses, que se costuimavam reunir no Café Império,  c. 1972/73 (*).

Foto: © Camilo Camussa  (2016). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem,  com data de 7 do corrente, de Camilo Camussa [, foto atual à direita]:



Nesta foto [ de grupo, acima, ]   é possível ver de esquerda para direita;

(i)  as pessoas que estão de pé,  pode-se identificar: Pedro Benvindo Gomes Araújo encontra-se em Argélia, Mamadu Candé,  médico,  encontra-se em Bissau, e Pedro Saido Moreira Embalo,  é ex-governador de Gabu;

(ii)  sentados,  Alferes Serra,  eu,  Camilo, e Armando Cherno Djaló,  hoje reformado nas finanças, 

A foto foi tirada ao lado do Café Império,  no Foto  Arco Iris, atual Orange. 

O Café Império ainda existe na Praça dos Heróis Nacionais, perto da Embaixada de Espanha com o mesmo nome, a vossa foto não reflete a imagem do Café Império (**). 

Almocei hoje em minha casa com o doutor Leopoldo Amado o qual me falou muito da vossa amizade, dado que ele é um amigo meu. 

O alferes Serra era um oficial lúcido, penso que ele fazia parte de um partido ou de um movimento de oposição ao regime de então, não o posso afirmar a 100%.  Assim que tiver mais dados enviarei, obrigado.

Camilo Camussa


Guiné-Bissau > Novembro de 2000 > Praça dos Heróis Nacionais > Café Império (**)

Foto: © Albano Costa (2016). Todos os direitos reservados  [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


2. Comentário do editor LG:

Continuam a ser escassas as informações sobre o teu "tuga": sabemos que (i) era alferes miliciano; (ii) de apelido Serra (não era normal os militares portugueses serem conhecidos pelo nome prórpio); (iii) devia estar colocado no Quartel General, em Santa Luzia, mas não sabemos em que serviço ou repartição; (iv) reunia-se com vocês no Café Império; (v) falavam de política, de literatura; (vi) ele emprestava-vos livros "proibidos"; e (vi) deixaste de ter contacto com ele em finais de 1973.

Fico feliz por saber que estiveste com o nosso amigo e membro sénior da nossa Tabanca Grande, Leopoldo Amado, do qual temos cerca de 7 dezenas de referências no nosso blogue.Tivemos o privilégio e a honra de assistir na Reitoria da Universidade de Lisboa, em 28 de Maio de 2007, ás suas provas públicas de doutoramento em História Contemporânea

Enfim, eras também amigo do nosso saudoso amigo Pepito. E deves também, eventualmente,  ser amigo do Patrício Ribeiro, da empresa Impar Lda, mais conhecido em Bissau como o "pai dos tugas"... 

E parabéns pelo nosso Éder, ou Ederzito, que vai ficar na história do futebol como o menino de Bissau que marcou o golo da vitória (e que golo!) da seleção de Portugal, no campeonato europeu de futebol de 2016. 

Como sabes, estamos "proibidos" de falar aqui no blogue de política  (partidária...), de futebol (clubístico...) e de religião (igrejas...).  De qualquer modo o Éder e a sua história de vida e o feito (histórico) da seleção portuguesa de futebol (sénior) são razões fortes para abrir uma aceitável exceção. Pois, então, que o futebol seja também um valor acrescentado para os nossos dois povos, para a lusofonia e para o combate (universal) contra o racismo e a pobreza!... Ab. fraterno, LG.
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(***) Vd. poste de 9 de julho de 2016 > Guiné 63/74 - P16287: Memória dos lugares (340): Café Império, Praça dos Heróis Nacionais, Bissau, em novembro de 2000 (Albano Costa, ex-1.º cabo da CCAÇ 4150, Bigene e Guidaje, 1973/74, o fotógrafo de Guifões, Matosinhos)

Guiné 63/74 - P16301: Manuscritos(s) (Luís Graça) (87): Um exemplo, de promoção do envelhecimento ativo e saudável, para os nossos tabanqueiros sedentários: a tertúlia dos caminheiros da Quinta das Conchas, Lumiar, Lisboa,

1. Há um grupo de gente sénior, alguns amigos e camaradas da Guiné, membros da nossa Tabanca Grande (Alice Carneiro, João Martins, Joaquim Pinto de Carvalho e esposa Maria do Céu ...) que se juntam todas as terças feiras de manhã para conviver e fazer duas horas de caminhada na Quinta das Conchas, no Lumiar, em Lisboa... 

De tempos a tempo fazem uma visita lúdico-gastronómico-cultural, geralmente de dois dias, fora de Lisboa... E almoçam juntos, em certas datas marcantes. Antes da partida para as férias de verão, fazem uma celebração gastronómico-tertuliana no restaurante O Arranhó, ali perto da Quinta das Conchas.  São todos ou quase todos (e são mais elas do que eles) gente reformada, das mais diversas profissões, magistrados, advogados, professores, engenheiros, médicos, enfermeiros, jornalistas, topógrafos, técnicos de serviço social, etc.

É a tertúlia da Quinta das Conchas, ao qual eu não pertenço, mas que me acolhe com simpatia e amizade, sempre que por lá apareço... Uma vez por outra, sento-me à mesa come eles e elas, os/as caminheiros/as da Quinta das Conchas, para dar dois dedos de conversa, tomar um café, almoçar... Costumo levar para a "sobremesa" uns versinhos, de fabrico próprio,,,  Estes foram os últimos que fiz (e declamei), ontem, no encerramento das atividades da tertúlia... Publico também os do útimo Natal.

Regressam no início do novo ano de 2016/17... E oxalá / inshallá / enxalé o seu exemplo frutifique, nomeadamente entre os nossos "tabanqueiros".., que são mais "sedentários". Os caminheiros da Quinta das Conchas promovem o envelhecimento ativo, e saudável,  através da atividade física e do convívio. [ A Organização Mundial de Saúde define envelhecimento ativo como o processo de optimização das oportunidades para a saúde, participação e segurança, para melhorar a qualidade de vida das pessoas que envelhecem.]

Não é preciso lembrar que Portugal é cada vez mais um país grisalho: falando com números, e reportando-nos ao início da guerra colonial, 1961, basta-nos  comparar dois índices ou indicadores;
(i) em 1961 o índice de envelhecimento era de 27,5%; hoje (2015). é de 143.9 %. [O índice de envelhecimento é o número de pessoas com 65 e mais anos por cada 100 pessoas menores de 15 anos. Um valor inferior a 100 significa que há menos idosos do que jovens. Relação entre a população idosa e a população jovem, definida habitualmente como o quociente entre o número de pessoas com 65 ou mais anos e o número de pessoas com idades compreendidas entre os 0 e os 14].


(ii) O índice de longevidade é o número de pessoas com 75 e mais anos por cada 100 pessoas com 65 e mais anos. Quanto mais alto é o índice, mais envelhecida é a população idosa. Em 1961 era de 33.6%, hoje (2015) é de 49,0%. (Fonte: Pordata).

Para o João Martins [, foto atual, à esquerda,] que anteontem foi submetido a uma intervenção cirúrgica programada, eu desejo-lhe (e, por certo, os seus companheiros da Quinta das Conchas também lhe desejam, tendo sido comentada a sua ausência) uma rápida convalescença e restabelecimento. [Tem página no Facebook.] LG



Natal de 2015

Depois do café, p’la manhã,
Cá na quinta, sempre às terças,
Nesta pista de tartã,
Eles dão a volta às berças.

Poucos  são os de Lisboa,
Vieram do sul, centro e norte,
Caminhar é coisa boa,
Dá saúde, esconjura a morte.

É um grupo excursionista,
Desportivo e cultural,
Não há cá gente pessimista,
Pode é não ser… pontual.

P’ra chefiar nenhum se oferece,
Nem o grupo tem um hino,
Tem líder, ao que parece,
Vai à frente, o Laurentino.

São os das Conchas, os concheiros,
Dão a volta a Portugal,
Uns valentes caminheiros,
P’ra todos…Bom Natal!


Quinta das Conchas, 
3ª feira, 15/12/2015

LG



Em louvor aos caminheiros 
da Quinta das Conchas

É gente de grande fibra,
Que corre as maratonas,
Mesmo sem ouro ou  libra,
Salta logo das poltronas.

Salta logo das poltronas,
Faça chuva ou faça sol,
Rapazes e mocetonas,
Fazem guerra ao colesterol.

Fazem guerra ao colesterol,
Os das Conchas, caminheiros,
Uns a passo de caracol,
Outros esp’rando p’los companheiros.

Outros esp’rando p’los companheiros,
Sem olhar para o cronómetro,
Os últimos são os primeiros,
Depois de muito quilómetro.

Depois de muito quilómetro,
No melhor tartã do mundo,
Desliga-se o complicómetro,
Respira-se o ar, bem fundo.

Respira-se o ar, bem fundo,
Dão-se dois dedos de blá-blá,
E um não, bem rotundo,
Aos chatos de cá e lá.

Aos chatos de cá e lá,
Que nos dão cabo da vida,
Sacanas, é o que mais há,
Nesta terra prometida.

Nesta terra prometida,
Ponta mais acidental
Da Europa, tão querida,
Ser das Conchas é bom sinal.

Ser das Conchas é bom sinal,
É ser da vida campeão,
É viver em Portugal,
E ter um grande… coração!

E ter um grande coração,
Em corpo tão enfezado,
É um dos males da Nação,
Mas não é um triste fado.

Mas não é um triste fado,
Este é um povo de heróis,
Não há destino danado
Nem festas só de cachecóis.

Nem festas só de cachecóis,
P’ra esta gente valente,
Nem tremoços e caracóis
São p’rá elite dirigente.

São p’rá elite dirigente
Os bons tachos e panelas,
O povo, esse,  que aguente
C’ os pontapés nas canelas.

C’os pontapés nas canelas,
E os calos de andar a pé,
Caminheiros, eles e elas,
Voltam p’ró ano, cheios… de fé.

LG

Viva a tertúlia da Quinta das Conchas!
Boas férias de verão para todos/as os/as caminheiros/as!
Não tenham nenhum achaque
E, cuidado, com as caneladas dos gajos, durões,  
do Goldman Saque Saque!!!


Almoço de encerramento das atividades da tertúlia, 
ano económico, desportivo, recreativo, cultural, jantarista, excursionista e promotor de saúde, de 2015/2016.

Restaurante O Arranhó [, passe a publicidade: gente simpática, comida caseira, atmosfera familiar, espaço acolhedor, boa relação qualidade-preço]

Lisboa, Quinta das Conchas, 3ª feira,  12 de julho de 2015

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